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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

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Sistema Único n.º 327250/2018 HABEAS CORPUS n° 160.004/RJ

IMPETRANTE: Carlos Huberth C.C. E Luchione e Outros PACIENTE: Carlos Alberto Braga de Castro

RELATOR: Min. Gilmar Mendes

Excelentíssimo Senhor Ministro Relator, Egrégia Segunda Turma,

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS.

INVESTIGAÇÃO DE ENVOLVIMENTO EM ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. VIOLAÇÃO À SUMULA 691. PRISÃO PREVENTIVA. RISCO Á ORDEM PÚBLICA E À APLICAÇÃO DA LEI PENAL. PACIENTE FORAGIDO. PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS. 1. A discordância quanto às razões de decidir postas nas deci-sões que determinaram a prisão de CARLOS ALBERTO BRAGADE CASTRO não significa que essas razões inexistem, e, muito me-nos, que elas conduzem a uma prisão cautelar teratológica ou flagrantemente ilegal – únicas situações que, segundo reiterada e conhecida jurisprudência do STJ e do STF, autorizam a supe-ração da Súmula 691/STF.

2. A prisão preventiva do paciente foi adequadamente motivada na garantia da ordem pública, a partir de elementos concretos que demonstram o risco de reiteração delitiva advindo de sua liberdade, vez que ocupava importante posto na organização criminosa investigada. No mesmo sentido, a prisão preventiva decretava se faz necessária para minimizar o risco para a apli-cação da lei penal, haja vista que o paciente encontra-se atual-mente foragido da justiça.

3. A posição relevante na sofisticada organização criminosa, a circunstância de Carlos Alberto Braga de Castro ter na prática de ilícitos a sua forma de trabalho há décadas, a gravidade em concreto dos crimes por ele praticados, assim como contato com inúmeros doleiros pertencentes aos diversos ramos da or-ganização criminosa orquestrada pelo ex-Governador Sérgio Cabral - tudo comprovado nos autos, e não fruto de mera espe-culação ou afirmações genéricas – indica que a única forma de sobrestar as atividades ilícitas incorridas pelo paciente é medi-ante a sua custódia cautelar. Do contrário, o risco de reiteração delitiva é óbvio e inegável.

- Parecer pelo não conhecimento do writ, ou, no mérito, pela denegação da ordem.

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I

Trata-se de Habeas Corpus, com pedido liminar, impetrado em favor de

CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO, contra decisão monocrática do Ministro Humberto Martins, do Superior Tribunal de Justiça, que indeferiu liminarmente o Habeas Corpus n. 460.125/RJ e manteve a prisão preventiva decretada em desfavor do paciente pelo Juízo da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, no âmbito da “Operação Câmbio Desligo”, processo nº 0060662-28.2018.4.02.5101, e mantida pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região Federal no HC n° 0007599-65.2018.4.02.0000.

O Juízo da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, no bojo da denominada "Operação Câmbio Desligo", decretou a prisão preventiva do paciente, em conjunto com outros 42 investigados, pela suposta prática dos crimes de organização criminosa, lavagem de ativos (inclusive de âmbito transnacional), evasão de divisas, além de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional.

Contra o decreto prisional proferido pelo Juízo de piso, a defesa do paciente impetrou o HC n. 0007599-65.2018.4.02.00 perante o Tribunal Regional Federal da 2a

Região (TRF2), o qual teve seu pedido liminar indeferido pelo Juiz Convocado Gustavo Arruda Macedo1, e, posteriormente, a ordem denegada, à unanimidade, pela 1ª Turma

Especializada do TRF2ª Região2.

Contra essa decisão, por sua vez, foi impetrado o HC n. 460.125/RJ no Superi-or Tribunal de Justiça (STJ), tendo o Ministro Humberto Martins também rejeitado o pedi-do liminar3, em 24 de julho de 2018.

Irresignada, a defesa do paciente impetrou este habeas corpus, requerendo, li-minarmente, a revogação da prisão preventiva de CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO e, ao final, a confirmação da liminar, com a consequente revogação da prisão preventiva. Suces-sivamente, pediu a concessão da ordem para substituir a prisão preventiva por medidas cautelares alternativas, na forma dos artigos 282, § 6º e 319, do Código de Processo Penal.

Para tanto, sustentou a possibilidade de afastamento da Súmula 691 do STF no caso concreto, porque o constrangimento ilegal seria manifesto e flagrante, uma vez que a

1 Fls. 26/30.

2 Ementa às fls. 1455/1456. 3 Fls. 1434/1436.

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negativa de ordem judicial liminar pelo Superior Tribunal de Justiça importaria em manu-tenção de situação manifestamente contrária à lei e à jurisprudência da Corte Constitucio-nal.

No mérito, argumenta que a decisão impugnada carece de fundamentação sufi-ciente para a manutenção da prisão cautelar, baseada somente no teor supostamente frágil e limitado das afirmações dos colaboradores Cláudio Barboza e Vinícius Claret, sem qual-quer respaldo probatório.

Aduz que o paciente tem residência fixa e que, antes da deflagração da “Opera-ção Câmbio Desligo”, trabalhava como motorista de aplicativo, sendo que laborou na TRANS-EXPERT em função meramente administrativa, sem qualquer poder decisório.

Alega, ainda, que não se verificam os requisitos autorizadores da prisão preven-tiva e que os fatos ensejadores do encarceramento não são contemporâneos ao decreto pri-sional, vez que teriam ocorrido entre os anos de 2007 e 2016.

Por fim, salienta que ele deixou de ser sócio da casa Lotérica AMIGOS DA SORTE em 2002 e que não há qualquer evidência de que mantenha valores custodiados no exterior, nem que tenha patrimônio a descoberto, ou, ainda, que suas movimentações finan-ceiras sejam incompatíveis com seus rendimentos.

Subsidiariamente, pediu a concessão da ordem para substituir a prisão preventi-va por medidas cautelares alternatipreventi-vas, na forma dos artigos 282, § 6º e 319, do Código de Processo Penal.

Essa relatoria determinou a expedição de ofício às autoridades das instâncias inferiores para que prestassem informações sobre o caso em tela, com posterior remessa a esta Procuradoria-Geral da República para emissão de parecer.

As informações requeridas foram juntadas nas fls. 1494/1503 (7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro), 1451/1481 (Desembargador Abel Fernandes Gomes) e 1483/1491 (Ministro Rogério Schietti Cruz), e os autos encaminhadas a esta PGR.

II. 1. Preliminar: ausência de hipótese de cabimento do presente Habeas Corpus. Não conhecimento.

De início, deve-se ressaltar que a presente impetração afronta a conhecida Sú-mula n. 691 do STF, segundo a qual “não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer

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de habeas corpus impetrado contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar.” O ato apontado como coator é a decisão monocrática

da lavra do Ministro Humberto Martins que indeferiu liminarmente o HC n. 460.125/RJ, o que, nos estritos termos do enunciado da Súmula n. 691/STF, obstaria o conhecimento, e, portanto, o deferimento da liminar pleiteada nos autos deste HC.

Aliás, justamente em razão do que prevê o mencionado verbete sumular, o Exmo. Ministro Relator Gilmar Mendes tem reiteradamente negado seguimento a Habeas

Corpus impetrados contra decisões monocráticas denegatórias de medida liminar em ha-beas corpus anterior.

Nesse sentido, cite-se, aqui, o HC n. 148.387, cujo seguimento foi negado em outubro de 2017 pelo Ministro Gilmar Mendes, que manteve preso preventivamente

pa-ciente acusado de ter em depósito 85,5 gramas de maconha.

Também em razão do óbice previsto na Súmula 691/STF, o Ministro Gilmar Mendes negou seguimento, em 04.06.2018, ao HC n. 157.704 e manteve preso

preventi-vamente paciente acusado de furtar 140 reais no ano de 2013.

O RHC n. 155.209, por sua vez, teve seu seguimento negado pelo Ministro Gil-mar Mendes também em razão da Sumula n. 691/STF, mantendo-se a prisão preventiva

de paciente preso por deter 6.3 gramas de crack.

Os exemplos são vários e os casos acima indicados – cuja gravidade, aliás, é notoriamente inferior à retratada nos presentes autos – são apenas uma pequena amostra deles.

Não se desconhece que essa Suprema Corte tem reiteradamente entendido pela superação da Súmula n. 691 – e, portanto, pelo cabimento de Habeas Corpus contra deci-são monocrática que, também em Habeas Corpus, indefere pedido de liminar - sempre que se estiver diante de decisão (que decreta ou mantém prisão cautelar) revestida de flagrante

ilegalidade ou teratologia4.

Após a análise dos documentos e decisões juntadas juntadas aos autos, não há,

sob qualquer aspecto, como tachar de flagrantemente ilegais, abusivas e muito menos

te-ratológicas as sucessivas decisões que decretaram e mantiveram a prisão preventiva de

CARLOS ALBERTO BRAGADE CASTRO. Todas elas se encontram fundamentadas e apoiadas por

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farto material probatório, o qual demonstra a presença dos requisitos autorizadores da se-gregação cautelar previstos no art. 312 do CPP.

Com efeito, a decisão proferida pelo Juízo da 7a Vara da SJ/RJ (que

originaria-mente decretou a prisão preventiva do paciente) demonstrou de forma suficiente a presença do chamado fumus comissi delicti (prova de materialidade delitiva e indícios de autoria em relação a CARLOS ALBERTO BRAGADE CASTRO), o mesmo se podendo dizer sobre o acórdão do TRF 2ª Região (que denegou o HC n. 0007599-65.2018.4.02.00), assim como sobre a decisão do Ministro do STJ Humberto Martins (que rejeitou a medida liminar no HC n. 460.125/RJ) – ato apontado como coator pelo HC em epígrafe.

Em todas elas, foi demonstrado que o paciente participou ativamente do

es-quema criminoso transnacional desbaratado pela “Operação Câmbio Desligo”, de modo mais intenso a partir de 2007 de quando o colaborador Cláudio Barboza conheceu o paci-ente. Nesses termos:

“Que nesse período, por volta de 2007, o colaborador conheceu a transportadora de

valores no Rio de Janeiro de nome TRANS-EXPERT; Que a transportadora de valo-res foi apvalo-resentada ao colaborador como sendo empvalo-resa que trabalharia no “para-lelo”; Que não se recorda a pessoa que o apresentou à empresa; Que a TRANS-EXPERT, quando trabalhava no “B”, no paralelo, não usava carros fortes para não chamar atenção; Que a empresa usava “carros leves”, isto é, carros de passeio blin-dados, com duas pessoas, sem a guia de valores;” (Termo de colaboração de CLAU-DIO BARBOZA, referente ao Anexo 1 – autos n.º 0502637-62.2018.4.02.5101)(DOC nº 03).”5.

Além disso, foram ressaltados os dados extraídos dos sistemas de contabilidade usados pelos colaboradores premiados Vinícius Claret e Cláudio Barbosa, chamados ST e Bankdrop, em que se verificou que o paciente foi responsável por operações de

movi-mentação, ocultação, dissimulação e lavagem de dinheiro, sendo que, apenas entre 03/01/2011 e 05/07/2016, foram realizadas 6471 transações entre os diversos doleiros componentes do esquema e a conta relativa à TRANS-EXPERT, cujo o único contato dos colaboradores era com o paciente CARLOS ALBERTO BRAGADE CASTRO . 6

As mencionadas decisões também são claras e fundamentadas ao demonstra-rem a presença do periculum in mora específico, argumentando que a necessidade da pri-são preventiva de CARLOS ALBERTO BRAGADE CASTRO e de todos os demais envolvidos que foram alvo da medida está em proteger a ordem pública (em face da gravidade em

con-5 Fl. 97. 6 Fls. 104.

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creto dos crimes a eles imputados e contra o risco de reiteração delitiva) e garantir a

aplica-ção da lei penal (tendo em vista o elevado volume de dinheiro movimentado pelo grupo criminoso, que ainda mantém boa parte desses recursos no exterior). Sobre a atuação do paciente, confira-se o que diz o primeiro decreto prisional proferido pela 7ª Vara Federal da SJ/RJ:7

Conforme já delineado em diversos feitos perante este Juízo, as investigações vêm apontando para a atuação da transportadora TRANS-EXPERT VIGILANCIA E TRANSPORTE DE VALORES S/A como instituição financeira clandestina e como participante do esquema de lavagem de ativos por meio do recolhimento, custódia e distribuição de valores.

No requerimento em apreço, o Ministério Público Federal destaca que, por volta de 2007, o colaborador CLAUDIO BARBOZA, diante do aumento expressivo da sua atuação em operações de logística no Brasil, procurou pelos serviços paralelos da TRANS-EXPERT em um encontro do qual participou o gerente de tesouraria CAR-LOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO (ALGODÃO), que passou a ser a pessoa de contato dos colaboradores CLAUDIO e VINICIUS junto à TRANS-EXPERT.

Segundo o colaborador, diversas pessoas jurídicas na condição de “laranjas” deles, fo-ram cadastradas na TRANS-EXPERT, a fim de conferir aparência lícita às transações em caso de fiscalização. Assim, a transportadora, aparentemente, funcionava como verdadeira instituição financeira clandestina, na qual os colaboradores “abriram conta” e passaram a negociar valores com outros doleiros. Registro que há, em curso nesta 7ª Vara Federal Criminal, procedimento criminal que trata deste provável ilícito (proc. nº 0505914-23.2017.4.02.5101).

Nesse ponto, cabe esclarecer que a TRANS-EXPERT era utilizada, em tese, também por diversos doleiros com quem CLAUDIO mantinha transações, dentre os quais AL-VARO NOVIS, que operava para a ODEBRECHT e a FETRANSPOR, e era o respon-sável pelo pagamento de quantias à organização criminosa chefiada pelo ex-governador SERGIO CABRAL, por meio de remessas de valores aos irmãos CHE-BAR, que, por sua vez, eram clientes dos colaboradores CLAUDIO e VINICIUS. Ou seja, uma rede intricada com agentes com tarefas definidas.

Nesse contexto, segundo o MPF, o colaborador CLAUDIO, que também utilizava a TRANSEXPERT, entrou em contato com ALGODÃO, solicitando a transferência di-reta para a sua conta e de VINICIUS na TRANS-EXPERT, resolvendo as questões através de compensações realizadas dentro da própria transportadora, o que se con -firma com o depoimento prestado pelo colaborador VINICIUS CLARET, que esclare-ceu também toda essa dinâmica, a seguir:

(…)

Outra modalidade que aparentemente envolveu a participação de ALGODÃO e da TRANS-EXPERT nas atividades ilícitas operadas pelos colaboradores CLAUDIO e VINICIUS era a de geração de espécie por meio de fornecimento de boletos com a correspondente entrega de reais em espécie. Segundo relatado, na posse dos boletos, os colaboradores CLAUDIO e VINICIUS os quitavam através de pessoas jurídicas de fachada, e ficavam com o dinheiro em espécie, ou entregavam para que outros clientes quitassem os boletos e ficassem com crédito junto aos colaboradores.

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A participação de CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO (ALGODÃO) em ati-vidades suspeitas é corroborada não apenas pelos depoimentos dos colaboradores, mas pelos extratos dos sistemas BANKDROP e ST, sendo que os valores custodiados na transportadora possuía o codinome “CUSEXPEINS” nos referidos sistemas. Pelos extratos dos citados sistemas, entre janeiro de 2011 e julho de 2016 foram reali -zadas na conta da Trans-Expert o total de 6471 transações.

(…)

À luz da garantia constitucional da não presunção de culpabilidade, nenhuma medida cautelar deve ser decretada sem que estejam presentes os pressupostos do fumus co-missi delicti e do periculum libertatis. Entende-se por fumus coco-missi delicti a compro-vação da existência de crime e de indícios suficientes de sua autoria e por periculum libertatis, o efetivo risco que o agente em liberdade pode criar à garantia da ordem pú -blica, da ordem econômica, da conveniência da instrução criminal e à aplicação da lei penal (artigo 312 do Código de Processo Penal).

No que toca especialmente ao fundamento da garantia da ordem pública, o Supremo Tribunal Federal já assentou que esta envolve, em linhas gerais: a) necessidade de res-guardar a integridade física ou psíquica do preso ou de terceiros; b) necessidade de as-segurar a credibilidade das instituições públicas, em especial o Poder Judiciário, no sentido da adoção tempestiva de medidas adequadas, eficazes e fundamentadas quanto à visibilidade e transparência da implementação de políticas públicas de persecução criminal; e c) objetivo de impedir a reiteração das práticas criminosas, desde que las-treado em elementos concretos expostos fundamentadamente.

Como já dito linhas acima, e reiterando decisões cautelares anteriores, em se confir-mando as suspeitas inicialmente apresentadas, as quais seriam suportadas pelo con-junto probatório apresentado em justificação para as graves medidas cautelares requeridas, estaremos diante de graves delitos de lavagem de dinheiro, a nível transna-cional, evasão de divisas e organização criminosa.

Mais do que isso, avaliando os elementos de prova trazidos aos autos, em cognição sumária, considero que a gravidade da prática criminosa de pessoas com alto padrão social que tentam burlar os trâmites legais, não poderá jamais ser tratada com o mesmo rigor dirigido à prática criminosa comum.

Ou seja, os atos, em tese, praticados afetam toda a economia do país, pois há uma ver-dadeira rede de câmbio paralelo, movimentando soma de bilhões de dólares sem pas-sar pelo trâmites legais. A impressão que se tem é que a apontada organização criminosa, cujas diversas ramificações estão ainda a ser escrutinadas, criaram um “sis-tema financeiro paralelo” ao oficial, de forma a desrespeitar as normas existentes so-bre a matéria e colocar em risco a credibilidade do sistema financeiro do Brasil perante instituições internacionais.

Portanto, após a explanação sobre os requeridos, tenho por evidenciados os pressu-postos para o deferimento da medida cautelar extrema, consubstanciados na presença do fumus comissi delicti, ante a aparente comprovação da materialidade delitiva e de indícios suficientes que apontam para a autoria de crimes organização criminosa, la-vagem de dinheiro e evasão de divisas.

Encontra-se também presente o segundo pressuposto necessário à decretação da cau-telar, qual seja, o periculum libertatis, nestes autos representado pelo risco efetivo que os requeridos, em liberdade, possam criar à garantia da ordem pública, da conveniên-cia da instrução criminal e à aplicação da lei penal (artigo 312 do Código de Processo Penal).

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Repise-se que muitos dos ora investigados já foram investigados ou denunciados no passado por delitos de mesma tipologia, todavia, isso não parece ter desestimulado a perpetuação da conduta. Como se observa, ao longo da fundamentação, os requeridos que já foram denunciados se afastaram por um curto período das atividades, mas, em tese, retornaram a prática delituosa.

Já aqueles que ainda não figuraram em processo criminal, aparentemente, conhecem as denúncias que recaem sobre os doleiros e tentam se proteger melhor para não se -rem os próximos a se-rem investigados. Ou seja, ao que tudo indica, não há qualquer inibição dos doleiros, tampouco vontade em, de fato, legalizar as atividades de com-pra e venda de moedas.

Ademais, a maioria dos ora investigados possui residência em outros países, como Uruguai ou Estados Unidos da América, logo, caso permaneçam em liberdade, facil-mente poderão se evadir da aplicação da lei penal.

Sobre o ponto reitero o que acima disse acerca da necessidade da prisão requerida para garantia da ordem pública, circunstância exaustivamente abordada anterior-mente.

Nesse diapasão, comprovada a necessidade da prisão preventiva, que não é atendida

por nenhuma outra medida cautelar alternativa, mesmo as estipuladas no art. 319

do CPP, ante o comportamento acima descrito dos investigados requeridos, que demonstram praticar atos, aparentemente, voltados à evasão de divisas e branquea-mento de capitais.

Agora, confira-se trecho da decisão monocrática proferida pelo Ministro do STJ Humberto Martins, que é apontado como ato coator do presente Habeas Corpus:

“Não estão presentes os pressupostos autorizadores do acolhimento da pretensão limi-nar.

Inicialmente, cumpre ressaltar que, consoante o posicionamento aplicado pelos Tribu-nais Superiores, não se admite habeas corpus contra decisão negativa de liminar pro-ferida em outro writ na instância de origem, sob pena de indevida supressão de instância, o que tem inclinado o Supremo Tribunal Federal a nem sequer conhecer da impetração, a teor da Súmula 691:

"Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, inde -fere a liminar".

No entanto, a despeito do óbice processual, têm entendido as Cortes Superiores que, nesses casos excepcionais, deve preponderar a necessidade de garantir a efetividade da prestação da tutela jurisdicional de urgência, a fim de preservar o direito à liber-dade, tarefa a ser desempenhada caso a caso.

A concessão da tutela de emergência, em juízo de cognição sumária e singular, exige a demonstração, concomitante e em grau bastante satisfatório, da plausibilidade do di-reito alegado e do perigo na demora.

No caso dos autos, o Tribunal a quo, ao manter a prisão preventiva, afirmou que a de-cisão que a decretou se encontra bem fundamentada na gravidade concreta da con-duta. É o que se extrai do seguinte trecho (fls. 30, e-STJ):

"No que diz respeito à questão do periculum in libertatis à luz do disposto no art. 312 do CPP, principalmente a garantia da Ordem Pública, o Juízo impetrado, bem avaliou, ao menos para esta análise perfunctória, os contornos da gravidade concreta dos fatos,

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relativo à sua proximidade com os dias atuais, afetação em larga escala aos valores constitucionais, além de tangenciar que as medidas preventivas mais incisivas sobre a liberdade, em se tratando do crime de lavagem de dinheiro, por vezes também tem o condão viabilizar a cessação de atividade ilícita e promover a recuperação de quantias criminosamente movimentados."

Nesse contexto, o caso em análise não se enquadra nas hipóteses excepcionais passí-veis de deferimento do pedido em caráter de urgência, não veiculando situação confi-guradora de abuso de poder ou de manifesta ilegalidade sanável no presente juízo perfunctório, devendo a controvérsia ser decidida após a tramitação completa do feito.

Ora, ainda que se possa, no plano das ideias, discordar-se das razões subjacen-tes a cada uma dessas decisões, não há como dizer que elas impõem “flagrante

constrangi-mento ilegal” em face do paciente – tal como afirmado pelos impetrantes; tais razões,

tampouco, contrariam a jurisprudência dos Tribunais Superiores, muito pelo contrário. Por óbvio, a eventual discordância quanto às razões de decidir postas nas decisões que determi-naram a prisão de CARLOS ALBERTO BRAGADE CASTRO não significa que essas razões inexis-tem, e, muito menos, que elas conduzem a uma prisão cautelar teratológica ou flagrantemente ilegal – únicas situações que, segundo reiterada e conhecida jurisprudência do STJ e do STF, autorizam a superação da Súmula 691/STF.

Aqui, e para finalizar, vale registrar que a superação indiscriminada da Súmula n. 691/STF, feita fora das hipóteses em que a histórica jurisprudência do STF a autoriza,

como ocorreu no caso concreto ora em exame, representa preocupante ofensa às regras

de competência, além de evidente supressão de instância e desrespeito ao princípio da cole-gialidade.

As consequências são de índole bastante prática: é que, ao se permitir que de-cretos prisionais de 1º e 2º grau sejam revistos diretamente por decisão de Ministro da úl-tima instância do Poder Judiciário – com tem ocorrido no bojo das atuais investigações de combate à macrocriminalidade –, reduz-se o papel do STF, que diminui sua presença como Corte Constitucional, ampliando sua condição de juízo de fatos – dos quais está distante – que conduziram à prisão.

Justamente a fim de se evitar que tal subversão ocorra, a possibilidade de o STF rever, em sede de Habeas Corpus, decretos prisionais de 1º e 2º grau, com superação ao previsto na Súmula n. 691/STF, somente pode se dar em situações excepcionalíssimas, em que se esteja diante de prisão indubitavelmente teratológica, ilegal ou abusiva – o que, como acima demonstrado, não acontece no presente caso.

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II.2. Da presença dos requisitos autorizadores da prisão preventiva de CARLOS ALBERTO

BRAGADE CASTRO

Ademais, a prisão preventiva decretada em face de CARLOS ALBERTO BRAGADE

CASTRO pelo juízo da 7a Vara Federal Criminal da SJ/RJ tem fundamentação concreta e de-monstra a presença dos requisitos legais.

Com efeito, para que a prisão preventiva seja adequadamente decretada, devem estar presentes: (i) uma das condições de admissibilidade (pressupostos normativos) previs-tas no artigo 313, do CPP e os requisitos genéricos das cautelares fumus comissi delicti e

periculum libertatis; (ii) um dos pressupostos (requisitos fáticos) previstos no artigo 312, caput, do CPP (garantia da ordem pública, ordem econômica, aplicação da lei penal ou

ins-trução criminal, ou do seu parágrafo único; (iii) a necessidade, adequação e utilidade do provimento (proporcionalidade), próprio das medidas intrusivas na esfera de liberdade do cidadão, e a insuficiência das medidas cautelares diversas da prisão.

Todos estes requisitos foram devidamente preenchidos no presente caso e apon-tados na decisão que decretou a prisão preventiva, conforme será demonstrado a seguir.

II.2.a. Condições de admissibilidade (pressupostos normativos) previstas no artigo 313 do CPP e o requisito genérico das cautelares fumus comissi delicti.

De acordo com o disposto no artigo 313 do Código de Processo Penal a prisão preventiva é admitida: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade

máxima superior a 4 (quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso,

em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; ou ainda quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la.

No presente caso, a denúncia oferecida no âmbito da “Operação Câmbio Des-ligo”, imputa ao paciente CARLOS ALBERTO BRAGADE CASTRO a prática dos os seguintes fa-tos criminosos:

(i) Lavagem de dinheiro (Art. 1º, §4º, da Lei 9.613/98 c/c artigo 71 do Código

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(ii) Operação de Instituição Financeira Não Autorizada – (Art. 16 da Lei

7.492/86).

(iii) Pertinência a organização criminosa, pelo menos desde meados dos anos

90 até os dias atuais. (artigo 288 do Código Penal c/c art. 2º, § 4º, II, III, IV e V, da Lei 12.850/2013).

Os supracitados crimes são punidos com pena privativa de liberdade máxima superior à 4 anos, estando preenchido, assim, o requisito exigido no artigo 313 do Código de Processo Penal.

Além disso, a parte final do artigo 312 do CPP exige, para a decretação da prisão preventiva, a prova da existência do crime e indício suficiente de autoria (fumus

comissi delicti).

A decisão que decretou a prisão preventiva do paciente, e, principalmente, a decisão monocrática proferida pelo Ministro do STJ Humberto Martins - mantida pelo Ministro Rogério Schietti, que é apontado como ato coator do presente Habeas Corpus, examinou as provas de materialidade e indícios de autoria do delito, destacando a participação central de CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO essencial para o sucesso do esquema ilícito montado por Dario Messer.

Em primeiro lugar, cumpre resgatar os depoimentos prestados pelos colaboradores Vinícius Claret e Cláudio Barbosa, que revelaram o funcionamento de uma grande rede de doleiros especializada na realização de operações “dólar-cabo”.

Essa rede era operacionalizada, de forma mais direta, pelos colaboradores, os quais atuavam enquanto prepostos ou sócios minoritários de Dario Messer, principal agente por trás da rede de doleiros e líder da organização criminosa que movimentou, apenas entre os anos de 2011 a 2016, mais de U$$ 1.652.000.000,00, em contas espalhadas por mais de 52 países e registradas em nome de mais de 3000 off-shores. Até meados de 2012/2013, DARIO MESSER possuía um banco em Antígua e Barbuda, denominado EVG, focado na lavagem de dinheiro internacional, cuja lista de clientes incluía8:

• RENATO e MARCELO CHEBAR (doleiros de SÉRGIO CABRAL);

• CLARK SETTON (doleiro preso na operação BANESTADO);

• ALESSANDRO LABER (doleiro, operador financeiro de ARTHUR PINHEIRO

MACHADO, preso na Operação Rizoma);

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• BENJAMIN KATZ (doleiro, investigado no BANESTADO e apontado como um dos operadores financeiros de EDUARDO CUNHA);

• MONIQUE e MURIEL MATALON (membros da tradicional família de doleiros de São Paulo, abaixo descrita);

• ALEXANDRE ACCIOLY (empresário investigado na Operação C’est Fini); DAYSE DEBORAH ALEXANDRA NEVES (esposa do ex-Secretário do DETRO, ROGERIO ONOFRE, ambos presos na Operação Ponto Final, por desvios na área de transportes no Rio de Janeiro);

• RICARDO ANDRE SPIERO (operador financeiro de CLAUDINE SPIERO,

investigado na Operação Kaspar II10);

• VITIORIO TEDESCHI (empresário investigado na Operação Roupa Suja); • ARTHUR CESAR DE MENEZES SOARES FILHO (empresário investigado na Operação Unfair Play, atualmente foragido nos EUA, aguardando extradição);

• MARCELO RZEZINSKI e ROBERTO RZEZINSKI (doleiros, operavam conta de nome “PEDRA” com os colaboradores, conforme abaixo descrito);

• SERGIO MIZRAHY (agiota, operava conta “MIZHA” com os colaboradores, conforme abaixo descrito);

• ALEXSANDER LUIZ DE QUEIROZ SILVA (doleiro, operava para empresários denunciados na Operação Ponto Final)

• VINICIUS CLARET (sócio de DARIO MESSER); • CLAUDIO BARBOZA (sócio de DARIO MESSER);

Os colaboradores também forneceram ao MPF os registros dos sistemas de contabilidade que utilizavam, o ST e o Backdrop, os quais servem como elementos de corroboração do funcionamento da estrutura delitiva.

Conforme os relatos dos colaboradores Cláudio Barboza e Vinícius Claret, estes se conheceram ainda na década de 80 e fizeram carreira nas casas de câmbio da família Messer, comandadas inicialmente por Mordko Messer e depois, com sua morte, por seu filho Dario Messer, para quem trabalharam até o dia de suas prisões em 03/03/2017.

Até o fim da década de 90 as atividades foram exercidas livremente por Dario Messer e seus comparsas em terras brasileiras. Contudo, como o combate à lavagem de dinheiro e as operações policiais passaram a se intensificar no início dos anos 2000, a estrutura montada pela organização criminosa para lavagem de dinheiro, baseada em casas de câmbio, factorings e transportadoras de valores, começou a ficar muito visada pelas autoridades, motivando a necessidade de alternativas para manter suas atividades ilícitas.

Neste contexto, a organização criminosa decide mudar fisicamente todas as suas atividades para o Uruguai, no ano de 2003, passando a comandar de maneira remota as operações de lavagem de dinheiro.

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Ao transferir suas operações financeiras para o Uruguai, onde instituiu verdadeira instituição financeira clandestina, na qual cada cliente mantinha uma conta-corrente própria com um codinome que o identificava, Messer criou uma gigantesca rede de lavagem de dinheiro, essencial para a prática de crimes como corrupção, sonegação tributária e evasão de divisas.

Assim, Dario Messer se torna o “doleiro dos doleiros”, capaz de dirigir, interligar, articular, racionalizar e potencializar os lucros de dezenas de operadores do mercado de negociação de moeda estrangeira que agiam à margem da lei, chegando a movimentar entre os anos de 2011 e 2016 mais de USD 1.652.000.000,00 (um bilhão, seiscentos e cinquenta e dois milhões de dólares), em contas que se espalharam por 52 países e que envolveram mais de 3.000 offshores. Essa movimentação de recursos no exterior requereu que uma estrutura de logística fosse montada no Brasil a fim de permitir que reais fossem transportados, custodiados e liquidados. Para isso, Messer e os demais denunciados – entre eles o paciente - implementaram uma estrutura criminosa sofisticada, que tinha por finalidade a prática de, entre outros, crimes de evasão de divisas, contra o sistema financeiro nacional e corrupção ativa e passiva, bem como a lavagem dos recursos financeiros auferidos desses crimes e dos recursos utilizados no pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos

É nesse contexto que se dá a atuação do paciente CARLOS ALBERTO BRAGA DE

CASTRO (ALGODÃO) no âmbito da organização criminosa investigada pela “Operação Câmbio Desligo”.

Segundo a representação ministerial, CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO

(ALGODÃO) trabalhou como Gerente de Tesouraria da empresa TRANS-EXPERT VIGILÂNCIA E TRANSPORTE DE VALORES S/A, entidade que funcionava como instituição financeira clandestina e era utilizada pela ORCRIM para movimentar recursos por meio de contabilidade paralela, atuando no esquema de lavagem de capitais através do recolhimento, custódia, ocultação, distribuição e dissimulação dos valores movimentados.

Segundo apontam as investigações, Cláudio Barboza e Vinícius Claret informaram que o contato e a operacionalização com a referida transportadora de valores se dava diretamente com o funcionário CARLOS ALBERTO BRAGADE CASTRO (Algodão), que era o responsável pela movimentação paralela do numerário, além de participar do fornecimento de boletos com a correspondente entrega de dinheiro em espécie.

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Os colaboradores informaram, ainda, que a empresa recebia o código de CUSEXPEINS (relativa à TRANS-EXPERT) nos sistemas BANKDROP e ST, tendo sido realizadas cerca de 6471 transações financeiras em favor dos referidos doleiros, compreendidas entre os períodos de 03/01/2011 e 05/07/2016.

Em apenas uma dessas contas utilizadas pela empresa TRANS-EXPERT, a conta PANTANAL (vinculada a Álvaro Novis) foram realizadas transferências que chegaram à casa dos 255 milhões de reais, todas viabilizadas através da atuação de CARLOS

ALBERTO BRAGADE CASTRO.

A defesa tenta emplacar a tese de que o paciente era um simples funcionário da área administrativa da empresa, sem qualquer ingerência sobre sua atuação ou seus negócios; contudo, não é isso que as provas produzidas nas investigações demonstraram.

Apurou-se que o paciente representava ativamente a empresa e era o principal contato dos doleiros integrantes do esquema criminoso junto à TRANS-EXPERT, constituindo peça chave na atuação da organização criminosa investigada e tendo papel fundamental para o sucesso da empreitada criminosa.

Na denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal no bojo da “Operação Câmbio, Desligo”, a atuação criminosa de CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO, vulgo Algodão, foi relatada de forma pormenorizada como se vê dos trechos a seguir transcritos:

“4.30 – DA PARTICIPAÇÃO DE CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO (ALGODÃO) NA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

Conforme sobejamente demonstrado no item 21 adiante, o denunciado CAR-LOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO fez operar verdadeira instituição finan-ceira clandestina, dedicada à prática de atos de lavagem de dinheiro por parte da organização criminosa, sendo parte fundamental para o sucesso das empreita as delitivas.

Segundo informado pelos colaboradores CLAUDIO e VINICIUS, após lança-das as operações de dólar-dabo nos sistemas informatizados, os colaboradores faziam uso de transportadoras de valores, dentre as quais a TRANS-EXPERT VIGILANCIA E TRANSPORTE DE VALORES S/A – cujo contato se dava através de CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO, vulgo ALGODÃO -que movimentava os recursos em uma contabilidade paralela, servindo de local seguro para a custódia do dinheiro.

As operações não se limitavam à custódia e ao transporte de moeda em espécie. Como mencionado anteriormente, a TRANS-EXPERT funcionava como verda-deira instituição financeira clandestina, onde os colaboradores “abriram conta” e passaram a negociar valores com outros doleiros.

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A participação de ALGODÃO e da TRANS-EXPERT nas atividades ilícitas operadas pelos colaboradores CLAUDIO e VINICIUS não se limitava à moda-lidade acima narrada. ALGODÃO também participava da geração de reais atra-vés do fornecimento de boletos com a correspondente entrega de reais em espécie. Na posse dos boletos, os colaboradores CLAUDIO e VINICIUS os quitavam através de empresas de fachada, e ficavam com o dinheiro em espécie limpo, ou entregavam para que outros clientes quitassem os boletos e ficassem com crédito junto aos colaboradores.

Há, portanto, provas robustas de que CARLOS ALBERTO BRAGA DE CAS-TRO, vulgo ALGODÃO, praticou crimes de operação de instituição financeira não autorizada e lavagem de dinheiro, tendo integrado a organização criminosa da qual CLAUDIO BARBOZA e VINICIUS CLARET participavam, e contri-buído para o cometimento de crimes em favor da organização criminosa lide-rada pelo ex-Governador SÉRGIO CABRAL.

(…)

CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO, conhecido como ALGODÃO, trabalhava como gerente de tesouraria na TRANS-EXPERT VIGILANCIA E TRANSPORTE DE VALORES S/A, empresa envolvida em diversas operações de lavagem de dinheiro para a organização criminosa liderada pelo ex-governa-dor SERGIO CABRAL.

Com efeito, por se tratar formalmente de uma transportadora de valores, a TRANS-EXPERT lidava com enorme volume de dinheiro em espécie, o que atraía o interesse de doleiros para utilizá-la como ferramenta para lavagem do dinheiro da propina de agentes públicos.

As operações envolvendo as transportadoras de valores eram principalmente a geração, custódia e transporte de reais em espécie, mediante guias que, após utilizadas, eram destruídas. Por vezes, o transporte era feito em carros leves blindados, sem guias de valores. Não havia qualquer registro formal dos de-pósitos/depositantes, mas havia um registro paralelo em que era consignada a propriedade daqueles valores. Tratava-se de verdadeira estrutura paralela à dis-posição dos fornecedores de reais.

Como mencionado anteriormente, após lançadas as operações nos sistemas in-formatizados, os colaboradores CLAUDIO e VINICIUS faziam uso de trans-portadoras de valores, dentre as quais a TRANS-EXPERT VIGILANCIA E TRANSPORTE DE VALORES S/A – cujo contato se dava através de CAR-LOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO, vulgo ALGODÃO - que movimentava os recursos em uma contabilidade paralela, servindo de local seguro para a cus-tódia do dinheiro.

“Que nesse período, por volta de 2007, o colaborador conheceu a transportadora de valores no Rio de Janeiro de nome TRANS-EXPERT; Que a transportadora de valores foi apresentada ao colaborador como sendo empresa que trabalharia no “paralelo”; Que não se recorda a pessoa que o apresentou à empresa; Que a TRANS-EXPERT, quando trabalhava no “B”, no paralelo, não usava carros fortes para não chamar aten-ção; Que a empresa usava “carros leves”, isto é, carros de passeio blindados, com duas pessoas, sem a guia de valores;”(Termo de colaboração de CLAUDIO BAR-BOZA, referente ao Anexo 1 – autos n.º 0502637-62.2018.4.02.5101)(DOC Nº 3).

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O doleiro ALVARO NOVIS, que operava para a ODEBRECHT e para FE-TRANSPOR, entre outros, firmou acordo de colaboração com o MPF e escla-receu a dinâmica das operações com as transportadoras de valores que faziam a coleta, custódia e entrega do dinheiro, por meio de controles paralelos: as em-presas que geravam os reais mantinham uma “conta” na transportadora e “transferiam” os valores para a “conta” do doleiro, que informava à transporta-dora os locais onde o dinheiro deveria ser retirado e também os lugares onde deveria ser entregue. Todas as entregas se davam por meio de senhas que eram previamente ajustadas entre a pessoa que entregava e recebia. O transporte dos valores se dava, via de regra, em carros de passeio blindados para evitar chamar atenção:

“(…) Que a operação nas transportadoras era feita através de uma guia, que, após ser utilizada era destruída. Não havia qualquer registro formal dos depósitos/depositantes, mas havia um registro paralelo em que era consignada a propriedade dos valores. O sistema funcionou muito bem, até dois eventos em que o colaborador, e muitas outras pessoas perderam bastante dinheiro. Em uma delas houve um incêndio que foi na em-presa Transexpert e, em outra, na emem-presa Prosegur. Que os fornecedores de reais também no caso da Odebrecht utilizavam-se dessa estrutura paralela das transportado-ras de valores. Não havia qualquer tipo de remuneração pelo fato de o dinheiro ser deixado nas transportadoras. Que, ao contrário, havia o custo da custódia. Que quanto ao valor de quarenta milhões que consigna ter perdido junto à Trans-Expert, perdidos em um incêndio, apenas parte lhe pertencia, a maioria pertencendo a seus clientes. Que em relação aos codinomes e senhas TRANSMAR SP e TRANSMAR RIO, os co-dinomes diziam respeito a apelidos, abreviações, ou, ainda, ao nome do encarregado responsável pelo recebimento, como no caso de Altair, que recebia valores da Odebre-cht em nome de Eduardo Cunha. Que nessa lista, quando aparece SENHA, a senha equivale ao codinome. Que as entregas eram combinadas e eram feitas em garagens e shoppings. Que quando não há identificação do nome do beneficiário, é porque o co-laborador não sabe a quem se refere (...)” (Termo de colaboração de ALVARO NOVIS nos autos da PET 11962 –Anexo12) (DOC. N.º 78)

“(…) Que a partir de 1990/1991 a FETRANSPOR, a mando de JOSÉ CARLOS LA-VOURA, passou a utilizar os serviços do Colaborador para efetuar custódia e paga-mentos de vantagens indevidas a políticos; Que o Colaborador sabia que os pagamentos feitos pela FETRANSPOR eram realizados para garantir benefícios rela-cionados a linhas de ônibus, tarifas, etc; Que a FETRANSPOR é dividida em 6 sindi-catos; Que as empresas de ônibus entregavam o dinheiro em espécie em transportadoras de valores; Que a entrega dos valores inicialmente era feita para a TRANSEGUR; Que a TRANSEGUR foi adquirida pela PROSEGUR; Que havia ou-tra ou-transportadora de valores chamada TRANSEXPERT que era utilizada para custó-dia de valores; Que as empresas de ônibus possuíam "contas" nas transportadoras de valores para custódia dos recursos arrecadados com passagens; Que o Colaborador abriu "contas" nas referidas transportadoras também para poder movimentar os valo -res das emp-resas de ônibus; Que tais "contas" eram meramente informais; Que os va-lores eram transferidos das "contas" das empresas para a "conta" do colaborador e a partir daí eram feitos os pagamentos aos beneficiários finais; Que o colaborador pos-suía contrato formal com ambas as transportadoras; Que as ordens para pagamento a políticos eram dadas única e exclusivamente por JOSÉ CARLOS LAVOURA; Que desde 1990/1991 até 2016 as ordens sempre foram emitidas por LAVOURA; Que os pagamentos pararam de ser realizados em razão da operação Xepa da Força Tarefa Lava Jato; Que as ordens eram transmitidas por meio de bilhetes; Que os bilhetes eram entregues por REGINA, secretária de LAVOURA, para MARCIO ou EDIMAR,

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funcionários do Colaborador; Que MARCIO ou EDIMAR também, por vezes, iam ao escritório de LAVOURA para obter informações acerca das ordens de pagamentos; Que o controle de pagamentos e recebimentos era feito pelo Colaborador por meio de planilha que ora entrega; Que eram utilizados codinomes nas planilhas que eram, ge-ralmente, escolhidos pelos colaboradores; Que destruiu grande parte do material onde eram guardadas as planilhas de pagamentos(...)” (Termo de colaboração de ALVARO NOVIS nos autos da PET 11962 –Anexo 02) (DOC.79)

Em pouco tempo esta atuação paralela da TRANS-EXPERT passou a ser co-nhecida por outros doleiros interessados em utilizá-la, como efetivamente ocor-reu com os colaboradores CLAUDIO BARBOZA e VINICIUS CLARET. Em 2007 aproximadamente, o colaborador CLAUDIO BARBOZA, diante do aumento expressivo da sua atuação em operações de logísitica de reais no Bra-sil, procurou pelos serviços paralelos da TRANS-EXPERT. Assim, marcou uma primeira reunião através do gerente MENEZES, que, entretanto não che-gou a participar do encontro, tendo ido, pela TRANS-EXPERT, o gerente de te-souraria CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO (ALGODÃO).

A partir de então, ALGODÃO passou a ser a pessoa de contato dos colaborado-res CLAUDIO e VINICIUS junto à TRANS-EXPERT. Diversas empcolaborado-resas la-ranjas do colaborador foram então cadastradas na TRANS-EXPERT, a fim de conferir aparência lícita às transações em caso de fiscalização.

As operações não se limitavam à custódia e ao transporte de moeda em espécie. Como mencionado anteriormente, a TRANS-EXPERT funcionava como verda-deira instituição financeira clandestina, onde os colaboradores “abriram conta” e passaram a negociar valores com outros doleiros.

As informações acima foram corroboradas por CLÁUDIO BARBOZA, que li-dava diretamente com ALGODÃO:

“(…) Que nesse período, por volta de 2007, o colaborador conheceu transportadora de valores no Rio de Janeiro de nome TRANS-EXPERT; Que a transportadora de valores foi apresentada ao colaborador como sendo empresa que trabalharia no “paralelo”; Que não se recorda a pessoa que o apresentou à empresa; Que a TRANS-EXPERT, quando trabalhava no “B”, no paralelo, não usava carros fortes para não chamar aten-ção; Que a empresa usava “carros leves”, isto é, carros de passeio blindados, com duas pessoas, sem a guia de valores; Que a primeira reunião com representantes da TRANS-EXPERT foi marcada com o seu gerente de nome MENEZES; Que MENE-ZES, no entanto, não participou da reunião, tendo ido pessoa de apelido ALGODÃO (CARLOS ALBERTO); Que consegue reconhecê-lo por fotos; Que o colaborador ti-nha como ponto de contato na TRANS-EXPERT a pessoa de ALGODÃO; Que quando o colaborador não estava presente no Rio de Janeiro quem o representava junto a ALGODÃO era seu funcionário de nome RENATO DA SILVA AMARAL; Que ALGODÃO informou ao colaborador que seria necessário ter uma empresa para cadastro; Que a empresa seria apenas para justificar a existência dos recursos, caso houvesse alguma fiscalização; Que foram usadas várias empresas laranjas ao longo do tempo pelo colaborador; Que a última empresa a ser utilizada foi a INSIDER; Que a TRANS-EXPERT transportava até R$ 350.000,00, cobrando R$ 350,00, o que repre-sentava um custo barato para o colaborador; Que o colaborador pediu para aumentar o limite máximo de transporte para até R$ 1.000.000,00, ocasião em que era cobrado R$ 1.000,00; Que essas taxas eram cobradas para transporte no Rio de Janeiro; Que para o colaborador o ajuste com a TRANS-EXPERT valia a pena pois permitiu que diver-sos funcionários fossem desligados; Que com o passar do tempo o colaborador

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perce-beu que a TRANSEXPERT tinha uma atuação muita grande, pois atendia diversos ou-tros doleiros; Que o colaborador passou a receber diretamente de ouou-tros doleiros na própria TRANS-EXPERT; Que foi em 2008/2009 foi chamado em São Paulo pelo seu maior cliente, a Odebrecht (conhecida no sistema como TUTA); Que na reunião esta-vam presentes LUIZ EDUARDO SOARES e ALVARO NOVIS (cujo apelido era “PANTANAL” no sistema); Que a reunião foi no hotel Sheraton; Que o colaborador foi comunicado que sempre que houvesse necessidade de entrega de reais, os mesmos deveriam ser entregues na TRANS-EXPERT; Que o colaborador, então, passou a mo-vimentar os recursos de suas salas para a TRANS-EXPERT; Que o colaborador, à época, não possuía uma empresa semelhante em São Paulo; Que ALGODÃO passou a prestar serviços ao colaborador via TRANSNACIONAL quando a operação era reali-zada em São Paulo; Que o colaborador possuía funcionário chamado RENATO (cujo apelido no sistema do colaborador é “DEDINHO”), que era responsável por fazer o acerto de contas entre a contabilidade do colaborador com a TRANSEXPERT (...)” (CLÁUDIO BARBOZA - Termo de colaboração referente aoAnexo 1 – autos n.º 0502637-62.2018.4.02.5101 – DOC. N.º 03)”

Como se verifica do relato, com o passar do tempo, o colaborador CLAUDIO passou a perceber que a TRANS-EXPERT era utilizada também por diversos doleiros com quem mantinha transações, razão pela qual passou a operacionali-zar tais transações diretamente na TRANS-EXPERT, mediante um sistema sim-ples de créditos e débitos, sem necessidade da transferência física dos valores. Um desses doleiros era ALVARO NOVIS, que operava para a ODEBRECHT e a FETRANSPOR, e era o responsável pelo pagamento de quantias à organiza-ção criminosa chefiada pelo ex-governador SERGIO CABRAL, através de re-messas de valores aos irmãos CHEBAR. Os irmãos CHEBAR, por sua vez, eram clientes dos colaboradores CLAUDIO e VINICIUS.

Nessas operações com os colaboradores CLAUDIO e VINICIUS, os irmãos CHEBAR por vezes solicitavam que CLAUDIO e VINICIUS indicassem al-guns endereços para receber dinheiro no Rio de Janeiro. Ao observar que quem levava esses valores era a TRANS-EXPERT o colaborador CLAUDIO, que também utilizava a transportadora, entrou em contato com ALGODÃO e solici-tou que a remessa seguinte dos irmãos CHEBAR não fosse feita, mas que fosse realizada a transferência direta para a conta de CLAUDIO e VINICIUS na TRANS-EXPERT, resolvendo as questões através de compensações realizadas dentro da própria TRANS-EXPERT.

O colaborador VINICIUS CLARET esclareceu essa dinâmica em seu depoi-mento prestado:

“(…) QUE o depoente já operava para a ODEBRECHT, desde a década de 1990, e que após já estar no Uruguai, por volta de 2008, a ODEBRECHT lhe informou que suas transações seriam concentradas na pessoa de NOVIS; QUE LUIZ EDUARDO, da ODEBRECHT, teve uma reunião com CLAUDIO, sócio do depoente, para informar que os pagamentos seriam concentrados no NOVIS; QUE o depoente e seu cli -ente já tinham uma conta na TRANSEXPERT, para entrega de valores; QUE, a partir de então, a conta do depoente na TRANSEXPERT passou a ser utilizada para paga-mentos ao NOVIS, via TRANSEXPERT, sendo feitas as transferências internamente na transportadora de valores; QUE o contato na TRANSEXPERT era uma pessoa com o codinome ALGODÃO; QUE, no sistema do depoente, a conta de NOVIS para rece-bimento de valore da ODEBRECHT através da TRANSEXPERT recebia o nome de “PANTANAL”; QUE quando necessitava passar algum valor para o NOVIS

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infor-mava ao ALGODÃO que transferisse aquela quantia para a conta “PANTANAL” (…) QUE NOVIS também era o responsável pelos pagamentos efetuados aos irmãos CHE-BAR; QUE os irmãos CHEBAR, por vezes, solicitavam alguns endereços para rece-ber dinheiro no Rio de Janeiro; QUE o depoente e seu sócio passaram a observar que quem levava esses valores era a TRANSEXPERT; QUE para evitar as movimentações de valores em espécie, CLAUDIO entrou em contato com ALGODÃO, da TRAN-SEXPERT, questionando se havia uma entrega para um certo endereço; QUE, com a resposta afirmativa de ALGODÃO, CLAUDIO solicitou que a remessa não fosse feita, mas fosse feita a transferência para a conta do depoente e de CLAUDIO na TRANSEXPERT, resolvendo as questões através de compensações realizadas dentro da própria TRANSEXPERT (...)” (VINICIUS CLARET -Termo de colaboração refe-rente ao Anexo 7 – autos n.º 0502643-69.2018.4.02.5101 – DOC. N.º 80)

A participação de ALGODÃO e da TRANS-EXPERT nas atividades ilícitas operadas pelos colaboradores CLAUDIO e VINICIUS não se limitava à moda-lidade acima narrada. ALGODÃO também participava da geração de reais atra-vés do fornecimento de boletos com a correspondente entrega de reais em espécie. Na posse dos boletos, os colaboradores CLAUDIO e VINICIUS os quitavam através de empresas de fachada, e ficavam com o dinheiro em espécie limpo, ou entregavam para que outros clientes quitassem os boletos e ficassem com crédito junto aos colaboradores, conforme informado por CLAUDIO:

“(…) Que na operação de geração de reais com boletos era necessário uma conta cor-rente, seja uma conta que o próprio colaborador administrasse, ou um cliente que pu-desse pagar boletos; Que o colaborador possuía algumas formas de obter boletos; Que uma delas era por meio de transportadoras de valores; Que a TRANS-EXPERT pos-suía muitos boletos que transportava para clientes comerciantes; Que a TRANS-EXPERT fornecia ao colaborador os boletos e o dinheiro em espécie para quitação, mediante pagamento de comissão; Que a comissão já foi 0,5% a 1,5% no máximo; Que o colaborador ficava com os recursos em espécie e depois quitava os boletos; Que o colaborador possuía algumas empresas de fachada para abrir contas bancárias; Que para abrir as empresas e as contas bancárias o colaborador utilizava JULIO CE-SAR DE ANDRADE; Que nessas contas o colaborador depositava cheques e quitava os boletos; Que em outras oportunidades o colaborador encaminhava os boletos para outros clientes quitarem; Que essa quitação gerava créditos do cliente com o colabora-dor; Que o depósito de cheques em contas bancárias de empresas de fachada era muito arriscado; Que o pagamento de boletos para geração de reais não gerava suspei-tas nos órgãos de controle nem nos bancos; Que o colaborador auferia com essa ope-ração aproximadamente 2%; Que o contato do colaborador na TRANS-EXPERT era a pessoa de ALGODÃO; Que o colaborador reconhece ALGODÃO como sendo CAR-LOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO (CPF nº 763.112.017-04), na foto em anexo; Que o volume diário de operações de 2010 a 2016 era de aproximadamente R$ 1.000.000,00; Que além da TRANS-EXPERT, o colaborador possuía outros fornece-dores de boletos que vai detalhar em anexos específicos; Que além da custódia de va-lores em transportadoras de vava-lores, o colaborador usava salas alugadas; Que a maior parte dos recursos ficava custodiada na transportadora de valores (...)” (CLÁUDIO BARBOZA - Termo de colaboração referente ao Anexo 2 – autos n.º 0502638-47.2018.4.02.5101 – DOC. N.º 01)

(…)

As informações ora reunidas demonstram que o investigado despenhava impor-tante papel na geração, custódia e transporte de recursos em espécie no Brasil, valores estes que, ao que tudo indica, foram utilizados para fins ilícitos. A

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parti-cipação de CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO (ALGODÃO) em ati-vidades suspeitas é corroborada pelos seguintes elementos que justificam a adoção das medidas requeridas nos presentes autos.

Conforme mencionado anteriormente, para controlar todas as transações, os co-laboradores CLAUDIO e VINICIUS fizeram uso de um sistema informatizado próprio, onde estão registradas todas as transações internacionais com dados sobre as contas, bancos, beneficiários, datas e valores. Além desse sistema, cha-mado de BANKDROP, os colaboradores usavam outro sistema informatizado, chamado “ST”, através do qual controlavam toda a movimentação de recursos (em dólares e em reais), em uma espécie de conta corrente.

As declarações dos colaboradores dão conta de que os valores custodiados na TRANS-EXPERT constavam com o codinome “CUSEXPEINS” nos sistemas “BANKDROP” e “ST”:

“(…) Que todas as transações do BANKDROP estão registradas no ST, apesar de não possuir os detalhes das contas internacionais; Que quando no ST consta “compra” sig-nifica que o colaborador comprou dólares, isto é, o cliente transferiu dólares no exte-rior e pagou reais no Brasil; Que quando consta “venda”, a referência é que o colaborador transferiu reais no Brasil para o cliente e este creditou dólares na conta indicada pelo colaborador; Que “Tr-R$” significa “transferência de reais”, como por exemplo geração de reais no Brasil, e “Tr-USD” significa “transferência de dólares”, como por exemplo crédito na conta do doleiro no exterior com fornecimento de notas físicas para o cliente no Brasil; Que a sigla “.n” significa “nota” ou “dinheiro físico”; Que “DH” significa dinheiro em espécie em reais; Que “DIV” significa “despesa” da taxa de administração do colaborador; Que “CUSEXPEINS” significa que o recurso estava custodiado na TRANS-EXPERT; Que as formas de comunicação que o colabo-rador utilizava eram, nessa ordem: telefone, MSN, Skype, PIDGIN, Wickr e Tele-gram; Que o colaborador usava sempre códigos e apelidos para evitar deixar rastros(...)” (CLÁUDIO BARBOZA - Termo de colaboração referente ao Anexo 2 – autos n.º 0502638-47.2018.4.02.5101 – DOC. N.º 01)

Segundo se pode observar dos referidos sistemas informatizados, entre 03/01/2011 e 05/07/2016 foram realizadas na conta CUSEXPEINS impressio-nantes 5.298 transações entre os diversos doleiros clientes dos colaboradores, apenas em relação a valores custodiados na TRANS-EXPERT , onde, ressalte-se, o único contato dos colaboradores era CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO (ALGODÃO).

É possível verificar, ainda, dos extratos do Sistema ST de cada um dos clientes dos colaboradores, inúmeras referências à CUSEXPEINS, como, por exemplo, da conta PANTANAL, que, segundo os colaboradores, era a identificação de uma das contas de ALVARO NOVIS95:

(…)

No exemplo acima, verifica-se a intensa transferência de reais da conta PAN-TANAL, uma das contas de ALVARO NOVIS96, para a TRANS-EXPERT, onde ALGODÃO acautelaria os valores. Como se vê, apenas nesta conta PAN-TANAL as transferências alcançam a cifra de mais de 255 milhões de reais, a maior parte movimentada para a TRANS-EXPERT, através de ALGODÃO.

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Essa sistemática de recebimento de valores por ALVARO NOVIS através da TRANS-EXPERT é mencionada pelo colaborador CLAUDIO nos seguintes termos:

“(…) Que, em 2008, LUIZ EDUARDO chamou o colaborador a São Paulo para reu-nião no Hotel Sheraton; Que na citada reureu-nião estava presente o doleiro ALVARO NOVIS; Que LUIZ EDUARDO comunicou ao colaborador que a liquidação de reais no Brasil não seria mais feita pelo colaborador; Que o colaborador continuou respon-sável pela geração de reais no Brasil, por meio das operações dólar cabo, sendo que a logística da entrega dos reais passou a ficar a cargo de ALVARO NOVIS; Que AL-VARO NOVIS, na oportunidade, afirmou que preferia receber os recursos em espécie diretamente na empresa transportadora de valores TRANSEXPERT; Que o colabora-dor já trabalhava com a TRANSEXPERT; Que o colaboracolabora-dor tinha contato com AL-GODÃO, tesoureiro da TRANSEXPERT; Que ALGODÃO se chama CARLOS ALBERTO e já foi identificado em anexo próprio; Que NOVIS possuía conta-cor-rente na TRANSEXPERT de nome PANTANAL; Que bastava ao colaborador entre-gar dinheiro na transportadora e indicar que deviam ser creditados na conta PANTANAL; Que a partir daí as entregas aos destinatários finais ficavam a cargo de NOVIS; Que a conta-corrente do colaborador se chamava INSIDE; Que essa siste-mática ocorria no Rio de Janeiro; Que, posteriormente, a mesma sistesiste-mática foi ado-tada em São Paulo; Que em São Paulo a transportadora de valores utilizada se chamava TRANSNACIONAL e era considerada uma correspondente da TRANSEX-PERT(...)” (CLÁUDIO BARBOZA - Termo de colaboração referente ao Anexo 46) – DOC. N.º 70.

Somando-se ao que já foi apresentado, convém registrar que o dono de fato da TRANS-EXPERT, o policial civil DAVID AUGUSTO DA CAMARA SAM-PAIO já foi denunciado nos autos da Operação Ponto Final por lavagem de di-nheiro e pertinência à organização criminosa, e, quando conduzido coercitivamente na deflagração da fase mais ostensiva da Operação Calicute, admitiu a sua relação com a corretora HOYA, de ALVARO NOVIS mas não conseguiu afastar os indícios da sua ingerência de fato sobre a TRANS-EXPERT.

Já naquele momento restava clara que a espúria intermediação das empresas de transporte de valores como a TRANS-EXPERT, que, por suas características, lidam com grandes quantias em espécie pertencentes a terceiros, tinha a finali-dade de ocultar a origem, localização, disposição e a propriefinali-dade de valores provenientes de crimes contra a ordem tributária e de corrupção.

Trata-se, em verdade, de uma modalidade mais complexa e refinada de uma técnica clássica da lavagem de dinheiro, a “mescla” (commingling). Como en-sina MARCELO MENDRONI: “(...) qualquer forma que o agente utilize, não necessariamente através de uma empresa, que embora seja a mais comum não é a única, misturando recursos obtidos licitamente com outros obtidos ilicita-mente, pela prática de algum ilícito penal, nos termos da lei, configura a prática de crime de lavagem de dinheiro na medida em que ele 'dissimula' a origem da-queles ganhos ilegais” (Crimes de Lavagem de Dinheiro. 6ª Edição. p. 194). No caso, a mescla de recursos lícitos e ilícitos se deu com dinheiro em espécie – e, portanto, à margem do sistema bancário – e através de empresas que não detém a propriedade dos recursos, mas responsáveis pela guarda e transporte de numerários de terceiros. A especificidade da mescla no caso em tela não

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desca-racteriza o crime de lavagem; ao contrário, as peculiaridades revelam maior empenho da organização criminosa em proteger os recursos ilícitos do alcance da Administração da Justiça.

Os elementos de prova ora reunidos evidenciam, portanto, que CARLOS AL-BERTO BRAGA DE CASTRO operou instituição financeira não autorizada e participou ativamente de sofisticado esquema de ocultação, movimentação e dissimulação da origem, natureza, disposição e propriedade de recursos coman-dado pelos doleiros “JUCA” e “TONY” – condutas que configuram os delitos do artigo 16 da Lei 7.492/86 e artigo 1º, §4º, da Lei 9.613/98, além do pertenci-mento à organização criminosa, objeto de imputação em tópico próprio.

Todos os elementos citados se mostram suficientes a demonstrar a materiali-dade e autoria da atuação criminosa de CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO na prática de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, Lavagem de Dinheiro e Organização Criminosa. As informações reunidas apontam que o denunciado desempenhava importante papel na organização criminosa, em es-pecial em sua atuação na parceria com os colaboradores JUCA e TONY, auxili-ando-os a implementar as transações de lavagem de capitais e geração de reais em benefício dos membros da ORCRIM, movimentando vultuosos valores de origem ilícita.

De fato, CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO, transcendendo total-mente a autorização para custódia que qualquer empresa transportadora de va-lores possui, passou a operar francamente instituição financeira, inclusive com a manutenção de contas em nome de empresas e de pessoas físicas, fazendo in-tensas operações de compensação entre elas e até mesmo aplicando espécie de remuneração mensal no saldo custodiado.

Conforme apontado, CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO movimentou habitualmente milhões de reais em operações financeiras espúrias, com recur-sos provenientes de infrações penais de diversas naturezas, possuindo uma gama rede de clientes e parceiros para viabilizar a execução de tais transações. Os sistemas informatizados dos colaboradores CLAUDIO e VINICIUS de-monstram que grande parte de todo o dinheiro movimentado pelas inúmeras contas operadas pelos doleiros tinha a TRANS-EXPERT como intermediária, sendo a empresa utilizada como verdadeira “instituição financeira” da organi-zação criminosa, e tendo em ALGODÃO o seu ponto de referência para essas atividades.

(…)

Não há dúvidas de que o denunciado CARLOS ALBERTO BRAGA DE CAS-TRO é o mencionado ALGODÃO, ou seja, é ele efetivamente o contato dos membros da organização criminosa com a TRANS-EXPERT. Da RAIS da TRANSEXPERT é possível constatar que o denunciado efetivamente trabalhou na transportadora:

(…)

Em termo de colaboração complementar, o colaborador CLAUDIO BARBOZA reconheceu (...) CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO como

(23)

ALGO-DÃO, funcionário da TRANS-EXPERT com quem o colaborador mantinha contato.

Por todo o exposto, não há dúvidas de que 03/01/2011 e 05/07/2016 CARLOS ALBERTO BRAGA DE CASTRO, de modo consciente e voluntário, fez ope-rar instituição financeira informal, sem a devida autorização do Banco Central do Brasil, bem como ocultou, movimentou e dissimulou a origem, a natureza, a disposição, e a propriedade de valores provenientes de infração penal, estando assim incurso no crime de operação de instituição financeira não autorizada, ti-pificado no art. 16 da Lei 7.492/86 e no crime de lavagem de dinheiro, previsto no artigo 1º, §4º, da Lei 9.613/98, por 5.298 vezes, na forma do artigo 71 do Código Penal.”

Como se vê, as provas reunidas na denúncia decorrente da “Operação Câmbio, Desligo” demonstram que o paciente CARLOS ALBERTO DE BRAGA CASTRO desempenhava papel de crucial importância na movimentação, custódia e lavagem de valores ilícitos pela organização criminosa, tendo movimentado milhões de reais ao longo de anos, concentrando e viabilizando as operações de grandes clientes.

Segundo o que foi extraído dos sistemas informatizados ST e Bankdrop, apresentados pelos colaboradores como provas de corroboração de suas declarações, há inúmeros registros de transações viabilizadas por CARLOS ALBERTO DE BRAGA CASTRO, as quais foram incluídas nos sistemas até, pelo menos, julho de 2016.

Na decisão em que analisou pedido de reconsideração ajuizado pela defesa, o Ministro Rogério Schietti ponderou com precisão:

A prisão preventiva do paciente, a um primeiro olhar, parece estar justificada para ga-rantir a ordem pública, porquanto sua periculosidade foi evidenciada pelo Juiz com lastro em elementos concretos dos autos, relacionados à gravidade dos crimes sob apuração (magnitude, sofisticação, habitualidade, profissionalismo, densidade lesiva). O Magistrado avaliou as condições pessoais do paciente para decretar a custódia. Ele é retratado como importante personagem do esquema criminoso, pois era o "gerente de tesouraria" da transportadora Trans-Expert Vigilância e Transporte de Valares S/A", "instituição financeira clandestina", "participante do esquema de lavagem de ativos por meio do recolhimento, custódia e distribuição de valores".

O réu é apontado como "pessoa de contato dos colaboradores CLAUDIO e VINICIUS junto à TRANS-EXPERT" (fl. 482). O Juiz assinalou que: "Pelos extratos dos citados sistemas, entre janeiro de 2011 e julho de 2016 foram realizadas na conta da Trans-Expert o total de 6471 transações" e que o paciente também é "sócio-administrador da casa lotérica AMIGOS DA SORTE LTDA-ME, sendo estabelecimento de fácil cir-culação de espécie" (fl. 484).

Consta do acórdão que as "transações em reais, possivelmente sob contexto de lava-gem de dinheiro, superam R$ 972.680.859,28, tudo supostamente no período de 2011 a 2016" (fl. 1.531)

(24)

Ademais, de acordo com o Magistrado, o paciente não operava somente para os cola-boradores, mas também para outros doleiros, "dentre os quais ALVARO NOVIS, que operava para a ODEBRECHT e a FETRANSPOR, e era o responsável pelo paga-mento de quantias à organização criminosa chefiada pelo ex-governador Sérgio Ca-bral, por meio de remessas de valores aos irmãos CHEBAR [...]. Ou seja, uma rede intrincada de agentes com tarefas definidas" (fl. 494).

Não se pode olvidar que o paciente é suspeito de praticar alguns crimes de natureza permanente (pertencimento a organização criminosa e lavagem de dinheiro, na modalidade ocultar) o que, em análise precária, sinaliza a contemporaneidade da prisão pre -ventiva, como forma de fazer cessar as atividades do bando e de recuperar os ativos de proveniência ilícita. A prática de milhares de transações à margem da lei, ao longo de anos seguidos, por meios dissimulados e sofisticados, evidencia que a custódia é a única medida adequada e suficiente para evitar a reiteração de atos da mesma tipolo-gia.

Finalmente, é mister ressaltar que, consoante o acórdão combatido, o paciente ostenta a "condição de foragido, que perdura desde 2/4/2018" (fl. 1.532)

Assim, em análise incipiente, não reputo possível revogar/substituir a prisão preven-tiva do paciente. A controvérsia é complexa e a defesa traz questões de alta

indaga-ção que devem ser analisadas com cuidado pelo órgão colegiado, por ocasião do

julgamento de mérito da impetração.

À vista do exposto, indefiro o pedido de reconsideração.”

Há, portanto, nos autos principais, provas robustas de que CARLOS ALBERTO DE

BRAGA CASTRO, em conjunto com os demais investigados, praticou os crimes de operação ilegal de instituição financeira, lavagem de dinheiro e pertinência a organização criminosa, tendo integrado a organização criminosa da qual Dario Messer, Claudio Barboza e

Vinicius Claret participavam, e contribuído de forma decisiva para o cometimento de

crimes em favor da organização criminosa liderada pelo ex-Governador Sérgio Cabral. Esses elementos elementos de prova suprem o requisito da justa causa para a implementação da constrição cautelar. Cabendo salientar que todas as afirmações feitas acima foram tiradas da denúncia ofertada no âmbito da “Operação Câmbio Desligo”, o que reforça de maneira contundente a presença do fumus comissi delicti na espécie.

II.2.b. Pressupostos (requisitos fáticos) previstos no artigo 312, caput, do CPP (garantia da ordem pública, ordem econômica, aplicação da lei penal ou instrução criminal ou do seu parágrafo único) e periculum libertatis.

O artigo 312 exige, ainda, como pressuposto da decretação da prisão preventiva, a existência do periculum libertatis, representado pela comprovação do risco efetivo que o agente causa à ordem pública, à ordem econômica, à instrução criminal ou à aplicação da lei penal.

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