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1. O que é Folclore? Uma análise histórica e crítica do conceito.

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Academic year: 2021

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• Proporcionar o entendimento das características gerais do processo folclórico brasileiro; • Estruturar o profissional de Eventos para conhecer particularidades de alguns acon-tecimentos que envolvem os conhecimentos das manifestações folclóricas do país; • Demonstrar como é possível resgatar e utilizar esse conhecimento na composição de um determinado evento festivo.

Ao ouvir essa palavra, que imagens e lembranças surgem em sua mente?

Objetivos

1. O que é Folclore? Uma análise histórica e crítica do conceito.

Quem não se lembra da Cuca, do Saci, entre outros personagens do folclore brasileiro? Talvez quem tenha 18 anos não tenha lembranças de alguns desses personagens, mas um dia eles existiram e estiveram presente no imaginário cotidiano de um povo.

Conhecer os aspectos da cultura folclórica do país é compreender muitos dos fatores que estruturam a base formativa de vários de nossos acontecimentos festivos. Como o Folclore se formou é uma idéia difundida, em muitos casos, de forma bastante errônea, pois sempre se fala que Folclore não é nada além de uma "manifestação da cultura popular". Se pensarmos na origem do termo Folclore, os aspectos acima transcritos seriam um resumo prático e definitivo para a complexidade que envolve o tema.

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Origem da palavra Folclore

A origem da palavra "Folclore" remonta a um artigo científico publicado na Inglaterra por Wiliiam John Thoms (1803-1885) na revista Ateneu de 22 de agosto de 1846 (em função dessa data, o dia é conhecido internacionalmente como o "dia do Folclore"). Thoms estava preocupado com o desaparecimento de inúmeras manifestações ligadas ao cotidiano tradicional de seu povo, principalmente dos camponeses ingleses, que acabou por produzir uma palavra que designasse esse tipo de saber. Pela fusão de dois vocábulos anglo-saxão ele elabora a palavra Folk-lore, que significaria o chamado "saber tradicional do povo".

O momento histórico no qual se desenvolve essa preocupação de Thoms liga-se ao auge da Segunda Etapa da Revolução Industrial. A máquina e a linha de montagem padronizavam os produtos e a cultura, buscando, sempre, novos mercados de consumo. O "saber tradicional" não encontrava espaço para manifestar-se pois não era mais necessário para a sobrevivência dos grupos: eles agora vinculavam-se a nova realidade urbana e industrial.

Essa nova realidade não necessitava do regime do tempo baseado no calendário lunar ou nas horas medidas pelo sol. O tempo, antes vinculado à Natureza, passava a ser medido pelos relógios que eram cada vez mais precisos e pontuais. O tempo virava mercadoria e essa realidade era diferente daquela que havia sido incorporada pela "sabedoria popular".

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Folclore no Brasil

No Brasil as preocupações com o conhecimento da chamada "sabedoria popular" só ganham projeção no início do século XX. Desde a época inicial da colonização brasileira, o país foi predominantemente rural. O processo de urbanização se desenvolve a partir da substituição das exportações cafeeiras pela crescente indus-trialização iniciada por volta dos anos 30 do século XX.

Esse fato pode ser comparado, de forma simplista, ao que tinha acontecido na Inglaterra cem anos antes. O camponês, com toda sua sabedoria local e ligada aos ciclos da Natureza, ao perder sua forma de sustento na zona rural, migra para as cidades em busca de melhores oportunidades de vida.

Os estudos que buscavam compreender as chamadas "manifestações folclóricas" aparecem no Brasil por volta de 1882 como, por exemplo, os trabalhos desen-volvidos pelo Professor Silvio Romero. Ele foi o primeiro a preocupar-se em coletar as manifestações populares que encontrava, tais como, trovas, contos e lendas, que faziam parte do imaginário coletivo do povo brasileiro.

Silvio Romero (1851 - 1914)

Pensar o Folclore como uma atividade que requereria um estudo científico e inter-pretativo mais aprofundado nasce também nas décadas iniciais do século XX e foi o escritor Mário de Andrade o principal responsável por esse processo de conhecimento. Ele, inclusive, viajou por todo o Brasil coletando imagens fotográficas e em movimento de danças, festas e acontecimentos ligados as chamadas "manifestações da cultura popular brasileira." Também coletou e transcreveu inúmeras músicas e falas regionais. Essas viagens ficaram conhecidas como "Missão Folclórica".

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Mas foi antes de Mário de Andrade que um outro escritor transformou as histórias que ouvia desde criança na fazenda que vivia no interior de São Paulo, em Taubaté, em fonte de encantamento para toda uma geração de crianças e adultos. Monteiro Lobato foi o principal mensageiro das idéias, ainda atuais, vinculadas a errônea caracterização do que vem a ser

o Folclore brasileiro. Suas histórias do famoso "Sítio do Pica-Pau Amarelo", e aos personagens do Saci-Pererê, Mula-sem-Cabeça, Iara, Curupira, etc. con-vivendo em aventuras com o menino Pedrinho, a boneca Emília e o Visconde de Sabugosa, moldaram todo um imag-inário coletivo que pode ser encontrado entre nove de dez pessoas para as quais se pergunta: O que é o folclore brasileiro.

Conheça mais sobre Monteiro Lobato e sua obra Visite o site oficial do Monteiro Lobato no site da Internethttp://lobato.globo.com/

Não era o propósito de Lobato difundir essa visão, mas a forma como suas histórias permaneceram, transformaram muitos desses personagens nos únicos elementos, na visão da grande maioria das pessoas, que podem representar o sentido do Folclore nacional.

2.Compreendendo o Folclore Nacional

De fato, os personagens recolhidos e divulgados por Lobato são elementos do Folclore Nacional. Há uma mistura da presença indígena (Iara, Curupira), negra africana (Saci-Pererê) e europeu (lobisomem). Esse elementos folclóricos são chamados de "mani-festações folclóricas tradicionais" cujo sentido de uso e significados, perdeu-se no

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tempo não se adaptando as novas realidades cotidianas. São tratados como lendas e muitos de nossos avós "juram" que já os viram correndo pelos campos, importunado e assustando os habitantes das fazendas ou de locais em que viviam, sempre afastados das cidades.

De fato o ambiente rural brasileiro - não deve-mos esquecer que durante muito tempo o Brasil foi um país predominantemente agrícola -contribuiu para o aparecimento desse tipo de manifestação cultural. As expressões científicas e tecnológicas só chegariam a esses locais com o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, rádio e principalmente a televisão, responsáveis pela divulgação de uma padrão cultural único no qual não se encaixava esse passado rural do país.

O Folclore, visto dessa maneira, não traduz a sua realidade de criação. No começo qualquer realidade folclórica é um elemento de criação individual que teve uma aceitação coletiva, ou seja, o grupo social passa a legitimar a repre-sentação imaterial e simbólica e assim ela passa a fazer parte de seu cotidiano material e palpável. Cada lenda/mito possui, vinculado a sua criação, toda uma realidade histórica e antropológica que deve ser recuperada para assim possibilitar sua compreensão total.

Essa era a idéia central desenvolvida pela maior autoridade no estudo do Folclore brasileiro. Luis da Câmara Cascudo nasceu na cidade de Natal no Rio Grande do Norte em 1898, falecendo na mesma cidade em 1986. Nos seus quase cem anos de vida escreveu cerca de 90 livros relacionados, principal-mente, a compreensão do cotidiano folclórico brasileiro, buscado o entendi-mento entre a idéia do folclore e sua associação com o cotidiano formativo do grupo social estudado.(Silva : 2003).

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Foi principalmente por uma das obras de Luis da Câmara Cascudo que é possível recuperar muito da identidade nacional pela visão de suas manifestações folclóricas. Leia o "Dicionário do Folclore Brasileiro", consulta obrigatória quando se procura entender as realidades formativas de nossas raízes folclóricas. (Cascudo : 1988 Editora: GLOBAL -Número de páginas: 768)

Para se entender o folclore é necessário compreender que ele é uma manifestação coletiva e ligada a sobrevivência da identidade do grupo social da qual faz parte. Ele também modifica-se com o passar do tempo pois as sociedades são dinâmicas e usufruem, dessas memórias transformadas, para manter-se unida em busca de objetivos em comum.

Deve-se a essa idéia a não sobrevivência total, como exemplo, do mito do Saci-Pererê em nossa atual sociedade. O mito não se modificou e não abandonou sua forma original ligada a seu passado agrário que também era preso a imagem da herança escravocrata. Essa idéia de modificação do mito para sua sobrevivência pode ser recuperada quando busca-se, por exemplo, entender a razão que na nossa atual sociedade urbanizada e tecnológica o mito de seres extraterrestres, entre outros, ganha força, propagando-se de maneira acentuada.

Compreender o Folclore é aceitar sua ligação com a memória coletiva dos grupos envolvidos em sua criação, como também seu uso como mecanismo de sustentação e sobrevivência do grupo. Você concorda com isso?

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A idéia de folclore pode ser representada, como exemplo, pela leitura recolhida pelo estudioso do folclore, Carlos Rodrigues Brandão, que ao perguntar para um praticante da Congada o que significava para ele o Folclore, teria tido como resposta que a manifestação "era sempre igual mas era sempre diferente". (Brandão, 1985 : 25). Era sempre igual porque mantinha sua essência, seu objetivo inicial, e era diferente pois em vários detalhes se modificava continuamente para sobreviver as dinâmicas apre-sentadas pelas novas necessidades cotidianas apresentada pelo grupo praticante.

3.O profissional de Eventos e o uso das características do Folclore

Quando o profissional de eventos busca organizar uma série de ativi-dades festivas, deve ter em mente a questão do Folclore e as atividades lúdicas tradicionalmente ligadas a ele. Essa questão atinge principal-mente aos eventos vinculados a presença de crianças e adoles-centes nos quais é comum o uso desses elementos ligados as mani-festações folclóricas brasileiras.

O Sítio do Pica-Pau Amarelo e seus personagens são elementos muito marcantes nas chamadas "festinhas de aniversário", pois já se tornaram objetos de marketing comercial devido a presença das histórias de Monteiro Lobato adaptadas ao entretenimento televisivo, em uma grande rede de comunicação tendo, inclusive, com uma enorme audiência de público. Nesse aspecto muitos dos elementos do tradicional folclore brasileiro estão bastante difundidos e cabe ao profissional de eventos criar novas referências para a sua possível utilização em um evento. Deve-se buscar não somente a exposição única dos personagens. Seria interessante lembrar ao público participante como esses mesmos personagens estão ligados a história do país. Essa lembrança poderia ser desenvolvida com o uso de interligações conceituais, como exemplo, buscar aspectos da cultura indígena e sua ligação com o

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A solução para cada caso deve ser buscada de acordo com as observações captadas pelo profissional de Eventos, pois é nesse processo de investigação das possibili-dades que é encontrado aos melhores soluções para os problemas apresentados.

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BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Folclore. São Paulo : Brasiliense. 1985. CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 7. ed. São Paulo : Edusp; Belo Horizonte : Itatiaia, 1988.

SILVA, Marcos (org.). Dicionário Crítico Câmara Cascudo. São Paulo : Perspectiva, 2003.

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Referências

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