COMENTÁRIO DA PROVA DE LITERATURA
Diferentemente dos últimos vestibulares, a prova deste ano apresentou seis questões focalizando uma
obra indicada cada uma, deixando, pois, de fora, quatro dos livros da lista. Eram muito boas aquelas questões
comparativas.
Nossos alunos, certamente, não tiveram muitas dificuldades para resolver as seis questões, dadas as
abordagens e reflexões desenvolvidas nas aulas durante o ano inteiro e nas revisões mais recentes. Nada
havia que suscitasse polêmica ou incertezas.
Boa parte das questões exigia a leitura atenta e integral das obras.
Como ressalva, consideramos que uma boa prova de Literatura deve possuir textos literários transcritos.
Este é um princípio-consenso entre as principais bancas elaboradoras do Brasil. Aliás, a própria UFPR já nos
deu lições magistrais disso em anos anteriores.
Além disso, em vestibulares recentes (2005, 2006 e 2007), a UFPR conseguiu abordar a História da
Literatura Brasileira, a Teoria Literária e as Obras Indicadas, numa mistura bem harmônica e condizente com o
programa estabelecido.
O aluno que pleiteia de fato uma vaga na UFPR merece ser avaliado por questões que cubram da forma
mais abrangente o programa estabelecido. Sim, sabemos que é impossível cobrar todo o programa, mas
sabemos também que é possível fazer muito melhor do que foi feito neste ano – prova disso são as edições
anteriores do vestibular da UFPR.
Esperamos provas melhores, começando com a segunda fase, onde poderia aparecer uma boa questão
com base na compreensão e interpretação de textos literários.
Professores de Literatura do Curso Positivo.
LITERATURA
Comentário:
1. CORRETA – Nesta afirmativa foi bem caracterizado um dos objetivos de Cecília Meireles ao compor a obra: fazer uma
revisão crítica da história, levar o leitor a refletir sobre o poder da linguagem e revelar as consequências da ambição desenfreada.
2. INCORRETA – O narrador não se dirige às palavras, personificando-as, “ao longo de todo o Romanceiro”, mas apenas
neste romance.
3. CORRETA – Cecília Meireles em sua narrativa utiliza os recursos de sua poesia neossimbolista. Romanceiro da Inconfidência é uma obra que dialoga perfeitamente com os gêneros épico-narrativo, lírico e dramático.
4. INCORRETA – A autora mescla personagens e fatos históricos a elementos ficcionais, míticos e poéticos. Exemplos:
Comentário:
a) INCORRETA – Nos textos ficcionais vários personagens se assemelham a Jeca Tatu, como o Zé da Alvorada e Sinh’Ana do
conto A colcha de retalhos; o Nunes de A vingança da peroba; o Luís, o Urunduva, o Pedro Suão e a Veva do conto Bucólica.
b) INCORRETA – Algumas personagens infanto-juvenis de Monteiro Lobato lembram, embora sem a carga soturna, o Jeca
Tatu, como: Tio Barnabé, Garnizé e Zé Carneiro. Entretanto, Emília, esta bonequinha de pano, era uma mulher de forte personalidade que não aceitava verdades absolutas e reivindicava para si o direito de ver o mundo com os olhos livres.
c) INCORRETA – O conto Os faroleiros destoa da maioria, pois não é regionalista: passa-se no litoral e não no interior onde fica
Itaoca.
d) CORRETA – O pantanal misterioso do conto Bocatorta era conhecido como uma das bocas do inferno; no conto O matapau,
o filho adotivo de Elesbão fez como a planta matapau e destruiu a família do padrasto; em Bucólica, salta aos olhos o contraste entre a natureza e o homem; Laura, mulher de Bruno é um exemplo da frieza e aridez da “face Noruega” da vida do marido.
e) INCORRETA – O único desses autores referido na obra é Maupassant. Além disso, a intertextualidade presente na obra
demonstra a ampla cultura do autor e não de seus personagens.
Comentário:
a) INCORRETA – Seu Ribeiro era muito amigo de Madalena e, após a morte desta, resolver ir embora da fazenda, sem tendo
outro lugar para ir: “Assim o excelente seu Ribeiro, que eu esperava enterrar em S. Bernardo, foi terminar nos cafés e nos bancos dos jardins a sua velhice e as suas lembranças.” (capítulo 32)
b) INCORRETA – Madalena se suicida por não suportar mais a tortura psicológica que Paulo lhe impõe. Foi sua maneira de não
ceder ao espírito possessivo do marido.
c) INCORRETA – Dona Glória é objeto da fúria de Paulo Honório e se opõe a ele calada e ferrenhamente. Tanto é que, logo
após a morte da sobrinha, Dona Glória tratou de ir embora de S. Bernardo.
d) INCORRETA – Padilha não é nada ligado à terra. Causou a decadência de S. Bernardo e se obrigou a vendê-la por preço
aviltado. Foi trabalhar como professor na fazenda para que pudesse arranjar alguma forma de renda.
e) CORRETA – A afirmação revela o lado humano do frio jagunço de Paulo Honório.
LITERATURA
Comentário:
1. INCORRETA – A ambiguidade, as incertezas e as reticências marcam a narração de Bentinho, que nos oferece seu relato
justamente para tentar entender o descalabro de seu mundo e para acusar a sua ex-esposa Capitu.
2. CORRETA – Os sonhos ambiciosos, as curiosidades, a dissimulação marcam a personalidade de Capitu desde a meninice.
Isto servirá de argumento para Bentinho afirmar que a Capitu da Glória já estava dentro da de Matacavalos.
3. CORRETA – Vale o que dissemos a respeito da afirmação 1.
4. INCORRETA – Machado de Assis escreve sobre as relações pessoais, sobre o comportamento das pessoas e sobre os
vícios da sociedade e não sobre “vastos painéis sociais ou sagas de clãs familiares”.
Comentário:
a) INCORRETA – Nos dois contos em questão, o foco narrativo é em 1ª pessoa. Além disso, o aprofundamento psicológico em
ambos os contos é bastante semelhante.
b) INCORRETA – Em “ Leão-de-chácara”, as ações ocorrem no Rio de Janeiro e, em “Paulinho Perna Torta”, as ações se dão
na “boca do lixo”, em São Paulo.
c) CORRETA – Realmente, Pirraça reconhece que já está ficando velho (45 anos), com os cabelos embranquecendo e criando uma
barriguinha. Paulinho, influenciado pelas conversas de Zião e outros macumbeiros, repensa sua vida, apesar de ser um criminoso “carimbado” demais, perdendo espaço para outros bandidos e sem o mesmo poder para corromper representantes públicos.
d) INCORRETA – Não há uma idealização da malandragem. Há o retrato do que ela é ou, como dizia Pirraça, em
“Leão-de-chácara”: “Nem vida ruim, nem boa. É vida.” Sim, há certa solidariedade em muitas situações, mas há também as traições, as “crocodilagens”, malandro que passa outro malandro para trás. Em ambos os contos a malandragem é brutalmente e violentamente realista.
e) INCORRETA – Alternativa polêmica. Ambos conheceram a violência desde pequenos, mas de forma diferente: Pirraça era
briguento mesmo e fez da violência o seu ganha-pão. Já Paulinho teve de aprender a brigar para se defender. O apelido Pirraça vem desta postura “embirrada” do protagonista; já o apelido “duma Perna Torta” vem da surra que Paulinho tomara e
Comentário:
1. CORRETA – Essa casa “macabra”, além disso, remete-nos à simbologia do mito da caverna de Platão.
2. INCORRETA – A peça, que deveria estrear em 1948, ficou ainda dois anos sob censura. Os temas nela abordados
referem-se ao substrato preconceituoso, racista, psicótico e hipócrita de parte da sociedade brasileira. A peça foi escrita em 1946 e encenada, pela primeira vez, em abril de 1948. Entretanto, em relação ao tempo da ação da peça, temos o seguinte, já na abertura da peça: “A ação se passa em qualquer tempo, em qualquer lugar.”
3. Verdadeira. Elemento fundamental para a compreensão da peça.
4. Verdadeira. São alguns elementos da tragédia clássicas, temperados pela genialidade e morbidez de Nélson Rodrigues, que
se veem em Anjo negro.