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O CRESCIMENTO DO HEZBOLLAH NO PROCESSO

DE TOMADA DE DECISÃO LIBANÊS NO PERÍODO

ENTRE 1992 A JUNHO DE 2009

Autor: Bernard Daccache

Orientador: Prof. MSc. Alexandre Martchenko

Relações

Internacionais

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

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BERNARD DACCACHE

O CRESCIMENTO DO HEZBOLLAH NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO LIBANÊS NO PERÍODO ENTRE 1992 A JUNHO DE 2009

Monografia apresentada ao Curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. MSc. Alexandre Martchenko.

Brasília 2009

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TERMO DE APROVAÇÃO

Monografia de autoria de Bernard Daccache, intitulada “O crescimento do Hezbollah no processo de tomada de decisão libanês no período entre 1992 à junho de 2009”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília, em 11 de novembro de 2009, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

______________________________________________________________ Prof. MSc. Alexandre Martchenko

______________________________________________________________ Prof. MSc. Juliano Cortinhas

______________________________________________________________ Prof. MSc. Fábio Duval

Brasília 2009

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Dedico esta monografia à memória do meu querido amigo e conselheiro de vida, Fernando Salum.

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AGRADECIMENTO

Agradeço aos meus pais pelo apoio em qualquer escolha da minha vida e pelo investimento feito na minha vida acadêmica. Agradeço ao meu pai, Nazih Maroun Daccache, pelo conhecimento transferido para que este trabalho fosse feito da maneira mais real possível. Agradeço a Professora Tereza Cristina que durante toda a minha vida acadêmica foi um ponto de apoio e de ensinamento constante. Agradeço ao Professor Romero que acompanhou minha vida na Universidade e me auxiliou com indicações para a realização desta monografia. Agradeço ao Professor Alexandre Martchenko, que se dispôs a me auxiliar da forma como eu precisava. Enfim, agradeço a todos os meus amigos que de forma alegre me deram forças para fazer dos meus objetivos, realidade.

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“Nunca se esqueças de mim (Líbano). Eu sou o seu passado.”

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RESUMO

DACCACHE, Bernard. O crescimento do Hezbollah no processo de tomada de decisão libanês no período entre 1992 à junho de 2009. X páginas. Monografia de Relações Internacionais – Universidade Católica de Brasília.

Este trabalho se propõe a analisar o desenvolvimento do Grupo Fundamentalista Islâmico Xiita dentro do cenário libanês, e concomitantemente o crescimento da influência do Hezbollah, como um grupo não governamental com ligações externas, no processo de tomada de decisão do país.

O estudo é realizado a partir da análise das ações sociais, militares e políticas que o Grupo desenvolve desde a fundação do Partido Hezbollah e das primeiras eleições libanesas, levando em consideração o fator histórico que determina a ideologia empregada.

Para exemplificar os fatos para uma melhor percepção da influência do Hezbollah no processo de decisão tem-se como referencial a Guerra dos 33 Dias de 2006, ocorrido entre o Hezbollah e o Estado de Israel na região sul do Líbano.

Palavras-Chaves: Líbano. Hezbollah. Guerra dos 33 Dias. Processo de Tomada de Decisão.

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ABSTRACT

DACCACHE, Bernard. O crescimento do Hezbollah no processo de tomada de decisão libanês no período entre 1992 à junho de 2009. X páginas. Monografia de Relações Internacionais – Universidade Católica de Brasília.

This study aims to analyze the development of the Shiite Islamic Fundamentalist Group inside lebanese scenery, and concomintantment the Hezbollah influence’s growth, while a non-governmental group with external contacts, in the decision-maker process of the Country.

The study is conducted on the basis of analyzes of the social, militar and political actions developed by the Group since your Hezbollah’s Party foundation and the first lebanese elections, with the historical factors that established the ideology propagated.

To exemplify the facts for a better perception of the influence of Hezbollah in the decision process its used like a referential the 2006 - 33 Days War, between Hezbollah and Israeli State in the Lebanon’s south.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

ILUSTRAÇÃO TÍTULO PÁGINA

Gráfico 1 Fator Islamismo: Hezbollah 17 Figura 1 Fotografia de Musa al-Sadr 19

Mapa 1

Disposição das ocupações durante a Guerra Civil

Libanesa

21

Mapa 2 Principal área de influência do Hezbollah no Líbano

29

Figura 2 Foto dos líderes da história

do Hezbollah 38

Mapa 3

Mapa dos locais bombardeados no Líbano

durante a Guerra dos 33 Dias

46

Mapa 4 Localização da UNIFIL no Líbano

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LISTA DE TABELAS

TABELA TÍTULO PÁGINA

Tabela 1

Tabela das categorias dos atores políticos no sistema

global

27

Tabela 2 Principais líderes políticos do cenário libanês atual

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SIGLÁRIO

Amal Grupo Islâmico Xiita Libanês, de cunho militar, que precede o Hezbollah. EAU Emirados Árabes Unidos

EUA Estados Unidos da América FDI Força de Defesa Israelense

Hamas Movimento de Resistência Islâmica, em árabe. Hezbollah Partido de Deus, em árabe.

IDH Índice de Desenvolvimento Humano Moçad Serviço Secreto Israelense

OLP Organização para Libertação da Palestina ONG Organização Não-Governamental ONU Organização das Nações Unidas

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PCL Partido Comunista Libanês

UE União Européia

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SUMÁRIO RESUMO ... vii  ABSTRACT ... viii  LISTA DE ILUSTRAÇÕES ... ix  LISTA DE TABELAS ... x  SIGLÁRIO ... xi  SUMÁRIO ... xii  1) INTRODUÇÃO ... 1  1.1) Problema e sua importância ... 1  1.2) HIPÓTESE ... 4  1.3) OBJETIVOS ... 4  1.3.1) Objetivo Geral ... 4  1.3.2) Objetivos específicos ... 4  1.4) METODOLOGIA ... 5  2) REFERENCIAL TEÓRICO... 6  2.1) Revisão bibliográfica ... 6  2.1.1) Gilbert Achcar ... 6  2.1.2) James D. Kiras e Renatho Costa ... 8  2.2) Marco Teórico ... 11  2.2.1) Rafael D. Villa ... 11  2.2.2) Robert O. Keohane e Joseph S. Nye ... 13  3) O HEZBOLLAH ... 15  3.1) O Líbano independente e as religiões ... 15  3.2) Os precedentes do Hezbollah ... 18  3.3) O contexto mundial ... 22  3.4) O fim da Guerra Civil libanesa ... 24  4) O HEZBOLLAH POLÍTICO – SOCIAL ... 26  4.1) A organização ... 26  4.1.1) Análise Estrutural ... 26  4.1.2) A geopolítica cultural libanesa e o Hezbollah. ... 28  4.2) Política ... 30 

(13)

4.3) Social ... 32  4.4) Islamismo globalizado ... 35  4.5) Os líderes e sua importância ... 37  5) O HEZBOLLAH MILITAR E A GUERRA DOS 33 DIAS ... 41  5.1.) O Braço Armado ... 41  5.2) Os Precedentes da Guerra dos 33 Dias ... 43  5.3) A Guerra dos 33 Dias ... 44  5.3.1) Panorama Interno ... 44  5.3.2) Panorama Externo ... 47  5.4) A posição do Estado Libanês ... 49  5.5) O fim do Conflito e a ONU ... 50  6) CONCLUSÃO ... 54  7) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 56  7.1) Obras Impressas ... 56  7.2)  Artigos e Notícias em meio eletrônico ... 56  7.3.) Entrevistas ... 58  ANEXO – Resolução 1701/2006 do Conselho de Segurança da ONU ... 59 

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1) INTRODUÇÃO

1.1) Problema e sua importância

Auxiliados pela facilidade de troca de informação no mundo globalizado, o que se assiste hoje em várias regiões ao redor do mundo, é a tentativa de imposição de ideais por grupos de origens e razões diversas. É comum classificar estes grupos pelos modos empregados ou pela origem. Alguns grupos exercem funções inerentes ao Estado e outros tomam atitudes que vão contra os governos. O Hezbollah1, ou Partido de Deus, se traduzido do árabe, é um destes grupos que defendem e praticam suas posições e ideais independentemente se vão contra Estados ou contra civis.

Fundado no fim da década de 70 e início da de 80, sob a influência da Revolução Islâmica Iraniana de 1979 e pela Invasão Israelense no sul do Líbano, região que vai da cidade de Damour até a fronteira com o país, em 1982 (ACHCAR, 2007), o grupo hoje é classificado de diversas formas por especialistas: político, terrorista ou apenas uma organização. Contudo, inicialmente o grupo foi criado com apoio explícito do Irã, que pretendia com isso combater os ideais ocidentais vindos para o Oriente Médio por meio do apoio dos Estados Unidos da América ao Estado de Israel(ACHCAR, 2007). Assim, o Irã cedeu parte do seu exército para a formação do grupo, para realizar ofensivas contra Israel, que se colocava no sul do território libanês. Estas ações eram justificadas como defesa da soberania libanesa, mas era nítida a oposição ao apoio norte-americano a Israel e às atitudes deste perante a comunidade árabe.

Desde então, o Hezbollah tem evoluído em termos de organização e atuações, porém sempre mantendo os mesmos ideais, como observado nos atuais discursos2 do líder, o sheik Hassan Nasrallah. Ao assumir o comando do grupo em 1992, começou a utilizar outros meios que não o uso da violência, como explosão de carros e outros atentados, para apresentar suas posições, como por exemplo a

1

Hezbollah tem variações na escrita devido a sua fonética em árabe. Transliterações: Hizbullah, Hisbollah, Hezbullah, Hizbu’llah, Hezballah, Hizb Allah.

2

NASRALLAH, Hassan. Hezbollah speech: 9-4-2008. Disponível em:

<http://www.mefeedia.com/entry/sayed-hassan-nasrallah-p1full-speech-on-9-4-2008/15604890>. Acesso em 13 mai. 2009.

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criação do partido político Hezbollah. O Sheik construiu com isso, ao decorrer de seu mandato, uma imagem de um dos principais líderes de Estado apoiado pela população por defender sempre a soberania do Líbano em seus discursos carregados de sentimentalismo e nacionalismo.

A principal diferença desde a sua criação é a nova divisão observada dentro do grupo e que influencia diretamente sua relação com o governo e com a sociedade libanesa. Anteriormente, na época de sua fundação, o braço militar era a principal e única divisão do grupo. Em meados de 1984, após o conflito com Israel, percebeu-se então a necessidade de propagar as visões do Hezbollah de modo não relacionado às atitudes de cunho belicoso. Assim, o grupo começou a realizar ações sociais dentro do Líbano, primordialmente em regiões de maioria xiita como o sul e o Vale do Bekaa, por iniciativa dos seus líderes. Com a evolução natural destes projetos em território libanês é que esta divisão entre militar, social e político ficou clara. Logo, estas ações começaram a mudar a visão que vários libaneses tinham sobre o Hezbollah, de um grupo com intenções apenas violentas, e deram apoio para torná-lo uma força política em 1992, com a razão democrática clássica: representar aqueles que acreditam nos ideais do partido que se resumem em defender o Líbano e a seus nacionais, seguindo as orientações do Islã.

Militarmente falando, o Hezbollah é caracterizado no cenário mundial e perante a comunidade internacional, como um grupo terrorista (PERRY, 2006; ALASTAIR, 2006). Parte dessa imagem é baseada nas ações hostis do Grupo, que são facilmente veiculadas via meios de comunicação, principalmente nas nações mais desenvolvidas como os Estados Unidos da América. Na opinião de James D. Kiras, apesar da dificuldade na conceituação do termo terrorismo, sua característica principal partilhada de todos aqueles considerados terroristas seria justamente essa: o uso da violência como forma de coerção. Contudo, é importante observar que parte destes ataques cometidos pelo Partido de Deus são justificados pelo grupo como defesa do território libanês ou em contraposição a atitudes de opositores, como Israel.

Em uma análise sobre as ações sociais do Hezbollah dentro do país, encontra-se a manutenção de escolas, hospitais e centros de apoio à pratica agrícola (HAMOD, 2005). Estas ações recebem auxílio de estrangeiros, em boa parte franceses e nacionais de países da região, que ajudam na manutenção destas

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instituições chegando ao Líbano para trabalharem como professores ou médicos. Quanto à política, braço ativo do grupo desde 1992, é importante destacar a representatividade do grupo dentro do governo libanês, que elegeu 14 deputados de 128 nas últimas eleições, de 2005 (NADA, 2007). Além disso, sabendo da importância e da influência exercida sobre a população libanesa, o governo do país decidiu, em agosto de 2008, ceder ao Partido de Deus e seus aliados poder de veto com onze dos trinta gabinetes parlamentares gerais. A partir deste poder político adquirido, o Partido começou a colocar suas idéias em prática, posicionando-se de forma oficial em casos de decisões políticas sobre o Líbano.

As duas últimas áreas citadas, a social e a política, é que fazem do Hezbollah um grupo voltado para a defesa da sociedade de forma condizente com os valores morais, e que por tal fato, podem ser caracterizados como lícitos, ao contrário das atitudes violentas. Contudo, mesmo o braço armado do partido conta com certa aprovação por parte dos líderes libaneses. Isto ocorre pelo fato de acharem que as atitudes do Grupo auxiliam o Estado libanês a se defender e evoluir. Fica assim o Grupo sendo, como diria Gilbert Achcar (2007, p. 42), “um sub-estado dentro do Estado libanês”, agindo em prol do mesmo.

Percebe-se então, tomado como referência a criação do partido político comandado pelo Hezbollah em 1992, um crescimento da força do Grupo dentro do cenário libanês em todas as áreas que estão presentes: política, social e militar. Por serem funções inerentes ao Estado e contarem com respaldo da população, confirmado pela obtenção cada vez maior de apoio político em um Estado democrático como o Líbano, o Hezbollah aumenta gradativamente a sua porcentagem nas ações competentes ao Estado.

(17)

1.2) HIPÓTESE

O crescimento do Hezbollah no processo de tomada de decisão libanês, por meio de suas ações político-sociais o torna capaz de influenciar fortemente o cenário decisório do país.

1.3) OBJETIVOS

1.3.1) Objetivo Geral

Examinar porque o Hezbollah passou a ter papel relevante no processo de tomada de decisão do Líbano no período de 1992 a Junho de 2009.

1.3.2) Objetivos específicos

1. Analisar os antecedentes históricos e o surgimento do Hezbollah como braço armado no Líbano;

2. Estudar as ações político-sociais empreendidas pelo Hezbollah dentro do Líbano.

3. Examinar as ações militares do Hezbollah na guerra dos 33 dias contra Israel em 2006;

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1.4) METODOLOGIA

Este estudo foi desenvolvido por meio de diversas fontes que tratem sobre o tema proposto. A pesquisa será baseada em fontes secundárias como livros, artigos e publicações que tratem do Hezbollah no âmbito sugerido pelos objetivos deste.

A tentativa de utilização de fontes primárias foi realizada já que uma escassez de dados e números a respeito do tema. Isso é agravado pelo caráter da Organização em questão e pela distância geográfica do objeto em estudo.

Estudos sobre a organização do Hezbollah e grupos que se assemelhem com o mesmo, serão utilizados com o intuito de aprofundar acerca do método de constituição e prática de ideais. Estas fontes serão basicamente vindas da internet, bem como artigos de pequena extensão publicados em revistas ou jornais.

Sobre a história do Grupo, sua evolução e desenvolvimento perante guerras serão utilizados livros e artigos publicados por especialistas da área. Serão consultados também, discursos e documentos que exprimam posição tomada pelo Partido de Deus.

A atuação dentro Líbano, conjunturalmente analisada, será explanada a partir do conteúdo de artigos e dados encontrados em sítios da internet de organizações e instituições, e artigos que tenham por objetivo relatar as atividades empreendidas pelo Hezbollah no País dos Cedros.

Para se alcançar um melhor entendimento e desenvolvimento em relação ao tema, serão realizadas entrevistas e discussões com civis libaneses e antigos combatentes da Guerra Civil Libanesa, época em que o Hezbollah se consolidava no país.

Também será investigada sua importância estrutural dentro do Estado Libanês, com base em publicações especializadas no assunto.

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2) REFERENCIAL TEÓRICO

2.1) Revisão bibliográfica

Na parte dirigida à revisão bibliográfica, serão expostas idéias de autores que realizaram estudos sobre o tema e que, de fato, contribuirão de alguma forma para a construção do trabalho. Todos eles tratam do Hezbollah de maneira semelhante, com o objetivo de entender melhor o desenvolvimento e a atuação do grupo.

2.1.1) Gilbert Achcar

Achcar e Warschawski começam a sua obra afirmando que o Líbano é um Estado independente3. Relaciona tal afirmação com o processo de independência do país do Oriente Médio em relação a França, sua antiga colonizadora. Contudo, o fator que realmente deseja ser mostrado pelo autor é a precariedade do sistema libanês de governança, cuja origem advém desde a época da ocupação francesa. Isso ocorreu segundo ele, por diversos fatores. Alguns citados seriam: a discordância entre católicos e muçulmanos quanto a formação do governo, os embates com a Síria e outros vizinhos, e até mesmo a continuidade da influência francesa na ex-colônia (ACHCAR, 2007).

Analisando os fatos no decorrer do tempo, o autor mostra em sua primeira parte do livro a influência de fatos passados em ações concretas. O mais relevante deles é a parte intitulada Washington and Paris Versus Tehran and Damascus (ACHCAR, 2007, p.17). Como o próprio nome diz, a aliança ocidental confronta a árabe dentro do cenário libanês desde a Segunda Guerra Iraquiana. Tempos após esta guerra, a aliança entre Síria e Irã tomou forma no Líbano como o Partido de Deus, ou em árabe e mais conhecido: Hezbollah.

Adentrando o segundo capítulo do livro, que é a base para este trabalho em termos históricos, o autor discorre sobre o Grupo desde a sua fundação até o começo do conflito contra Israel, em 12 de Julho de 2006. A origem do grupo, segundo Achcar (2006), vem antes dos fatores políticos que o influenciaram. No fim da década de 60, com o êxodo rural da capital Beirute e com uma economia pobre, formou-se uma classe menos favorecida xiita que foi atingida por idéias de

3

A independência do Líbano foi proclamada em 1943, contudo somente em 1946 as tropas colonizadoras francesas realmente deixaram o país.

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esquerda. Logo, começaram a formar grupos de xiitas como o Partido Comunista Libanês e o Amal4, considerados, respectivamente, os antecessores político e militar do Hezbollah.

O fortalecimento dos ideais pregados pelo PCL e pelo Amal coincidiram com a Revolução Iraniana que deu um impulso no fundamentalismo islâmico contra o ocidente. Por esta razão, o Irã resolveu dar apoio maciço, de modo financeiro e com militares da Guarda Revolucionária Iraniana que se encontravam mais próximos do Líbano, para a criação do Hezbollah (SHATZ, 2009), nome concedido ao grupo apenas em 1985. A razão para a criação era a de criar uma força contra Israel, que havia invadido o território libanês ao sul (1982) e contrapor-se aos ideais ocidentais percebidos nas ações israelenses.

Após a explanação histórica, o autor fala sobre a relação do grupo, já não mais considerado obediente e fiel às ordens vindas de Teerã desde o início da década de 90 (ACHCAR, 2007, p. 39), com o atual contexto interno e externo libanês. Socialmente, o autor ressalta a importância de projetos realizados pelo Hezbollah, principalmente na região sul mais afetada pelos ataques israelenses ao decorrer do tempo, onde dá apoio a sociedade com serviços, como por exemplo, escolas e hospitais.

A área política do Partido é de recente criação e pode ser considerada originária da gestão do atual secretário-geral, Hassan Nasrallah, que após analisar a atuação do lado muçulmano do parlamento libanês na assinatura do Acordo de Taif em 19895, considerou a possibilidade de participar do processo de decisão libanês de maneira direta e constitucional. O Partido, que já surgiu como uma das maiores forças políticas do país, mantém tal posição até os dias de hoje baseando-se nas ações sociais e no princípio básico da democracia de representatividade da população.

Sobre o poder bélico do Hezbollah, o autor menciona várias tentativas de desarmamento, como o Acordo de Taif e a Resolução 1701/2006 (ver anexo) do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Contudo, ao mesmo

4

O Movimento Amal foi fundado com o apoio da Síria em 1975 como braço militar do Movimento dos Desertores, ambos de origem Xiita, e teve grande relevância na Guerra Civil Libanesa.

5

Também chamado de Carta Nacional de Reconciliação, o Acordo foi assinado em 22 de outubro de 1989, na cidade saudita de Taif, com o objetivo de dar fim a Guerra Civil Libanesa.

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tempo ele apresenta argumentos sobre a legitimação do uso desse poderio, justificado em grande parte, pela defesa que o grupo exerce no território libanês.

O questionamento de uma possível legitimação das atitudes do Hezbollah não fica apenas sobre o braço militar. Por contar com as principais áreas de responsabilidade de um Estado (militar, social e política) uma das hipóteses do autor é que: “There is indeed a ‘Hezbollah State’, as implied by Charara’s title – or more

accurately, a substate within the lebanese state” (ACHCAR, 2007, p.28).

2.1.2) James D. Kiras e Renatho Costa

Considerado por seis países uma organização terrorista, é necessário entender melhor o que seria terrorismo e os pontos trabalhados paralelamente que podem servir para melhor esclarecer o Hezbollah. Para tanto, utilizar-se-á os estudos de James D. Kiras sobre o assunto e os conhecimentos sobre as atitudes militares do Grupo. A relação que o autor faz do terrorismo com a globalização é útil para os estudos, pela atualidade dos dois fenômenos e pela relação teórica de mundo transnacional globalizado.

Logo na introdução de seu artigo Kiras (2008) fala sobre a evolução que o terrorismo tem dado com os avanços tecnológicos advindos da globalização. Além disso, já cita o terrorismo como um “instrumento de coerção utilizado por uma minoria de indivíduos que promove uma ideologia extremista – que quase sempre falha na tentativa de criar uma mudança política” (KIRAS, 2008, p.372).

Segundo Costa (2009), essa mudança política só é possível graças ao poder da globalização citado por Kiras. Isso ocorre através da informação facilitada do mundo atual, onde os atentados terroristas são repassados pela mídia de forma simples e rápida. Isso causa um efeito na sociedade que então força a política do país a negociar com a organização. No caso do Hezbollah, o principal “inimigo” seria Israel. Contudo, Costa (2009) diz que o grupo tem status múltiplo por lidar com mais de uma nação em termos de relações com outros países.

Outro ponto abordado pelos dois autores e que diz respeito ao Hezbollah, é a da legitimidade de suas ações. Os dois autores, tanto Kiras (2008) como Costa (2009), fazem citação de Martha Crenshaw (1983), uma especialista em terrorismo e legitimidade. Kiras (2008) chama atenção para dois fragmentos do texto de Crenshaw (1983) sobre moralidade das ações e democracia. A questão da

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moralidade é dita como justificativa utilizada pelas organizações, mas que não servem já que, apesar da força poder ser utilizada por estados como ferramenta de julgamento, por serem empregadas por um ideal só, não se tornam dignas de legitimidade. Estas atitudes são exemplificações do extremismo aplicado à democracia e à liberdade (CRENSHAW, 1983, p. 2-4). Por acharem que seus ideais são os corretos, a tentativa de propagá-los é justificada pela liberdade pessoal e pela necessidade de contrabalancear um sistema democrático.

O Professor Renatho Costa (2009) dedica parte de seu artigo para a análise de uma possível legitimidade das ações do Grupo. O Hezbollah procura falhas na conceituação de o que é legítimo ou não. Estas falhas ocorrem porque para haver um parâmetro para o julgamento do que é ou não legítimo, necessita-se de uma uniformidade de cultura e procedimentos, o que não ocorre entre ocidente e Islã. Ter o apoio da classe xiita e alegar defender a soberania do território libanês são argumentos concretos usados pelo Grupo, porém não suficientes para poderem agir respaldados pela maioria da comunidade internacional.

Um exemplo dado sobre o choque destes conceitos aplicados a situação real, é dado por Costa (2009) a partir de uma entrevista dada pelo líder religioso Sheik Mohammed Hussein Fadlallah à revista Time em 1996. Na análise desta entrevista, realizada em seu artigo, o Professor assinala três constatações:

O Hezbollah tenta buscar legitimidade para sua luta contra Israel aproximando-se dos movimentos libertários históricos no que tange à analogia das situações vividas por eles (todos lutarem pela restauração da soberania) e nos métodos utilizados para alcançar os seus objetivos. Dessa forma, o Hezbollah obteria grande simpatia perante a opinião pública internacional.

Em segundo lugar, ao afirmar que Israel não se tornará parte da região abrangida pelo Oriente Médio estaria buscando a legitimidade para sua luta junto aos demais grupos/Estados árabes/islâmicos inimigos de Israel. Com isso chegamos è terceira constatação: de que a busca pela legitimidade ocidental possa ser apenas pragmática e, assim que houver uma convergência de fatores, a proposta fundamentalista prevalecerá.(COSTA, 2009)

É notável a presença no decorrer dos trabalhos, tanto do Professor Renatho Costa (2009) quanto de James D. Kiras (2008), a temática da religião como fonte da ideologia e da justificação dos seus atos pelo Hezbollah. Uma das hipóteses de Kiras é que a religião mede os limites dos grupos terroristas. Estes limites vão desde a capacidade e a proporção das ações, até a constituição de normas e valores baseados na fé (KIRAS, 2008). Pensando na mesma linha, Costa apenas ressalta que o modo como os islâmicos tomam seus textos sagrados diferenciam do

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Ocidente, pois os cristãos dão margem a interpretação do que está escrito, enquanto os muçulmanos têm os textos como lei, sem margem para interpretar. Isso acarreta a unificação dos pensamentos criando razão que pode ser ditadas pelos governantes que geralmente também exercem papel religioso.

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2.2) Marco Teórico

2.2.1) Rafael D. Villa

Pensando no Hezbollah como um grupo que influencia diretamente no cenário libanês, nas relações deste país com outros, e que tem em sua formação alianças indiretas com outros Estados, nota-se a necessidade de analisá-lo dentro do Sistema Internacional. O autor Rafael Villa (2001), em seu artigo para a Revista Cena Internacional, trata de teorias relacionadas a atores não estatais e enquadra os mesmos nos novos parâmetros do Sistema Internacional, ou em outras palavras, no cenário internacional atual.

Logo em suas primeiras afirmações o autor já questiona a natureza de um sistema ainda estatocentrista. Os primeiros pontos observados no cenário atual, que se contrapõem ao considerado antigo sistema de estados como principais atores dos processos de decisão e das relações internacionais, dizem respeito à segurança global, referida desta maneira pela interdependência e transnacionalização dos novos fenômenos, e multidimensional, pela abrangência de outros temas (VILLA, 2001). A citação destes outros temas no âmbito multidimensional faz com que o autor crie maior possibilidades de análise sobre o sistema internacional, não atendo-se apenas a área de atendo-segurança.

É justamente pelo fato de sair do âmbito apenas de segurança que se torna possível um detalhamento do sistema. “Na verdade, a transnacionalização do campo social tem como sua principal conseqüência o conceito de sistema internacional”(VILLA, 2006, p. 11). Adentrando a segunda parte do texto que diz sobre o Sistema Internacional Policêntrico, Villa (2001) utiliza o conceito de sistema global-transnacional bifurcado de Eduardo Viola (1996, p.16 apud VILLA, 2001, p. 12):

Existe uma passagem do sistema internacional para o sistema global-transnacional bifurcado. O sistema internacional era Estado-cêntrico. O sistema global-transnacional bifurcado é simultaneamente Estado-cêntrico (não hegemônico como superpotência militar) e multiEstado-cêntrico (alta diversidade de atores-forças sociais, como corporações transnacionais, organizações não-governamentais, organizações intergovernamentais, comunidades epistêmicas e mídia-formadores de opinião).

Os autores Viola e Villa utilizam de outros autores, Aron (1954) e Keohane (2001), para explanar sobre o sistema internacional atual. Segundo eles, este

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sistema seria formado por vários centros de decisão. Este policentrismo é criado devido à existência de vários atores capazes de influenciar o panorama internacional. É importante ressaltar também que é nítida a presença de outros atores, mas o sistema continua sendo hierárquico e tendo o Estado em lugar de destaque.

Desta forma, tendo vários atores no cenário mundial influenciando nos processos de tomada de decisão, constitui-se uma espécie de condomínio de poder (VILLA, 2001). Neste condomínio os atores, independente de suas áreas de interesse, seja social, militar, econômica ou política, influenciam no panorama internacional por meio dos próprios Estados, redistribuindo o poder, seja para cima ou para baixo. Em certos casos, a redistribuição do poder faz com que aquele em posse do Estado esteja atrelado a outros que detenham um pouco de poder. Existe também a possibilidade do poder estatal diminuir como conseqüência.

Contudo, ainda no Sistema Internacional atual, como já foi afirmado, o Estado continua sendo a peça principal. Isso significa que ainda é responsabilidade e direito do Estado a atribuição de soberania, de definição de normas e regras, políticas, e ações relacionadas à sua obrigação. O que não pode deixar de se considerar é que, como o poder dos processos decisórios foi difundido, alguns atores podem tomar estas funções inerentes ao Estado de forma parcial para si. Apesar de não contar com a mesma legitimidade e força do Estado para realizar tais ações, os atores de baixa política (VILLA, 2001) utilizam do compartilhamento dos mesmos objetivos para auxiliar a sociedade.

Há outro ponto no artigo, apesar de não ter sido tão aprofundado pelo autor que diz que: “quando um conceito é ultrapassado pelos fatos, a sua disfuncionalidade não indica, a priori, uma completa inadequação da teoria” (VILLA, 2001, p.67). Isso explica o porquê de apesar do abandono das teorias que colocam o Estado como único ator das relações internacionais, as nações continuam com papel principal no jogo mundial. Contudo, essa afirmativa de Villa pode ser utilizada em várias outras teorias ou conceituações, já que a mutação de sistemas ou políticas é propícia nos dias de hoje.

Estas idéias auxiliam na percepção de novos atores no panorama internacional e a sua rede. Perceber a possibilidade do Hezbollah como uma organização exercer influencia sobre o cenário libanês e internacional é facilitado

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pelas idéias dos autores aqui citados, pela caracterização que eles fazem do novo sistema internacional.

2.2.2) Robert O. Keohane e Joseph S. Nye

Ao procurar entender como se desenvolvem as relações e influências de grupos não-governamentais e os Estados, a obra de Keohane (2001) e Nye (2001),

Power and the interdependence, é fundamental pelas idéias pluralistas presentes ao

longo de sua análise.

Segundo os autores a interdependência seria uma dependência mútua, com efeitos recíprocos (KEOHANE, 2001; NYE, 2001). Mesmo sendo um conceito simplista, esta teoria ou retórica requer um entendimento de outros pontos. Por exemplo, para se entender o poder e a abrangência da interdependência, é necessário distinguir suas duas dimensões: a sensibilidade e a vulnerabilidade(KEOHANE, 2001; NYE, 2001); sendo a primeira o grau de reações às políticas (sociais, econômicas ou políticas) de outros atores em um Estado, e a segunda as possibilidades de sofrer conseqüências advindas de mudanças dos atores. A vulnerabilidade é mais fácil de ser enxergada e por isso auxilia no entendimento das relações estruturais entre as políticas empregadas.

Tomando as ações e o Hezbollah em si para uma breve aplicação dos conceitos de sensibilidade e de vulnerabilidade, percebe-se que o Grupo é muito mais ativo do que passivo em relação aos fatores externos. Em outras palavras, as ações do Hezbollah geram mais conseqüências no panorama do que sofrem influencia de fatores externos. Na Guerra dos 33 dias contra Israel, por exemplo, as ações praticadas pelo Grupo refletiram na situação política, econômica e social na região e principalmente em Israel e no Líbano (sensibilidade). Também, devido a tal fato, a ONU tomou atitudes para que o evento não tomasse proporções maiores e atingisse a estrutura do governo libanês, que não tinha tomado parte no conflito, mas que está vulnerável as ações do Hezbollah pelo papel que o grupo exerce dentro do país.

A assimetria entre as relações de interdependências observadas pelos autores baseia-se no poder de influência exercida pelos atores. Nem sempre a ação tem a mesma intensidade da reação em termos de ações praticadas por Estados. O

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que também influencia na assimetria da interdependência é que as conseqüências podem ser negativas ou positivas, podendo gerar situações que desequilibram a balança de poder.

Contrapondo-se às teorias realistas, Keohane (2001) e Nye (2001) apresentam sua teoria de Interdependência Complexa sobre as relações internacionais. Esta teoria é baseada em três pontos fundamentais: a) múltiplos canais como meios de comunicação e discussão entre os atores das relações internacionais, b) a falta de hierarquia entre os temas pertinentes às agendas, c) uma diminuição do uso da violência quando há uma interdependência complexa sólida(KEOHANE, 2001; NYE, 2001, p. 20). Este último ponto não significa que não existam conflitos no modelo de interdependência complexa. Estas de fato existem, contudo com conseqüências e motivos diferentes daqueles citados pelas teorias realistas.

Para estes conflitos, a própria interdependência complexa pode ser utilizada para a solução de choques de interesses ou para amenizar um panorama anárquico. Um exemplo é a Organização das Nações Unidas utilizando de seu caráter internacional para mediar problemas existentes em vários níveis no sistema mundial. No caso do Hezbollah, é nítida a influência da ONU e de suas tentativas da melhoria do cenário libanês, por meio das resoluções referentes ao país, e pela missão de paz lá instaurada, a United Nations Interim Force in Lebanon.

Portanto, esta interdependência complexa sugerida pelos autores é a teorização sobre o que acontece no mundo atual. Temos um panorama com vários atores, governamentais ou não, exercendo na maioria dos casos uma influência capaz de mudar políticas e redirecionar ações de outros atores.

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3) O HEZBOLLAH

3.1) O Líbano independente e as religiões

A região onde hoje se encontra o Líbano, antes conhecida como Fenícia, é um resultado das negociações entre a Inglaterra e a França que ocorreram ao final da Primeira Guerra Mundial. Neste período a França e a Inglaterra expulsaram o Império Turco-Otomano da região sem muitos esforços, já que este se encontrava em colapso após anos de conflitos e tomadas de território. Após tal fato, em um acordo realizado na primavera de 1920, na cidade de San Remo, os dois países acertaram a divisão dos territórios árabes que estavam sob o domínio dos turcos (SALIBI, 1993). Com a questão do petróleo na região já em evidência6, as regiões do Líbano e do sul da Síria ficaram como moeda de troca por regiões ricas em petróleo, e, no fim das negociações, a França ficou com o Líbano e a Inglaterra com a Síria.

O processo de independência do Líbano tem como fator inicial a Constituição de 1926, de origem francesa, que tornou o Líbano uma república parlamentarista e traçava diretrizes sobre a divisão político-religiosa do país. Em 1943, começam outras negociações entre os principais líderes do país e a França com o intuito de proclamar a independência. Destas negociações resultaram um acordo no qual foi revista e reestruturada a Constituição de 1926 para que melhor atendesse as necessidades do país àquela época. Apesar de um documento bem estruturado, a presença de secções religiosas não deu a consistência necessária para que apenas um pacto acertado naquele ano, acabasse com a exploração francesa. A divisão do poder governamental sugerida com uma leve maioria cristã não agradou a todos, e por tal razão, acabou esquecida.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo estava dividido entre dois pólos que dominavam o panorama internacional: duas potências, os EUA e a URSS. Nesta época, estas duas potências tentavam expandir seus ideais pelo mundo e ao mesmo tempo demonstravam seu poderio tendo como vitrines, principalmente, os países de terceiro mundo. Por esta razão vários conflitos foram financiados pela rivalidade entre os capitalistas e os comunistas. Na esfera política da Guerra, os dois

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A primeira perfuração de uma refinaria de petróleo na região do Oriente Médio data do ano de 1902, feita na antiga Pérsia, após negociações entre um Sheik da região e uma empresa de origem britânica.

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países construíam alianças estratégicas com outros países e ao mesmo tempo, aumentavam seu domínio ideológico.

Em 1946, conflitos internos com as tropas francesas desencadearam manifestações públicas a favor da independência definitiva do país. Os líderes do país sofriam pressões políticas e por esta razão iniciaram um período de negociação com o país europeu que logo se retirou do país. Em 22 de novembro do mesmo ano, após uma junção de forças de muçulmanos e cristãos, a independência do país foi proclamada. A relação entre religião e política dentro da esfera libanesa de processo de decisão é muito mais próxima e equilibrada do que em outros países do Oriente Médio. Os católicos divididos entre maronitas e ortodxos, e muçulmanos divididos em sunitas e xiitas, é explícita e efetiva no país. Enquanto alguns países como o Irã contam com maioria religiosa, e por isso tem suas diretrizes baseadas em valores comuns, o Líbano que conta com aproximadamente 39% de católicos e 59,7% de muçulmanos7 convive com a necessidade de uma balança entre as duas partes. Os clãs religiosos dizem respeito não só aos seus segmentos políticos, mas também de cultura, costumes e limitações geográficas. Essa divisão é tão forte que gera uma divisão política formalizada, no sentido de que há uma balança entre os principais cargos da esfera política libanesa, como o primeiro-ministro, presidente e presidente do parlamento, sendo cada um deles de uma subdivisão religiosa.

É parte da cultura e da identidade libanesa ter suas divisões e comunidades baseadas nas religiões. Apesar de ser um conjunto de língua comum, etnicidade, história, religião e outros blocos representativos assim como afirma Simon Murden (2008), a cultura no caso libanês remete a uma força calcada no patriotismo mesclado com a unidade religiosa. Por vários anos o Líbano foi palco de guerras e conflitos que acabaram danificando a economia e a estrutura das principais cidades do país dos cedros. Por tal fato a força de reconstrução libanesa é conhecida no Oriente Médio. Esta força é baseada na união entre a população que tem por objetivo melhorar as condições de vida no país. Essa união da população ocorria sem especificação de religião ou partidarismo.

A religião sempre foi um fator tão relevante no cenário libanês que tem um papel determinante na política do país. Desde a época da independência há uma divisão que ocorre da seguinte maneira: o presidente é de origem cristã maronita,

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CIA WORLD FACTBOOK. Disponível em: <

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assim como o chefe do exército, e outros cargos como primeiro ministro e o chefe do parlamento ficariam com os de origem muçulmana sunita e xiita respectivamente.

No panorama mundial, o islamismo sempre chamou atenção por ser um exemplo da experiência da maioria das sociedades não-ocidentais (MURDEN, 2008) que de fato se sustentam em um mundo onde o ideal do lado das Américas ainda prevalece. Além disso, a contraposição a estes ideais geram fatos e conflitos que tem repercussão global. Os atentados e as guerras entre grupos extremistas da religião são objeto de estudo daqueles que estudam a religião como fator cultural ativo.

No caso do Líbano e do Hezbollah, podemos analisar o grupo islâmico adaptando o quadro que Murden (2008) utiliza para esquematizar o caso do movimento islâmico no cenário Afeganistão – Paquistão, já que os parâmetros usados são referentes a religião em geral. No quadro há três esferas de interesses (ver Gráfico 1) que dialogam entre si caracterizando o grupo, ou no caso de Murden (2008), a situação da Al-Qaeda8.

Gráfico 1 – Fator Islamismo: Hezbollah

Fonte: gráfico elaborado pelo autor, com informações de Murden (p.429)

A primeira diz respeito ao islamismo global (os contra-revolucionários); a segunda, os geopolíticos, assumem posição perante o problema da região, agindo

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Grupo islâmico, assim como o Hezbollah, que atua na região do Paquistão e do Afeganistão, onde neste último já chegou a ter controle do Estado, e que atualmente é considerado um dos principais opositores da cultura ocidental e principalmente dos Estados Unidos da América.

ISLAMISMO POLÍTICO (globalistas) GEOPOLÍTICA ISLÂMICA TRADICIONALISTAS

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mais localmente; e por fim os tradicionalistas. No caso estudado pelo autor há um diálogo da primeira esfera com as duas outras, demonstrando um grupo com interesses em tornar-se global. Já no caso do Hezbollah, têm-se a esfera com ênfase regional dialogando com as duas outras.

3.2) Os precedentes do Hezbollah

Já no fim da década de 60, houve no Oriente Médio uma explosão demográfica dos muçulmanos xiitas. É da cultura muçulmana que se tenha mais de dois filhos. Por esse motivo é que o número de islâmicos cresce tão abruptamente no mundo. Naquela época, este crescimento foi mais relevante pelo fato de que os xiitas começavam a se mostrar nos principais centros. No Líbano não foi diferente, e a principal conseqüência foi o surgimento do espírito de união entre os religiosos amparados por ideais comunistas, primeiramente. A maioria dos xiitas era parte do proletariado rural nas vilas do sul libanês. Com o crescimento da população xiita, a economia da região sul não supria mais a necessidade de todos os muçulmanos que lá vivam. Então, observando o crescimento de Beirute, houve um êxodo rural rumo à capital que acabou criando uma classe menos favorecida e radicalizada (ACHCAR, 2007).

Logo, essa classe encontrou uma forma de se colocar perante a sociedade por meio de partidos de esquerda como o PCL. Alguns xiitas com condições melhores em relação a outros começaram a tirar proveito da força adquirida através da união dos xiitas, e ganhavam posições melhores no governo libanês. Outra forma encontrada pelos xiitas para lutar pelo seu posicionamento dentro do Líbano, foi pensada por Musa al-Sadr que fundou junto com Hussein El-Hussein o que viria a ser o Amal em 1975, um braço armado do Movimento dos Desrtores. O Amal foi a primeira forma de resistência islâmica dentro do país, e por isso os pensamentos de Musa al-Sadr eram tão revolucionários e importantes. Por este seu pioneirismo em organizar militarmente um grupo com fins de lutar a favor das idéias dos muçulmanos e do Líbano, Musa al-Sadr sofreu perseguições e acabou desaparecendo sem maiores explicações em uma viagem a Líbia (ACHCAR, 2009, p. 31).

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Figura 1 – Fotografia de Musa al-Sadr Fonte: Agência Reuteurs

Concomitante ao desaparecimento de Musa al-Sadr ocorreu no mesmo ano um movimento de maior importância no que se diz respeito ao surgimento do Hezbollah: a Revolução Islâmica. Em 1978, o Irã vive momentos de tensão onde seu líder, o Xá Mohammad Reza Pahlevi – pró-ocidental e dono de um governo emergido em pobreza e inflação – sofre pressão de um movimento liderado pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini – republicano xiita – que o retira do poder. Instaurada uma república populista teocrática islâmica no lugar da antiga monarquia autocrática. O Aiatolá ganha papel importante no mundo oriental por ter sido o primeiro islâmico a enfrentar forças ocidentais e ganhar, por ter um país poderoso nas mãos, e por mostrar a possibilidade de um país ser baseado em leis islâmicas.

Os ideais da Revolução foram facilmente assimilados no Líbano por se assemelhar com o espírito deixado por Musa al-Sadr em seus simpatizantes. A chegada da onda da Revolução Iraniana veio de encontro a outro fato de extrema importância e que acabaria resultando na criação do Hezbollah: a invasão israelense no território libanês em 1982. As tensões pré-existentes entre libaneses e israelenses vinham desde combates passados embasados em diferenças culturais e políticas. As diferenças culturais advinham do choque de religiões entre os judeus (maioria de Israel) e os muçulmanos, por suas crenças e doutrinas. Além do mais, a Questão Palestina, a mais antiga questão do Oriente Médio, é fator de discussão entre os dois países. Os palestinos expulsos de Israel, boa parte na primeira metade do século XX, migraram para o norte de Israel e encontraram no Líbano, uma situação favorável a sua estadia: o país era economicamente estável, a maioria

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islâmica favorecia a convivência e a relação cultural, e à época da migração a política libanesa era instável.

Ao adentrar o sul do território libanês, região que se estende da fronteira com o país até a região da cidade de Damour, o que para as proporções libanesas, é considerável parte do território, Israel encontrou resistências ligadas a vários grupos (cristãos, do governo, de apoio internacional, etc.). Com os ideais da Guerra Fria ainda pairando sob o cenário internacional e a fim de expandir os valores da Revolução Islâmica, o Irã apoiou a criação de um grupo paralelo ao Amal, de cunho militar, para combater a invasão israelense.

A forma de apoio do Irã, não só na época da criação do Hezbollah bem como no tempo presente, é discutível e incerta. Há um possível envio de pessoal da Guarda Real Iraniana para o treinamento inicial e composição dos primeiros pelotões de combate do Grupo libanês. Contudo, é dado como certo, até pela relação explícita entre o país e o grupo na página oficial do movimento no Líbano, que existe uma ajuda continua, seja financeira, bélica ou intelectual (ACHCAR, 2007).

Influenciados pelos ideais iranianos da época, e contando com apoio ideológico, estratégico e financeiro de Teerã, em 1982 começam atitudes do grupo na Guerra Civil Libanesa e em 1985 o grupo se autodenomina o “Partido de Deus”, ou Hezbollah.

A Guerra Civil Libanesa (1975-1990) foi causada inicialmente pela entrada de palestinos sob a bandeira da Organização para Libertação da Palestina no sul do Líbano, expulsos de Israel, em busca de território para as famílias. Isso desequilibrou a divisão territorial que era anteriormente moldada de acordo com a religião, como se uma cidade ou micro-região fosse de maioria maronita e assim por diante. Contudo, o que agravou a Guerra foram os inúmeros erros políticos em torno da mesma. Para se ter uma idéia, a maioria dos partidos políticos, que naquela época contavam com braços militares, fizeram alianças e traíram seus aliados pelo menos uma vez entre si. Além do mais, as intervenções internacionais, ao invés de acalmar o panorama como pretendiam, geravam mais discussões sobre o assunto e agravavam a situação. Um exemplo claro foi a tentativa do então presidente norte-americano Ronald Reagan, por meio do Acordo de 17 de Maio, de selar a paz entre Israel e Líbano e criar uma zona segura na região, após a invasão israelense e ao

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cerco israelense a capital Beirute. Tal fato, somado as hostilidades islâmicas anti-ocidente, deram maior impulso as insurgências das milícias na Guerra.

Tinha-se então, neste panorama, vários grupos armados separados devido a fidelidade a líderes ou partidos. Do lado muçulmano alguns exemplos são: o braço armado do Partido Progressista Social (druzos), grupos simpatizantes egipcíos, o Amal, o do PCL, o do Partido Sírio libanês, e os palestinos. Os cristãos (com subdivisões irrelevantes durante a guerra) mantinham-se mais unidos e, por tal fato, com menos segmentação como os muçulmanos. O Hezbollah mantinha-se ao sul do Líbano combatendo somente contra as forças israelenses (ver Mapa 1), que queriam adentrar no país para tomar território e acabar com alguns acampamentos palestinos. Por manter-se inicialmente distante do centro da Guerra, na capital Beirute, Teerã articulou com o grupo e com líderes do Partido Sírio e do Amal para que então houvesse uma coexistência entre os três. Tal fato, explica porque até hoje, parte do auxílio dado ao Hezbollah chega via Síria.

Um dos instrumentos utilizados pelos Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas era o financiamento de conflitos em países menos favorecidos. Conhecidas como Proxy wars, ou “Guerras por procuração”, estes conflitos se deram ao decorrer da Guerra Fria em regiões como a África, o Oriente Médio e em partes da Ásia. No caso da Guerra Civil Libanesa, pelo fato de envolver os palestinos e, por consequência, os Estados de Israel e dos EUA, pode ser considerada uma proxy war mesmo que dificilmente percebida. Enquadrar-se-ia se visto o envio de tropas norte-americanas para o Líbano, e lembrar do apoio indireto que a Síria recebia do Irã, e que este por sua vez estava sob a luz dos ideais soviéticos.

Mapa 1 - Disposição das ocupações durante a Guerra Civil Libanesa Fonte: Disponível em <www.wikimedia.org>. Acesso em 22 set. 2009.

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3.3) O contexto mundial

Ainda que cronologicamente dentro do período da Guerra Fria, o surgimento do Hezbollah tem mais características do período do pós-guerra, quando os novos atores não-estatais começavam a surgir. As poucas influências advindas da Guerra Fria que podem ser percebidas no processo de criação do grupo libanês são muito mais ideológicas referentes ao espírito de união de comunidade. Isso é reflexo já da decadência da Guerra Fria, que teoricamente já havia começado a mudança de linha de pensamento a três décadas antes (VILLA, 2001). Fato relacionado à gênese do Hezbollah e que exemplifica a decadência, é que a França, país ocidental, autorizou a volta do Aiatolá Khomeini para o Irã, terceira potência militar da época e influenciada por ideais comunistas. Em sua volta, concebeu-se a Revolução Iraniana e posteriormente, o Hezbollah.

Posteriormente a Guerra Fria, o cenário mundial começa a dar maior relevância aos atores não-estatais que tem peso no processo de tomada de decisão, tanto em ordem internacional quanto nacional. Essa elevação de atores foge do realismo antes empregado com foco nos Estados, e como aponta Villa (2001), surge em paralelo a estes. Esta quebra ocorre principalmente por conta do fim da Guerra Fria, quando se tinha duas potências coordenando o caminho político e com o seu fim, há espaços a serem preenchidos no seara internacional social. O Hezbollah surge como uma organização para defender os interesses da comunidade xiita libanesa e lutar contra a invasão israelense no país. No novo sistema internacional proposto por Villa (2001, p. 71):

coloca um papel de destaque aos fins a serem atingidos: os valores de bem-estar material, social, psíquico e cultural em favor dos cidadãos, o que quer dizer que esses valores não são mais perseguidos somente pelo Estado nacional, como acontecia no passado, mas também por uma estrutura mais complexa que aqui propomos chamar de sistema internacional policêntrico.

Nesse sistema internacional policêntrico, o grupo islâmico xiita libanês é criado pois vê a necessidade de suprir pontos que julgavam não serem atendidos pelo governo do país. Apesar do enfoque na comunidade xiita e nas carências desta, o Hezbollah agia na defesa do território libanês e ajudando a comunidade, ajudavam também boa parte da população libanesa.

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Contudo, há de se lembrar que inicialmente o grupo agia somente no campo militar. Nos tempos da Guerra Civil libanesa, o Hezbollah era, se não a principal, uma das principais forças de combate contra a invasão israelense no sul do país dos cedros. Os conflitos naquela região perduravam meses graças a força empreendida pelo grupo. Tal fato remete ao pensamento realista questionado por Villa (2001) sobre um ator ser suscetível a entrar em uma guerra geral. No sistema internacional proposto por ele, estes atores não são somente os estados, como na visão realista. Contudo, há uma dificuldade em termos de legitimação da utilização desta força por estes novos atores, já que eles não contam com o caráter estatal. Assim foi o Hezbollah em seu início. Agindo como uma força militar dentro de uma guerra, o grupo contava com apoio da comunidade xiita libanesa e ao mesmo tempo agia ideologicamente contra o braço cristão.

Essa mesma dificuldade de legitimação poderia ser característica de todas as outras facções envolvidas na Guerra Civil Libanesa, já que eram porções independentes de pessoas que seguiam líderes ou ideais focados na luta armada. A forma de defender seus ideais por cada grupo era a mesma: a força. Kiras (2008) diz que o terrorismo tem como primeira característica e mais importante o uso da violência (KIRAS, 2008, p. 372). Todavia, a situação de guerra civil remete a falta de ordem geral de um Estado que fosse capaz de gerir os fatos. Assim, durante a Guerra Civil libanesa não há grupos que legitimem o uso de sua força e, ao mesmo tempo, a utilizam como forma de defender o que julgam melhor para o país.

Contudo, já no começo o Hezbollah surgia como um grupo diferente na região do Oriente Médio. O primeiro ponto que o diferencia é que se tornou a principal força de um país, o Líbano, contra um outro Estado, Israel. Segundo, o fato de que recebia auxílio direto do Irã e em pouco tempo depois mantinha contato com a Síria, começando assim a dialogar em âmbito internacional por meio de um grupo militar. Essas relações além das fronteiras acabaram fortalecendo o Hezbollah e propagando de maneira mais rápida seus ideais dentro da comunidade xiita, que em pouco tempo, começou a se simpatizar e unir-se ao grupo. Além do mais, o fato de ser um grupo que relaciona-se explícitamente com outras nações o torna detentor de influência ou ao menos, sensível, segundo a idéia de Keohane e Nye, a fatores ocorridos com tais nações que não o Líbano.

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3.4) O fim da Guerra Civil libanesa

Considera-se o fim da Guerra Civil libanesa o Acordo de Taif. Em tal cidade da Arábia Saudita, em setembro de 1989, reuniram-se quase todos os parlamentares do Líbano a convite dos governantes do país residente, para que entrassem em um acordo sobre a situação libanesa. O único que não compareceu foi Pierre Dequech, que voltou da Arábia Saudita com um cheque em mãos que alegava ter sido entregue por líderes árabes para todos os parlamentares libaneses votarem a favor de um solução. O fato foi abafado e assim mesmo, o Acordo foi aprovado.

O que foi compactuado entre os parlamentares dizia respeito a uma reforma política. O resultado foi que houvesse uma igualdade entre os cristãos e os muçulmanos espelhados nos cargos políticos. O primeiro ministro passaria a ser escolhido pelo presidente após o mesmo ouvir o parlamento que se reuniria para tratar do nome a ser indicado. Com moldes aparentemente mais democráticos do que a ordem política pré-existente no Líbano, o Taif selou o fim da Guerra Civil.

Contudo, existe outro fator importante na construção do documento. Os então parlamentares libaneses que se reuniram na Arábia Saudita eram os mesmos homens que encabeçavam as facções militares que brigavam na Guerra. Estes líderes políticos eram mais do que políticos agindo como verdadeiros homens de Estado com capacidade de influenciar no processo do país. Este fato é bem comum no Líbano por eles serem a representação não só política, mas idealista, religiosa e militar.

Foi por enxergar tal fato que o Sheik Fahd Abdel Aziz9 da Arábia Saudita os convocou. Quanto ao Hezbollah, que ainda era uma facção dentre muitas e estava no seu começo, foi representado de forma indireta pelos políticos xiitas e pró-Síria. No Acordo em si, nada foi dito a respeito do Hezbollah, contudo alguns pontos foram esclarecidos sobre a retirada das tropas israelenses e limitações do uso da força:

C. Strengthening the armed forces:

1. The fundamental task of the armed forces is to defend the homeland, and if necessary, protect public order when the danger exceeds the capability of the internal security forces to deal with such a danger on their own.

9

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2. The armed forces shall be used to support the internal security forces in preserving security under conditions determined by the cabinet.

3. The armed forces shall be unified, prepared, and trained in order that they may be able to shoulder their national responsibilities in confronting Israeli aggression.

4. When the internal security forces become ready to assume their security tasks, the armed forces shall return to their barracks.

5. The armed forces intelligence shall be reorganized to serve military objectives exclusively.

Percebe-se então pelo acordo que havia já um Hezbollah que, de uma forma sutil, se mostrava presente no cenário libanês, mesmo que utilizando de seu lado militar para tal. Com a atitude dos parlamentares libaneses na tentativa de desmantelação de outras forças, incluía-se formalmente o Hezbollah, contudo, o principal foco era as forças israelenses. Têm-se então, um panorama propício para o surgimento de uma força dentro do Líbano contra o Estado de Israel. Por não vir de forma organizada do próprio governo libanês, o Hezbollah toma esta posição auxiliado pelo apoio externo que tem.

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4) O HEZBOLLAH POLÍTICO – SOCIAL 4.1) A organização

4.1.1) Análise Estrutural

Como visto anteriormente, o Hezbollah foi oficialmente fundado em 1985 após a invasão israelense ao sul do Líbano e impulsionados pela ideologia da Revolução Iraniana. A partir de então, durante os próximos anos da Guerra Civil Libanesa, com fim datado em 1989, o Grupo exercia papel de resistência islâmica armada. Seu cunho militar era tão acentuado que já nesta época, tornou-se a principal força contra Israel na região, durante a Guerra.

Contudo, após o fim dos conflitos, o Hezbollah havia superado os conflitos dentro da comunidade xiita com outras organizações menores (ACHCAR, 2001) e passou a ser considerado uma organização que luta por direitos dos islâmicos. Vendo novas possibilidades representativas de agir por outro meio que não o militar, o Grupo então, no começo da década de 90 começa sua vida política no cenário libanês. Já contando com o apoio da comunidade xiita, o segundo passo que os seguidores de Hassan Nasrallah deram foi reforçar o pensamento de que o objetivo do Hezbollah era lutar pelos direitos dos libaneses, agora como um todo.

Politicamente dizendo, temos um Hezbollah voltado para o Líbano como um todo após a percepção de necessidade para angariar aliados na esfera governamental. Porém há o lado das ações sociais do Grupo que são estendidas principalmente e quase exclusivamente para a comunidade islâmica xiita.

Temos então, em uma análise superficial, três braços do Hezbollah: o militar, o político e o social. Essa divisão é apenas um instrumento para um melhor detalhamento do Grupo, já que, na prática, todos eles são muito interligados e chefiados por um líder só, posição atualmente ocupada por Hassan Nasrallah.

Percebida esta divisão interna do Grupo, há um problema em sua classificação quanto a atuação em termos globais. Por seus ataques e outras ofensivas ao Estado de Israel, o Hezbollah é considerado pelos EUA e por outros países um grupo terrorista. Contudo, o próprio conceito de terrorismo, como diz Kiras (2008), possui grandes variáveis influenciadas por cada caso especificamente, mas que tem como característica principal, o uso da violência. Tomando seus outros braços, principalmente porque há uma continuidade maior na ações políticas e nas sociais do que de cunho militar por parte do Hezbollah, podemos utilizar das cinco

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categorias de organizações não-governamentais descritas por Peter Willetts (2008) para uma análise geral (ver Tabela 1).

Tabela 1 – Tabela das categorias dos atores políticos no sistema global

Nome Quem são? Exemplos

Estados Entre 200 governos

presentes no sistema global. 192 membros da ONU

Companhias Transnacionais

(77.200)

Empresas/marcas com filiais pelo Mundo

Vodaphone, Shell, Microsoft, Nestlé

Organizações não-governamentais de um

único país

Ogranizações de países específicos que tem significância transnacional

Population Concern (Reino Unido), Sierra Club (EUA).

Organizações Intergovernamentais

(Internacionais)

Reuni dois ou mais governos do mundo

ONU, OTAN, UE, Organização Internacional do Café Organizações Internacionais Não-Governamentais Contam com o reconhecimento internacional, mas não dependem destes para seu

estabelecimento.

Anisitia Internacional, Aliança Batista Mundial,

International Chamber of Shipping

Fonte: Willetts (p. 332)

Dentro destas caracterizações, é possível enquadrar o Hezbollah como uma organização não-governamental de um país apenas. As relações do Grupo com Israel, Síria e Irã, além do papel que exerce no Oriente Médio, são motivos que projetam as ações para o panorama internacional. Contudo, a diferença do Hezbollah com os outros exemplos citados por Willets é que enquanto as outras organizações são de cunho político e social, o Grupo libanês ainda tem o caráter armamentista, o que é analisado pelo autor posteriormente. Ele diz que algumas organizações terroristas, ou mais comumente chamadas por ele de guerrilhas, vão contra a autoridade de alguns governos por meio de atitudes ofensivas, e por isso não contam com legitimidade suficiente para serem enquadradas como uma organização.

Pode-se, seguindo as caracterísitcas do grupo no qual o Hezbollah se encaixa segundo a tabela de Willetts (2008), utilizar as duas dimensões propostas por Nye

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(2001) e Keohane (2001) para compreender a interdependência existente no mundo pluralista. Para os três autores, estes atores presentes no cenário internacional mantêm relações com outros e com os estados. A questão é perceber a vulnerabilidade e a sensitividade (KEOHANE, 2001; NYE, 2001) destes grupos para com os estados, ou o cenário em geral. Como todo partido político dentro de uma democracia, não há representatividade perante o governo, o que geraria efeitos colaterais no processo de decisão libanês (sensitividade), se a população do país não o enxerga como grupo capaz de tomar decisões a respeito (vulnerabilidade).

4.1.2) A geopolítica cultural libanesa e o Hezbollah.

Há um fator cultural na sociedade libanesa importante para o entendimento dos acontecimentos no país e que influencia na organização e nas ações do Hezbollah. Existem micro-regiões10, aldeias ou vilas, que tem maioria religiosa tão acentuada que seguem os mesmos ritos e têm a mesma ideologia presente. Tomemos as duas principais religiões do país para exemplificação: os muçulmanos e os cristãos.

Nessas aldeias cristãs, por exemplo, os costumes são claros: aos domingos a população vai a igreja, as festas cristãs são comemoradas dentro das vilas, e existem líderes (padres) religiosos, assim como dita a religião. Contudo, as semelhanças não vão apenas ao caráter religioso, apesar de ser o determinante de referência das aldeias. Os cristãos têm afinidade pelos partidos de mesma origem e geralmente têm um líder regional político da mesma religião. No caso islâmico, é semelhante e diferencia apenas os costumes ditados pela religião: nos horários de oração dos muçulmanos, é possível ouvir por toda a cidade a mesma oração que passa em um sistema de som único, entre outros costumes de celebrações que influenciam inclusive, no comércio da micro-região. Na política, o caso islâmico é semelhante ao cristão. Contudo, entre os xiitas, a sua maioria é partidária de Hassan Nasrallah e, consequentemente, do Hezbollah.

Durante os conflitos da Guerra Civil libanesa, onde se contrapunham muçulmanos e cristãos por um bom tempo, estas divisões se tornavam mais claras e as cidades eram peças da estratégia das guerrilhas. Assim, era comum os próprios

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Têm-se por tal, concentrações de aldeias, vilas e cidades que possuem o mesmo perfil cultural e religioso e que por esta razão partilham da mesma ideologia, sendo apenas uma unidade relevante para o estudo.

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moradores se colocarem a disposição para defender o território da cidade, ao mesmo passo em que os cristãos não adentravam as cidades muçulmanas e vice-versa, nas quais a situação se encontrava mais crítica.

A razão para a existência destas micro-regiões não é somente justificada pela religião. O relevo do território libanês, predominantemente montanhoso, favorece o surgimento de vilas e aldeias que ficam geograficamente bem delimitadas e separadas de outras. Por esta razão, e por motivos históricos de recepção e diálogo multicultural, é que as cidades beira-mar, em geral maiores do que as do interior, são mais cosmopolitas e não tem delimitação religioso-cultural específico.

Ao analisarmos o caso do Hezbollah e de suas principais bases e localização (ver Mapa 2) das comunidades que são partidárias a ele, percebemos que predominam na região sul-sudeste do país. Por esta razão e pelo auxílio do relevo da região, a localização do grupo é estrategicamente lógica quando se têm conflitos com Israel.

Mapa 2 – Principal área de influência do Hezbollah no Líbano Fonte: Global Security

Contudo, há de se ressaltar que apesar do mapa representar as áreas de maior influência do Hezbollah, não se restringe somente ao local indicado. Devido à combates contra Israel, a região leste do país também possui influência, mas não tanto quanto na região sul-sudeste.

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4.2) Política

Como um país democrático, o Líbano e seu povo têm o direito de eleger aqueles que julgam melhor representar seus interesses no governo. Foi percebendo a possibilidade de angariar força perante o cenário político libanês, e contando com o apoio de grande parte da população xiita libanesa, que o Hezbollah no começo da década de 90 entrou para o cenário político.

O surgimento do Partido ocorreu depois da assinatura do Acordo de Taif, que não gerou consequências diretas para o Hezbollah, quando as diretrizes do Líbano começaram a ser tomadas mais por vias políticas do que militares, como ocorriam durante a Guerra. Após articulações com a comunidade e entre os líderes do Grupo, o Partido foi fundado influenciado quase que totalmente pela doutrina de Teerã.

Atualmente o Partido não está sob tanta influência do país do norte e começa a assumir um perfil baseado no nacionalismo exacerbado e na defesa da comunidade de forma correta. Por meio dos discursos dos seus representantes e de seus aliados, é perceptível as ações do Hezbollah em termos de articulação política. Isto é refletido na história da composição do parlamento libanês desde a criação do partido até os dias atuais, nas alianças feitas com líderes do país, na legitimação popular do Grupo como um partido, e no reconhecimento de outros países do Oriente Médio.

Sua história no parlamento começa nas eleições de 2005, quando o partido elegeu 14 deputados de 128 totais. Já nas eleições de 2009, junto com aliados, hoje o Hezbollah conta com uma força de quase 40% dentro dos processos de tomada de decisão do parlamento, e consequentemente do governo. O aumento da representatividade do Hezbollah não se limita somente ao número de parlamentares. Percebendo a importância do Partido no país e para a população libanesa, o governo decidiu em Agosto de 2008, ceder ao Partido de Deus e seus aliados poder de veto com onze dos trinta gabinetes parlamentares gerais.

Apesar de uma posição firme perante a assuntos do cotidiano político libanês, como o relacionamento com a Síria, com Israel, e ligações religiosas com a política, o Hezbollah é reconhecido pela maioria dos principais líderes do país, como uma organização legitimada que busca a melhoria do país, e realiza ações para que isso aconteça. Estes líderes (ver Tabela 2, p. 32) são peças fundamentais no processo

Referências

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