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Entender la vida desde la comprensión de la muerte: aportes de la Tanatología a los profesionales de la salud

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Academic year: 2021

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O entendimento da vida a partir da compreensão da morte: contribuições da tanatologia para os profissionais de saúde

Understanding life from the understanding of death: contributions from Thanatology to health professionals

Entender la vida desde la comprensión de la muerte: aportes de la Tanatología a los profesionales de la salud

Edilane Gandra de Oliveira Lima193 Sarah Hoffmann Cardoso194 Vitória Mello Doffini Cordeiro195 Eduardo Ferreira do Amaral Filho196

Resumo: Diante da realidade da morte e de todo o processo que a envolve, se faz necessário um preparo para o enfrentamento e a aceitação daquilo que é inevitável, em especial para os profissionais de saúde que vivem em um contexto de morte. Esta pesquisa qualitativa tem por objetivo esclarecer como a Tanatologia pode contribuir com esses profissionais na prática dos cuidados paliativos com pacientes terminais. Embora a morte seja apresentada pela Filosofia, Psicologia e Teologia como algo natural e necessário, percebe-se atualmente uma desnaturalização da mesma, que passou a ser vivenciada no âmbito hospitalar. A morte é concebida como um fracasso pelos profissionais de saúde que foram treinados para salvar vidas. Faz-se necessário capacitar profissionais de saúde para que a prática de cuidados paliativos seja valorizada como forma de trazer qualidade à vida, enquanto a morte não chega, fazendo da pessoa, e não a doença, o alvo do cuidado.

Palavras-chave: tanatologia, morte, profissionais da saúde, cuidados paliativos, psicologia.

Abstract: Faced with the reality of death and the whole process that involves it, it is necessary to prepare for coping and accepting what is inevitable, especially for health professionals who live in a context of death. This qualitative research aims to clarify how Thanatology can contribute to these professionals in the practice of palliative care for terminally ill patients. Although death is presented by Philosophy, Psychology and Theology as something natural and necessary, there is currently a denaturalization of death, which has come to be experienced in the hospital environment. Death is conceived of as a failure by health professionals who have been trained to save lives. It is necessary to train health professionals so that the practice of palliative care is valued as a way to bring quality to life, while death does not arrive, making the person, and not the disease, the target of care.

Keywords: Thanatology, death, health professionals, palliative care, psychology.

193 Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário São José. Contato: edilanegandra@hotmail.com. 194Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário São José. Contato: sarahhoffmanncardoso@gmail.com.

195Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário São José. Contato: vitoriamdc_tombos@hotmail.com.

196 Mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da FIOCRUZ. Contato: eduamaralfilho@hotmail.com.

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Resumen: Ante la realidad de la muerte y todo el proceso que la involucra, es necesario prepararse para afrontar y aceptar lo inevitable, especialmente para los profesionales de la salud que viven en un contexto de muerte. Esta investigación cualitativa tiene como objetivo aclarar cómo la Tanatología puede contribuir a estos profesionales en la práctica de los cuidados paliativos para pacientes terminales. Si bien la muerte es presentada por la Filosofía, la Psicología y la Teología como algo natural y necesario, en la actualidad existe una desnaturalización de la muerte, que ha llegado a vivirse en el ámbito hospitalario. La muerte es concebida como un fracaso por profesionales de la salud que han sido capacitados para salvar vidas. Es necesario formar a los profesionales de la salud para que la práctica de los cuidados paliativos sea valorada como una forma de traer calidad a la vida, mientras no llegue la muerte, haciendo de la persona, y no de la enfermedad, el objetivo de los cuidados.

Palabras clave: Tanatología, muerte, profesionales de la salud, cuidados paliativos, psicología.

Introdução

O tema “morte” costuma gerar sensações e sentimentos como desconforto, medo e até mesmo um imenso pavor nas pessoas que sobre ela ouvem. Vivencia-se na sociedade atual uma exaltação da vida e, em contrapartida, uma negação da morte. No entanto, a morte não se trata de uma experiência reservada a alguns, mas iminente aonde quer que haja vida. Como bem salienta Angerami (2010, p.102), “é muito difícil, em termos gerais, a aceitação da ideia de que muitas vezes se necessita morrer, da mesma forma que em outros momentos necessitamos dormir, repousar”.

Diante da realidade da morte, não apenas do ato de morrer, mas de todo o processo que o envolve, se faz necessário um preparo para o enfrentamento e a aceitação daquilo que é inevitável. Destaca-se aqui de modo especial a necessidade desse preparo de alguns profissionais de saúde, que vivem naturalmente em um contexto de morte, sofrendo constantemente com o sentimento de culpa e impotência diante da perda de um paciente. Isso em razão de uma não compreensão da morte como um processo natural da vida, mas sim como um fracasso, visto que durante suas formações, não lhes foi ensinado sobre perder vidas, e sim sobre como salvá-las (FÉLIX, 2013).

Fischer (2007) salienta que a Tanatologia é uma ciência que tem como objetivo estudar a morte, os processos do morrer, as perdas e o luto. Sendo assim, se faz necessário o uso da mesma para abordar as particularidades do processo de morrer, a fim de propiciar uma melhor compreensão para aqueles que com ele se defrontam, bem como é importante reconhecer formas de enfrentar a dor psíquica e as

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adversidades impostas pela morte. Sendo assim, se propõem emergentes as contribuições da Tanatologia para os profissionais da saúde.

Tendo em vista que o despreparo do profissional de saúde ao lidar com a morte e com os processos do morrer deixa-o suscetível a diversas consequências negativas, como o sofrimento psíquico, compreende-se que este artigo se apresenta como uma contribuição na produção e organização de informações para estudantes e profissionais da área da saúde, principalmente para psicólogos e estudantes de Psicologia, levando em consideração o potencial que estes podem ter se forem empoderados para discutir tão relevante tema com os demais profissionais da saúde.

Este artigo de cunho qualitativo adotou para realização das investigações o caminho metodológico da pesquisa bibliográfica, que é, segundo Minayo (2014, p. 183), “capaz de projetar luz e permitir melhor ordenação e compreensão da realidade empírica”. O tema foi consultado em obras clássicas e artigos recentes, tendo como base os autores que têm se dedicado a compreender os processos da morte e do morrer, especialmente aqueles que dão ênfase às vivências dos profissionais da saúde sobre estes processos. A fundamentação teórica adotada é do campo da Tanatologia, visto o forte amparo que a referente literatura proporciona na abordagem ao tema.

De modo geral, objetiva-se esclarecer como a Tanatologia pode contribuir com os profissionais da saúde na prática dos cuidados paliativos com pacientes terminais. Para isto, busca-se ampliar os conceitos de vida e morte; identificar formas de auxiliar a equipe de saúde a lidar com a morte e os processos do morrer; e por fim, identificar possíveis formas de capacitar o profissional de saúde para o exercício dos cuidados paliativos, como distinta proposta diante da morte.

No sentido de guiar a leitura do artigo e a discussão de seus fundamentos teóricos, este se divide em três seções. A seção “Fatalidade ou Necessidade? Ampliando os conceitos de vida e morte” aborda e amplia os conceitos de vida e

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morte, apontando a morte como uma necessidade e não como fatalidade; a seção “A morte não é um fracasso”, discute formas de auxílio à equipe de saúde para lidar com as perdas de seus pacientes; por fim, a seção “A importância do preparo dos profissionais de saúde para o exercício dos cuidados paliativos”, aborda formas de capacitação da equipe de saúde para a prática do cuidado humanizado com pacientes em estágio terminal. Espera-se que, após seguir este percurso, o artigo responda ao público a que se destina sobre o modo pelo qual a Tanatologia pode contribuir com uma nova prática profissional diante da morte.

I- Fatalidade ou Necessidade? Ampliando os conceitos de vida e de morte Há diferentes formas de lidar com o fato de que a morte faz parte da vida, e em diferentes ramos do saber há definições e tentativas de compreender e explicar a morte. Dentre esses ramos está a Filosofia, a Psicologia e a Teologia, que são aqui utilizados para agregar conhecimento e oportunizar uma ampliação dos conceitos de vida e de morte, enquanto parte de um mesmo processo, como se fossem os dois lados de uma mesma moeda. Ou seja, as concepções de vida e de morte são apenas dois aspectos de um mesmo comportamento fundamental (BELLATO, 2005).

A começar pela Filosofia, o ser humano desde que nasce, caminha para o fim da vida, é um ser para a morte, e isso faz parte da vida. Para Heidegger (1927, apud CHALITA, 2013, p. 381) “a vida será autêntica se o homem chamar para si as responsabilidades, projetando-se para o futuro, tomando consciência da possibilidade última e certa de todo ser humano: a morte; se aceitar a própria finitude”. Ou seja, a morte é algo natural e necessário que faz parte do processo da vida.

Arantes (2019) salienta que o que separa o nascimento da morte é o tempo, e a vida é o que fazemos nesse intervalo, sendo, talvez, apenas a experiência de nascer tão intensa quanto a experiência do processo de morrer. Ter a consciência da proximidade da morte possibilita a construção de um ser humano melhor; e

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diante da compreensão de que a morte está a cada dia mais próxima surge um novo olhar e a possibilidade de que a vida seja mais bem vivida.

Segundo Erthal (2004, p.190), “o homem é o único ser que sabe que vai morrer. Tomar consciência da morte não é viver morbidamente a sua espera, mas sim valorizar cada possibilidade que ocorre durante a existência.” Assim sendo, a morte possibilita uma nova forma de se enxergar a vida, podendo atribuir mais valor e sentido a existência.

Na Psicologia, e neste caso mais especificamente, na psicanálise, Freud (1916 [1915]), enfatiza que a tendência de excluir a morte dos projetos de vida, evidencia outras renúncias e exclusões. Ele afirma que o inconsciente humano age como se fosse imortal e não admite a própria morte, no entanto, sugere que é melhor dar a morte o seu lugar na realidade, pois isso pode tornar a vida mais tolerável. Freud conclui: “se queres suportar a vida, prepara-te para a morte” (1916 [1915], p. 175). Esse suportar a vida, passa pelo suportar a perda e a falta que, inevitavelmente, atravessam as várias fases da vida.

Na Teologia, utilizando aqui a concepção do Cristianismo por ser, segundo dados do IBGE (2010), a religião predominante no Brasil, com base na Bíblia (1992), vê-se que a vida é como uma neblina passageira (Tiago 4:14); no livro dos Salmos a vida é exposta como uma sombra que passa (Salmos 144:4); e no livro do Eclesiastes se lê o relato sobre a finitude da vida e a dissolução do corpo, como elemento finito que retorna ao pó da terra (Eclesiastes 12: 6-7).

Brustolin (2013) reforça que a Bíblia, no seu conjunto, apresenta Deus muito mais para o dia a dia nos dilemas da vida do que para depois da morte, tendo seus relatos voltados não para o medo da morte, mas para as responsabilidades inerentes a vida. Lloyd-Jones (1995) salienta que o cristão é aquele que anda em novidade de vida, que entende que esta vida é temporária e então abandona o medo e passa a olhar a vida sob a ótica da eternidade, sua mente alcança outra dimensão e então começa a trabalhar na perspectiva de uma nova vida, de uma vida eterna, e essa mudança de mente levará, por consequência, a uma mudança de comportamento.

Diante do exposto, ainda que de forma breve e utilizando apenas algumas vertentes da Filosofia, da Psicologia e da Teologia, a morte é apresentada como

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algo natural e necessário, inerente à vida. No entanto, percebe-se uma desnaturalização da morte, como bem salienta Arantes (2019, p.190): “embora os avanços científicos na medicina tenham sequestrado a morte para dentro do hospital, quase como um evento proibido, ela precisa ser devolvida para a humanidade”. Ou seja, tratando-se de algo natural e necessário, a morte precisa ser vivenciada dentro dos diversos contextos do dia-a-dia e não reservada a um ambiente onde é normalmente entendida como uma fatalidade e consequente fracasso.

II- A morte não é um fracasso

Com o decorrer dos séculos, inúmeras foram as transformações sofridas pela sociedade, dentre elas, a maneira de entender e lidar com o processo da morte e o morrer. O que antes era considerado um evento natural, em que familiares vivenciavam todo o processo junto ao moribundo, nos tempos atuais, o homem teme e nega a morte, tendo como propósito evitá-la a qualquer custo (SPÍNDOLA; MACEDO, 1994). Embora seja um processo iminente a qualquer ser humano, assim como o nascer e o crescer, a morte coloca em destaque a fragilidade humana, uma vez que, apesar de todos os avanços tecnológicos voltados para prolongar a vida e adiar a morte, nada pode ser feito para evitá-la (KUBLER-ROSS, 1998).

O processo do morrer e a morte, que por muito tempo foi vivenciado somente no âmbito familiar, com as modificações sobre seu entendimento e com os avanços da medicina, migrou para o hospital, e com isso, a equipe que atua neste contexto, diariamente se depara com ela, tendo-a como sua companheira de trabalho (KOVACS, 2005). Considerando que a preservação e prolongamento da vida são os objetivos das ciências médicas, a morte é concebida como um fracasso pelos profissionais de saúde, uma vez que foram treinados para salvar vidas e não para perdê-las (LOPES, 2008). Durante a graduação, esses profissionais não recebem o preparo necessário para lidar com o processo da morte e o morrer. Tal formação é voltada para as funções técnicas, sendo ignorada a parte emocional que a profissão tende a envolver. Portanto, ao iniciar a prática e se deparar com um paciente em estágio terminal, os mesmos não estão preparados para lidar de uma forma que não

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acarrete consequências negativas a si e a seus pacientes, muitas das vezes se afastando destes últimos (FISCHER, 2007).

Fischer (2007) salienta que mesmo com todo o desenvolvimento tecnológico voltado para a saúde, a ciência médica ainda se depara com pacientes e patologias para os quais não há cura. Diante disso, o profissional que não possui um modo apropriado de lidar com os momentos finais da vida, utiliza de mecanismos de defesa para se distanciar de todos os sentimentos causados pelo processo do morrer, deixando de prestar um acolhimento humano a seus pacientes (ORTIZ; ABILIO; SOBREIRA, 2016).

A resistência em atuar frente à iminência de morte, se dá pelo reconhecimento da mesma como uma inimiga a ser combatida, pois como bem salientam Prade, Caselatto e Silva (2008, p.153), “o reconhecimento e aceitação da morte como um processo natural, viola as regras implícitas e explícitas que regem o cotidiano dos profissionais de saúde”. À vista disso, os mecanismos de enfrentamento utilizados, contribuem para que estes profissionais corrompam suas habilidades de se relacionar com os pacientes, uma vez que estes se tornam uma representação de sua angústia (FISCHER, 2007).

Alves (2005, p.90) afirma que, “a não possibilidade de afetação pela alteridade do outro, corresponderia, de algum modo, à incapacidade para o exercício do humano e, principalmente, do cuidado, como ofício e como condição”. A frustração do profissional se intensifica ao notar uma discordância entre sua prática e as expectativas que nutria sobre a mesma. Sendo assim, o ambiente de trabalho acaba por ser desgastante para este, pois além de ter que evitar o contato com as emoções do outro, ele também evita suas próprias emoções, o que o deixa suscetível a diversas implicações negativas, como por exemplo, a depressão e a Síndrome de Burnout (COMBINATO E QUEIROZ, 2006).

Diante das consequências negativas na saúde física e psíquica dos profissionais de saúde, em decorrência de uma não compreensão da morte como um processo natural, sugere-se a atuação do profissional da psicologia, tendo como amparo a tanatologia que “estuda a morte, os processos de morrer, o luto e as perdas” (FISCHER, 2007, p.13) para ampliar a visão dos demais profissionais sobre tais fenômenos.

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Farber (2013) salienta que o psicólogo pode proceder de forma preventiva e educativa, possibilitando um espaço no ambiente de trabalho, para que os profissionais possam compartilhar suas vivências diante dos processos da morte e do morrer e debater sobre os temas abordados pela tanatologia, tendo em vista que o objetivo deste, não é que se oculte o assunto morte, e sim identificar o lugar ocupado por ela, para assim, ser capaz de proporcionar um cuidado humanizado aos seus pacientes. Ademais, cabe ao psicólogo neste contexto, levar em consideração a individualidade de cada profissional da equipe, haja vista que as suas maneiras de entendimento podem ser influenciadas por fatores como o contexto cultural do qual está inserido, história de vida diante de situações de morte, sua formação e seu ambiente de trabalho (KOVACS, 2010).

Desta forma, munido do conhecimento das duas ciências, o psicólogo pode auxiliar a equipe de saúde no entendimento de vida e morte como processos impossíveis de se desassociar (SPÍNDOLA; MACEDO, 1994), tendo como intuito possibilitar que o profissional da saúde consiga atribuir um novo significado ao processo da morte e do morrer e, em consequência disto, prestar um cuidado mais qualificado aos seus pacientes, por estar mais seguro quanto ao seu sentimento e postura perante a morte (FARBER, 2013).

III- A importância do preparo dos profissionais de saúde para o exercício dos cuidados paliativos

A medicalização da vida, proveniente da visão atual de morte como uma falha técnica dos profissionais de saúde, tem justificado a falsa ideia de que cabe a estes atuar com intuito de prolongar a vida e consequentemente adiar a morte (TORRES, 2012). Para isso, são utilizados diversos aparatos técnicos para se obter a recuperação plena da pessoa em estado de doença. Estes procedimentos, na maioria das vezes, são dispensáveis, tendo em vista que podem causar ainda mais dor e sofrimento ao paciente terminal (MATSUMOTO, 2012).

Contudo, alguns profissionais da saúde obtiveram o entendimento de que há outra perspectiva no que diz respeito à assistência aos pacientes em que a cura não se faz mais possível, tendo como foco proporcionar a qualidade do que lhe resta de

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vida (HERMES; LAMARCA, 2013). Em 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu um conceito para cuidados paliativos como sendo um cuidado não com objetivos curativos, mas de alcançar uma melhora na qualidade de vida dos pacientes terminais e de seus familiares (OMS, 1990, apud BIFULCO, 2006). Nesta forma de cuidado, o alívio da dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais são de maior relevância. McCoughlan (2003 apud BIFULCO, 2006) soma três elementos considerados fundamentais à definição da OMS sobre cuidados paliativos: compaixão, humildade e honestidade.

A não possibilidade de cura não impede de que seja proporcionado ao paciente um cuidado humanizado, e não puramente técnico, onde lhe seja assegurada a sua dignidade. Contudo, essa assistência não deve ser vista pelo profissional como uma obrigatoriedade, e sim como uma posição de respeito pelo seu paciente (SANTANA et al, 2009). Para esta forma de cuidado, faz-se necessário uma equipe multiprofissional, tendo em vista que, segundo Hermes e Lamarca (2013, p. 2579) “o paciente em estado terminal deve ser assistido integralmente, e isto requer complementação de saberes, partilha de responsabilidades, onde demandas diferenciadas se resolvem em conjunto”. Para complementar, Bifulco (2006) afirma a importância do trabalho de uma equipe multiprofissional em cuidados paliativos, onde irá existir uma troca de informações sobre os pacientes e a contribuição de cada profissional, visto que, ninguém é detentor de todo o conhecimento que não possa compartilhar com os demais membros da equipe em prol de um cuidado mais holístico e humanizado.

O paciente em cuidados paliativos fica diante de muitas situações de perdas, além dos males ocasionados pela própria doença. Encontra-se diante de circunstâncias que geram medo, muitas vezes causado pela falta de comunicação entre eles, a equipe profissional e a família. É interessante que se crie um ambiente seguro para que ele possa se expressar e levar em consideração que cada pessoa enfrenta a doença de acordo com seu modo de encarar a vida, seu histórico familiar, suas crenças. Possibilitar que essa pessoa seja vista de maneira ampliada é fundamental em cuidados paliativos. A equipe deverá proporcionar meios para que esse paciente se sinta seguro ao expressar seus desejos e decisões (PRADE; CASELLATO; SILVA, 2008).

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Diante desta reflexão, deve-se levar em consideração a importância do preparo dos profissionais de saúde para o exercício dos cuidados paliativos. Com a evolução da medicina, a preocupação em encontrar profissionais bem capacitados tecnicamente deixa de valorizar esse olhar mais humanizado do cuidado. Como a medicina tem se fragmentado em diversas especialidades, os profissionais acabam se especializando em determinada área, mas, em contrapartida, se esquecem da pessoa em sua totalidade, dotada não só do corpo físico, mas também da parte psicológica e espiritual (MACHADO; PESSINI; HOSSNE, 2007).

Uma das principais maneiras de capacitar a equipe de saúde para um cuidado humanizado é reestruturando a grade curricular dos cursos de graduação da área de saúde. Com o auxílio da Tanatologia, proporcionando uma educação para a morte. Ao compreender o significado da morte, dos processos de morrer e do luto o profissional terá uma maior estabilidade quando estiver diante destas demandas, e consequentemente, prestará um cuidado humanizado (BIFULCO, 2006; HERMES E LAMARCA, 2013).

Estes profissionais da área da saúde necessitam em sua formação ter contato não apenas com os aparatos tecnológicos modernos, mas também com o que há de humano, como a gentileza, o diálogo, o respeito pela individualidade e necessidade de cada paciente, sendo ela técnica ou não (BIFULCO, 2006).

Farber (2013), por outro lado, afirma que cabe a instituição de saúde, dispor de uma assistência à sua equipe, onde eles possam compartilhar suas vivências e angústias. Assim, a morte não se torna um assunto a ser ocultado, e ao falar e trocar experiências sobre ela proporciona-se um melhor entendimento e elaboração da mesma. Sugere-se desenvolver um melhor preparo para esses profissionais da saúde em atuação, com medidas educativas e preventivas, com seminários, congressos, cursos voltados para o saber lidar com as perdas, com a morte, que possam de algum modo contribuir para que esses profissionais encontrem harmonia nos cuidados paliativos, verificando a necessidade de um novo olhar para quem passa por um momento bastante delicado com sentimentos de dor e angústia (FARBER, 2013).

Conforme salienta Farber (2013), para que os profissionais da saúde atuem com primazia é essencial o autoconhecimento a respeito da morte, como reagem

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diante da sua própria finitude, para que dessa maneira possam desenvolver a empatia, tão essencial aos cuidados paliativos. É preciso que tenham consciência da morte como algo natural ao desenvolvimento humano, para que esse tipo de cuidado possa acontecer de forma satisfatória. Para finalizar, evoca-se Bifulco (2006, p. 21) para reforçar que “num processo de ‘re-humanização’ da morte, em que essa faz parte da vida, torna-se necessário que os profissionais revejam suas práticas; que aprendam a cuidar da pessoa e não somente da doença.”.

Considerações finais

Sabendo que há um tabu em relação ao tema morte, principalmente no âmbito hospitalar onde há a missão de evitá-la a qualquer custo, este artigo surge como uma contribuição para estudantes e profissionais da área da saúde, em especial da psicologia, que atuam ou poderão atuar em tal contexto. Para tanto, buscou-se responder de que forma a tanatologia pode contribuir com os profissionais da saúde na prática dos cuidados paliativos com pacientes em estágio terminal.

Utilizando-se de vertentes da filosofia, psicologia e teologia, verifica-se um discurso que tem em comum a morte como parte do processo de vida, sendo algo absolutamente natural e necessário. Considerando a finitude da vida, ao se iniciar o processo de viver, também se inicia o de morrer. Além da morte ser inerente a vida, através da consciência da morte, a vida pode ser entendida e vivida de uma forma completamente distinta, ganhando sentindo e valor diante da morte.

Discutiu-se também aqui sobre formas de auxiliar, através da tanatologia, os profissionais de saúde que atuam junto ao paciente em estágio terminal, visto que durante a formação normalmente não recebem o preparo necessário para lidar com a morte e o processo do morrer, visto a mesma ser vista como uma inimiga a ser combatida.

Viu-se que, não possuindo o entendimento da morte como algo natural e necessário, a equipe de saúde acaba não prestando um acolhimento holístico e humanizado aos seus pacientes, por se distanciar de todas as emoções que aquele

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contato irá lhe proporcionar. O ambiente de trabalho acaba se tornando desgastante para o profissional de saúde, o que o deixa sujeito a diversas implicações negativas na sua saúde física e psíquica. Com isso, o profissional da psicologia munido do conhecimento da tanatologia, pode atuar auxiliando a equipe a atribuir um novo significado ao processo da morte e do morrer, através de ações preventivas e educativas.

Por fim, se fez uma breve análise da importância do preparo da equipe de saúde para o exercício dos cuidados paliativos, notando-se uma necessidade de ampliar o entendimento da morte como algo natural onde quer que haja vida. Visto que os pacientes em estágio terminal precisam ser vistos de forma holística e humanizada tendo sua subjetividade respeitada, a partir deste entendimento, o profissional conseguirá re-humanizar o processo da morte e do morrer. Para que isso seja possível, os profissionais de saúde precisam estar preparados para lidar com os processos da morte e do morrer, e com os sentimentos que deles advém.

Pode-se concluir que ainda há um longo caminho no que diz respeito ao preparo dos profissionais de saúde que atuam junto a pacientes em estágio terminal. Há a necessidade de um resgate da naturalização da morte, sendo ela vista como algo necessário ao processo de vida e não como uma fatalidade ou fracasso, sendo o último muitas vezes atribuído pelos profissionais da área da saúde que encontram- se despreparados para lidar com pacientes em estágio terminal, pois são ensinados a manter a vida a qualquer custo, desconsiderando a dignidade necessária durante o processo de morrer.

É importante um olhar voltado para a capacitação dos profissionais de saúde, a fim de que a prática dos cuidados paliativos seja valorizada como forma de trazer qualidade à vida, enquanto a morte não chega, fazendo da pessoa o alvo do cuidado, e não a doença.

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Referências

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