• Nenhum resultado encontrado

A SEMÂNTICA DOS PREFIXOS DE- E DIS- PARA AS PALAVRAS DE BASE. PALAVRAS-CHAVE: Prefixos de- e dis-; polissemia; processos de formação de palavras.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A SEMÂNTICA DOS PREFIXOS DE- E DIS- PARA AS PALAVRAS DE BASE. PALAVRAS-CHAVE: Prefixos de- e dis-; polissemia; processos de formação de palavras."

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

A SEMÂNTICA DOS PREFIXOS DE- E DIS- PARA AS PALAVRAS DE BASE

SCHNEIDER, Luizane (FAF) RESUMO: O foco deste trabalho volta-se para as ocorrências dos prefixos de- e dis-. O presente estudo começa com as classificações encontradas nos livros didáticos de ensino da gramática da língua portuguesa. Partindo-se desse ponto, a pesquisa avança com o objetivo de identificar, rever e, por fim, tentar sistematizar os diferentes tipos de influência semântica provocada por esses prefixos nas palavras, quando observadas em contexto. Os primeiros resultados apontam para um tipo de classificação que, ao que tudo indica, vai muito além daquela consagrada pelas gramáticas tradicionais.

PALAVRAS-CHAVE: Prefixos de- e dis-; polissemia; processos de formação de palavras.

1- Introdução: a função da polissemia presente nos prefixos

A multiplicidade de sentidos ou ambiguidade lexical é um tema que, por todos os motivos, interessa retomar aqui. Trata-se de um fenômeno linguístico que, até onde é possível registrar, acontece em todas as línguas.

Assim como acontece com a produtividade lexical, para os dois tipos de ambiguidade lexical (homonímia e polissemia), também não há consenso entre os teóricos sobre como distingui-los com precisão absoluta. Mesmo que a polissemia possa ser definida, conforme Tamba Mècz (2006) e outros, como a multiplicação de significados aparentados de uma mesma palavra; e a homonímia, um caso em que uma “mesma palavra” suporta vários significados sem qualquer relação de proximidade semântica, determinar quando uma palavra é polissêmica ou homônima constitui uma enorme dificuldade.

Embora haja muitas propostas voltadas para tentar estabelecer essa diferenciação, ainda não existem critérios que possam ser considerados consistentes e definitivos. Lyons (1987), por exemplo, embora reconhecendo o valor da etimologia como um caminho distintivo, aponta falhas no método. A mais crucial delas é o fato de ser muito difícil determinar o momento histórico em que uma dada palavra passou a assumir esse ou aquele novo significado. Várias tentativas já foram feitas nesse sentido, mas os resultados e a veracidade dos fatos, por razões diversas, acabaram se tornando pouco ou nada confiáveis. O dinamismo com que as línguas evoluem e as diferentes

(2)

situações cotidianas que se interpõem nesse percurso são os principais entraves para a confirmação de tais resultados.

Dubois (2004, p.326) também tenta dar a sua contribuição, definindo homonímia como sendo uma “palavra que se pronuncia e/ou se escreve como outra, sem ter o mesmo sentido”. Mas, afinal, o que seria esse tal “sentido” a que o autor se refere?

Historicamente, a ambigüidade lexical, hoje é estudada com maior atenção, nem sempre foi um fenômeno apreciado. Ao longo da história, muitos a censuraram. O primeiro deles e, talvez o mais importante de todos, foi Aristóteles (apud ULLMANN, 1964). Para o filósofo, as palavras de significado ambíguo serviam, sobretudo, para permitir ao sofista desorientar os seus ouvintes; ou seja, um obstáculo para a comunicação. Segundo Basílio, se não fosse possível atribuir vários sentidos às palavras e morfemas da língua, nossa memória estaria sobrecarregada. Para ela (1991, p.10).

(...) formamos palavras pela mesma razão que formamos frases, o mecanismo da língua sempre procura atingir o máximo de flexibilidade em termos de expressão simultaneamente a um mínimo de elementos estocados na memória. É essa flexibilidade que nos permite contar com um número gigantesco de elementos básicos de comunicação sem termos que sobrecarregar a memória com esses mesmos elementos.

Se já chama à atenção a capacidade que muitas palavras têm de suportar sentidos variados, mais intrigante é perceber que esse recurso não se restringe às palavras na sua acepção mais clássica. Prefixos e sufixos, em maior ou menor escala, também são suscetíveis ao fenômeno.

2- Percurso gramatical do prefixo de-

Como este trabalho trata-se de uma sondagem inicial, especialmente de cunho gramatical, em relação aos sentidos admitidos pelos prefixos de- e dis-, listam-se a seguir esses teores semânticos.

A Gramática Histórica de Coutinho (1976, p. 177) classifica o de- como pertencente à lista de prefixos oriundos do latim. Semanticamente, envolve ideia de direção para baixo, origem, afastamento, separação, intensidade, sentido contrário. O

(3)

autor cita os seguintes exemplos: declive, depor, decapitar, deportar, decrescer, decompor, demover.

Em Faraco & Moura (1999, p. 168) o prefixo de- refere-se a movimento de cima para baixo. Listam os exemplos: decair e decrescer

Já para Cunha & Cintra (2007, p. 99) o prefixo de- assinala a ideia de movimento para baixo. Decair e decrescer são os exemplos enumerados pelos autores.

3- Percurso gramatical do prefixo dis-

Em relação ao prefixo dis-, Coutinho (1976) mescla dois prefixos: o dis-, e o di-. Remete-os à ideia de dualidade, divisão em duas partes, separação, movimento em vários sentidos, afastamento, cessação, negação, falta, intensidade. Ocorrem muitos exemplos com os prefixos citados: dissecar, disjungir, dissentir, disseminar, discutir, dissidente, disforme, dissabor, distender, digerir, dilacerar, divagar, distilar.

Coutinho (1976) trata do dis- e do di-. Esses prefixos encerram a ideia de dificuldade e significa duas vezes. São citadas as palavras dispesia, dispneia, disenteria, disuria e dissílabo, díptero e diedro para exemplificar.

Faraco & Moura (1999, p. 168) demonstram que há um prefixo dis- de origem grega e que indica dificuldade. Usam as palavras dispneia e disenteria para exemplificar.

Faraco & Moura (1999, p. 169) referem-se conjuntamente aos prefixos dis-, di- e ainda o dir-. Para os autores, esses prefixos remetem a ideia de separação, movimento para diversos lados, negação. Utilizam-se dos seguintes vocábulos para ilustrar os teores semânticos dos prefixos em destaque: dissidente, distender, dilacerar e dirimir.

Cunha & Cintra (2007, p. 99) colocam no mesmo grupo os prefixos dis-, di- e dir-. Segundo os autores, referem-se à ideia de separação, movimento p€ara diversos lados, negação. Citam as seguintes palavras: dissidente, distender, dilacerar, dirimir.

Cunha & Cintra (2007, p. 101) mencionam um prefixo dis- originado do grego e que indica dificuldade e mau estado. São exemplos desses teores semânticos as palavras dispneia e disenteria.

(4)

4 - Uma trajetória diacrônica de alguns prefixos

De imediato, percebe-se uma mistura de alguns prefixos apresentados pelas gramáticas. Não há uma divisão clara para cada teor semântico, especialmente do prefixo dis-. Pressupõe-se que essa dificuldade decorre em relação à origem dos prefixos. Pode-se dizer que, em alguns casos, ocorre o processo de alomorfia ou em outros casos, poder-se-ia recorrer ao viés diacrônico para verificar a real origem do prefixo.

Viaro, em seu livro Por trás das Palavras (2004), enumera alguns fenômenos diacrônicos que explicam alguns casos. Para o autor, é difícil distinguir sincronicamente os prefixos des-/ de-/ dis-. Esse caso seria parecido com a múltipla origem pronome/conjunção que.

No entanto, segundo Viaro, é possível perceber que:

 Há um prefixo dis- provindo do latim (palavras de origem culta, como em discernir);

 Há um prefixo dis- provindo do grego dys- (antigamente se escrevia com y), como em disenteria;

 Há um prefixo de- provindo do latim, como em decapitar;

 Há um prefixo di- variante (ou, se quiser, "alomorfe") do dis- latino (dis+facilis > difficilis > difícil, com assimilação e metafonia. Este prefixo é distinto do di- que indica número dois (que é de origem grega, pois em latim seria bi-): por exemplo, dicotomia.

Nesta sondagem inicial é importante verificar essas peculiaridades dos prefixos em voga para que fiquem claras estas variações de origem, seja grega ou latina, bem como as possíveis ocorrências de alomorfia.

5- Considerações finais

Os motivos desencadeadores desse novo processo de pesquisa se devem à continuidade de investigação iniciada no mestrado em Letras a partir do prefixo des-. Busca-se, neste momento, investigar novos prefixos.

(5)

Elegeram-se os prefixos de- e dis-, uma vez que em algumas palavras investigadas com o morfema des-, esses elementos vieram à tona, como em degelo, por exemplo.

Desse modo, a investigação linguística que se propõe desenvolver tem o objetivo geral de analisar a questão da produtividade lexical a partir de uma perspectiva semântica, relacionada ao aspecto polissêmico e/ou multifuncional dos processos de formação de palavras.

São inúmeras as dúvidas que emergem e que nos motivam a investigar esses dois novos prefixos.

Assim, a pesquisa pretende tomar os seguintes rumos a fim de propor uma sistematização atualizada dos prefixos de- e dis-. Pretende-se eleger um corpus com ocorrências em contexto dos prefixos a serem analisados, investigar, de modo aprofundado as possíveis origens do prefixo dis- , identificar processos de alomorfia entre outros pontos que suscitarem no decorrer do desenvolvimento dessa nova investigação linguística.

Referências bibliográficas

ALVES, Ieda. Neologismo: Criação Lexical. São Paulo: Ática, 1990.

BASILIO, Margarida. Estruturas lexicais do português: uma abordagem gerativa. Petrópolis: Vozes, 1980.

______. Formação e classe de palavras no português do Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.

______. Teoria Lexical. São Paulo: Ática, 1991.

CABRAL, Leonor Scliar. Introdução à Lingüística. Porto Alegre: Globo, 1974. CRUSE, D. A. Lexical Semantics. Cambridge University Press, 1986.

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ed. Ao Livro técnico, 1976.

CUNHA, Celso Ferreira da; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 4. ed. Rio de Janeiro: Lexikon Editora Digital, 2007.

(6)

DUBOIS, J. et all. Dicionário de Lingüística. São Paulo: Cultrix, 2006. FARACO, C. E; MOURA, F. M. Gramática. São Paulo: Ática, 1999. .

LYONS, John. Introdução à Lingüística Teórica. São Paulo: Nacional, 1979. ______. Semântica I. Lisboa: Editorial Presença, 1977.

ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Estruturas morfológicas do português. Belo Horizonte: Ed.UFMG, 1998.

SACCONI, Luiz Antonio. Nossa Gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1984. TAMBA-MÈCZ, Irène. A Semântica. São Paulo: Parábola, 2006.

ULLMANN, Stephen. Semântica – uma introdução à ciência do significado. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1964.

Referências

Documentos relacionados

A autoavaliação consiste em processos de avaliação cíclica dos resultados da instituição, como um todo, no sentido de aferir o cumprimento da sua missão e objetivos.

In conclusion, this study confirms the circulation of the hep- atitis E virus and shows a high frequency of HEV infection in pigs of different ages raised for slaughter in the rural

(grifos nossos). b) Em observância ao princípio da impessoalidade, a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, vez que é

Após a colheita, normalmente é necessário aguar- dar alguns dias, cerca de 10 a 15 dias dependendo da cultivar e das condições meteorológicas, para que a pele dos tubérculos continue

Os resultados revelam que os estudantes apresentaram dificuldades na elaboração dos mapas conceituais devido a não utilização deste instrumento no processo de ensino, porém

Portugal registou hoje o número mais alto de novos casos diários desde o início da Pandemia (10.698) e 148 óbitos, de acordo com o boletim diário da Direção Geral da

53, de 13 de Junho de 2016 - Aprova o Projeto de Loteamento denominado Loteamento José Borges de Novais localizado na Sede de Jussiape/BA de propriedade do Senhor Aécio Silva