O problema da identidade e autenticidade
do pensamento filosófico latinoamericano
| Filosofia no Brasil e América Latina|Prof. Arlindo F. Gonçalves Jr. http://www.mural-2.com
| Filosofia no Brasil e América Latina| 1. O problema das Filosofias Nacionais / Regionais
É legítimo falar de filosofias nacionais ou regionais?
Existe uma Filosofia Latinoamericana?
Que características tem ou teve essa suposta filosofia?
Houve na América Latina algum filósofo, ou filósofos, suficientemente representativo(s) para constar em uma História da Filosofia?
| Filosofia no Brasil e América Latina| 1. O problema das Filosofias Nacionais / Regionais
Questão das Filosofias Regionais ou Nacionais (três posturas):
o Universalista: defende que não há mais que uma
filosofia para todas as culturas, negando a existência de filosofias nacionais; a filosofia não tem pátria
o Nacionalista: é valido falar em filosofias nacionais,
baseando-se na suposta existência de características ou “espíritos nacionais” (Volkgeist – dos românticos
alemães)
o Circunstancialista: ainda que problemas filosóficos respondam a questões universais, é certo que tais questionamentos partem de circunstâncias histórico e culturalmente determinadas
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
As principais dificuldades são as seguintes:
o A delimitação sobre o que entendemos sobre Filosofia e Filosofia Latinoamericana (o problema do ser e da
autenticidade da Filosofia Latinoamericana)
o O problema da metodologia mais adequada sobre o pensamento filosófico latinoamericano
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.1 O problema do ser e da autenticidade da Filosofia Latinoamericana 2.1.1 A questão do ser da Filosofia Latinoamericana
Problemáticas: a própria definição de Filosofia; e se podemos falar sobre Filosofia Latinoamericana
Crise na filosofia em função das diferentes ciências
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.1 O problema do ser e da autenticidade da Filosofia Latinoamericana 2.1.1 A questão do ser da Filosofia Latinoamericana
Raúl Fornet-Betancourt:
• Obra: “A pergunta pela Filosofia latino-americana como problema filosófico” (1989)
• Defende um distanciamento do eurocentrismo filosófico
• “Há uma filosofia que está significativamente qualificada pela circunstância histórico-cultural do subcontinente”
• Propõe uma crítica à formação de centros que se convertem em paradigmas únicos e exclusivos do filosofar
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.1 O problema do ser e da autenticidade da Filosofia Latinoamericana 2.1.1 A questão do ser da Filosofia Latinoamericana
Luís Martínez Gómez:
Obra: “Existe uma filosofia hispano-americana?”
José Rubén Sanabri:
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.1 O problema do ser e da autenticidade da Filosofia Latinoamericana 2.1.2 A identidade do latinoamericano (diversos enfoques)
Dois momentos chaves:
1. Sarmiento e Alberdi
Domingo Faustino Sarmiento (1811-1888): propõe a alternativa “civilização ou barbárie”
Considera que a civilização é europeia, e só europeia (europeísta)
Propõe uma completa europeização da América Latina
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.1 O problema do ser e da autenticidade da Filosofia Latinoamericana 2.1.2 A identidade do latinoamericano (diversos enfoques)
Dois momentos chaves:
1. Sarmiento e Alberdi Juan Baptista Alberdi (1810-1884): argentino, é o primeiro
entre 1837 e 1842 a empregar os conceitos problemáticos de Filosofia Nacional e Filosofia Americana.
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.1 O problema do ser e da autenticidade da Filosofia Latinoamericana 2.1.2 A identidade do latinoamericano (diversos enfoques)
Dois momentos chaves:
2. Filosofia da Libertação • Entre as décadas de 60 e 70
• Precursores: Augusto Salazar Bondy e Leopoldo Zea
• Grupo de jovens filósofos argentinos: Dussel, Scannone, Ardiles, Cerutti, etc
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.1 O problema do ser e da autenticidade da Filosofia Latinoamericana 2.1.2 A identidade do latinoamericano (diversos enfoques)
não há qualquer originalidade
é possível uma originalidade total
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.1 O problema do ser e da autenticidade da Filosofia Latinoamericana 2.1.2 A identidade do latinoamericano (diversos enfoques)
não há qualquer originalidade
é possível uma originalidade total
C. Bevilacqua: os brasileiros limitam-se a copiar o pensamento dos europeus, sem que exista uma escola própria
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.1 O problema do ser e da autenticidade da Filosofia Latinoamericana 2.1.2 A identidade do latinoamericano (diversos enfoques)
não há qualquer originalidade
é possível uma originalidade total
R. Gomes, para quem seria possível a elaboração de um pensamento latino-americano cem por cento original, surgido da meditação sobre a própria realidade e do esquecimento da filosofia europeia, que virou apenas cultura
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ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.1 O problema do ser e da autenticidade da Filosofia Latinoamericana 2.1.2 A identidade do latinoamericano (diversos enfoques)
não há qualquer originalidade
é possível uma originalidade total
A. Palácios: "Somos povos nascentes, livres de amarras e atavismos, com imensas possibilidades e amplos
horizontes diante de nós. O cruzamento de raças deu-nos uma alma nova. Ao interior das nossas fronteiras acampa a humanidade. Nós e os nossos filhos somos síntese de raças" [apud
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ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.1 O problema do ser e da autenticidade da Filosofia Latinoamericana 2.1.2 A identidade do latinoamericano (diversos enfoques)
Entre essas duas posições extremas • Alejandro Korn • J. C. Mariátegui • J. Vasconcelos • F. Romero • E. Mayz Vallenilla • F. Miró Quesada • Leopoldo Zea • Enrique Dussel
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.1 O problema do ser e da autenticidade da Filosofia Latinoamericana 2.1.2 A identidade do latinoamericano (diversos enfoques)
Entre essas duas posições extremas BRASILEIROS: • Alcides Bezerra; • Luís W. Vita; • Miguel Reale; • Antônio Paim
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.2 O problema do método na investigação sobre o pensamento latinoamericano
Quando falamos de método, nos referimos ao conjunto de questões que se apresentam na hora de realizar a ampla tarefa de recorrer aos dados pertinentes que conformarão a história do pensamento latinoamericano
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.2 O problema do método na investigação sobre o pensamento latinoamericano 2.2.1 Descrição ou explicação
Pergunta: a história é mera descrição ou explicação?
Não é possível escrever uma história do pensamento ou das ideias filosóficas sem possuir, previamente, de modo mais ou menos consciente, um esquema teórico ordenado
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.2 O problema do método na investigação sobre o pensamento latinoamericano 2.2.2 O contexto da história
• Problema complementar ao anterior:
• Arturo Roig distingue dois modos de historiar o pensamento latinoamericano: o academicista e o
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.2 O problema do método na investigação sobre o pensamento latinoamericano 2.2.3 O ponto de começo da filosofia latino-americana
• Sob o ponto de vista academicista: na emancipação política, ou talvez em um texto de Frei Alonso de Vera Cruz (1554, México)
• diferentes culturas pré-colombianas, inclusive o
pensamento pré-filosófico na literatura náhuatl (asteca) • Para a maioria dos estudiosos: (começou no início do séc.
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.2 O problema do método na investigação sobre o pensamento latinoamericano 2.2.4 A periodização da nossa história
| Filosofia no Brasil e América Latina| 2. As dificuldades epistemológicas e
ideológicas acerca da investigação sobre a Filosofia Latinoamericana
2.2 O problema do método na investigação sobre o pensamento latinoamericano 2.2.5 A classificação por escolas ou correntes de pensamento
| Filosofia no Brasil e América Latina| 3. Etapas ou fases da história da filosofia latino-americana
(*) Seguindo a proposta de E. Dussel: “Hipóteses para uma história da Filosofia na América Latina (1492-1982)”
| Filosofia no Brasil e América Latina| 3. Etapas ou fases da história da filosofia latino-americana
Primeira época: pré-colombiana - sabedoria mítico-religiosa em certas culturas
| Filosofia no Brasil e América Latina| 3. Etapas ou fases da história da filosofia latino-americana
Segunda época: “época da Colônia” - constituída dos três
séculos de presença hispânica, desde 1492 a começo do século XIX
1ª época
2ª época
3ª época
Primeiro período (1492-1553): constituído pela teoria política dos vencedores sobre a conquista; o pensamento de legitimação da conquista se impõe sobre restos do pensamento simbólico dos
| Filosofia no Brasil e América Latina| 3. Etapas ou fases da história da filosofia latino-americana
Segunda época: “época da Colônia” - constituída dos três
séculos de presença hispânica, desde 1492 a começo do século XIX
1ª época
2ª época
3ª época
• Segundo período (1553-1750): primeira“normatização filosófica” – implantação pelos espanhóis e portugueses de
diversas universidades e outros centros superiores de cultura – a filosofia
hegemônica que é a segunda
escolástica (sobretudo o tomismo e o scotismo)
| Filosofia no Brasil e América Latina| 3. Etapas ou fases da história da filosofia latino-americana
Segunda época: “época da Colônia” - constituída dos três
séculos de presença hispânica, desde 1492 a começo do século XIX
1ª época
2ª época
3ª época
• Terceiro período: (1750-1807):momento de transição entre a
escolástica e a modernidade; influência do Iluminismo e sua ideologia
libertadora (o que contribuiu com a emancipação política das Américas)
| Filosofia no Brasil e América Latina| 3. Etapas ou fases da história da filosofia latino-americana
Terceira época (1807-1900/1910): se inicia com a
emancipação das antigas colônias e chega ao início do século XX, ou na revolução mexicana (1910).
1ª época
2ª época
3ª época
Primeiro período (1807-1820):empenho de alguns autores (Alberdi, Sarmiento, etc.) em conseguir o que denominam de “segunda emancipação”, ou “emancipação cultural”, com a qual se produziria uma autêntica
“Filosofia Americana” – nota-se a
influência do Iluminismo francês e inglês
| Filosofia no Brasil e América Latina| 3. Etapas ou fases da história da filosofia latino-americana
Terceira época (1807-1900/1910): se inicia com a
emancipação das antigas colônias e chega ao início do século XX, ou na revolução mexicana (1910).
1ª época
2ª época
3ª época
• Segundo período (1820-1870): surgecomo reação ao anterior ao perceber o fracasso da intenção revolucionária de constituir repúblicas democráticas; se produz uma “transição liberal”
propiciada por interesses econômicos dos crioulos mais poderosos
| Filosofia no Brasil e América Latina| 3. Etapas ou fases da história da filosofia latino-americana
Terceira época (1807-1900/1910): se inicia com a
emancipação das antigas colônias e chega ao início do século XX, ou na revolução mexicana (1910).
1ª época
2ª época
3ª época
• Terceiro período (1870-1900/1910):hegemonia quase absoluta do
positivismo como teoria filosófica e base ideológica da nova burguesia
| Filosofia no Brasil e América Latina| 3. Etapas ou fases da história da filosofia latino-americana
Terceira época (1807-1900/1910): se inicia com a
emancipação das antigas colônias e chega ao início do século XX, ou na revolução mexicana (1910).
1ª época
2ª época
3ª época
resultado de vários acontecimentos significativos – a guerra hispano-americana de 1898, com a
independência de Cuba e Porto Rico; o simbólico livro de Rodó (“Ariel”) em que se adverte um giro cultural do modelo norteamericano
recuperando os valores da
hispanidade; revolução mexicana de 1910; se produz a “segunda
normatização da Filosofia” produzindo 6 gerações:
| Filosofia no Brasil e América Latina| 3. Etapas ou fases da história da filosofia latino-americana
Terceira época (1807-1900/1910): se inicia com a
emancipação das antigas colônias e chega ao início do século XX, ou na revolução mexicana (1910).
1ª época
2ª época
3ª época
1. Geração de 1900: geração de E. Rodó2. Geração de 1915: António Caso, José de Vasconcelos, J. C. Mariátegui, e outros 3. Geração de 1927 ou de 1939: coincide
com o “exílio republicano espanhol” – Samuel Ramos, Francisco Romero, José Gaos, García Bacca, María Zambrano, etc.
4. Geração de 1945: Leopoldo Zea (e o Grupo Hipérion) e A. Salazar Bondy 5. Geração da Filosofia da Libertação: de
1969 a diante
6. Gerações posteriores: paradigmas da posmodernidade, poscolonialismo e interculturalismo
Arquétipo da unidade primordial do mundo ibero-americano (realidade proto-histórica que confere sentido ao presente)
Defensores
| Filosofia no Brasil e América Latina| 4. A problemática da totalidade
Críticos
• Octávio Paz
• Vicente Ferreira da Silva
• Roberto Gomes; U. Zilles; M. Reale; A. Paim; A. López Trujillo; R. Vélez Rodríguez; R. Uribe Ferrer; F. A. Santos; C. Rangel; A. Oliva; A. Wehling; B. Kloppenburg; R. Campos; T. Padilha; A. Lima; M. V. de Mello; R. Durand Flórez; J. G. Merquior; R. L. Torres; U.
HISPANISTAS
• A favor do iberoamericanismo
• Contra as influências materialistas e do liberalismo clássico • era necessário dar alguma participação às massas na gestão
dos negócios públicos, a fim de contrabalançar os desejos revolucionários
• a Espanha deveria zelar pela não penetração, no mundo ibero-americano, de culturas alheias ao espírito ibérico, especialmente a anglo-saxã e a francesa
• Os hispanistas inspiraram-se no "racionalismo harmônico" do filósofo alemão K. C. F. Krause (1781/1832)
• o uruguaio J. E. Rodó quem de forma mais direta inspirou-se nas ideias dos hispanistas
integração continental de ecumenismo ibérico
J. VASCONCELOS
• "Vasconcelos é hoje a figura de maior relevo intelectual em Hispano-América".
• fontes de inspiração: pitagorismo, no plotinismo, no cristianismo e no racionalismo de Leibniz
• Aos povos ibero-americanos, herdeiros do fenômeno estético e espiritual que consiste na "mestiçagem universal", iniciada por
espanhóis e portugueses, está destinada a missão de tornar realidade a "raça definitiva, a raça síntese ou raça integral" que, tendo a
Amazônia como centro, organizará a cidade do futuro, Universópolis, terceiro estado da Humanidade
integração continental de ecumenismo ibérico
L. LÓPEZ DE MESA
• ecletismo humanista influenciado, entre outros autores, por Espinosa (1632/1677), Comte (1798/1857), Planck (1858/1947), Whitehead (1861/1947), Santayana (1863/1952), Bergson (1859/1941), etc. • O povo é uma cultura ou, pelo menos, um ideal, e não simples
porção da raça ou parte do território“ – propõe a construção da consciência histórica
• Os latino-americanos devem construir o seu próprio destino, que é variado, mas unido numa grande fraternidade (Ibero-americana). Nesse esforço comum, devem ser exploradas as próprias riquezas e assimilada a técnica ocidental.
integração continental de ecumenismo ibérico
FRANCISCO ROMERO
• anti-positivista e espiritualista
• considera que América Latina será uma grande nação, em cujo seio conviverão pacificamente todos os povos latino-americanos.
• A verdadeira integração é, no sentir de Romero, aquela que se realiza à luz do pensamento filosófico
integração continental de ecumenismo ibérico