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Serviço social e condições de trabalho: perspectivas e desafios para a política de assistência social no município de Natal/RN

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL – DESSO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL – PPGSS. SHEILA DA SILVA OLIVEIRA DE MEDEIROS. SERVIÇO SOCIAL E CONDIÇÕES DE TRABALHO: PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNICÍPIO DE NATAL/RN.. Natal/RN 2017.

(2) SHEILA DA SILVA OLIVEIRA DE MEDEIROS. SERVIÇO SOCIAL E CONDIÇÕES DE TRABALHO: PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNICÍPIO DE NATAL/RN.. Dissertação de Mestrado apresentada pela aluna supracitada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com vistas à obtenção do título de mestre. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Carla Montefusco de Oliveira.. Natal/RN 2017.

(3) Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA. Medeiros, Sheila da Silva Oliveira de. Serviço social e condições de trabalho: perspectivas e desafios para a política de assistência social no município de Natal/RN / Sheila da Silva Oliveira de Medeiros. Natal, RN, 2017.169f. Orientadora: Profa. Dra. Carla Montefusco de Oliveira. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Serviço Social. 1. Trabalho - Assistentes sociais – Dissertação. 2. Política Social – Dissertação. 3. Assistência Social - Dissertação. 4. Serviço Social - Dissertação. I. Carla Montefusco de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/BS/CCSA. CDU 331.48:364-45.

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(5) Dedico este trabalho a Deus, e a minha família, na figura dos meus pais, João Fernandes de Oliveira, Lucimary da Silva Oliveira, e do meu irmão, Luan da Silva Oliveira, por terem sido a base necessária para que eu chegasse até aqui. E também dedico ao meu esposo, Pedro Henrique, com quem dividi os momentos desta construção, juntamente com a organização e a preparação do nosso (recente) casamento. Este momento marca, literalmente, o fechamento de um ciclo e o início de outro. Uma nova e incrível aventura a desbr.

(6) AGRADECIMENTOS. Gratidão: uma palavra tão utilizada nos últimos tempos, cuja trivialidade tende a desconsiderar o seu real significado, para mim tem um valor bastante profundo, sem falsas modéstias ou demagogias. Ao escrever essas linhas, relembro de todo o processo que vivi até a conclusão deste trabalho, e reconheço o quanto tenho e tive razões para agradecer, mesmo com as dificuldades, que não me paralisaram e nem foram maiores do que a alegria e a satisfação de chegar até aqui. Porém, eu não cheguei sozinha. Sozinha eu não teria se quer começado. Por isso, primeiramente, eu agradeço a Deus e a sua infinita Graça em me proporcionar a sabedoria necessária para realizar os meus sonhos. Caminho nessa fé, de que existe algo e alguém para além de nós mesmos, nos impulsionando a ser pessoas melhores, mais humanas e maiores em espírito. A esse Deus, o qual acredito, dedico todo meu amor, reconhecimento e gratidão. À minha família também agradeço, representados pelos meus pais, Lucimary da Silva Oliveira e João Fernandes de Oliveira, e pelo meu irmão, Luan da Silva Oliveira, por serem o apoio incondicional em todos os momentos da minha vida. Pois, mesmo após graduada, me incentivarem a continuar o meu processo formativo, ainda que em condições financeiras adversas, nunca me dizendo para “parar”. Ao contrário, sem se quer terem sentado nos bancos de uma universidade, meus pais sempre estiveram ao meu lado e nos bastidores de toda essa história, proporcionando as condições possíveis para que esse projeto se concretizasse. Definitivamente, sem a sensibilidade e o incentivo de vocês para que eu estudasse, eu não teria conquistado este feito. Vocês são os responsáveis por tudo isso. Palavras nunca serão o suficiente para a agradecer! Ao meu esposo, Pedro Henrique, cujo título é recente, eu dedico todo o amor, afeto e gratidão que possam existir em mim. Pedro esteve comigo desde o início da graduação, incentivando, compartilhando, e construindo comigo uma relação cheia de companheirismo, respeito e ternura, sem a qual, tudo o que eu vivi seria bem menos prazeroso. Meu amor, você traz esperança e alegria para os meus dias e tem estado ao meu lado, ao longo de todo esse trajeto, acreditando em mim, principalmente, nos momentos em que eu não acreditei. Eu te amo e meu coração é grato a você! À minha orientadora, Prof.ª Dra. Carla Montefusco, eu também agradeço de todo o coração por ter me aceito como orientanda, por ter compreendido os momentos que eu passei durante o período do mestrado e por ter acreditado em mim. Tive a oportunidade de conhecer e conviver com a professora Carla desde o primeiro período da graduação e reconheço desde.

(7) muito tempo, a sua competência e responsabilidade. Eu atribuo muito da segurança e da tranquilidade que me possibilitaram chegar até aqui, a você, de quem eu sempre terei orgulho de dizer que fui aluna. Muito obrigada, professora! À Banca examinadora do meu trabalho, nas figuras da Prof.ª Dra. Eliana Andrade da Silva e Prof.ª Dra. Hilderline Câmara de Oliveira eu também dedico a minha gratidão, pois na dinâmica tão atribulada dos nossos dias, vocês se disponibilizaram e estiveram presentes em um momento tão singular da minha formação. Com a professora Eliana já tive a satisafação de ter trabalhado, em um período igualmente importante para mim, na produção do meu trabalho de conclusão de curso, em que através de sua valiosissíma presença e contribuição, eu obtive êxito. Muito obrigada, professora, por aquela e por esta orponidade. Agradeço às duas de maneira sincera e singular, pela paciência e pelo tempo prestado à leitura e análise do meu trabalho. Obrigada! Ao corpo docente que compõe o Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da UFRN eu também estendo os meus agradecimentos, pois foram base sólida e importante para que as análises realizadas neste estudo se concretizassem. Ingressar no mestrado na Universidade onde eu tive o privilégio de concluir a minha graduação foi um objetivo alimentado por um longo período, e tão logo eu ingressei na Pós-Graduação, percebi o quanto tinha a aprender e o quanto aqueles professores tinham a contribuir. Agradeço a todos, pela competência e dedicação atribuídos a este ofício! À Secretaria de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS), do município de Natal/RN, agradeço pela autorização para a realização das entrevistas com os assistentes sociais, servidores da Prefeitura Municipal de Natal. Confesso que dialogar com os assistentes sociais atuantes na ponta dos atendimentos sempre foi um desejo particular, buscando conhecer através deles, as situações que só a dinâmica da realidade pode nos proporcionar. Portanto, muito obrigada a todos os profissionais entrevistados, pelo respeito e atenção oferecidos a mim e ao meu estudo. Quanto aos amigos, não irei me delongar trazendo aqui uma lista de nomes, entretanto, agradeço aqueles que foram presentes neste processo, me apoiando, incentivando e não me deixando abater nos momentos de dificuldade, dentro ou fora da Universidade. Obrigada queridas, Chrislayne Caroline, Taciana Albulquerque, Rosylenne Santos e Karolina de Moura. Ao longo deste tempo, tenho a certeza de que eu aprendi muito com a companhia de vocês, trocando experiências em assuntos ligados a dissertação (ou não). Vocês também serão parte das minhas alegres recordações e tenham certeza que marcaram esta trajetória. Muito Obrigada a todas!.

(8) Por fim, agradeço a todas as outras pessoas, as quais não conseguirei citar aqui, mas que de alguma maneira colaboraram para o desfecho desta caminhada, seja através de um apoio, de uma palavra ou de tantas outras formas que um ser humano pode somar na vida do outro. Não só eu, mas todo este trabalho, é resultado de forças coletivas, e eu espero que ele possa contribuir, minimamente, com a minha profissão e com a sociedade.. Deixo aqui os meus agradecimentos!. Nós vos pedimos com insistência: Nunca digam – Isso é natural. Diante dos acontecimentos de cada dia. Numa época em que reina a confusão, Em que corre o sangue, Em que se ordena a desordem, Em que o arbitrário tem força de lei, Em que a humanidade se desumaniza… Não digam nunca: Isso é natural. A fim de que nada passe por ser imutável. (Bertolt Brecht).

(9) RESUMO. A produção a seguir tem como objetivo central analisar as condições de trabalho dos assistentes sociais inseridos no Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e nos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), do município de Natal/RN, a fim de conhecer e refletir acerca dos limites e das possibilidades presentes no cotidiano profissional, tensionados pelo caráter assalariado e pelas determinações do sistema capitalista. Para tanto, o método de pesquisa utilizado apoia-se no materialismo histórico-dialético, cuja essência considera aspectos da história e da conjuntura socioeconômica a qual faz parte o grupo a ser estudado, bem como a dinâmica temporária e contraditória da realidade e suas múltiplas particularidades. A metodologia adotada, baseia-se, assim, na pesquisa documental e de campo, por meio das quais buscamos o aporte teórico-metodológico nas discussões sobre o Trabalho, Políticas Sociais e Serviço Social, realizando também 08 (oito) entrevistas semiestruturadas com assistentes sociais pertencentes às unidades mencionadas. Tendo em vista as quatro regiões administrativas de Natal/RN, quais sejam: zona sul, zona oeste, zona leste e zona norte, e da existência de onze CRAS e quatro CREAS distribuídos entre elas, buscamos abarcar pelo menos um CRAS e um CREAS por região, contemplando, deste modo, a entrevista com um assistente social em cada uma das instituições. Com o apoio das informações obtidas e como produto da análise de conteúdo, compreendemos, portanto, algumas tendências as quais podemos sintetizar através da contraposição do que vem sendo preconizado pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e o que de fato tem sido materializado na prática profissional, em um paradoxo sobre qual se estabelece a política socioassistencial brasileira, já que ainda é facilmente observável o quadro recorrente de precarização do trabalho, nesta área. Precarização esta, que atinge não apenas as condições materiais do trabalho, mas a qualidade dos serviços oferecidos aos usuários, bem como a saúde dos trabalhadores, cada vez mais submetidos aos processos de adoecimento e aos possíveis atos abusivos presentes nas relações trabalhistas contemporâneas. Com efeito, consideramos a importância de análises que se dediquem aos moldes do trabalho nesta cena, evidenciando aspectos que envolvam o exercício profissional, mas também os seus rebatimentos nas demais dimensões da vida dos trabalhadores, buscando diminuir, através da luta coletiva, a distância entre os direitos conquistados e a sua realização.. Palavras-chave: Trabalho. Política Social. Assistência Social. Serviço Social..

(10) ABSTRACT. The following project aims to analyze the working conditions of the caseworkers included in the Social Assistance Referral Centers (SARC) and the Specialized Referral Centers of Social Assistance (SRCSA), in the city of Natal/RN, in order to know and reflect on the limits and possibilities in the professional daily life, worried about their salaried profile and determinations of the capitalist system. For this, the research method used is based on historicaldialectical materialism, whose essence considers aspects of history and socioeconomic conjuncture which is part of the group to be studied, as well as the temporary and contradictory dynamics of reality and its multiple peculiarities. The methodology adopted is based on documentary and field research, through which we seek the theoretical-methodological contribution in the discussions on Work, Social Policies and Social Work, also performing eight (8) semi-structured interviews with caseworkers from the units mentioned. In view of the four administrative regions of Natal/RN, which are: south, west, east and north, and that there are eleven SARC and four SRCSA distributed among them, we looked for include at least one SARC and one SRCSA per region, thus contemplating the interview with a caseworker in each of the institutions. With the support of the information obtained and as a product of the content analysis, we understand, therefore, some tendencies that we can synthesize through the opposition of what has been supported by the Unified Social Assistance System (USAS) and what has in fact been materialized in the professional practice, in a paradox about which the Brazilian social assistance policy is established, since it is still easily observable the recurrent picture of work precarization in this area. This precariousness, which affects not only the material conditions of work, but also the quality of the services offered to users, as well as the health of workers, increasingly subjected to the processes of illness and abusive acts present in labor relations. In fact, we consider the importance of analyzes that are dedicated to the patterns of work in the contemporary scene, highlighting aspects that involve the professional practice, but also its repercussions in the other dimensions of workers' lives, looking for reduce through collective struggle the distance between the acquired rights and their realization.. Keywords: Labor. Social Policy Work. Social Assistance. Social Work..

(11) LISTA DE SIGLAS. ABAS. Associação Brasileira de Assistentes Sociais.. ABEPSS. Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social.. ABESS. Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social.. ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas.. ANAS. Associação Nacional dos Assistentes Sociais.. BM. Banco Mundial.. CEREST. Centros de Referência em Saúde do Trabalhador.. CBAS. Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais.. CFESS. Conselho Federal de Serviço Social.. CCQs. Círculos de Controle de Qualidade.. CENEAS. Comissão Executiva Nacional das Entidades Sindicais de Assistentes Sociais.. CEP. Comitê de Ética em Pesquisa.. CLT. Consolidação das Leis do Trabalho.. CRAS. Centro de Referência de Assistência Social.. CREAS. Centro de Referência Especializado de Assistência Social.. CRESS. Conselho Regional de Serviço Social.. DIESAT. Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho.. ENESSO. Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social.. FMI. Fundo Monetário Internacional.. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.. INST. Instituto Nacional de Saúde no Trabalho.. LBA. Legião Brasileira de Assistência Social.. LOAS. Lei Orgânica da Assistência Social..

(12) MDS. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome.. MPC. Modo de Produção Capitalista.. MP/RN. Ministério Público do Rio Grande do Norte.. NOB. Norma Operacional Básica.. NOB/RH. Norma Operacional Básica de Recursos Humanos.. OIT. Organização Internacional do Trabalho.. OMS. Organização Mundial de Saúde.. PAEFI. Proteção e Atendimento Especializado a Família e aos Indivíduos.. PAIF. Programa de Atendimento Integral à Família.. PCCS. Plano de Carreira, Cargos e Salários.. PETI. Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.. PNAS. Política Nacional de Assistência Social.. PNF. Política Nacional de Fiscalização.. PROÁLCOOL. Programa Nacional do Álcool.. (PQTs). Programas de Qualidade Total.. RENAST. Rede Nacional de Centros de Referência em Saúde do Trabalhador.. SEMTAS. Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social.. SEMURB. Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente.. SINSENAT. Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Natal.. SIAFI. Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal.. SUAS. Sistema Único de Assistência Social.. SUS. Sistema Único de Saúde.. TAG. Termo de Ajustamento de Gestão.. UNESCO. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura..

(13) LISTA DE ILUSTRAÇÕES. Quadro 1 - Serviços socioassistenciais do Natal/RN com base no nível de proteção social…59.

(14) SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 14 2. A CONFIGURAÇÃO DO TRABALHO NA POLÍTICA SOCIOASSISTENCIAL BRASILEIRA ...................................................................................................................................... 22 2.1 O TRABALHO E O LUGAR QUE OCUPA NO DESENVOLVIMENTO HUMANO: APONTAMENTOS PARA O SERVIÇO SOCIAL ............................................................................. 23 2.2 O PERCURSO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL E A SUA RELAÇÃO COM O ESTADO ................................................................................................................................. 33 2.3 O ASSISTENTE SOCIAL ENQUANTO TRABALHADOR DA SEMTAS, DO MUNICÍPIO DE NATAL/RN: REFLEXÕES SOBRE A GESTÃO DO TRABALHO .................................................. 51 3. AS CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NOS CRAS E CREAS DE NATAL/RN: IMPLICAÇÕES PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL E A SAÚDE DOS TRABALHADORES .......................................................................................................................... 70 3.1 INFRAESTRUTURA E GARANTIA DO SIGILO PROFISSIONAL: O QUE PODEMOS DIZER SOBRE ISSO? ...................................................................................................................................... 71 3.2 ADOECIMENTO E ASSÉDIO MORAL: AS CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE DO TRABALHADOR................................................................................................................................. 91 4. “PARA NÃO DIZER QUE EU NÃO FALEI DAS FLORES” ................................................. 113 4.1 AS ESTRATÉGIAS E FORMAS DE ENFRENTAMENTO À PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO: UMA LEITURA A PARTIR DA TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL .............. 114 4.2 OS DESAFIOS PARA O AVANÇO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL ............................................................................................................................................................. 132 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................... 142 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 148 APÊNDICE ........................................................................................................................................ 162 ANEXO .............................................................................................................................................. 166.

(15) 14. 1. INTRODUÇÃO A contar pelas investidas neoliberais no mundo do trabalho, através da flexibilização de sua organização e gestão, incluindo os moldes de um Estado enxuto para as políticas e serviços sociais públicos, o assistente social1, enquanto trabalhador assalariado, inscrito na divisão sociotécnica do trabalho, e em contato direto com as expressões da questão social, tem se enxergado cada vez mais tolhido diante do seu fazer profissional. Chamados a atuar nas refrações da questão social, a partir da viabilização e da implementação de direitos sociais, os assistentes sociais percebem no cotidiano profissional; as tendências advindas do processo de reestruturação produtiva e da restrição dos gastos públicos com as políticas sociais, vivenciando tensões entre os interesses do capital e o significado social do seu trabalho. Entre outras características; temos, neste cenário, o contexto em que se expressa o trabalho do assistente social e as determinações que se sobrepõem às condições de trabalho, considerando esses profissionais como parte integrante da classe trabalhadora e verificando, diante da conjuntura neoliberal, a retração dos recursos institucionais, a precarização do trabalho e os parcos investimentos em ações públicas que de fato qualifiquem os serviços e valorizem os trabalhadores. Desta forma, as motivações para o este estudo acompanham o próprio movimento da realidade e da política de assistência social no Brasil, por ser esta uma área em constante mudança, onde, historicamente, a precarização circunscreve os moldes do trabalho, tendo em vista a restrição do investimento público voltado às necessidades da classe subalterna. Imersa em uma conjuntura contraditória, a política de assistência social caracteriza-se por aspectos que a colocam na trama da intervenção do Estado, como direito, ao mesmo tempo em que assume contornos filantrópicos, constituindo-se espaço que requer considerável esforço interpretativo, e por isso, ainda mais desafiador. Justificamos esta, como mais uma das nossas motivações, juntamente à trajetória do Serviço Social brasileiro, como uma profissão que decidiu se colocar em favor da liberdade, considerando-a como valor ético central e tendo como princípios norteadores tudo aquilo que coopera para a defesa da democracia, da cidadania, da equidade e da justiça social. Mais. 1. Optamos neste trabalho por utilizar artigos masculinos em referência ao assistente social, por exigência da norma culta gramatical e por facilitar a leitura, sem desconsiderar, contudo, as discussões sobre gênero travadas pela categoria. Dessa maneira, ao longo do texto faremos também referência aos entrevistados através de pseudônimos que enaltecem mulheres brasileiras que marcaram a história da luta por direitos no país e nesse sentido, quando necessário, utilizaremos o artigo “a” em alusão ao nome indicado..

(16) 15. especificamente, esses estímulos materializaram-se ao longo da minha graduação em Serviço Social, na UFRN, entre os anos de 2010 a 2014, culminando na autoria do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC): Serviço social e condições de trabalho: uma análise a partir da realidade da fiscalização do Conselho Regional de Serviço Social - 14ª Região/RN, produto de discussões realizadas durante toda a formação profissional, e em especial na ocasião do estágio curricular obrigatório que aconteceu no Conselho Regional de Serviço Social do Rio Grande do Norte (CRESS/RN). Como síntese das observações realizadas durante as visitas de fiscalização no CRESS/RN, a construção do TCC objetivou refletir sobre as condições de trabalho dos assistentes sociais no município de Natal/RN, com o apoio das fichas e dos relatórios de fiscalização, oportunizando também o maior conhecimento sobre a trajetória do Serviço Social, seus marcos históricos e regulatórios, além das implicações da conjuntura social contemporânea para uma atuação profissional concatenada com os valores e princípios defendidos. É possível afirmar, então, que inspirados naquele trabalho, porém diferentemente da experiência anterior, baseada somente em fontes documentais, nesta oportunidade, gostaríamos de ouvir o assistente social do município de Natal/RN, que se encontra na ponta dos atendimentos da política de assistência social, acerca dos limites e das possibilidades presentes no cotidiano profissional, através das seguintes questões norteadoras: Quais as condições de trabalho dos assistentes sociais inseridos nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS e CREAS), do município de Natal/RN? / De que formas as condições de trabalho nessas instituições têm favorecido ou limitado o exercício profissional? / Como tem se configurado o mercado de trabalho para o assistente social, na política de assistência social? / Como os movimentos de “contrarreforma” do Estado têm atingido as condições de trabalho dos assistentes sociais, nesta política? e por fim, Quais são os avanços e os desafios encontrados na luta por melhores condições de trabalho do assistente social? Neste plano, consideramos como condições de trabalho, entre outras aspectos, as questões relacionadas a gestão e a organização do trabalho na política de assistência social, do município de Natal/RN, haja vista, os tipos de vínculos empregatícios, o acesso a capacitações profissionais, as relações de trabalho e a infraestrutura técnica disponibilizada aos trabalhadores e aos usuários desta política, oportunizando, a análise sobre a realidade que se descortina aos assistentes sociais, servidores da Secretaria de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS), e os rebatimentos para a suas vidas e atividades profissionais. Mesmo após a promulgação da Constituição de 1988 e da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), que preveem a assistência social como direito, destacamos a importância social.

(17) 16. e acadêmica de estudos que se dediquem à atual configuração da política de assistência social, não naturalizando-a como mais um exemplo dos casos de precarização, pois, mesmo com a sua expansão, observa-se ainda, de maneira contraditória, a retração da primazia do Estado em um campo, cujas consequências alcançam, sobremaneira, a vida daqueles que necessitam da assistência social como uma de suas formas de sobrevivência. Deste modo, a presente pesquisa objetiva analisar as condições de trabalho dos assistentes sociais inseridos nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e nos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), no município de Natal/RN, observando os rebatimentos para as atividades profissionais e a qualidade dos serviços prestados aos usuários, salientando as implicações dos movimentos de contrarreforma do Estado para a política de assistência social e para o mercado de trabalho do assistente social, além das estratégias profissionais encontradas para o enfrentamento de possíveis formas de precarização. A escolha pelos CRAS e CREAS, do município, como lócus da nossa pesquisa dá-se pela representatividade desses espaços para a realização de ações e operacionalização dos serviços na política de assistência social, aparecendo também como área de expressiva inserção profissional, ainda que sob condições de trabalho insatisfatórias. A configuração dos Centros de Assistência materializa ainda a organização coletiva da população, principalmente, voltada ao debate mais geral sobre as condições de vida e de trabalho na contemporaneidade, destacando-se como local estratégico e territorializado em busca da organização e da reivindicação por melhores serviços (YAZBEK, et. al, 2014). Dada essa realidade, em Natal/RN, por exemplo, apenas em março de 2016, após o concurso público realizado pela Prefeitura Municipal destinado à ocupação de vagas para o quadro efetivo de servidores da SEMTAS, é possível perceber uma modificação quanto aos vínculos empregatícios dos servidores, que anteriormente, em sua maioria, eram submetidos à fragilidade dos regimes de contrato, de acordo com dados referentes aos anos de 2012 e 2013, com base no anteriormente TCC citado. Por meio deste, constatou-se que dos 22 (vinte e dois) assistentes sociais fiscalizados pelo CRESS/RN, no âmbito da política de assistência social, 09 estavam inseridos nos CRAS e CREAS do município, sinalizando, além de distintas referências aos vínculos empregatícios, relatos que apontavam para a sobrecarga de trabalho, a rotatividade de profissionais, a ausência de infraestrutura técnica, de salas específicas para o Serviço Social e de sigilo profissional, sem falar da inobservância da carga horária de 30hs/semanais (OLIVEIRA, 2014)..

(18) 17. Consideramos esta, uma realidade que representa bem a atual configuração do Estado brasileiro diante das políticas públicas, que sob a lógica da flexibilização do trabalho e da noção cada vez mais privatista, tem atingido o foco das atividades profissionais, a qualidade dos serviços prestados aos usuários e a saúde dos trabalhadores, em um contexto de correlações de forças cada vez mais eminente entre aqueles que detêm os meios de produção e aqueles que necessitam vender a sua força de trabalho. No caso dos trabalhadores, estes colocam-se no cerne das relações sociais contraditórias de produção e de distribuição dos bens, podendo encontrar na luta e na organização política das categorias profissionais, uma das estratégias de enfretamento à precarização do trabalho, junto a outras, no tocante ao cotidiano, a partir da experiência e da sensibilidade de cada profissional. A exemplo do movimento político, no período em que aconteceram as nossas entrevistas, vivenciou-se em Natal/RN, um momento de greve, protagonizado pelos servidores da Prefeitura, com duração de aproximadamente três meses (de 11 de nov. 2016 a 31 de jan. 2017), cuja reivindicação central era pelo restabelecimento do pagamento dos salários em dia2. A paralisação dos trabalhadores também se justificou pela ausência de uma mesa de negociação a fim de debater o descumprimento da Lei da Data-base3, a inexistência de gratificações e de progressão na carreira, sem contar com a precarização das condições de trabalho e o combate ao assédio moral. Estas, inclusive, foram tendências trazidas pelos profissionais entrevistados e problematizadas durante o nosso estudo, demonstrando não só o descompromisso dos órgãos públicos com a gestão e as condições de trabalho profissionais, mas com a própria política de assistência social, cuja implementação não tem acompanhado os avanços jurídico normativos direcionados para esta área. Sob esta perspectiva, através do método materialista histórico dialético, intencionamos desvelar as falas dos assistentes sociais, sujeitos desta pesquisa, como integrantes do contexto 2. Segundo informações contidas no website do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Natal (SINSENAT), desde o início de 2016, a Prefeitura vem atrasando a remuneração dos servidores municipais, à revelia da Lei Orgânica do município (SINSENAT, 2017). Esta, determina que a remuneração seja paga aos servidores até o último dia útil de cada mês, com reajuste periódico e único para todos os cargos da administração direta e indireta, ficando garantida, no mínimo, a correção trimestral e a reposição dos salários com base nos indicadores oficiais da inflação. 3 Por Data-base compreende-se o período anual em que trabalhadores, sindicatos e empregadores se reúnem a fim de estabelecer os reajustes salariais e os termos do contrato de trabalho coletivo, podendo variar de acordo com as categorias profissionais. A menção a Data-base está presente na Lei nº 7. 238/84, a qual dispõe sobre a manutenção da correção semestral dos salários, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), estabelecendo como a Data-base, a data de início da vigência do acordo coletivo (BRASIL, 1984). Conforme as informações dos assistentes sociais entrevistados, os servidores municipais do município de Natal/RN convivem com uma defasagem de mais de dois anos na Data-base de seus salários, sendo esta mais uma das justificativas para as reivindicações; configurando-se, inclusive, pauta para audiências públicas, como a ocorrida, no dia 15 de março de 2017, na câmara municipal de Natal, a fim de discutir o “O cumprimento da Lei da Data-base dos servidores municipais de Natal”..

(19) 18. da realidade social, considerando aspectos da conjuntura socioeconômica e da história a qual faz parte o grupo social a ser estudado, bem como as múltiplas particularidades dessa realidade, entre elas a sua dinâmica temporária e contraditória (MINAYO, 1992). A metodologia utilizada para o desenvolvimento da nossa análise; fundamenta-se, então, pela pesquisa qualitativa de caráter exploratório, cujo principal aporte teórico advém do levantamento bibliográfico e documental realizado na literatura produzida pelo Serviço Social e pelas Ciências Sociais, além do corpo legislações que compõe o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Desse modo, buscamos a construção permanente de um quadro analítico que abrangesse as categorias teóricas: Trabalho, Políticas Sociais e Serviço Social, objetivando contemplar os elementos que envolvem a teoria social crítica e a própria trajetória da profissão no contexto sócio-histórico brasileiro, suscetível aos rebatimentos da atual configuração do trabalho na sociedade capitalista. Com apoio de autores como Minayo (1992; 1994) e Demo (1998) nos referimos a pesquisa qualitativa como técnica dotada de consciência histórica e cientificidade, que ao contrário do que se possa imaginar, sua intenção própria, “é perseguir faces menos formalizáveis dos fenômenos, às quais damos o nome de qualidade” (DEMO, 1998, p. 92). Sob esta perspectiva, além de endossarmos a não dicotomia entre qualidade e quantidade, podendose no máximo, priorizar uma ou outra, “mas nunca insinuar que uma se faria às expensas da outra, ou contra a outra” (DEMO, 1998, p. 92), na investigação proposta “não é o investigador que dá sentido ao seu trabalho intelectual, mas os seres humanos, os grupos, e as sociedades que dão significado e intencionalidade às suas ações e suas construções, na medida em que as estruturas sociais nada mais são do que ações objetivadas” (MINAYO, 1994, p. 14). Nos remetemos, assim, ao movimento do real, através de um roteiro de entrevista semiestruturado (cujo modelo está presente nos apêndices deste trabalho), considerando a situação suscitada e as informações contidas nas falas dos assistentes sociais, por meio das questões norteadoras, possibilitando a margem de inclusão e a formulação de novas perguntas durante o processo de realização da pesquisa (PRATES, 2003). Inclusive, esta foi uma circunstância verificada no período de execução das nossas entrevistas, haja vista a necessidade de acrescentar mais uma pergunta acerca do andamento do movimento de greve que ocorria no município4.. 4. Esta pergunta não necessariamente foi editada no roteiro de entrevista presente nos apêndices deste trabalho, tendo em vista a impressão preliminar de todos os instrumentos de pesquisa. Entretanto, foi uma questão acrescentada ao longo dos diálogos, possível de ser observada nos áudios correspondentes às entrevistas..

(20) 19. Acompanhada pela revisão bibliográfica e documental delineada ao longo de todo o nosso estudo, a realização das entrevistas aconteceria, portanto, com base em uma amostra composta por um grupo de 08 assistentes sociais, que de acordo com um critério inicial precisariam estar em pleno exercício de suas atividades há mais de 05 anos, nos diversificados Centros de Referência de Assistência Social (CRAS e CREAS) distribuídos nas regiões administrativas do município de Natal/RN. Em contraste, mediante a realidade e a modificação no quadro de servidores, que a partir de então; receberiam novos assistentes sociais – alguns vivenciando a sua primeira experiência profissional – nosso critério de escolha para a amostra manteve a quantidade de sujeitos, direcionando-se, assim, apenas aos profissionais que manifestassem o interesse em contribuir com a pesquisa, respeitando também a condição geográfica a qual estão distribuídos aos Centros de Referência, que já eram critérios iniciais. Destinando-se aos assistentes sociais inseridos nos CRAS e nos CREAS, delimitamos geograficamente o município de Natal/RN a partir de quatro zonas administrativas, quais sejam: zona sul, zona oeste, zona leste e zona norte, de acordo com as informações do Plano Municipal de Assistência Social, referente aos anos 2014 e 2015, contemplando o número de 04 CRAS e 04 CREAS, sendo escolhido um por região administrativa. Conforme o Plano Municipal citado, sabemos que em Natal/RN, existem 11 (onze) CRAS e 04 CREAS distribuídos entre as regiões administrativas5, e nesse sentido, a escolha pelas instituições que constituíram a nossa amostra foi classificada de forma não probabilística (sem rigor estatístico) e estratificada (PRATES, 2003), buscando abarcar 01 CRAS e 01 CREAS por região, contemplando, assim, pelo menos 01 (um) assistente social inserido em cada uma dessas instituições. Após a submissão do projeto de pesquisa à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFRN, do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) –, conforme prevê a Resolução nº 466/ 2012 do Conselho Nacional de Saúde – e estando ele aprovado, realizamos contato telefônico com todos os Centros de Referência de Assistência Social, delimitando quais. 5. No que tange a quantidade de CRAS e CREAS existentes no município de Natal/RN, salientamos a utilização à referência de dados disponíveis pela Prefeitura, por meio do Plano Municipal de Assistência Social, biênio 20142015, presente no website da SEMTAS (endereço: http://natal.rn.gov.br/semtas/), sendo este o único documento de caráter público o qual a pesquisadora teve acesso durante a realização da pesquisa. Considerando, entretanto, o período em que este Plano foi elaborado, identificamos a existência de divergências entre o que está estabelecido naquele documento entre outras informações verbais disponibilizadas ao longo das entrevistas, que dão conta de mais um CRAS em Natal/RN, sendo, porém (e por esses motivos), não integrante da amostra das unidades pesquisadas..

(21) 20. profissionais teriam interesse de participar da pesquisa; e, logo após, estabelecemos o contato presencial com os assistentes sociais selecionados. Para fins de análise, os dados obtidos a partir das entrevistas foram apreciados e articulados à fundamentação teórica realizada desde a sua fase preliminar, estabelecendo sucessivos aprofundamentos entre a base teórica e os resultados encontrados, através da descoberta do que estaria por trás dos conteúdos manifestos (GOMES, 2001). Nesse seguimento, a análise definida como sendo de Conteúdo pretendeu atrelar ao objeto estudado os fenômenos sociais peculiares a ele, desdobrando-se entre as etapas de pré-análise, exploração/codificação do material e tratamento/interpretação dos resultados obtidos (MINAYO, 1992). De acordo com a autora, essas etapas compreendem desde a leitura flutuante das informações – quando vamos formular e reformular pressupostos – até a elaboração de indicadores que categorizarão e fundamentarão a interpretação final. Tudo isso, previsto através da exaustividade da leitura do material e o retorno aos questionamentos iniciais. Com efeito, todas as informações obtidas durante as entrevistas possuíam o caráter confidencial, utilizadas somente com propósito científico, em que, neste trabalho, a menção aos assistentes sociais entrevistados deu-se pela utilização de pseudônimos, com o objetivo de ocultar qualquer tipo de informação pessoal pertinente aos sujeitos de pesquisa. Sendo 08 assistentes sociais entrevistados, os remetemos aos nomes de mulheres brasileiras que marcaram a história da luta pelos direitos no país, como uma forma de homenagear aquelas que fizeram a diferença em seu tempo6. Como não poderia ser diferente aos demais processos e construções humanas, a dinâmica de elaboração de um trabalho dissertativo também exigiram amadurecimento e paciência para lidar com os imprevistos pessoais e profissionais que surgiram no decorrer do trajeto. A contar pelas situações que claramente não estavam delimitadas no nosso cronograma de pesquisa, estão as circunstâncias que acabaram impactando, em alguma medida, o andamento natural das entrevistas e a elaboração final do texto da dissertação, entre eles, o próprio movimento de greve ocorrido no município – cujas motivações são totalmente justificáveis – além da não realização da entrevista com a Secretária de Trabalho e Assistência Social do município de Natal/RN, planejada no decorrer da pesquisa, a fim de trazer o ponto de. 6. Celina Guimarães; Maria da Penha; Chiquinha Gonzaga; Zilda Arns; Nísia Floresta; Cora Coralina; Anita Garibaldi e Tarsila do Amaral foram os pseudônimos destacados, em itálico, ao longo do nosso trabalho, a fim de identificar os assistentes sociais entrevistados sem comprometer a confidencialidade dos seus depoimentos..

(22) 21. vista da gestão para a nossa análise, mas que acabou não acontecendo, devido à dificuldade de acesso à gestora, determinada pela sua equipe de assessoria. Posto que, reconhecemos a flexibilidade no desenho metodológico das pesquisas científicas, nas quais os objetos de estudo podem ser constantemente revisitados, considerando as contradições que atravessam a sociedade, alinhando-se, às condições para a realização da pesquisa, prevalecendo a apreensão dos elementos produzidos pelos sujeitos, naquele período estudado. Conforme afirmamos anteriormente, trata-se aqui de uma condição da pesquisa qualitativa, em que “a qualidade designa a parte essencial das coisas, aquilo que lhe seria mais importante e determinante” (DEMO, 1998, p. 93) e que deve ser incorporada ao critério do real, “onde o próprio dinamismo da vida individual e coletiva, com toda a riqueza de significados dela transbordantes é mais rica do que qualquer teoria, qualquer pensamento ou qualquer discurso que possamos elaborar sobre ela (MINAYO, 1994, p. 15). Com base nesta compreensão, os resultados do nosso trabalho estão estruturados em 03 capítulos; que, logo após esta introdução, apresentarão o debate acerca das condições de trabalho dos assistentes sociais; na política de assistência social, do município de Natal/RN; trazendo a centralidade ontológica da categoria trabalho na vida do ser social, as transformações ocorridas no mundo do trabalho e no Estado, suas implicações para a classe trabalhadora e as políticas sociais, e seguindo a prerrogativa de que é a partir da história que os fenômenos emergentes são devidamente apreendidos. No primeiro capítulo, abordaremos então, a configuração da política socioassistencial no Brasil, ressaltando particularidades do país e estabelecendo um paralelo entre a aspectos que envolvem o trabalho, sua essência emancipatória e os fatores que o vinculam ao Modo de Produção Capitalista, comprometendo sua organização e gestão também no setor público, onde o Estado, historicamente, tem se delineado a partir dos interesses do capital. No segundo capítulo, daremos continuidade à análise sobre as condições de trabalho dos assistentes sociais inseridos nos CRAS e CREAS de Natal/RN, salientando elementos objetivos e subjetivos relacionados à infraestrutura técnica disponibilizada nos Centros de Referência e ao caráter firmando nas relações entre o órgão gestor da política de assistência social e os trabalhadores da SEMTAS, trazendo à tona questões pertinentes à saúde laboral. E, por fim, o terceiro e último capítulo, segue a discussão sobre as estratégias encontradas pelos trabalhadores e pela própria categoria profissional formada pelos assistentes sociais, no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e de toda a sociedade, em prol da ampliação dos direitos sociais e da emancipação dos sujeitos, pautando temas emergentes e necessários, que endossem as reivindicações e a luta geral da classe trabalhadora..

(23) 22. 2. A CONFIGURAÇÃO DO TRABALHO NA POLÍTICA SOCIOASSISTENCIAL BRASILEIRA. Sabemos que ao se tratar do Trabalho e da configuração da política socioassistencial no Brasil, estamos vinculados ao Modo de Produção Capitalista (MPC), cujo objetivo central, assim como em todo o globo, é a valorização do capital em detrimento ao desenvolvimento das capacidades humanas. Por essa razão, não faremos o debate proposto neste capítulo sem considerar as consequências que a relação entre o capital e o trabalho tem acarretado para o trabalhador, de quem o principal meio de sobrevivência é a venda de sua força laborativa. Nessa perspectiva, é impossível analisar a configuração da política de assistência social no contexto em que estão situados os direitos sociais, na atualidade, sem que se aprecie os impactos do modo de produção também para os diversos aspectos que envolvem o trabalho, neste campo. Propomos, então, incialmente, uma discussão que retoma as questões centrais sobre a natureza do trabalho enquanto práxis humana, em contraponto a forma que este adquire no capitalismo, promovendo, juntamente, uma análise que perpassa o Serviço Social e a sua inscrição na reprodução do capital. Sob este horizonte, o debate que envolve a efetivação da política socioassistencial no Brasil e no mundo, segue a tendência contraditória do sistema capitalista, uma vez que para que se mantenha, o sistema do capital necessita se apropriar privadamente da força do trabalho coletivo, sendo a implementação de medidas de proteção social, uma de suas respostas dada aos efeitos que acarreta à classe trabalhadora. Esta é uma tendência sobre a qual nos apoiamos ao longo do segundo item deste capítulo, destacando também fatores comuns e particulares do percurso da política de assistência social implantada no país e a relação que estabelece com o Estado. Por conseguinte, o nosso primeiro capítulo tem como mais um de seus objetivos trazer à tona a reflexão que envolve a gestão do trabalho na política socioassistencial brasileira, destacando-a como um dos aspectos do modelo de gestão do Estado, inaugurado pela Constituição de 1988. Além de ter sido este, um conteúdo em evidência no decorrer das entrevistas com os assistentes sociais, acreditamos que neste primeiro momento, o debate sobre a gestão do trabalho reclama uma atenção e um enfrentamento necessário acerca das conquistas legais atribuídas aos trabalhadores da política de assistência social e a efetiva materialização desses direitos no cotidiano do trabalho..

(24) 23. 2.1 O TRABALHO E O LUGAR QUE OCUPA NO DESENVOLVIMENTO HUMANO: APONTAMENTOS PARA O SERVIÇO SOCIAL Analisar a configuração de uma política de direitos sociais na cena contemporânea implica em uma tarefa envolta por desafios. Isso porque requer a apreciação de aspectos pertinentes não apenas ao âmbito de tal política, como é o caso da assistência social, mas também da forma como tem sido gerenciado o mundo do trabalho no Modo de Produção Capitalista (MPC). Tal análise apresenta particularidades no Brasil podendo também estar associada a profissão do Serviço Social e as consequências para o seu fazer profissional. Desta feita, a figura do assistente social enquanto trabalhador da política de assistência social no município de Natal/RN, tem destaque para a nossa análise, nos auxiliando na reflexão sobre como as condições de produção e reprodução na esfera trabalho tem repercutido no exercício profissional e nas diferentes áreas da vida social, ratificando a perspectiva marxiana de que o trabalho é o ponto de partida e a categoria ontológica central no Mundo dos Homens7. Sem a pretensão de esgotar aqui os estudos marxistas sobre a categoria trabalho, consideramos esta uma questão importante para o estudo preliminar, que objetiva conhecer a configuração das condições de trabalho de uma dada categoria profissional inserida em uma política social. Se são os assistentes sociais, trabalhadores que também necessitam vender a sua força de trabalho e lutar pela manutenção dos seus meios de vida e pelos meios de efetivar as suas atividades (MARX, 2004) é sobre o chão teórico desta profissão e da política de assistência social no Brasil que vamos tratar da concepção de trabalho e do seu significado na vida dos homens e nas relações capitalistas. Ao tratar do ser humano, ser social, produto de um longo caminho evolutivo, recorremos às contribuições de Lukács que, a partir da teoria social crítica marxista, enfatiza a centralidade ontológica do trabalho na vida dos homens, capaz de atribuir a eles uma dupla transformação, pois ao mesmo tempo em que o ser humano trabalha, ele também é transformado pelo seu trabalho, atuando sobre a natureza exterior, modificando-a e também modificando a si próprio (LUKÁCS, 2012).. 7. Fazemos referência neste momento a obra do autor Sérgio Lessa: Mundo dos Homens: Trabalho e ser social (LESSA, 2012), em que sob a base de concepções lukácsianas, a categoria Trabalho é analisada enquanto papel fundante no Mundo dos Homens, subsidiando a compreensão da tese de Lukács acerca da centralidade ontológica do Trabalho para o desenvolvimento do ser social. Nesses termos, com base em Lukács (2012), define-se o ser social por meio de categorias ontológica-sociais, isto é, sem as quais não é possível apreender o seu modo de ser..

(25) 24. A partir dessa simbiose, entendemos a natureza como uma condição inerente à sociedade, composta por um conjunto de seres inorgânicos e orgânicos8, dos quais o homem faz parte, sendo ela quem proporciona a manutenção e a sobrevivência aos seus membros, através de sua transformação (NETTO; BRAZ, 2010). Segundo os autores, a natureza é capaz, portanto, de se modificar ao longo da história, a partir dos seus elementos e das formas empregadas para essa transformação, através de mútuas interações entre os seres e os seus “esforços voltados para extrair dela (a natureza) os meios de manter e reproduzir a própria vida” (NETTO; BRAZ, 2010, p. 36). Netto e Braz (2010) assinalam os escritos marxistas ao discutir os fundamentos da gênese do ser social, como único ser capaz de realizar essa interlocução de forma intencional e consciente, ao contrário do que acontece com as demais relações naturais. Essas são algumas das características atribuídas à herança biológica do homem, que se posiciona na centralidade da vida social, por meio do trabalho, como ser indivíduo qualificado a transformar a natureza e se autotransformar. Conforme o próprio Marx (1987) apontou no Livro I de O Capital, em uma citação largamente conhecida, dizendo que “o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade” (p. 202), bem como Lukács (2012) que reconhece as atividades teologicamente orientadas9 como a relação válida e exclusiva do ser social, é mediante o trabalho, ou seja, da interação do homem com o seu meio, que o ser social se distingue de outros seres vivos e protagoniza mudanças e transformações sociais. Compreendemos assim, que a natureza, sem a qual não pode existir a sociedade, não é composta por um agregado de homens e mulheres e nem de algo que paira acima deles, mas do surgimento e da interação desses seres, capazes de idealizar previamente, de se comunicar, de escolher entre alternativas concretas e de se socializar, produto da síntese de variadas determinações e de um “salto” ontológico decorrente de milhares de anos.. 8. Para Lukács, em sua premissa acerca do Trabalho enquanto categoria central do ser social, é realizada a distinção entre os seres inorgânicos, incapazes de se reproduzirem na natureza, e o ser social (biológico e orgânico), cuja a manutenção da sua própria existência preserva a característica interna de reprodução e interação contínua com o ambiente. 9 “A Teleologia para Lukács se traduz em categoria social e diz respeito a processos sociais do ser social que, diferentemente dos processos puramente causais, não estão no âmbito da necessidade natural, mas ocorrem por força de uma decisão da consciência” (DUAYER; ESCURRA; SIQUEIRA, 2013, p. 21). Para os autores, nós, humanos, possuímos, então, atributos de seres racionais, agindo por meio de intencionalidades. Somos capazes de pôr finalidades às ações, porém, em conformidade com a realidade e com a nossa figuração de mundo..

(26) 25. A essência deste “salto” atribuído ao desenvolvimento do ser social é observada com maior afinco por Lukács, que reitera a diferença entre esse novo ser, até então inexistente, e todas as outras formas de vida orgânica, com base na existência do “pôr teleológico” nas suas interações. Vale salientar que para o autor, esse “salto” não anula a processualidade gradativa dada a esse desenvolvimento que, na realidade, é bastante longo e com inúmeras formas de transição (LUKÁCS, 2012). Dessa maneira, ao se tratar do surgimento do ser social reiteramos o trabalho enquanto mediação necessária entre o homem e a natureza em um movimento de produção e autoprodução com o ato do pôr teleológico, que ao longo [...] [...] do processo histórico do seu desdobramento [do Trabalho], implica na importantíssima transformação desse ser-em-si em um ser-para-si e, portanto, a superação tendencial das formas e dos conteúdos de ser meramente naturais em formas e conteúdos sociais cada vez mais puros, mais próprios (LUKÁCS, 2012, p. 200, grifo nosso).. Ainda que o homem esteja inserido em uma dinâmica social, cujo trabalho adquire ares hostis em meio ao confronto entre capitalistas e trabalhadores, entre o proprietário dos meios de produção10 e aqueles que se veem obrigados a vender a sua força de trabalho para poder existir (MARX; ENGELS, 1998), a análise feita até aqui sobre a categoria Trabalho é vista para além do trabalho assalariado mercadologicamente; mas como uma atividade de caráter práticosocial, ou seja, uma práxis – prática humana consciente e capaz de recriar necessidades e capacidades materiais antes inexistentes e que transforma a natureza ampliando os sentidos humanos e instaurando em si e no trabalho realizado, atributos e potencialidades especificamente humanas. O trabalho concreto, conforme denominou Marx (1987) é, nesse sentido, uma atividade de transformação, através da qual o homem constrói a si mesmo como indivíduo na medida em que constrói a totalidade na qual ele está inserido. O valor de uso que produz não pode defrontar-se como mercadoria neste caso, já que satisfaz uma necessidade humana específica e é determinado pela sua serventia. Para o autor, este trabalho “cuja utilidade representa-se, assim, no valor de uso de seu produto ou no fato de seu produto ser um valor de uso, chamamos, em resumo, de trabalho útil” (MARX, 1987, p. 171).. 10. No modo de produção capitalista, os meios de produção adquirem caráter privado, pois tratam-se de tudo aquilo que se vale o homem para trabalhar e do qual ele normalmente não tem acesso, como instrumentos, ferramentas, instalações e etc.; bem como a terra, que é um meio universal de trabalho. Por essa razão, este configura-se como um sistema produtivo desigual, onde o conjunto das forças produtivas são coletivas, no entanto, a apropriação dos meios de trabalho é privada..

(27) 26. Este trabalho, gerador de valores de uso, e como condição da existência do homem independentemente de todas as formas sociais é, desta forma, “uma eterna necessidade natural”, um ininterrupto “metabolismo entre homem e natureza” e não pode ser confundido com a lógica alienante do trabalho na ordem do capital. Contudo, em uma sociedade onde os resultados do trabalho e do dispêndio de energia humana assumem, genericamente, a forma de mercadoria, não é o trabalho concreto e útil que adquire destaque, mas o trabalho abstrato na condição de valor de troca no interior da engrenagem dos negócios privados e de valorização do capital. Nesse último, o trabalho encontra-se no centro das relações capitalistas, que alteram em grande medida o seu sentido histórico original. Para Lessa (2012), com base em Marx, há uma clara definição dada ao trabalho abstrato, diferenciando-se sobremaneira do trabalho qualitativo, útil e necessário para o desenvolvimento humano. Sob as condições do mercado de trabalho capitalista, aquele adquire a característica de atividade assalariada e a forma social responsável por transformar a força de trabalho em mercadoria. Sob essa perspectiva é pertinente pontuar o debate em torno da distinção entre as formas de trabalho concreto e abstrato, assim como sobre os valores atribuídos aos seus produtos, para que não incorramos no engano de toma-los como sinônimos, nem tão pouco acreditar no fim da existência do trabalho como elemento emancipador. Antunes (1995; 1999; 2002; 2005) defende vastamente a tese de que mesmo inscrito em um modelo de produção alienante11, onde o mundo do trabalho passou a ser reconhecido por atividades compulsórias e externas às necessidades do homem, a concepção de trabalho concreto, indispensável à produção e reprodução da vida humana, não pode ser perdida de vista, considerando o caráter ineliminável do trabalho vivo para a produção de mercadorias. Em seus termos, ainda que o capital consiga reduzir muito o trabalho vivo – aquele que produz valores de uso e produtos úteis – ele não pode subtrair completamente o ser humano do seu processo de criação, mesmo que “incremente sem limites o trabalho morto corporificado no maquinário técnico científico, aumentando a produtividade e as formas de extração de sobretrabalho (mais-valia)12 em tempo cada vez mais reduzido” (ANTUNES, 2005, p. 27). 11. Ricardo Antunes discorre sobre a alienação como expressão de uma relação social fundada na propriedade privada e no dinheiro, apresentando-se enquanto abstração da natureza específica do ser social que “atua como homem que se perdeu a si mesmo, desumanizado”. Segundo o autor, esse processo de alienação do trabalho (que Marx também denomina como estranhamento) não se efetiva apenas no resultado — a perda do objeto —, mas abrange também o próprio ato de produção, que é o efeito da atividade produtiva já alienada” (ANTUNES, 2005, p. 70). 12 Ao analisar a obtenção de mais-valia pelo capitalista, inicialmente, Marx (1987) destaca a compra da força de trabalho como uma mercadoria, tomando como base para essa compra, o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de bens materiais que permitirão a manutenção e o desenvolvimento do seu negócio. No entanto,.

(28) 27. O trabalho, portanto, não pode perder o sentido, tornando-se mera virtualidade diante das flutuações e metamorfoses postas pelo mercado de trabalho capitalista. Ao contrário, a compressão dialética entre as formas de trabalho descritas até aqui; precisam estar claras, para que não depreciemos o seu significado enquanto motriz emancipatória do homem, e nem sejamos condescendentes com os tipos de organizações trabalhistas que mais exploram do que realizam o ser social. Ou seja, “podemos dizer que, se por um lado, o trabalho é uma atividade central na história humana, em seu processo de sociabilidade, posteriormente, com o advento do capitalismo, deu-se uma transformação essencial que o alterou e o complexificou” (ANTUNES, 2005, p. 70), porém não o extinguiu. Essa complexidade apresenta-se pela agudização de algumas tendências atribuídas ao mercado de trabalho, como o desemprego ampliado, a precarização exacerbada, o rebaixamento salarial, a intensificação das jornadas de trabalho, além da flexibilidade e informalidade nos contratos. Junto a isto e no que tange o objeto deste estudo, qual seja: as condições de trabalho dos assistentes sociais inseridos na política de assistência social, no município de Natal/RN, destacamos a reestruturação e a “mercadorização” também dos serviços públicos – sobretudo, a partir da década de 1990 –, como saúde, educação, telecomunicações, previdência e assistência social. Neste cenário, não apenas as políticas públicas são atingidas, mas também os seus trabalhadores, que por sua vez, acabam submetidos a um expressivo índice de subordinação, precarização e flexibilização do trabalho e da legislação trabalhista já conquistada. Neste âmbito, compreendemos a dialética, dimensão presente na categoria trabalho, apenas possível de ser examinada na atualidade, se considerarmos as condições sócio-históricas determinadas pela produção e reprodução do capital, que fatalmente vem desfavorecendo as possibilidades do desenvolvimento do trabalho enquanto práxis humana, capaz de ampliar as suas capacidades. A este quadro, soma-se a figura do assistente social, sujeito desta pesquisa e trabalhador assalariado, inscrito na divisão sociotécnica do trabalho, em um contato cotidiano com as. diferente das demais mercadorias de natureza morta adquiridas pelo capitalista, o trabalhador possui o caráter único de reprodução e criação de valores superiores aos quais foi contratado. O capitalista paga ao trabalhador o valor de troca pela sua força de trabalho, ou seja, ele paga o tempo de trabalho socialmente necessário para que este se realize e não o valor criado pelo trabalho que, por conseguinte, é bem maior que o salário. É desse valor não pago, que se designa a mais-valia..

(29) 28. políticas sociais, em particular, a assistência social, alvo de reformas e orientações neoliberais13, caracterizadas, principalmente, pelas tendências privatizantes e pelas tensões inerentes ao Modo de Produção Capitalista. É importante salientar a esta altura da discussão, o nosso posicionamento favorável a perspectiva de que as atividades desenvolvidas pelos assistentes sociais devem ser consideradas trabalho, pois ainda que este seja um tema que já levantou controvérsias14 no interior da categoria profissional, corroboramos com Iamamoto (2000), ao reconhecer a contribuição do trabalho do assistente social para a dinâmica desta sociedade, enquanto trabalho coletivo, centro do segredo da criação da riqueza social no capitalismo. Se por um lado, autores como Lessa (2006) com base em sua contribuição para o aprimoramento do debate sobre a ontologia de Lukács, defendem o ponto de vista de que o Serviço Social não é trabalho, uma vez que “não realiza a transformação da natureza nos bens materiais necessários à reprodução social” (p. 18), salientamos a importância das chamadas subcategorias do trabalho abstrato para a melhor compreensão deste debate, quais sejam: o trabalho produtivo e improdutivo e a relação que estabelecem no sistema capitalista. Ao tratar dessas subcategorias, Iamamoto (2000) com base em Marx (1987) distingue, basicamente, o trabalho abstrato produtivo do improdutivo com o exemplo do mestre-escola, que ensinava as crianças a ler e a escrever, cujo trabalho só seria produtivo; “se ele não apenas trabalhasse a cabeça das crianças, mas extenuasse a si mesmo para enriquecer o empresário” (MARX, 1987 apud IAMAMOTO, 2015, p. 68); do mesmo modo, a cantora, que enquanto canta como pássaro é trabalhadora improdutiva, porém, na medida em que é contratada por um empresário que a faz cantar para ganhar dinheiro, torna-se uma trabalhadora produtiva, pois produz diretamente capital (MARX, 1987 apud IAMAMOTO, 2015). 13. Conforme será assinalado mais adiante, começa-se a ser desenhada no Brasil, sobretudo a partir da década de 1990, a reestruturação produtiva e o projeto neoliberal, atualizando os valores liberais sob o forte impulso às propostas de desregulamentação e flexibilização do trabalho, além da intensificação da desmontagem dos direitos trabalhistas (ANTUNES, 1999), através de influências e desdobramentos políticos e econômicos do sistema capitalista em todo o globo. 14 O debate acerca do Serviço Social enquanto trabalho gerou inúmeras discussões no interior da categoria, principalmente, após incorporado no currículo mínimo da profissão, em 1996, a percepção profissional do Serviço Social enquanto especialização inscrita na divisão sóciotécnica do trabalho. Tal polêmica, deu-se em torno, sobretudo, dos estudos do professor Sergio Lessa, principal autor a endossar a perspectiva de que o Serviço Social não poderia ser considerado Trabalho por não cumprir a mediação entre os homens e o seu meio. Embora reconheçamos as pertinentes reflexões e contribuições do autor não só para a compressão da categoria Trabalho, através de Lukács, como também para fomento do eixo de debate na produção acadêmico-profissional, nos posicionamos contrários a esse ponto de vista, com o apoio das análises da professora Marilda Villela Iamamoto, através das quais desenvolvemos nossa exposição ao longo deste trabalho..

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