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3. AS CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NOS CRAS E CREAS

3.2 ADOECIMENTO E ASSÉDIO MORAL: AS CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE DO

Percebemos que as condições de trabalho dos assistentes sociais, na esfera pública do Estado, no campo da política de assistência social, têm obedecido as transformações históricas pelas quais passou e passa a sociedade capitalista, imprimindo na natureza física e infraestrutural dos aparelhos institucionais, características particulares. Nesse contexto, a precarização das condições materiais de trabalho, inerente a própria essência do capital, fundada na apropriação da riqueza socialmente produzida e na propriedade privada dos meios de produção (MARX, 1987) acompanha outras formas de depreciação, cujos rebatimentos chegam à saúde do trabalhador, através de circunstâncias que causam o adoecimento.

Com base nessa perspectiva, nosso debate se insere nos diversos aspectos da divisão sóciotécnica do trabalho na sociedade capitalista, constatando as consequências para a saúde do trabalhador, como uma das expressões da desigualdade, do autoritarismo e da falta de autonomia profissional na relação entre empregado e empregador, onde a privação de poder e a desresponsabilização dos órgãos públicos com a provisão dos direitos sociais, recaem sobre os serviços oferecidos aos usuários e sobre os trabalhadores executores dessas políticas, submetendo-os aos mais variados agravos à saúde.

Nossa discussão, ratifica, a partir da concepção de saúde laboral integrada ao modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, o cumprimento da saúde e da segurança do trabalhador enquanto direito humano voltado à qualidade de vida e a integridade física e mental (BRASIL, 2011c) envolvendo os aspectos econômicos, culturais e sociais da vida dos indivíduos, sendo as relações e as condições de trabalho proporcionadas nos espaços sócio-ocupacionais mais um dos fatores responsáveis pelo alcance desta prerrogativa.

Sabemos que essa é uma temática contextualizada pelas mudanças na organização e na gestão do trabalho, em que historicamente a saúde do trabalhador tem sido negligenciada pelas relações de poder na sociedade capitalista, observando-se, em meio aos avanços nos termos de conceituação para este campo, diferentes enfoques, firmados em particularidades complexas e contraditórias (WUNSCH, 2004). A autora desenvolve a discussão sobre a saúde do trabalhador diante das transformações sociais e econômicas ocorridas no Mundo, associando este conteúdo às três Revoluções Industrias, quando desde meados do século XVIII, na Inglaterra, relacionava-se a saúde dos trabalhadores ao provimento de serviços médicos e como produto de suas condutas individualizadas no ambiente laboral.

Para Wunsch (2004), é possível compreender as transformações sociais e econômicas sob as três revoluções industriais capitalistas, partindo, retrospectivamente, do marco histórico da Primeira Revolução Industrial – iniciada no século XVIII –, passando pelas duas subsequentes, ocorridas nos séculos passados. A Segunda que teve como base organizacional uma nova forma de gestão do trabalho, protagonizada pelo paradigma fordista/taylorista e a Terceira que se destacou pelos avanços no setor automobilístico, ampliando-se para o ramo eletroeletrônico, onde assentou-se o sistema organizacional toyotista.

Na ocasião, portanto, da Primeira Revolução, a saúde do trabalhador obedecia, basicamente, a uma lógica endógena, resultado do comportamento do trabalhador no seu local de trabalho, onde a intervenção médica realizava-se apenas sob pena de torna-se inviável a reprodução do sistema. Nesse período, a base concreta da Revolução Industrial foi a máquina

a vapor e de fiar, sendo a ocupação da mão de obra, fundamentalmente industrial, verificada em atividades insalubres, dispendiosas e de baixa qualificação (WUNSCH, 2004).

Mendes e Dias (1991) também se dedicam a construção conceitual do que atualmente conhecemos como objeto de estudo e especialidade médica voltada à “Saúde do Trabalhador”52, remetendo-a, anteriormente a uma prática fundamentalmente conservadora, na “tentativa de adaptar os trabalhadores às suas condições de trabalho, através de atividades educativas” (MENDES; DIAS, 1991, p. 342). Sob essa perspectiva, atribuía-se aos médicos do trabalho a tarefa de estabelecer o mais elevado nível possível de bem-estar físico profissional, com vistas a manutenção da esfera produtiva, a partir de visões eminentemente biológicas e ações voltadas para o tratamento e a cura das doenças (WUNSCH, 2004)

Com efeito, este é um fragmento também observado durante a era do binômio fordista/taylorista, no qual a produção em massa, por meio das linhas rígidas de montagem, do controle do tempo e de produção em série (HARVEY, 2000) ocasionavam uma maior probabilidade do aparecimento de doenças e de acidentes relacionados ao trabalho, como síntese das práticas executadas de maneira mecânica, monótona e repetitiva, ligadas à fadiga e ao desgaste físico e mental adquiridos em razão das extenuantes jornadas de trabalho (SOUZA, 2015).

Logo, o destaque dado à Medicina do Trabalho, naquele período, era voltado para o apaziguamento das tensões ocasionadas pelas atividades laborativas, em que “o custo provocado pela perda de vidas, abruptamente por acidentes do trabalho, ou mais insidiosamente por doenças do trabalho” (MENDES; DIAS, 1991, p. 343) refletiam diretamente na produtividade. Dessa maneira, a Medicina do Trabalho adotava um modelo individualizado e patronal, delegando às empresas a tutela sobre a saúde dos trabalhadores, por meio da qual a relação entre saúde e trabalho operava-se como um mecanismo produtor e reprodutor da hegemonia dominante.

Tal ponto de vista assumia um caráter instrumental evidenciando traços autoritários nas relações e nas condições de trabalho, apresentando apenas algum avanço após o contexto econômico vivenciado com o fim da II Guerra Mundial (em 1945) e das manifestações que questionavam os padrões e os conceitos presentes na sociedade moderna. O trabalhador progressivamente, no aglomerado das grandes industrias, reforçou a sua organização sindical e passou a lutar por garantias sociais, conquistando melhores salários, previdência social e

52 Quando nos referirmos à “Saúde do Trabalhador” enquanto campo teórico e político-ideológico, utilizaremos a

menores jornadas de trabalho, o que pode ser considerado, na Europa, fragmentos do Estado de Bem-Estar Social53 que surgira na época (WUNSCH, 2004).

Foi especialmente, em meados da década de 1960, com a intensificação do trabalho gerada pelo fordismo/taylorismo, que a insalubridade nos locais de trabalho, a alienação do trabalhador, bem como as extensas jornadas laborais e a existência de um exército industrial de reserva54 passaram a ser objeto de discussão, sinalizando as situações de saúde e doença também como produtos da organização e das condições de trabalho na sociedade capitalista, podendo causar sofrimento físico e psíquico aos trabalhadores, configurando-se, portanto, como tema de importância central (BARRETO; HELOANI, 2013).

Destarte, como uma espécie de evolução da Medicina do Trabalho, reconhecendo também as condições ambientais como determinantes no processo de adoecimento, “a Saúde Ocupacional surge, sobretudo, dentro das grandes empresas, com a organização de equipes multiprofissionais, e a ênfase na higiene ‘industrial’, refletindo a origem histórica dos serviços médicos e o lugar de destaque nos países industrializados” (MENDES; DIAS, 1991, p. 343).

Conforme sinalizamos anteriormente, até que se apontasse diretrizes mais amplas direcionadas a concepção de “Saúde do Trabalhador” como um campo de discussão no espaço da saúde pública, ainda no âmbito da Segunda Revolução Industrial (WUNSCH, 2004), a Medicina do Trabalho é incorporada pela Saúde Ocupacional de forma racional e científica, aparentemente inquestionável, traduzindo-se na atuação e no instrumental do médico, a intervenção e o controle no ambiente de trabalho e na vida dos trabalhadores (MENDES; DIAS, 1991).

Vimos que o Brasil, diferentemente dos países de capitalismo central, experimenta o desenvolvimento industrial de maneira tardia (MANDEL, 1982), subalterno à ordem imperialista, preservando em sua gênese histórica, traços arcaicos e modernos na maneira de estruturar e organizar a configuração do trabalho no país. Isto acontece não apenas na conformação das políticas sociais, como é o caso da assistência social – já que perspectiva dos diretos sociais acontece aqui, dissociada ao regime democrático (BEHRING; BOSCHETTI, 2007) – como também nas bases teórico-metodológicas que darão sustentação ao debate no

53Conforme abordamos no item que trata sobre a política de assistência social e a sua relação com o Estado, a denominação em destaque é um conceito elaborado por cada nação para designar as formas de intervenção estatal na área social (BOSCHETTI, 2016). Contudo, com base nas análises de Boschetti (2016), este não é um termo utilizado por nós, ao longo da elaboração deste trabalho, tendo em vista as generalizações e a incorporação desta terminologia sem o devido cuidado e explicitação a depender da conjuntura social ao qual se relaciona.

54 Para Marx (1987), a própria dinâmica do capitalismo corrobora para a criação de uma superpopulação relativa

flutuante ou exército industrial de reserva, funcionando como uma massa de trabalhadores desempregados que além de regular o nível geral dos salários, nivelando-os, de preferência, para baixo, coloca à disposição do capital a mão de obra suplementar necessária da qual ele carece.

campo da saúde do trabalhador, cujas primeiras menções datam ao fim da década de 1970, como marca das mudanças estabelecidas na legislação trabalhista.

Produto da concepção de medicina preventiva, reproduzidas nas instituições de ensino e de pesquisa, em especial em alguns departamentos e escolas médicas no Brasil (MENDES; DIAS, 1991), emergem no país, as bases para enunciação da Saúde Ocupacional sugerida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), adotando-se os termos como “prevenção”, “proteção”, “riscos” e “adaptação”, visando a intervenção na saúde dos trabalhadores (LACAZ, 2013). De acordo com Mendes e Dias (1991), reiterado por Lacaz (1993), o campo da Saúde Ocupacional manifesta-se no Brasil, assim como em outras partes do globo, como desdobramento das práticas de Medicina do Trabalho, sem, contudo, alterar o seu referencial mecanicista.

Ainda com o enfoque em uma abordagem particularizada destinada apenas para aqueles engajados no mercado formal de trabalho, desconsiderando as demandas coletivas dos trabalhadores, “as relações de saúde/doença na Saúde Ocupacional partem da ideia cartesiana do corpo como máquina, o qual se expõe a agente e fatores de risco” (LACAZ, 1993, p. 223). Esta é uma vertente estudada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, sobretudo, a partir da década de 1970, acompanhando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e buscando, assim, adequação às normas relativas à obrigatoriedade das equipes técnicas multidisciplinares nos locais de trabalho e à avaliação quantitativa de riscos ambientais, bem como a adoção de “limites de tolerância” nesses espaços (MENDES; DIAS, 1991).

Sob esse ponto de vista, a análise contemporânea acerca das consequências do trabalho para a saúde dos trabalhadores, resultam, portanto, de um intenso processo de discussões teórico-práticas na relação entre saúde e doença no trabalho, desde as concepções mais conservadoras em que homens e mulheres eram vistos como apêndices das máquinas, expondo- se aos fatores de riscos ambientais externos (SOUZA, 2015), chegando ao campo da “Saúde do Trabalhador”, na busca pela razão “sobre o adoecer e o morrer das pessoas, e dos trabalhadores em particular, através dos estudos dos processos de trabalho, de forma articulada com o conjunto de valores, crenças, ideias e representações sociais” (MENDES; DIAS, 1991, p. 347). A contar pela década de 1970, ao mesmo tempo em que o Brasil se expunha às mudanças da chamada Terceira Revolução Industrial (WUNSCH, 2004), observando-se nos processos produtivos, a reedição nos moldes da administração científica do trabalho; no campo das “ideias sobre saúde” levantavam-se críticas ao caráter ideológico presente nas propostas de medicalização e controle das instituições médicas, introduzindo-se, a partir da determinação social existente no processo saúde x doença, a análise da “Saúde do Trabalhador”.

Com base na prevenção e na proteção contra os agravos à saúde (fadiga, desgaste, acidentes e doenças relacionadas ao trabalho), originários da sociabilidade capitalista (LACAZ, 2013), esta é uma perspectiva emergente também em outros países da América Latina, como Chile, México e Argentina, resultante de um processo de industrialização tardia, onde a grande heterogeneidade dos novos arranjos trabalhistas introduziram reivindicações da classe operária que se formara. Nesse contexto, além dos reclames pela regulamentação da carga horária e dos salários, sincronicamente, defendiam-se a saúde e a integridade física do trabalhador, buscando a melhoria das condições em que se trabalhava.

Logo, o mais recente complexo de reestruturação produtiva de que trata as inovações na produção capitalista, além de designar mudanças nos princípios organizacionais do trabalho, através da racionalização e da introdução à lógica da eficácia e da flexibilidade (ALVES, 2007), no âmbito da prática médica e da gestão da saúde do trabalhador, interveio a implementação de um renovado olhar sobre as questões de saúde do trabalhador, síntese do movimento e da organização da sociedade em prol de transformações também nas políticas públicas brasileiras. Junto a interlocução da saúde com a área das Ciências Sociais, que sobretudo, a partir da década de 1980, submete-se a análise de seus objetos de estudos à totalidade econômica, política e social (FREIRE, 2006), setores do movimento sindical, como metalúrgicos, químicos, petroquímicos e bancários, passam a exigir que os serviços de saúde pública se envolvam com as questões relacionadas ao trabalho. Representados, por exemplo, pelo Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (DIESAT) e pelo Instituto Nacional de Saúde no Trabalho (INST), que na época surgiram como uma assessoria sindical feita por profissionais associado à luta dos trabalhadores, intensificaram-se os debates sobre os ambientes e as condições de trabalho, levantando os riscos e constatando os danos para a saúde do trabalhador a partir do saber operário num processo contínuo de socialização da informação (MENDES; DIAS, 1991).

A trajetória da política de Saúde no país é marcada, desta forma, por um contexto que se desdobrou em uma série de Conferências Nacionais, reivindicações sindicais e a inclusão de pautas específicas nas negociações coletivas, onde o debate sobre saúde do trabalhador adquire destaque decisivo, principalmente, com a mudança de enfoque trazida pela Constituição Federal de 1988. Momentos importantes como a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, com proposta de criação do Sistema Único de Saúde (SUS), e a efervescência do processo de Reforma Sanitária no Brasil, na mesma época, consolidaria as ações de saúde, alçada à condição de direito social e de cidadania, englobando, enquanto tendência mundial, a saúde daqueles que trabalham (LACAZ, 2013).

Conforme o autor, a pauta da Reforma Sanitária acontece, no Brasil, simultânea a luta política pela implementação do SUS e pela busca do reconhecimento das necessidades da população na área da saúde, especialmente dos grupos menos favorecidos, em prol da construção de uma contra hegemonia. Através da implantação das ações de vigilância em saúde e da Rede Nacional de Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (RENAST)55, a Previdência Social e o Ministério do Trabalho passam a considerar mudanças em seus antigos modelos de explicação do processo saúde x doença no trabalho e nas fiscalizações dos espaços sócio-ocupacionais, atuando em conjunto com os sindicatos dos trabalhadores.

Pela primeira vez a denominação “Saúde do Trabalhador” associava-se a uma política pública, incorporada pela Lei Orgânica de Saúde nº 8.080, aprovada em 19 de setembro de 1990, capaz de dar respostas às necessidades de saúde da população, e em especial dos trabalhadores. Conforme Lacaz (2013), a partir de então, o Estado passa a ser um espaço de luta política pelos direitos dos dominados, na perspectiva do planejamento e da execução de políticas públicas que atendam às demandas sociais dos trabalhadores organizados (LACAZ, 2013).

Na busca pela implementação de propostas de saúde pública que permitissem, então, a gestão e o controle social compartilhado, o SUS, por meio do seu inédito aparelho legal, incluiria no campo das intervenções em saúde, as particularidades dos trabalhadores, inclusive, do setor público, priorizando as atividades de prevenção e serviços especializados em segurança e saúde do trabalhador, objetivando superar as práticas fiscalizatórias e hierarquizadas.

Entende-se, a partir da Lei nº 8.080, a “Saúde do Trabalhador”, como “um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação dos trabalhadores submetidos aos riscos e aos agravos advindos das condições de trabalho” (BRASIL, 1990b, Art. 6, parágrafo 3), abrangendo princípios de participação, controle e avaliação dos programas em Saúde.

Os pressupostos do SUS englobam, dessa maneira, a percepção do trabalhador como dono de um saber e como sujeito coletivo inserido no processo produtivo, visto agora não apenas como mero consumidor de serviços de saúde, de condutas médicas e de prescrições (LACAZ, 2013), mas capaz de compreender os danos à saúde suscitados por esses processos,

55 A implementação da RENAST nos municípios e Estados deve acontecer por meio da estruturação dos Centros

de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) com a inclusão de ações de saúde do trabalhador na atenção básica, de média e de alta complexidade. Tudo isso, através do estabelecimento de linhas de cuidado e outros instrumentos que favoreçam a integralidade, a implementação das ações de promoção e a vigilância em saúde (BRASÍLIA, 2017).

destacando-se as condições de ordem material, cultural e política, que interferem no conhecimento e nas mediações das práticas sociais e das possibilidades de mudança (FREIRE, 2006).

Apoiada nos princípios e diretrizes do SUS, a concepção de saúde é ampliada, deixando de ser determinada tão somente pela ausência de casos patológicos, cuja abrangência atingia, sobretudo, aos trabalhadores incorporados ao mercado formal de trabalho (MENDES; DIAS, 1991), transformando-se em direito fundante do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis para o seu pleno exercício, bem como a sua promoção, proteção e recuperação, com acesso igualitário e universal a alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte e etc. (BRASIL, 1990b).

No que se refere ao nosso objeto de estudo, sabemos que historicamente a política de assistência social no Brasil tem sido alvo do curso da reestruturação produtiva, ocasionando a desconstrução de sua perspectiva enquanto direito e o amplo processo de precarização no campo das políticas sociais, o que particularmente, a contar pela atuação dos profissionais nesta área, deparamo-nos com a retirada do Estado também na provisão das condições de trabalho dos assistentes sociais, que cotidianamente lidam com as mais diversas expressões da questão social.

De tal forma, a exemplo da construção da política de assistência social no Brasil, a política de Saúde e os processos correspondentes a relação saúde x doença no ambiente de trabalho, também sofrem os impactos desse processo, atingindo a sua consolidação enquanto primazia do Estado e direito da sociedade, obtendo alguma evolução no que tange as necessidades coletivas da classe trabalhadora, porém balizada pelos interesses singulares do capital, ante a um paradoxo de avanços e retrocessos.

Fruto das novas exigências laborais e das cobranças elevadas ao âmbito do trabalho, são diversas as evoluções normativas legais pertinentes aos riscos à saúde do trabalhador, entretanto, na mesma medida, são muitas as manifestações de adoecimento que se destacam em razão dos novos modos de administrar e organizar o trabalho, influindo nos valores identitários do trabalhador. Nessa tela, enquanto a jornada de trabalho aumenta, os salários permanecem congelados e o trabalhador precisa conviver com o fantasma das demissões e do desemprego crescente, ele é transformado em colaborador ativo e competitivo, pronto a sacrificar-se em prol da empresa e do alcance aos índices de produtividade (BARRETO; HELOANI, 2013).

O mesmo parece ocorrer na esfera pública, onde embora saibamos, a gestão das políticas sociais e das demandas dos cidadãos sejam direitos reconhecidos constitucionalmente, sendo sua concretização responsabilidade primordial do Estado (GONÇALVES; KAUCHAKJE;

MOREIRA, 2015) os meios colocados à disposição para o alcance dos programas e projetos sociais estão subordinados ao monopólio das políticas econômicas e à ineliminável cisão entre capital e trabalho, fundada na propriedade privada dos meios de produção e na divisão hierárquica do trabalho. Nesse sentido, seja com relação à carreira e aos salários, ou com a organização das unidades de atenção, prejudicando a qualidade e a continuidade dos serviços, é certo que essas caraterísticas têm impactado a vida e a saúde dos profissionais, ocasionando adoecimento.

Sob a ótica dos assistentes sociais entrevistados e inseridos nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS e CREAS) do município de Natal/RN, a entrevista com a