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(1)39. assistencialista e com o propósito de amenizar os conflitos trabalhistas, esclarece Marcílio (2005). Pela reforma de 1920, as escolas isoladas do estado foram classificadas como rurais, distrital e urbanas. Para Tobias (1986) a década de 1920-1930 foi decisiva para a deseristocratização do ensino, buscando a socialização do educando e da escola, não, porém, da Educação brasileira em seu aspecto abrangente. Em 1924, de acordo com Almeida Junior apud Souza (2004) foi fundada a Associação Brasileira de Educação, considerando um marco no processo de trazer educação de qualidade para o país. Mas foi com Getúlio Vargas que esse tema tornou-se prioridade e foi criado o primeiro Ministério da Educação e Cultura. Romanelli (1983) aponta o ano de 1930 como marco divisório de um período caótico para um período de organização. Brock e Schwartzman (2005) ressalvam que:. Estes pioneiros não tiveram sucessores, confirmando a ausência de uma bem definida e ampla profissão docente no Brasil. E acrescenta que, nos anos 1930, havia a crença de que a educação seria capaz de mudar a mentalidade e alma das pessoas, sendo o caminho para o progresso (p. 25).. Com estes movimentos políticos, falar da emancipação da cidade de São Bernardo é bastante pertinente. O Serviço de Memória e Acervo apresenta exposição, fotografias, gravações com depoimento de pessoas que vivenciaram o evento, trechos de jornais e documentos da época. A emancipação representou momentos de consolidação, no campo político de uma identidade social sãobernardense que há décadas já se expressava na cultura popular da região. É um processo de reconhecimento político-social, simbolizado pela emancipação. Em São Bernardo do Campo, de acordo com Médici (2005) a convivência dos imigrantes europeus com os antigos brasileiros e escravos libertos marcaria o início do lento processo de transformação da economia local, nas décadas iniciais do século 20..

(2) 40. No dia 30 de abril de 1920 foi criado o 2º Grupo Escolar de São Bernardo, no então Distrito de São Caetano, que tem hoje o nome de "Senador Fláquer". Em 21 de fevereiro de 1922 foi instalado o Grupo Escolar de São Bernardo num antigo casarão de taipa da atual praça Lauro Gomes. Em 3 de maio de 1923, a Companhia Imobiliária São Bernardo, dos irmãos Pujol, inaugura sistema de bonde a vapor interligando os distritos de Santo André, São Bernardo e São Caetano, onde são abertos vários loteamentos. Em 1929 o médico e vereador Francisco Perrone, presidente da Câmara Municipal, apresenta indicação, aprovada, propondo à São Paulo Railway a mudança do nome da estação ferroviária do Distrito de Santo André. Passaria de São Bernardo para Santo André. Aranha (1999) é categórica ao afirmar que a Revolução de 1930 caracteriza a passagem progressiva de uma sociedade artesanal, pré-capitalista e agráriocomercial para urbano-industrial, implementando profundas transformações sociais, alterando o “status quo” da mulher, aumentando e diversificando a classe média, formada prioritariamente por pessoas ligadas ao processo produtivo. Com importação de tecnologia, a escola não desempenhou papel de relevo, a não ser no que diz respeito ao treinamento e qualificação de mão-de-obra. O movimento político de 1930 não formulou um plano ou plataforma política para a educação nacional, mas se apropriou dos debates anteriores sobre a organização do ensino brasileiro para traçar novas diretrizes para a educação brasileira. A nova realidade brasileira passou a exigir uma mão-de-obra especializada e para tal era preciso investir na educação. Sendo assim, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em 1931, o governo provisório sanciona decretos organizando o ensino secundário e as universidades brasileiras ainda inexistentes. De acordo com Médici (2005) o Grande ABC era constituído por um único município, chamado São Bernardo, sucessor da Freguesia de São Bernardo, esta criada no início do século. Aqui funcionavam três núcleos coloniais, em São Bernardo, São Caetano e Ribeirão Pires. O nome Santo André simplesmente estava riscado do mapa, desde o quinhentismo. Mas a ferrovia passou e foi atraindo.

(3) 41. fábricas, que foram semeando novos povoados, futuros municípios - o futuro Santo André à frente. Assim, o distrito de Santo André abrigava na década de 1930 várias indústrias importantes, possuía a Estação de São Bernardo por onde era transportada grande parte dos produtos aqui produzidos e tinha entre seus moradores vários políticos influentes. Tal situação levou à transferência da sede do município de São Bernardo para Santo André, em 1939. Assim como a ferrovia recebeu a placa com o nome Santo André. As primeiras universidades são criadas praticamente na década de 30, do século XX, segundo Marcílio (2005). A discussão gira em torno de a quem pertence o poder de auferir legitimidade às políticas públicas implementadas no âmbito da educação, o que encaminha ao conceito de participação e do quanto a presença (ou ausência) teórica e prática de tal conceito determinaria os rumos da educação. Nosso Estado deve muito à dedicação dos professores formados ao longo dos séculos XIX e XX, nos antigos Institutos de Ensino Normal ou nos CEFAM, mas também, ao empenho dos professores leigos, pois, sem alternativas, foram assumindo a tarefa de educadores de suas comunidades em várias regiões do país. Mesmo assim, contando com todo o empenho dos nossos mestres, não foi ainda possível erradicar o analfabetismo no Brasil, um grande desafio para a Educação no século XXI. Foi na Primeira República que surgiram os primeiros grupos escolares e a escola normal, que tinha um papel fundamental na formação de professores. Nessa época já começava a surgir uma pequena elite de educadores, entre eles Caetano de Campos e Rangel Pestana. A revolução de 30 pretendeu derrubar as instituições oligárquicas: o poder dos coronéis, o poder local, impor uma centralização administrativa, criar um estado forte. Tudo isso, segundo Benevides apud Dines, Fernandes Jr. & Salomão (2000) veio atrasado em relação à república. Mas, ela não significou uma quebra com o regime oligárquico, como se pode ver até hoje na História do Brasil, pela consolidação de práticas coronelistas, clientelistas, populistas. A situação continua até 1930 quando é criado o Ministério da Educação e o currículo escolar toma a forma que conhecemos hoje com o curso primário, ginasial e colegial. A partir daí os ginásios e colégios foram se multiplicando e as pressões.

(4) 42. internacionais da Unesco e dos direitos humanos exigindo uma maior preocupação com a educação. Conclui-se que, apesar dos confrontos dos historiadores, São Bernardo do Campo surgiu da seguinte maneira de acordo com as comparações dos escritos de Santos (1992) e Médici (2005). No século XVI houve a oficialização e extinção a Vila de Santo André da Borda do Campo (1553-1560), que nada tem a ver com o Santo André dos dias de hoje e São Bernardo começa a surgir em 1717 como nome de uma fazenda pertencente aos monges beneditinos, que estava localizada na antiga Borda do Campo. Em 1812 cria-se a Freguesia de São Bernardo que é elevado a município só em 1889 e depois leva o nome de Santo André (nada a ver com o antigo Santo André da Borda do Campo). Na verdade, em 1944 a área do município de Santo André é dividida em dois municípios: Santo André (abrangendo São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande) e São Bernardo do Campo (abrangendo os bairros do futuro distrito e município de Diadema). O município de São Bernardo do Campo foi instalado em 1945 (nada a ver também com o antigo São Bernardo).. 1.3 A Educação Feminina. Segundo Almeida (2007) foram as mulheres que se encarregaram das aulas nos colégios protestantes e nas pequenas escolas ao lado das igrejas; nas classes de primeiras letras da zona rural para os filhos dos colonos, nos colégios católicos e escolas particulares. Freyre (1977) lembra que, no regime patriarcal, o homem tendia a transformar a mulher num ser diferente dele, criando jargões do tipo “sexo forte” e “sexo frágil”. No Brasil colonial, a diferenciação parecia estar em todas as esferas, desde o modo de se trajarem até nos tipos que se estabeleciam. A sociedade patriarcal agrária extremava essa diferenciação, criando um padrão duplo de moralidade, no qual o homem era livre e a mulher, um instrumento de satisfação sexual. Esse padrão.

(5) 43. duplo de moralidade permitia também ao homem desfrutar do convívio social, davalhe oportunidade de iniciativa, enquanto a mulher cuidava da casa, dedicava-se aos filhos e dava ordens às escravas. A etiqueta, de acordo com este historiador, no sistema patriarcal brasileiro, a idolatria à fragilidade da mulher, tudo parecia denotar o gosto dos homens pela diferenciação e, em última instância, reforçar os conceitos de sexo forte, nobre e dominador. Valores como possuir pés pequenos e cintura fina eram artificiais, uma vez que se tornavam incômodos os modos de se vestir, envolvendo a própria liberdade física da mulher. É daí que vem a erotização da mulher, pois a sociedade não tinha outro modo de enxergá-la, a não ser como objeto sexual. Elas próprias buscavam essa diferenciação, seja no exagero de seus enfeites, seja no exagero de sua feminilidade. A. literatura. médica. registra. muitos. casos. de tuberculose feminina. desencadeados pelas exigências da moda da época, que obrigava as mulheres a se vestirem de tal modo que seus pulmões não se expandiam corretamente, prejudicando, assim, a própria respiração ou devido também à alimentação irregular. A indisciplina sexual estava presente na colônia. Muitos homens solteiros preferiam ter relações com escravas a se dedicarem a um lar. Aos casados, cabia perfeitamente o adultério. Somente moças que possuíam dote conseguiam contrair matrimônio. Para as das classes mais baixas, o casamento com dote estava fora de cogitação. Contudo, deve-se ressaltar que havia, na sociedade escravocrata brasileira, uma aceitação total por parte das mulheres, fossem elas ociosas ou trabalhadoras, de sua posição submissa perante a figura masculina, tanto dentro da família como na sociedade em geral. Lajolo & Zilberman (1996) comentam que as mulheres das classes sociais altas tinham pouco acesso à já escassa cultura existente na colônia. A inadequação do sistema escolar brasileiro era apenas o reflexo da vida cultural da colônia. Para Saffioti (1969), o limitado contato social e a cultura restrita tornavam a mulher mais conservadora que o homem e, conseqüentemente, o elemento de estabilidade da sociedade. As inovações sociais, políticas e culturais eram trazidas.

(6) 44. pelos filhos do sexo masculino da casa-grande, educados na Europa. Todavia, faltou-lhes a influência e a orientação da mãe para que compreendessem o mundo. De acordo com esta autora, as mulheres brancas submetiam-se sem contestação ao poder do patriarca. Eram ignorantes e imaturas e casavam-se antes dos quinze anos. Ao contrair matrimônio, passavam do domínio paterno para o domínio do marido. Raramente saíam à rua e, quando o faziam, iam à igreja acompanhadas. Nessa sociedade, a mulher estava destinada ao casamento e a única possibilidade disponível para fugir do domínio do pai ou do marido era a reclusão em um convento.. (...) Embora algumas se tenham transformado em respeitáveis matronas, com considerável poder de mando sobre (sic) a escravaria doméstica, sua esfera de autoridade conservava-se nitidamente (sic) distinta do setor em que imperava o patriarca. (Saffioti, 1969, p.. 178). Segundo Vainfas (1997) Manoel da Nóbrega, primeiro providencial dos jesuítas no Brasil, em 1549, ficou muito desesperado com o que via, portugueses e índias gemendo pelos matos, que suplicou ao rei o envio urgente de mulheres brancas para casar com os portugueses, mesmo que fossem prostitutas. O Brasil, na época dos portugueses, era uma terra de pecados, terra de liberdade sexual e da ausência quase completa de religião. A igreja era desorganizada e muitos padres mal ligavam para seu ofício espiritual. Padres mal preparados e poucos, com a exceção quase solitária dos jesuítas. O autor ainda aponta que documentos da época mostram que alguns sentiam-se culpados pelo pecado mas outros acreditavam que a fornicação com as índias não era pecado, se fossem virgens e brancas, sim. Machismo e racismo, com algum verniz de moralismo. De acordo com os escritos de Vainfas (1997) pode-se concluir é que a religião e o sexo andaram juntos no tempo do Brasil Colonial..

(7) 45. Os jesuítas se ocuparam, de um lado, com a catequização dos índios e, de outro, com a formação dos filhos dos colonos. Nenhuma educação formal era reservada às mulheres. Vainfas (1997) cita Mary Del Priore em delicioso texto intitulado “Deus dá licença ao Diabo” onde faz questão de contar que nem as igrejas escapavam do sexo. Segundo Saint-Hilaire (1940) a condição da mulher brasileira era tão inferior na época do Brasil colonial que, sua posição na escala social podia ser comparada a de um cão. Geralmente analfabetas, nos primeiros tempos da colonização, muitas delas nem sabiam falar o português, usando a língua dos índios, conhecida como “língua geral”. Reclusas em casa eram muito envergonhadas e raramente apareciam diante de estranhos, segundo os relatos de viajantes estrangeiros.. (...) Cercado de escravos, o brasileiro habitua-se a não ver senão escravos entre os seres sobre (sic) os quais tem superioridade, seja pela força (sic), seja pela inteligência. A mulher é, muitas vezes (sic), a primeira escrava da casa, o cão é o último (p. 137).. Algumas delas se educavam nos conventos fundados entre 1678 e 1685, mas eram casos raros. Para se ter uma idéia, de acordo com Aranha (1999) apenas doze meninas estudavam no Recolhimento de Santa Teresa (São Paulo) em 1728 e, mesmo para elas, a ênfase era dada ao ensino de prendas domésticas e rudimentos de ler e escrever. Com a vinda da família real (1808) começam a aparecer algumas escolas leigas para as meninas da elite e são contratadas preceptoras de Portugal, da França e posteriormente da Alemanha, para educá-las em casa. O Ensino Secundário, considerando a forte herança da educação colonial, cuja primazia tinha na Igreja seu mais forte apoio, perdurou ao longo de todo o período Imperial..

(8) 46. Saffioti (1969) acrescenta que a maçonaria e outras sociedades secretas, surgidas no final do século XVIII, não permitiam a participação feminina no seu interior. Em conseqüência, os movimentos políticos que tinham origem nessas sociedades eram de homens da elite branca. “(...) O afastamento da mulher em relação àquelas sociedades significava, pois, uma barreira à conscientização dos problemas econômicos e políticos nacionais por parte da população feminina pertencente à elite dominante.” (p. 184) Dentro desse contexto, o marido encontrava-se completamente carente de uma mulher que fosse sua companheira. Freyre (1977) afirma que:. (...) Da mulher-esposa, quando vivo ou ativo o marido, não se queria ouvir a voz na sala, entre conversas de homem, a não ser pedindo vestido novo, cantando modinha, rezando pelos homens; quase nunca aconselhando ou sugerindo o que quer que fosse de menos doméstico, de menos gracioso, de menos gentil; quase nunca metendo-se em assuntos de homem (p. 108).. O escritor ressalta ainda que:. (...) Nunca numa sociedade aparentemente européia, os homens foram tão sós no seu esforço, como os nossos no tempo do Império; nem tão unilaterais na sua obra política, literária, científica. Unilaterais pela (...) falta de mulher (...) colaboradora do marido, do filho, do irmão, do amante (...) Freyre (1977, p. 114). No século XIX, com a consolidação do sistema capitalista inúmeras mudanças ocorreram na produção e na organização do trabalho feminino. Com o desenvolvimento tecnológico e o intenso crescimento da maquinaria, boa parte da mão-de-obra feminina foi transferida para as fábricas. Mesmo com essa conquista, algumas formas de exploração perduraram durante muito tempo. Jornadas entre 14 e 18 horas e diferenças salariais acentuadas eram comuns. A justificativa desse ato estava centrada no fato de o.

(9) 47. homem trabalhar e sustentar a mulher. Desse modo, não havia necessidade de a mulher ganhar um salário equivalente ou superior ao do homem. De acordo com Marcílio (2005) até 1827 a instrução das meninas sempre foi um setor negligenciado. Todas as autoridades que tratavam da educação das meninas tinham como preocupação principal a formação da futura esposa, da futura mãe de família. Se instruída ela seria uma boa esposa e boa mãe, dando uma educação cristã aos filhos, no entanto, a educação das meninas era separada dos meninos. O consenso, segundo a autora, era de que as meninas deveriam aprender, junto com o ler, escrever e contar, os trabalhos domésticos, os trabalhos de agulha. Não deveriam aprender latim, pois os humanistas acreditavam ser o tipo de cultura para os meninos da elite. Foi, com esta Lei geral, fundada a primeira aula pública feminina na capital paulista, sendo nomeada a primeira mestre-escola, Benedita de Trindade, em 1828, que permaneceu no cargo até o ano de 1843, quando tinha 53 alunas matriculadas. Sua escola funcionava numa pequena sala da Rua São Bento. Só em 1852 seria fundada uma segunda aula feminina na cidade, na freguesia de Santa Efigênia. A chegada da família real e de toda a Corte portuguesa, no Rio de Janeiro em 1808, trouxe influências que acabaram por mudar a situação reinante na colônia, embora muitos costumes em relação às mulheres tivessem sido mantidos. “As meninas até então desvalidas, no entanto, mereceram agora, alguma atenção do Estado em matéria de proteção e de ensino, dentro de uma mentalidade caritativa, assistencialista” Marcílio (2005, p. 63) Se considerarmos que aqui, em São Bernardo, a primeira escola foi a do padre Lustosa, então foi o pioneiro, na inclusão da mulher na escola, apesar deste professor incluir meninas em sua turma, oficialmente, essa prática chegou muito tarde. No Estado de São Paulo, segundo a autora, a Lei Geral do Ensino do Brasil que autorizou a instrução das meninas é de 1825, afirmando o negligenciamento do setor, segundo Marcílio (2005):.

(10) 48. A concepção sobre a educação que se deve dar às meninas tinha, naturalmente, relação com a idéia que se fazia da natureza e do papel da mulher na sociedade. Todas as autoridades que tratavam da educação das meninas tinham como preocupação principal a formação da futura esposa, da futura mãe de família. Se instruída ela será uma boa esposa e como mãe seria capaz de criar de forma cristã seus filhos. Mas a educação das meninas deveria ser separada da dos meninos. O consenso existente era de que as meninas deveriam aprender, junto com o ler, escrever e contar, os trabalhos domésticos, os trabalhos de agulha. Nunca deveria chegar ao ensino do latim, ou seja, não deveriam ter acesso ao tipo de cultura que os humanistas consideravam indispensável aos meninos de elite (p.64).. Assim, as peculiaridades regionais, os conflitos políticos locais, as soluções circunstanciais, algumas bastante criativas, e o ritmo de incorporação das inovações demonstram a sobrevivência da instituição escolar de primeiras letras. Com a Lei Geral de 1827 foi fundada a primeira aula pública feminina na capital paulista, sendo nomeada a primeira mestra-escola Benedita Trindade, conforme dito anteriormente. Em 1840, segundo Marcílio (2005) então com 41 alunas, não havia nenhuma menina exposta e nenhuma escrava. Na escola freqüentavam 12 meninas filhas de pais de elite da terra, quinze filhas de famílias médias e pobres e 14 ilegítimas. Enfim, conviviam meninas de elite e meninas muito pobres, legítimas e ilegítimas, mas nenhuma exposta, nem escrava. A segunda só seria fundada em 1852, na freguesia Santa Efigênia. As professoras, segundo a autora, não tinham preparo algum, sendo até analfabetas, mais hábeis nos trabalhos de agulha. Como se pode observar, a primeira escola normal criada na província de São Paulo (1846-1867) destinou-se apenas ao sexo masculino e a segunda (1875-1878) diplomou uma única turma de professoras. Entretanto, já se delineava nos derradeiros anos da Monarquia a participação que a mulher iria ter no ensino brasileiro. Reaberta em 1880, a escola normal afirma-se como importante centro cultural e, em 1889, pela primeira vez, o número de mulheres formadas (64) sobrepuja o de homens (57). O magistério feminino, além de ser considerado um prolongamento da maternidade, era a única profissão que permitia às mulheres das camadas médias e elite conciliar as funções domésticas com sua profissionalização. A mão-de-obra feminina apresentou-se, ainda, como solução viável para atender à.

(11) 49. demanda do magistério primário, pouco procurado pelos homens por causa da baixa remuneração. Em São Bernardo, de acordo com Santos (1992) o Sr. Bonilha, em 1864, voltando ao cargo de inspetor, envia um ofício a São Paulo, sugerindo autorização para abrir uma classe para as meninas e as aulas poderiam ser ministradas por dona Cecília Fortunato de Toledo, esposa do professor Toledo. Teve então a aprovação, em ofício nº 5098/ 65. Felizmente, o historiador e autor acima cita em seu livro que em 14 de março de 1865, pela Lei número 14, foi criada a primeira Escola Pública de Primeiras Letras da Freguesia destinada ao sexo feminino. Tal realidade não difere daquela encontrada em todo o país em que Almeida Junior apud Souza (2004) mostra a mesma precariedade: “são defeituosíssimas as condições do sistema escolar primário no Brasil” (p. 126). E continua mais à frente:. A escola primária brasileira, modesta de nascença (quatro anos na cidade, três na zona rural), só atende, hoje, 50% da população infantil; só retém até o fim da quarta série 16% das crianças que se inscrevem na primeira; e, pelo fato de funcionar cada vez mais comprimida no tempo (regime de desdobramento) e comprimida no espaço (não lhe dão novos prédios), pouco produz como instrumento de instrução, nada faz como influência educativa (p.126).. Somente em 1881 a primeira mulher é aceita na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Logo a seguir, mais três se matriculam, sendo expressivo o fato de que uma delas se fazia acompanhar em classe pelo pai e a outra, por uma senhora idosa. O próprio trabalhador vê com “naturalidade” a desigualdade na incorporação da mão-de-obra feminina, marcada até hoje pela discriminação salarial. Isto se dá não só na remuneração inferior para a mulher que exerce as mesmas funções que o homem, mas também no desprestígio de certas profissões consideradas “femininas”. Saffioti (1969) explica que com o processo de urbanização, a vida da mulher pertencente à elite dominante começa a se modificar. Ela não mais permanece reclusa à casa-grande, freqüentando festas, teatros e indo à igreja, o que possibilita um aumento em seus contatos sociais. Sua instrução geral, porém, permanece.

(12) 50. desvalorizada, uma vez que a sociedade espera que ela seja educada e não instruída. À sua educação doméstica acrescenta-se o cuidado com a conversação, para torná-la mais agradável nos eventos sociais. Na transição Império-república, a educação se debruçou sobre a necessidade de alfabetização para o operário e o imigrante que atuavam nas esferas da produção, como já foi mencionado. Expressões femininas como Narcisa Amália e, posteriormente, Júlia Lopes de Almeida começam a ser notadas na literatura no final do século XIX. Aos poucos, a mulher sai da domesticidade e integra-se finalmente na sociedade, a princípio como escritora ou professora. Em fins do século XIX, o Brasil já possuía mulheres que sabiam ler e escrever, limitando-se, no entanto, à esfera medíocre do romance francês. Uma grande mudança ocorre com o surgimento de Nísia Floresta, uma feminista que escandalizou muitas das jovens senhoras brasileiras acostumadas ao simples afrancesamento de sua cultura. No regime republicano, segundo Almeida (2007) a educação escolar passou a contar com a colaboração de freiras católicas, estrangeiras e brasileiras, que se incumbiam do ensino das meninas nos orfanatos e nos colégios em regime de internato e externato mantidos pela Igreja católica. A organização escolar contou também, segundo ela, com a presença de professoras primárias públicas que se encarregavam da educação das meninas e, posteriormente, dos meninos de tenra idade nas pequenas escolas das zonas rurais do interior paulista. O movimento no Brasil toma impulso com a participação de Bertha Lutz, que retorna da Europa em 1918 e logo depois cria uma fundação voltada para a promoção da mulher, tendo conseguido algumas vitórias com relação à instrução e ao trabalho. Nos anos inicias do século 20 as reivindicações femininas voltaram-se para o direito do voto e de as mulheres terem as mesmas oportunidades educacionais que os homens tinham. De acordo com Marcílio (2005) o crescente processo de industrialização nacional que introduziu a mulher no mercado de trabalho a partir de 1930, trouxe um conseqüente movimento de trabalhadoras em busca de guarda e atendimento para seus filhos e sua tranqüilidade no trabalho..

(13) 51. Até 1930 são pouquíssimas as mulheres que chegam aos cursos superiores, e um número muito menor consegue concluí-los. Geralmente preferiam as áreas de educação e humanidades. A única exceção foi o aumento na procura de cursos de Farmácia, o que se deve ao fato de ter essa profissão sofrido algum desprestígio, ocorrendo uma diminuição do interesse masculino. Evidentemente, a pouca procura é explicada por serem os cursos superiores profissionalizantes, além de exigirem maior tempo disponível, o que entra em choque com a antiga e arraigada concepção de se formar a mulher para o casamento. O Padre Lopes Gama5, de acordo com Freyre (1977) muitas vezes levantou a voz contra as feministas, acusando-as de serem terríveis pecadoras. Para ele, a mulher deveria somente se preocupar com a administração de sua casa. O Padre Lopes da Gama não se conformava em ver a mulher servil, embora medíocre, sendo lentamente substituída por outro tipo de mulher, uma mais “mundana”, que freqüentava teatros e salões de festas. No começo do século XX, é grande a participação de mulheres, em geral tecelãs ou costureiras, nos movimentos grevistas. Muitas vezes as conquistas alcançadas beneficiam diferentemente mulheres e homens. Mas, é de se deixar bem claro, que, em virtude, da pouca importância que a mulher tinha até então, muitas mulheres que muito fizeram ficaram no anonimato. Há poucos registros sobre essas mulheres professoras de há quase um século, que tinham a missão e vocação para a educação. Segundo Almeida (2007), a profissão de professora representa a libertação para as mulheres e sua essencialidade para a inserção feminina no mundo do trabalho. Assim, do período de 1870 a 1930, sobre a vida das mulheres, sua educação e profissionalização, há muito pouco, apenas o suficiente para escrever e registrar sua presença, como no caso de nossa querida professora Maria Iracema Munhoz.. 5. Padre Lopes Gama, político e professor pernambucano nascido em Recife, em 1791, um dos primeiros jornalistas a escrever contra a escravidão no Brasil e admirado como um desses mestres de bom-senso e de amor à tradição. Tornou-se frade beneditino em 1815. Foi então nomeado professor de Eloqüência Nacional e Literatura no Liceu do Recife e no Almanaque Civil e Eclesiástico e depois tornou-se diretor do Curso Jurídico de Olinda. Foi deputado em Pernambuco (1840) e Alagoas (1846). É conhecido como o Padre Carapuceiro e morreu em Recife em 1852..

(14) 52. CAPÍTULO II A ESCOLA E AS PESSOAS. A escola, como instituição social, é sempre o resultado precário e provisório de um movimento permanente de transformações em que as tensões e conflitos sociais se refletem. Este capítulo apresenta a história da Escola Estadual Maria Iracema Munhoz. De acordo com Werle6 apud Lombardi (2004) a história da instituição escolar:. É a representação da escola expressa pela forma de síntese narrativa construída com base na análise de representações de acontecimentos, relações e experiências passadas (documentos, imagens, prédios, objetos) e apropriações subjetivas (em parte capturadas por meio de depoimentos, memórias, registros escritos, sonoros, pictóricos) de coletivos e de indivíduos (p.32).. Por fazer parte da escola que sempre vem batalhando para qualificar a educação pública do município, fez-se dela o substrato para refletir as políticas educacionais. Sendo assim, a qualidade educacional é relevante para o projeto de sociedade que desejamos. Isto porque, a sociedade é histórica, portanto, passível de transformação. Como ponto de partida, foi realizada a contextualização histórica da escola e para visualizar esse percurso, ele se faz acompanhar de registros fotográficos. Para recuperar a história da escola, buscou-se no universo dos livros publicados pela Administração Municipal, o livro Antecedentes Históricos do ABC. 6. Flávia Obino Corrêa Werle, professora da Universidade do vale do Rio dos Sinos – Unisinos – RS..

(15) 53. Paulista: 1550-1892, trabalho do historiador Wanderley dos Santos publicado em 1992, que conta a história da cidade à luz de documentos, num trabalho de fôlego que levou 20 anos para ficar pronto.. Desde o início da década de 70, era. adolescente ainda, quando despertou nele essa curiosidade em resgatar, pesquisar e escrever a nossa história. Sem essa peculiaridade do escritor, seria difícil recuperar a memória do município. Entusiasmado com a pesquisa, mexia e remexia os velhos documentos do acervo do Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo. Buscava a verdade sobre a história de São Bernardo do Campo, Santo André e São Caetano do Sul. Ao final dessa dissertação, responderemos quantos anos tem a Escola Estadual Maria Iracema Munhoz. Seriam menos de cem anos ou mais de cem anos? Quais as marcas que lhe garantem esta idade toda? Na infinita paciência, Santos (1992) consegue jogar novas luzes sobre estas perguntas e acredita que: “Somente conhecendo sua história, discutindo-a em todos os seus detalhes, estará se fortalecendo a própria vida, melhorando sua qualidade, mostrando à população que ela é dona da cidade em que vive, luta e deixa sua marca” (p. 5). Em 1890, de acordo com Souza (1998, p. 11) era esperado que as escolas se multiplicassem, como “templos de civilização” e associadas aos grupos escolares, “palácios do saber” da República, gestados no projeto republicano vivenciado no período compreendido entre o final do século XIX e início do século XX, destinados a formar o cidadão republicano diante de uma massa de ex-súditos analfabetos. Nesse sentido:. ...a educação popular foi ressaltada como uma necessidade política e social. A exigência da alfabetização para a participação política (eleições diretas), tornava a difusão da instrução primária indispensável para a consolidação do regime republicano. Além disso a educação popular passa a ser considerada um elemento propulsor, um instrumento importante no projeto pometéico de civilização da nação brasileira. (Souza,1998, p. 27). Assim, para retratar a história da escola Maria Iracema Munhoz como um microcosmo do processo educacional, traçou-se um paralelo a partir dela para um universo mais global, que compõem o macrocosmo..

(16) 54. Como se pôde perceber, a escola teve seu nascedouro no chamado casarão, de propriedade do Alferes Francisco Martins Bonilha, pela década de 1890.. Figura 3 : 1890 – O casarão.. Fonte: Foto de propriedade de Lúcia Cristóvão Melges. O prédio de taipa, o velho sobradão, antiga sede da fazenda Bonilha, abrigou além da escola, na parte de baixo, outras repartições como: cadeia, correio, telégrafo. Era também destinado ao Curral do Conselho, onde se reuniam os escravos visando à libertação, que se tornou oficial com a Princesa Izabel. Em publicação da Inspetoria Geral do Ensino (1907-1908) Santos (1992) relaciona todas as escolas e professores do Município de São Bernardo: escolas providas e escolas vagas. Em 1917, o anuário do Ensino do Estado, preparado pela Diretoria Geral da Instrução Pública citava as demais escolas e professores da região do ABC das quais destacamos apenas o Grupo Escolar da Vila de São Bernardo: Escolas isoladas providas e seus professores de Sede, masculinas: 2ª escola – Cassiano Faria, complementarista; femininas: 2ª escola – Maria Iracema Munhoz, normalista. Sua oficialização reuniu inúmeros documentos e fatos em uma rica linha do tempo..

(17) 55. Alongando o olhar, convém trazer à tona outros episódios pertinentes à reconstrução da história e cada um deles agrega os fatos de sua época, com suas características que identificam os fatos principais. A data exata da criação da escola é difusa, mas, de certeza temos o ano 1921 quando se abriu o 1º Livro Ponto (vide anexo). A história da educação no município de São Bernardo do Campo, então chamado apenas de Vila de São Bernardo, tem início quando se reúne o Conselho da Presidência da Província de São Paulo, com o objetivo de criar Cadeiras de Primeiras Letras. O coronel Francisco Inácio de Souza Queiroz7 apresentou tal reivindicação, estendendo-a a todas as Vilas e lugares notáveis da Província, como o estabelecimento de ordenados para incentivar pessoas capazes para ocuparem esses lugares e uma melhor formação de futuros professores para que pudessem exercer melhor o ensino (Santos, 1992). O casarão serviu por muito tempo como único Grupo Escolar da região, dividindo ainda o espaço com a Delegacia de Polícia, que ficava na esquina, tendo no fundo a cadeia pública; abrigou ainda temporariamente a Coletoria Estadual; serviu de pousada para imigrantes que chegavam a São Bernardo sem destino certo, de Correio e, nos últimos anos, no local da delegacia, um Posto de Saúde até ser desativado, por alegados motivos de insegurança. Para servir de passagem para viajantes, abriram a via plana, larga, reta e central da hoje Marechal Deodoro, criando então, a Freguesia de São Bernardo. O novo espaço ganhara as primeiras casas de taipa, a mais conhecida era o casarão. Com a demolição do casarão, memórias se perderam. A famosa Rua Marechal Deodoro criada à Freguesia de São Bernardo, além de ter ganhado as primeiras casas de taipa socada, era conhecida como o tráfego de viajantes, como o príncipe regente Dom Pedro, que passou por ali, no célebre setembro de 1822, pouco antes de proclamar a Independência. Seu pai, Pedro I, seria abrigado por Bonilha em seu casarão. Em 14 de março de 1846, alferes Bonilha recebeu de Dom Pedro II o título de cavalheiro. O botânico inglês William John Burchell deixou os 7. Coronel Francisco Ignácio de Souza Queiroz lutou ao lado de José Bonifácio de Andrada, quando estudante em Coimbra, contra os franceses que invadiram Portugal. Francisco Ignácio chefiou a célebre Bernarda, movimento que dividiu São Paulo às vésperas da Independência..

(18) 56. mais antigos desenhos deste panorama da Freguesia, quando por aqui passou em princípios de 1827. Muitos documentos, incluindo a data da construção do casarão e da instalação do Grupo Escolar na Vila de São Bernardo, perderam-se no tempo. Suas paredes eram grossas, de taipa (terra batida) e segundo os antigos moradores, teria sido construído por escravos e sua lendária história estaria ligada a um coronel chamado Bonilha. Devido a umas rachaduras surgidas nas paredes por volta dos anos 30, sofreu uma parcial demolição nas partes do fundo, e posteriormente, as atividades escolares foram transferidas para outras dependências na vizinhança, ou seja, para a Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem. Durante sua demolição total em 1953, segundo Barbosa (1980) foi encontrada no forro do sobradão, uma placa com o ano de 1773, não se sabe a que se referia esse ano. O velho casarão tinha seis salas de aula; os meninos freqüentavam as aulas no andar térreo e as meninas, no primeiro andar. O andar térreo serviu também para abrigar a agência do correio e diversos outros serviços públicos.. Figuras 4 e 5: Grupo Escolar – 1930 e Praça Lauro Gomes – 1954. Esse prédio era o Grupo Escolar de São Bernardo e foi demolido nos anos 50. Para se transformar.... ...Na Praça Lauro Gomes Que fica em frente ao prédio de hoje: Escola Estadual Maria Iracema Munhoz. Fonte: Acervo Municipal – o primeiro estabelecimento de ensino, localizado na Praça Lauro Gomes. Quadro montado pelo aluno Leonardo Cardoso, em 2005..

(19) 57. Assim, Santos (1992) conta que na década de 1890, a escola funcionava no Casarão do Alferes Francisco Martins Bonilha, na Rua Marechal Deodoro, esquina com a Tenente Sales, em São Bernardo do Campo, onde é hoje a Praça Lauro Gomes. As figuras 4 e 5 acima nos lembram como era o prédio escolar até 1950, quando foi demolido. Com o falecimento de Bonilha em 1871, suas terras, em São Bernardo, foram adquiridas pelo governo para a implantação de linhas coloniais. Provavelmente, logo após a sua morte, foi instalada, no prédio, a Intendência Municipal que começou a funcionar como Hospedaria dos Imigrantes, Intendências, Câmara Municipal, Seções Eleitorais e o Grupo Escolar. O antigo prédio foi demolido em meados da década de 50 do século passado e construído o atual prédio da Escola Estadual Maria Iracema Munhoz. O autor lança mão do acervo pessoal de Paschoalino Assumpção que, por sua vez, segundo consta no seu livro, foi com quem Santos (1992) conseguiu as informações com a figura 7 do casarão da coleção de Eliziário de Lima. Sobre esse último, não foi possível encontrar nenhuma referência biográfica. Enquanto um novo prédio era construído, as aulas eram ministradas em salas de fundo, pertencentes à Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem. Em 1953 Lauro Gomes, prefeito da cidade na época, findando sua gestão, não hesitou em inaugurar sua obra prima, mesmo inacabada. O prédio inaugurado (atual Iracema) passou a servir de camarim e palco, cedendo seu hall de entrada aos eventos ocorridos na cidade. Era a coqueluche da época, o prédio construído para abrigar alunos de 1ª a 4ª séries. O terreno doado pela prefeitura abrange originalmente as duas áreas verdes laterais: a do lado esquerdo, onde se encontra o Monumento à Trova, reconstruído pelos professores da escola na década de 90. Atualmente funciona ali a sede Central das Escolas de Deficientes Visuais e a do lado direito, atualmente ocupada pelos comerciantes ambulantes. A escola estadual teve seu tempo áureo na década de 60, quando abrigava em uma de suas salas, o consultório dentário para atendimento da criançada e ainda, artistas da época, que se apresentavam em seu hall de entrada para a platéia que se acotovelava no meio da Praça Lauro Gomes..

(20) 58. De antigo Grupo de São Bernardo apenas, tornou-se prédio novo, a Escola Maria Iracema Munhoz, homenagem prestada à professora que lecionou de 1917 a 1918. O seu tempo foi curto na escola, mas teve um papel importantíssimo na educação. Oficialmente contamos o nascimento da escola a partir de 1922. A professora Lúcia Cristóvão Melges que lecionou ali por 19 anos (1980 - 1999) coleciona desde 1987, material interessante que organiza uma rica memória desta escola e contribuiu muito para a presente pesquisa. No anexo 1 e 4, datados de 20 de julho de 1922, apresentam-se Termos de Posse e nomeação dos professores e funcionários na época da Escola Estadual Iracema Munhoz. Considerando-se que se tratava da escola mais antiga do ABC, tem seu mérito, pois grande parte da população do centro de São Bernardo do Campo estudou nela, sendo ainda hoje, uma escola bem conceituada. Pessotti (1981) é muito fiel ao contar sua história, por mais particulares ou corriqueiros que sejam os acontecimentos que vivenciou no Grupo Escolar. Ele era um historiador, um contador de história no melhor estilo. Assim, ele se desculpa por algumas falhas existentes, próprias das limitações da memória, o que mais reforça ainda o nosso respeito pela sua pessoa, pelo seu amor à verdade, pela sua integridade e retidão de caráter, espécime perfeito da antiga e brava gente sãobernardense. Há relatos que reforçam a idéia de que, com esforço e persistência, pode-se ultrapassar limites. Pessotti foi aluno do Iracema, enquanto Grupo Escolar, freqüentando-o até a 4ª série. O ensino básico deu-lhe o conhecimento suficiente, para que ele ousasse a difícil arte da literatura, como contador de histórias. Partindo de suas vivências como aluno da escola e cidadão de São Bernardo do Campo, ele narra o cotidiano dos seus diversos moradores anônimos. Essas informações são importantes, pois, revelam o contexto histórico de uma cidade, seus usos e costumes, sua cultura. Historicamente analisando, com lógica matemática, as datas são próximas dos movimentos da transição educacional do país..

(21) 59. 2.1. Os alunos. Quem eram os alunos do grupo escolar? O povo, de início e até hoje, deveria ser, o alvo “legal” das iniciativas do governo, no entanto, durante um extenso período, boa parte dele ficara excluída do acesso às salas de aula, por motivos diversos que vão desde as condições socioeconômicas, às grandes distâncias que isolavam as famílias, dificultando-lhes o acesso e até a primazia dada aos trabalhos na lavoura em detrimento da formação intelectual. Havia exemplos de proposta de dissolvição de escolas, por apresentarem matrículas e freqüência insuficientes (Souza, 1998) ao lado de outras em que, o número de solicitações de matrícula ultrapassava o primeiro ano, cujas classes içavam lotadas com mais de 60 alunos conforme conta nos relatórios (Rel. GE, ordem 6.935, 1906). Para enfrentar o problema, tornou-se comum à prática do sorteio, que costuma ser utilizado, hoje, em escolas públicas muito concorridas pela localização e qualidade oferecida. Afirma Souza (1998) que não havia a preocupação com as condições sociais dos alunos das escolas públicas; o interesse voltava-se às suas idades e nacionalidade. Notou-se a presença, seja na zona rural ou urbana, um número surpreendente de filhos de estrangeiros em todo o Estado de São Paulo, chegando, a porcentagem de alunos, filhos de pais estrangeiros, em algumas escolas, duas a três vezes superior a dos filhos de pais brasileiros. Souza in Saviani et al (2004) lembra que a escola graduada em 1893, além da organização escolar, gerou novos dispositivos de racionalização administrativa e pedagógica, houve renovação dos processos de ensino pelo método intuitivo (expressão da renovação pedagógica em voga que exigia o uso de diversificados materiais didáticos, incluindo laboratórios e museus) e aos ideais liberais de educação. Dos alunos. era exigida uma rígida disciplina, observada no bom. comportamento verificado pela assiduidade, freqüência, pontualidade, asseio, ordem, obediência, cumprimento dos deveres. De acordo com a autora, o tempo escolar passou a ser regrado pelo calendário, estabelecendo-se o ano letivo e o horário escolar. No entanto, apesar das expectativas positivas, tanto a expansão do ensino como a implantação das instituições modelares ocorreram lentamente..

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Referências

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