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2. A CONFIGURAÇÃO DO TRABALHO NA POLÍTICA SOCIOASSISTENCIAL

2.3 O ASSISTENTE SOCIAL ENQUANTO TRABALHADOR DA SEMTAS, DO MUNICÍPIO DE

Vimos que as metamorfoses na configuração do papel do Estado e a relação que este estabelece com a sociedade é resultado do tempo histórico que vivemos, na mesma medida em que a gestão da força de trabalho também pode sofrer mudanças a depender das formas de dominação do capital e dos processos de produção. Não descartamos a essência do capitalismo, cuja finalidade é se apropriar do valor trabalho, contudo, consideramos distintas as maneiras de gerenciar esse processo, ao longo da história.

A este exemplo, temos o contexto vivenciado na era do binômio fordista/taylorista, com destaque para a primeira metade do séc. XX, quando as inovações tecnológicas e organizacionais idealizadas por Ford e Taylor, sinalizavam o corporativismo e a racionalização dos processos de trabalho presentes na regulação do tempo e do ritmo em que se executavam as atividades (HARVEY, 2000). Em contraste, após um importante momento de inflexão histórica, delineado a partir da década de 1970, novas maneiras de gerir o trabalho ganharam destaque, em decorrência de um quadro de crise no padrão econômico, político e social, da época. Desta vez, sob um viés subjetivado, as teorias de gerenciamento e de organização do trabalho passaram a subsidiar o sistema capitalista com maior diversidade nos padrões de produção e consumo.

Harvey (2000) faz alusão ao decurso da reestruturação produtiva, também conhecida como “acumulação flexível”, retratando as consequências para as formas de gestão do trabalho, que a partir de então, seguem uma tendência mundial, aumentando a mobilidade dos trabalhadores, a competição e o estreitamento das margens de lucro, fazendo com que uma grande quantidade de mão de obra excedente impusesse regimes e contratos de trabalho mais flexíveis e instáveis.

Conforme percebemos no item anterior, os rebatimentos da reestruturação produtiva para a classe trabalhadora chegam ao Brasil de maneira tardia, acompanhando a sua introdução no sistema capitalista, sobretudo, a partir dos anos 1990. Naquele momento foi possível reconhecer a ampliação dos estudos na área de gestão de trabalho, através dos quais os moldes racionais e burocratizados foram sendo reeditados por diferentes estratégias e abordagens na maneira de lidar e de reconhecer as pessoas nas organizações (CHIAVENATO, 2004).

Esta é uma análise frequentemente aplicada aos modelos empresariais, sobre os quais Chiavenato (2004) é conhecido por ter desenvolvido teorias voltadas à administração dos negócios em variadas vertentes e abordagens, diferenciando-se, basicamente, entre aquelas as associadas aos princípios clássicos – Fordista/Taylorista – e as que incorporam a ideia de gestão e de desenvolvimento de pessoas, em que os funcionários são agregados à instituição empregadora, por meio de uma interface mais humana, de monitoramento, avaliação e recompensa.

Nesse sentido, salientamos a heterogeneidade presente nos processos históricos, econômicos e sociais, também no que se refere às tendências de gestão da força de trabalho, uma vez que a essência de suas características não se esgota, necessariamente, a um período específico, nem tão pouco a natureza de uma instituição. Ao contrário, sabemos, por exemplo, que o Brasil experimentou, de maneira gradativa, nos termos da reestruturação produtiva,

evoluções na legislação das políticas sociais, na mesma medida em que sentia os impactos de uma cultura de ajuste neoliberal.

Basicamente, observa-se junto a transformação do perfil industrial e fabril, algumas conquistas no campo das políticas públicas socioassistenciais, no que tange aos avanços na perspectiva da garantia do direito, porém, atrelados ao acirramento de novas formas de exploração do trabalho, com viés progressivamente desprotegido, podendo ser agora, domiciliares, informais ou em tempo parcial, bem como as suas remunerações, cada vez mais flutuantes ou assentadas em índices de produtividade.

Quanto a responsabilização dos entes estatais, estes se destacam pelo descompromisso com as suas funções, verificando-se também, no interior da administração pública, a expansão do trabalho precarizado, parcial, temporário e terceirizado (ANTUNES; ALVES, 2004). Este é um traço marcante na gestão do Estado brasileiro, que acompanhado por orientações mercadológicas, tem realizado, no decorrer de sua história, ações híbridas, decorrentes de aspectos técnico-burocráticos e democrático-participativos (GONÇALVES; KAUCHAKJE; MOREIRA, 2015).

No que compete a discussão sobre o nosso objeto de estudo, nos aproximamos com maior atenção de algumas particularidades relativas a política de assistência social, no município de Natal/RN, acreditando, deste modo, na interdependência existente entre as formas de gestão do trabalho e as condições proporcionadas aos servidores municipais vinculados à Prefeitura.

Ainda que particularizada por aspectos regionais e culturais, não foge à SEMTAS, enquanto ente gestor municipal, a responsabilidade de cofinanciar e aprimorar o andamento da gestão dos serviços, programas e projetos de assistência social, no município (BRASIL, 1993), cabendo a ela também, a adequação das relações e condições de trabalho dos seus servidores às diretrizes nacionais para a gestão do trabalho no SUAS.

Atualmente, essas diretrizes podem ser encontradas na Norma Operacional Básica de Recursos Humanos (NOB/RH), publicada em 2006, com base na:

a) garantia - e desprecarização - dos vínculos dos trabalhadores do SUAS e o fim da terceirização; b) garantia a educação permanente dos trabalhadores; c) realização de planejamento estratégico; d) garantia a gestão participativa com controle social, e e) a integração e alimentação do sistema de informação (BRASIL, 2006, p. 16).

Além desses princípios, a NOB/RH/SUAS também se vincula a gestão do trabalho enquanto questão estratégica e política, com vistas a qualificação e a valorização dos

trabalhadores, sendo para tanto, imperioso o caráter público das ações socioassistenciais, bem como a existência de servidores públicos responsáveis por essa execução (BRASIL, 2006). Dessa maneira, a realização de concursos públicos, a implementação de uma Política Nacional de Capacitação e a existência de um Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS) para os servidores, são elementos basilares ao tratar desta temática.

Por conseguinte, de acordo com o regimento interno da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistencial Social (SEMTAS), enquanto órgão pertencente a administração pública municipal da cidade do Natal/RN, seu dever é coordenar, executar, acompanhar e avaliar a Política Municipal de Assistência Social, em consonância com as diretrizes do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) (NATAL, 2010a). Quanto a sua atuação, esta precisa ser direcionada à implementação das inovações contidas nesses documentos, voltando-se à promoção e a profissionalização dos seus servidores, à responsabilização do Estado como principal gestor de políticas públicas, além da ressignificação das ações socioassistenciais, historicamente marcadas, no Brasil, pelo improviso e pelo favor (MOTA, 2008).

Com apoio do Plano Municipal de Assistência Social da cidade do Natal/RN (NATAL, 2015), correspondente ao biênio 2014-2015, e no que tange o ordenamento do SUAS, compreendemos esta, como uma cidade de grande porte, com população de aproximadamente 803.739 mil habitantes32 estando distribuída em 36 bairros que formam as suas quatro regiões administrativas: norte, sul, leste e oeste.

Não isentos dos conflitos e das contradições existentes nas grandes cidades do Brasil, os habitantes de Natal também vivenciam em suas dinâmicas econômica e geográfica, as expressões da questão social presentes nos processos de desigualdades, vulnerabilidades e riscos sociais, distribuídos entre as diferentes regiões da cidade, onde a política de assistência social é executada com base nas características, demandas e/ou necessidades sociais específicas de seus moradores.

Este é um encaminhamento que acompanha as diretrizes da PNAS, quando ao hierarquizar as modalidades de proteção social, entre básica e especial, de média e alta complexidade, também observa a disposição da rede socioassistencial, fundamentada no território onde serão instalados os aparelhos institucionais, bem como na perspectiva de diversidade, complexidade, financiamento e cobertura do número potencial de usuários que deles possam necessitar (BRASIL, 2005).

32 De acordo com site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população estimada para o

Enquanto a proteção social básica “tem como objetivo, prevenir as situações de risco, por meio do desenvolvimento de potencialidades, aquisições e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários” (BRASIL, 2005, p. 92), a proteção social especial prevê a atenção às famílias e aos indivíduos que já se encontram em “situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras” (Idem)33.

Ambas, a partir desta compreensão, são implementadas pelos municípios, através das unidades de CRAS e CREAS, como um lócus da gestão da política de assistência social para a proteção básica e especial de média complexidade, ficando assim, responsáveis pela execução, coordenação e organização dos serviços socioassistenciais. Os determinantes sobre a implementação dos referidos Centros podem ser encontrados tanto na PNAS quanto nas Normas Operacionais Básicas do SUAS (NOB/SUAS e NOB/RH), que além de outros aspectos, orientam sobre a composição das equipes de referência, os serviços e as atenções prestadas, o espaço físico e a infraestrutura, como também a incorporação da abordagem territorial.

Natal/RN se encaixa, portanto, no perfil de cidade de grande porte (BRASIL, 2005), em gestão plena dos serviços socioassistenciais34, com população inferior a 900.000 habitantes, onde, para cada 5.000 famílias referenciadas, deve existir um CRAS destinado ao atendimento de 1.000 famílias/ano, com uma equipe de referência composta por um coordenador, quatro técnicos de nível médio e quatro técnicos de nível superior, sendo dois assistentes sociais, um psicólogo e um outro profissional para compor o SUAS (BRASIL, 2006).

Na mesma direção, encontram-se os CREAS, que ao se direcionarem às famílias e aos indivíduos com direitos violados, não possuem uma meta específica de atendimento, tendo em vista a imprevisibilidade de tais situações, contudo, devem funcionar com uma capacidade de

33 Conforme a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais do SUAS (BRASIL, 2009a), as proteções

afiançadas pela política de assistência social brasileira estão divididas em proteção social básica, destinadas a prevenção das situações de risco; e proteção social especial, contempladas pela proteção social especial de média complexidade e de alta complexidade, de caráter protetivo. Com vistas ao nosso objeto de estudo, iremos nos remeter com maior frequência às proteções sociais básica e especial de média complexidade, já que são estas, as oferecidas, no âmbito público estatal, pelos as unidades de CRAS e CREAS, respetivamente. Em contrapartida, a proteção especial de alta complexidade, segundo a PNAS, é aquela que garante a proteção integral, com direito à moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido às famílias e aos indivíduos que se encontram sem referência sociofamiliar e/ou em situação de ameaça (BRASIL, 2005).

34De acordo com a NOB/SUAS, os municípios comportam três níveis de gestão possíveis: a inicial, a básica e a plena. Para cada modalidade de gestão, são estabelecidos requisitos, responsabilidades e incentivos, que variam a depender do porte de cada cidade, da existência e manutenção de órgãos de controle social e a alocação de recursos financeiros que propiciem o compromisso de cofinanciamento da política de assistência social (BRASIL, 2012a).

no mínimo 50 e no máximo 80 casos em atendimento e com uma equipe que também varia de acordo com o nível de gestão de cada município (BRASIL, 2006).

Esta equipe, em um município como Natal, precisa contar com um coordenador e com a presença multidisciplinar de profissionais, de nível médio e superior, entre os quais, estão: dois assistentes sociais, dois psicólogos, um advogado e quatro profissionais auxiliares administrativos e especialistas em abordagem (de nível superior ou médio), que assim como nos CRAS, deverão ser concursados e com experiência em trabalhos comunitários e socioassistenciais (Idem).

Os atendimentos oferecidos pelos CRAS e CREAS, bem como as suas equipes de referência, devem acompanhar, assim, um padrão baseado na abordagem territorial e na matricialidade sociofamiliar – sem desconsiderar a família como um espaço contraditório35 –, em que os programas, projetos e serviços de apoio e fortalecimento às famílias são organizados através dos Centros e das equipes de Referência em Assistência Social, responsáveis por intervir junto a um determinado número de usuários.

O princípio da territorialização, a partir da lógica da proximidade com o usuário, acompanha a noção de vigilância socioassistencial encontrada na NOB/SUAS, atualizada em 2012, conceituando esta modalidade a partir das situações de precarização e de agravamento das vulnerabilidades que afetam os territórios e os cidadãos, pondo em risco a sua sobrevivência, dignidade, autonomia e socialização (BRASIL, 2012a).

Além disso, compreende-se a realidade específica das famílias e das condições concretas do lugar onde elas vivem, como uma novidade dos recentes marcos regulatórios, redimensionando a presença e as necessidades da família no âmbito da política de assistência social, como ótica central para a garantia dos direitos (COUTO; YAZBEK; RAICHELIS, 2014).

No que se refere aos Programas e aos Serviços, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) dá o suporte teórico e organizacional para os atendimentos de usuários com diferentes faixas etárias e condições de vida, estabelecendo através de três categorias fundamentais: o Programa de Atendimento Integral à Família (PAIF), o Serviço de Proteção e Atendimento

35 Couto, Yazbek e Raichelis (2014) discutem a matricialidade familiar incorporada às políticas sociais brasileiras

como um ponto positivo, tendo em vista a superação da análise pessoal atribuída apenas ao indivíduo, contudo, especificam outras percepções que acompanham essa perspectiva, podendo comprometer as abordagens de atendimento. Com base na análise das autoras, é importante verificar as famílias: como arranjos familiares diversos, por conseguinte, improváveis de serem “encaixados” em modelos de intervenção; e como grupo afetivo básico, que também precisa dispor de proteção e de condições essenciais para a sua reprodução, afim de que seja capaz de oferecer possibilidades de desenvolvimento aos sujeitos que as compõem.

Especializado a Família e aos Indivíduos (PAEFI) e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).

A partir desta predisposição, o PAIF estará associado exclusivamente aos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), caracterizando-se como serviços voltados para a prevenção dos rompimentos dos vínculos familiares e da violência no âmbito dessas relações, enquanto o PETI e o PAEFI serão integrados à proteção social especial. Este será destinado às famílias e aos indivíduos com ameaça ou direitos violados, e aquele, como um programa de caráter intersetorial, articulado pelos entes federados, com o apoio da sociedade civil, a fim de contribuir para a retirada de crianças e de adolescentes com idade inferior a 16 anos, da situação de trabalho, ressalvada a condição de aprendiz, a partir dos 14 anos (BRASIL, 1993).

No que tange a realidade de Natal/RN, durante o andamento do nosso trabalho, podemos constatar que a instalação dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e dos Centros de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS) do município, acompanham as orientações presentes nos instrumentos normativos do SUAS, estando distribuídos quantitativamente entre as quatro regiões administrativas da cidade, obedecendo, portanto, a abordagem de territorialidade e de matricialidade familiar, baseada em aspectos específicos da realidade social.

Quanto à disposição dos CRAS e CREAS (sendo 11 CRAS e 4 CREAS), estes totalizam 15 unidades de atendimento distribuídas pelas regiões citadas, com mais ou menos Centros, a depender da dimensão da área de abrangência, do número de famílias referenciadas e do que tem sido considerado pela gestão da SEMTAS como territórios de maiores ou menores índices de vulnerabilidade e riscos sociais36.

A percepção da Secretaria sobre esta questão, também é possível de ser encontrada no Plano Municipal de Assistência Social correspondente ao biênio 2014-2015, onde as regiões norte e oeste da cidade aparecem como as mais populosas, apresentando cada uma, 303.543 e 218.405 habitantes, respetivamente37; além de marcos relevantes sobre a presença do maior número de crianças e adolescentes, a maior concentração de pobreza e o acesso precário aos mecanismos de proteção social.

36 Ao longo da pesquisa, consultamos documentos oficiais publicados pela Prefeitura Municipal de Natal, acerca

da Política de Assistência Social, porém não localizamos nenhuma referência mais específica sobre como são depreendidos os níveis de vulnerabilidade em Natal. De acordo com Natal (2015), estes são baseados em estudos realizados a nível nacional, pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, entre outros.

37 A Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (SEMURB) possui dados atualizados sobre a evolução

demográfica nos bairros de Natal, demonstrando, com referência ao ano de 2016, a região norte e oeste, ainda como as mais populosas de cidade de Natal, porém, com 354.901 e 233.532 mil habitantes, cada uma (NATAL, 2016a).

Ainda conforme o Plano e com apoio dos dados do Censo 2010, do IBGE, são nas regiões norte e oeste da cidade do Natal, onde apresentam-se a maioria dos aglomerados subnormais de habitação na forma de assentamentos irregulares, favelas, invasões, baixadas e comunidades; representado 30, das 41 unidades habitacionais identificadas com este perfil, em todo o município (IBGE, 2010 apud NATAL, 2015). Esses números são seguidos pela taxa de rendimento das pessoas que moram nesses lugares, chegando a até 01 salário mínimo, para 79% daquela população (NATAL, 2015).

Em contraste, as regiões leste e sul revelam-se como as menos populosas, com índices de habitantes inferiores a 200 mil cada uma38, e com as menores quantidades de unidades habitacionais distribuídas de maneira desordenada, evidenciando-se, como um território de menor incidência de condições de vida periféricas e/ou precarizadas.

Para vias da nossa análise, este é um panorama que nos permite compreender melhor o ordenamento dos CRAS e CREAS em Natal/RN, contudo, não nos isenta da responsabilidade de analisar aspectos da realidade, que mesmo em sua forma generalizada, tem atingido a classe trabalhadora de maneira particular, bem como as suas condições de vida, em uma dinâmica contraditória que ultrapassa as aparências.

Em Natal/RN, por exemplo, a cobertura da rede de serviços socioassistenciais correspondentes a proteção básica e especial de média complexidade, está organizada; conforme o Quadro 1, no qual a disposição dos CRAS e CREAS no município, bem como o bairro onde está localizando, tem obedecido a priorização das regiões de maior vulnerabilidade social, no entanto, no que tange as áreas de abrangência, mediante aspectos relativos a gestão do trabalho no SUAS, é possível que existam rebatimentos desfavoráveis ao exercício profissional do assistente social.

38 Dados Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (SEMURB) da cidade do Natal com referência ao

ano de 2016, também indicam os índices demográficos das regiões sul e leste mais atualizados, sendo habitadas, respectivamente, por 174.516 e 114.709 mil moradores (NATAL, 2016a).

Quadro 1: Serviços socioassistenciais do Natal/RN com base no nível de proteção social Proteção Social Básica e Especial de Média

Complexidade

Área de abrangência em hectare (ha)

CRAS CREAS Região Norte

CRAS África – bairro Redinha.

CREAS Norte –

bairro Redinha 5.888, 50

CRAS Nossa Sra. da Apresentação – bairro

Nossa Senhora da Apresentação. CRAS Pajuçara – bairro

Pajuçara.

CRAS SALINAS – bairro Potengi.

CRAS Lagoa Azul – bairro Gramoré.

CRAS Guarapes – bairro Guarapes

CREAS Oeste – bairro Nazaré

Região Oeste CRAS Planalto – bairro

Planalto. 3.575, 99

CRAS Felipe Camarão- bairro Felipe Camarão. CRAS Mãe Luiza-bairro

Mãe Luiza. CREAS Leste – bairro Petrópolis

Região Leste CRAS Passo da Pátria –

bairro Barro Vermelho 1.614, 76

CRAS Ponta Negra – bairro de Ponta Negra

CREAS Sul – bairro de Ponta Negra

Região Sul 4. 570, 11 Fonte: Elaborado pela autora, com base em Natal (2015) e Natal (2016a).

O Quadro 1 nos alerta para as possíveis incompatibilidades existentes entre a quantidade de unidades de CRAS e CREAS no município de Natal/RN em contrapartida à sua área de abrangência, observando-se, por exemplo, a condição da região sul, que mesmo não sendo considerada uma das áreas mais populosas da cidade, nem tão pouco aquela com índice de vulnerabilidade social mais elevado (NATAL, 2015), é a segunda maior região em dimensão territorial e dispõe apenas de dois aparelhos institucionais, um destinado à proteção social básica e outro à proteção especial de média complexidade.

Ora, se em Natal/RN, a região sul, onde os níveis de vulnerabilidade social são considerados pela SEMTAS como inferiores aqueles encontrados na região norte da cidade, nos perguntamos porque a equipe de referência do CRAS e CREAS dessa região possui a

mesma quantidade de assistentes sociais existentes nas unidades da região norte, maior em área de abrangência e em nível de vulnerabilidade?

Sabemos que a ideia das equipes de referência no SUAS, é resultado de uma padronização, em que cada unidade socioassistencial é organizada de acordo com as características e os objetivos adequados aos serviços que realizam, à realidade do território em