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A importância da discussão sobre gênero nas licenciaturas

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDUC CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

ANA BEATRIZ DE ARAÚJO BORGES

A IMPORTÂNCIA DA DISCUSSÃO SOBRE GÊNERO NAS LICENCIATURAS

CAICÓ/RN 2019

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ANA BEATRIZ DE ARAÚJO BORGES

A IMPORTÂNCIA DA DISCUSSÃO SOBRE GÊNERO NAS LICENCIATURAS

Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção de grau em Pedagogia, Curso de Licenciatura em Pedagogia, Departamento de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ensino Superior do Seridó, sob a orientação da Profª Drª Maria de Fátima Garcia.

CAICÓ/RN 2019

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ANA BEATRIZ DE ARAÚJO BORGES

A IMPORTÂNCIA DA DISCUSSÃO SOBRE GÊNERO NAS LICENCIATURAS

Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção de grau em Pedagogia. Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, Departamento de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ensino Superior do Seridó,

sob a orientação da Profª Drª Maria de Fátima Garcia.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________ Profª Drª Maria de Fátima Garcia – Orientadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

__________________________________________________ Profª Drª Denise Cortez da Silva Accioly – Examinadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

__________________________________________________ Profª Drª Ana Maria Pereira Aires – Examinadora

Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA

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A todas(os) que lutaram pelos direitos que tenho hoje, e para todas(os) que lutam para que nenhum desses direitos seja subtraído.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me ajudado a enfrentar cada desafio de cabeça erguida e com perseverança.

Agradeço especialmente ao Excelentíssimo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bem como a digníssima Presidenta Dilma Vana Rouseff e a sua Excelência Governadora Maria de Fátima Bezerra por toda a luta em prol da educação e todos os investimentos destinados à mesma, nos quais eu me beneficiei no decorrer de minha vida estudantil e acadêmica. Tenho plena certeza de que graças a vocês me foi ofertada uma educação de qualidade e que me fez tornar uma cidadã crítica e com força para lutar por um futuro em que jovens tenham as mesmas ou mais oportunidades que eu tive.

Toda a minha gratidão em especial a minha mãe Jailma, minha avó Francisca, minha irmã Giulia, meu padrasto Walter, aos meus tios Aliandro, Adisandro, Adriano e Pedro Júnior, minhas tias Joelma e Jacilene que sempre me motivaram a ser uma pessoa melhor apesar de tudo e de todas as adversidades.

À Geralda Gercina de Queiroz (in memorian) e Lauro Alves de Araújo por serem os pilares dessa grande família. A toda a nossa família por terem tido fé em mim sempre, me apoiando e me dando amor, carinho e atenção, essa conquista não seria tão importante sem vocês ao meu lado.

À Wesley Araújo, meu bem, por todo o amor, carinho e motivação, sou feliz em poder compartilhar essa conquista e a minha vida contigo.

Não podendo deixar de mencionar minha orientadora Maria de Fátima Garcia que me ajudou a elaborar este trabalho e acreditou nele junto comigo.

À banca por ter aceito o convite ofertado com bastante carinho.

Por fim agradeço a todos os meus professores desde a educação infantil até o nível superior, à minhas amigas(os), sem vocês não teria sido possível chegar até aqui com um trabalho tão lindo.

Agradeço e peço desculpas à mim mesma, por toda a luta desde o ingresso na Universidade e por todas as vezes que desacreditei de minha capacidade nessa trajetória até aqui. A luta não teve fim, ela apenas começou.

―Para que todos vejam, e saibam, e considerem, e juntamente entendam que a mão do Senhor fez isto, e o Santo de Israel o criou.‖ (Isaías 41:20)

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Quero não ferir meu semelhante, nem por isso quero me ferir. Vamos precisar de todo mundo pra banir do mundo a opressão. Para construir a vida nova vamos precisar de muito amor. A felicidade mora ao lado e quem não é tolo pode ver.

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RESUMO

O trabalho objetiva por meio do estudo realizado no Centro de Ensino Superior do Seridó(UFRN) com os(as) estudantes das licenciaturas ofertadas no referido

campus, compreender e analisar as concepções dos(as) mesmos(as) sobre a

temática de gênero e sobre como o diálogo sobre a mesma pode vir a beneficiar a prática docente futura. Dialogamos com autores tais como: NUNES E WERBA (2015), FARBER, VERDINELLI E RAMEZANALI (2012), ECKERT (2007), ADICHIE (2017) E LOURO (1997) com o fim de compreender melhor acerca da temática motivadora desse trabalho. A relevância da discussão sobre gênero nas licenciaturas se dá por meio da busca por igualdade, com menos preconceitos. Tratar questões relacionadas a gênero cria noções necessárias para que estejamos aptos a questionar e dialogar uns com os outros sobre essa temática. Por meio da pesquisa realizada pôde-se constatar que os(as) licenciandos(as) acreditam na relevância das discussões sobre gênero nas licenciaturas, e principalmente, acreditam que estas podem vir a beneficiar a prática docente futura, oportunizando um futuro mais justo.

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ABSTRACT

Through a study in Centro de Ensino Superior do Seridó(UFRN) with students of the degrees offered in that campus, this work aims to understand and analyze their concepts on gender issues and how the dialogue about it can benefit future teaching practice. We discuss it with authors such as: NUNES AND WERBA (2015), FARBER, VERDINELLI and RAMEZANALI (2012), ECKERT (2007), ADICHIE (2017) AND LOURO (1997) in order to understand the theme which motivates of this work. The relevance of the gender discussion in undergraduate degrees is in the search for equality, with less prejudice. The approach as to issues related to gender creates necessary notions for us to become able to question and dialogue with each other on this topic. After the research, it turned out possible to verify that students believe in the relevance of discussions about gender in degree programs, and, mainly, they believe these can benefit the future teaching practice, yielding a fairer future.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico Nº1: Estudantes entrevistadas(os)

Gráfico Nº2: Opiniões favoráveis e contrárias às discussões sobre gênero nas licenciaturas.

Gráfico Nº3: Sexo biológico

Gráfico Nº4: Identificação de gênero

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LISTA DE ABREVIATURAS

CERES – Centro de Ensino Superior do Seridó

LGBTQ+ - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer ONU – Organização das Nações Unidas

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SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 12

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E DIÁLOGO COM OS DADOS ... 16

2.1 GÊNERO E EDUCAÇÃO ... 21

2.2 PAPÉIS DE GÊNERO ... 25

2.3GÊNEROEASLICENCIATURAS ... 29

2.4 ANALISANDO A FALA DOS SUJEITOS ... 32

3. METODOLOGIA ... 36

3.1TIPOLOGIADEPESQUISA ... 36

3.2 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO ... 37

3.3INSTRUMENTOUTILIZADO ... 38

3.4 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS ... 38

3.5 EXECUÇÃO DA ANÁLISE DOS DADOS ... 39

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 41

REFERÊNCIAS ... 43

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente trabalho volta-se para o território da universidade, mais especificamente para a problematização em relação aos cursos de licenciaturas, buscando compreender como se realiza a discussão das temáticas direcionadas às questões de gênero, pelos estudantes, no decorrer da formação nas licenciaturas e como avaliam a importância dessa discussão para o futuro docente em sala de aula. O interesse pela elaboração desse estudo se deu a partir da curiosidade e do desejo de estudar sobre como as discussões realizadas no decorrer da formação na graduação podem oportunizar conhecimento e uma tomada de posição em relação a atuação futura dos docentes, de forma a contribuir, ou não, para minimizar os preconceitos sociais.

A escolha da temática se deu no decorrer da licenciatura em pedagogia, quando então me indagava sobre o motivo de muitas discussões não ocorrerem nos cursos de graduação, sendo então, o foco maior deste estudo as licenciaturas por ser este o meio no qual eu estou inserida. A partir do momento que voltava-me para esses questionamentos, projetava um ambiente futuro, na prática docente, e ali me perguntava sobre ―Como um/uma professor(a) poderia ter um diálogo aberto com seus alunos sobre questões, ainda tabus na sociedade, sendo que ele/a mesmo/a não teve acesso a esses discussões estudos com os seus professores?‖ Partindo desses questionamentos, projeções e motivações pessoais, também me questionava sobre o motivo dessas discussões serem praticamente inexistentes na minha graduação em Pedagogia.

Voltando-nos para a temática motivadora desse estudo, Gênero, eu, a pessoa que vos escreve, sendo mulher, no país que mais mata mulheres pelo simples fato de ser mulher, sempre me perguntei sobre como poderia trabalhar a referida temática em sala de aula para que, de certa forma, não me tornasse mais uma agente disseminadora de preconceito, sabendo que esse é estruturante em nossa sociedade e até mesmo naturalizado por muitos.

Mas como fazer algo sem dispor da devida formação para isso? Será que algum outro curso de licenciatura oportuniza essa formação no decorrer da graduação ou esse é um déficit geral dos cursos de licenciatura ofertados pelo campus no qual estou inserida? Refletir sobre esse assunto nos possibilita conhecer

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e compreender sobre como as graduações o tem trabalhado e ainda as motivações dos estudantes em relação a formação e a atuação futura, no campo docente.

A motivação para este estudo se orienta sob dois aspectos: O primeiro é entender com alunos das diferentes licenciaturas ofertadas no campus como essas discussões têm permeado. O segundo é investigar qual a importância das mesmas. Para isso, esta investigação se valeu de metodologia quanti-qualitativa, utilizando-se da aplicação de questionários com alunos dos cursos de Pedagogia, Matemática, História e Geografia, estando o mesmo dividido em onze questões objetivas e três discursivas, afim de investigar a opinião dos licenciandos e licenciandas sobre a relevância dessas discussões no decorrer da graduação e como elas podem beneficiar as suas práticas futuras.

Conforme apontam os muitos rankings negativos nos quais o Brasil se encontra, sendo esse outro fator somatório para a decisão sobre essa pesquisa. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2016 o Brasil ocupava o quinto lugar no ranking de países com maior taxa de feminicídios, ou seja, o homicídio doloso praticado contra a mulher por razões da condição de ser do sexo feminino. Dados apontam que em 2017 a cada 19 horas um LGBTQ+ foi morto no Brasil, fazendo com que o Brasil ocupe o posto de país que mais mata LGBTQ+ no mundo, e o fator ainda mais agravante e preocupante é que esse dado está em crescente mudança, infelizmente para pior.

No decorrer dos estágios realizados durante a graduação em Pedagogia, pude ao dialogar sobre questões de gênero em uma escola municipal da cidade de Caicó, município no interior do Rio Grande do Norte, perceber a ausência de conhecimento dos docentes e o despreparo dos mesmos para lidar com a temática de gênero, a necessidade do trabalho da mesma e como trabalhá-la com crianças do ensino fundamental. Sendo assim, sabendo que estamos inseridos em um contexto no qual o preconceito está sendo disseminado gratuitamente em todas as esferas, não podemos nós, docentes e futuros docentes nos abster do diálogo sobre as temáticas tidas como ―polêmicas‖ pela grande maioria.

Sejamos nós professores, doutores, mestres, alunos, não é por estar em uma posição de privilégio no momento que devemos nos abster de dialogar sobre nenhum assunto, a censura já é desumana quando imposta, então é ilógico nos auto censurar, pois, enquanto formadores, disseminadores da educação, devemos

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buscar dialogar com nossos alunos afim de mostrar a estes as muitas faces do mundo e instigá-los a serem um cidadãos íntegros.

Para que essas discussões sejam oportunizadas na prática docente é necessário que no decorrer de sua graduação os professores tenham discussões voltadas para a temática com o alunado, bem como, a forma que esta deve ser abordada nos diferentes níveis para que não se torne mais um conteúdo que as crianças se vejam obrigadas a decorar, e sim, que seja algo que as instigue a aprender e dialogar sobre, tendo elas mesmas voz ativa no contexto em que estão inseridas, contrapondo-se ao preconceito já enraizado e assim se tornando cidadãos mais justos, sensatos e não preconceituosos.

Para que a igualdade possa vir a acontecer, é necessário que a educação ocorra em caráter não-sexista e anti-discriminatória, servindo assim como instrumento fundamental para a erradicação de preconceitos e violência. Um ambiente de ensino que oportunize a igualdade de gênero, será também um espaço para todos. É necessário que busquemos que a educação ocorra de forma transformadora, igualitária e não-excludente, onde todos os alunos independente de qualquer fator tenham voz ativa e sejam agentes transformadores.

As crianças de hoje, serão a nossa sociedade amanhã, não podemos querer que tudo continue como está: mulheres sendo mortas, negros sofrendo racismo, homossexuais, transgêneros e travestis sendo vítimas de homofobia e transfobia e dos mais diversos tipos de agressão, agressão essa que muitas vezes não se dá somente por meio físico, mas moral e psicológico, e ocasiona traumas tão dolorosos, pois atingem a subjetividade do agredido.

Poderiam ser citados mil e um outros preconceitos aos quais essas categorias são submetidas, mas os dados nos quais o Brasil está inserido falam por si só. Se nós não queremos que isso continue, se queremos que isso mude, enquanto professores devemos ensinar nossos alunos e alunas a identificar o que é preconceito e não a disseminá-lo. Devemos dialogar sobre gênero, sobre sexualidade, sobre seja qual for o assunto, para que não tenhamos nós que continuar vivendo numa sociedade que por meio de ações preconceituosas quer privar determinado indivíduo de viver e exercer seu livre arbítrio.

Este texto encontra-se assim organizado: Na primeira parte da pesquisa buscaremos dialogar com autores que discutem a temática de gênero, de forma a

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assimilar e compreender a importância dessa discussão para o nosso contexto, ao mesmo tempo que os dados coletados vão sendo analisados.

Sendo assim, o objetivo geral dessa análise é compreender as discussões acerca da temática de gênero no decorrer da formação nas graduações em licenciaturas do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES-Campus Caicó) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e como as mesmas podem beneficiar a prática docente dos/das estudantes. A partir disso, voltamo-nos aos objetivos específicos que almejaram analisar as concepções relacionadas a gênero e educação na visão de estudantes de Pedagogia, Matemática, História e Geografia do referido campus; Pesquisamos sobre qual a real necessidade de que essas discussões sejam ampliadas no decorrer da graduação fazendo com que na graduação os graduandos tenham espaço para aprender diferentes formas de como trabalhar essa temática em sua futura prática docente.

Sendo assim, com base em tudo o que foi dito até o momento trago como o questionamento desta pesquisa a seguinte problematização: ―Como as discussões sobre gênero são ofertadas aos alunos/as nas licenciaturas e como as mesmas podem subsidiar a prática docente futura?‖

Com esse questionamento buscarei compreender as diversas visões dos entrevistados e como os mesmos enxergam o ambiente no qual estão inseridos em suas graduações, se acreditam que essa discussão é relevante e por qual motivo, compreender também se e de que forma estes pretendem em sua prática docente futura levar a temática de gênero para a sala de aula, e ainda compreender os desafios do trabalho dessa temática bem como os benefícios.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo dialogaremos com autores como Simone Reis Nunes e Graziela Cucchiarelli Werba (2015), Susana Gauche Farber, Miguel Angel Verdinelli e Mehran Ramezanali (2012), Clarrissa Baeta Neves Eckert (2007) e Guacira Lopes Louro (1997) com o fim de compreender melhor sobre os conceitos de gênero, território e educação. Ao mesmo tempo em que trazemos a voz dos autores, também a voz da pesquisadora se faz presente enquanto se dialoga com os dados empíricos produzidos no campo de pesquisa. Foram aplicados doze questionários com quatorze questões cada, sendo estas dez objetivas e quatro discursivas. Ao todo doze sujeitos, estudantes das várias licenciaturas participaram deste estudo. Os sujeitos da pesquisa aparecem nomeados da seguinte forma: Estudante + Sequência + Curso, exemplo: Estudante 1, Pedagogia.

A partir dos muitos índices negativos que o país possui, acredita-se que por meio do trabalho sobre gênero no decorrer das graduações em licenciaturas oportunizaremos um futuro mais justo e com menos violência, tendo em vista que formaremos profissionais mais capacitados para o diálogo sobre a temática.

No decorrer da pesquisa no território universitário, mais especificamente na instituição de ensino CERES/UFRN, pudemos perceber o quanto essa discussão é relevante para a educação, tendo em vista a escassez de informações voltadas para Gênero e Educação, ainda mais se nos voltarmos para a minha área específica, Pedagogia.

Ao analisar os questionários aplicados nas licenciaturas é perceptível que a grande maioria entrevistada é feminina, bem como, favorável a discussão da temática de gênero nas licenciaturas. A faixa etária majoritária é de estudantes entre 20 e 30 anos e que já tiveram algumas discussões voltadas para a temática no decorrer da sua graduação em licenciatura, mas que ainda acreditam que seja necessário que essas discussões sejam aumentadas no decorrer do seu curso.

Os estudantes da instituição sujeitos deste estudo foram peças-chaves para a execução do mesmo, tendo em vista que estes possuem vivências no local, conhecem os professores, os métodos adotados por eles, bem como o contexto dos demais alunos do campus, onde diariamente atuam como agentes dessa instituição. De acordo com Farber, Verdinelli e Ramezanali:

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Nessa perspectiva, espera-se que a universidade promova iniciativas para o desenvolvimento humano, social, político e econômico. Para tanto deverá assumir um posicionamento quanto suas próprias políticas de gestão, as que necessitam estar alicerçadas em valores que reafirmem a democracia e os direitos humanos, o respeito pelas diferenças e especificidades de cada pessoa. (FARBER, VERDINELLI E RAMEZANALI, 2012. p. 122)

É necessário que os futuros docentes possuam consciência para a não-reprodução de estereótipos e preconceitos em ambiente escolar, mesmo que de forma indireta e muitas vezes imperceptível. E para isso é necessário que haja um preparo no decorrer da graduação, um diálogo, exposição de pensamentos, de formas para o trabalho da temática e demais tópicos envoltos na mesma.

Em suma, é necessário que os ditos papéis de gênero, impostos pela sociedade há muito tempo sejam suprimidos da escola, para que assim todos tenham as mesmas oportunidades e possam usufruir das mesmas sem serem jugados posteriormente.

No decorrer da vida estudantil de uma criança ela se constrói para sua prática para a vida, então, sabendo que uma discussão tão relevante na maioria dos casos não ocorre em casa, deve-se estudar formas para instigar o diálogo em ambiente escolar. Mas como esse diálogo aconteceria de forma saudável se o docente não teve preparo no decorrer de sua graduação? Como instigar o diálogo com outros se durante sua formação não teve esse espaço de voz? Se assim pensarmos podemos atribuir a deficiência dessas discussões no ensino básico à deficiência que ocorre nas graduações, com foco nas licenciaturas. Também segundo Farber, Verdinelli e Ramezanali:

Um olhar da perspectiva de gênero mais criterioso, em particular nas universidades que é aonde vão se formar os professores dos demais níveis, se faz necessário. O tema de gênero na educação deve ser abordado para promover uma reflexão crítica sobre as estruturas de poder que sustentam as diferenças sociais. (FARBER, VERDINELLI E RAMEZANALI, 2012. p.123)

É daí que partimos da necessidade de que as discussões sobre a referida temática ocorram no decorrer das graduações, oportunizando que os(as) futuros docentes possam refletir sobre o tema Gênero na Educação, para que esses diálogos possam subsidiar a sua prática futura, tornando-o(a) apto(a) a formar um alunado menos preconceituoso e mais justo, pois em um tempo onde a instabilidade de Direitos nos ronda por todos os lados, cabe a nós, profissionais da educação,

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buscar ser voz ativa, para assim, assegurar a igualdade, sendo essa muitas vezes ausente do ambiente escolar.

Os(as) estudantes entrevistados(as) por esse estudo foram dos cursos de Pedagogia e História, por seguinte Geografia e Matemática, em ordem numérica. Se dividirmos em porcentagens aproximadas pode-se dizer que a divisão dos questionários respondidos se deu da seguinte forma:

Gráfico Nº 1: Estudantes entrevistadas(os).

Se pensarmos que a grande maioria dos questionários foi respondida por mulheres, podemos cair no equívoco de pensar que elas responderam assim apenas por serem mulheres e buscarem um ambiente de ensino melhor para elas mesmas, mas pôde-se perceber a partir das respostas dadas pelos homens aos questionamentos quanto a relevância das discussões voltadas a gênero e a necessidade que estas sejam ampliadas no contexto das licenciaturas que a grande maioria também é favorável.

Para que possamos enxergar melhor esse dado, quanto ao número de opiniões favoráveis e contrárias à temática dessa pesquisa, podemos voltarmo-nos para o gráfico a seguir:

33,3%

8% 25%

33,3%

ESTUDANTES ENTREVISTADAS(OS)

PEDAGOGIA MATEMÁTICA GEOGRAFIA HISTÓRIA

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Gráfico Nº 2: Opiniões favoráveis e contrárias a discussão sobre gênero nas licenciaturas. Ao analisarmos o gráfico anterior e voltarmo-nos para o contexto da formação docente, podemos nos questionar sobre qual seria o real motivo dessas discussões serem não tão frequentes no meio das licenciaturas sendo que a maioria dos alunos é favorável para as mesmas? Podemos ligar esse fato com o contexto atual no qual estamos inseridos, ou até mesmo voltarmo-nos para o fato de que essas discussões não são tidas como algo necessário por muitos, erroneamente. Podemos perceber que essa segunda hipótese não é o caso dos alunos e alunas entrevistados. De acordo com ADICHIE (2014):

A questão de gênero, como está estabelecida hoje em dia, é uma grande injustiça. Estou com raiva. Devemos ter raiva. Ao longo da história, muitas mudanças positivas só aconteceram por causa da raiva. Além da raiva, também tenho esperança, porque acredito profundamente na capacidade de os seres humanos evoluírem. (ADICHIE, 2014, p.24)

e

A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente. O modo como criamos nossos filhos homens é nocivo: nossa definição de masculinidade é muito estreita. Abafamos a humanidade que existe nos meninos, enclausurando-os numa jaula pequena e resistente. (ADICHIE, 2014, p.30-31)

OPINIÕES FAVORAVEIS OPINIÕES

CONTRÁRIAS

OPINIÕES FAVORÁVEIS E CONTRÁRIAS À

DISCUSSÃO SOBRE GÊNERO NAS

LICENCIATURAS

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Se dividirmos o nosso campus, focando nas quatro licenciaturas ofertadas pelo mesmo: Pedagogia, Matemática, História e Geografia, podemos perceber que a maioria entrevistada é favorável à temática trabalhada por esse estudo, o que é um fato bastante positivo, tendo em vista que indica que os licenciandos e licenciandas enxergam como a discussão desse assunto é relevante para o contexto da formação docente, no qual os entrevistados(as) estão inseridos(as).

Tendo em vista que os diálogos em diferentes esferas sobre temas variados, nos faz críticos, questionadores, percebemos que para um profissional que volta-se para a formação de outros indivíduos é extremamente necessário que essa prática ocorra em sua graduação. A partir disso nos voltamos para a escrita de Nunes e Werba que afirmam:

A relação que pensamos ser necessária destacar é a da escola com a universidade. Embora a segunda seja tratada separadamente por alguns autores, pensamos que o âmbito da educação, no que tange aos estudos de gênero, escola e universidade se assemelham em demanda de necessidade. (NUNES E WERBA, 2015, p.132)

A necessidade de um olhar crítico quanto às políticas educacionais adotadas pela instituição é um desafio, pois a partir das mesmas poderemos nos embasar no decorrer da elaboração das atividades propostas pela pesquisa. A sociedade atual, onde a desigualdade está posta por todos os lados necessita de profissionais docentes aptos a intervir de forma direta, buscando a melhoria, atuando a fim de ser sujeito ativo nesse processo. É necessário que o jovem haja de forma questionadora, e não aceite imposições socialmente impostas, segundo ADICHIE (2017, p.35): ―Ensine-a a questionar a linguagem. A linguagem é o repositório de nossos preconceitos, de nossas crenças, de nossos pressupostos.’’

Para que o papel social universitário de fato seja efetivado é necessário que haja um diálogo constante com o corpo estudantil, voltando-se para suas necessidades, anseios e dúvidas, para que após formados os profissionais ali graduados/licenciados sejam aptos a intervir no contexto no qual estará inserido. De acordo com, Farber, Verdinelli e Ramezanali:

Se a universidade desempenha o papel de um agente social que cria, transmite e dissemina conhecimentos, constituindo exemplo e referência para a sociedade, não se podem admitir disparidades neste âmbito. Para tanto, é necessário rever e avaliar suas atividades acadêmicas. (FARBER, VERDINELLI E RAMEZANALI, 2012, p.123)

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Para que a igualdade possa vir a acontecer, é necessário que a educação ocorra em caráter não-sexista e anti-discriminatória, servindo assim como instrumento fundamental para a erradicação de preconceitos e violência. Uma universidade que oportunize a igualdade de gênero, será também um espaço para todos.

A partir dos fatos aqui expostos observa-se que a discussão e a desconstrução dos papéis de gênero é um fato relevante e de extrema necessidade, queremos que o futuro docente objetive uma prática livre de preconceitos, porém, para isso a educação e as discussões oportunizadas no decorrer da graduação devem ocorrer de forma libertadora.

Voltando-nos para o campo da pesquisa, o CERES, percebe-se que ainda são poucas as discussões voltadas para a temática de gênero ofertadas, principalmente nas licenciaturas, vale salientar que ocorrem em alguns casos isolados, e que na maioria ainda são vistos como ―tabu‖ por professores e alunos.

No decorrer de minha graduação em Pedagogia, presenciei algumas discussões voltadas para a temática, porém, bem menos do que considero necessário para que eu conseguisse posicionar-me de forma segura e dialogar com um alunado da educação básica sobre a mesma.

2.1 GÊNERO E EDUCAÇÃO

Para que a compreensão acerca da temática desse estudo seja entendida precisamos compreender melhor o que é Gênero e por qual motivo a discussão dessa temática é tão relevante para a sociedade e o desenvolvimento dela. RODRIGUES (2009 apud FARBER, VERDINELLI E RAMEZANALI 2012), nos argumenta que:

O surgimento de gênero está relacionado ao reconhecimento e à contestação social da desigualdade de direitos entre homens e mulheres. A disseminação do conceito de gênero a nível global e nas mais diversas ciências sociais que surgiu pela sua associação aos movimentos feministas que questionavam o essencialíssimo das categorias homem e mulher (FARBER, VERDINELLI E RAMEZANALI, 2012. p.119).

O debate sobre Gênero e Educação ainda, nos dias de hoje, é tido como polêmico por alguns docentes, e por parte significativa da população. Muitos vêem essa temática como um assunto delicado e impróprio para ser tratado no meio

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educacional. As pessoas que possuem essa mentalidade, em sua maioria, desconhecem os efeitos positivos que o debate voltado ao Gênero pode oportunizar, por exemplo, aulas de Educação Sexual no Ensino Fundamental podem ajudar uma criança a identificar algum tipo de abuso sofrido e que, por vezes, era naturalizado. Também segundo os autores Farber, Verdinelli e Ramezanali (2009)

As desigualdades nas relações de gênero que aparecem na estrutura social, ora explicitamente e em outros momentos sorrateiramente, resultam das expectativas das identidades, dos papéis e das ideologias de gênero. Entende-se, portanto, que homens e mulheres são diferentes, mas esta diferença biológica não justifica as desigualdades que são construídas socialmente. Tais vieses são os que fazem do gênero um constructo a se estudar e explicar e não um fator explicativo. As igualdades e desigualdades, as diferenças, as equidades e inequidades, assim como as interações que ocorrem nas relações entre homens e mulheres, são alguns dos aspectos considerados nos estudos de gênero. (FARBER, VERDINELLI E RAMEZANALI, 2009, p.119)

Numa sociedade onde se fala muito sobre ideologias e a disseminação das mesmas nos ambientes educacionais, é possível que compreendamos o receio de alguns docentes a dialogar sobre algumas temáticas, nele está o medo de ser rotulado como ―professor doutrinador‖.

Se refletirmos que nós, professores e futuros professores, lidamos com vidas, com formação de opinião, com identidades e subjetividades, seria justo com nossos alunos e conosco, privar as salas de aulas repletas de alunos nas quais lecionamos ou lecionaremos de uma temática que é tão importante? De acordo com Inoue (1999) ―O processo de construção do conhecimento é nitidamente individual, mas o encontro com o outro enriquece o caminho, o percurso.‖ (INOUE, 1999, p. 82 apud NUNES e WERBA, 2015, p.127)

É necessário que na escola haja espaço para palestras, rodas de conversa e exposição sobre a temática com profissionais especializados que juntamente com os professores da instituição possam ajudar as crianças a compreender melhor quem são, seu corpo, sua identidade, pois a partir disso poderão identificar situações de preconceito, discriminação, ou até, mesmo abusos. Segundo Guacira Lopes Louro (1997):

A pretensão é, então, entender o gênero como constituinte da identidade dos sujeitos. E aqui nos vemos frente a outro conceito complexo, que pode ser formulado a partir de diferentes perspectivas: o conceito de identidade. Numa aproximação às

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formulações mais críticas dos Estudos Feministas e dos Estudos Culturais, compreendemos os sujeitos como tendo identidades plurais, múltiplas; identidades que se transformam, que não são fixas ou permanentes, que podem, até mesmo, ser contraditórias. (LOURO, 1997, p.24) (Grifo nosso)

Falar assim parece utópico para alguns, mas essas ações podem realmente surtir efeito e mudar vidas. Um exemplo disso é que em 2018, em Vila Velha, Espírito Santo, Brasil, uma reportagem do portal G1 relata que após uma palestra sobre educação sexual em uma escola, uma aluna relatou que vinha sofrendo abuso sexual e maus tratos por parte de seu padrasto. A menina informou a sua professora que sofreu abuso sexual por várias vezes. Após o relato do caso, foram acionados a Polícia Militar e o Conselho Tutelar para que as providências cabíveis fossem tomadas, garantindo a segurança da menor. O padrasto da garota foi preso e ela foi encaminhada para um abrigo até poder ser entregue a familiares. A professora dessa menina, que também é formada em psicologia relatou para a reportagem que palestras desse tipo são de extrema relevância e que devem serem pensadas de acordo com a faixa etária média das crianças. De acordo com Boal (2010 apud NUNES e WERBA, 2015):

Nossa tomada de posição teórica e nossas ações concretas devem acontecer não porque sejamos artistas, mas porque somos cidadãos. Fôssemos veterinários, dentistas, pedreiros, filósofos, bailarinos, professores, jogadores de futebol ou lutadores de judô – qualquer que seja a nossa profissão – temos a obrigação cidadã de nos colocarmos ao lado dos humilhados e ofendidos (NUNES e WERBA, 2015, p.128)

Partindo do pensamento do autor, nós, em qualquer que seja a profissão devemos nos colocar no lugar do outro, penso que enquanto professores temos que sempre buscar entender a realidade dos nossos alunos e alunas, entender o que eles pensam e estar abertos para que em nós seja encontrado uma pessoa em quem eles possam encontrar ajuda e dialogo.

Enquanto docentes estabelecemos relações com nossos alunos, sendo essas algo além de uma troca de conhecimentos e saberes. Segundo isso Inoue, Migliori e D’ambrosio discutem que (1999, p.99 apud NUNES e WERBA, 2015, p.132):

As relações que se estabelecem numa escola são muito mais ricas que a mera transmissão de informação, são cocriadoras da realidade, com emoção, com conhecimento, com a partilha... Isso enriquece a aprendizagem mesmo que não haja ninguém

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objetivamente ensinando. A informação pode estar lá disponível a todo instante. O aprendizado vai acontecer por conta de todo esse processo, e a escola passa, então a ser um local para todos/as (NUNES e WERBA, 2015, p.132).

Na perspectiva brasileira o debate quanto a inclusão da temática de gênero e sexualidade nas políticas educacionais se dá de forma bastante lenta. De acordo com Liane K. Rizatto (2012, p.1 apud NUNES e WERBA, 2015) sobre as políticas públicas de gênero e sexualidade no Brasil:

No Brasil ainda é lento o avanço com relação à inclusão da perspectiva de gênero/sexualidade nas políticas educacionais mais amplas, mas houve progressivas mudanças no período entre o final dos anos 1990 e, com maior ênfase, em meados dos anos 2000, com as políticas formuladas para responder especificamente às desigualdades de gênero e sexualidade identificadas no sistema educacional brasileiro. Alguns documentos internacionais contribuíram para esta discussão, como a Declaração Mundial sobre Educação para todos – Tailândia 1990, o Relatório Delors – França 1996. [...] Todos esses documentos foram assinados pelo Brasil, que assumiu esforços na questão das desigualdades de gênero e das diferentes formas de discriminação desencadeando desigualdade de direitos. (NUNES e WERBA, 2015, p.132-133)

Na questão 8 de nosso questionário indagávamos nossas(os) entrevistadas(os) sobre o preconceito de gênero, se no decorrer de sua trajetória desde o ingresso na licenciatura até o presente momento tinham presenciado algum tipo de preconceito motivado por questões de gênero. A grande maioria respondeu que sim, o que não é um fato muito surpreendente tendo em vista que nós vivemos no país em que uma mulher é morta a cada duas horas vítima de violência.

A misoginia é posta por todos os lados, e por mais que muitos ainda acreditem que é repetitivo e desnecessário falar sobre esses assuntos, eu enquanto pesquisadora desse trabalho me oponho. Me oponho pois não acho justo viver em um país onde tenho que me calar para não me prejudicar, onde as pessoas acreditam que aqui ou ali não são lugares para mulheres e tampouco alguns assuntos não devem serem expostos pela classe feminina por ―ferir‖ a sua feminilidade. Falar assim me faz remeter aos séculos passados, não parece atual, mas infelizmente é.

É bastante empolgante ao voltarmo-nos para o campus alvo desse estudo e perceber que existem cada vez mais estudantes preocupados(as) com as questões de gênero e que buscam levar essas discussões para os diversos ambientes dentre

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eles, a sala de aula. Logicamente que esse é um processo lento, que encontramos resistência por parte de muitos e muitas, mas como toda luta não pode ser cessada em meio a dificuldade. De acordo com LOURO (1997)

O que acontece não se trata, no entanto, de apenas mais um "acréscimo", seja das mulheres seja de temas e áreas. A subversão que essas incorporações e, principalmente, que os questionamentos feministas vão trazer para o pensamento terá como resultado urna transformação epistemológica, uma transformação no modo de construção, na agência e nos domínios do conhecimento. Com o feminismo surge "uma nova maneira de pensar sobre a cultura, sobre a linguagem, a arte, a experiência e sobre o próprio conhecimento" (Lauretis, 1986, p. 2). Na verdade, isso ocorre fundamentalmente porque ele redefine o político, ampliando seus limites, transformando seu sentido, sugerindo mudanças na sua "natureza". Se "o pessoal é político", como expressa um dos mais importantes insights do pensamento feminista, então se compreenderá de um modo novo as relações entre a subjetividade e a sociedade, entre os sujeitos e as instituições sociais. E a recíproca também pode ser aplicada, pois "o político também é pessoal" — nossas experiências e práticas individuais não apenas são constituídas no e pelo social, mas constituem o social. (LOURO, 1997, p. 148-149)

2.2 PAPÉIS DE GÊNERO

Mas o que seriam os papéis de gênero? Por papéis de gênero entende-se tudo aquilo que é dividido baseado no sexo biológico, feminino e masculino e nos quais as pessoas se embasam desde o nascimento de uma criança até a sua vida adulta. Alguns exemplos de locais onde os papéis de gênero são colocados, são as brincadeiras, atividades, roupas, empregos e afins. Ou seja, basicamente o mundo é desde sempre dividido voltando-se para esses papéis.

Ainda hoje, em pleno século XXI um menino causa estranheza ao preferir brincar de boneca do que jogar bola, da mesma forma uma mulher que nega-se a ter filhos e casar é tida como anormal. De acordo com LOURO (1997):

Uma das conseqüências mais significativas da desconstrução dessa oposição binária reside na possibilidade que abre para que se compreendam e incluam as diferentes formas de masculinidade e feminilidade que se constituem socialmente. A concepção dos gêneros como se produzindo dentro de uma lógica dicotômica implica um pólo que se contrapõe a outro (portanto uma idéia singular de masculinidade e de feminilidade), e isso supõe ignorar ou negar todos os sujeitos sociais que não se "enquadram" em uma dessas formas. Romper a dicotomia poderá abalar o enraizado caráter heterossexual que estaria, na visão de muitos/as, presente no conceito "gênero". Na verdade, penso que o conceito só poderá manter sua utilidade teórica na medida em que incorporar esses

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questionamentos. Mulheres e homens, que vivem feminilidades e masculinidades de formas diversas das hegemônicas e que, portanto, muitas vezes não são representados/as ou reconhecidos/as como "verdadeiras/verdadeiros" mulheres e homens, fazem críticas a esta estrita e estreita concepção binária. (LOURO,1997, p.34).

O que precisamos entender e começar a disseminar em nossos territórios acadêmico e escolar é que estamos nós todos incluídos em uma sociedade, na qual temos nossos direitos assegurados e principalmente temos o nosso livre arbítrio para sermos quem quisermos ser, porém, também é necessário que o nosso livre arbítrio seja seguro, com políticas efetivas que nos assegurem dessa violência que mata todos os dias, muitas pessoas por minuto.

Segundo com Farber, Verdinelli e Ramezanali (2012):

Os diferentes papéis de gênero, padrões, normas sociais e expectativas sobre o que é adequado a homens e mulheres, afetam as aspirações, comportamentos, preferências e atuação na vida privada e pública, resultando em desigualdade e inequidade. Conformando ciclos que reproduzem essas assimetrias sociais e cujo rompimento se faz necessário em prol do desenvolvimento harmônico de toda nação. (FARBER, VERDINELLI e RAMEZANALI, 2018, p.118)

Em todo o mundo o debate sobre a necessidade da busca por igualdade de gênero vem ganhando reconhecimento, tendo em vista que essa é uma luta que articula-se diretamente com o desenvolvimento mundial. Também de acordo com Farber, Verdinelli e Ramezanali (2012):

A busca da igualdade de gênero tem sido amplamente reconhecida em todos os países como algo emergencial e necessário para o desenvolvimento social e econômico. A participação igualitária de homens e mulheres na vida civil, política, econômica, social e cultural constitui uma meta a ser alcançada no mundo. (FARBER, VERDINELLI e RAMEZANALI, 2012, p.120)

A partir do estudo realizado pôde-se perceber que os(as) estudantes, sujeitos entrevistados(as) são em sua maioria mulheres e homens hétero. Podemos observar os gráficos a seguir para que possamos visualizar melhor esses dados:

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Gráfico Nº 3: Sexo Bioógico.

Gráfico Nº 4: Identificação de Gênero.

A partir desses dois gráficos podemos entender um pouco sobre a identidade dos sujeitos que foram entrevistados, e entender melhor sobre a diferença entre o sexo biológico e a identificação de gênero destes. Ao aplicar os questionários foi necessário explicar para a maioria dos(as) entrevistados(as) sobre o que significava a questão número 2, a qual se referia para à identificação de gênero, o que reflete a desinformação que ainda existe quanto a esses conceitos. Segundo LOURO (2000):

0 2 4 6 8 10 12 SEXO FEMININO SEXO MASCULINO

SEXO BIOLÓGICO

0 1 2 3 4 5 6 7 MULHER HÉTERO HOMEM HÉTERO MULHER LÉSBICA

HOMEM GAY ANDRÓGENO

IDENTIFICAÇÃO DE

GÊNERO

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Muitos consideram que a sexualidade é algo que todos nós, mulheres e homens, possuímos "naturalmente". Aceitando essa idéia, fica sem sentido argumentar a respeito de sua dimensão social e política ou a respeito de seu caráter construído. A sexualidade seria algo "dado" pela natureza, inerente ao ser humano. Tal concepção usualmente se ancora no corpo e na suposição de que todos vivemos nossos corpos, universalmente, da mesma forma. No entanto, podemos entender que a sexualidade envolve rituais, linguagens, fantasias, representações, símbolos, convenções... Processos profundamente culturais e plurais. Nessa perspectiva, nada há de exclusivamente "natural" nesse terreno, a começar pela própria concepção de corpo, ou mesmo de natureza. Através de processos culturais, definimos o que é — ou não — natural; produzimos e transformamos a natureza e a biologia e, consequentemente, as tornamos históricas. Os corpos ganham sentido socialmente. A inscrição dos gêneros — feminino ou masculino — nos corpos é feita, sempre, no contexto de uma determinada cultura e, portanto, com as marcas dessa cultura. (LOURO, 2000, p. 8-9)

A partir disso percebemos a importância do trabalho com essa temática. É necessário que cada vez mais um número maior de pessoas entenda e saiba dialogar sobre a mesma, assim, poderemos oportunizar uma maior qualidade de vida e um futuro onde o país não seja mais um sinônimo de preconceito e violência.

A faixa etária das alunas e dos alunos entrevistadas(os) em sua maioria está localizada na alternativa ―Entre 20 e 30 anos‖, no gráfico a seguir poderemos compreender melhor sobre a idade dos sujeitos entrevistados por este estudo:

Gráfico Nº 5: Faixa etária. 0 2 4 6 8 10 12 ATÉ 18 ANOS ENTRE 20 E 30 ANOS ENTRE 40 E 50 ANOS

FAIXA ETÁRIA

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2.3 GÊNERO E AS LICENCIATURAS

Para conseguir compreender sobre a importância da discussão sobre Gênero nos diversos cursos de licenciaturas foi necessário entender melhor como se dá o funcionamento do campus alvo do nosso estudo de caso.

Devemos pensar no campus da universidade como um espaço geográfico e cultural onde circulam linguagens, práticas, culturas e sobretudo podemos defini-lo como um espaço institucional de ensino superior onde pessoas de diferentes idades, interesses, cursos e graduações têm a oportunidade de dialogar sobre diferentes temas a fim de crescer intelectualmente e moralmente.

No campus de uma universidade, uma das maiores atividades desenvolvidas é a Educação, tendo em vista que dentro desse local encontram-se distribuídos diversos cursos, de grau licenciatura, bacharelado, mestrado, especialização, grupos de estudo e pesquisa. Nesse território circulam pessoas com diferentes idades, etnias, classes sociais, interesses e tensionamentos diversos.

Como citado anteriormente, nesse local encontramos uma vasta diversidade de identidades, princípios e interesses, a partir disso podemos compreender a necessidade de entrevistar não somente os alunos de uma licenciatura específica, mas de todas as licenciaturas presentes no campus, pois necessitamos de visões distintas sobre essa discussão, para então compreender como o corpo estudantil das licenciaturas enxerga essa discussão, se acreditam que essa temática seja relevante para a sua graduação, ou não.

Sendo assim, voltando-se para as graduações em licenciaturas pensamos que seja necessário que o alunado esteja apto a questionar, questionar o que é dito, exposto, vivido, para a partir disso se moldar enquanto pessoa, cidadã, visando um meio melhor para si e para o próximo.

Também se faz necessário que haja uma reflexão por parte dos docentes já graduados sobre como oportunizam essas discussões voltadas para gênero, sejam elas em âmbito acadêmico ou escolar, para que assim possamos de fato enxergar os reais efeitos sociais das discussões oportunizadas no meio acadêmico.

Quando refletimos sobre essa discussão em cursos de licenciaturas que voltam-se para áreas distintas, logo pensamos no perfil do futuro professor entrevistado. Um exemplo disso é refletir sobre a opinião de uma aluna futura professora de matemática, tendo em vista que em sua maioria as pessoas enxergam apenas como um curso voltado exclusivamente para números e cálculos

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e esquecem da necessidade da discussão sobre a área social e humana estar presente em discussões de todos os cursos, como essa professora dialogaria ao presenciar uma situação de preconceito de Gênero em sala de aula ou em ambiente escolar se em sua graduação, período que se dedicou ao preparo para uma prática docente não houveram discussões sobre essa temática? A partir disso podemos nos voltar para a escrita de CURY (2001):

A nossa responsabilidade como instituições formadoras é muito grande. Por que é grande? Porque a Universidade é autônoma para definir os nossos rumos e os dessas diretrizes. Na Universidade, nós temos espaço de autonomia e com o aporte da pesquisa sistemática. Agora, vocês como bons alunos, serão capazes de pegar esses desafios e fazer do curso de vocês algo que os conduza a ser compromissados com a democracia social e política de que este país necessita. (CURY,2001, p.228)

Na questão 13 do questionário aplicado, nos traz o questionamento: ―Você acredita que as discussões acerca de gênero poderão facilitar a sua prática docente futura? Se sim, como?‖ e algumas das respostas são bastante interessantes, como por exemplo a resposta de dois estudantes, um de Geografia e uma de História, respectivamente:

“Sim, vai me dar embasamento para futuras discussões sobre o tema e tem me tornado um homem menos machista. (sic)” (Estudante 3, Geografia)

e

“Sim, pois possibilita a ampliação de alguns conhecimentos antes desconhecidos e exercita o pensamento crítico para lidar com algumas situações que possam vir a surgir.” (Estudante 3, História)

A partir dessas falas podemos perceber que aos poucos, a passos lentos, por meio das discussões que já ocorrem nas licenciaturas, os licenciandos(as) já conseguem enxergar a necessidade de que essas discussões possam permear nas licenciaturas com o fim de que cada vez mais os preconceitos sejam diminuídos e os conhecimentos sejam ampliados.

O preconceito de Gênero, e a violência causada por esse preconceito infelizmente são realidades no Brasil, os ditos papéis de gênero são disseminados desde a infância até a vida adulta fazendo com que cada vez mais o preconceito se

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enraíze em nossa sociedade, fazendo com que os índices negativos nos quais o Brasil se encontra sejam ainda aumentados. Voltando-nos para a realidade escolar, LOURO (2002) nos traz que:

Diferenças, distinções, desigualdades... A escola entende disso. Na verdade, a escola produz isso. Desde seus inícios, a instituição escolar exerceu uma ação distintiva. Ela se incumbiu de separar os sujeitos — tornando aqueles que nela entravam distintos dos outros, os que a ela não tinham acesso. Ela dividiu também, internamente, os que lá estavam, através de múltiplos mecanismos de classificação, ordenamento, hierarquização. A escola que nos foi legada pela sociedade ocidental moderna começou por separar adultos de crianças, católicos de protestantes. Ela também se fez diferente para os ricos e para os pobres e ela imediatamente separou os meninos das meninas. (LOURO, 2002, p. 57)

A partir disso, enxerga-se a necessidade do diálogo sobre a temática norteadora desse trabalho ainda na graduação, onde os futuros docentes terão tempo para refletir e tirar suas dúvidas sobre o tema e assim saber como se posicionar em um momento de necessidade. De acordo com Clarrisa Eckert Baeta Neves:

Estas novas expectativas de formação pressupõem ruptura com padrões e modelos rígidos e, em muitos casos, indiferenciados de educação superior. Igualmente implica em mudanças no perfil de formação, qualificando-a no tocante ao domínio de conhecimento, na capacidade de aplica-los criativamente na solução de problemas concretos, no desenvolvimento de espírito de liderança e polivalência funcional, bem como, na maior adaptabilidade à mudança tecnológica, de informação e comunicação. (ECKERT 2007, p.14) Isso nos mostra que a necessidade da flexibilidade quanto as temáticas discutidas em salas de aula, principalmente, de nível superior é uma realidade, acredito que, seja necessário que aconteçam discussões que formem professores mais humanos, aptos a dialogar com o seu alunado não somente sobre conteúdos impostos por uma ciência, mas conversar sobre o mundo atual, que sejam aptos a trazer os seus conteúdos ―padrão‖ para dentro desses outros conteúdos, fazendo uma transposição didática.

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2.4 ANALISANDO AS FALAS DOS SUJEITOS

A partir da aplicação dos questionários foi possível entender mais sobre o que os alunos e alunas pensam sobre a discussão de gênero no âmbito das licenciaturas. Neste tópico, faremos a ligação entre a fala de alguns dos sujeitos entrevistados com o fim de compreender e comparar a realidade dos cursos e turmas.

A primeira questão discursiva do nosso questionário, questão 12 trazia o seguinte questionamento: ―Em sua prática você considera importante discussões acerca da temática de gênero?‖. Uma das respostas mais marcantes foi dada por um estudante de Licenciatura em Pedagogia ao responder que:

“Sim. O professor lida com a diversidade nas salas de aula, discutir sobre o assunto é importante para a construção do conhecimento.” (Estudante 3, Pedagogia.)

Contrapondo-se a essa opinião temos a resposta do único aluno entrevistado da Licenciatura em Matemática, o qual nos respondeu a mesma pergunta da seguinte forma:

“Para um professor de matemática creio que não.” (Estudante 1, Matemática.)

As duas respostas dadas por alunos, homens, a pergunta de número 12 nos faz refletir sobre qual o papel do futuro docente, pois, se enxergarmos a diversidade, a discussão sobre a mesma, como um processo que fortalece a construção do conhecimento poderemos fortalecer a nossa prática docente por meio das mesmas. Porém, se cada professor enxergar o seu caso, o caso da sua licenciatura específica como algo isolado na educação, como ela poderá se desenvolver como um todo? Precisamos enxergar a educação como um todo e não como fragmentada, logicamente, cada licenciatura possui a sua área específica, mas além de conteúdos pré-estabelecidos o professor também lidará com as realidades e identidades diversas dos seus alunos. Logo, mais do que transmitir esses conhecimentos específicos, é necessário que o social a discussão social esteja presente nas aulas formando assim um alunado mais crítico. Segundo LOURO (2003):

Questões como essas sem dúvida nos remetem para a temática da diferença, das desigualdades, do poder. Os vários exemplos

servem apenas como uma referência para sugerir onde olhar e como olhar tais diferenças e desigualdades no espaço escolar.

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discursos legais, as diretrizes pedagógicas ou as teorias educacionais, não por considerar que esses deixem de estar atravessados, também, pelas distinções de gênero, etnia, classe ou sexualidade. De quem falam, afinal, as teorias de desenvolvimento ou as psicopedagogias senão de um sujeito universal — pretendendo que o que se diz sobre ele seja válido para a compreensão de meninos e meninas, da vila ou da grande cidade, brancos/as, negros/as, índios/as? Se acentuei as práticas comuns foi por supor que "prestamos pouca atenção" à eficiência da normalização cotidiana, continuada, naturalizada. Cabe, agora, perguntar: por

que se importar com tudo isso? Por que observar a construção das diferenças? A resposta reafirma uma das proposições fundamentais dos Estudos Feministas: porque esse é um campo político, ou seja, porque na instituição das diferenças estão implicadas relações de poder. A linguagem, as táticas de

organização e de classificação, os distintos procedimentos das disciplinas escolares são, todos, campos de um exercício (desigual) de poder. Currículos, regulamentos, instrumentos de avaliação e ordenamento dividem, hierarquizam, subordinam, legitimam ou desqualificam os sujeitos. Tomaz Tadeu da Silva (1996, p. 168) afirma que o "poder está inscrito no currículo". Como já observamos, a seleção dos conhecimentos é reveladora das divisões sociais e da legitimação de alguns grupos em detrimento de outros. (LOURO, 2003, p. 84-85) (Grifo nosso)

Com base em Louro, podemos compreender melhor sobre a importância do(a) docente se preocupar além de transmitir os conhecimentos básicos, em formar cidadãos críticos e que se importem com o meio social no qual estão inseridos. Também segundo LOURO (2003):

Portanto, se admitimos que a escola não apenas transmite conhecimentos, nem mesmo apenas os produz, mas que ela também fabrica sujeitos, produz identidades étnicas, de gênero, de classe; se reconhecemos que essas identidades estão sendo produzidas através de relações de desigualdade; se admitimos que a escola está intrinsecamente comprometida com a manutenção de uma sociedade dividida e que faz isso cotidianamente, com nossa participação ou omissão; se acreditamos que a prática escolar é historicamente contingente e que é uma prática política, isto é, que se transforma e pode ser subvertida; e, por fim, se não nos sentimos conformes com essas divisões sociais, então, certamente, encontramos justificativas não apenas para observar, mas, especialmente, para tentar interferir na continuidade dessas desigualdades. (LOURO, 2003, p. 85-86) Vale salientar que dentre os doze entrevistados apenas o aluno de matemática (E.1.M) respondeu que a discussão sobre a temática não seria relevante para o contexto de sua prática docente, todos os(as) outros(as) estudantes responderam favoráveis a temática. Um exemplo disso é a fala de uma aluna de História:

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“De suma importância para que através da discussão por meio da educação acerca de gênero seja quebrados os preconceitos existentes.(sic)” (Estudante 4, História.)

Fazendo uma ligação com essas respostas podemos nos voltar para as respostas da questão 14 na qual fomos mais amplos e questionamos não apenas quanto a prática docente individual de cada entrevistado(a) mas para a educação no geral. A questão estava posta da seguinte forma: ―Você acredita que discussões de gênero são relevantes para a educação?‖ Uma estudante de Pedagogia nos respondeu que:

“Sim. Porque é discutindo que se abre a mente para as possibilidades, para a reflexão, e para “compreender o outro”.(sic)” (Estudante 2, Pedagogia.)

Já uma das alunas entrevistadas da licenciatura em História nos traz que:

“Muito relevante, já que um dos papéis da educação é formar indivíduos para atuar na sociedade, lhes dando a oportunidade de pensar essas questões. (sic)” (Estudante 3, História.)

Como já mencionamos a grande maioria das alunas e alunos entrevistadas(os) se mostraram favoráveis e coerentes em suas respostas, com exceção do aluno de matemática, único entrevistado da licenciatura em matemática, que ao responder a questão 9: ―De acordo com sua concepção esse tipo de discussões devem ser ampliadas no território da universidade?‖ o mesmo respondeu que sim, e já na questão 7 ao ser questionado se essas discussões são relevantes para sua formação e prática docente, o mesmo respondeu que não. A partir disso podemos nos voltar para a controvérsia presente na fala desse sujeito, que ―enxerga‖ que essas discussões devem ser ampliadas, mas que segundo ele essas discussões não são relevantes para o seu contexto enquanto licenciando em Matemática. De acordo com CURY (2001):

Isto quer dizer que o desafio da formação docente, isto é, daqueles que pretendem ser educadores no nível superior ou no nível básico, é enfrentar o que está ocorrendo entre nós neste momento. Ou seja, "Qual é a orientação, qual é o significado, qual é o conteúdo que nos toca como educadores numa relação pedagógica que, ao mesmo tempo, é interna à instituição e conectada com uma sociedade". E isto se dá num momento raríssimo na história do Brasil, em que por várias razões, por diferentes concepções, há uma unanimidade com relação à importância da educação escolar como um elemento fundante da cidadania e como um elemento indispensável para a

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presença qualificada nas relações profissionais de trabalho. Por isso, os desafios mudam de acordo com situações históricas. (CURY, 2001, p.222)

Ou seja, no atual contexto social e político que nos encontramos não temos e não podemos nos abster de um diálogo aberto sobre as diferentes temáticas, tais como a de gênero, para que assim possamos nos posicionar socialmente e criticamente.

Com a aplicação e resposta desse questionário pude perceber que a temática de gênero é em sua maioria bem aceita por parte dos graduandos e graduandas das licenciaturas e que estes enxergam os benefícios da mesma. Isso é um fato bastante positivo, pois a partir dele podemos acreditar que esses(as) alunos e alunas buscarão encontrar formas para o diálogo e trabalho da mesma em sua prática docente.

Outro fato que me chamou atenção por meio da análise desses questionários é que uma parcela pequena dos(as) entrevistados(as) relatou terem trabalhado com essa temática em suas práticas nos estágios supervisionados, a outra grande maioria se absteve dessas discussões. Clarilza Prado de Sousa (2017) argumenta que:

Desafio de promover o desenvolvimento da subjetividade, contando com a contribuição da análise representações sociais, como forma de promover a formação do sujeito-professor A possibilidade de compreensão de sua existência, de estar no mundo se constituindo na experiência, é um ponto fundamental na formação. É essa possibilidade que levará o professor a rejeitar uma visão de poder ser um indivíduo isolado, ―um átomo social‖, para ser um sujeito que compreende-se como construído e reconstruído pelo tempo, gerações e gerações, e que não pode ―ser suposto como em um estado de solipsismo‖ (JODELET, 2009, p.693). Desafios da formação de professores A educação, quando perde esta perspectiva, abandona a visão holística e integrada, perde a visão do sujeito como uma constituição. Em uma perspectiva psicossocial, o sujeito — e aqui estamos precisando o sujeito professor — deve ser compreendido e se conhecer nas condições sociais em que atua, entendendo, além disso, quais são os saberes que possibilita a ele ser um sujeito melhor qualificado e atuando com consistência e firmeza, lembrando como afirma Pereira (2013, p.843) que o professor

[...] na sua posição, precisa desenvolver a competência do discernimento para saber que aquilo que sabe e que acredita, ao mesmo tempo que aquilo que lhe dá consistência e firmeza, é aquilo que evidencia o limite do seu conhecimento e o limite da sua posição na realidade que o circunda e o circunscreve.‖ (SOUSA, 2017, p.749)

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3 METODOLOGIA

3.1 TIPOLOGIA DE PESQUISA

O presente estudo se deu de forma quantitativa e qualitativa, de forma a medir a quantidade de opiniões positivas e negativas, mas também analisar essas opiniões para que fosse possível enxergar como os e as estudantes enxergam essas discussões no decorrer da formação docente. De acordo com Minayo (2002):

Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Neste sentido a metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e está sempre referida a elas. Dizia Lênin (1965) que ―o método é a alma da teoria‖ (p.148), distinguindo a forma exterior com que muitas vezes é abordado tal tema (como técnicas e instrumentos) do sentido generoso de pensar a metodologia como a articulação entre os conteúdos, pensamentos e existência. (MINAYO, 2002, p.16)

A metodologia quanti-qualitativa se fez necessária nesse trabalho tendo em vista que mais do que investigar o número de opiniões contrárias e favoráveis a discussão dessa temática, buscou-se entender como essas opiniões estão sendo praticadas dentro da realidade de cada licenciatura e licenciando.

Também de acordo com Minayo (2002):

O conjunto de dados quantitativos e qualitativos, porém, não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia. (MINAYO, 2002, p. 22)

e

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reproduzidas à operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2002, p. 21-22)

Por meio da pesquisa realizada em nosso campo de estudo, buscou-se compreender a visão dos graduandos quanto à temática estudada dentro das licenciaturas em Pedagogia, Matemática, História e Geografia.

Valendo-nos da natureza descritiva voltamo-nos para os questionários aplicados para que fosse possível o entendimento da pesquisa, através do registro, ordenamento e análise dos dados, bem como a relação desses dados com o

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contexto no qual estão inseridos. Por meio da mesma conseguimos compreender e descrever os fatos observados, bem como as características dos grupos entrevistados em cada licenciatura alvo dessa pesquisa.

Suely Ferreira Deslandes (2002) nos traz que:

A definição teórica e conceitual é um momento crucial da investigação científica. É sua base de sustentação.

Remetendo este item a uma dimensão técnica, devemos dizer que é imprescindível a definição clara dos pressupostos teóricos, das categorias e conceitos a serem utilizados. [...] Devemos então ser sintéticos e objetivos, estabelecendo, primordialmente, um diálogo entre a teoria e o problema a ser investigado. (DESLANDES, 2002, p. 40)

Como nos aponta DESLANDES (2002) a partir da teoria aplicada a este trabalho foi possível adquirir um conhecimento maior quanto a temática deste trabalho, fortalecendo ideias e embasando as ações desta pesquisa.

3.2 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO

No decorrer desta investigação aplicamos questionários com a comunidade estudantil do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES/UFRN), campus de Caicó, mais especificamente com alunos e alunas das licenciaturas, com o fim de compreender como a discussão acerca de gênero ocorre nos cursos de licenciaturas ofertadas.

Para a escolha do tema voltei-me para os meus estágios curriculares em administração e regência para encontrar uma temática pela qual me identificasse e pudesse pesquisar sobre. Não foi difícil decidir pela temática de gênero, tendo em vista que em todos os meus estágios pude perceber o quanto essa discussão ainda é subtraída do ambiente escolar e quanto os papéis de gênero ainda são mantidos ali. Pude perceber que boa parte dos e das docentes das escolas nas quais estagiei, não possuíam formação para essa temática e quando possuíam não sabiam como utilizar, tendo em vista que muitas pessoas ainda a veem como um ―tabu‖.

O atual contexto social e político pelo o qual o país atravessa me amedrontou, e foi nesse momento que refleti sobre as possibilidades que tinha e sobre como poderia realiza-las. Percebi que o caminho seria um pouco mais complicado, mas que valeria a pena estudar sobre isso, dialogar sobre isso com os meus colegas das licenciaturas e expor novas ideias para as discussões ofertadas no nosso campus.

Referências

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