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Adiante com a nova esquerda independentista

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Vozeiro de Primeira Linha

www.primeiralinha.org

Ano X • Nº 36 • Segunda jeira • Abril, Maio e Junho de 2005

Nem espanholismo, nem autonomismo

Adiante com a nova

esquerda independentista

Nem espanholismo, nem autonomismo

Adiante com a nova

esquerda independentista

Sumário

A nova esquerda independentista que começou a fraguar-se há menos de umha década tem acumulado neste breve período de tempo um considerável capital humano, ideológico, mas sobretodo de acçom sócio-política, essencial para poder lograr alguns dos mais elementares objectivos tácticos que se perseguiam a fi nais da década de noventa. Embora sejam modestos os logros, som enor-mes os desafi os que temos diante de nós.

A confi guraçom do moderno MLNG nascia sob os parámetros da pluralidade ideológica e política, da necessária unidade organi-zativa em estruturas comuns, e do abandono do consignismo estra-tégico mediante umha prática centrada na intervençom táctica sobre a realidade concreta. Estes três eixos tenhem sido a chave da evidente consolidaçom, avanço e expansom, experimentado nesta incompleta década. No entanto, subsistem no seu seio umha série de tendências que, por activa ou por passiva, continuam ancora-das na inércia conformista da ausência de objectivos tangíveis, na satisfaçom com a marginalidade grupuscular e no autismo de quem carece de mais horizonte que perpetuar os erros de um passado que cumpre conhecermos para aprendermos dos seus acertos, mas superando sempre qualquer cativeiro nostálgico.

A nova esquerda independentista está a construir um projecto sócio-político global e autónomo, que questiona de raiz o modelo social neoliberal vigorante na Galiza, a dependência nacional, e a específi ca marginalizaçom que padece metade da populaçom, as mulheres, e de postulados revolucionários procura a sua completa transformaçom. Isto nom só signifi ca sermos um movimento estig-matizado polos aparelhos repressivos do regime; também signifi ca traçar umha demarcaçom clara e inequívoca com a corrente hege-mónica do nacionalismo galego, actualmente instalada numha clau-dicante prática autonomista. Embora na teoria este irrenunciável princípio semelhe ser compartilhado pola totalidade dos agentes que conformamos a esquerda soberanista e socialista galega, a realidade desmente esta afi rmaçom.

Um sector do MLNG mantém umha preocupante dependência sentimental, e mesmo política, do autonomismo. Continua fascinado pola mitifi cada trajectória do seu passado e polos indiscutíveis ser-viços emprestados à causa nacional galega, nom assumindo que a dia de hoje o BNG e as suas entidades satélites som um contraditó-rio instrumento mais do processo desgaleguizador e alienante que o capitalismo espanhol exerce na Galiza. Sabemos que esta

for-mulaçom gera mal-estar em sectores bem intencionados da base social nacionalista, e também em sectores independentistas; mas, deixando de parte desapaixonados subjectivismos, e aplicando a interpretaçom materialista do marxismo, é um contundente diag-nóstico que nom pode ser questionado, nem rebatido, pois está sufi cientemente contrastado nos factos da gestom municipal das grandes cidades onde governa ou co-governa, e pola prática polí-tica nas instituiçons em que tem representaçom.

Existe umha obsessom por lavar a cara do autonomismo, por evitar chamar as cousas polo seu nome, por justifi car decisons e comportamentos intoleráveis, por compreender a sua contínua submissom ao regime, por gerar falsas contradiçons dimensio-nando pontuais posicionamentos que calculadamente procuram criar confusionismo e evitar a perda de referencialidade entre aqueles sectores aos quais ainda nom caiu a venda dos olhos.

Logicamente, o autonomismo acompanha com certa atençom esta realidade mediante indissimulados gestos aos bons indepen-dentistas frente aos maus indepenindepen-dentistas. Som bons aqueles que, sem terem superado o complexo de Édipo, nom questionam a sua plena integraçom na monarquia imposta por Franco, bus-cando o aplauso e a compreensom. Que ingenuidade!. Som maus aqueles que optamos por denunciar as ineludíveis responsabilida-des do autonomismo pola má saúde do movimento popular, que apostamos por continuarmos avançando no caminho encetado sem solicitarmos autorizaçom a ninguém, sem pensarmos, nem nos preocuparmos, polos seus interesses, nem confundi-los com os da Naçom e do nosso Povo Trabalhador. Nom há que ser muito hábil para compreender que o que realmente se procura é dividir e neutralizar a consolidaçom do novo projecto de mobilizaçom e luita que necessita a classe trabalhadora galega. Mas alguns preferem dançar numha sala fechada aos estritos acordes da velha e elitista orquestra, em lugar de construir umha nova sinfonia para actuar com plena liberdade na intempérie deste povo.

Nom é a primeira, nem será a última vez que, das páginas do jornal comunista do MLNG, esclarecemos o papel jogado polo BNG e o conjunto de entidades supeditadas aos seus interesses, na consolidaçom da pseudemocracia espanhola na Galiza. O actual BNG tem emprestado nos últimos cinco anos grandes serviços ao bloco de classes oligárquico espanhol, renunciando ao exercício de autodeterminaçom, assumindo a arquitectura jurídico-política do

Editorial

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Contra a mística e o idealismo no MLNG

André Seoane Antelo

4

Algumhas notas para um debate a respeito

do laicismo

Domigos Antom Garcia Fernandes

5

Viva o matrimónio?

Igor Lugris

6

Processo de normalizaçom do euskara e

construçom nacional

Mikel Irastortza

7

O País Valenciano e a articulaçom dos

Països Catalans

Toni Gisbert

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Vota NÓS-UP

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Nº 36. Abril, Maio e Junho de 2005

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regime (Constituiçom espanhola e Estatuto de Autonomia), contribuindo com a sua prática para a normalizaçom democrática, negando a existência de um confl ito político, domesti-cando o movimento popular (o famoso dique de contençom da enxurrada de indignaçom popular –Beiras dixit), colaborando aberta-mente e sem o mais mínimo pudor na crimi-nalizaçom e repressom da esquerda indepen-dentista. Com vinte e cinco anos de atraso, aplicárom a lógica da Transiçom, realizárom idêntico percurso que o PSOE e o PCE no período 75-77. A dia de hoje, a prática hege-mónica do BNG nom colabora na construçom nacional: nem no ámbito lingüístico e cultural, nem na denúncia da espanholizaçom, nem na paulatina ruptura quotidiana com Espanha, nem no combate ao neoliberalismo. A direc-çom do autonomismo é hispanodependente, é patologicamente anti-independentista.

Tam só o colonialismo mental de fi lhos pródigos, de quem por um natural temor às adversidades, pola cobarde comodidade, pola lógica ansiedade emanada da solidade polí-tica e social, se nega a ver a realidade, explica essa tendência suicida a continuar à espera dum milagre na casa paternal. Mas como os milagres nom existem, nem tampouco é viável que no interior do autonomismo tenha lugar um cataclismo político que modifi que a orien-taçom imposta pola pequena-burguesia, os sectores que continuam a acreditar nos factos inexplicáveis polas leis da natureza, ou bem se despreendem defi nitivamente desse cordom umbilical, ou entom devem ser conseqüentes com o seu reverencial seguidismo. Porém, tal como as árvores impedem ver o bosque, a sua composiçom de classe pequeno-burguesa nom facilitará a superaçom desta tara.

Na Galiza, a dia de hoje, nom é factível construirmos o projecto revolucionário que representa o MLNG sem mantermos umha crítica radical e implacável, sem concessons, nem compreensons, ao que signifi ca o refor-mismo autonomista como cúmplice, activo ou passivo, da preocupante situaçom em que se acha a consciência nacional galega e na des-mobilizaçom dos sectores operários e popu-lares.

A esquerda independentista deve seguir avante o seu processo de consolidaçom com umha prática coerente que procure a referen-cialidade com base na negaçom do presente e num avançado programa de luita, que é o nosso melhor aval, a única alternativa real que podemos apresentar e oferecer ao povo trabalhador galego. Nom devemos nada a ninguém, nom temos dívidas, nem hipotecas, nem mais obrigaçom do que o nosso insu-bornável compromisso com a Galiza e a sua maioria social.

Eis os parámetros sobre os quais temos de agir. Sobre os que temos que compreen-der e enquadrar as agressons que nos diri-giu a corrupta burocracia sindical após os sucessos do 1º de Maio em Vigo, quando as forças de ocupaçom espanholas e a polícia local carregou contra a manifestaçom da CIG, espancando operári@s, e praticando três detençons. A repugnante atitude colabora-cionista de destacados dirigentes sindicais, dando instruçons de quando havia que reali-zar detençons, assim como identifi cando mili-tantes independentistas, nom é nada novo, nem devia surpreender ninguém. A reduzida participaçom nas manifestaçons deste 1º de Maio som fruto da desmobilizaçom social provocada polas falsas expectativas geradas polo Governo de Zapatero, mas também por umha errónea prática sindical que supedita a acçom operária aos interesses eleitoralis-tas. Quem instrumentalizou a manifestaçons da CIG fôrom aqueles dirigentes que, a partir dos privilégios que lhes concede intervir na tribuna, fi gérom implicitamente campanha eleitoral polo BNG, saltando a independência

política recolhida nos princípios da central, e nom aqueles sectores combativos que ques-tionárom, com umha prática característica da mais avançada luita de classes, a normalidade democrática que nos querem fazer comungar aqueles que há anos deixárom de acreditar no potencial revolucionário do proletariado, e só aspiram a perpetuarem os seus bons salários e privilégios como liberados eternos.

A purga adoptada pola Executiva da CIG, declarando non grata umha força política legal, que só intervém dentro da legalidade em vigor, como é NÓS-UP, além de carecer de qualquer base jurídica e estatutária, é umha esclarecedora liçom da prática criminaliza-dora e intoxicacriminaliza-dora do reformismo. A histó-ria da classe obreira galega e internacional está pragada de episódios como este. @s revolucionári@s sabemos que o reformismo, com as suas diversas modalidades e varian-tes, nom tem limites à hora de contribuir para afogar, e mesmo destruir os sectores mais avançados da classe, em aras de lograr e afi ançar a respeitabilidade e confi ança da burguesia. A direcçom da CIG vem constatar mais umha vez o que está gravado a ferro e fogo na história da emancipaçom do Trabalho contra o Capital. No entanto, nom devemos resignar-nos, como tampouco devemos assu-mir umha decisom que nom vai ser factível aplicar. Umha parte signifi cativa da militáncia comunista, e das entidades do MLNG, fazemos

parte da CIG, e nem vamos ir-nos, nem vamos permitir que nos expulsem do sindicato.

* * *

As vindouras eleiçons ao Parlamento da Comunidade Autónoma Galega detur-pam a realidade do País, a grave situaçom de umha boa parte dos sectores populares, gerando virtuais ilusons. A hipotética perda da maioria absoluta do PP em aras de um governo alternativo conformado polo PSOE-BNG, tem gerado importantes expectativas em amplos sectores populares sob a direc-çom da pequena-burguesia, verdadeiro motor dessa mudança de governo seguindo a lógica da alternáncia política. Mas este “atractivo” discurso carece de qualquer base real se

analisarmos as experiências dos governos municipais dos grandes núcleos urbanos. As três forças políticas institucionais, -PP, PSOE, BNG-, além das suas naturais diferenças ide-ológicas e políticas, mantenhem um idêntico fi o condutor nos elementos chave, caracte-rizando-se por nom questionarem o modo de produçom capitalista, nem a dependência nacional da Galiza. Os seus programas podem aparentar ser radicalmente diferentes, mas as suas práticas som bastante semelhantes.

19 de Junho a classe trabalhadiora galega nom joga nada; tampouco vai ter lugar umha batalha decisiva sobre o futuro da Galiza. Porém, sim é importante para conso-lidar o caminho andado que a esquerda inde-pendentista galega obtenha uns resultados que reforcem o seu projecto.

Embora nesta ocasiom nom fosse possí-vel umha única candidatura da esquerda sobe-ranista e socialista, pola ruptura unilateral dos acordos atingidos com NÓS-UP e o PCPG por parte da FPG, é importante nom deixar-se levar por essa superstiçom do Governo alter-nativo que superará todos os males erronea-mente ajudicados à era Fraga, nem polo mal chamado voto útil. A 19 de Junho, o único voto útil é aquele que apoia alternativas radical-mente contrárias à lógica da política espec-táculo, da corrupçom, da defesa do modelo capitalista, da opressom nacional da Galiza. Neste caso, o melhor voto, o de resistência e luita, para as mulheres, para a mocidade, para a classe operária e para o conjunto do independentismo é o das candidaturas de NÓS-Unidade Popular.

Quiroga Palácios, 42 (rés-do-chao) 15703 Compostela-Galiza • Telefone: 981 563 286

rua jasmins, 13•compostela•galiza•tlfne: 981 577 015

Tel.: 981 566 980 Tel./Fax: 981 571 373 Rúa Nova, 36 • Santiago

Paco Vázquez (PSOE) demostrando fidelidade à bandeira espanhola. Corunha, Maio de 2005

Santiago - A Coruña

EDITORIAL

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Cervantes, 5 baixo VIGO

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Nº 36. Abril, Maio e Junho de 2005

Umha das funçons dumha organizaçom revolucionária é o combate ideológico contra o pensamento único da burguesia, contra essa falsa consciência necessária que, empregando os mais variados mecanismos, provoca a alie-naçom de amplos sectores populares; mas também deve cumprir a tarefa de depurar ideias incorrectas das formulaçons teóricas do movimento no qual insere a sua intervençom teórico-prática.

No caso do Movimento de Libertaçom Nacional Galego, as ideias incorrectas como o esencialismo e o idealismo estám presentes desde os alvores da nossa história política, quando se confi guram as primeiras organiza-çons que pretendem a conquista da soberania para o nosso povo.

Porém, somos conscientes que essas manifestaçons idealistas nom caírom do céu, senom que respondem à natureza de classe que caracterizou a gestaçom e trajectória do nacionalismo galego, e que ainda hoje está presente nalguns sectores políticos do MLNG.

Nom podemos ignorar que o galeguismo histórico, o que se organizava nas Irmandades da Fala e posteriormente no Partido Gale-guista, era um movimento eminentemente pequeno-burguês, integrado, -quando menos no que toca à ampla maioria dos seus quadros dirigentes-, por profi ssionais liberais. Umha matriz pequeno-burguesa que transladou as suas incertezas, complexos e dúvidas congéni-tas como fracçom vacilante no meio da luita de classes entre proletariado e burguesia.

Foi este movimento, o galeguismo de pré-guerra, quem assentou as bases dumha teoria política do nacionalismo galego e que infl uiu grandemente nas formulaçons teóricas que se desenvolvêrom a posteriori, mesmo até os nossos dias. Já noutras ocasions Pri-meira Linha tem avaliado como a confi guraçom da esquerda nacionalista galega na década de sessenta do passado século fi cou presa dumhas conceiçons herdadas do PG que blo-queárom o desenvolvimento de postulados nitidamente independentistas como resposta lógica à opressom imperialista. Assim, um dos principais lastros que o galeguismo histórico deixou em herdança aos seus sucessores foi o dumha conceiçom política incapaz de superar o quadro hispánico.

Mas o certo é que essa conceiçom hispá-nica, teoricamente federal ou pseudoconfede-ral, mas que na praxe nom superou os pará-metros autonomistas, nom deu encontrado abrigo por razons óbvias no seio da esquerda independentista, edifi cada em grande parte precisamente em contra esse minimalismo pequeno-burguês próprio da Geraçom Nós, fi cando restrita ao campo próprio da corrente nacionalista maioritária que a elevou a dogma, o actual autonomismo galego.

Embora essa manifestaçom concreta do idealismo que é o hispanismo fi casse fora do quadro teórico-ideológico do MLNG, nom acon-teceu assim com outras heranças de natureza nom menos idealista. Estamos a referir-nos à conceiçom do sujeito nacional e, por extensom, à defi niçom de linhas políticas concretas que aparecem prenhadas de erros de importán-cia, ao propor umha acçom em que o sujeito material é ignorado para se centrar no apelo misticista e idealista a umha série de lugares comuns como som o sentimento, a Terra, o vexame, o sofrimento...

Nom podemos obviar que, a raiz da queda do sistema soviético nos começos da década de 90, um sector da esquerda independentista, como se o muro de Berlim lhe tivesse caído em cima, viveu umha involuçom ideológica que o retraiu das conceiçons próprias do naciona-lismo-popular da década de sessenta para as conceiçons mais avançadas do arredismo defendido pola Sociedade Nazonalista Pondal no Buenos Aires das décadas de 30 e 40 do século passado. E dizemos conceiçons mais avançadas polo que se refere ao contraste entre as formulaçons da SNP e o PG, nom entre este arredismo e as propostas da UPG de 60 e 70, que quando menos introduziam elementos analíticos marxistas nas suas formulaçons e parámetros.

Essa volta ao arredismo, longe de se con-verter numha anedota própria dumha etapa caracterizada pola perda do norte de muitos sectores e activistas da esquerda a começos da década de 90, continua presente, e onde melhor podemos achar um exemplo dessa con-ceiçom idealista é na agitaçom dumha palavra de ordem: a defesa da Terra, que um sector do nosso movimento elevou como bandeira, e à volta da qual pretende fazer girar a prática totalidade da acçom política do MLNG. Como nas melhores épocas do bardismo pondaliano, há quem hoje alce a voz para fazer apelos à sacra Terra e à Caste dos Celtas, sem o mais mínimo rubor. Hoje, neste país, há quem, recla-mando-se parte da nova esquerda independen-tista, nom dúvide à hora de falar de vexames e humilhaçons, negando qualquer possibilidade de quantifi caçom material da opressom nacio-nal. Há quem ignore, e queira fazer ignorar, que opressom e imperialismo som realidades tangíveis, e só dum jeito secundário sentimen-tais.

Nom seremos nós que pretendamos negar a especial relaçom que o povo

traba-Contra

a mística e o

idealismo

no MLNG

André Seoane Antelo

Aguardamos ter contribuído para esclare-cer um dos debates que no seio da esquerda independentista se estám a dar nos últimos anos. Debates que, para além do que alguns elementos situados dentro e fora do próprio MLNG interessados em ocultar umha reali-dade que lhe pode ser adversa podem dizer, respondem a mais algo do que simples luitas polo poder entre correntes, refl ectindo a rea-lidade da existência dum confronto ideológico derivado da extensom da luita de classes também dentro da própria esquerda indepen-dentista. A nossa intençom, como temos posto de manifesto ao longo do tempo, abrindo as páginas das nossas publicaçons a opinions nom coincidentes com as do nosso Partido, é a de que estes debates se dem dum jeito franco e aberto, já que entendemos que do contraste de linhas e que podem sair as directrizes cor-rectas que fagam avançar o nosso processo de libertaçom nacional e social de género. André Seoane Antelo é membro do CC de Primeira Linha

Porém, é precisamente esta consciência da especial relaçom entre a terra e o povo o que nos leva a descartar qualquer pretensom de sacralizaçom da ideia da Terra como ente ina-movível e eterno.

Ao longo dos séculos, o povo trabalhador galego modifi cou o seu habitat consoante as suas necessidades roturando terras, esca-vando minas, introduzindo novos cultivos, etc... Elementos paisagísticos que hoje consideramos naturais, como o monte baixo constituído por tojos e gestas, nom som tam naturais como poderia parecer, senom que fôrom provocados pola acçom humana para extrair um aproveita-mento económico da exploraçom do meio.

Evidentemente, as modifi caçons introdu-zidas nos últimos tempos na confi guraçom e ordenamento territorial galego, derivadas da imposiçom a marchas forçadas da lógica pre-dadora do capitalismo, nom podem ser compa-radas com as mudanças que o povo trabalhador galego provocou em milhares de anos. A agres-sividade do novo modelo económico, e sobre-todo a sua adequaçom a factores exógenos à

negar, a realidade mutável da relaçom que @s galeg@s estabelecemos com o território que habitamos. Se revermos os textos, artigos e discursos elaborados por essa corrente deter-minada do MLNG, em que a Defesa da Terra é colocada como elemento fundamental das teses teórico-ideológicas da esquerda inde-pendentista, nom demoramos a reparar na evidente carga mística que lhe é aplicada. A Terra deixa de ser o elemento material sobre o que assenta, em sentido literal, a vida do nosso povo, para se converter num ente ideal, de carácter imutável, que cobra vida para além da própria existência da naçom como colectivo humano. Como nas conceiçons próprias do ide-alismo romántico, tam caro a alguns dos gran-des autores da nossa literatura nacional como Pondal ou Pedraio, a Terra pom-se por cima de quem a habita.

@s comunistas galeg@s nom podemos compartilhar em modo algum as teses que sus-tentam esta conceiçom idealista e mística da Terra. Para nós, que defendemos a mais radi-cal e completa forma de humanismo, nom pode

à extensom de conceiçons erradas, alheias ao conhecimento científi co emanado da aplica-çom da dialéctica materialista como método de interpretaçom da realidade, que no meio ou longo prazo nom farám mais do que levar ao fracasso a esquerda independentista.

Para @s comunistas galeg@s, o sujeito activo da revoluçom e do processo de liberta-çom nacional é o conjunto do povo trabalhador galego, entendido como bloco das camadas populares da naçom galega sob a direcçom da classe operária, e toda refl exom teórica e proposta política que for feita a partir das cha-ves da esquerda independentista deve ter em conta a categoria do PTG como elemento cen-tral. Partindo desta premissa, deriva-se que a importáncia da defesa da Terra, entendida esta como a luita contra as agressons sobre o terri-tório e o meio natural provocadas polo capita-lismo, amparado na dominaçom imperialista, é subsidiária dos interesses objectivos do PTG e nom ao contrário. Ou como bem di o refraneiro popular “nom se pode pôr o carro diante dos bois”. Assim, nom há que cair no erro de elevar

OPINIOM

lhador galego estabeleceu com um território que vem habitando desde há milhares de anos. Certo é que a nossa confi guraçom como grupo étnico diferenciado nom se pode dar como concluída até o surgimento do idioma nacional na Idade Média, mas nom menos certo é que a base biológica populacional da Galiza se man-tivo sem grandes mudanças desde polo menos a Idade de Bronze, o que deriva dumha lógica identifi caçom povo-terra gerada polo trabalho ao longo dos anos e geraçom após geraçom.

Mobilizaçom contra o PGOM de Vigo

nossa realidade nacional, para nada preocupa-dos polas nefastas repercussons ambientais que na Galiza pudessem ter, estabelecem umha nítida delimitaçom entre as mudanças no terri-tório que se dérom antes e depois da entrada do modo de produçom capitalista na nossa rea-lidade.

Consideramos que quem agita a palavra de ordem da Defesa da Terra como eixo central da acçom política do nosso movimento está a cair no erro de ignorar, por mais que o pretenda

resultar-nos mais que estranho e aberrante a confi guraçom dum independentismo de matriz telúrica em que o sujeito de emancipaçom deixa de ser a hegemónica colectividade humana que confi gura o mundo do Trabalho, sendo esta substituída por um ente inconsciente como a Terra.

No nosso empenho pola depuraçom de toda conceiçom idealista das bases teóricas do nosso movimento de libertaçom nacional e social de género, nom podemos dar margem

o que é secundário numha relaçom dialéctica à categoria de principal, tal e como alguns/has companheir@s do MLNG fam ao colocarem a Terra à frente do Povo Trabalhador.

Estamos a dizer com isto que nom há que prestar atençom à questom da luita contra as agressons ambientais no nosso país? Nom tal. Simplesmente estamos a pôr de relevo que essas agresons contra a Terra nom teriam relevo algum se nom houvesse um povo a viver acima dela.

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Nº 36. Abril, Maio e Junho de 2005

ACTUALIDADE

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Algumhas notas

para um

debate

a respeito do

laicismo

Domingos Antom Garcia Fernandes

A modo de limiar

A hesitaçom que vou amostrar, aguardo que contribua para recordar minimamente algumha das múltiplas faces de tam controvertido tema. Pensei em acudir à história para recordar o pro-cesso de segregaçom das esferas pública e pri-vada e como a religiom (haveria que precisar que religiom, onde e como) transita para esse recanto da vida pessoal opaco para a lei pública (também teríamos que precisar em que medida)- e aí have-ria que recordar o modelo republicano, frente ao mais conhecido discurso do liberalismo clássico (um pacto social de cara a poder perseguir em paz os fi ns privados), que assevera que o Estado de Direito nom assenta numha natureza povoada de sujeitos soberanos, aliás, numha paisagem de comunidades pré-democráticas em que a religiom é o principal aparelho de submissom ideológica- …

Além do mais, matinei na possibilidade de oferecer os principais argumentos que esgrimem os defensores da presença da religiom nas esco-las por razons de crença, de pragmatismo ou de jogo aparentemente democrático; os dos abolicio-nistas que podem situar-se em pólos tam opostos como o misticismo ou a ilustraçom –mesmo exis-tem os partidários de abolir para evitar a hege-monia de umha determinada confi ssom; os neu-tralistas que julgam, na linha de Voltaire, que as diferentes superstiçons acabariam por se destru-írem mutuamente –que aconteceria se um cató-lico, um mussulmano, um evangelista, um judeu, etc., tivessem oportunidade de se explicarem nas salas de aula ante os da sua crença e das outras crenças, num género de ecumenismo?; os racio-nalistas que julgam que umha matéria de Religiom neutral, que estudasse, por exemplo, o fenómeno religioso ao longo da história, poderia servir para liquidar, dissolver a falsa consciência…

Mesmo cavilei em contrastar os artigos da Constituiçom espanhola em vigor e o artigo 3 da Constituiçom da República Espanhola de 1931, que dizia que “O Estado espanhol nom tem reli-giom ofi cial”, ou o artigo 25 que manifesta que “nom poderám ser fundamento de privilégio jurí-dico: a natureza, o sexo, a classe social, a riqueza, as ideias políticas e as crenças religiosas…”, ou o artigo 27 em que se declara que “todas as confi ssons poderám exercer os seus cultos pri-vadamente…”, ou o artigo 48 em que se declara que o ensino será laico… também passou polo meu magim acudir à sociologia de Bourdieu para explicitar a génese social do campo religioso e adentrar-me um pouco na temática da violência simbólica, umha violência nom percebida, funda-mentada no reconhecimento, que se obtém por um trabalho de inculcaçom, por parte dos domi-nados da legitimidade da dominaçom…; tratar de ver como as relaçons de força (violência física) se transmutam em relaçons de sentido (técnicas mais suaves), como o poder físico se muda em poder simbólico, como se gasta força para fazer a força irreconhecível, como se encarnam, cor-porizam, somatizam, as crenças, como se negam simbólicamente as diferenças (a condescendên-cia como afabilidade), como as festas suspen-dem temporariamente a boa educaçom, as boas maneiras; como os ritos institucionais se con-vertem em performativos… Mas optei por algo mais doado: lembrar as alíneas correspondentes do texto que serviu de base a diversas interven-çons em contra da Constituiçom europeia e ainda o texto como moderador numha mesa convocada pola Aula Castelao de Filosofi a. E pareceu-me que nom sobraria para concluir umha brevíssima refl exons à volta das posiçons de Marx e Lenine sobre este tema –em modo nengum para acudir ao critério de autoridade, mas pola vigência das suas ideias.

Em contra da Constituiçom europeia

Comentando o preámbulo da mesma dizia: “Umha herança religiosa a partir da qual se desenvolvêrom os valores universais dos direitos

invioláveis e inalienáveis da pessoa humana… porque se afana em amostrar as mitologias, as visons falsas, trascendentalistas e hierárquicas como libertadoras? Onde fi ca a autonomia dos seres humanos, o senso da vida e da terra, o hori-zontalismo, a democracia nom delegada? Onde fi ca o sapere aude (ousa fazer uso da tua própria razom!) da Ilustraçom? Embora, seja todo dito, usam também as grandiloqüentes, eufónicas e vagas palavras: herança cultural e humanista”.

E, concretizando mais, dentro de umha alínea sobre “A ideologia pseudodemocrática, de Direi-tos Humanos e antilaica”, explica: “Direi mais algo desta última (estava a referir-me ao antilai-cismo), visto que em I-52 se refere a respeitar e a nom pré-julgar o estatuto reconhecido nos esta-dos membros, em virtude do direito interno, às igrejas, associaçons ou comunidades religiosas. E pasmem-se também o estatuto de organizaçons fi losófi cas e nom confi ssionais. Nada menos que as religions (mitologias) à altura das fi losofi as (se bem que nom alude à fi losofi a com maiúscu-las, senom à associaçom de carácter fi losófi co, qualquer cousa como clubes de pensamento.

Nom percebem que é a forma de dar cabimento legal às crenças e procurar a sua equiparaçom com outras opinions? Nom será o jeito de insta-lar umha espécie de relativismo cultural? Umha aparente liberdade e toleráncia para dissimular a gaiola de ferro dos monopólios económicos. Umha aparente liberdade e toleráncia para dis-simular a gaiola de ferro dos monopólios econó-micos. Embora isso nom seja todo. Na alínea 3 assenta que a Uniom manterá um diálogo aberto, transparente e regular com as citadas igrejas e organizaçons… em face a isso, e sem sair da óptica liberal, cumpriria reclamar um laicismo de cara a nom mudar os dogmas em normas éticas. Em contra da fi losofi a de tal artigo, teríamos de reivindicar, no mínimo, que as crenças religiosas pudessem ser um direito, mas nunca um dever para a colectividade; as confi ssons poderám falar de pecados para os seus adeptos, mas nom indicar o que tem consideraçom de delito; som as religions que tenhem de acomodar-se às leis e nom ao contrário; nas escolas só há cabimento para conteúdos científi cos e para discussons fi lo-sófi cas de carácter axiológicos, mas nom para

catequéticas, doutrinamentos… Nom se esqueça que o cristianismo apareceu como confi ssom para sair das confi ssons, surgiu em contra dos ídolos do Império romano, convertendo-se logo em ideologia/idolatria estatal… E que se passa com as outras crenças? O laicismo é umha afi r-maçom da consciência livre do indivíduo e da sua privacidade… As religions nom podem ser entidades de Direito Público… E o respeito ou é mútuo ou é desistência. Se a Igreja Católica é beligerante, o laicismo nom pode fi ngir que nom é interpelado (…) De todos os jeitos, gostava de explicitar um pouquinho ou no mínimo –e som consciente de que os paralelismos que vou fazer podem ser questionados a partir da lógica-: de modo semelhante a como em Física nom se opta entre Einstein e Aristóteles; a como em Química nom se elege como alternativa a alquimia; a como o criacionismo em Biologia nom concorre com o evolucionismo; a como a Astronomia nom dá opçom à Astrologia…, também o laicismo deveria suplantar os ateísmos, ou mesmo o que se pode-ria nomear sem mais como racionalismo, pois afi nal essa toleráncia fai parte do submetimento

dos de sempre ao poder ideológico das classes dominantes. Invadir de pluralismos ideológicos aparentes fai parte da estratégia burguesa para nom ter de renunciar aos privilégios. Sob umha aparente liberdade, oculta-se umha desiguladade que muda a democracia em puro palavrório…”

Texto como moderador

“(…), pois bem sabem que o meu pensamento é politicamente incorrecto e nunca me declaro agnóstico, porquanto que, de jeito semelhante a como a provisoriedade dos saberes científi cos nom é impedimento para formular enunciados e estabelecer leis ou tendências, também o nom poder dizer com segurança que Deus nom existe –sim há muitos mais deuses, ídolos, dos que se precisam!– nom tem de conduzir a que nom asse-veremos que esse Deus qualifi cado como omni-potente e providente nom anda por aqui, ou está de férias, ou, como diriam os epicuristas, acha-se ocupado nos seus assuntos. Sou, portanto, ateu. Mas também nom gosto de dizer que sou laicista –o que nom pretende indicar que nom poda ser a favor de muitas teses e atitudes do laicismo (nomeadamente neste tempo de fundamentalis-mos e de unidimensionalidade, lembrando o velho Marcuse, propagada polos mass media). Verá-se facilmente o porquê nas perguntas que vou for-mular ao moderador. Porém, também desejava, adiantando-me a que se pudesse julgar que sou pouco respeitoso com as diferentes ideologias ou crenças, que se di que existem nessa sociedade, polos vistos “plural”, que de forma parecida à de um professor de Matemática que nom deixa de ser tolerante por indicar que está mal resolvida umha integral, também um fi lósofo, entendido como o triturador de mitologias, como alguém que nom tem de poupar nada nem ninguém à crítica, deve silenciar a crítica ideológica por um falso e hipó-crita respeito às crenças secularmente instaladas, visto que o que há que respeitar som as pessoas, por mais que abales as suas ideias, e elas as tuas –e acho que a maior falta de respeito é entrar mudo e sair calado, julgar que o teu contertúlio (pobrinho!) nom compreende (talvez algum dia!) e nom contrastar com ele diferentes pareceres. Simplesmente, ignorá-lo e menosprezá-lo.

E agora, vamos ao caso. As teses básicas do laicismo som: “A laicidade, pedra angular do pacto republicano, apoia-se em três valores que nom podem ser dissociados: a liberdade de cons-ciência, a igualdade no direito das opçons espiri-tuais e religiosas e a neutralidade do poder polí-tico. A liberdade de consciência permite a cada cidadao eleger a sua vidad espiritual ou religiosa. A igualdade no direito proíbe quaisquer discrimi-naçons ou coacçons e postula que o Estado nom dê preferência a nengumha opçom. Por último, o poder político reconhece os seus limites e abs-tém-se de toda intromissom no domínio espiritual e religioso.

A laicidade traduz-se pois numha conceiçom do bem comum. Para cada cidadao poder reco-nhecer-se na República, esta priva o poder polí-tico da infl uência dominante de quaisquer opçons (…) de cara para poder conviver.

Este ideal é fruto da história. Nom é um valor intemporal desligado da sociedade e das suas

A 31 de Maio, o nosso partido fai três anos desde que, a 31 de Maio de 2002, fora activado o portal que garante a presença comunista galega na rede. Numha altura em que a presença na Internet de organizaçons políticas nacionalistas da Galiza era totalmente marginal, Primeira Linha apostou por umha introduçom séria na rede, convertendo-se em pouco tempo em referente inescusável do soberanismo galego nesse espaço comunicativo.

A perspectiva que nos dam estes três anos de vida, o balanço difi cilmente poderia ser mais positivo, tendo em conta as difi culdades, limita-çons e escasseza de recursos que sempre enfren-tamos. O trabalho d@s camaradas encarregados do labor de comunicaçom na Internet garantiu neste tempo a actualizaçom constante, quase diária, dos conteúdos oferecidos, que vam muito além das informaçons partidárias. Com efeito, Pri-meira Linha em Rede permite consultar os nossos textos congressuais, comunicados, publicaçons e actividades do Partido, tais como as Jornadas Independentistas Galegas que anualmente orga-nizamos. Aliás, e progressivamente, estám a ser pendurados todos os números do nosso vozeiro trimestral, Abrente, e a Biblioteca Marxista em

Galego ultrapassa já amplamente a meia centena de livros e artigos clássicos de autores e autoras marxistas.

Mas o nosso portal apostou desde o primeiro momento por abranger informaçons de actualidade dos mais diversos ámbitos da vida política, social e cultural galega e internacional. Com toda a modéstia e seriedade que a iniciativa merece, Primeira Linha em Rede representa umha visom galega do que no mundo acontece, incluindo umha interpretaçom pró-pria e nunca ocultada nas falsas neutralidades dos media sistémicos. A nossa é umha perpectiva comu-nista, independentista e antipatriarcal, aberta aos processos revolucionários que sacudem o mundo, que apoia com as forças de que dispomos a luita internacional polo derrubamento do capitalismo, pola sociedade comunista, sabendo que a emanci-paçom nacional é mais clara expressom dessa luita na nossa pátria, na Galiza.

Três anos depois da activaçom de Primeira Linha em Rede, quando já outras organizaçons soberanistas galegas tenhem também incorpo-rado a Internet como mais umha frente de tra-balho político, a contagem de visitas ao nosso portal confi rma sem lugar a dúvidas um

cresci-Primeira Linha em Rede

cumpre três anos de bem sucedida

Primeira Linha em Rede (visitantes)

Ano 2002 Ano 2003 Ano 2004 Ano 2005

0 10000 20000 30000 40000 50000 Computadores Visitas Maio Abril Março Fevereiro Janeiro Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro Dezembro Novembro Outubro Setembro Maio a Agosto

Zapatero garante a Blázquez os acordos de 1979 com a Igreja

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ACTUALIDADE

Nº 36. Abril, Maio e Junho de 2005

A reforma do Código Civil espanhol (C.C.), aprovada no Congresso dos Deputados no passado dia 21 de Abril, levada adiante polo Governo do PSOE, com o apoio doutras forças políticas, para legalizar os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, outorgando-lhes todos os direitos inerentes à vinculaçom conjugal, é, em termos puramente técnicos, bem simples e singela. Basicamente, consistiu na modifi caçom de muitos dos artigos do C.C., substituindo lá onde apareciam os termos “homem” e “mulher” por “cônjugue” ou “progenitor”. O novo texto reformado, que o Governo considera que poderá benefi ciar um número aproximado de quatro milhons de pessoas, concede os mesmos direitos em fi scalidade, heranças, pensons, adopçons por parte de casais, etc... aos até o de agora nom permitidos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. O texto acha-se em trámite parlamentar, tendo de passar ainda polo Senado, para voltar mais tarde novamente ao Congresso, mas todo indica que a reforma será fi nalmente aprovada sem grandes complicaçons, dada a maioria que o PSOE e os seus sócios tenhem na Cámara.

Nom é o Estado espanhol o único que pretende realizar reformas semelhantes. Ainda que nom é informaçom amplamente difundida, som vários os estados de todo o mundo onde há, ou se prevê que venha a haver, reformas semelhantes e mesmo algum onde o casamento homossexual já está legalizado, como é o caso do Canadá, que analisa umha lei federal para os legalizar. A Holanda e a Bélgica fôrom os primeiros estados a eliminar qualquer distinçom entre homossexual e heterossexual, eliminando todas as referências de género nas leis de matrimónio, e na Dinamarca as unions civis com os mesmo direitos que o matrimónio realizam-se desde 1989, e outros países da sua área fi gérom o mesmo na decada de 90.

Resulta especialmente chamativo que no Estado espanhol umha reforma destas características, que supom um “fi to histórico” segundo as declaraçons de alguns dos membros do Governo e do partido que o sustenta, tenha provocado tam poucas análises e refl exons, especialmente por parte da esquerda, das esquerdas, entendendo estas no seu mais amplo e plural signifi cado, ao tempo que provocou um dos maiores debates, umha das mais azedas polémicas, especialmente mediáticas, dos últimos anos. Procurando nas hemerotecas ou na Internet, podemos encontrar centenas, dúzias de centenas, de declaraçons, a favor ou contra, mas practicamente nengumha análise, nenguma refl exom sobre o tema. Assim, por exemplo, surpreende que por parte da esquerda, ou quando menos daqueles sectores da esquerda que nunca fôrom excessivamente partidários da instituiçom do matrimónio tal e qual até agora a conhecíamos (o casamento heterossexual), e que criticava tal instituiçom por ser um alicerce básico do sistema patriarcal e umha célula fundamental para a reproduçom do sistema capitalista, a partir dessa esquerda, digo, surpreende que nom existam praticamente análises, sobre o tema. E ainda mais surpreende que nom exista nengum tipo de refl exom sobre os motivos que levam o PSOE a promover umha tal reforma, enfrentando-se nom só à direita e ultradireita política e sociológica e à Igreja católica e mesmo algumhas outras confi ssons

religiosas, mas também a umha parte do seu eleitorado e dos seus membros (como se pudo ver ante as posturas mantidas por destacados militantes do PSOE como Francisco Vasques). Serám essas as duas questons fundamentais que pretende tratar este artigo, escrito tendo em conta que esta vai ser um dos grandes “contributos”, umha das “promessas cumpridas”, um dos temas-estrela, que o PSOE, e especialmente ZP, podam apresentar no fi m do seu mandato.

Pode ser a instituiçom do matrimónio umha ferramenta de transformaçom social?

Comecemos por afi rmar que é umha questom de justiça social o reconhecimento de direitos a colectivos dicriminados. Todas aquelas acçons que conduzam para evitar ou acabar com discriminaçons que impossibilitam a igualdade (mesmo que seja umha igualdade só formal e nom real) entre as pessoas som sempre passos positivos que devem ser valorizados como avanços importantes. A legalizaçom, com todos os direitos e deveres, dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, fruto das luitas e campanhas dos movimentos de gais e lésbicas ao longo de várias décadas, nom fai mais que acabar com umha evidente injustiça, que nom permitia (com base em razons morais, religiosas ou ideológicas), que um amplo colectivo de pessoas pudesse gozar dos mesmo direitos que outras por motivos da sua escolha sexual. Até aí estamos de acordo.

Umha das razons que esgrimia, e ainda esgrime, a hierarquia da Igreja católica para se

situar contra os casamentos entre pessoas do mesmo sexo é que vai ser umha iniciativa que vai “destruir o matrimónio tal e qual até o de agora o conhecíamos”. Converte-se esta numha razom para quem é a favor desta iniciativa e ao mesmo tempo é contra a instituiçom do matrimónio, quando menos o matrimónio tal e qual até agora o conhecíamos. A situaçom, para nos explicarmos melhor, é semelhante à que se criou quando ainda existia o Serviço Militar Obrigatório no Estado espanhol, quando havia um amplo e forte movimento contra o mesmo, e as mulheres começavam a incorporar-se ao exército. Era positivo, era defendível, era revolucionário, que as mulheres tivessem que fazer também a mili, ou que se incorporassem ao exército? Era sem dúvida um reconhecimento dos direitos das mulheres, mas era um passo adiante?

Neste caso sucede o mesmo: porque o movimento das lésbicas e os gais (ou, quando menos, umha parte destacada do mesmo), tem tanto interesse em participar dumha instituiçom tam retrógrada, tam patriarcal, tam capitalista como o matrimónio? Nom teria sido muito melhor um movimento que questionasse essa instituiçom, de origem evidentemente religiosa, na procura dumha outra forma de relaçom social, muito mais livre, muito mais democrática, muito mais progressista? Evidentemente, nem só as pessoas homossexuais som as que deveriam ter criado esse debate, mas o conjunto das pessoas, organizaçons, colectivos e movimentos que nos defi nimos como contrárias ao mundo capitalista actual, o mundo realmente existente, e luitamos por um outro mundo possível. E pode

que aí tenhamos a resposta.

Os e as homossexuais nom som, per se, transformadores. É umha evidência, mas muitas vezes as evidências som questons que há que deixar patentes porque se esquecem com facilidade. As organizaçons de gais e lésbicas que com mais decisom apoiárom e defendêrom publicamente a reforma do C.C., aquelas que nom tenhem reparos em mostar a sua proximidade com o PSOE, ou em menor medida com IU como sócio do anterior, nom som, nem muito menos, organizaçons transformadoras, mas puramente reformistas. Umhas declaraçons de Beatriz Gimeno1, recém eleita, por segunda vez consecutiva, Presidenta da Federaçom Estatal de Gais, Lésbicas e Transexuais (Felgt), que agrupa 32 associaçons, resultam esclarecedoras. Perguntada sobre a anunciada manifestaçom que a ultradireita espanhola convoca para 18 de Julho em Madrid contra a reforma do C.C. e do casamento homossexual, a sua resposta é: “Nós respeitamos que se manifestem. Mas os direitos nom se ganham na rua, ganham-se no Parlamento”. E ainda, mais adiante, afi rma que “as associaçons (de gais e lésbicas) vamos ter que mudar a forma de actuar (...) Passamos dumha luita de trincheiras (...) a umha luita mais de gabinetes, projectos e programas; mais social e de colaboraçom com as instituiçons”. Como tem acontecido noutras ocasions de governos social-democratas, a “institucionalizaçom” dos movimentos sociais, a sua integraçom na vida dos gabinetes e a sua desapariçom do espaço próprio dos mesmos, a mutaçons…”

As palavras anteriores procedem do preám-bulo do Relatório Satasi.

E as minhas perguntas seriam duas e muito breves (…): 1/ O que entender por liberdade de consciência? 2/ Como separar o público do pri-vado? Esclareço isto último, pois boa parte das condutas consideradas privadas incidem no que poderíamos denominar dimensom ecológica. E mesmo, de serem humanistas e antropocêntricas, descaem para a Ecologia Social. Quem negaria a incidência do carro privado na predaçom energé-tica do Planeta, na insalubridade das cidades…? Quem negaria a incidência da especulaçom sani-tária privada na saúde comunisani-tária? (mesmo é de plena evidência a relaçom entre saúde e classe social, a monetarizaçom da saúde, os interesses crematísticos dos laboratórios farmacêuticos…) Quem negaria a incidência das formas de vida, que se proclamam particulares, individuais (é a minha vida, é o meu dinheiro!) na vida colectiva? (….)”. O texto continua a perguntar a si próprio se o tema do véu nom será mais do que um luitar contra fundamentalismos e patriarcalismos, umha forma de exprimir o incómodo que ocasionam os nom europeus, nom brancos, nom cristaos, nom das classes médias ou altas… numha palabra: os pobres. Mais umha vez, nestas democracias formais ou de baixa intensidade que declaram cidadaos e tenhem súbditos oculta-se o racismo, a xenofobia e o classismo.

Brevíssima reflexom a respeito das posiçons de Marx e de Lenine

Quase que telegrafi camente, gostava de tra-zer à memória a conhecida expressom de Marx sobre a religiom como o ópio do povo ou aquela outra de expressom da miséria real e protesto em contra de tal miséria… e lembrar ainda que os fenómenos religiosos som abrangidos como ideologia, que legitima as relaçons de produçom existentes… a religiom viria, em boa medida, determinada polo modo de produçom, e seria, além do mais, umha forma de falsa consciência… mas nom me resisto a nom citar um texto da Crí-tica do programa de Gotha (1875): “(…) cada qual teria de estar em condiçons de atender às suas necessidades religiosas do mesmo jeito que às suas necessidades físicas, sem que a polícia metesse o bico nisso. Mas o partido dos operá-rios (…) devia exprimir o seu convencimento de que a “liberdade de consciência” burguesa nom é outra cousa que a toleráncia de todas as formas possíveis de liberdade de consciência religiosa e que, por sua vez, fai um esforço por libertar a consciência do malefício da religiom. Mas pre-fere-se nom ultrapassar o nível “burguês”…” Umha crítica azeda e de tanta acutalidade para a esquerda lingüística que deixou há tempos de ser esquerda real.

Lenine insiste em evitar qualquer luita frontal contra a religiom, que teria mais a ver com o anti-clericalismo burguês do que com o marxismo. A social-democracia europeia exprime o seu ponto de vista com umha frase lapidária: a religiom é um assunto privado. Mas precisa que para o par-tido nom é um assunto privado. A luita ideológica contra a religiom é um momento importante da luita de classes. Outra cousa é que o partido assuma que as relaçons do Estado operário com a religiom conduzam para a aceitaçom da liberdade religiosa… o partido, de qualquer maneira, nom se declara ateu, pois o seu inimigo é o capitalismo e nom a religiom. Pois a contradiçom fundamental é a que se dá entre o capitalista, quer seja ateu, quer crente, e os interesses do proletariado… e reconhece, por razons históricas, que é possível que nom se produz simultaneidade entre consci-ência proletária e militáncia ateia, de forma que a crença religiosa pode acompanhar a acçom revolucionária.

Domingos Antom Garcia Fernandes é filósofo e mem-bro das Bases Democráticas Galegas

Viva o

matrimónio

?

Igor Lugris

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mento constante e progressivo da comunidade de visitantes, estabelecendo umha enriquecedora interacçom que ajuda a socializar o projecto revo-lucionário que Primeira Linha representa.

Também no aspecto lingüístico podemos orgulhar-nos de contribuir de maneira decidida para a difusom nacional e internacional da nossa língua e da realidade lingüística galega na rede de redes. Para além do contributo que tal implica na normalizaçom do reintegracionismo como projecto normalizador, os lugares de destaque que países como o Brasil e Portugal ocupam na origem das cada vez mais numerosas visistas demonstra que a inserçom da Galiza no espaço lingüístico e cultural que lhe é próprio nom é umha simples utopia necessária e afastada, mas umha realidade possível que @s independentis-tas estamos a verifi car ao nível que a nossa força social nos permite a dia de hoje.

Concluímos esta breve comemoraçom sau-dando @s noss@s visitantes, agradecendo o seu apoio e colaboraçom, e garantindo novos melho-ramentos na qualidade técnica e de conteúdos para a presença comunista e independentista na Internet.

Ano Mês Visitas Computadores

2002 Maio a Agosto 2.805 1.841 Setembro 3.427 2.377 Outubro 2.814 2.661 Novembro 6.125 4.205 Dezembro 5.834 3.546 Anual 21.005 12.230 2003 Janeiro 5.467 3.198 Fevereiro 8.131 4.689 Março 10.791 6.294 Abril 14.402 8.683 Maio 14.873 9.311 Junho 13.757 8.349 Julho 10.923 5.451 Agosto 10.553 6.333 Setembro 12.672 7.135 Outubro 11.984 6.371 Novembro 13.217 7.003 Dezembro 10.790 4.725 Anual 137.560 77.542

Ano Mês Visitas Computadores

2004 Janeiro 11.681 5.585 Fevereiro 12.659 7.211 Março 21.928 13.217 Abril 20.617 12.773 Maio 23.607 15.732 Junho 20.564 12.917 Julho 13.059 7.637 Agosto 19.087 11.994 Setembro 22.954 15.175 Outubro 22.728 14.467 Novembro 22.184 14.612 Dezembro 14.638 7.050 Anual 225.760 138.370 2005 Janeiro 14.454 7.173 Fevereiro 16.922 9.220 Março 22.379 12.933 Abril 27.059 15.939 Maio 28.986 17.326 Anual 109.800 62.591

Total de visitas em três anos 494.125 290.733

presença na Internet

www.primeiralinha.org

Primeira Linha em Rede (visitantes)

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Nº 36. Abril, Maio e Junho de 2005

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Euskal Herria é um povo. Um povo que tem a sua língua nacional, o euskara, como um dos maiores sinais de identidade e meio de comunicaçom comum entre os seus cidadaos e cidadás. Um povo que tem umha cul-tura rica e variada, diferentes costumes que continuam vivos de geraçom para geraçom, que conta com umha história silenciada durante a mesma história. Um povo que sempre, de um jeito ou outro, reivindicou a sua con-diçom de naçom, luitou polo seu direito a ser livre. Sete territórios conformam Euskal Herria: Guipúscoa, Biscaia, Araba, Nafarroa Garaia, Lapurdi, Behe Nafarroa e Zube-roa. O euskara é o elemento chave que nos une, embora administrativamente padeçamos a partiçom entre dous estados, o espanhol e o francês. Portanto, Euskal Herria, dividida, oprimida, silenciada, manipulada ou reprimida, é um povo que trabalha polo seu futuro em liberdade e em euskara.

A uniom que existe entre o euskara e a própria Euskal Herria é inegável. Julgar que havemos de norma-lizar a língua sem levarmos em conta o seu território é absurdo, como propor o futuro de umha naçom perdida a sua língua. Que futuro terá o euskara se nom propuger-mos a sua normalizaçom tendo em conta toda a comuni-dade lingüística existente em todo o território? Que sinais de identidade havia de ter Euskal Herria se fosse caste-lhana ou francesa? É claro, portanto, que o processo de normalizaçom do euskara e o processo político que vive Euskal Herria som cara e coroa de umha mesma moeda. O que é que estamos a fazer os colectivos que ensinamos euskara aos adultos, às crianças, os que impulsionamos meios de comunicaçom em euskara, os que trabalha-mos em defesa do euskara ou as empresas editoriais em euskara, se nom for construçom nacional? Será que trabalhamos à margem de umha realidade territorial, cul-tural e política? No momento em que o nosso trabalho consiste em normalizar a nossa língua no próprio solo, estamos a construir o País.

Imerso no século XXI, o nosso povo tem sofrido e continua a sofrer a opressom dos estados espanhol e francês. Durante séculos, quigérom acabar com a nossa forma de ser; com a nossa identidade; com a nossa língua; com a nossa territorialidade; com a nossa cultura e costumes; com a nossa economia… e para tal, empregárom muitas formas e meios, quer violentos, quer educativos, administrativos ou ideológicos. Som sobejamente conhecidas as vias empregues pola inqui-siçom, queimando e assassinando centenas de pessoas, polo só facto de quererem manter vivos os costumes, cultura e história dos seus antepassados. Nom há que esquecer a repressom lingüística que temos sofrido durante séculos: castigos humilhantes e violentos con-tra crianças que falavam euskara na escola, proibiçom absoluta de falar euskara em qualquer local, constantes decretos que restringírom o euskara durante a história nas administraçons e vida pública, opressom ideológica constante… Meios e formas muito bem desenhadas por estados que tenhem um objectivo comum: acabar com a existência de um povo diferenciado, o qual nom é melhor nem pior, apenas o nosso povo, ao qual nos sentimos unidos e unidas e no qual queremos viver livremente e na nossa língua.

Todavia, esta opressom brutal nom deu acabado com as ánsias de viver como umha naçom livre no mundo. Ante proibiçons, decretos ou repressom, a vontade do povo basco tem sido a de continuar a utilizar a sua língua (embora o euskara esteja em perigo de desaparecer), a de impulsionar a sua cultura e as suas tradiçons (ainda que muitas se tenham perdido), a de unir a sua comuni-dade (embora hoje esteja dividida por diferentes adminis-traçons)… Portanto, no próprio povo que subsistiu ante tanta barbárie, está a chave do nosso futuro.

Mas, sendo isto certo, nom podemos deixar de ver as muito graves conseqüências que tem trazido todo este processo de desconstruçom nacional impulsionada por ambos estados: o euskara está em perigo de desapa-recer (apenas o sabe 25% da cidadania); a comunidade

Processo de

normalizaçom do

euskara

e

construçom nacional

Mikel Irastortza

lingüística está dividida; a sociedade vive em castelhano ou francês (segundo a divisom administrativa); vulneram-se os direitos lingüísticos sistematicamente; nom dispo-mos de nengum instituto de estatística que reúna dados de todo o País; nom temos umha universidade própria e nacional que eduque integramente em euskara… Afi nal, nom temos as sufi cientes ferramentas para podermos construir o nosso futuro. Portanto, conseguimos subsistir defendendo a nossa identidade, cultura, língua e direitos nacionais. Mas os alicerces que necessita umha estrutura fôrom agredidos de tal jeito, que demonstra a necessi-dade de construí-los com fi rmeza e em simultáneo.

Nesse senso, devemos perceber o processo de cons-truçom nacional em que Euskal Herria está inserida. E no meio desse processo é que se situa o processo de norma-lizaçom do euskara. Já que, sendo o objectivo fi nal umha Euskal Herria que viva em euskara, tal objectivo requer meios políticos, económicos, sociais e institucionais. O processo de normalizaçom da nossa língua supom umha mudança estrutural e social. Para passar de umha socie-dade que vive em castelhano e francês, para umha outra que viva em euskara, cumpre muito mais do que boa von-tade. Cumpre umha mudança geral do País, impulsionado por todos os agentes sociais, políticos e sindicais que acreditam numha Euskal Herria euskaldun. Normalizar o euskara supom mudar a estrutura administrativa que nos divide, suplantar as leis que nom normalizam o euskara por umha só lei que una a comunidade lingüística e que recolha os direitos lingüísticos, tendo o poder de decidir o futuro da nossa língua criando as estruturas necessárias para tal objectivo.

Estes últimos anos tenhem sido muito importantes no processo de construçom nacional e no processo de nor-malizaçom lingüística. A refl exom era clara: nom haverá um dia mágico. O dia mágico é o suor e o trabalho de cada dia. Será que há alguém que esteja à espera de que a sua casa seja construída sem trabalhar dia a dia? Portanto, a criaçom e impulso de diferentes estruturas e meios tem sido fundamental, como tem sido ir acumulando forças favoráveis a Euskal Herria e ao euskara, ao citado pro-cesso, pois levantar a casa, embora seja devagar, requer muitas maos e esforços. Requer um trabalho bem plane-ado em todos os sentidos. E nisso é que estamos. Como dizia um político basco, nom queremos ser os inquilinos do vizinho ou a vizinha, queresmos a nossa própria casa, construída polas nossas maos, e viver nela. Tam simples quanto isso.

As condiçons para tal processo chegar a bom porto

tenhem-se ido criando e continuam a ser criadas a base de luita, de militáncia, de vontade e, é claro, de sentimen-tos. No que di respeito ao euskara, as primeiras ikastolas fôrom criadas no franquismo e hoje ensinam euskara a milhares de crianças; as primeiras gau eskalas (centros de euskaldunizaçom e alfabetizaçom de adultos) também fôrom criadas no franquismo e até hoje, milhares de pes-soas tenhem aprendido a nossa língua nelas; o único jornal em euskara foi criado com boicote institucional incluído e, embora o Estado espanhol decidisse clausurá-lo, aos três meses foi criado um novo; as editoras bascas tenhem ido em aumento; a mobilizaçom popular em favor do euskara tem sido e é muito importante, reunindo milhares e milha-res de pessoas em manifestaçons, festas e jornadas… e para que todo esse trabalho sectorial vaia por um mesmo caminho, pujo-se em andamento umha organizaçom que aglutinasse todas as forças em prol do euskara, impulsio-nando um plano geral nacional e normalizaçom da nossa língua. Vila a vila e bairro a bairro, milhares de pessoas e colectivos estám envolvidos em favor do euskara. Tra-balhando a favor da nossa língua nacional, construindo novos projectos e impulsionando mudanças nas políticas lingüísticas impostas, estamos a construir Euskal Herria, estamos a contribuir com umha grande força para que os alicerces sejam fi rmes.

E, é claro, os estados que nos oprimem, no momento em que vírom que o tal processo ia progredindo e ante o peligro que tal supunha, apertárom a maquinaria para o deterem. Aí é que situamos toda a repressom que tenhem sofrido e continuam a sofrer as diferentes organizaçons culturais, políticas, juvenis ou sociais; a clausura de Euskaldunon Egunkaria, entre outros; e o afogamento eco-nómico a AEK (organizaçom que euskalduniza e alfabetiza adultos); os registos e criminalizaçom de editoras bascas; o ataque contra a única instituiçom nacional (Udalbiltza), criada em 1998… Eis a importáncia do processo de cons-truçom nacional, pois paralisar esse processo tem sido umha das prioridades dos estados.

Agora, em 2005, podemos dizer que vivemos umha situaçom muito importante. Poucos podem dizer que Euskal Herria nom seja umha realidade. Euskal Herria é um povo vivo, com a sua língua nacional, com a sua cul-tura, a sua história e os seus costumes. É-o como som outras realidades nacionais e lingüísticas no mundo. Construir o nosso futuro depende de nós próprias. Mikel Irastortza é membro de Euskal Herrian Euskaraz- Movi-mento em defesa do euskara

INTERNACIONAL

rua, é um dos objectivos das políticas governamentais. E é que, homossexual ou heterossexual, o casamento continua a ser umha instituiçom básica para perpetuar a actual ordem social. E isso nom vai mudar case quem casar. Umha outra cousa é que se adapte às mudanças sociais ou nom. Mas o que nom é é umha ferramenta para transfomar a sociedade. Antes ao contrário.

Resulta evidente que para o conjunto do movimento gai e lésbico, era muito difícil nom entrar na polémica suscitada por esta iniciativa do PSOE, tendo em conta as barbaridades que por boca de diferentes representantes da direita e da Igreja católica, fundamentalmente, apareciam na imprensa, pretendendo, e parcialmente conseguindo, criar um certo clima de confusom e crispaçom. Assim, por exemplo, José Luis Requero, relator da Comissom de Estudos e Informes do Conselho Geral do Poder Judicial (CGPJ), chegou argumentar que permitindo os matrimónios homosexuais o Estado se veria indefenso ante outras possibilidades que poderiam aparecer no futuro, como a petiçom de legalizaçom da poligamia por parte da comunidade mussulmana, ou dos casamentos entre irmaos, ou da uniom entre pessoas e animais; posteriormente a tal comissom aprovou um “estudo jurídico” que tratava o tema nos mesmo termos, com os votos dos vogais propostos polo PP. Nos mesmos dias, Fraga Iribarne, ex-ministro franquista e actual presidente da Junta da Galiza, afi rmava que ser gai é “umha anomalia dos cromossomas”, considerando “um erro” reinvindicar o orgulho gai2. Declaraçon em sintonia com as realizadas por Jesús Catalá, bispo de Alcalá, que defendeu que “ser homossexual é umha anormalidade psicológica”3. Enquanto isso, o recém eleito Papa da Igreja católica, Ratzinger, fazendo gala das doutrinas mais rançosas e decadentes, acusava Zapatero e o seu governo de pretender “destruir a família”, e membros da cúria defi niam a reforma do C.C. como “umha vergonha”, “um cancro”, umha lei “injusta e prejudicial”, “mostra dumha Europa em decadência”, e realizavam apelos ao funcionariado para exercer umha hipotética obejcçom de consciência para impossibilitar de facto que se podam levar a efeito as reformas.

Fôrom muitas as declaraçons da ultradireita contra os direitos das pessoas homossexuais, e nom é possível, nem recomendável, reproduzi-las todas. Mas acabemos com as de Lluís Fernando Caldentey, presidente da Cámara de Pontons (Barcelona) polo Partido Popular, que chegou a afi rmar que “um gai é umha pessoa tarada, que nasce com umha deformaçom física ou psíquica”.

Com toda a probabilidade, após toda esta polémica, o que sucederá é que, logo que deixe de ser notícia e merecedora de manchetes, a discriminaçom por motivos de escolha sexual, que seguirá a existir, fi que silenciada nos meios. Porque as campanhas de propaganda (e a ultradireita tomou este tema como umha campanha de propaganda) tenhem sempre data de caducidade. Nom pensava o PSOE que quem lhe ia fazer a campanha publicitária sobre as suas “promessas cumpridas”, e grátis, eram o PP e a Igreja católica. Porque o PSOE também tomou este tema da mesma forma: como umha campanha de propaganda.

Umha mostra de mudança de talante para que todo continue na mesma

E é que a reforma do C.C. que vai permitir o casamento homossexual nom é mais do que umha nova mostra do mudança de talante. Umha nova mostra da política de ZP e o seu governo: modifi caçons epidérmicas, política de salom de beleza, que permite vender a imagem dum governo progressista, comprometido com os movimentos sociais e com os colectivos discriminados, e sem custos de nengum tipo, enquanto na camada profunda da pele, na derme, onde estám os vasos sanguíneos e os nervos, todo continua exactamente na mesma. Umha grande campanha de publicidade para vender, num novo invólucro e com umha nova marca, o mesmo produto que já vendeu o PP, e antes o PSOE nos seus governos felipistas.

Na política económica, na política laboral, na política internacional, na questom nacional, poucas mudanças, ou nengumha. O mesmo ZP que nom tem problemas em fotografar-se com os sectores mais “yuppies” e burgueses do movimento gai é o mesmo que declara que nom tem intençom de rebaixar o horário laboral; antes o contrário: há que trabalhar mais. O PSOE, nesta nova etapa de governo, sabe que precisa de acumular e consolidar os votos progressistas e juvenis que lhe permitírom ganhar as eleiçons de Março de 2004, para poder chegar às próximas eleiçons com um apoio que lhe garanta a consecuçom dumha maioria absoluta e desfazer-se dos seus actuais, e incómodos, sócios de governo (ERC, IU,...). Para tal, deve combinar as políticas neoliberais que vem aplicando com campanhas de publicidade e cortinas de fumo que lhe permitam consolidar a sua imagem de força distinta, diferente, mesmo contrária, às políticas do PP. A reforma do C.C. para permitir o casamento homossexual é o melhor exponente disto.

Igor Lugris é membro do Comité Central de Primeira Linha 1 El País, segunda-feira, 23 de Maio de 2005, pág. 39. “El PP ya da por perdida

la batalla contra el matrimonio homosexual”. A traduçom é nossa. 2 Numha entrevista no programa “El ruedo ibérico”, de Antena 3, ao ser

per-guntado pola apresentadora sobre se a homossexualidade lhe parecia umha desviaçom, Fraga Iribarne respondeu: “Dixem que é umha anomalia. Você compreenderá que eu prefira a um guarda civil que a umha senhora bonita como você... pois algumha cousa rara me tem que passar”.

3 As palavras textuais fôrom: “chega de farsas: a homossexualidade é umha desviaçom, umha inversom educativa que nom tem base algumha genética nem médica”. Na mesma entrevista chegou a declarar que umha criança adoptada por um casal homossexual “muito provavelmente, até 80 por cento de probabilidades, sairá maricom”.

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Viva o

matrimónio

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