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CONTRAORDENAÇÕES RODOVIÁRIAS. Manuel Ferreira Antunes 1

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CONTRAORDENAÇÕES RODOVIÁRIAS Manuel Ferreira Antunes1

1.O Código da Estrada de 1954, aprovado pelo DL 39.672, de 20/03/1954, foi revogado pelo DL 114/94, de 03/05, que, na sequência da autorização legislativa, efetuada pela Lei 63/93, de 21/08, aprovou o Código da Estrada de 1994, que hoje temos.

Que hoje temos, entenda-se, depois de ter sido objeto de 22 versões, tendo a última delas sido operada pelo DL 107/2018, de 29/11, que alterou, no que aqui importa, os artigos 169 e 185-A, do Código da Estrada e transferiu competências para os órgãos municipais no domínio do estacionamento público. O que adiante iremos expor enquadra-se, pois, no texto do Código da Estrada [CE] de 1994, já com essas 22 versões2.

Na versão de 1994, introduziu-se no CE, --por via do artigo 3º, nº2, da citada Lei 63/93, de 21/08, que definiu o sentido e extensão da autorização legislativa--o sancionamento dos ilícitos estradais, com a natureza de contraordenações, punidos com a respetiva coima, contrastando com o passado do CE de 1954, cujos ilícitos tinham a natureza de transgressões ou contravenções3, sancionados com multa transgressional.

Na versão original, de 1994, o legislador estabeleceu desde logo algumas regras próprias do regime das contra-ordenações rodoviárias ou estradais, nomenclatura que usaremos indistintamente, no Capítulo III, designado «disposições processuais», abrindo a Secção I, sobre as «regras do processo» --entenda-se contra-ordenacional--, sendo, a Secção II reguladora do procedimento de fiscalização da condução sobre a influência do álcool ou de estupefacientes, a Secção III sobre as apreensão de documentos, a Secção IV sobre a apreensão de veículos, A secção V regulando o abandono e remoção de veículos, no âmbito da qual já se continham normas especiais sobre as hipotecas (artigo 169), as penhoras (artigo 170)4 e sobre o usufruto, locação

financeira e reserva de propriedade (artigo 171).

1 Juiz de Direito, no Tribunal Administrativo de Círculo de Sintra

2 O texto legal à luz do qual agora nos pronunciámos é o resultado das alterações introduzidas pelos seguintes

diplomas legais: -DL 107/2018, de 29/11, (22ª versão, a mais recente), -DL 151/2017, de 07/12, -Lei 47/2017, de 07/07, -DL 40/2016, de 29/07, -Lei 116/2015, de 28/08, -Lei 72/2013, de 03/09, -DL 138/2012, de 05/07, -DL 82/2011, de 20/06, -Lei 46/2010, de 07/09, -Lei 78/2009, de 13/08, -DL 113/2009, de 18/05, -DL 113/2008, de 01/07, -DL 44/2005,de 23/02, -Lei 20/2002, de 21/08, -Rect. 19-B/2001, de 29/09, -DL 265-A/2001, de 28/09, -Rect. 13-A/2001, de 24/05, -DL 162/2001, de 22/05, -Rect. 1-A/98, de 31/01,-DL 2/98, de 03/01, - DL 214/96, de 20/11, e DL 114/94, de 03/05 (a 1ª versão).

3O termo transgressão ou contravenção era usado indistintamente. A contravenção era definida pelo artigo 3º, do

CP de 1886 [que vigorou até ao CP de 1982] como sendo «o facto voluntário, que unicamente consiste na violação, ou na falta de observância das disposições preventivas das leis e regulamentos, independentemente de toda a intenção maléfica». O artigo 1º o mesmo CP/1886 definia que «crime ou delito é o facto voluntário declarado punível pela lei penal». Durante anos coabitaram três tipos de ilícitos em Portugal: crime, transgressão e contra-ordenação [por esta ordem de gravidade] o que era considerada uma coisa estranha pela doutrina.

4Atente-se que o CE/1994 (artigo 2º do DL preambular) não revogou, na altura, o DL 54/75, de 12/02. Atente-se ainda

no DL preambular do CRBM, aprovado pelo DL 277/95, de 25/10, cujo artigo 17 (não revogado), entre o mais, regula como e quem procede à penhora.

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No que respeita às disposições processuais, o artigo 152, do CE de 1994, estabelecia que às contra-ordenações [CO] previstas neste código e seu regulamento são aplicáveis as normas gerais que regulam o processo de contra-ordenações, com as adaptações constantes dos artigos seguintes. E logo ali estabelecia no nº 2 que se o mesmo facto constituísse simultaneamente crime e contraordenação, a aplicação da sanção acessória nos termos do artigo 138, nº1, seria da competência do tribunal competente para o julgamento do crime.

Muito importante era já o artigo 153, que regulava a matéria dos autos de notícia e estabelecia nos seus nºs 4 e 5, respetivamente, que o auto de notícia levantado nos termos ali definidos faz fé sobre os factos presenciados pelo autuante, até prova em contrário [fé em juízo “juris tantum”], o mesmo valendo para os elementos de prova obtidos através dos aparelhos e instrumentos aprovados nos termos legais e regulamentares. Esta tomada de posição do legislador é tão mais importante quanto é certo que o problema da força probatória dos autos de notícia tinha sido de acesas discussões, nos anos 70 e 80, e sobretudo antes do Código de Processo Penal [CPP] de 1987, aprovado pelo DL 78/87, de 17/02.

Visto que esta matéria também interessa ao tema, como adiante se verá, no regime atual, a que já iremos, e tem iminente utilidade prática no dia-a-dia, aproveitamos desde já para acrescentar algumas considerações, a seu respeito.

Uma grande parte de juristas, num tempo em que o vendaval ideológico que se seguiu ao 25/04/1974, ainda não tinha amainado, defendia que os autos de notícia não faziam fé em juízo, porque, por um lado, os polícias não eram confiáveis, e, sobretudo, por outro, uma tal força probatória violava diversos princípios constitucionais, estando à cabeça o princípio da presunção de inocência e os seus corolários. Pelo que, havia opiniões várias, que iam desde a força plena, até à quase força nenhuma, à mera força como se de um documento particular se tratasse, passando pela força de fé pública até prova em contrário [fé “juris tantum”].

Entretanto, foram sendo interpostos inúmeros recursos, quer para os tribunais comuns superiores, quer para o Tribunal Constitucional. E surgiu o CPP de 1987, cujo artigo 243, servia, e ainda serve, de base à definição do que caracteriza um auto de notícia, e cuja força probatória, no processo penal, também se questionava.

À luz do artigo 243, do CPP, o auto de notícia caracteriza-se por dois elementos: a presencialidade, e a idoneidade pública do autuante. São estes os dois elementos nucleares que definem se nos encontramos ou não perante um auto de notícia.

Ora, um agente da autoridade, ou seja, um órgão de policia criminal, ou «outra entidade policial», ou um procurador ou um juiz, ou seja, uma autoridade judiciária, referidos nesse artigo 243, e definidos no artigo 1º, nº 1, ambos do CPP, para o legislador, são considerados dotados de idoneidade pública, pelo que, se, no caso, o agente policial

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presenciar um acontecimento delituoso, percecionando-o através dos seus sentidos, e levantar ou mandar levantar auto de notícia, quer dizer, reduzindo-o a escrito, onde relata os factos que presenciou, então encontramo-nos perante um auto de notícia. Ora, assim sendo, um auto de notícia é, como outros documentos, um documento autêntico, porque obedece à definição de documento autêntico, nos termos dos artigos 362 e 363, do Código Civil [CC]. Lembro-me que, ainda em 1989, com o CPP muito fresco, detetamos dois entendimentos, um, cuja defesa se costumava atribuir ao Senhor Juiz Conselheiro Robalo Cordeiro, e outro ao Senhor Procurador Lopes do Rego, ambos então docentes no CEJ, segundo o primeiro dos quais o auto de notícia era um documento autêntico mas, ainda assim, não devia ter força plena mas sim fazer fé até prova em contrário, e segundo a outra corrente o auto de notícia fazia prova plena, que lhe era atribuída expressamente pelo artigo 169, do CPP, em conjugação com o artigo 99, do mesmo, que define que um auto «é o instrumento destinado a fazer fé» e com a definição de documento autêntico contante dos artigos 362 e 363, do CC.

Pois bem. Prevaleceu, com a “ajuda” do Tribunal Constitucional expressa em diversos Arestos, que recusou a inconstitucionalidade5, a doutrina de que o auto de notícia faz fé

em juízo até prova em contrário, quanto aos factos presenciados, não violando o princípio da presunção de inocência ou qualquer outro da Constituição.

E assim temos o nosso artigo 153, do CE de 1994, que logo na sua versão original, como também na versão atual [artigo 170], estabelece a referida força probatória “juris tantum” dos autos de notícia.

2.Terminado este breve apontamento, vamos agora às contra-ordenações rodoviárias ou estradais à luz do CE na versão atual, que é a que agora releva, o qual, para maior facilidade e economia da mensagem, de ora em diante, diremos Código da Estrada [CE]. O Código da Estrada atual, tal como o anterior, vai estabelecendo as regras estradais, ao longo dos seus capítulos, e ao mesmo tempo vai sancionando a respetiva violação com a punição.

E o legislador não perdeu tempo: começou logo no artigo 3º do CE, no âmbito do princípio da liberdade de circulação, a punir com a coima de 300 a 1500 euros, se sanção mais grave não for aplicável por força de força de outra disposição legal, quem praticar atos com intuito de impedir ou embaraçar a circulação de veículos a motor.

5 A o valor probatório de fé em juízo até prova em contrário (ou juris tantum) foi repetidamente confirmado, nomeadamente, pelos Acórdãos do TC, de 25/3/87 (BMJ, 365, 393), de 8/4/87 (BMJ, 366, 216), de 6/5/87 (BMJ, 367, 224), de 10/6/87 (BMJ, 369, 258), de 3/2/88 (BMJ, 374, 100), de 7/2/90 (BMJ, 394, 148), no sentido de que: -não ofende o princípio da presunção de inocência; nem o princípio da acusação; nem qualquer outro princípio constitucional.

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Não iremos debruçar-nos sobre os concretos ilícitos contra-ordenacionais [CO], os inúmeros ilícitos, tipificados ao longo do Código. Nem isso seria viável aqui, nem útil. Vamos debruçar-nos já de seguida, sobre alguns preceitos legais do Título VI, do CE, que tem a epígrafe «da responsabilidade» (artigos 131 e seguintes, do CE), saltaremos o Título VII, relativo aos procedimentos de fiscalização, e incidiremos sobre o Título VIII, que versa sobre o processo contraordenacional em matéria rodoviária.

O referido Título VI, que versa sobre a «responsabilidade», abre com o artigo 131, que, inserido nas «disposições gerais», que dá nome ao Capítulo I, nos dá o conceito de contra-ordenação [CO]6, deste modo: «Constitui contraordenação rodoviária todo o

facto ilícito e censurável que preencha um tipo legal correspondente à violação de norma do Código da Estrada ou de legislação complementar e legislação especial cuja aplicação esteja cometida à ANSR7, e para o qual se comine uma coima».

Importa referir que este conceito de contra-ordenação corresponde, na essência, à noção que nos é dada pelo artigo 1º do RGCO, aprovado pelo DL 433/82, de 27/10. O legislador entendeu repetir no CE o conceito de contra-ordenação, já definido pelo artigo 1º do regime geral, cremos nós, por razões de pragmatismo, pois, por um lado, não faria sentido definir aqui, de modo diverso, um ilícito que já se encontra definido pela referida “Lei-Quadro” das contra-ordenações. E não faria sentido, a nosso ver, que o legislador apresentasse aqui --e, porventura, também em cada um dos já muitos “regimes gerais”, “especiais”8, passe o aparente paradoxo, paralelos ao RGCO, que neste

momento existem no nosso ordenamento jurídico—, um conceito de contra-ordenação essencialmente diverso do que já consta do Regime Geral.

O conceito de CO pode definir-se, de um ponto de vista formal, à semelhança da definição formal de crime ou ilícito criminal.

Podendo dizer-se que o crime consiste no facto, típico, ilícito, culposo e punível, pode também dizer-se que a contra-ordenação consiste no facto, típico [descrito no “tipo legal”], ilícito, e culposo [“censurável”] [e punível?].

Nesta definição de crime e de contra-ordenação, se sintetiza, respetivamente, toda a teoria do crime, e o que chamamos a teoria do ilícito contra-ordenacional. É, assim, com base neste conceito, ou conceitos, determinantes, que se desenvolve, depois, toda a

6No CE de 1994, versão original, cfr o artigo 135 (e seguintes), o CE não definia o conceito de CO, apenas se dizia que

as infrações tinham natureza de «contra-ordenação» e se remetia a punição e o processamento para a «respetiva lei geral», ou seja, para o RGCO, aprovado pelo DL 433/82, de 27/10, cujo artigo 1º define que «constitui contra-ordenação todo o facto ilícito e censurável que preencha um tipo legal no qual se comine uma coima».

7 Acrónimo ou sigla de Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária.

8 Os regimes das CO tributárias (do RGIT: DL 15/2001, de 05/06; e RGIFNA: DL 20-A/90 de 15/01), laborais, em matéria

de saúde, económicas, ambientais, em matéria financeira, sem esquecer, ainda, as CO da segurança social, de publicidade, agora as do alojamento local, das infrações urbanísticas, dos contratos públicos, da aeronáutica, enfim, vários regimes gerais, e alguns regimes que não sendo gerais vão apresentando normas especiais adequadas a cada setor.

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problemática, atinente ao facto ou conduta do agente infrator [e o que são factos], à tipicidade [vg: a determinação do tipo legal face a concursos de normas; os elementos objetivos do tipo; os elementos subjetivos do tipo –dolo ou negligência--, o erro, etc]; a ilicitude [vg: as causas de exclusão da ilicitude e de novo o erro, agora sobre a ilicitude]; a culpa [vg: as causas de exclusão da culpa, a inimputabilidade, e de novo o erro, agora relativo a culpa]; e finalmente a punibilidade [vg: as condições objetivas de punibilidade, de que seria exemplo a queixa, em matéria criminal. E depois ainda o concurso de ilícitos e o ilícito na forma continuada, o ilícito de execução permanente ou de efeito permanente; e a questão da medida abstrata e concreta da sanção.

Pelos tópicos que acabamos de referir pode ver-se que a maior parte das questões decisivas com que se debatem, nos processos, os operadores judiciários, em particular os Advogados e os Magistrados, passam por algum ou alguns destes aspectos.

Importa ainda referir, quanto a este conceito formal de CO, que o problema da punibilidade não se coloca, em princípio, --salvo se o legislador vier especialmente a consagrar na lei de modo diferente do atual--, em matéria de contra-ordenações, sejam as CO em geral sejam a CO rodoviárias, porque as contra-ordenações, por regra, ao contrário dos crimes, não estão sujeitas a condições objetivas de punibilidade, ou seja, a circunstâncias estranhas e exógenas ao tipo legal incriminador, que já se encontra perfeito pelo preenchimento dos seus elementos, mas das quais dependa o seu sancionamento, como seria o exemplo da queixa ou da queixa e acusação particular. Com efeito, nenhuma contra-ordenação carece de uma queixa ou acusação particular, ao contrário de certos crimes, para ficar perfeita e ser punida. A punição da CO rodoviária, como de a todas as outras CO em geral, nunca está dependente de queixa ou de queixa e acusação particular de um “lesado”, ao contrário do que sucede no crime. Dito de outro modo, as CO rodoviárias, como todas as outras CO em geral, nunca possuem natureza semi-pública [dependência de queixa] ou particular [dependência de queixa e acusação particular], nem existe um qualquer titular de um “direito de queixa”, pois todas elas possuem natureza pública [basta o conhecimento oficioso]. Daqui se retira, por isso, que, em matéria de CO, rodoviárias ou outras, nunca é possível uma qualquer desistência de queixa, nem a correspondente homologação da desistência de queixa. Importa salientar este apeto, pois, na prática, surgem por vezes pedidos de homologações de supostas desistências de procedimento contra-ordenacional. E até pedidos de diligências para que se apure e confirme uma desistência. Ora, tal é legalmente impossível e consequentemente as diligências seriam inúteis. Deve dizer-se que, a expressão legal utilizada pelo legislador na definição de CO rodoviária, «cuja aplicação esteja cometida à ANSR», não constitui um verdadeiro elemento do conceito de ilícito CO. Esse segmento do conceito está conexionada com a

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expressão «violação de norma do Código da Estrada ou de legislação complementar e legislação especial», legislação essa «cuja aplicação esteja cometida à ANSR».

Embora, a nosso ver, não fazendo parte do tipo legal, nem constituindo uma condição objetiva de punibilidade, no sentido de que a CO só seria punível se a aplicação da norma do CE, legislação complementar e especial «estivesse cometida à ANSR», é importante referir que este segmento e expressão, também a nosso ver, constitui uma delimitação subjetiva do âmbito [ou extensão] do conceito de contra-ordenação rodoviária. Deste modo, pode dar-se o caso de essa exigência, de que a aplicação da norma típica «esteja cometida à ANSR», configurar uma espécie, rara tanto quanto sabemos, de condição subjetiva delimitativa de punibilidade.

Ou seja, se o tipo legal tem de corresponder à violação de uma norma do Código da Estrada ou de uma norma de legislação complementar ou de uma norma de legislação especial, mas, ainda assim, a sua aplicação tenha de estar cometida «à ANSR», segue-se que, se a aplicação da norma estiver cometida a outra entidade diversa da ANSR, o ilícito CO --que por hipótese esteja consumado e, nessa medida perfeito--, não pode ser punido, pelo menos, como CO rodoviária, porque a aplicação da norma violada pelo infrator não está cometida «à ANSR».

As contraordenações rodoviárias são reguladas pelo disposto no CE, pela legislação rodoviária complementar ou especial que as preveja e, subsidiariamente, pelo regime geral das contraordenações [artigo 132, do CE].

Também, nas contraordenações rodoviárias, a negligência é sempre sancionada [artigo 133, do CE].

O artigo 134, do CE, é também uma norma de extraordinária importância, porque versa sobre o problema do chamado concurso de infrações, entre crimes e contra-ordenações, estabelece de forma clara a competência do tribunal em tais casos e contém uma regra importante relativa ao concurso de contra-ordenações rodoviárias e ao cúmulo das sanções9.

9Acórdão do TRC de 08.03.2017: I - Desde que verificados os pressupostos da responsabilidade civil por facto ilícito

(ou pelo risco), o dano decorrente da supressão da vida de nascituro é direta e autonomamente indemnizável. II - Sendo o nascituro um ser humano em gestação, a quantificação do referido dano justifica, comparativamente com o atribuível a uma criança de relação, um menor valor. III - Seguindo as regras da boa prudência, do bom senso prático, da justa medida das coisas e da criteriosa ponderação das realidades da vida, estando em causa a perda da vida de um nascituro com cerca de 8 meses, para ressarcimento do dano considerado, é equitativa a indemnização, a cada um dos progenitores, de 25.000,00 euros. IV - Perante um comportamento que, em simultâneo, configura contraordenação e um dos crimes previstos na al. a) do artigo 69.º do CP, esgotando a prática do ilícito penal o significado, efeito, ou ilicitude da contraordenação, por forma a que possa entender-se que a consome, a sanção acessória de inibição de conduzir a aplicar deve ser decretada com base naquela norma, sob pena de violação do princípio ne bis in idem.

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Assim, se o mesmo facto constituir simultaneamente crime e contraordenação, o agente é punido sempre a título de crime, --que consome a CO--, mas é aplicável, ainda assim, também a sanção acessória prevista para a contraordenação, que compete ao tribunal competente «para o julgamento» do crime --e não, vg, ao tribunal da instrução-- aplicar. Nas CO rodoviárias vigora a regra do cúmulo material das sanções contra-ordenacionais. As sanções aplicadas às CO rodoviárias que se encontrem numa relação de concurso, são sempre cumuladas materialmente. O que significa que, não se tratando de cúmulo jurídico mas de cúmulo material de coimas ou de coimas e sanções acessórias, é sempre aplicada a ‘soma’ das coimas concretas, mais as sanções acessórias que ao caso couber. O artigo 135, do CE, define quem é o responsável pelas contra-ordenações rodoviárias. Trata-se de uma forma de responsabilizar terceiros mais pelo pagamento das coimas do pelo cometimento, sob qualquer forma de comparticipação delituosa. No entanto, deve salientar-se a responsabilização quer das pessoas coletivas quer de pessoas singulares, nomeadamente por CO cometidas por menores e outros dependentes.

As contraordenações rodoviárias obedecem a uma classificação legal tripartida: são leves, graves ou muito graves, nos termos dos respetivos diplomas legais. São consideradas leves as CO sancionáveis, portanto, em abstrato, apenas com coima; e são graves ou muito graves as CO que forem sancionáveis com coima e com sanção acessória [artigo 136, (e 138-1), do CE].

Por outro lado, as coimas aplicadas, ou seja, as coimas concretas, por contraordenações rodoviárias não estão sujeitas a qualquer adicional, e do seu produto não pode atribuir-se qualquer percentagem aos agentes autuantes [artigo 137, CE].

Quanto à determinação da medida concreta da sanção, quer se trate de coima, quer de sanção acessória, também o CE possui regra própria. Trata-se do regime constante do artigo 139, e também em alguma medida do artigo 140, ambos do CE. Por conseguinte, só há que recorrer ao RGCO, com vista à determinação da medida concreta da coima ou da sanção acessória, se a norma especial do CE não der a resposta adequada.

A norma determinante, nesta matéria, é a do artigo 139, do CE, pois, a norma do artigo 140, do mesmo diploma, apenas constitui uma delimitação dos mínimos e máximos da sanção acessória.

Ora segundo o regime estabelecido por este artigo 139, CE, --que é especial em relação à norma do artigo 18, do RGCO--, «a medida e o regime de execução da sanção determinam-se em função da gravidade da CO e da culpa, tendo ainda em conta os antecedentes do infrator relativamente ao diploma legal infringido ou aos seus regulamentos».

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Na «fixação do montante» da coima, deve atender-se à gravidade da CO e da culpa, tendo em conta os antecedentes do infrator relativamente ao diploma legal infringido ou aos seus regulamentos, e a situação económica do infrator, quando for conhecida. Quando a CO for praticada no exercício da condução, além dos critérios referidos, deve atender-se, como circunstância agravante, aos especiais deveres de cuidado que recaem sobre o condutor, designadamente quando este conduza veículos de socorro ou de serviço urgente, de transporte coletivo de crianças, táxis, pesados de passageiros ou de mercadorias, ou de transporte de mercadorias perigosas.

Primeira observação: resulta deste preceito que o [triplo] critério estruturante é o da gravidade da CO, da culpa do agente da infração e dos antecedentes. Antecedentes, diz o legislador, relativos ao respetivo diploma legal infringido, pelo que, aparentemente e em princípio, não relevam outros antecedentes, por exemplo criminais, exógenos ao diploma legal infringido. Tais antecedentes, assim reportados ao diploma concretamente infringido, terão de ser antecedentes, a nosso ver, de cariz “rodoviário”. Mas resta saber se os antecedentes de cariz “rodoviário”, não relativos a ilícitos CO, e antes relativos a ilícitos criminais rodoviários, --aqui se podendo falar, por exemplo, do crime de condução sem habilitação, do crime de homicídio negligente, do crime de condução sob efeito do álcool, ou de estupefacientes, do crime de condução perigosa —, integram ou não integrar os antecedentes aqui em questão.

Estamos em crer que o legislador quis, com esta técnica de regulação e de expressão, abranger apenas os antecedentes do infrator relativamente ao concreto diploma legal infringido ou seus regulamentos, entenda-se, reportados a infrações contra-ordenacionais, e não também aos crimes rodoviários constantes do Código Penal ou de outros diplomas. Do ponto de vista dogmático e de justiça relativa, cremos que não repugnaria que, em matéria criminal pudessem relevar os antecedentes CO estradais, bem como em matéria CO estradal pudessem relevar os antecedentes criminais por cometimento de crimes rodoviários. No entanto, do ponto de vista pragmático, a recolha desses elementos e a sua concatenação traria, por ventura, mais inconvenientes do que vantagens, quer de punição quer de prevenção.

Não deixa de ser curioso que este artigo 139-1, do CE, fala em «medida» da sanção e em «regime de execução da sanção», dizendo que uma coisa e outra se determinam em função do triplo critério da gravidade da CO e da culpa, tendo ainda em conta os antecedentes.

Ora, se podemos compreender facilmente que a medida concreta da coima ou da sanção acessória se determina em função da gravidade do ilícito, [o que nos é dado em regra pelo tipo legal], e pela culpa concreta do agente, [que nos é dada pelo respetivo grau de dolo e pela negligência], como já resulta do RGCO [artigos 17 e 18] e subsidiariamente do Código Penal [artigo 71], já no que tange à determinação do

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«regime da execução da sanção» em função da gravidade do ilícito, da culpa do infrator e dos antecedentes deste, temos alguma dificuldade em entender, e, mais ainda, de entender o porquê desta técnica legislativa rebuscada, apesar das 24 alterações do CE desde 1994.

Com efeito, a nosso ver, por razões lógicas e até por imperativos constitucionais, não parece que compita ao aplicador-julgador estabelecer ou determinar «o regime» da execução da coima ou da sanção acessória, nem, bem assim, que o determine em função da gravidade do ilícito, da culpa e dos antecedentes CO do infrator.

O que o julgador da CO faz é aplicar o regime de execução pré-estabelecido na lei, de forma objetiva e igual para todos, ou, no caso de haver vários regimes legais de execução, escolher o regime legal mais adequado às finalidades da execução. Neste caso, não se tratará, porém, de determinar um regime de execução em função da gravidade, da culpa e dos antecedentes do infrator, como o preceito parece sugerir, mas sim de escolher o regime de execução pré-existente mais adequado, no caso de haver mais do que um.

Embora o artigo 139-1, do CE, em apreço, já englobe, a nosso ver, a indicação dos critérios da determinação não só das coimas mas também das sanções acessórias, o seu nº 2 refere-se expressa e exclusivamente à «fixação do montante» da coima, estabelecendo que, nessa fixação, se deve atender à gravidade da CO e à culpa do infrator, tendo em conta os antecedentes deste relativamente ao diploma infringido, apenas acrescentando a situação económica do mesmo, quando for conhecida. Mais uma vez, o legislador utiliza uma técnica e uma terminologia que, a nosso ver, em nada abona em clareza, podendo frustrar os fins de pragmatismo, de desburocratização, simplificação, agilização, e de celeridade e contribuir para dúvidas e erros de aplicação que depois se repercutem em litígios quer junto da Autoridade Administrativa, quer junto dos tribunais, no âmbito do respetivo recurso.

Com efeito, o legislador fala em «fixação do montante» da coima, mas, a «medida concreta» de uma coima não se determina «fixando» um montante, pois, o «montante» fixado a final tem de ser, necessariamente, o resultado de uma operação que, partindo da moldura abstrata, formada pelo montante mínimo e pelo montante máximo da coima, prevista no tipo legal sancionador, obtém a determinação desse «montante» --que é o quantum da coima concreta a aplicar--, através da ponderação, aí sim, em função da gravidade do ilícito, do grau da culpa, dos antecedentes, e agora também da situação económica do infrator arguido.

Em suma, a expressão legal, «na fixação do montante» da coima, tem de ser entendida como querendo dizer «na determinação» do quantum da medida concreta da coima, deve atender-se à gravidade do ilícito CO, ao grau da culpa, aos antecedentes do infratos, e ainda, à situação económica do infrator se for conhecida.

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Esta expressão «se for conhecida» induz a ideia de que a Autoridade competente não tem de diligenciar oficiosamente quanto à situação económica do infrator. Terá de ser este, em sede de audição e defesa, a apresentar a sua situação económica, se nisso tiver interesse. E pode ter como pode também não ter.

O artigo 139-3, do CE, apesar do já acima visto, quanto à medida concreta das sanções das CO rodoviárias, estabelece ainda mais um critério, este específico para determinados cidadãos, dizendo que, quando a CO for praticada no exercício da condução, [aqui induz a ideia de que pode haver CO rodoviárias praticadas fora do exercício da condução, e que não são abrangidas], além dos critérios da gravidade, da culpa, dos antecedentes e da situação económica do infrator, constitui circunstância agravante, [a nosso ver agravante da culpa e não da ilicitude], a atender, a existência de especiais deveres de cuidado, [portanto, reflexamente, a existência de uma especial negligência, a qual consiste na sua violação do dever objetivo de cuidado, nos termos do artigo 15, do CP], que recaem sobre o condutor, «designadamente», se este conduzia, quando cometeu a CO, um veículo de socorro, ou de serviço urgente, de transporte coletivo de crianças, de táxis, de veículos pesados de passageiros ou de mercadorias, ou de transporte de mercadorias perigosas.

Depois desta longa enumeração feita pelo legislador, que parece excluir todos os outros tipos de veículos, fica em aberto saber que outros veículos o legislador aqui permite incluir, pois utiliza a expressão meramente exemplificativa «designadamente».

A nosso ver, terá de tratar-se da condução de outros veículos equiparáveis a algum destes aqui enumerados, pois a enumeração exemplificativa indica ao intérprete que deve servir-se do tipo de veículos e condutores enunciados como guia de interpretação para efetuar essa equiparação.

Uma palavra apenas para dizer agora que a sanção acessória, – não a coima--, cominada para as CO muito graves pode ser objeto de atenuação especial, nos termos do artigo 140, do CE, e que essa atenuação especial consiste em reduzir para metade os limites mínimo e máximo da sanção acessória, --assim formando a moldura abstrata da coima--, tendo em conta as circunstâncias da infração, se o infrator não tiver praticado, nos últimos cinco anos, qualquer CO grave ou muito grave ou facto sancionado com proibição ou inibição de conduzir e, cumulativamente, na condição de se encontrar já paga a coima.

A execução da sanção acessória pode ser suspensa, nos termos do artigo 141, do CE, que remete para ospressupostos de que a lei penal geral, --maxime o Código Penal--, faz depender a suspensão da execução das penas, desde que se encontre paga a coima,

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nas demais condições estabelecidas nesse artigo 141, CE10. E pode ser revogada a

suspensão nos termos do artigo 141, do CE.

No CAPÍTULO II, atinente às disposições especiais, o artigo 145, do CE, enumera as contra-ordenações graves [em 16 alíneas do nº 1-a) a q), e nº 2], e o artigo 146, do mesmo CE, o que são contraordenações muito graves [também em 16 alíneas, a) a q)]. A sanção acessória aplicável aos condutores pela prática de contraordenações graves ou muito graves previstas no CE e legislação complementar consiste na inibição de conduzir e encontra-se regulada no artigo 147 do mesmo CE.

Existe ainda o sistema de pontos e a cassação do título de condução, que está regulamentado no artigo 148 do CE.

3.Também na vertente adjetiva, o CE possui normas especiais em relação ao RGCO, o que não quer dizer que sejam muito diferentes daquelas.

Com efeito, o TÍTULO VIII trata do «processo» de contra-ordenação rodoviária, e começa abrindo o CAPÍTULO I, sobre a competência e forma dos atos [artigos 169 e segts do CE].

Sobre este ponto importa referir que a competência para o processamento e aplicação de coimas nas CO rodoviárias por infrações leves relativas a estacionamento proibido, indevido ou abusivo nos parques ou zonas de estacionamento, nas vias e nos demais espaços públicos quer dentro das localidades, quer fora das localidades, neste caso desde que estejam sob jurisdição municipal, é da respetiva câmara municipal.

A câmara municipal é o órgão executivo [colegial] da autarquia local, município. Pertence, pois, à câmara municipal a competência para este efeito, o que significa, a nosso ver, que, não tem de ser uma competência exclusiva do seu presidente, podendo ser também da competência de um membro desse coletivo, por exemplo, de um dos seus vereadores.

Tenha-se ainda presente que, recentemente, foi transferido poder para os municípios, neste âmbito contra-ordenacional, tendo o presente artigo sido alterado pelo DL 107/2018, de 29/11.

10A saber: « (…) 2 - Se o infrator não tiver sido condenado, nos últimos cinco anos, pela prática de crime rodoviário ou de

qualquer contraordenação grave ou muito grave, a suspensão pode ser determinada pelo período de seis meses a um ano. 3 - A suspensão pode ainda ser determinada, pelo período de um a dois anos, se o infrator, nos últimos cinco anos, tiver praticado apenas uma contraordenação grave, devendo, neste caso, ser condicionada, singular ou cumulativamente:

a) (Revogada.)

b) Ao cumprimento do dever de frequência de ações de formação, quando se trate de sanção acessória de inibição de conduzir; c) Ao cumprimento de deveres específicos previstos noutros diplomas legais.

4 - A caução de boa conduta é fixada entre (euro) 500 e (euro) 5000, tendo em conta a duração da sanção acessória aplicada e a situação económica do infrator.

5 - Os encargos decorrentes da frequência de ações de formação são suportados pelo infrator. 6 - (Revogado.)».

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Nos demais casos, o processamento das CO rodoviárias compete à ANSR; e, a aplicação das coimas e sanções acessórias compete ao presidente da ANSR, que pode delegar, tudo nos termos do artigo 169, do CE.

O CAPÍTULO II, que respeita ao processamento, e é encimado pelo artigo 170, do CE, regula a matéria atinente aos autos de notícia e de denúncia.

O que dissemos, logo de entrada, a propósito do artigo 153, do CE versão de 1994, quanto aos autos de notícia vale aqui para efeitos deste artigo 170, do CE.

Tenha-se sempre presente, no entanto, o teor deste artigo 170, do CE, na versão atual11,

que, apresenta algumas particularidades em relação à sua versão originária.

Fazendo fé em juízo até prova em contrário, como fazem, os autos de notícia rodoviários e os exames [«elementos de prova obtidos através de aparelhos ou instrumentos aprovados» --resultado “pericial”], não compete ao acusador, nem ao agente autuante, entenda-se, fazer a prova em contrário do próprio auto que lavrou, ou seja, dos factos que presenciou e que nele relatou, mas sim ao infrator, pois o legislador estabeleceu, através deste instrumento jurídico, uma especial força probatória ope legis dos factos presenciados e relatados no mesmo12.

11 «Artigo 170º. Auto de notícia e de denúncia

1 - Quando qualquer autoridade ou agente de autoridade, no exercício das suas funções de fiscalização, presenciar contraordenação rodoviária, levanta ou manda levantar auto de notícia, o qual deve mencionar:

a) Os factos que constituem a infração, o dia, a hora, o local e as circunstâncias em que foi cometida, o nome e a qualidade da autoridade ou agente de autoridade que a presenciou, a identificação dos agentes da infração e, quando possível, de, pelo menos, uma testemunha que possa depor sobre os factos;

b) O valor registado e o valor apurado após dedução do erro máximo admissível previsto no regulamento de controlo metrológico dos métodos e instrumentos de medição, quando exista, prevalecendo o valor apurado, quando a infração for aferida por aparelhos ou instrumentos devidamente aprovados nos termos legais e regulamentares.

2 - O auto de notícia é assinado pela autoridade ou agente de autoridade que o levantou ou mandou levantar e, quando for possível, pelas testemunhas.

3 - O auto de notícia levantado e assinado nos termos dos números anteriores faz fé sobre os factos presenciados pelo autuante, até prova em contrário.

4 - O disposto no número anterior aplica-se aos elementos de prova obtidos através de aparelhos ou instrumentos aprovados nos termos legais e regulamentares.

5 - A autoridade ou agente de autoridade que tiver notícia, por denúncia ou conhecimento próprio, de contraordenação que deva conhecer levanta auto, a que é correspondentemente aplicável o disposto nos nºs 1 e 2, com as necessárias adaptações.»

12 Acórdão do TRE de 20-01-2015: I. A nova redação dada ao artigo 170º, nº 1, do Código da Estrada, pela Lei nº 72/2013, de 03/09,

é aplicável quer os factos integrem responsabilidade contraordenacional, quer integrem responsabilidade criminal, e é aplicável a todos os processos pendentes (ou seja, mesmo que os factos sejam anteriores á entrada em vigor da referida lei).

II. Se, por imposição desse novo normativo, e aplicando as «margens de erro admissível» previstas, a conduta do agente deixar de constituir crime, passando a contraordenação, deve ser o Tribunal a apreciar e a decidir o processo que nele já se encontra, e, no caso (tendo havido condenação por crime em primeira instância), deve ser o Tribunal da Relação a proferir a decisão.

Acórdão do TRC de 26-02-2014 :, in CJ, 2014, T.I, pág.66: I. A actual redacção do artº170º, nº2, al. b) do Código da Estrada, decorre das alterações introduzidas pela Lei nº72/2013, de 3-09, impõe que sempre que estejam em causa factos comprovados através de instrumentos de medição, prevalece o valor apurado depois de deduzido o valor do erro máximo admissível previsto no regulamento de controlo metrológico.

II. O mesmo procedimento deverá adoptar-se no domínio das infracções criminais quando comprovadas através de instrumentos de medição sujeitos a controlo metrológico, como o crime de condução de veículo em estado de embriaguez.

Acórdão do TRE de 8-09-2015: I - O incumprimento do dever de notificar a Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) das câmaras fixas instaladas e dos meios portáteis disponíveis, imposto às forças de segurança responsáveis pelo tratamento de dados e pela utilização dos meios de vigilância eletrónica pelo artigo 5º do Dec. Lei 207/2005, de 29 de novembro, não implica que a utilização daqueles aparelhos não goze da especial força probatória que lhe é conferida pelos nºs 3 e 4 do artigo 170º do Código da Estrada.

II - O nº 1 do artigo 143º do Código da Estrada estabelece o dies a quo do prazo de 5 anos fixado para a reincidência aí prevista no momento do cometimento do facto, e o seu dies ad quem na data da prática dos «novos» factos, conforme decorre da sua letra e corresponde á regra comum, estabelecida noutros diplomas legais.

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O direito de audição e defesa do arguido, bem como a notificação do mesmo para tal, estão regulamentados do artigo 175, do CE, sendo o prazo para exercer a sua defesa, de 15 dias, a contar da notificação, “podendo”, a) proceder ao pagamento voluntário da coima, nos termos e com os efeitos estabelecidos no artigo 172; b) apresentar defesa e, querendo, indicar testemunhas, até ao limite de três, e outros meios de prova; c) requerer atenuação especial ou suspensão da sanção acessória e, querendo, indicar testemunhas, até ao limite de três, e outros meios de prova; ou d) requerer o pagamento da coima em prestações, desde que o valor mínimo da coima aplicável seja igual ou superior a 2 UC, ou seja, igual ou superior a 204€.

A defesa e os requerimentos devem ser apresentados por escrito, em língua portuguesa e conter os seguintes elementos: a) número do auto de contraordenação; b) identificação do arguido, através do nome; c) exposição dos factos, fundamentação e pedido; e d) assinatura do arguido ou, caso existam, do mandatário ou representante legal. Mas, note-se que não é obrigatória a constituição de advogado [cfr o RGCO]. O legislador do CE foi ainda mais exigente, determinando que o arguido, na defesa, deve «indicar expressamente os factos» sobre os quais incide a prova, «sob pena de indeferimento das provas apresentadas».

Neste ponto importa referir, sem cuidar do aprofundamento e da complexidade que por vezes pode acarretar a destrinça, muito resumidamente, que um facto consiste num acontecimento ou evento da vida real. Trata-se, pois, de descrever o que aconteceu na realidade, o que implica que, o acontecimento deve ser, tanto quanto possível, delimitado no tempo, numa data, e no espaço, num determinado local ou contexto. Assim sendo, não constituem factos mas sim matéria de direito, e, portanto, não sujeita a prova, as valorações, os juízos conclusivos, as opiniões, as interpretações normativas, devendo evitar-se, por isso, as adverbiações e os gerundivos.

As notificações são efetuadas nos termos pormenorizados do artigo 176, do CE, pelo que, tendo norma especial própria, deve-se começar por recorrer a este preceito, antes de partir para a legislação subsidiária, se for o caso, mormente o RGCO e por remissão deste para as regras do CPP.

Os depoimentos das testemunhas, peritos ou consultores técnicos indicados pelo arguido na defesa, bem como do próprio arguido têm regulação própria no artigo 177, do CE, bem como o adiamento da diligência de inquirição de testemunhas, no artigo 178 e as consequências da ausência do arguido, no artigo 179, [ou se prossegue ou se adia se a falta for justificada], constando ainda do artigo 180, todos do CE, a possibilidade de existências de medidas cautelares.

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Muito importante é o disposto no artigo 181, do CE, que abre o CAPÍTULO III, destinado à «decisão condenatória» em matéria de CO rodoviária.

Assim este artigo 181, do CE, corresponde ao artigo 58, do RGCO, todavia, prevalece sobre este último, nos termos do artigo 7-3, do CC, porque se trata de norma especial. Deste modo, as questões que se possam colocar, quanto aos requisitos formais da decisão, por exemplo, quanto às exigências de fundamentação e quanto à nulidade ou anulabilidade da decisão [vide, vg, a nulidade (relativa ou sanável) cominada nos artigos 283-3, ex vi 118 a 123, do CPP, ou no artigo 379, do mesmo CPP, proferida ao abrigo do RGCO], devem ter por referencial este preceito do artigo 181, do CE.

Tais questões terão de ser analisados, em primeiro lugar, à luz dos requisitos estabelecidos para a decisão neste dispositivo do CE e não à luz do correspondente artigo 58, do RGCO.

No artigo 182, regula-se o cumprimento da decisão contra-ordenacional condenatória, podendo, nesse âmbito, verificar-se o pagamento da coima em prestações, conforme se dispõe no artigo 183, ambos do CE.

A competência da entidade administrativa, ou seja, o poder de apreciação da entidade administrativa que proferiu a decisão condenatória esgota-se com a decisão13, exceto

no caso de ser apresentado recurso de impugnação da decisão condenatória, caso em que a entidade administrativa pode revogar a decisão condenatória, até ao envio dos autos para o Ministério Público [MP] no tribunal competente para dele conhecer; conforme dispõe o artigo 184, do CE. Este poder de revogação da decisão, posterior à decisão condenatória, corresponde ao artigo 62-2, do RGCO.

Também este regime das CO rodoviárias possui norma específica relativa a custas, qual seja a do artigo 185, do CE, que apresenta uma regulação bastante pormenorizada, e da qual resulta, entre o mais, que, «caso a coima seja paga voluntariamente, nos termos do nº 2 do artigo 172º, [pagamento pelo mínimo] não há lugar a custas», [nº 2], para, logo a seguir, no nº 3, se elencarem um conjunto de situações que estão excluídas dessa dispensa de pagamento.

A execução da coima e das custas rodoviárias tem por base uma certidão de dívida. Esta singularidade da emissão de certidão de dívida está regulada no artigo 185-A, do CE, e não tem preceito correspondente no RGCO.

13 Este princípio do esgotamento do poder decisório, nesta matéria, tem o seu correspondente em matéria jurisdicional, no artigo 613, do CPC (artigo 666, do CPC 1961):

«1-Proferida a sentença, fica imediatamente esgotado o poder jurisdicional do juiz quanto à matéria da causa.

2-É lícito, porém, ao juiz retificar erros materiais, suprir nulidades e reformar a sentença, nos termos dos artigos seguintes. 3-O disposto nos números anteriores, bem como nos artigos subsequentes, aplica-se, com as necessárias adaptações aos despachos.».

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No RGCO, a execução da coima, –e das sanções acessórias--, é efetuada no tribunal competente, promovida pelo MP, seguindo, com as necessárias adaptações, o disposto no CPP sobre a execução da multa, que, nos termos do artigo 89, do RGCO, e a nosso ver, se trata da execução da pena de multa criminal. Assim o entendemos, pois, é a multa cuja execução o CPP prevê. E cremos que assim é, mesmo que aqui se possa englobar, por exemplo, a execução das multas administrativas, como seja o caso da aplicada pelo juiz criminal por falta de comparência injustificada, sendo que, se o tivesse querido, o legislador podia ter remetido diretamente para a execução cível do CPC, o que não fez. No RGCO, como resulta do mesmo artigo 89, quando a execução tiver por base uma decisão da autoridade administrativa, esta remete os autos, por inteiro, ao MP junto do tribunal competente para execução, o qual promove a referida execução.

Não há, portanto, no RGCO, lugar à emissão de qualquer certidão de dívida, pois, o “título executivo” é a própria decisão condenatória da autoridade administrativa, como, aliás, nos casos de recurso de tal decisão, e em caso de confirmação pelo tribunal, o título executivo será a sentença transitada.

Esse envio do processo, no seu todo, ao tribunal, para execução, nos termos do artigo 89, do RGCO, assentando esta na decisão executada, como título executivo, faz sentido porque, tal como no âmbito da execução da pena de multa criminal, a execução da coima, não é exatamente a execução de uma dívida civil, e, por isso, o regime do seu pagamento pode sofrer algumas vicissitudes, tais como, por exemplo, o pagamento fracionado [artigo 88-4, RGCO], o trabalho a favor da comunidade [artigo 89-A, e 91, do RGCO]; e isto não obstante o CPP, por força dos seus artigos 489 e 491, remeta, no caso de serem encontrados bens, para o regime da execução por custas.

No caso das CO rodoviárias, que agora nos ocupam, o processo não é remetido, ou não tem de ser, por inteiro, para o MP no tribunal competente para a execução, mas apenas parece que será remetida a certidão de dívida, pois o artigo 185-A, nº 4, em presença, determina que «a certidão de dívida serve de base à instauração do processo de execução a promover nos tribunais competentes, nos termos do regime geral das contraordenações».

Questão é que, remetendo este preceito para os termos do RGCO, e remetendo o RGCO para o CPP, que, por sua vez, se for o caso, e se houver bens na esfera do arguido executado, remete para o regime da execução por custas, ou seja para o RCP, e, por sua vez para o CPC, pode haver elementos que não constem da certidão de dívida mas constem dos autos, que poderiam ser úteis ao tribunal e ao próprio arguido executado, nomeadamente se entender fazer requerimentos ao juiz, quanto aos termos da execução da sanção que lhe foi aplicada.

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Acresce que nem todas as sanções CO são coimas, ou seja, computáveis como “dívida”, pois as sanções acessórias não são quantificáveis nesses termos, nem a sua execução se confunde com a execução de uma mera quantia monetária.

Saliente-se que este artigo 185-A, do CE, refere-se sempre e apenas a coimas e custas, estabelecendo ali, a competência para a passagem e assinatura da certidão de dívida e os elementos que esta deve conter.

Resta então dizer que, em matéria de execução de sanções rodoviárias, parece que a execução da coima terá por título a certidão de dívida, mas a execução de outra sanção, que não a coima ou as custas, em particular a sanção acessória, parece que já não poderá ter como título a certidão de dívida.

No CAPÍTULO IV, que inicia com o artigo 186, do CE, encontramos duas normas próprias para o recurso da decisão judicial e da decisão da entidade administrativa e uma norma sobre o recurso de revisão.

Assim, nos termos do artigo 186, do CE, as decisões judiciais proferidas em sede de impugnação de decisões administrativas admitem recurso nos termos do RGCO, ou seja, só para o Tribunal da Relação, em regra só em matéria de direito, e tudo nos termos dos artigos 73, 74 e 75, do RGCO.

A impugnação judicial, –que seguirá os termos dos artigos 59 e seguintes, do RGCO--, da decisão administrativa que aplique uma coima, uma sanção acessória ou determine a cassação do título de condução tem, no entanto, sempre «efeito suspensivo», nos termos do artigo 167, do CE.

O artigo 187-A, do CE, aditado pela Lei 72/2013, de 03/09, estabelece a figura da revisão da decisão administrativa ou da sentença, em matéria de CO rodoviárias, mandando aplicar o RGCO, quando isso não contrariar o disposto no CE, ou seja, é aplicável à revisão o disposto nos artigos 80 e 81, do RGCO, e, por remissão destes, para os artigos 449 e 551, estes do CPP.

A revisão a favor do arguido não é admissível, porém, quando a condenação respeitar à prática de CO rodoviária leve e tenham decorrido dois anos após a definitividade ou trânsito em julgado da decisão a rever.

Por seu turno, a revisão contra o arguido só é admissível quando vise a sua condenação pela prática de um crime. Esta limitação é estranha, a nosso ver. A menos que se trate de o mesmo facto típico integrar uma situação de concurso de crime e de CO, –em regra será um concurso de normas, ou aparente, [a resolver, vg, pelas regras da especialidade ou consunção] e não um concurso real e efetivo--, caso em que o crime consome a CO, como já vimos, e, desta forma, sendo condenado por crime e eventualmente com a sanção acessória da CO rodoviária, a revisão beneficiará o arguido. Mas então, parece

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que o legislador não deveria dizer «revisão contra o arguido» mas antes considerar uma outra situação de «revisão a favor do arguido»

Por fim, uma referência final ao CAPÍTULO V, que possui duas normas sobre a prescrição, uma sobre a prescrição do procedimento e outra sobre a prescrição da coima e da sanção acessória. Assim, deve ter-se em conta as particularidades aqui estabelecidas quando tivermos de analisar a prescrição do procedimento, que segue as regras dos artigos 27, 27-A e 28, e a prescrição da coima e da sanção acessória que seguem as regras dos artigos 29, 30, 30-A e 31, todos do RGCO.

Nos termos do artigo 188, do CE, o procedimento por CO rodoviária extingue-se por efeito da prescrição logo que, sobre a prática da CO, tenham decorrido dois anos. E, sem prejuízo da aplicação do regime de suspensão e de interrupção previsto naquele RGCO, a prescrição do procedimento por CO rodoviária interrompe-se também com a notificação ao arguido da decisão condenatória. Este facto interruptivo da notificação da decisão ao arguido já constava, como consta ainda, do artigo 28-1-a) do RGCO. Quanto à prescrição da coima e das sanções acessórias, dispõe o artigo 189, do CE, que as coimas e as sanções acessórias prescrevem também no prazo de dois anos contados a partir do carácter definitivo da decisão condenatória ou do trânsito em julgado da sentença proferida em sede de recurso de impugnação.

Aqui chegados, podemos dizer, em jeito de remate, que o regime das CO rodoviárias segue, em grande medida o RGCO, mas apresenta inúmeras especificidades em relação àquele, o que implica que se tenha de ter presente, e em grande atenção, em primeiro lugar, as normas do CE e legislação complementar que ao caso couber, --que são especiais em relação ao RGCO-- e só depois, num segundo momento, por via subsidiária, se deve lançar mão das regras do RGCO.

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CONTRA-ORDENAÇÕES RODOVIÁRIAS DL nº 114/94, de 03 de Maio [CÓDIGO DA ESTRADA] - 22ª versão (DL n.º 107/2018, de 29/11) - 21ª versão (DL n.º 151/2017, de 07/12) - 20ª versão (Lei n.º 47/2017, de 07/07) - 19ª versão (DL n.º 40/2016, de 29/07) - 18ª versão (Lei n.º 116/2015, de 28/08) - 17ª versão (Lei n.º 72/2013, de 03/09) - 16ª versão (DL n.º 138/2012, de 05/07) - 15ª versão (DL n.º 82/2011, de 20/06) - 14ª versão (Lei n.º 46/2010, de 7/09) - 13ª versão (Lei n.º 78/2009, de 13/08) - 12ª versão (DL n.º 113/2009, de 18/05) - 11ª versão (DL n.º 113/2008, de 01/07) - 10ª versão (DL n.º 44/2005, de 23/02) - 9ª versão (Lei n.º 20/2002, de 21/08) - 8ª versão (Rect. n.º 19-B/2001, de 29/09) - 7ª versão (DL n.º 265-A/2001, de 28/09) - 6ª versão (Rect. n.º 13-A/2001, de 24/05) - 5ª versão (DL n.º 162/2001, de 22/05) - 4ª versão (Rect. n.º 1-A/98, de 31/01) - 3ª versão (DL n.º 2/98, de 03/01)

- 2ª versão (DL n.º 214/96, de 20/11) - 1ª versão (DL n.º 114/94, de 03/05)

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O Código da Estrada de 1954, aprovado pelo DL 39.672, de 20/03/1954, foi revogado pelo

DL 114/94, de 03/05, que, na sequência da autorização legislativa, efetuada pela Lei 63/93, de 21/08, aprovou o Código da Estrada de 1994, que hoje temos.

Que hoje temos, entenda-se, depois de ter sido objeto de 22 versões, tendo a última delas sido operada pelo DL 107/2018, de 29/11, que alterou, no que aqui importa, os artigos 169 e 185-A, do Código da Estrada e transferiu competências para os órgãos municipais no domínio do estacionamento público. O que adiante iremos expor enquadra-se, pois, no texto do Código da Estrada [CE] de 1994, já com essas 22 versões.

Na versão de 1994, introduziu-se no CE, --por via do artigo 3º, nº2, da citada Lei 63/93, de

21/08, que definiu o sentido e extensão da autorização legislativa--o sancionamento dos

ilícitos estradais, com a natureza de contraordenações, punidos com a respetiva coima, contrastando com o passado do CE de 1954, cujos ilícitos tinham a natureza de transgressões

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O texto legal à luz do qual agora nos pronunciámos é o resultado das alterações introduzidas pelos seguintes diplomas legais: -DL 107/2018, de 29/11, (22ª versão, a mais recente), -DL 151/2017, de 07/12, -Lei 47/2017, de 07/07, -DL 40/2016, de 29/07, -Lei 116/2015, de 28/08, -Lei 72/2013, de 03/09, -DL 138/2012, de 05/07, -DL 82/2011, de 20/06, -Lei 46/2010, de 07/09, -Lei 78/2009, de 13/08, -DL 113/2009, de 18/05, -DL 113/2008, de 01/07, -DL 44/2005,de 23/02, -Lei 20/2002, de 21/08, -Rect. 19-B/2001, de 29/09, -DL 265-A/2001, de 28/09, -Rect. 13-A/2001, de 24/05, -DL 162/2001, de 22/05, -Rect. 1-A/98, de 31/01,-DL 2/98, de 03/01, - DL 214/96, de 20/11, e DL 114/94, de 03/05 (a 1ª versão).

O termo transgressão ou contravenção era usado indistintamente. A contravenção

era definida pelo artigo 3º, do CP de 1886 [que vigorou até ao CP de 1982] como

sendo «o facto voluntário, que unicamente consiste na violação, ou na falta de

observância das disposições preventivas das leis e regulamentos, independentemente de toda a intenção maléfica». O artigo 1º o mesmo CP/1886 definia que «crime ou

delito é o facto voluntário declarado punível pela lei penal». Durante anos coabitaram três tipos de ilícitos em Portugal: crime, transgressão e contra-ordenação [por esta ordem de gravidade] o que era considerada uma coisa estranha pela doutrina.

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TITULO I

Disposições gerais (artigos 1º a 10) TITULO II

Do trânsito de Veículos e animais (artigos 11 a 98) TITULO III

Do trânsito de peões (artigos 99 104) TITULO IV

Dos veículos (artigos 105 a 120) TITULO V

Da habilitação legal para conduzir (artigos 121 a 130)

TITULO VI

Da responsabilidade (artigos 131 a 151)

TITULO VII

Procedimento de fiscalização (artigos 152 a 168)

TITULO VIII

Do processo (artigos 169 a 189)

Capítulo I (competência e forma dos atos) Capítulo II (Processamento)

Capítulo III (Da decisão) Capítulo IV (Do recurso) Capítulo V (Da prescrição)

(22)

TÍTULO VI Da responsabilidade CAPÍTULO I Disposições gerais Artigo 131.º Âmbito

Constitui contraordenação rodoviária todo o facto ilícito e censurável que preencha um tipo legal correspondente à violação de norma do Código da Estrada ou de legislação complementar

e legislação especial cuja aplicação esteja cometida à ANSR, e para o qual se comine uma

coima.

Contém as alterações dos seguintes diplomas: - DL n.º 2/98, de 03/01

- DL n.º 265-A/2001, de 28/09 - DL n.º 44/2005, de 23/02 - DL n.º 113/2008, de 01/07

(23)

Artigo 132.º Regime

As contraordenações rodoviárias são reguladas pelo disposto no presente diploma, pela legislação rodoviária complementar ou especial que as preveja e, subsidiariamente, pelo regime geral das

contraordenações.

Contém as alterações dos seguintes diplomas: - DL n.º 2/98, de 03/01

- DL n.º 44/2005, de 23/02

Artigo 133.º

Punibilidade da negligência

Nas contraordenações rodoviárias a negligência é sempre sancionada. Contém as alterações dos seguintes diplomas:

- DL n.º 2/98, de 03/01 - DL n.º 44/2005, de 23/02

(24)

Artigo 134.º

Concurso de infrações

1 - Se o mesmo facto constituir simultaneamente crime e contraordenação, o agente é punido sempre a título

de crime, sem prejuízo da aplicação da sanção acessória prevista para a contraordenação.

2 - A aplicação da sanção acessória, nos termos do número anterior, cabe ao tribunal competente para o

julgamento do crime.

3 - As sanções aplicadas às contraordenações em concurso são sempre cumuladas materialmente. Contém as alterações dos seguintes diplomas:

- DL n.º 2/98, de 03/01

- DL n.º 265-A/2001, de 28/09 - DL n.º 44/2005, de 23/02

(25)

Artigo 135.º

Responsabilidade pelas infrações

1 - São responsáveis pelas contraordenações rodoviárias os agentes que pratiquem os factos constitutivos das mesmas, designados em cada diploma legal, sem prejuízo das exceções e presunções expressamente previstas naqueles diplomas.

2 - As pessoas coletivas ou equiparadas são responsáveis nos termos da lei geral.

3 - A responsabilidade pelas infrações previstas no Código da Estrada e legislação complementar recai no: a) Condutor do veículo, relativamente às infrações que respeitem ao exercício da condução;

b) Titular do documento de identificação do veículo relativamente às infrações que respeitem às condições de admissão do veículo ao trânsito nas vias públicas, bem como pelas infrações referidas na alínea anterior quando não for possível identificar o condutor;

c) Locatário, no caso de aluguer operacional de veículos, aluguer de longa duração ou locação financeira, pelas infrações referidas na alínea a) quando não for possível identificar o condutor;

d) Peão, relativamente às infrações que respeitem ao trânsito de peões.

4 - Se o titular do documento de identificação do veículo ou, nos casos previstos na alínea c) do número anterior, o locatário provar que o condutor o utilizou abusivamente ou infringiu as ordens, as instruções

ou os termos da autorização concedida, cessa a sua responsabilidade, sendo responsável, neste caso, o condutor. [Cont.]

(26)

[Cont.]

5 - Os instrutores são responsáveis pelas infrações cometidas pelos instruendos, desde que não resultem de desobediência às indicações da instrução.

6 - Os examinandos respondem pelas infrações cometidas durante o exame.

7 - São também responsáveis pelas infrações previstas no Código da Estrada e legislação complementar:

a) Os comitentes que exijam dos condutores um esforço inadequado à prática segura da condução ou os sujeitem a horário incompatível com a necessidade de repouso, quando as infrações sejam consequência do estado de fadiga do condutor;

b) Os pais ou tutores que conheçam a inabilidade ou a imprudência dos seus filhos menores ou dos seus

tutelados e não obstem, podendo, a que eles pratiquem a condução;

c) Os pais ou tutores de menores habilitados com cartas de condução da categoria AM, com a menção da

restrição 790;

d) Os condutores de veículos que transportem passageiros menores ou inimputáveis e permitam que estes não façam uso dos acessórios de segurança obrigatórios;

e) Os que facultem a utilização de veículos a pessoas que não estejam devidamente habilitadas para conduzir, que estejam sob influência de álcool ou de substâncias psicotrópicas, ou que se encontrem sujeitos a qualquer outra forma de redução das faculdades físicas ou psíquicas necessárias ao exercício da condução.

8 - O titular do documento de identificação do veículo ou, nos casos referidos pela alínea c) do n.º 3, o locatário responde subsidiariamente pelo pagamento das coimas e das custas que forem devidas pelo autor da contraordenação, sem prejuízo do direito de regresso contra este, quando haja utilização abusiva do veículo.

(27)

Contém as alterações dos seguintes diplomas: - DL n.º 2/98, de 03/01

- DL n.º 44/2005, de 23/02 - Lei n.º 72/2013, de 03/09 - DL n.º 151/2017, de 07/12

(28)

Artigo 136.º

Classificação das contraordenações rodoviárias

1 - As contraordenações rodoviárias, nomeadamente as previstas no Código da Estrada e legislação

complementar, classificam-se em leves, graves e muito graves, nos termos dos respetivos diplomas

legais.

2 - São contraordenações leves as sancionáveis apenas com coima.

3 - São contraordenações graves ou muito graves as que forem sancionáveis com coima e com sanção

acessória.

Contém as alterações dos seguintes diplomas: - DL n.º 2/98, de 03/01

(29)

Artigo 137.º Coima

As coimas aplicadas por contraordenações rodoviárias não estão sujeitas a qualquer adicional e do seu produto não pode atribuir-se qualquer percentagem aos agentes autuantes.

Contém as alterações dos seguintes diplomas: - DL n.º 2/98, de 03/01; - DL n.º 44/2005, de 23/02

Artigo 138.º

Sanção acessória

1 - As contraordenações graves e muito graves são sancionáveis com coima e com sanção acessória.

2 - Quem praticar qualquer ato estando inibido de o fazer por força de sanção acessória aplicada em sentença

criminal transitada em julgado, por prática de contraordenação rodoviária, é punido por crime de violação de

imposições, proibições ou interdições, nos termos do artigo 353.º do Código Penal, aprovado pelo Decreto-Lei

n.º 400/82, de 23 de setembro.

3 - Quem praticar qualquer ato estando inibido de o fazer por força de sanção acessória aplicada em decisão

administrativa definitiva, por prática de contraordenação rodoviária, é punido por crime de desobediência

qualificada, nos termos do n.º 2 do artigo 348.º do Código Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 400/82, de 23

de setembro.

4 - A duração mínima e máxima das sanções acessórias aplicáveis a outras contraordenações rodoviárias é

fixada nos diplomas que as preveem.

(30)

Contém as alterações dos seguintes diplomas:

- DL n.º 2/98, de 03/01; - DL n.º 44/2005, de 23/02; - Lei n.º 72/2013, de 03/09

Artigo 139.º

Determinação da medida da sanção

1 - A medida e o regime de execução da sanção determinam-se em função da gravidade da contraordenação e da culpa, tendo ainda em conta os antecedentes do infrator relativamente ao diploma legal infringido ou aos seus regulamentos.

2 - Na fixação do montante da coima, deve atender-se à gravidade da contraordenação e da culpa, tendo em conta os antecedentes do infrator relativamente ao diploma legal infringido ou aos seus regulamentos, e a

situação económica do infrator, quando for conhecida.

3 - Quando a contraordenação for praticada no exercício da condução, além dos critérios referidos no número anterior, deve atender-se, como circunstância agravante, aos especiais deveres de cuidado que recaem sobre

o condutor, designadamente quando este conduza veículos de socorro ou de serviço urgente, de transporte coletivo de crianças, táxis, pesados de passageiros ou de mercadorias, ou de transporte de mercadorias perigosas.

Contém as alterações dos seguintes diplomas:

(31)

Artigo 140.º

Atenuação especial da sanção acessória

Os limites mínimo e máximo da sanção acessória cominada para as contraordenações muito graves podem ser reduzidos para metade tendo em conta as circunstâncias da infração, se o infrator não tiver

praticado, nos últimos cinco anos, qualquer contraordenação grave ou muito grave ou facto sancionado

com proibição ou inibição de conduzir e na condição de se encontrar paga a coima.

Contém as alterações dos seguintes diplomas:

- DL n.º 2/98, de 03/01; - DL n.º 162/2001, de 22/05; - DL n.º 265-A/2001, de 28/09; - DL n.º 44/2005, de 23/02

(32)

Artigo 141.º

Suspensão da execução da sanção acessória

1 - Pode ser suspensa a execução da sanção acessória aplicada a contraordenações graves no caso de se verificarem os pressupostos de que a lei penal geral faz depender a suspensão da execução das penas, desde que

se encontre paga a coima, nas condições previstas nos números seguintes.

2 - Se o infrator não tiver sido condenado, nos últimos cinco anos, pela prática de crime rodoviário ou de qualquer

contraordenação grave ou muito grave, a suspensão pode ser determinada pelo período de seis meses a um ano.

3 - A suspensão pode ainda ser determinada, pelo período de um a dois anos, se o infrator, nos últimos cinco anos, tiver praticado apenas uma contraordenação grave, devendo, neste caso, ser condicionada, singular ou

cumulativamente:

a) (Revogada.)

b) Ao cumprimento do dever de frequência de ações de formação, quando se trate de sanção acessória de inibição de conduzir;

c) Ao cumprimento de deveres específicos previstos noutros diplomas legais.

4 - A caução de boa conduta é fixada entre (euro) 500 e (euro) 5000, tendo em conta a duração da sanção acessória aplicada e a situação económica do infrator.

5 - Os encargos decorrentes da frequência de ações de formação são suportados pelo infrator. 6 - (Revogado.)

Contém as alterações dos seguintes diplomas: - DL n.º 2/98, de 03/01; - DL n.º 44/2005, de 23/02 - Lei n.º 116/2015, de 28/08

(33)

Artigo 142.º

Revogação da suspensão da execução da sanção acessória

1 - A suspensão da execução da sanção acessória é sempre revogada se, durante o respetivo período:

a) O infrator, no caso de inibição de conduzir, cometer contraordenação grave ou muito grave, praticar factos

sancionados com proibição ou inibição de conduzir, não cumprir os deveres impostos nos termos do n.º 3 do

artigo anterior ou for ordenada a cassação do título de condução;

b) O infrator, tratando-se de outra sanção acessória, cometer nova contraordenação ao mesmo diploma legal

ou seus regulamentos, também cominada com sanção acessória.

2 - A revogação determina o cumprimento da sanção cuja execução estava suspensa e a quebra da caução, que

reverte a favor da entidade que tiver determinado a suspensão.

Contém as alterações dos seguintes diplomas: - DL n.º 2/98, de 03/01

- DL n.º 162/2001, de 22/05 - DL n.º 265-A/2001, de 28/09 - DL n.º 44/2005, de 23/02

(34)

Artigo 143.º Reincidência

1 - É sancionado como reincidente o infrator que cometa contraordenação cominada com sanção

acessória, depois de ter sido condenado por outra contraordenação ao mesmo diploma legal ou seus

regulamentos, praticada há menos de cinco anos e também sancionada com sanção acessória.

2 - No prazo previsto no número anterior não é contado o tempo durante o qual o infrator cumpriu a

sanção acessória ou a proibição de conduzir, ou foi sujeito à interdição de concessão de título de

condução.

3 - No caso de reincidência, os limites mínimos de duração da sanção acessória previstos para a respetiva contraordenação são elevados para o dobro.

Contém as alterações dos seguintes diplomas: - DL n.º 2/98, de 03/01

- DL n.º 265-A/2001, de 28/09 - DL n.º 44/2005, de 23/02

Referências

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