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Marinho Pinto. O Ministério da Justiça está a ser usado para ajustes de contas

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Cavaco Silva convoca mandões da Justiça para Belém

Marinho Pinto. “O Ministério da Justiça está a ser usado para ajustes de contas”

De acordo com a Ordem dos Advogados, apenas 2238 processos estavam irregulares e não 17 423, como revelou a auditoria do ministério

Jornal “i”, por Sílvia Caneco e Filipe Mprais 17-01-2012

“Maçãs podres.” Foi esta uma das imagens mais usadas por Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, para acusar o Ministério da Justiça de ter agido com “má-fé” e “leviandade” na divulgação dos números da auditoria ao apoio judiciário: “O propósito era apurar as maçãs podres que havia no acesso ao direito e expulsá-las. Não esperávamos que o Ministério da Justiça pegasse nessas maçãs podres para enxovalhar todos os advogados”, protestou ontem o bastonário, antes de apresentar os resultados do relatório feito pela Ordem, tendo por base a anterior auditoria do Ministério da Justiça que pintou um retrato negro do apoio judiciário em Portugal, com relatos de irregularidades e fraudes que teriam custado ao Estado mais de meio milhão de euros.

Nesta guerra dos números, nenhum bate certo. O ministério de Paula Teixeira da Cruz falou de 17 423 irregularidades em processos. A Ordem foi averiguar e diz ter encontrado apenas 2238 processos com irregularidades, o que representa apenas 12% do total de processos

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irregulares que o ministério enviou para a Procuradoria-Geral da República.

Em 2885 casos, a Ordem encontrou desconformidades que não classifica de irregularidades, porque não tiveram qualquer impacto no pagamento de honorários. A razão por que Ordem e tutela tinham concordado em fazer uma auditoria era precisamente para averiguar irregularidades nos pagamentos aos advogados oficiosos mas, de acordo com Marinho Pinto, algumas das irregularidades denunciadas pelo Ministério da Justiça diziam respeito, afinal, a advogados que cobravam menos honorários do que aqueles a que teriam efectivamente direito.

E 8028 processos do universo denunciado pela Direcção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ) estariam, afinal, regulares, tendo sido mal contabilizados por funcionários judiciais “sem conhecimento da lei” e que “cometeram erros gravíssimos”.

JUÍZES FUGIRAM, ADVOGADOS PAGARAM

Para que não restassem dúvidas, Marinho Pinto seguiu o método de Paula Teixeira da Cruz e ilustrou os números com exemplos: sempre que os advogados escreveram ter feito duas sessões de julgamento quando afinal só fizeram uma, a auditoria do ministério classificou-o de irregularidade. Mas sem razão, explica o bastonário, porque “a remuneração prevista por processo inclui sempre duas sessões”: ou seja, fazer uma ou duas representa, em termos de honorários, exactamente o mesmo.

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Mas há exemplos mais caricatos: no Tribunal Judicial de Oeiras, um juiz que prestava serviço no 1.°, 2.° e 3.° juízo criminais terá saído do país sem depositar as sentenças na secretaria — por essa razão, os julgamentos tiveram de ser repetidos. Como ninguém averiguou, os advogados ficaram com o ónus da culpa e os seus processos com o carimbo de “irregulares”. “Aqui o erro aconteceu por falta de cumprimento de uma obrigação legal do Estado e não dos advogados” que fazem o patrocínio oficioso.

Continuando nos confrontos dos números, Marinho Pinto rematou que apenas 309 advogados – e não 1035, como na auditoria do ministério – tinham todos os seus processos irregulares, indiciando prática de fraude. Outros 1623, porém, não tinham cometido sequer uma irregularidade. A Ordem não fez as contas a quanto dinheiro terão esses 309 advogados recebido indevidamente, porque diz não ter “condições para fazer essa contagem”, mas já remeteu todos os documentos para o Instituto de Gestão Financeira.

CONTRA-ATAQUE

Sobre as contas apresentadas em Dezembro pela ministra Paula Teixeira da Cruz – e que falavam de um Estado lesado em 500 mil euros, depois de numa fase preliminar se ter apontado para 8 milhões de euros em prejuízo – Marinho Pinto disse serem “um exemplo esclarecedor de leviandade do ministério”. “Mesmo com os números errados apresentados pelo ministério, havia ali um empolamento de 230 mil

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euros porque as contas foram feitas com leviandade, com propósitos enxovalhantes”, acusou o representante dos advogados.

Marinho Pinto não hesitou sequer em dizer que os resultados da auditoria do ministério tinha “fins políticos claros. Há preocupações em usar o Ministério da Justiça para fazer ajustes de contas. Quer-se enxovalhar publicamente uma classe a quem se atribui o crime de ter escolhido uma pessoa para dirigir a Ordem”, disparou o bastonário numa clara alusão à derrota de Paula Teixeira da Cruz na candidatura a bastonária da Ordem dos Advogados, em 2004.

PROCESSOS

A DGAJ reagiu aos dados apresentados ontem pela Ordem, acusando-a de não ter respondido em “tempo oportuno” às “constantes comunicações”, entre Setembro e Novembro.

Sobre os números divergentes entre uma e outra auditoria, a DGAJ admite que os resultados da Ordem “se baseiem, essencialmente, em informações prestadas pelos advogados intervenientes e não pela consulta dos processos”. Mas Marinho Pinto negou-o: terão sido ouvidos os visados e consultados os processos em causa.

Questionado sobre qual o destino dos 309 advogados apanhados sistematicamente em situações irregulares, o bastonário prometeu respostas para depois dos resultados dos inquéritos da Procuradoria-Geral da República. E voltou a usar a imagem das maçãs podres:

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“Aqueles que se comprovar que traduzem fraude serão perseguidos impiedosamente pela Ordem. As maçãs podres são para sair.”

Cavaco chama cúpula da Justiça para reuniões de 15 minutos

Abertura do ano judicial está marcada para 31 de Janeiro

Vão ser quatro reuniões de apenas 15 e de 30 minutos, a duas semanas da abertura do ano judicial e numa altura em que o ambiente na Justiça está crispado. O Presidente da República e supremo magistrado chama hoje ao Palácio de Belém as quatro principais figuras da Justiça para reuniões curtas, entre as 11h e as 12h.

Segundo a agenda da Presidência, Cavaco Silva começa por receber em audiência o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha Nascimento, com os seus vice-presidentes, para, 15 minutos depois, receber o presidente Rui Moura Ramos e os restantes juizes do Tribunal Constitucional. Às 11h45m, Cavaco recebe o presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d’Oliveira Martins e, às 12h, é a vez de ouvir o procurador-geral da República, Pinto Monteiro.

Com um ambiente irrespirável entre ministra da Justiça e bastonário da Ordem dos Advogados, o Presidente da República ouve as restantes figuras da cúpula da Justiça a apenas duas semanas da abertura do ano judicial, um dos mais importantes momentos na área.

O objectivo das reuniões de hoje será, alegadamente, saber das dificuldades do sector e qual a sua situação. As reformas na área da

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Justiça, incluindo as que são impostas pela troika, serão dos pontos a serem falados em Belém, nomeadamente a reforma do Código de Processo Civil, as alterações ao Processo Penal ou a reorganização do mapa judiciário. O memorando da troika impõe que a Justiça portuguesa acabe com os mais de 1,6 milhões de processos parados nos tribunais num prazo de dois anos.

Na abertura do ano judicial de 2011, o discurso de Cavaco foi no sentido de colocar a Justiça ao serviço da economia e dos cidadãos, apelando aos principais responsáveis do sector para acabarem com o ambiente de crispação entre os vários órgãos.

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