• Nenhum resultado encontrado

EDUCAÇÃO COMO IDEAL DE PROGRESSO: O PROJETO PEDAGÓGICO MODERNO DE KANT 1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "EDUCAÇÃO COMO IDEAL DE PROGRESSO: O PROJETO PEDAGÓGICO MODERNO DE KANT 1"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

1

EDUCAÇÃO COMO IDEAL DE PROGRESSO: O PROJETO

PEDAGÓGICO MODERNO DE KANT

1

Rafaely Karolynne do Nascimento Campos2

GT2 – Educação e Ciências Humanas e Socialmente Aplicáveis

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar o projeto pedagógico moderno e evidenciar Kant enquanto expoente do discurso pedagógico da modernidade, estabelecendo compreensões acerca da ideia de sujeito e de racionalidade e a constituição de um projeto pedagógico moderno para que a educação cumpra seu papel estratégico rumo ao desenvolvimento. Tendo como fundamento a obra Sobre a Pedagogia (1996), de Kant, a qual apresenta princípios educativos para a constituição de um sujeito racional e passível de ser educado, buscamos compreender a proposta Kantiana de educação e também refletir acerca do quanto ainda somos modernos, ou melhor, o quanto de modernidade há na educação contemporânea. Por fim, as ideias de Kant apontam o papel estratégico da educação para o caminho do progresso, entretanto, ele não sinaliza um progresso garantido pela educação, a educação é traço importante da modernidade, mas não garante a resolução de todos os problemas da humanidade.

Palavras-chave: Educação. Kant. Modernidade. Projeto Pedagógico Moderno.

ABSTRACT

This study aims to present the modern pedagogical project and highlight Kant as exponent of pedagogical discourse of modernity, establishing understandings about the idea of subject and rationality, and the creation of a modern educational project for education to fulfill its strategic role towards development. With the foundation's work On Education (1996), Kant, which has educational principles for the establishment of a rational and capable of being educated guy, we try to understand the Kantian proposal for education and also to reflect on how much we are still modern, or rather, how much modernity there in contemporary education. Finally, Kant's ideas point to the strategic role of education in the way of progress, however, it does not signal progress guaranteed by education, education is an important characteristic of modernity, but does not guarantee the resolution of all problems of mankind.

Keywords: Education. Kant. Modernity. Modern Educational Project.

1 Trabalho desenvolvido e elaborado a partir das aulas da disciplina Filosofia da Educação vinculada ao Programa

de Pós-Graduação em Educação – PPGED/UFS, ministrada pelo Prof. Dr. Edmilson Menezes no semestre letivo 2015/2.

2 Mestranda em Educação – Programa de Pós-graduação em Educação (PPGED) - Universidade Federal de Sergipe.

Especialista em Gestão Educacional. Graduada em Pedagogia pela UFS e Pedagoga do Instituto Federal de Sergipe. E-mail: rafakarolynne@yahoo.com.br.

(2)

2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Kant entende por educação o processo que dura toda a vida e tem como finalidade a formação do sujeito moral. Para Kant, o homem não nasce enquanto sujeito moral, mas torna-se moral por meio da educação.

Segundo Menezes (2000, p.120), “em Kant, a educação para as luzes se traduz num ideal pedagógico aberto ao futuro e num processo pedagógico que passa necessariamente pela educação formal. ” Nos escritos de Sobre a Pedagogia (1996), Kant apresenta os princípios educativos para a constituição de um sujeito racional e passível de ser educado.

É sobre esses princípios educativos que esta exposição se debruça. Procuramos apresentar nesse trabalho o projeto pedagógico moderno e evidenciar Kant enquanto expoente do discurso pedagógico da modernidade, estabelecendo compreensões acerca da ideia de sujeito e de racionalidade e a constituição de um projeto pedagógico moderno para que a educação cumpra seu papel estratégico rumo ao desenvolvimento, rumo à modernidade.

SITUANDO O CONTEXTO HISTÓRICO DA MODERNIDADE

A Modernidade tem seu marco temporal nos séculos XVI a XVIII. Habermas, um dos filósofos da modernidade, procura explicar a origem da sociedade ocidental moderna e o processo de consolidação da modernidade. Conforme Habermas, Hegel foi o primeiro filósofo a desenvolver o conceito de modernidade.

O conceito de modernidade é utilizado em contextos históricos que designam os “tempos modernos” por volta de 1800. Expressões como revolução, progresso, emancipação, crise, espírito de época, desenvolvimento surgem para validar esses novos tempos. A modernidade refere-se à formação das sociedades dos “tempos modernos” ou “novos tempos”, marcada por acontecimentos históricos ocorridos na Europa cujos efeitos propagaram-se pelo Mundo.

Em 1453, a Tomada de Constantinopla marca o fim da idade média, sua queda consagra o surgimento de uma nova era histórica. A cidade de Constantinopla era uma das mais importantes no mundo, estrategicamente localizada, funcionava como uma ponte para as rotas comerciais que ligavam a Europa à Ásia, o principal porto nas rotas entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo. A

(3)

3 tomada de Constantinopla é a conquista da capital bizantina pelo Império Otomano no dia 29 de maio de 1453. Com as rotas fechadas, começa-se a busca por novas rotas. A tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos foi um evento histórico marcando o fim da Idade Média na Europa, abrindo o caminho para a era dos descobrimentos.

O segundo acontecimento histórico que marca a modernidade é a Reforma Protestante, movimento reformista cristão, liderado por Martinho Lutero, que por meio da publicação de suas 95 teses protestou contra alguns princípios dogmáticos da Igreja Católica, propondo assim uma reforma doutrinária. Dentre os pontos questionados por Lutero, destacamos a discussão acerca da graça, a abolição de simbolismos, o afastamento entre fé e obra, a separação entre dinheiro e salvação (indulgências), a subjetividade e autonomia do indivíduo.

A reforma teve um papel decisivo na redefinição da mentalidade do homem moderno possibilitando maior acesso à Bíblia, por meio das traduções do latim para as línguas nacionais. Esse acesso à Bíblia gera um processo de individualidade entre o homem e a palavra de Deus. O processo cognitivo de ler e codificar a Bíblia expressa a ideia de sujeito. A formulação de um sujeito cognoscente e de uma interioridade, um sujeito de razão, provocando uma mudança da visão de mundo. Esse sujeito é marca da modernidade.

Weber considera a formação do mundo ocidental moderno a partir do processo de racionalização das visões de mundo, que desintegra as concepções religiosas gerando um desencantamento do mundo, ou seja, desprovidos do fundamento religioso, o mundo deixa de ser controlado pela magia da religião e passa ser guiado pela ciência.

Essas mudanças significativas no modo de pensar influenciaram naturalmente a ciência. A progressiva mudança de uma visão de mundo centrada nas doutrinas teológicas e religiosas pelo estudo sistemático da natureza consolidavam-se cada vez mais. Assim, a Reforma Protestante influenciou decisivamente o desencadeamento da Revolução Científica ou Galiláica.

A Revolução Galiláica se contrapõe ao Modelo Astrofísico Aristotélico Ptolomáico, o qual afirmava que a terra era imóvel e estava localizada no centro do universo, e este como um mundo completamente hierarquizado (mundos supralunares e sublunares) e um universo qualitativo (dedutivo), sem experimentação, ou seja, sem articulação entre teoria e práticas.

Galileu utiliza da técnica, o telescópio e através dele realiza grandes descobertas acerca da Terra e dos astros, rompendo com a Física Aristotélica, constatando que o universo é

(4)

4 expresso. Além disso, propõe a necessidade de separação entre teologia, filosofia e ciência, estruturada em campos autônomos. Aponta, ainda a ideia de uma linguagem matemática para comprovar verdades, demonstrando que as matemáticas são a escala da razão rigorosa por excelência. Assim, a matemática ganha relevância para o desenvolvimento de um método cientifico mais rigoroso. E por fim, a ideia de método, de experimentação, de conhecimento objetivo são os parâmetros para análise da natureza.

O mérito de Galileu é o de ter demonstrado a distinção entre as verdades que englobam e separam filosofia, ciência e religião, fazendo ver que o objeto específico delas é essencialmente diferente: o da religião são as verdades religiosas; o da filosofia são verdades ontológicas, isto é, verdades acerca das essências das coisas; o da ciência são as verdades naturais, ou seja, as leis ou relações que ligam os fenômenos entre si.

Como podemos perceber, a modernidade se situa no tempo abrangendo historicamente as transformações da sociedade no período que se estende entre meados do século XV até os dias atuais, deixando de ter um significado meramente cronológico e assumindo um significado de uma época radicalmente nova, a descoberta de um novo tempo, configurando uma modificação no modo de compreensão do mundo. A partir desse momento, a racionalidade e a subjetividade serão o centro de um “novo tempo”.

A modernidade rompe com a tradição, rompe com os códigos normativos. Se autocertifica quando se define enquanto século das luzes, da razão, da verdade, do esclarecimento, da autonomia. Século do progresso, do desenvolvimento e da felicidade. O século das luzes, da filosofia, o século das ciências. A modernidade inaugura uma nova concepção de ciência, de filosofia, uma nova concepção de religião e de educação.

PROCESSO EDUCATIVO COMO VETOR DA MODERNIDADE

O mundo moderno apresenta princípios peculiares como a importância à subjetividade, a empiria, a racionalidade, a natureza expressa em linguagem matemática, todos esses princípios pressupõe um processo educativo, exclusivamente humano, pois não há modernidade sem educação (processo de ensino-aprendizagem).

(5)

5 Os processos de mudanças e transformações conduziriam o imaginário coletivo para uma perspectiva racional de progresso, a educação tida como ideal de progresso, ganha discussão central, cuja defesa pela escolarização era o argumento para a sociedade moderna alcançar o desenvolvimento.

Conforme Menezes (2000, p. 114), “a educação é o vetor do progresso, ela fornece a base para a esperança num plano de conjunto da evolução humana, de um progresso geral rumo ao melhor”. Logo, não há modernidade sem educação.

A ideia de progresso pela via da educação estabelece como finalidade do processo educativo a formação do sujeito racional, autônomo e consciente. O projeto pedagógico moderno de Kant visa a preparação intelectual para discutir/refletir a coletividade.

Segundo Kant, é necessário que o homem saia da sua menoridade por meio do esclarecimento, alcançando sua maioridade. Para o filósofo, o homem esclarecido é aquele que faz uso do seu próprio entendimento, sem direção de outra pessoa, é uma certa independência intelectual, que permite pensar por si próprio. Fazer uso da maioridade é ter coragem de assumir esse entendimento.

Sendo a razão passível de ser educada, o princípio moderno da subjetividade, na proposta Kantiana, assume um caráter pedagógico, pois pela educação o sujeito pode sair da menoridade, “da qual ele próprio é culpado” (KANT, 1985, p.100) por não pensar ou transferir aos outros que pensem por si, ou por preguiça e covardia, visto que é muito cômodo que delegar esta tarefa a outros.

É difícil portanto para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a ela, sendo por ora realmente incapaz de utilizar seu próprio entendimento, porque nunca o deixaram fazer na tentativa de assim proceder. (KANT, 1985, p. 102)

Para o Século das Luzes, conduzir o homem à maioridade é tarefa relevante e urgente. Para Kant, esclarecer um povo é educá-lo, assim educá-lo é nada mais do que fornecer instrumentos para a saída da menoridade à maioridade autônoma. “É impossível pensar um homem esclarecido que não seja educado, também é difícil pensar alguém educado que não busque esclarecer-se, isto é, exercer livremente sua capacidade racional e de cidadania” (MENEZES, 2000, p. 118). Assim, sem educação não há esclarecimento e sem esclarecimento não há educação.

(6)

6 Conforme Kant, dificilmente a pessoa alcança a maioridade sozinho, daí o papel fundamental da escola no século das luzes, pois nesse ambiente a pessoa é submetida a estímulos propícios ao alcance da maioridade. O filósofo centra sua filosofia do Esclarecimento (Aufklärung) no princípio da autonomia, livre pensar, exercício público da razão.

O objetivo principal da educação é a busca da autonomia e esta será atingida pelo uso racional da razão. Assim, a finalidade da educação moderna está na construção de indivíduos livres, autônomos, capazes de pensar por si mesmos, exercendo sua capacidade racional e sua cidadania.

As proposições de Kant apontam que o processo educativo compreende aos cuidados e a formação que se dá a partir da disciplina e da instrução. Para ele, a pedagogia se divide em física e prática. A educação física consiste na educação do corpo, dos hábitos. A educação prática ou moral refere-se à construção do homem para que ele possa viver na condição de um ser livre, constituir-se membro da sociedade, um cidadão, a formação moral (KANT,1996, p. 36).

A educação do corpo refere-se às precauções, aos cuidados da infância abrangendo a conservação e o trato, fornecidos pelos familiares ou empregados. Essa primeira fase da educação deve ser somente negativa e repousa sobre a disciplina. Além disso, a educação física possibilita o desenvolvimento das capacidades intelectuais e da cultura física.

O fio condutor da Pedagogia de Kant é o conceito de disciplina. A disciplina é o que impede o homem de desviar-se do seu destino, da animalidade. Ela transforma a animalidade em humanidade. Disciplina é submeter o homem às leis da humanidade e consequentemente, ao uso da razão para que assim ele não atenda seus desejos e vontades. Portanto, a vontade se educa pela disciplina.

Kant afirma que:

A disciplina é o que impede ao homem de desviar-se do seu destino, de desviar-se da humanidade, através das suas inclinações animais. Ela deve, por exemplo, contê-lo, de modo que não se lance ao perigo como um animal feroz, ou como um estupido. Mas, a disciplina é puramente negativa, porque é o tratamento através do qual se tira do homem a sua selvageria [...] (KANT, 1996, p.12)

Uma vez que a família não possui as ferramentas técnicas necessárias para transformar a animalidade da criança em cidadania, a escola surge como esse espaço capaz de realizar tal transformação. Assim, as crianças devem ir cedo à escola, porque precisam disciplinar-se cedo.

(7)

7 Para Kant, é fundamental que criança aprenda a trabalhar e isso se dá na escola. Ao ser habituada a trabalhar por constrangimento na escola, a criança interioriza a disciplina e passa a obedecer a si mesma alcançando a liberdade e assim, a autonomia. Um ser humano que não desenvolveu sua disciplina não saberá usar sua liberdade.

Portanto, a disciplina é puramente negativa, mas a instrução é positiva. Segundo Menezes (2000, p. 115), instruir um homem é civilizá-lo. A instrução, identificada como cultura é um instrumento que permite a inserção do homem na sociedade. O autor ressalta que instruir não é tornar os homens iguais, “mas viabilizar o diálogo comum, permitir que o indivíduo se reconheça no coletivo”.

Conforme Kant (1996, p. 16) a falta de disciplina pode trazer consequências nefastas ao ser humano, em detrimento da falta de cultura ou instrução, “quem não tem cultura de nenhuma espécie é um bruto; quem não tem disciplina ou educação é um selvagem. A falta de disciplina é um mal pior que a falta de cultura, pois esta pode ser remediada mais tarde, ao passo que não se pode abolir o estado selvagem e corrigir um defeito de disciplina”.

Conforme o projeto pedagógico de Kant, a educação deve tornar o homem em um ser disciplinado, controlar a selvageria, impedindo que a animalidade prejudique o caráter humano e a sociedade; em um ser culto, cultura compreendendo a instrução e os diversos conhecimentos. Deve também tornar o homem prudente, civilizado, que tenha modos corteses e gentis. E, por fim, deve cuidar da moralização.

A ideia geral é que a formação deve se dar por etapas, findando com a moralização. Kant atribui maior importância a educação moral, o ideal a ser atingido é a formação do caráter, que é a concretização de todo o processo educativo. “A etapa suprema é a formação do caráter. Consiste na resolução firme do querer fazer algo e colocá-lo realmente em prática” (KANT, 1996, p. 93).

A formação do caráter está baseada no uso da razão. O princípio da pedagogia de Kant é conduzir o homem a pensar por si mesmo, conduzindo-o a autonomia. Assim, pela educação, o homem pode tornar-se alguém capaz de autodeterminar, capaz de pensar por si mesmo, sem a direção dos outros, alcançando seu fim: à moralização da ação humana.

A educação moral, diferente da educação do corpo, não se deve embasar sobre a disciplina, mas sobre máximas, pois a disciplina impede os defeitos, as máximas formam a

(8)

8 maneira de pensar. O caráter consiste no hábito de agir segundo certas máximas, e o fundamento da educação moral é a formação do caráter (KANT, 1996, p.81). O ideal da moralidade a ser atingido é que o homem seja autônomo, ou seja, capaz de doar a si mesmo uma determinação de máxima que rege sua ação, mediante resolução firme do querer, este, para Kant, é o homem livre.

A educação prática consiste na habilidade, na prudência e na moralidade visando a consolidação do caráter, ressaltando a formação da criança desde cedo, para a construção de princípios embasados no respeito ao próximo e no bem comum.

“Deve-se orientar o jovem à humanidade no trato com os outros, aos sentimentos cosmopolitas. Em nossa alma há qualquer coisa que chamamos de interesse: 1) por nós próprios; 2) por aqueles que conosco cresceram; e por fim, 3) pelo bem universal. É preciso fazer os jovens conhecerem este interesse para que eles possam por ele se animar. Eles devem alegrar-se pelo bem geral mesmo que não seja vantajoso para a pátria, ou para si mesmos. (KANT, 1996, p.114).

Um dos aspectos do pensamento de Kant para o desenvolvimento do mundo moderno pode ser expresso na ideia de que uma geração educa a outra, através do desenvolvimento das disposições naturais em sociedade em direção ao aperfeiçoamento da humanidade, como ressalta:

A educação é uma arte, cuja prática necessita ser aperfeiçoada por várias gerações. Cada geração, de posse dos conhecimentos das gerações precedentes, está melhor aparelhada para exercer uma educação que desenvolva todas as disposições naturais na justa proporção e de conformidade com a finalidade daquelas, e, assim, guie toda a humana espécie a seu destino. (KANT, 1996, p.19).

Apesar de uma geração educar a outra, cabe à nova geração o dever de exercer seu papel educativo melhor do que a primeira. Nisto, consiste o conceito de progresso dentro da perspectiva educacional de Kant, na qual a sociedade caminha para o progresso contínuo da humanidade. Por isso, não se deve educar as crianças conforme o presente estágio da humanidade, mas segundo um estágio melhor, possível no futuro (KANT, 1996, p. 22, 23).

(9)

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, a ideia de progresso pela via da educação estabelece como finalidade do processo educativo a formação do sujeito racional, autônomo e consciente. Assim, o projeto pedagógico moderno de Kant visa a construção de indivíduos livres, autônomos, capazes de pensar por si mesmos, exercendo sua capacidade racional e sua cidadania. Efetivando uma preparação intelectual para discutir/refletir a coletividade. Sendo assim, para a modernidade, com a formação moral de cada indivíduo seria possível o melhoramento da humanidade.

A ideia moderna de educação antecipa muitas tendências pedagógicas atuais, revelando possíveis contribuições da modernidade às discussões contemporâneas. É notável a presença do projeto pedagógico moderno na base da nossa educação contemporânea, como a predominância da educação pública, o papel fundamental da escola e do princípio de educação para a cidadania. Um ponto a ser destacado nos escritos de Kant é a formação dos pais e mestres. Eles devem ter recebido uma educação de qualidade para que cumpram com excelência seu papel de educador, caso contrário, oferecerão alguns prejuízos a educação da criança. A formação de professores e o papel fundamental da família para a educação, assuntos fortemente debatidos na educação dos nossos dias.

Por fim, concluímos ressaltando que as ideias de Kant apontam o papel estratégico da educação para o caminho do progresso, entretanto, ele não sinaliza um progresso garantido pela educação. Para ele, a educação tem limites. A educação é traço importante da modernidade, mas não garante a resolução de todos os problemas da humanidade.

(10)

10 REFERÊNCIAS

CHARLES, Sébastien. Paideia e Filosofia no século das luzes. In: MENEZES, E. OLIVEIRA, Everaldo de (orgs). Modernidade Filosófica: um projeto, múltiplos caminhos. São Cristóvão: Editora UFS, 2011, p.71-86.

HABERMAS, Jürgen. A consciência de tempo da modernidade e sua necessidade de autocertificação. In. HABERMAS, J. O discurso filosófico da modernidade. Trad. De Ana Maria Bernardo. Lisboa: D. Quixote, 1990, p. 13-32.

KANT, I. Sobre a Pedagogia. Trad. de Francisco C. Fontanella. São Paulo: Editora UNIMEP, 1996.

KANT, I. O que é o Esclarecimento? In: Textos seletos. Trad. de Raimundo Vier. Petrópolis: Vozes, 1985.

MENEZES, E. Kant e a pedagogia. Revista Educação e Sociedade. Nº 43, 1992.

___________. Kant e a educação das Luzes. Educação e Filosofia. Nº 27/28. jan-jun e jul-dez. 2000.

Referências

Documentos relacionados

O presente estudo tem como tema norteador a inserção da avaliação como instrumento de intervenção e prática mediadora frente ao planejamento do projeto

Um primeiro elemento entre a racionalidade governamental liberal que parece atravessar o pensamento pedagógico relaciona-se ao “governo pedagógico”, que já mencionara Kant (2003)

O projeto raízes visa sobretudo evidenciar a descoberta da cultura familiar mais representativa da identidade da criança e consiste numa série de áreas temáticas que

Usa objectos ou uma pessoa como estratégia para conseguir algo (pede para ser agarrada ao colo para chegar a algo, usa um brinquedo para alcançar outro que está alto ou distante,

O Estado do Rio de Janeiro vem implantando uma política de desenvolvimento e criação de diversos polos industriais nas regiões de sua jurisdição, dessa forma ampliando o

Segundo Arroyo (2011b, p.13), compreender o quadro social e político no qual estamos inseridos exige muito mais do que uma leitura superficial da literatura concernente

As técnicas entrevistadas apresentaram algumas sugestões que consideram importantes para a melhoria da Proposta da Escola Cabana para a educação infantil, tais como, uma

Desde os registros mais antigos do contato de Kant com o ceticismo pirrônico, portanto, em vez de um inimi- go da metafísica ao qual esta deveria resistir e vir a superar, Kant