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A BAHIA NA VANGUARDA DO DIREITO DAS FAMÍLIAS. Sergio Barradas Carneiro

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Salvador - 2015

DO DIREITO DAS FAMÍLIAS

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PRODUÇÃO EDITORIAL EDITOR: Sergio Carneiro AUTOR: Sergio Carneiro

REVISÃO: Lânia Pereira e Olivia Barradas PROJETO GRÁFICO E EXECUÇÃO: Bira Paim

Carneiro, Sérgio Barradas

C 280b A Bahia na vanguarda dos direitos das famílias / Sérgio

Barradas Carneiro. – Salvador : Assembleia Legislativa, 2015. 90 p.

1. Direitos - família - Bahia II . Título.

CDD 346.01542

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À minha Goyana, inspiração em tudo que faço na minha vida. Aos meus pais João Durval e Yeda, pelo exemplo. Às minhas fi lhas Fernanda, Aline e Ticiana, meus genros André,

Ruy e Lucas, meus netos Andrezinho e Fernandinho, por existirem na minha vida.

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À Iânia Pereira, pesquisadora e parceira, sem a qual este trabalho não teria sido possível. À minha Tia Olivia Barradas pela revisão do texto. Ao meu Anjo de Guarda, a Professora Maria José Silveira,

companheira de jornada de toda uma vida. Aos queridos Joaci Goes, Rodrigo da Cunha Pereira e Mariana Chaves pelo prefácio, apresentação e orelha do livro. Bira Paim pelo projeto e diagramação.

Ao Dep. Marcelo Nilo e a Assembleia Legislativa da Bahia, pela impressão.

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PREFÁCIO ...11 APRESENTAÇÃO ...13 INTRODUÇÃO ...17 1. Ruy Barbosa: Decreto nº. 181, de 24 de janeiro de 1890.

Institui o casamento civil no Brasil ...19 1.1 RUY BARBOSA (1849-1923) ...21 1.2 O CASAMENTO NO BRASIL ANTERIOR AO

DECRETO Nº. 181, DE 24 DE JANEIRO DE 1890 ...22 1.2.1 O CASAMENTO NO BRASIL COLÔNIA: SIÇÃO DOS DOGMAS E RITOS CATÓLICOS ...23 1.2.2 O CASAMENTO NO BRASIL IMPÉRIO: AS

PRIMEIRAS LUTAS PARA A INSTITUIÇÃO DO CASAMENTO CIVIL ...25 1.2.3 RUY BARBOSA E O DECRETO 181/1890 E A

INSTITUIÇÃO DO CASAMENTO

CIVIL NO BRASIL ...31 REFERÊNCIAS ...35 2. Nelson Carneiro:Lei nº. 6.515, de 26 de dezembro

de 1977: a Lei do Divórcio. ...39 2.1 NELSON CARNEIRO, PATRONO DO

DIVÓRCIO NO BRASIL (1910-1996) ...41 2.2 INSTITUTO DO DIVÓRCIO:

CONCEITOS E ANTECEDENTES ...42 2.3 O DIVÓRCIO NO BRASIL:

ANTECEDENTES À LEI DO DIVÓRCIO ...46 2.3.1 A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 8 DE

1977 E A LEI DO DIVÓRCIO ...51 REFERÊNCIAS ...57

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3.1 CÉSAR BORGES (1948 - ) ...63 3.2 LEI 11.441: INSTITUIU O DIVÓRCIO

EXTRAJUDICIAL ...63 3.2.1 CARACTERIZAÇÃO DA LEI Nº 11.441/07 ...65 3.2.2 PRINCIPAIS ALTERAÇÕES COM A

LEI Nº 11.441/07 ...67 REFERÊNCIAS ...70 4.Sérgio Barradas Carneiro: Emenda Constitucional de 13 de julho de 2010 - Suprimiu o instituto da separação judicial e eliminou o prazo de dois anos

para o chamado divórcio direto. ...73 4.1 SÉRGIO BARRADAS CARNEIRO (1960 -) ...75 4.2 A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº.

66/2010 – ANTECEDENTES ...76 4.3 EFEITOS DA EMENDA CONSTITUCIONAL

Nº. 66/2010 ...83 REFERÊNCIAS ...88

(11)

PREFÁCIO

Na área legislativa do Direito de Família, tem sido

maúscu-la a contribuição da Bahia, ao longo de nossa História

Repu-blicana, através do concurso de alguns dos seus representantes

no Congresso Nacional, começando com Ruy Barbosa,

pas-sando por Nelson Carneiro e César Borges, culminando com

o jovem jurista e parlamentar, Sérgio Barradas Carneiro.

Enquanto a Ruy coube a autoria da lei que introduziu, entre

nós, o casamento civil, em 1890, e a Nelson Carneiro a

aprova-ção do divórcio, em 1977, o ex-governador baiano César Borges

imprimiu seu nome nos anais da Câmara Alta, como autor da

Lei que instituiu o divórcio extrajudicial, em 2007. Ruy

Barbo-sa, Nelson Carneiro e César Borges realizaram essas importantes

conquistas na condição de senadores da República.

Autor da Emenda Constitucional que suprimiu o instituto

da separação judicial e eliminou o prazo de dois anos para a

ob-tenção do divórcio direto, foi como deputado federal que Sérgio

Barradas Carneiro atuou, respaldado pelo prestígio de uma

irre-tocável biografia como servidor público e parlamentar, que lhe

granjeou o reconhecimento, durante anos seguidos, como um

dos mais influentes parlamentares brasileiros, caracterizada por

denso espírito público, inteligência, honradez e competência

profissional, no campo do Direito, atributos que o

recomenda-ram ao elevado posto de Procurador da Câmara dos Deputados,

no período 2009/2010. É verdade que seu desempenho

pre-gresso, como vereador, por Salvador, e como deputado estadual,

pela Bahia, já prenunciava o que estava por vir.

O grande mérito da emenda de Sérgio Barradas Carneiro

reside na enorme desburocratização do processo para permitir às

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pessoas a consumação do seu propósito de se libertarem de um

vínculo matrimonial já desfeito pelos fatos da vida.

Além de ensejar o conhecimento detalhado dos caminhos

percorridos para alcançar tão importante desiderato, o texto que

o leitor tem em mãos se recomenda, também, e, sobretudo, para

restaurar o ânimo da sociedade brasileira, abalado pelo festival

de escândalos que comprometem a imagem dos homens

públi-cos perante a confiança popular. A invariável retidão de Sérgio

Barradas Carneiro e seu acendrado desejo de servir à causa

pú-blica funcionam como um oásis no deserto da desesperança em

que o Brasil ora se encontra.

Este livro é uma prova soberana de que nem tudo está

per-dido.

Joaci Fonseca de Góes

Advogado, foi Deputado Federal constituinte (1987-1989),

conferencista, orador, articulista e autor de vários ensaios. Em

2001, publicou “A Inveja nossa de cada dia, como lidar com

ela”; em 2004, “Anatomia do ódio” e em 2009, “A força da

vo-cação para o desenvolvimento das pessoas e dos povos”. Assina

uma coluna semanal do jornal Tribuna da Bahia, é comentarista

da Rádio Metrópole e consultor educacional das Obras Sociais

Irmã Dulce. É titular da Academia de Letras da Bahia, onde

ocupa a Cadeira nº 7 que tem como Patrono José da Silva

Lis-boa, Visconde de Cairu. É sócio efetivo do Instituto Geográfico

e Histórico da Bahia, diretor da Associação Comercial da Bahia

e sócio do Instituto Genealógico da Bahia.

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APRESENTAÇÃO

O Brasil deve a Sergio Barradas Carneiro a aprovação da

Emen-da Constitucional 66/2010, que simplificou o sistema de divórcio

no Brasil. Foi ele, como Deputado Federal que teve a coragem de

sonhar junto com o IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito

de Família essa proposição legislativa, que significou mais do que

a supressão do instituto da separação judicial, e o fim de prazos

desnecessários para se requerer o divórcio. A Emenda

Constitu-cional 66/2010 tem grande importância prática, pois diminui o

número de processos judiciais, já que não é mais necessário dois

processos (de separação judicial e depois divórcio) para se

dissol-ver o casamento. Com isto não se discute mais a culpa pelo fim da

conjugalidadde, um dos maiores sinais de atraso do nosso

ordena-mento jurídico. Os processos de separação judicial levavam anos e

anos discutindo quem era culpado pelo fim do casamento, como

se existisse um culpado. E o pior é que isto não resolvia a vida de

ninguém. Ao contrário: só trazia sofrimento e dor.

Tem importância histórica e simbólica, no sentido de

reafir-mar o Estado laico, já que o instituto da separação judicial está

diretamente atrelado à dogmas religiosos. Para ser aprovado o

di-vórcio no Brasil, em 1977, foi necessário um acordo com as forças

católicas, para manter o “desquite”, que então passou a se chamar

“separação judicial”. Sim, porque católico que é católico não pode

se divorciar, e por isso era preciso manter a alternativa do desquite.

E para sustentar este discurso religioso a doutrina jurídica criou

subterfúgios para explicar o inexplicável: a separação judicial

ter-mina o casamento, mas não o dissolve; Apenas o divórcio tem o

poder de dissolver o casamento. Foi preciso esse jogo de palavras

para sustentar uma lógica jurídica. Com a Emenda 66/2010, o

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“purgatório” da separação judicial cai por terra. Demorou.

Ape-sar da igreja católica ter deixado de ser religião oficial no Brasil

em 1891, com a primeira Constituição da República, ela

conti-nuou exercendo sua influência. Ainda hoje são as forças religiosas

que mais influenciam Projetos de lei em tramitação na Câmara e

no Senado. Sérgio Barradas Carneiro bem sabe disso, pois

inde-pendentemente de suas convicções religiosas particulares, jamais

permitiu que elas interferissem em sua competente atuação de

Deputado Federal. Portanto, a Emenda 66/2010 foi um passo

significativo para a reafirmação do Estado laico, que deve

respei-tar todas as religiões. Por outro lado não pode permitir que elas

ditem as regras jurídicas e legislativas, sob pena de se impor à

po-pulação a fé e convicção religiosa particular de determinada igreja

que tenha o poder maior de lobby para aprovação de seus projetos

de lei. Os pastores de alma podem exigir que os seus fiéis sigam os

seus dogmas, mas não podem querer impor esses dogmas à

popu-lação que não escolheu aquela determinada religião.

O Estado laico abraça o princípio da liberdade. E é isto que a

Emenda Constitucional, proposta pelo IBDFAM e capitaneada

pelo então Deputado Sérgio Barradas Carneiro, quis

implemen-tar no Brasil: a liberdade das pessoas ficarem casadas ou não,

mas sem amarras e dificuldades impostas pelos prazos

estabe-lecidos em lei e sem discussão de culpa. Em um Estado laico a

crença é na liberdade e que um casamento só se sustenta pelo

amor. Em outras palavras, se não há mais o afeto e o desejo de

ficar casado o Estado não pode dificultar a sua dissolução. A

família se sustenta é nos laços de afetividade e não na imposição

do liame jurídico.

Assim como apregoaram em 1977, que o divórcio

estimu-laria o fim da família, nós do IBDFAM e o Deputado Sérgio

(15)

Barradas Carneiro tivemos que rebater o discurso moralista de

que a Emenda 66/2010 ajudaria a acabar com a família. Mas o

que aconteceu foi justamente o contrário. A liberdade maior de

dissolver o casamento trouxe aos casais mais responsabilidade,

já que não é mais o Estado quem dita estas regras. Se o Estado

interfere cada vez menos na vida privada, e deixa de tutelar a

vida íntima, acabando com prazos para se requerer o divórcio,

esta responsabilidade e todos os riscos daí advindos é do próprio

sujeito. Isto é uma evolução, e portanto a EC 66/2010 reafirma

esta liberdade, que tem como consequência a responsabilidade,

um dos princípios fundamentais e norteadores do Direito de

Família Contemporâneo.

Apesar da clareza do novo texto constitucional em eliminar

o inútil instituto da separação judicial ele reapareceu na

legisla-ção infra constitucional. A lei 13.105/15 que instituiu o novo

código de Processo Civil – CPC-2015 fez constar em seu artigo

23, III a expressão separação judicial. Em outros artigos deste

código (53, I; 185, III; 693; 731; 732 e 733) aparece a expressão

separação, mas que pode e deve ser interpretada como separação

de corpos, separação de fato ou mesmo separação decorrente

de uma união estável. Sérgio Barradas Carneiro, também como

Deputado relator do CPC-2015 na Câmara, deu parecer

con-trário à manutenção da expressão separação judicial. Apesar da

expressão ter aparecido no referido artigo 23, III do CPC-2015,

ela é letra morta, pois o que está morto não tem como

ressusci-tar. Em linguagem jurídica, a separação judicial no CPC-2015

padece de inconstitucionalidade originária, em razão da EC

66/2010 que é obra e graça do Sérgio Barradas Carneiro.

Os velhos e novos baianos, como Ruy Barbosa, Nelson

Car-neiro, Cesar Borges e Sérgio Barradas CarCar-neiro, têm honrado o

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Brasil com sua coragem de abrir caminhos e novas perspectivas

para o Direito de Família mais contemporâneo, através de seus

projetos de lei, mesmo que em princípio sejam mal vistos e nem

tenham a simpatia de seu eleitorado. Mas a ética desses

parla-mentares que está acima e além das eleições, são exemplos raros,

e por isto foram revolucionários na coragem de apresentar ideias

e Projetos de Lei com uma visão um pouco além do que o

elei-torado pudesse compreender de imediato. Eis aí mais um elo e

denominador comum entre esses quatro baianos que trouxeram

mais humanidade e humanização ao Direito das Famílias.

Rodrigo da Cunha Pereira

Advogado, Presidente Nacional do Instituto Brasileiro de

Direito de Família IBDFAM, Doutor (UFPR) e Mestre

(UFMG) em Direito Civil e autor de vários artigos e livros em

Direito de Família e Psicanálise.

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INTRODUÇÃO

Este livro registra a contribuição de quatro personalidades

baianas – Ruy Barbosa, Nelson Carneiro, Cesar Borges e Sérgio

Barradas Carneiro - para o direito de família brasileiro, cada um

em sua época.

Seu objetivo é reunir informações das mais diversas fontes,

qualificá-las e, em seguida, traduzi-las e apresentá-las na forma

de texto sobre os temas abordados.

Buscando obter informações referentes aos aludidos juristas

e às suas respectivas leis foi elaborado um estudo de natureza

descritiva, de caráter bibliográfico, com abordagem qualitativa.

Esta seleção foi feita mediante a qualificação dos artigos e livros

encontrados.

Para a elaboração do presente livro, adotou-se como

estraté-gia e metodoloestraté-gia, as seguintes ações:

Fontes de Pesquisa:

Páginas eletrônicas do Senado Federal do Brasil, artigos,

monografias e um vasto acervo bibliográfico, em outros sites

referentes a:

Dados biográficos sobre os juristas em estudo;

Informações atinentes à tramitação das leis

Elementos voltados à construção do referencial teórico

acer-ca das mencionadas leis, bem como para o conhecimento dos

aspectos históricos, políticos e sociais que influenciaram na

pro-posição dos institutos pesquisados (casamento e divórcio).

Dados biográficos sobre os juristas em biografias, em

pági-nas eletrônicas do Senado e sites de pesquisa;

Informações atinentes à tramitação das leis encontradas no

portal do Senado Federal do Brasil;

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Decreto nº. 181, de 24 de

janeiro de 1890 a. Institui

o casamento civil no Brasil.

1.

Ruy

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1.1 RUY BARBOSA (1849-1923)

Não há brasileiro que não fique pequeno diante do talento oceânico de Ruy. Como tivemos ocasião de afirmar no resumo biográfico que dele fizemos, no livro “As 51 personalidades mais marcantes do Brasil”, sua oratória incomparável foi posta a serviço das mais importantes causas do seu tempo, incluin-do -se, aí, as de conteúincluin-do social como tão bem destacaincluin-do por nomes tutelares de nossa inteligência, como João Mangabeira e Orlando Gomes (Joaci Góes, 2015)

Nascido em Salvador, Bahia, no dia 05 de novembro de 1849, filho do médico, político e educador, João José Barbosa de Oliveira e dona Maria Adélia, Ruy Barbosa é considerado um dos mais importantes personagens da história do Brasil, tendo sido eleito no ano de 2006 pela Revista Época, “o maior brasileiro da história” e, em 2013, pelo jornal baiano A Tarde, “o maior baiano de todos os tempos” (VIANA FILHO, 2008).

Ruy Barbosa foi orador, advogado, jornalista, diplomata, escritor, abo-licionista, Conselheiro do Império, membro fundador da Academia Brasi-leira de Letras e seu presidente no período de 1908 e 1919, Ministro dos Negócios da Justiça (interino), Ministro da Fazenda, deputado, senador, vice-chefe da Delegação brasileira à Conferência de Haia, onde ficou reco-nhecido como “O Águia de Haia”.

Como homem político, assumiu o mandato de deputado provincial no ano de 1878 e deputado geral por dois mandatos (1878-1881 e 1882-1884), consolidando-se como um grande orador parlamentar. Empenhou--se na luta pelas seguintes reformas: a eleitoral (1881) e dos ensinos primá-rio, secundário e superior (1882-1883).

Ruy Barbosa concorreu e perdeu as eleições para a Câmara dos Depu-tados Nacional nos anos de 1886, 1888 e 1889, afastando-se dos cargos eletivos, retornando no ano de 1889 como Ministro da Fazenda do Gover-no Provisório da República. Na República também foi senador por treze mandatos: 1890-1891; 1891-1892; 1892-1893; 1894-1896; 1897-1899; 1900-1902; 1903-1905; 1906-1908; 1909-1911; 1912-1915; 1915-1917; 1918-1920 e 1921-1922. Concorreu também à Presidência da República

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nos anos de 1911 e 1919 (PORTAL SENADORES, 2015; FUNDAÇÃO CASA DE RUY BARBOSA, 2015).

O trabalho de Ruy Barbosa, no entanto, destaca-se no governo pro-visório da República, tendo ajudado a redigir a primeira constituição da República (1891); redigiu o Decreto 119-A de 7 de janeiro de 1890, que proíbe a intervenção federal e dos Estados federados em matéria religiosa, consagrando a plena liberdade de culto, extinção do padroado isto é, o Direito de protetor de quem fundou uma igreja e o Direito de conceder benefícios eclesiásticos  e a separação da Igreja e do Estado. Foi também autor do Decreto nº 181, de 24 de janeiro de 1890 que instituiu o casa-mento civil no Brasil, contribuindo para a modernização do Direito da Família no país.

Ruy Barbosa faleceu em Petrópolis, Rio de Janeiro, cidade onde foi se convalescer de uma pneumonia, em 1º de março de 1923. Foi sepultado em Salvador, Bahia, na galeria subterrânea do Palácio da Justiça, no Fórum Ruy Barbosa.

1.2 O CASAMENTO NO BRASIL ANTERIOR AO DECRETO Nº. 181, DE 24 DE JANEIRO DE 1890

Constatamos nos registros históricos dos séculos XVI ao XIX, o ca-samento como tema do Direito de Famílias com maior destaque, sendo a base da família que, por sua vez, é o fundamento da sociedade, uma instituição onde é possível entender costumes, crenças e a cultura de uma sociedade.

No Brasil, no período compreendido de 1500, quando foi descoberto e tornou-se colônia de Portugal até o ano de 1890, primeiro ano da Re-pública, a Igreja Católica teve monopólio sobre os direitos matrimoniais. É importante lembrar que nos três primeiros séculos de colonização e povoamento do Brasil, a manutenção do poder patrimonial era fundamental e a família tinha papel importante neste processo, visto que era ela que ditava as regras na sociedade da época.

Neste contexto, o casamento era a base da família e a instituição que mais contribuía para a dominação política e econômica. Entendia-se a fa-mília como um dos componentes da organização social, sendo necessário gerenciá-la e organizá-la pelo caminho da fé e o casamento constituía-se

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no principal meio, uma vez que é o responsável pela formação das famílias legitimamente constituídas.

1.2.1 O CASAMENTO NO BRASIL COLÔNIA: IMPOSIÇÃO DOS DOGMAS E RITOS CATÓLICOS

É importante ressaltar que no período inicial de colonização e povoamento no Brasil, o direito português que se estendia às suas colônias, reconhecia como válidos três tipos de casamento: o realizado perante a autoridade religiosa; o denominado de “marido conhecido” ou “pública fama”, em que havia publicidade, pois era realizado na presença de teste-munhas, porém, sem intervenção da autoridade religiosa. Caracterizava-se pela coabitação e pelo tratamento mútuo e recíproco como marido e mu-lher, e; publicidade da união perante a sociedade. Não havia a intervenção da autoridade eclesiástica na constituição do vínculo (WALD, 1998).

Estas uniões foram válidas até entrar em vigor o Concílio de Trento1.

Em 1564, através do Alvará de 12 de setembro, Portugal mandou que todos os domínios da monarquia portuguesa recém-descoberto, entre os quais o Brasil, obedecessem às leis declinadas no referido Concílio, o que não foi muito aceito no país em razão da sua rigidez (WALD, 1998; TO-DON, 2002).

No Brasil colônia, os jesuítas aqui chegaram em 1549 para propagar a “santíssima fé” e, posteriormente, garantir o cumprimento do Alvará de 12 de setembro de 1564. O catolicismo era a religião dominante e seus dog-mas e ritos deveriam ser aceitos ou respeitados por todos (índios, escravos, brancos). No que se refere ao casamento, ele só seria reconhecido se o casal tivesse recebido as bênçãos de um padre com testemunhas e assentos em livros próprios (TODON, 2002).

Acrescentam-se ainda as exigências de apresentar certidão de batismo; comprovar o estado de solteira e descompromissada; quando viúva, dar a conhecer o assento de óbito de outro cônjuge; no caso de ex-escravo, provar ser livre. Tais procedimentos para a época eram difíceis de serem cumpridos, em razão das pessoas não terem os documentos solicitados e, os movimentos

1Concílio realizado pela Igreja Católica em reação à reforma protestante que ocorria na Europa. Com o Concílio, foi intro-duzida algumas inovações que permitiram à Igreja estender seu campo de influência e associar-se a projetos colonizadores da Europa católica, entre as quais: melhor formação do clero, implantação do casamento e repressão das relações consideradas ilícitas pelo clero.

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migratórios que eram cada vez mais constantes (TODON, 2002).

Frente às dificuldades para efetuar o ato de casamento, Todon (2002) salienta que as pessoas se casavam na clandestinidade. Sem a assistência do sacerdote e das duas testemunhas exigidas. Ou com a assistência do sacer-dote, mas sem a presença das testemunhas em número legal. Ou, ainda com o comparecimento das testemunhas, mas sem pároco. Estas uniões eram consideradas pecaminosas pelos jesuítas, uma vez que facilitava a bi-gamia e deixava a constituição da família incerta.

Todon (2002) chama a atenção ainda para a existência dos casamen-tos miscasamen-tos inter-raciais no período colonial: entre índias nativas com os brancos portugueses solteiros e também casados que tinham deixado suas mulheres em Portugal; entre escravo de origem africana e índia; e, entre os escravos de origem africana com diferentes etnias.

Tais uniões, embora não fossem condenadas pela Igreja, não deixaram de ser reconhecidas pela mesma, pois era uma forma de garantir o processo colonizador. Nader (2015) salienta que muitos casais que só consideravam o casamento segundo as leis civis “obrigavam” a Igreja a aceitar aqueles di-tos “clandestinos”, visto que o realizavam na presença de um padre, porém não seguiam os trâmites legais da espera pelos proclamas, o que fazia com que tal ato contraído sem as formalidades exigidas pelo Concílio de Trento tivessem a mesma validade daquele realizado segundo o rito tridentino.

A aceitação destes casamentos justifica-se ainda em razão da Lei 11 de janeiro de 1603, na qual Portugal mandava que fossem observadas as Or-denações Filipinas2 referente à matéria no Liv. IV, Tít. 46,§§ 1º e 2º, que

assim previam o casamento:

Tít. 46, § 1º: Por palavra de presente à porta da igreja ou por licença do prelado fora dela. Havendo cópula carnal.

Tít. 46, §2º: Os cônjuges são tidos em pública voz e fama de marido e mulher por tanto tempo que, segundo direito, baste para presumir matrimônio entre eles, posto se não provém as palavras de presente. (S/C) (ORDENAÇÕES FILIPINAS, Liv. IV, Tít. 46, §§ 1º e 2º apud TODON, 2002, p.367).

Salienta-se que as Ordenações Filipinas divergiam em alguns pontos

(25)

do Concílio de Trento, baseada no direito canônico3. De certo, as

Orde-nações enfraqueciam o domínio exercido pela Igreja. No que se refere ao casamento, elas permitiam a coexistência da sua forma religiosa na forma do Concílio Tridentino e o de marido “conhecido”, quando o ritual era celebrado pelos chefes das duas famílias dos noivos, esta última condenável pela Igreja (SILVA, 2008).

Como medida, a Igreja Católica, a serviço do Estado, desenvolveu pro-jetos reformistas do Concílio de Trento, que fundamentaram As

constitui-ções Primeiras do Arcebispado da Bahia4(1707), documentos coloniais que

tinham a intenção de disciplinar a vida religiosa no Brasil.

As Constituições continham condutas permitidas e vedadas na ordem civil da colônia que preencheram os espaços não ocupados pelo poder tem-poral. Seu texto continha regras de direito eclesiástico que regulamen-tavam a forma como deveriam ser realizados os sacramentos católicos, a exemplo do batismo e o casamento; impunham sanções e, ainda, designa-vam as autoridades competentes para o julgamento dos “pecados públicos” e crimes contra as causas eclesiásticas, dividindo espaço com a jurisdição temporal (OBEID,2013; SILVA, 2008).

Com As constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia ficou reforça-da a influência reforça-da Igreja Católica no Brasil, sobretudo nas questões civis, entre elas o casamento. A promulgação da lei de 20 de outubro de 1823 mandou observar no País as Ordenações, leis, alvarás, resoluções e decretos promulgados pelos reis de Portugal, pelos quais o Brasil se governara até 25 de abril de 1821, mantendo em vigor a legislação portuguesa, baseada principalmente nas Ordenações (SILVA, 2008).

1.2.2 O CASAMENTO NO BRASIL IMPÉRIO: AS PRIMEIRAS LU-TAS PARA A INSTITUIÇÃO DO CASAMENTO CIVIL

O Brasil tornou-se independente de Portugal em 1822 e assim como aconteceu em países católicos, a legitimidade da monarquia portuguesa foi garantida com a aliança da Igreja Católica objetivando garantir uma maior estabilidade da organização social.

3 Conjunto de leis e regulamentos feitos ou adotados pelos líderes da Igreja, para o governo da organização cristã e seus

mem-bros. É a lei eclesiástica interna que rege a Igreja Católica.

4 Compilação de normas, para servir como a principal legislação eclesiástica no Brasil Colonial. É considerado um dos mais

importantes documentos de cunho religioso dos tempos coloniais e representam uma maior presença das decisões tomadas pelo Concílio de Trento no Brasil.

(26)

Com o Império e a promulgação da sua primeira Constituição em 1824, a responsabilização da Igreja sobre os direitos civis da sociedade foi legitimada. Entendia-se que ir de encontro à Igreja abalaria a sociedade e, consequentemente, o Império.

Assim, em 1824, a Constituição determinava a religião católica-apos-tólica-romana como a oficial do Brasil e que a conduta dos indivíduos deveria ser direcionada pelos princípios da Igreja Católica, delegando-a o comando da vida civil de todos os habitantes do país: registros de nasci-mento, casamento e morte.

O Decreto de 3 de novembro de 1827 confirmou a legítima tutela da Igreja sob o matrimônio. O referido dispositivo jurídico fez com que o casamento fosse considerado um sacramento e, como tal, deveria ser regu-lado pelas regras do direito canônico, com determinação expressa da ob-servância das disposições do Concílio de Trento e da Constituição Primeira do Arcebispado da Bahia sobre a matéria (OBEID, 2013).

Pelas regras do direito canônico, o casamento católico era contrato e sacramento ao mesmo tempo e, durante muito tempo, foi a única forma de união legalmente prevista no país. Era direito da Igreja regular e julgar as condições de existência do casamento, com a anuência do poder Estatal. As questões referentes à sua anulação, por sua vez, eram de competência do juízo eclesiástico.

Após o Decreto de 3 de novembro, os casamentos contraídos segundo credo diverso do católico não gozavam de prestígio e confiança que des-frutava aqueles realizados pelos princípios da Igreja Católica. Estas uniões precisavam ser reconhecidas formalmente pelo Estado. Obeid (2013) sa-lienta que, em muitos casos, estas uniões eram feitas por escritura pública, mas não contavam com o reconhecimento do Estado, uma vez que a Igreja tinha o monopólio dos direitos civis.

É importante ressaltar que no período imperial havia as legislações civis que reconheciam 3 (três) formas de casamento: o católico (celebrado con-forme o Concílio Tridentino e a Constituição do Arcebispado da Bahia); o misto (casamento entre católicos e não católicos, contraído segundo as formalidades do direito canônico); e os não católicos ou acatólicos (entre pessoas que professavam seitas que não fosse a católica, havido conforme preceitos de suas respectivas religiões).

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leis eclesiásticas serem as únicas consideradas legítimas, os casamentos não contraídos de acordo com os preceitos da religião oficial, católica-apostó-lica-romana, eram vistos como concubinatos e não gozavam do mesmo prestígio e confiança dos casamentos católicos (SOARES, 1895).

Acrescenta-se ainda que o Decreto de 3 de novembro de 1827 deter-minava que o casamento era indissolúvel, sem qualquer possibilidade de uma eventual dissolução civil. À Igreja também era atribuída a exclusiva competência de regular as condições, forma, impedimento, unidade, in-dissolubilidade, solenidade, nulidade e separação do matrimônio.

Todo o direito material substantivo e objetivo referente ao matrimônio no período imperial eram regulados pela lei da Igreja e as causas matrimo-niais eram decididas pelos tribunais eclesiásticos.

É importante ressaltar que a forte influência da Igreja sobre o casamento não agradava a todos. No país, conforme observa Soares (1895, p.6-8), existiam três sistemas filosóficos-jurídicos que classificavam a instituição do casamento:

1.Puramente católico – negava ao poder civil a competên-cia para determinar as regras de constituição do casamento. Afirmavam que o casamento não era um contrato, diferen-ciando-se dele em sua essência, duração e alcance dos efeitos. Ainda sob este ponto de vista, a autoridade religiosa seria a única competente para marcar as formalidades do casamento, assistir a sua celebração e julgar a sua validade. Há o predomí-nio do elemento religioso;

2.Despreza à religião – desejavam que o casamento fosse uma instituição puramente secular, um contrato puramente civil, não admitindo qualquer formalidade religiosa. Ainda sob este sistema, o vínculo do matrimônio poderia ser dissol-vido da mesma forma que fosse contraído segundo a vontade dos cônjuges, que nas cláusulas do contrato poderiam estabe-lecer até o número de anos de duração da sociedade;

3. Meio termo – defendem o predomínio da

re-ligião, sem, contudo, desprezar a religião. Por este sistema, é de competência do Estado regular a forma, condições, efeitos e todas as relações jurídicas que do ato dominam, mas é livre

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aos noivos realizar os preceitos da religião que professassem. Salienta-se, no entanto, que o ato civil deveria prevalecer, uma vez que o Estado não tem nada a ver com a religião dos noivos. Compete a ele regular, no interesse da sociedade em geral, as relações jurídicas e morais da instituição.

O segundo e terceiro sistemas chamavam a atenção para a necessidade de o país suprir as omissões legislativas5 a respeito do matrimônio o que

até então estava reservada à competência eclesiástica.Com o crescimento de imigrantes no país e, com eles, a introdução de novas crenças, tornava-se urgente a adoção de medidas legislativas para harmonizar a situação dos matrimônios no país.

Sobre as necessidades destas mudanças, Soares (1895, p.8) escreveu: País novo, dotado de elementos naturais de prosperidade extraordinários, possuindo território extenso com população disseminada, necessitando atrair imigração europeia para co-lonização e povoamento, contando já em seu seio grande nú-mero de estrangeiros que professavam religião diferente da do Estado, tornava-se necessária uma medida geral que igualasse, em todos os seus efeitos morais e jurídicos, os casamentos aca-tólicos aos caaca-tólicos, que estabelecesse, enfim, o casamento ci-vil obrigatório para todos, deixando-lhes também a liberdade de cultos.

No século XIX, com o crescimento dos não católicos e da migração de europeus de países protestantes, atendendo ao pedido do imperador D. Pedro II, em 1848, um Breve_  na linguagem eclesiástica refere-se a uma carta ou escrito papal que encerra comunicação de alguma decisão ou aprovação_  de Pio IX concedia autorização para a celebração no Brasil de casamentos entre católicos e protestantes, os denominados casamentos mistos. Pio IX manifestou o atendimento à solicitação em ato administra-tivo, todavia este não se mostrou satisfatório, o que fez com que diversos outros projetos de lei visando instituir o casamento civil no Brasil fossem

5 Convém ressaltar que a Constituição Imperial se limitava a regular só os matrimônios dos cidadãos

católicos-apostólicos-ro-mano, embora estivesse prevista a tolerância religiosa e fosse admitida a liberdade de culto de todas as religiões no território brasileiro, desde que este fosse doméstico ou particular em casas destinadas para isto.

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encaminhados ao Congresso (PEREIRA, 2009; CHAVES, 2005).

Assim, a partir do final da década de 1850 foram observadas várias tentativas em instituir o casamento civil no Brasil, inspirados na França, onde o mesmo foi estabelecido em 21 de março de 1803, sendo obriga-tório e devendo preceder o religioso, o qual, celebrado isoladamente, não tinha existência legal (SOARES, 1895).

Assim, em 1854, os Viscondes de Uruguay, Maranguape e Abrantes já reconheciam a necessidade de secularizar o casamento (SOARES, 1895).

Em 1855, o Conselheiro Nabuco, Ministro da Justiça, defendia que o Estado deveria assumir as competências dos casamentos não católicos e mistos, de forma que, ainda quando eles não fossem seguidos do ato religioso, surtissem todos os efeitos dos civis. Esta seria uma forma de reconhecer estes casamentos que, à luz da legislação vigente, estavam re-duzidos à concubinatos, esposos sem vínculos e filhos sem direitos civis (SOARES, 1895).

Em 1858, o então Ministro da Justiça, Diogo de Vasconcelos, apre-sentou um projeto de lei que visava estabelecer que os casamentos entre pessoas não católicas fossem realizados conforme as prescrições da sua respectiva religião. Vasconcelos reconhecia que o Brasil, assim como ou-tras nações católicas, podia estabelecer o casamento civil e legitimá-lo em todos os seus efeitos (SIQUEIRA e GONÇALVES, 2013; SOARES, 1895).

As propostas de Vasconcelos dividiram opiniões e na discussão na Câ-mara dos Deputados em 1860, defensores dos dogmas católicos chegaram a afirmar que achavam melhor consultar a Santa Sé antes de tomar alguma decisão, pois “ao admitir o casamento misto estariam validando os casa-mentos dos dissidentes e estariam autorizando até o divórcio” (SOARES, 1895, p.12).

O projeto foi emendado, mutilado e modificado profundamente, dan-do origem no ano de 1861, à Lei 1.144 de 11 de setembro que estendia os efeitos civis aos casamentos celebrados que professavam religião diferente da do Estado; regulava o registro civil desses casamentos e dos nascimentos e óbitos dos não católicos; estabelecia as condições necessárias para que os pastores das religiões toleradas praticassem atos com efeitos civis. Todavia, a lei não fazia nenhuma referência ao casamento misto.

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Igreja Católica, permitindo, a partir de então, que outras religiões tivessem casamentos reconhecidos pelo Estado brasileiro, produzindo efeitos civis (CHAVES, 2005).

A lei 1.144, foi regulamentada através do Decreto de 17 de abril de 1863 e, embora legitimasse os casamentos de pessoas não católicas, foi considerada deficiente, visto que refletia em suas disposições influências autoritárias de grupos conservadores, bem como não satisfazia as aspira-ções da nação. A insatisfação deu início a uma nova campanha para a insti-tuição do casamento civil no Brasil, uma vez que a interferência dos valores religiosos no casamento desagradava a muitos (SIQUEIRA e GONÇAL-VES, 2013; SOARES, 1895; LEMOS, 1987).

Na tentativa de instituir o casamento civil no Brasil, em 17 de julho de 1867, foi apresentado o projeto de Tavares Bastos.

Em 1869, o relatório apresentado às câmaras pelo então ministro do império Conselheiro Paulino de Souza dizia:

É lacuna imperdoável, na legislação do país, a que priva qualquer cidadão ou estrangeiro residente no Império, pela circunstância de não professar a religião do Estado, da faculdade de contrair uma união válida, garantida em seus efeitos pela lei civil (SOARES, 1895, p.14).

Em 30 de setembro do mesmo ano, foi a vez do projeto do Conselheiro Correia, assinado por mais de 17 (dezessete) deputados com ideias simila-res ao de Tavasimila-res Bastos.

Em junho de 1875, o Conselho Alencar Araripe, apresentou um pro-jeto de caráter mais amplo que os anteriores, consagrando o princípio do contrato civil, como base indispensável para a validade de qualquer casa-mento.

Em maio de 1884, foi a vez do projeto do Conselho Maciel, do então Ministério do Império. Com 34 (trinta e quatro) artigos, o projeto con-tinha ideias consideradas adiantadas, entre as quais a instituição do casa-mento civil facultativo. Segundo Soares (1895), assim como os projetos anteriores, ele “morreu” na pasta das comissões.

Ao final do Império, o casamento civil era defendido no parlamento e na imprensa jornalística. Destacou-se no período a Sociedade Central de

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Imigração, cujo seu sócio, o militar e escritor Visconde Alfredo d’Escrag-nolle Taunay, teve papel importante na defesa da reforma.

Taunay fez campanhas quase diárias contra o preconceito religioso dos católicos apostólicos romanos e demonstrava que a instituição do casa-mento civil era elecasa-mento fundamental das organizações sociais moder-nas, através do exemplo de várias nações européias, entre as quais: Fran-ça (1803), Portugal (1877), Alemanha (1875), Áustria (1868), Espanha (1875), Romênia, Rússia, México, Chile, República do Uruguai e outras, que já o haviam adotado (SOARES, 1895; LEMOS, 1987).

Taunay (apud SOARES, 1895, p.17) dizia: “[...] o Brasil não podia tornar-se indiferente a uma das maiores conquistas da liberdade, reconhe-cida e proclamada por todos os povos cultos”.

Em 1888, o decreto 9.886 de 7 de março, 64 (sessenta e quatro) anos após a promulgação da Constituição de 1824, instituiu a obrigatoriedade do registro de nascimento, casamento e óbito em ofícios do Estado, criados e delegados a privados, ainda que celebrados perante autoridade religiosa, retirando os registros naturais das mãos da Igreja. Secularizando-os. É im-portante ressaltar que o referido decreto regulamenta, 18 (dezoito) anos depois, a Lei nº 1.829, de 09 de setembro de 1870. Este Decreto foi con-siderado um grande passo dado pelo Império para instituir a separação da Igreja do Estado e o casamento civil no Brasil (SOARES, 1895; PEREIRA, 2009).

Ao final do Império, o gabinete presidido pelo Visconde de Ouro Pre-to, o qual Ruy Barbosa havia recusado a participar, organizou um projeto de casamento civil facultativo, que permitia as pessoas escolherem entre o casamento católico das Ordenações Filipinas e do Concílio de Trento, ou aquele regulado pela legislação civil. Este projeto já havia sido aprovado pelo Conselho de Ministros, aceito pelo Imperador e deveria ser converti-do em lei quanconverti-do ocorresse a Proclamação da República.

1.2.3 RUY BARBOSA E O DECRETO 181/1890 E A INSTITUIÇÃO DO CASAMENTO CIVIL NO BRASIL

Uma das primeiras medidas adotadas pelo Estado Republicano foi a separação oficial entre Igreja e Estado. Em 9 de dezembro de 1889, foi apresentada pelo deputado positivista Demétrio Ribeiro, o projeto

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intitu-lado “A plena liberdade de culto e (abolindo) a união legal da Igreja com o Estado”. Embora o projeto atendesse a reinvindicação do movimento republicano e considerado de cunho liberal, sua votação foi adiada (DIAS, 2015).

O projeto foi alterado e apresentado ao Conselho de Ministros pelo então Ministro da Justiça, o baiano Ruy Barbosa. Por unanimidade, foi aprovado em 7 de janeiro de 1890, passando a ser chamado de Decreto 119-A, considerado “[...] o primeiro ato oficial do Governo Provisório do Marechal Deodoro da Fonseca em matéria religiosa” (DIAS, 2015).

Com a instituição do Decreto 119-A, o Estado tornou-se laico (neu-tro) e não confessional, passando a vigorar a liberdade religiosa, ou seja, os indivíduos tornaram-se livres para escolher suas convicções religiosas de acordo com as suas crenças. O Estado foi separado da Igreja, a extensão do direito à liberdade religiosa foi ampliada, o Brasil deixou de ter uma reli-gião oficial e passou a haver liberdade de cultos6 (RACHEL, 2012; DIAS,

2015).

Na esteira do Decreto 119-A, foi instituído o Decreto 181, promulga-do em 24 de janeiro de 1890 e de autoria promulga-do mesmo Ruy Barbosa, que, fi-nalmente, instituía o casamento civil no Brasil, obrigatório em todo o país e único ato válido para celebração de casamentos, revogando a Lei 1.144, de 11 de setembro de 1861 e o seu decreto regulamentar de 17 de abril de 1863 que dispunha sobre os casamentos não católicos (MARRONE, 1982; VIEGAS, 2010).

Convém ressaltar que por este decreto, instituiu-se o casamento civil, negando-se efeitos civis ao matrimônio realizado pela Igreja. Como no início do regime republicano o catolicismo deixou de ser a religião oficial, tornou-se necessário mencionar o casamento civil como o vínculo consti-tuinte da família brasileira (LOPES, 2011).

Com o Decreto 181, conforme disposto no seu artigo 72, passaram a ser considerados válidos os casamentos celebrados no Brasil se realizados de acordo com as suas normas, permitindo que toda a nação, a partir daque-le momento, tivesse a instituição do casamento regulada por um mesmo corpo legal, sem privilégios para os católicos e constrangimentos para os membros de outras religiões que viviam em situação de concubinato e da ilegalidade da prole nos casos de casamentos mistos e não católicos.

6 Rachel (2012) salienta que anterior ao Decreto 119-A havia liberdade de crenças no Brasil. Os cultos de religiões diferentes do

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Posteriormente, o Decreto 521 de 26 de junho de 1890 determinou que o casamento deveria preceder o casamento religioso de qualquer credo. A partir dos Decretos 181 e 521, os cônjuges tinham a faculdade de realizar, após o casamento civil, cerimônia de qualquer culto religioso. O Decreto vigorou até 1917, ano em que entrou em vigor o Primeiro Código Civil (MARRONE, 1982; LEMOS, 1987; SIQUEIRA e GONÇALVES, 2013).

Assim, Soares escreveu sobre a promulgação do Decreto 181:

[...] Venceu-se, em um momento de decisão e energia, uma campanha em que, durante mais de trinta anos, lutaram os legisladores do Império, que reconheciam a necessidade indeclinável de ser a medida posta em execução, mas recuavam sempre ante o fantasma clerical (SOARES, 1891, p.17).

O Decreto nº 181 preocupou-se com aqueles que se casaram antes da sua vigência e regulava também os efeitos civis dos casamentos celebrados antes dele entrar em vigor.Com 125 artigos dispunha sobre as formali-dades preliminares, impedimentos e oposições, celebração, casamento de brasileiros no estrangeiro, provas, efeitos, nulidade e anulação, divórcio, posse de filhos e disposições penais.

É importante ressaltar que, além de instituir o casamento civil, o De-creto 181, de 24 de janeiro de 1890, instituiu também o divórcio.

No capítulo IX tratava-se Divórcio Consensual e Litigioso, entretanto, o divórcio naquela época não dissolvia o vínculo, mas apenas o regime de bens e autorizava a separação de corpos, tratando-se do chamado “divórcio de cama e mesa”, como assim dispunha o artigo 88: “[...] o divórcio não dissolve o vínculo conjugal, mas autoriza a separação indefinida dos corpos e faz cessar o regime dos bens, como se o casamento fosse dissolvido”. O artigo 89, por sua vez, dizia que os divorciados podiam reconciliar-se a todo o tempo (BRASIL, 1890).

Santos (1980) salienta que tanto o divórcio do Decreto nº 181, de 24 de janeiro de 1890, quanto o divórcio previsto na Lei de 20 de outubro de 18237, não passavam de uma simples separação de corpos e bens. Em

7 Segundo a Lei de 20 de outubro de 1823, o direito brasileiro admitia apenas a separação de corpos (quando temporária) e de

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ambos os dispositivos legais, apenas a morte de um dos cônjuges dissolvia o casamento.

Com o Decreto nº 181, surgiram várias críticas violentas, principal-mente por parte de integrantes da Igreja Católica e católicos fervorosos que consideravam o dispositivo um “atentado”, “golpe profundo e doloroso no seio da família brasileira”, “atentado contra as convicções da grande maioria da nação brasileira”, “violência irritante às tradições religiosas no Brasil”. O clero também aconselhava a não observância da prescrição civil, opondo-se ao Decreto (LEMOS, 1987, p.76-77).

As manifestações contrárias ao Decreto nº 181 de janeiro de 1890 fez com que o governo baixasse o Decreto nº 521 de 26 de junho de 1890, proibindo cerimônias religiosas matrimoniais antes da celebração do casa-mento civil e instituiu a sanção penal, processo e julgacasa-mento aplicáveis aos infratores (LEMOS, 1987).

Posteriormente, seguiu-se uma série de determinações aos governado-res, no sentido de dar maior publicidade aos principais elementos da Lei do Casamento Civil, a fim de que a população não fosse induzida a não realização da cerimônia civil por ignorância (LEMOS, 1987).

O casamento civil recebeu reforço legal na constituição de 1891, a qual o baiano Ruy Barbosa contribuiu para a sua elaboração. Aos poucos a so-ciedade foi se habituando à nova realidade e os problemas das autoridades laicas para com os religiosos vinculados ao catolicismo e seus seguidores fossem reduzidos (PEREIRA, 2009; LEMOS, 1987).

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REFERÊNCIAS

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Lei nº. 6.515, de 26 de

dezem-bro de 1977: a Lei do Divórcio.

2.

Nelson

Carneiro

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2.1 NELSON CARNEIRO, PATRONO DO DIVÓRCIO NO BRASIL (1910-1996)

Filho de Antonio Joaquim de Souza Carneiro, primeiro especialista a reconhecer a existência de petróleo em Lobato, e de Laura Coelho de Sou-za Carneiro, Nelson Carneiro nasceu em Salvador, Bahia, em 8 de abril de 1910.

Político, jornalista e advogado, formado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (1932), Nelson Carneiro iniciou sua vida pública como repórter em O Jornal, ligado a oposição democrática na Bahia, em 1929, ano em que também se filiou ao Partido Democrático Universitário da Bahia.

Em agosto de 1932, foi preso ao apoiar a Revolução Constitucionalista de São Paulo, movimento de oposição ao Governo Provisório chefiado por Getúlio Vargas, cumprindo pena na então capital do país, Rio de Janeiro.

Em 1945, filiou-se ao partido recém fundado União Democrática Nacional (UDN), opositor às políticas e à figura de Getúlio Vargas e de orientação conservadora, sendo eleito suplente de deputado pela Bahia à Assembleia Nacional Constituinte neste mesmo ano e assumindo uma ca-deira após o fim desta, em 1947.

Em 1950, foi eleito deputado federal pelo estado baiano na coligação constituída pelo Partido Social Trabalhista (PST), Partido de Represen-tação Popular (PRP) e o Partido Social Democrático (PSD). Após tomar posse, em fevereiro de 1951, dedicou-se à defesa do divórcio, preocupan-do-se, particularmente, com a situação da mulher (PORTAL O SENA-DO, 2015).

Não tendo sido reeleito em 1954, mudou-se para o então Distrito Fe-deral, onde veio a conquistar novos mandatos. Em 1958, elegeu-se no-vamente para o cargo de deputado federal, só que agora representando o Rio de Janeiro, pela coligação formada pelo Partido Liberal (PL), Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido Republicano Trabalhista (PRT) e o Par-tido Trabalhista Nacional (PTN), assumindo no período de 1959 a 1963 (PORTAL O SENADO, 2015).

Com a transferência da capital brasileira para Brasília, Nelson Carneiro passou a representar o Estado da Guanabara, no qual veio a conquistar

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novo mandato de deputado federal de 1967 a 1971 (PORTAL O SENA-DO, 2015a).

Posteriormente, foi eleito senador nas legislaturas de 1971 a 1978; 1979 a 1987; 1987 a 1995 pelo Estado do Rio de Janeiro, sendo presiden-te do Senado Federal do Brasil no período de 1989 a 1990 (PORTAL O SENADO, 2015a).

Durante a sua vida pública, foi autor da Emenda Constitucional nº. 4, que instituiu o Parlamentarismo no Brasil, em 1961, após a renúncia do então presidente Jânio Quadros.

Destacou-se ainda por apresentar uma série de projetos para a conversão do desquite em divórcio. O primeiro foi no ano de 1950, o projeto de Lei nº 786/1951; seguido pelos seguintes projetos: nº 3.099/53, o n°1.568/60 e o projeto nº 1.810/60até a aprovação da Emenda Constitucional nº 9, de 28 de junho de 1977, regulamentada pela Lei nº 6.515/1977, conhecida como Lei do Divórcio.

Durante os26 anos em que lutou pela legalização do divórcio no Brasil, Nelson Carneiro esforçou-se em dar respostas à reação negativa dos anti-divorcistas, em especial ao Monsenhor Arruda Câmara, padre político e defensor da indissolubilidade do matrimônio.

Após tantos embates, Nelson Carneiro veio a falecer em Niterói, Rio de Janeiro, em 6 de fevereiro de 1996.

2.2 INSTITUTO DO DIVÓRCIO: CONCEITOS E ANTECEDENTES

A palavra divórcio vem do latim divortium, que significa “separação”, derivada de divertere, “tomar caminhos opostos, afastar-se, separar o que está unido”. É usado ainda para designar o rompimento do casamento civil.

Diniz (2005, p.241) define divórcio como: “[...] a dissolução de um casamento válido, ou seja, extinção do vínculo matrimonial, que se ope-ra mediante sentença judicial, habilitando as pessoas e contope-raírem novas núpcias”.

Em linhas gerais, o divórcio objetiva por fim ao casamento e aos efeitos civis do matrimônio religioso, dissolvendo o vínculo conjugal e possibili-tando que os divorciados contraiam um novo matrimônio. Alguns

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doutri-nadores o definem como uma espécie de destrato ao aludido contrato de casamento (SILVA, 2007).

O divórcio é reconhecido como a única forma de dissolução válida do casamento e os efeitos da sua sentença são de natureza ex nunc (não retroa-gem), tendo como alguns de seus efeitos:

Dissolve definitivamente o vínculo matrimonial civil e faz cessar os efeitos civis do casamento religioso; põe fim aos de-veres recíprocos; extingue o regime matrimonial de bens; faz cessar o direito sucessório dos cônjuges; possibilita novo casa-mento aos que se divorciam; não admite reconciliação entre os cônjuges divorciados; possibilita o pedido de divórcio sem limitação numérica; põe termo ao regime de separação de fato se se tratar de divórcio direto; substitui a separação judicial pelo divórcio; mantém inalterados os direitos e deveres dos pais relativamente aos filhos, ainda que contraiam novo casa-mento; mantém o dever de assistência por parte do cônjuge que teve a iniciativa do divórcio; subsiste a obrigação alimen-tícia para atender as necessidades de subsistência ao ex-consor-te; e faz perder o direito ao uso do nome do marido (SILVA, 2007, p.58).

Legitimado no Brasil apenas em 1977, o divórcio sempre foi admiti-do entre as civilizações primitivas que influenciaram o Direito de Família brasileiro e ocorria através do repudium8(repúdio), direito este exclusivo do

homem.

Conforme observa Pereira (1999, p.39):

Historicamente todos os povos da antiguidade, que dire-ta ou indiredire-tamente influíram em nosso Direito de Família, admitiram o divórcio. Foi conhecido e adotado no Direito Hebreu (Velho Testamento), no Direito Grego, no Direito Romano e no Direito Germânico.

Silva (2007) ressalta que antes no Cristianismo não havia a disciplina

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da indissolubilidade, salvo em casos excepcionais. Cita ainda o Código de Manu -livro sagrado indiano que reunia os princípios religiosos, morais e leis civis que regiam a sociedade -, no qual se admitia o divórcio se a mu-lher fosse estéril, durante oito anos; se o filho morresse ao nascer, durante dez anos; e se, durante onze anos, só nascessem filhas.

Acrescenta ainda que, na Grécia, o divórcio só era permitido, a prin-cípio, por esterilidade e, posteriormente, também por vontade do marido (repúdio), por vontade da mulher e pelo mútuo consentimento. Já entre os hebreus, havia o repúdio nos casos de adultério; esterilidade durante dez anos; defloramento; violação da lei mosaica; inobservância do dever conjugal; ausência prolongada; e enfermidade contagiosa (SILVA, 2007).

No direito romano, pelo fato do casamento ter base consensual, a sua dissolução ocorria com o simples desaparecimento da intenção de con-tinuar como marido e mulher. O divórcio era autorizado mesmo sem a intervenção do juiz.

Segundo Silva (2007, p.52), o direito Justiniano distinguia quatro es-pécies de divórcio, a saber:

[...] (1) divortiumex justa causa, realizado por um dos côn-juges em virtude de ter o repudiado cometido atos que legiti-mamente justifiquem o repúdio; (2) divortiumbona gratia, de-corrente da vontade de ambos os cônjuges, ou apenas de um; (3) divortiumsine justa causa, repúdio de um dos cônjuges pelo outro, sem qualquer das causas legítimas que o justifiquem; e (4) divortiumcommuni consenso, divórcio realizado de comum acordo por ambos os cônjuges sem que ocorra uma das justae

causae.

Nota-se que o divórcio foi tolerado e consentido nos primeiros séculos do cristianismo, no entanto, posteriormente, a Igreja reagiu conta a disso-lubilidade do vínculo com base na parábola de Cristo que diz que: “Não separa o homem o que Deus uniu” (SILVA, 2007, p.53).

É importante salientar que na Bíblia Sagrada são encontrados relatos acerca do divórcio no Velho Testamento, no qual são relatadas situações em que o divórcio era aceitável, entre as quais: a acusação falsa de infide-lidade por parte de um dos cônjuges, fornicação, adultério, bestiainfide-lidade

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e agressão física. Já no Novo Testamento, a separação entre cônjuges só é aceitável nos casos de adultério (SILVA, 2007).

Seguindo as considerações da Bíblia, doutores da Igreja passaram a autorizar o divórcio em conformidade com o Evangelho de São Mateus (Mt.19,9), no qual se admitia a dissolubilidade do casamento por motivo de adultério, todavia os cônjuges não poderiam casar-se novamente e era admitido apenas a separação de leito e habitação, conhecida como separa-ção de corpos (SILVA, 2007; SANTOS, 1980).

A indissolubilidade do casamento, na bíblia, é citada nos livros de Ma-teus, Marcos, Lucas e Romanos:

“[...] Eu, porém, vos digo: todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por motivo de fornicação, faz com que ela adultere; e aquele que se casa com a mulher divorciada, comete adultério” (Mateus 5,32)

“[...] Eu vos digo que quem se divorciar de sua mulher, a não ser em caso de fornicação, e casar-se com outra, comete adultério” (Mateus 19,9)

“[...] O homem que se divorciar de sua mulher e se casar com outra, cometerá adultério contra a primeira mulher. E se a mulher se divorciar de seu marido e se casar com outro homem, ela cometerá adultério” (Marcos 10,11)

“[...] Todo homem que se divorcia de sua mulher, e se casa com outra, comete adultério; e quem se casa com mulher di-vorciada de seu marido, comete adultério” (Lucas 16, 18)

“[...] A mulher casada está ligada por lei ao marido en-quanto este vive; mas, se ele morre, ela fica livre da lei con-jugal. Por isso, enquanto o marido está vivo, se ela se tornar mulher de outro homem, será chamada adultera” (Romanos 7,2-3)

Admitia-se, no entanto, o divórcio ainda com base no privilégio Pau-lino (I Cor.7, 10 a 17), indicação do apóstolo Paulo, no qual a dissolução do matrimônio ocorria de fato, para o casamento realizado entre cristãos e não cristãos (SANTOS e SANTOS, 2009).

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Se o não cristão quiser separar-se, que se separe. Nesse caso, o irmão ou irmã não estão vinculados, pois foi para viver em paz que Deus nos chamou. Na verdade, ó mulher, como você pode ter certeza de que salvará o seu marido? E você, marido, como pode saber que salvará a sua mulher? (I Cor. 7,15-16) A tese da indissolubilidade absoluta, no entanto, foi defendida e pro-clamada nos concílios, especialmente a partir do século VIII e com a ins-tituição do Código de Direito Canônico. Entendia-se que o divórcio era a origem de danos e prejuízos para os indivíduos e para a sociedade (SILVA, 2007; SANTOS e SANTOS, 2009; ALMEIDA, 2010).

As transformações sociais, políticas e econômicas e o desgaste da in-fluência religiosa no decorrer dos anos, embora tenha sofrido resistência por parte da Igreja Católica, favoreceram a legalização do divórcio nos países do mundo.

2.3 O DIVÓRCIO NO BRASIL:

ANTECEDENTES À LEI DO DIVÓRCIO

Embora o Brasil tenha se tornado um país laico com o advento da Re-pública em 1890, separando definitivamente o Estado da Igreja Católica, a influência desta última sobre os costumes, em especial no casamento, considerada a base da família, permaneceu ainda por muito anos.

No período imperial, em matéria de dissolução do casamento, vigora-vam no Brasil as prescrições do Concílio de Trento, codificadas nas Cons-tituições do Arcebispado da Bahia que reafirmavam a sacramentalidade do matrimônio e tinham o vínculo matrimonial como indissolúvel, posição esta baseada na teologia do laço indissolúvel que une Cristo à sua Igreja (SANTOS, 1980; ALMEIDA, 2010).

Entretanto, Santos (1980) salienta que a indissolubilidade do matri-mônio à época não era absoluta, sendo permitida a separação temporária quanto ao leito e à habitação, o chamado divortiumquoadthorum et

habi-tationem, que consistia na separação de corpos, mas sem a dissolução do

vínculo matrimonial. Havia ainda a separação perpétua, prevista nos casos de adultério, homossexualidade e bestialidade.

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de 24/01/1890 e, ao mesmo tempo, o divórcio litigioso, fundamentado no adultério, sevícia ou injúria grave, abandono voluntário do domicílio conjugal por mais de dois anos contínuos; e, por mútuo consentimento, quando o casamento durasse mais de dois anos (SANTOS, 1980).

Nota-se, no entanto, que permanecia o caráter de indissolubilidade do casamento e a impossibilidade do divórcio, haja vista que nas hipóteses em que se autorizava o divórcio, não havia rompimento do vínculo matrimo-nial, mas apenas a separação de corpos e cessão do regime de bens como se o casamento fosse dissolvido, havendo a possibilidade dos cônjuges recon-ciliarem-se a qualquer tempo. Estas possibilidades pouco se diferenciavam da época do Império, nas quais, a dissolução do casamento só ocorria com a morte de um dos cônjuges.

A primeira tentativa de se criar o divórcio no Brasil data de 1893, quando foi apresentada pelo então deputado Érico Marinho, a primeira proposição divorcista, tendo sido rejeitada no plenário da Câmara dos De-putados no mesmo ano e nos anos de 1896 e 1899.

A este, seguiram-se o Projeto nº3, do então senador sergipano Marti-nho César da Silveira Garcez, em 1900, pautado no reconhecimento do matrimônio como contrato, e não como sacramento; e o Projeto Alcindo Guanabara em 1910. Ambos não foram aprovados pelo Senado (BOTTE-GA, 2010; ALEGRIA e VETORE NETO, 2013).

Em 1901, o jurista Clóvis Beviláqua apresentou, após seis meses de trabalho, o seu projeto de Código Civil, projeto este que, segundo o Ins-tituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM (2007) foi duramente criticado pelo então senador Ruy Barbosa e outros juristas. Após diversas alterações, o projeto foi aprovado em 1916, instituindo o primeiro Código Civil Brasileiro.

Bottega (2010) salienta que com o Código Civil de 1916 foi conso-lidado o direito ao desquite (judicial ou amigável) no Brasil como forma de pôr fim à sociedade conjugal. Termo este, segundo Santos (1980), não conhecido em nenhuma outra legislação do mundo.

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Art. 315. A sociedade conjugal termina: I – Pela morte de um dos cônjuges.

II – Pela nulidade ou annullação do casamento. III – pelo desquite, amigável ou judicial.

Parágrafo único. O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges, não se lhe aplicando a presumpção es-tabelecida neste Código, art. 10, 2ª parte” (BRASIL, 1916). Nota-se que o Código Civil de 1916 adotou os mesmos princípios do Decreto 181/1890, inovando apenas na substituição do vocábulo divórcio por desquite, uma vez que nas legislações estrangeiras o divórcio era ad-mitido como dissolução do vínculo conjugal, o que não era perad-mitido no Brasil (FREITAS, 2013).

O desquite, segundo Beviláqua (1960 apud ARAUJO, 2010) tinha como objetivo pôr fim à vida em comum, separar os cônjuges, restitui-lhes a liberdade, permite-lhes dirigir-se, como entenderem, na vida, sem que dependa um do outro, no que quer que seja; no entanto, o vínculo do matrimônio era mantido.

Em outras palavras, com o desquite havia a separação de corpos e o fim da sociedade conjugal. Cessavam-se os deveres de coabitação, fidelidade recíproca e que os cônjuges contraíssem novo casamento, o que, segundo autores, favoreceriam o surgimento de famílias clandestinas, desamparadas de qualquer provimento estatal.

A influência da Igreja Católica e do direito canônico na legislação bra-sileira, responsável pelas resistências à legitimação do divórcio no país. O casamento permanecia indissolúvel por razões morais, sociais e religiosas e a invalidade deste só ocorria com a morte de um dos cônjuges.

Almeida (2010, p.16-17) salienta que a Igreja Católica considerava o divórcio “[...] a anarquização da instituição familiar”; “[...] verdadeiro atentado perpetrado contra a família e a religião”; um “atentado contra os fundamentos da família”, na medida em que se constituía em uma tentati-va de derrogar o princípio da indissolubilidade do casamento e degenerar a ordem social.

É importante ressaltar que o movimento divorcista ganhava força no país, em especial entre os congressistas. Na tentativa de conter este crescimento, temendo uma possível evolução do desquite para divórcio,

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e garantir, sob a influência do Direito Canônico, a indissolubilidade do vínculo matrimonial, esta foi constitucionalizada, atitude esta que foi severamente criticada por juristas, como afirma Schäfer (2011, p.1):

[...] o medo de que esta forma de dissolução da sociedade conjugal – o desquite – evoluísse para o divórcio fez com que na Constituição de 1934 a matéria fosse constitucionalizada para que este grau de hierarquia e de rigidez dificultasse a in-trodução da dissolução do casamento. Temia-se que a eleição de um Parlamento com um certo grau de independência em relação a pressões religiosas pudesse aprovar o divórcio.

A influência canônica é vista nas Constituições de 1934, 1937, 1976, 1967 e a Emenda Constituição nº 1, de 17 de outubro de 1969, que edita o novo texto da Constituição Federal de 24 de janeiro de 1967. Em todas elas mantiveram-se a previsão de que o casamento era indissolúvel, confor-me trechos abaixo.

“Art 144 - A família, constituída pelo casamento indisso-lúvel, está sob a proteção especial do Estado” (BRASIL, CF, 1934);

“Art. 124. A família, constituída pelo casamento indisso-lúvel, está sob proteção especial do Estado. Às famílias nu-merosas serão atribuídas compensações na proporção do seu encargo” (BRASIL, CF, 1937);

“Art. 163. A família é constituída pelo casamento de vín-culo indissolúvel e terá direito à proteção especial do Estado” (BRASIL, CF, 1946);

“Art. 167. A família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos Poderes Públicos.

§1º - O casamento é indissolúvel” (BRASIL, CF, 1967). Alegria e Vetore Neto (2013) salientam que no período entre 1934 e 1946, alguns parlamentares, detentores do poder constituinte originário foram favoráveis e fizeram proposições à regulamentação do divórcio, uma vez que ele era imprescindível e uma demanda da sociedade ansiava pela

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