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INSTITUTO SERUMTERÁPICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

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INSTITUTO SERUMTERÁPICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Denominações: Instituto Serumterápico do Estado de São Paulo (1901); Instituto Soroterápico de

Butantan (1918); Instituto Butantan (1925)

HISTÓRICO

O surto de peste bubônica na cidade de Santos, no ano de 1899, foi o acontecimento que motivou a criação, em caráter emer gencial, de um laboratório para preparo do soro antipestoso, anexo ao Instituto Bacteriológico do Estado de São Paulo, o futuro Instituto Serumterápico do Estado de São Paulo.

O assistente de Adolpho Lutz no Instituto Bacteriológico, inspetor sanitário Vital Brazil Mineiro da Campanha (Vital Brazil), o médico enviado pela Inspetoria Geral de Higiene Pública, Oswaldo Gonçalves Cruz, e o conhecido cirurgião carioca, Eduardo Chapot Prévost, foram os responsáveis pelo diagnóstico da doença. Era necessária a importação do soro curativo produzido apenas pelo Instituto Pasteur de Paris, mas a instituição não dispunha de quantidade suficiente para suprir a demanda mundial.

Foi então que Emílio Marcondes Ribas, diretor do Serviço Sanitário do Estado do Estado de São Paulo, propôs ao governo a criação de um laboratório para o preparo do soro e da vacina antipestosa, ao mesmo tempo em que na Capital Federal também era criado um laboratório semelhante, o Instituto Soroterápico Federal.

O Presidente do Estado de São Paulo, Fernando Prestes, e o Secretário do Interior, José Pereira de Queiroz, aceitaram de imediato a idéia de Emílio Ribas e o incumbiram, ao lado de Adolpho Lutz, Oswaldo Cruz e Vital Brazil, de escolher o local apropriado para a instalação do novo laboratório.

Em dezembro de 1899, a fazenda em Butantan era escolhida como o lugar para a produção das vacinas e imunização dos cavalos produtores dos soros preventivo e curativo contra a peste bubônica. O pavor da população em relação à doença tornou conveniente escolher um local bem distante da cidade. Sendo assim, decidiu-se por aquela propriedade de 300 hectares situada a cerca de 9 km do centro da capital.

Adolpho Lutz ficou encarregado da organização do novo laboratório soroterápico que funcionaria como uma dependência do Instituto Bacteriológico do qual era diretor. Comprada a fazenda em Butantan, ele começou a fazer sua adaptação. No ofício nº 185 de 16/12/1899, dirigido ao diretor do Serviço Sanitário, Lutz remetia ao governo a lista do material necessário.

Em janeiro de 1900, Adolpho Lutz requisitou cavalos do esquadrão de cavalaria para dar início à imunização de animais e, a 26 de junho, enviou ao diretor do Serviço Sanitário uma "relação das cobras venenosas observadas entre nós", já dando indícios daquele ramo de atividade que distinguiria o futuro Instituto Butantan de outras instituições de pesquisa do país.

Em um ano o laboratório ganhou autonomia, recebendo a atribuição de fabricar todos os soros e vacinas requeridos pelo Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, ao qual era subordinado. No dia 23 de fevereiro de 1901, pelo decreto nº 878-A, o laboratório soroterápico desligava-se do Instituto Bacteriológico passando a chamar-se Instituto Serumterápico do Estado de São Paulo. Nesse mesmo dia, nomeava-se diretor Vital Brazil e ajudante Abdon Petit Guimarães Carneiro.

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Vital Brazil começou a organizar o estabelecimento e a preparar a vacina e o soro contra a peste bubônica. Como as instalações eram impróprias, mandou construir uma cocheira-enfermaria para os cavalos, um alpendre para sangria e um pequeno pavilhão para colheita, distribuição e acondicionamento dos soros.

A microbiologia ganhava então enorme importância no contexto mundial. A partir dos estudos pioneiros de Pasteur e do Instituto parisiense que levava seu nome, a medicina experimental espalhou-se pelo mundo. Cada vez mais a cura para as diversas doenças era buscada nos laboratórios e não nos hospitais. No Brasil, sua influência se fez sentir pela atuação dos médicos fundadores dos institutos de pesquisa surgidos a partir do último quartel do século XIX

Desde 1897, Vital Brazil, na época ainda ajudante do Instituto Bacteriológico do Estado de São Paulo, se dedicava com grande interesse ao ofidismo, o estudo dos venenos das cobras, em particular das existentes no Brasil. O cientista se beneficiou da divulgação dos primeiros trabalhos de soroterapia que o orientaram no desenvolvimento de suas pesquisas para a produção de um soro contra a peçonha das serpentes brasileiras. Quando Vital Brazil começou a dedicar-se ao ofidismo, Albert Calmette demonstrava na França que o veneno ofídico, assim como as bactérias, era capaz de provocar anticorpos no organismo. Esta descoberta do cientista francês forneceu a chave para que Vital Brazil desenvolvesse o tratamento para o envenenamento causado pelas picadas de cobras e, indo mais além, demonstrasse a especificidade dos venenos e dos soros. Pode-se dizer, portanto, que a utilização da soroterapia no tratamento dos acidentes ofídicos se deveu aos dois cientistas.

Ao assumir a direção do Instituto Serumterápico do Estado de São Paulo, Vital Brazil continuou, paralelamente ao preparo do soro antipestoso, com seus estudos sobre ofidismo. Em 11 de junho de 1901, entregava para consumo os primeiros tubos de soro antipestoso e dois meses depois os tubos dos soros antipeçonhentos, em especial o antiofídico, mistura de dois soros: o antibotrópico, contra o veneno da jararaca, e o anticrotálico, para tratamento do veneno da cascavel.

As vacinas e soros fabricados em Butantan nos primeiros anos eram distribuídos em São Paulo para o Hospital de Isolamento, o Instituto Bacteriológico do Estado, a Diretoria do Serviço Sanitário e enviados também para o Rio de Janeiro, Paraná, Ceará e até para Londres. Em 1903, os soros antipeçonhentos eram mandados, além da capital e do interior paulistas, para o Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão, Bahia, Ceará, Rio Grande do Sul e Estados Unidos da América.

Contudo, Vital Brazil precisava de apoio para justificar a importância de seus estudos sobre o combate a venenos das cobras. Para obtê-lo, o bacteriologista publicou inúmeros artigos na Revista Médica de São Paulo e realizou conferências nas escolas Politécnica de São Paulo e de Farmácia, onde expunha os resultados de suas experiências.

O combate ao ofidismo era assunto que interessava bastante aos proprietários rurais, ao passo que para aprofundar suas pesquisas e produzir os soros Vital Brazil precisava dispor de grandes quantidades de veneno de cobras. Logo, o cientista introduziu um sistema de permutas, através do qual trocava as cobras necessárias para seus estudos, por tubos de soros e instrumentos para sua aplicação.

Em 1903, Vital Brazil ganhou como prêmio por suas investigações uma viagem para a Europa, onde permaneceu um ano. Na sua volta, passou a reivindicar ao governo um aumento de verbas para a construção de novas instalações e contratação de pessoal. De 1906 em diante, a produção do soro antipestoso diminuiu progressivamente em função do controle das epidemias, enquanto os soros antipeçonhentos e o antidiftérico iam tornando-se os principais produtos do Instituto. Havia sido iniciada também a produção da tuberculina, usada no diagnóstico da tuberculose, e os poucos funcionários do Instituto também se dedicavam à pesquisa de outros soros, vacinas e medicamentos.

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Os pedidos de Vital Brazil começaram a ser atendidos com a contratação de mais um ajudante em 1907, mas na década de 1910 é que o Instituto passou por maiores transformações. Naquele ano, iniciou-se a construção do novo prédio, conhecido como Laboratório Central, inaugurado em 1914. O Instituto produzia, então, a vacina e o soro antipestoso, os soros antidiftérico, antiofídico, anticrotálico, antibotrópico e antitetânico, e a tuberculina diluída. Além disso estavam em andamento os projetos para pesquisa dos soros anticolérico, antimeningocócico, antiestafilocócico, antiestreptocócico, antiescorpiônico, soros aglutinantes diversos, vacina anticarbunculosa e outros; além de estudos sobre a sistemática e biologia das serpentes, aracnídeos e suas diferentes peçonhas e sobre os insetos sugadores.

A partir de 1917, finalmente, o Instituto sofreu efetivamente uma remodelação que ampliou suas funções e, em decorrência disso, suas instalações e quadro de funcionários.

Com o ingresso de Arthur Neiva na direção do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, no ano anterior, o Instituto Serumterápico se tornou objeto de uma série de reformulações sucessivas. Segundo Luís Antônio Teixeira, Neiva queria fazer do instituto paulista um equivalente do Instituto Oswaldo Cruz pelo aumento de suas atribuições. Nesse sentido, a partir de 1917, o Instituto sofreu uma "reviravolta", quando o "Serviço Sanitário de São Paulo passou por uma reformulação e o Instituto Soroterápico de Butantan deixou de ser visto apenas como uma instituição produtora de imunizantes para debelar possíveis epidemias, passando a ser considerado uma agência central na execução de diversas ações de saúde pública" (TEIXEIRA, 1993).

Essas transformações inseriam-se em um contexto maior. Um certo movimento de idéias que estava ganhando vulto articulava-se a uma mudança de foco por parte de médicos sanitaristas e do governo, os quais cada vez mais deslocavam sua atenção dos núcleos urbanos para as áreas rurais. Essa mudança ganhou expressão política com a fundação da Liga Pró-Saneamento no ano de 1918 e a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública em 1920.

O próprio Neiva que havia participado de expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz ao interior do país havia sido bastante influenciado por esse movimento.

A seção de química, o Horto Oswaldo Cruz, o Serviço de Medicamentos Oficiais e os cursos de higiene para professores e diretores da rede pública de ensino, que visavam transformá-los em agentes de saúde, foram os meios pelos quais o Instituto Serumterápico do Estado de São Paulo, associado ao governo, procurou combater as endemias rurais.

Com a reforma empreendida por Arthur Neiva, a entidade passou a denominar-se Instituto Soroterápico de Butantan. Apesar de não ter suprimidas suas atividades de pesquisa e produção de soros na área do ofidismo, suas novas atribuições, em especial a produção de medicamentos para comercialização, comprometiam o perfil da instituição que vinha sendo moldado por Vital Brazil desde sua fundação. Esta tentativa de Neiva em dar nova identidade ao Instituto, pela ampliação de suas atividades e atribuições, teria sido, segundo alguns autores, o motivo do afastamento de Vital Brazil que, oficialmente, se aposentou em 1919.

A saída do diretor, acompanhado por técnicos do Instituto, desencadeou uma crise no Butantan. Vital Brazil fundou em Niterói, no Rio de Janeiro, um instituto particular que levava o seu nome, contando com o apoio do Presidente do Estado, Raul de Morais Veiga, que lhe concedeu o terreno e uma subvenção em troca do compromisso de fabricar vacina anti-rábica e de realizar exames bacteriológicos para a Inspetoria de Higiene e Saúde Pública.

Quatro dos oito pesquisadores assistentes do Butantan, Dorival de Camargo Penteado, Octávio de Morais Veiga, Arlindo Raymundo de Assis e Joaquim Crissiúma de Toledo, deixaram o Butantan com seu fundador e diretor. No mesmo ano de 1919, faleceu João Florêncio Gomes, o assistente

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mais apto a assumir a direção do Instituto. Do quadro anterior permaneceram apenas o botânico Frederico Carlos Hoehne, o químico Paulo Alberto de Araújo e Afrânio Pompilio Bransford do Amaral.

Antônio Pinheiro de Ulhôa Cintra ficou responsável por dirigir interinamente o Instituto, de 11 de julho a 31 de outubro de 1919, e, a partir de dezembro desse ano, foi sucedido por Afrânio Pompilio Bransford do Amaral até setembro de 1921. Naquele ano assumiu, então, Rudolph Kraus, ex-diretor do Instituto Bacteriológico de Buenos Aires. A crise desorganizou os serviços e afetou as finanças do Instituto pela diminuição dos produtos comercializados. Funcionários de outras unidades do Serviço Sanitário foram deslocados para o Butantan.

Vital Brazil voltou ao Butantan em setembro de 1924 com contrato de quatro anos a convite do Presidente do Estado Carlos de Campos. No ano seguinte, o decreto nº 3.876 de 11/07/1925, uniu os Institutos Bacteriológico, Soroterápico e Vacinogênico em "uma seção única do Serviço Sanitário, sob a direção de um mesmo profissional". Os três institutos reunidos passaram a ser designados pelo nome de Instituto Butantan, funcionando no mesmo local. Com a fusão, a entidade passou a ter como atribuições, além da produção dos soros e vacinas para defesa sanitária, os exames bacterioscópicos, bacteriológicos e o preparo da vacina jenneriana contra a varíola.

Durante esta segunda direção de Vital Brazil foi criado o Laboratório de Fisiologia, foram desenvolvidas as pesquisas em microbiologia e imunologia, e aumentados o número de trabalhos publicados, o quadro de assistentes e as verbas destinadas ao Instituto. O diretor também promoveu uma série de conferências populares que visavam a divulgação de conhecimentos científicos, organizou um museu de culturas de microorganismos e dedicou-se à investigação da vacina BCG contra o bacilo da tuberculose. Durante esse período, foram fechados o Horto Oswaldo Cruz e a seção de Opoterapia, e extinto um Posto antiofídico que o Butantan possuía na Bahia.

Em 1931, pelo decreto n.º 4.891 de 13 de fevereiro, o Instituto Bacteriológico se desligou do Butantan.

Com a criação da Universidade de São Paulo, em 1934, o Instituto Butantan passou a fazer parte daquela instituição como orgão complementar e sua direção, daí em diante, passou a ser exercida, em comissão, por profissionais nomeados pelo Governo do Estado.

Além destes, também passaram pelo Instituto: Abdon Petit Guimarães Carneiro; Dorival de Camargo Penteado; Bruno Rangel Pestana; João Florêncio Gomes; Theodureto Leite de Almeida Camargo; Victor Salcedo; Tarcísio de Magalhães; Raul de Magalhães; Álvaro de Lemos Torres; Octávio de Morais Veiga; Joaquim Crissiúma de Toledo; Afrânio Pompilio Bransford do Amaral; Frederico Carlos Hoehne e Arlindo Raymundo de Assis.

Diretores (1921-1930):

Vital Brazil (1901-1919; 1924-1927); Dorival Camargo Penteado (interino 13/05/1904-13/05/1905); Rudolph Kraus (1921-1923); Lucas de Assunção (interino 02/09/1927-11/03/1928); Afrânio Pompilio Bransford do Amaral (1928-1935). Entre 1919 e 1921, o Instituto foi entregue a diretores interinos.

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ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO

Entre 1899 e 1901, na fazenda do Butantan, funcionou o laboratório soroterápico do Instituto Bacteriológico do Estado de São Paulo. Este laboratório ganhou autonomia em 23 de fevereiro de 1901, pelo decreto n.º 878-A, como Instituto Serumterápico do Estado de São Paulo, sendo diretamente subordinado ao Serviço Sanitário e possuindo o objetivo imediato de preparar o soro e a vacina contra a peste bubônica para atender as necessidades do Estado.

Enquanto o laboratório se manteve como dependência do Instituto Bacteriológico, o único técnico designado para os trabalhos era Vital Brazil, que seria nomeado diretor do novo instituto em 1901. De acordo com o decreto n.º 878-A, o Instituto Serumterápico passou a contar também com um ajudante, um escriturário, dois auxiliares para a manipulação do soro, um cocheiro, cinco "camaradas" para a plantação de forragem e alguns serventes.

Apesar de ter sido criado para produzir o soro antipestoso, desde o início o Instituto se distinguiu pela atuação no campo do ofidismo, marca determinada pela presença de Vital Brazil. Em 1901, a instituição fabricou as primeiras doses de soro antiofídico e antipestoso, tendo sido este último utilizado para combater uma epidemia em Campos, no estado do Rio de Janeiro. A partir de 1902, a entidade passou a fornecer o soro e a vacina antipestosos a diversos órgãos do Serviço Sanitário paulista, especialmente ao Hospital de Isolamento. Além disso, abastecia também proprietários agrícolas, profissionais liberais e clínicos da capital, de cidades do interior e de outras unidades da federação.

Entretanto, a obtenção dos venenos ofídicos para a pesquisa e a produção dos soros não era fácil. A solução encontrada por Vital Brazil foi o estabelecimento de um sistema de permutas, através do qual agricultores, fazendeiros, colonos, professores e autoridades no interior do estado e do país enviavam ao Instituto as serpentes capturadas com um equipamento apropriado, desenvolvido pelo próprio Vital Brazil e por Adolpho Lutz. Em troca, recebiam soros, agulhas e seringas necessários ao tratamento dos acidentes ofídicos. Através de acordos com o governo do Estado, Vital Brazil também conseguiu o transporte gratuito de serpentes pela via ferroviária.

O intercâmbio entre a população rural e o Instituto também permitiu a divulgação de conhecimentos de ordem prática, como a distinção entre cobras venenosas e não venenosas, o uso de calçados como forma de proteção e a utilidade da preservação de certos animais que se alimentam de ofídios. Essa atividade de caráter mais pedagógico foi desenvolvida posteriormente, quando o Instituto passou a promover cursos de higiene.

Somente em 1911, o sistema de permuta de cobras praticado pelo Instituto Serumterápico chegaria a ser oficializado, estendendo-se, a partir do ano seguinte, às instituições científicas do exterior como os museus de Stuttgart, Berlim e Paris.

Até 1906, a produção do Instituto restringia-se basicamente ao combate da peste e dos acidentes ofídicos. Vital Brazil, em seus relatórios, atribuía este fato à precariedade das instalações e ao reduzidíssimo quadro de funcionários da instituição. A partir daquele ano, contudo, o Instituto começou a produzir também o soro antidiftérico, que logo se tornou um dos mais procurados e, no ano seguinte, a tuberculina, utilizada para o diagnóstico da tuberculose humana.

Em 1907, foi nomeado mais um ajudante, o farmacêutico Bruno Rangel Pestana, e, em 1912, outro ajudante, João Florêncio Gomes.

O problema das instalações começou a ser resolvido em 1910, quando foi iniciada a construção de um novo prédio para os laboratórios da instituição. Essa obra foi inaugurada somente quatro anos depois e o novo edifício ficou conhecido como Laboratório Central.

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Com a inauguração das novas instalações, o Instituto passou a produzir também os soros antidisentérico, antiestreptocócico e antiescorpiônico.

Em discurso pronunciado durante o evento, Vital Brazil destacava como objetivos do Instituto: preparar todos os soros e vacinas que se tornassem necessários à defesa sanitária do Estado; estudar todas as questões que direta ou indiretamente interessassem à higiene pública, especialmente as que se relacionassem com a soroterapia; e contribuir para a vulgarização científica por meio de cursos, conferências, demonstrações e publicações.

A distribuição das tarefas entre os funcionários do Instituto era, então, a seguinte: os soros antidiftérico, antipestoso, a vacina antipestosa e as pesquisas anátomo-histopatológicas ficavam a cargo de Dorival de Camargo Penteado; a produção da tuberculina, do soro antitetânico e os estudos sobre quimioterapia e parasitologia cabiam a Bruno Rangel Pestana; João Florêncio Gomes cuidava da dosagem e preparo dos soros antipeçonhentos, do soro antidisentérico, dos estudos sobre parasitologia e sistemática e biologia dos ofídios; por fim, Vital Brazil, diretor do Instituto, dedicava-se ao preparo dos soros antipeçonhentos, antiestreptocócico e antiestafilocócico, e aos estudos sobre a biologia das serpentes.

Em 1913, o Instituto que até então limitava suas atividades à pesquisa e produção dos soros e vacinas necessários ao Serviço Sanitário e ao ofidismo, começou a atuar também, mais efetivamente, na área da educação sanitária, através de um programa de conferências para a população. A primeira delas foi proferida por João Florêncio Gomes, sobre a história natural das serpentes.

Com a lei nº 1.541 de 30/12/1916, que remodelava a Inspeção Médico-Escolar, esta deixava de ser dirigida pelo Serviço Sanitário e passava para a alçada da Diretoria Geral de Instrução Pública. A Diretoria, em conjunto com o Instituto Soroterápico de Butantan, passou a realizar cursos de educação sanitária destinados a professores e diretores da rede estadual de ensino, preocupação que apareceria no relatório de 1918, no qual o programa do curso elementar de higiene era apresentado e a iniciativa justificada pela consideração da escola como um dos maiores fatores de uma "regeneração sanitária" (CAMARGO, 1984).

A primeira grande virada na trajetória do Instituto ocorreu a partir de 1918, quando sofreu uma reforma que efetivamente mudou sua estrutura e funcionamento. Desde que assumira a Diretoria do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, em 1916, Arthur Neiva procurou expandir as atividades do Instituto Serumterápico. Pelo decreto nº 2.918 de 09/04/1918, a instituição passou a denominar-se Instituto Soroterápico de Butantan e incorporou os estudos sobre veterinária, o cultivo de plantas medicinais no Horto Oswaldo Cruz e, no ano seguinte, o Instituto de Medicamentos Oficiais que passou a se dedicar à fabricação de produtos quimioterápicos e opoterápicos, sobretudo comprimidos de quinino, único medicamento contra a malária e indispensável na campanha contra a doença, uma das bandeiras do movimento pelo saneamento dos sertões. Em contrapartida, o Instituto também teve aumentadas suas instalações, seu quadro de pessoal e suas verbas.

Uma das medidas adotadas tinha como objetivo melhorar a situação financeira do Instituto: a comercialização dos produtos, proposta que Vital Brazil já vinha defendendo há algum tempo como forma de gerar renda própria para investir em pesquisas. O Instituto Oswaldo Cruz havia lançado mão dessa prática com bons resultados e a justificativa de Arthur Neiva para instaurar este sistema no Instituto Soroterápico de Butantan era que, dado o contexto da Primeira Guerra e a dificuldade de importação dos produtos europeus, o Instituto Oswaldo Cruz não tinha condições de suprir totalmente a demanda nacional. A venda dos produtos foi autorizada pela reforma, desde que realizada por meio de uma casa comercial contratada por concorrência pública, ganha pela Casa Armbrust & Cia..

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Além dessas novas atribuições, o Butantan ficou encarregado também de fiscalizar a qualidade de produtos biológicos como soros, vacinas, fermentos, extratos de órgãos e outros, comercializados em São Paulo.

Para cumprir suas novas atribuições conferidas pela Reforma Sanitária, o Instituto teve seu quadro de pessoal aumentado. Ingressaram no Butantan: Frederico Carlos Hoehne, Joaquim Crissiúma de Toledo, Paulo Alberto de Araújo e Afrânio Pompilio Bransford do Amaral, além de Francisco de Camargo Mesquita, Juvenal de Lima, Artur Pedroso e Benedito Laurindo de Morais. A reforma criou 18 novos cargos: um assistente, quatro subassistentes, um químico, um desenhista ceroplasta, um chefe de cultura, um mecânico eletricista, um chefe de cocheira, um bibliotecário, um fotógrafo micrografista, um encadernador, dois escriturários, um motorista, um porteiro telefonista e um guarda noturno.

Em 1918, a produção do Instituto constava do seguinte: soro antipeçonhento, soro antidiftérico, soro antitetânico, soro antiestreptocócico, soro normal de cavalo, soro normal de boi, hemostático, vacinas bacterianas diversas, tuberculina, maleína, óleo canforado, soluções medicamentosas, extratos orgânicos injetáveis, extratos orgânicos por via gástrica, comprimidos de órgãos.

Em 1919, foram construídos o prédio do Instituto de Veterinária e o do Instituto de Medicamentos Oficiais.

Além dessa expansão, Neiva também queria abrir filiais do Butantan em cinco estados da Federação. Entretanto, desse projeto, apenas a filial de Pelotas chegou a ser organizada. A filial, dirigida por Octávio de Morais Veiga, chegou a produzir a vacina jenneriana contra a varíola, a fazer o tratamento anti-rábico, a recolher venenos de serpentes para permuta com soro e a realizar exames bacteriológicos e bacterioscópicos na região. Funcionou como filial do Instituto até o ano de 1919, quando foi incorporada pela prefeitura de Pelotas.

As interferências de Arthur Neiva no Instituto acabaram por provocar a saída de Vital Brazil em 1919, dando início a uma crise bastante grave na instituição. Brazil se afastou do Butantan acompanhado da maioria dos pesquisadores mais destacados do Instituto e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fundou, em Niterói, o Instituto de Higiene, Soroterapia e Veterinária, futuro Instituto Vital Brazil.

Em 1920, o relatório do Instituto parecia indicar uma recuperação, na área do ofidismo, na fabricação de terapêuticos, nos cursos de higiene, na produção de trabalhos científicos etc., apesar do problema da falta de pessoal qualificado e da perda de credibilidade dos produtos de fabricação própria.

Entre 1921 e 1924, o Instituto foi dirigido por Rudolph Kraus, ex -diretor do Instituto de Higiene de Buenos Aires e pesquisador de renome mundial. Durante sua direção, Krauss dividiu a entidade em seções e designou um chefe para cada uma delas. Além disso, rompeu o contrato com a Casa Armbrust & Cia., que vendia os produtos do Instituto, sob a alegação de que o contrato era desvantajoso para o Butantan. Em 1923, a seção de Botânica, que funcionava no Horto Oswaldo Cruz, foi incorporada ao Museu Paulista. Nesse mesmo ano, Rudolph Kraus deixou o cargo de diretor e José Bernardino Arantes ocupou-o temporariamente, até que, em setembro de 1924, Vital Brazil foi convidado pelo governo do Estado para assumir novamente a direção do Instituto Butantan.

Após sua volta, Vital Brazil dirigiu o Butantan até 1927, conforme estipulado pelo contrato com o governo paulista.

Durante a segunda direção de Vital Brazil foi criado o Laboratório de Fisiologia e tiveram grande desenvolvimento as pesquisas em microbiologia e imunologia. Iniciaram-se os estudos sobre a

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peçonha das aranhas e dos sapos brasileiros e o preparo de vacinas por via gástrica, foram promovidas conferências populares para a vulgarização científica e organizado o museu de culturas de microorganismos.

Dessa forma, foram contratados Eduardo Vaz, João A. Vellard, Jayme Pereira Barreto Neto, José Bulcão Ribas e Joaquim Pires Fleury.

Vital Brazil se dedicou à investigação da produção da vacina BCG contra o bacilo da tuberculose, doença que afetava bastante a população.

Em 1925, o Presidente do Estado, Carlos de Campos, assinava o decreto nº 3. 876, de 11 de julho, que reorganizava o Serviço Sanitário e determinava a fusão dos Institutos Bacteriológico, Soroterápico e Vacinogênico. Os três institutos foram transformados em uma só instituição localizada no Butantan e receberam o nome de Instituto Butantan, "uma seção única do Serviço Sanitário, sob a direção de um mesmo profissional", segundo o artigo 58 do decreto.

De acordo com o mesmo decreto, cabiam "a essa seção as atribuições dos Institutos de cuja fusão resulta e cooperar com o Instituto de Higiene, de acordo com a determinação do diretor-geral, na obra de educação sanitária do povo, no tocante à instalação de museus" (Apud LEMOS, 1954, p. 127) Desse modo, além das funções já exercidas pelo Butantan, a partir daquele momento o Instituto também passou a produzir a vacina jenneriana, além de ser o responsável por realizar os exames bacterioscópicos e bacteriológicos.

O Instituto Vacinogênico, que já era uma dependência do Instituto Bacteriológico desde 1918, dedicou-se à produção da vacina animal contra a varíola.

Somente em 1931, pelo decreto nº 4. 891 de 13 de fevereiro, o Instituto Bacteriológico se desligou do Butantan.

Durante a segunda direção de Vital Brazil foram definitivamente fechados o Horto Oswaldo Cruz, o Posto antiofídico do Butantan na Bahia, fundado em 1921, e a seção de Opoterapia.

Após a rescisão do contrato de Vital Brazil, em 1927, Afrânio Pompilio Bransford do Amaral foi convidado para assumir a direção do Butantan, cargo que ocupou até 1938 e que voltaria a ocupar em 1953.

Com a organização da Universidade de São Paulo pelo decreto nº 6.283 de 25/01/1934, o Instituto Butantan passou a fazer parte daquela instituição como órgão complementar.

PUBLICAÇÕES OFICIAIS

Em 1918, foi publicado o primeiro número das Memórias do Instituto Butantan, em dois fascículos correspondentes ao volume I, que reuniam vários trabalhos produzidos entre 1901 e 1917.

O volume II foi publicado somente em 1925 e o III no ano seguinte. A partir do volume IV, publicado em 1929, a periodicidade foi quase sempre mantida.

Além das Memórias, algumas publicações e trabalhos inéditos de membros do Instituto foram reunidos nas Coletâneas dos Trabalhos do Instituto Butantan, que contém no volume I a produção científica de 1901 a 1917, e no volume II a do período de 1918 a 1924.

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FONTES

- AZEVEDO, Fernando de (org). As ciências no Brasil. v. 2. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994. (BCOC)

- BENCHIMOL, Jaime Larry; TEIXEIRA, Luiz Antônio. Cobras, lagartos e outros bichos. Uma

história comparada dos institutos Oswaldo Cruz e Butantan. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,

1993. (BCOC)

- BRAZIL, Vital. Memória Histórica do Instituto Butantan. São Paulo: Elvino Pocai, 1941. (BN) - BRAZIL, Oswaldo Vital. Contribuição para a História da Ciência no Brasil. Minas Gerais: Casa de Vital Brazil, 1989. (BCOC)

- ____________________. Vital Brazil e o Instituto Butantan. Campinas, São Paulo: Editora da UNICAMP, 1996. (BCOC)

- CAMARGO, Ana Maria Faccioli de. Os impa sses da pesquisa microbiológica e as políticas de

saúde pública em São Paulo (1892 a 1934). Campinas, 1984. Dissertação (mestrado em

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- CAMPOS, Ernesto de Souza. História da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1954. (BN) - FONSECA, Flávio da. Instituto Butantã. Sua origem, desenvolvimento e contribuição ao progresso de São Paulo. In: São Paulo em quatro séculos. São Paulo: Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954. v. 2 (BCOC)

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(São Paulo: 1901-1927). São Paulo, 1994. Dissertação (mestrado em Educação) – Faculdade de

Educação, Universidade de São Paulo, 1994. (BCOC)

- LEMOS, Fernando Cerqueira. Contribuição à história do Instituto Bacteriológico. 1892-1940.

Revista do Instituto Adolfo Lutz, São Paulo, 14 (n.º especial), p.5-161, 1954. (BCOC)

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- RIBEIRO, Maria Alice Rosa. História sem fim...Inventário da saúde pública. São Paulo –

Referências

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