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Capacidade Funcional de Idosos com Osteoartrite de Joelhos e Quadril Functional capacity of elderly with osteoarthritis of knees and hip

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Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v.9, n.2, p.08-16, jun.2008 8

Functional capacity of elderly with osteoarthritis of knees and hip

Andréia Sayuri Tamegushi1, Celita Salmaso Trelha2, Mara Solange Gomes Dellaroza3, Marcos Cabrera4, Tatiana Nascimento Ribeiro1

1

Alunas do Curso de Graduação em Fisioterapia da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

2

Professora Assistente do Departamento de Fisioterapia da UEL.

3

Professora Assistente do Departamento de Enfermagem da UEL.

4

Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica da UEL.

*Artigo baseado no Trabalho de Conclusão do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual de Londrina. Correspondência: Celita Salmaso Trelha (celita@uel.br)

RESUMO

_________________________________________________________________________________ OBJETIVO: Analisar a capacidade funcional de idosos da comunidade com diagnóstico de osteoartrite (OA) em membros inferiores. MATERIAL E MÉTODOS: Para atingir o objetivo proposto foi realizado um estudo descritivo. Participaram do estudo indivíduos acima de 60 anos de idade com diagnóstico de OA em membros inferiores, moradores do bairro Cabo Frio, região norte da cidade de Londrina/PR. Foram excluídos do estudo os indivíduos analfabetos e com déficit cognitivo. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista no domicílio do idoso. Foi utilizado o questionário Algofuncional de Lequesne para Osteoartrite de joelho e quadril. Também foi utilizado um questionário com dados demográficos, caracterização da dor e uso de medicamentos. A análise estatística foi descritiva. RESULTADOS: Participaram do estudo 14 idosos com diagnóstico clínico e radiográfico de OA de membros inferiores (quadril e/ou joelho) e com idade variando de 61 a 79 anos, média 68,4 anos. Dos participantes com AO, 9 (64,3%) referiram apresentar dor durante o descanso noturno e 9 (64,3%) rigidez matinal ou dor que diminui após se levantar. Em relação às atividades da vida diária 2 (28,6%) refiram muita dificuldade em colocar meias inclinando-se para frente e 2 (28,6%) em pegar um objeto no chão. Quanto à capacidade de agachar-se ou ajoelhar-se 8 (61,5%) responderam ser incapazes e 2 (15,4%) relataram muita dificuldade. A nota média do índice de Lequesne para OA de joelho foi 9 (grave), de quadril 9,5 (grave) e de joelho e quadril 14,1 (extremamente grave). CONCLUSÃO: Pode-se verificar com este estudo que a OA é uma doença funcionalmente incapacitante principalmente nas atividades que exijam maiores movimentos de membros inferiores, como agachar, ajoelhar, subir e descer degraus.

Descritores: Idosos Funcionalmente Incapacitados, osteoartrite do joelho, osteoartrite do quadril

ABSTRACT

_________________________________________________________________________________

Objectives: Analyze the functional capacity of elderly on a community with osteroarthritis diagnosis (OA) on lower limbs. Material and Methods: A description work was made in order to achieve the purpose of this work. The participants of this work were people over 60 years of age, with osteoarthritis diagnosis on lower limbs, living in the neighborhood of Cabo Frio, in the northern region of Londrina/ PR. Illiterates and persons with cognitive deficits were excluded from this study. All the data were collected by interviewing the elderly at their homes. Lequesne’s Algofunctional Questionnaire for Osteoarthritis of knees and hips was used. Also a questionnaire for demographic data, characterization of pain, and medicine use was applied. The statistical analysis was descriptive. Results: In this work, 14 elderly individuals with clinical diagnostics and radiographies of OA on lower limbs (hips and/or knees), age range from 61 to 79, mean average age 68,4 years, took part of this study. Nine participants with OA (64,3%) reported pain or discomfort during nocturnal bedrest and nine (64,3%) claimed decreasing morning stiffness or pain after getting up. As for daily activities, two (28,65) reported great difficulty to put on socks by bending forward and two (28,6%) to pick up an object from the floor. Regarding the capacity to squat and kneel down, eight individuals (61,5%) referred to as impossible and two (15,4%) claimed great difficulty. Mean Lequesne index score for OA of knees was 9 (severe), on hips, 9,5 (severe), and hips and knees, 14,1 (extremely severe). Conclusion: This work evidenced that OA is a functionally frail elderly disease regarding activities that demand greater movements of the lower limbs such as squatting, kneeling down, and going up and down stairs.

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INTRODUÇÃO

A proporção da população de idosos vem aumentando entre os brasileiros, e esse processo tem como explicação principalmente a continuação do declínio da fecundidade e a diminuição da mortalidade, levando ao envelhecimento da população1. A faixa etária de indivíduos com 60 anos ou mais chegará a 8,3% da população no final do século XX e em 2025 a 15,1% o que significa um aumento de mais que o dobro em 34 anos2. Segundo Chaimowics apud Chiarello et al (2007)1, o Brasil deverá passar, entre 1960 e 2025, da 16ª para 6ª posição mundial no número absoluto de idoso. No município de Londrina, a proporção de pessoas acima de 60 anos era de 5,37% em 1980 e passou a 9,35% (43.073 idosos) em 20023, enquanto que a média nacional, nesse mesmo ano foi de apenas 8,52%4.

Com o envelhecimento populacional e as modificações nos padrões de morbidade, invalidez e mortalidade, observa-se o aumento das doenças crônico-degenerativas. Essas doenças, além de interferirem negativamente na qualidade de vida destes indivíduos, sobrecarregam os serviços de saúde pública, uma vez que idosos necessitam de cuidados por períodos prolongados de tempo5,6.

A osteoartrite (OA) é uma das doenças crônicas mais comuns entre os idosos e a forma mais prevalente de artrite7. É uma doença reumática degenerativa que acomete as articulações sinoviais e caracteriza-se por alterações na cartilagem articular, nos tecidos moles e ossos, com presença de zonas de fibrilação e fissuração, espessamento ósseo subcondral e proliferações osteocondrais marginais8. Está associada à dor, rigidez articular, deformidade e progressiva perda de função, o que afeta o indivíduo em dimensões orgânicas, funcionais, emocionais e sociais

9,10,11,12

.

No Brasil a OA atinge cerca de 16,2% da população, sendo responsável por 30 a 40% de todas as consultas em ambulatórios de reumatologia. A prevalência da OA aumenta com a idade, sendo que 85% das pessoas com idade superior a 70-79 anos de idade apresentam diagnóstico radiológico de OA13.

De acordo com Ricci et al14 dentre as formas clínicas, destacam-se a OA de quadril e joelho por serem particularmente mais incapacitantes, já que essas são as articulações que recebem todo o peso corporal. A OA de quadril atinge 20% das pessoas com idade acima de 55 anos e apesar de ser menos comum do que a OA de joelho, sua sintomatologia é freqüentemente mais grave.

A manutenção da capacidade funcional é um dos requisitos para o envelhecimento saudável15,16. A função física é um indicador universalmente aceito do estado de saúde e importante componente da qualidade de vida. Do ponto de vista individual, a função física é necessária para manter o indivíduo independente e participante na comunidade. Dessa forma, a incapacidade funcional é um problema social, que traz maior risco de institucionalização e altos custos para os serviços de saúde 17.

A organização mundial de saúde estima que 25% dos indivíduos acima de 65 anos sofrem de dor e incapacidade associados a OA18. O comprometimento da capacidade funcional do idoso tem implicações importantes para a família, a comunidade, para o sistema de saúde e para a vida do próprio idoso, uma vez que a incapacidade ocasiona maior vulnerabilidade e dependência na velhice, contribuindo para a diminuição do bem-estar e da qualidade de vida dos idosos14.

A dor deflagra um estresse físico e psicológico intenso que desencadeiam inúmeras repercussões como incapacidades, sofrimento psicológico e prejuízo na qualidade de vida. Com o objetivo de conhecer melhor o perfil dos idosos com dor crônica sua associação com depressão, qualidade de vida, nível de dependência e métodos analgésicos, realiza-se no município de Londrina o Projeto caracterização da dor crônica e da analgesia em idosos em Atenção Básica de Saúde. É um Projeto de Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina no qual um grupo de docentes dos cursos de graduação em medicina, enfermagem e fisioterapia, desenvolvem atividades envolvendo a instituição formadora (docentes e alunos), o serviço público de saúde do Conjunto Habitacional Cabo Frio, representado pela Unidade Básica de Saúde e equipes do PSF do local, e a comunidade do bairro, composta de

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estudo19.

O presente estudo tem como objetivo analisar a capacidade funcional de indivíduos da comunidade, acima de 60 anos de idade com diagnóstico de OA em membros inferiores.

CASUÍSTICA E MÉTODOS

Para atingir o objetivo proposto foi realizado um estudo descritivo. Participaram do estudo indivíduos com 60 anos ou mais, de ambos os sexos, com diagnóstico de OA de quadril e/ou joelho residentes no Conjunto Cabo Frio, região Norte da cidade de Londrina/PR.

Esta pesquisa é parte do estudo de “Caracterização da dor crônica e analgesia em nível de atenção primária. Foram identificados 105 idosos com dor em membros inferiores, destes somente 14 atenderam aos critérios de estudo. Houve exclusão de 91 idosos devido as seguintes causas: 7 por apresentarem dor por doenças vasculares, 3 por apresentarem dor por trauma, 56 por apresentarem dor sem diagnóstico, 4 por serem analfabetos, 2 por apresentarem déficit cognitivo, 1 devido a óbito e 18 por não terem sido localizados.

Para a coleta de dados foi utilizado o questionário de Lequesne20. O instrumento foi desenvolvido na França nos anos 70, publicado pela primeira vez nos anos 80, atualizado em 1997 e novamente revisado e validado para a língua portuguesa em 2003 por Faucher et al (2003)20. Este índice é composto de onze questões sobre dor, desconforto e função; sendo seis questões de dor e desconforto, uma sobre distância a caminhar e quatro distintas para quadril ou joelho sobre atividades da vida diária. As pontuações variam de zero a vinte e quatro, significando casos sem acometimento e com acometimento extremamente grave,

respectivamente20. Também foram incluídas, no instrumento, questões abordando dados demográficos (sexo, idade, raça), local da dor, diagnóstico, uso de medicamentos e doenças associadas.

Os questionários foram aplicados no domicílio do idoso, após a leitura, entendimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O termo foi elaborado pela equipe do projeto de pesquisa, e submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina, com parecer favorável.

A análise estatística foi descritiva, com a utilização de média, desvio padrão e a distribuição de freqüências. Os dados foram processados e tabulados pelo programa EPIINFO 6.04d, proposto por Dean et al 21.

RESULTADOS

Dos 14 idosos com diagnóstico clínico e radiográfico de osteoartrite de membros inferiores (quadril e/ou joelho), 12 (85,7%) eram do gênero feminino e 2 (14,3%) do gênero masculino e com idade variando de 61 a 79 anos, média 68,4 (desvio padrão de ±5,6). Desses participantes 7 (50%) apresentaram OA de joelho, 1 (7,1%) de quadril e 6 (42,9%) de joelho e quadril.

Em relação a dor, 9 (64,2%) referiram apresentá-la durante o descanso noturno, 9 (64,2%) rigidez matinal por mais de 15 minutos e 6 (42,9%) referiram dor durante a deambulação, como pode ser observado na Tabela 1. Entre os fatores citados como melhora da dor, 5 (35,7%) relataram o uso de medicamento e 10 (71,4%) o repouso. O tempo em que esses idosos sentem dor variou de 2 a 40 anos, média de 10,5 (desvio padrão de ±10,3).

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Tabela 1 – Distribuição dos idosos com osteoartrite de acordo com a dor e capacidade funcional.

Londrina, 2007.

Dor e Desconforto Sim Não

n % n %

Durante o descanso noturno 9 64,3 5 35,7

Rigidez matinal ou dor que diminui após se levantar

9 64,3 5 35,7

Dor enquanto anda 4 28,6 10 71,4

Ficar sentado por muito tempo 3 21,4 11 78,6

Ao se levantar da cadeira sem ajuda dos braços 6 42,9 8 57,1

Para os idosos com OA de quadril ou quadril e joelho foram encontradas algumas dificuldades para a realização de atividades de vida diária (AVDs), sendo que para colocar meias inclinando-se para frente, 2 (28,6%) relataram muita dificuldade e 1 (14,3%) dificuldade. No item pegar um objeto no chão, 2

(28,6%) referiram muita dificuldade e 2 (28,6%) dificuldade. Quanto a subir e descer um andar de escadas, 1 (14, 3%) apresentou muita dificuldade e 3 (42,8%) dificuldade. Os dados quanto a dificuldade dos idosos podem ser observados na Tabela 2.

Tabela 2 – Classificação da dificuldade do idoso com OA (quadril ou quadril e joelho) de realizar

atividades da vida diária. Londrina, 2007. ATIVIDADE DE VIDA DIÁRIA Sem dificuldade Pouca dificuldade Dificuldade Muita dificuldade Incapaz n % n % n % n % n % Colocar meias inclinando-se para frente 3 42,8 1 14,3 1 14,3 2 28,6 - - Pegar um objeto no chão 3 42,8 - - 2 28,6 2 28,6 - - Subir ou descer um andar de escadas 2 28,6 1 14,3 3 42,8 1 14,3 - -

Poder entrar e sair

do carro 4 57,1 1 14,3 1 14,3 1 14,3 - -

Para os idosos com OA de joelho ou joelho e quadril também foram encontradas dificuldades em realizar AVDs. Para subir um andar de escadas 1 (7,7%) relatou ser incapaz, 3 (23,1%) o faz com muita dificuldade, 2 (15,4%) com dificuldade, 5 (38,4%) pouca dificuldade e 2 (15,4%) sem dificuldade. Na questão de descer um andar de escadas, 1 (7,7%) referiu ser incapaz, 3 (23,1%) referiram apresentar muita dificuldade, 3 (23,1%) referiram dificuldade, 4 (30,7%) pouca dificuldade e 2 (15,4%) nenhuma

dificuldade. Quanto a capacidade de agachar-se ou ajoelhar-se 8 (61,5%) responderam ser incapazes, 2 (15,4%) relataram muita dificuldade, 1 (7,7%) dificuldade e 2 (15,4%) negaram dificuldade. Quando questionados sobre conseguir andar em chão irregular/esburacado, 2 (15,4%) disseram ser incapazes, 2 (15,4%) relataram apresentar muita dificuldade, 2 (15,4%) dificuldade, 3 (23,1%) pouca dificuldade e 4 (30,7%) sem dificuldade. Os dados podem ser observados na Tabela 3.

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Tabela 3 - Classificação da dificuldade do idoso com OA (joelho ou joelho e quadril) em realizar

atividades da vida diária. Londrina, 2007. ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA Sem dificuldade Pouca dificuldade Dificuldade Muita dificuldade Incapaz n % n % n % n % n % Consegue subir um andar

de escadas 2 15,4 5 38,4 2 15,4 3 23,1 1 7,7

Consegue descer um

andar de escadas 2 15,4 4 30,7 3 23,1 3 23,1 1 7,7

Agachar-se ou ajoelhar-se

2 15,4 - - 1 7,7 2 15,4 8 61,5

Consegue andar em chão

irregular/esburacado 4 30,7 3 23,1 2 15,4 2 15,4 2 15,4

Quando questionados sobre a máxima distância caminhada com dor, 4 (28,6%) responderam não haver limite de distância, 1 (7,1%) aproximadamente 1 kilometro (entre mais ou menos 15minutos), 5 (35,7%) cerca de 500 a

900 metros (aproximadamente 8 a 15 minutos), 2 (14,3%) de 100 a 300 metros e 2 (14,3%) menos de 100 metros, como pode ser observado na Tabela 4.

Tabela 4 – Distribuição de idosos quanto à máxima distância caminhada com dor, Londrina, 2007.

MÁXIMA DISTÂNCIA CAMINHADA COM DOR n %

Sem limite 4 28,6

Mais de 1 km, porém com alguma dificuldade - -

Aproximadamente 1 km (entre + ou – 15 min) 1 7,1

De 500 a 900 m (aproximadamente 8 a 15 min) 5 35,7

De 300 a 500 m - -

De 100 a 300 m 2 14,3

Menos de 100 m 2 14,3

Bengala ou muleta - -

Com 2 bengalas ou 2 muletas - -

Os idosos referiram apresentar outras doenças associadas, destacando-se principalmente: hipertensão arterial - 9 idosos (64,3%), diabetes mellitus – 5 idosos (35,7%) e

doenças cardíacas - 3 idosos (21,4%). Os dados mais detalhados podem ser observados na Tabela 5.

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Tabela 5 – Proporção de outras doenças relacionadas a OA de joelho e/ou quadril, Londrina, 2007.

DOENÇAS RELACIONADAS Sim Não

n % n % Hipertensão arterial 9 64,3 5 35,7 Diabetes mellitus 5 35,7 9 64,3 Doenças cardíacas 3 21,4 11 78,6 Doenças respiratórias 1 7,1 13 92,9 Doenças ortopédicas 1 7,1 13 92,9

Acidente vascular encefálico 1 7,1 13 92,9

* questão de múltipla escolha. Alguns idosos referiram apresentar mais de uma doença. O valor médio do índice de Lequesne

para OA de joelho encontrado foi 9 (grave) com desvio padrão de ±7,0, para OA de quadril foi 9,5 (grave) e para OA de joelho e quadril foi 14,1 (extremamente grave) e desvio padrão de ±3,9.

DISCUSSÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 10% da população mundial possua deficiências e que metade destas são físico-funcionais22. A capacidade funcional, em estudo da população idosa, é geralmente dimensionada em termos de habilidade e independência para realizar determinadas atividades. A capacidade funcional é um dos grandes componentes da saúde do idoso e mais recentemente vem emergindo como uma componente chave para avaliação da saúde dessa população 23. A avaliação da capacidade funcional torna-se, portanto, essencial para a escolha do melhor tipo de intervenção e monitorização do estado clínico-funcional dos idosos20.

De acordo com Gold apud Andrade et al

24

, dor em indivíduos idosos é um sério problema de saúde pública, que necessita ser diagnosticado, mensurado, avaliado e devidamente tratado pelos profissionais de saúde, minimizando a morbidade e melhorando a qualidade de vida. Requer estratégia para avaliação precisa e tratamento adequado, porém, instrumentos de avaliação e mensuração raramente são usados para monitorar tal experiência.

Os resultados deste estudo demonstram que a OA apresenta uma forte influência na capacidade funcional do idoso. De acordo com Alves et al18a presença de uma artropatia aumenta em 59% a chance do idoso ser dependente nas atividades instrumentais da vida diária (AIVDs). A dificuldade ou incapacidade na realização dessas tarefas representa um risco elevado para a perda da independência funcional20.

No presente estudo todos os entrevistados relataram pelo menos uma dificuldade para realizar AVDs, sendo que 6 (42,8%) relataram pelo menos 7 ou mais dificuldades. Idosos com dependência para 7 ou mais AVDs tem 3 vezes mais riscos de morte do que aqueles indivíduos independentes25. Dos entrevistados com OA de joelho e, joelho e quadril, 10 (76,9%) relataram dificuldade para subir um andar de escadas sendo 1 (7,7%) incapaz. De acordo com Freitas et al4 dos pacientes com OA de joelho e quadril cerca de 80% relatam problemas com a função muscular, especificamente quanto a força, resistência, equilíbrio e coordenação.

Entretanto, as alterações da função muscular na OA de joelhos não estão restritas somente ao grupo extensor. Associadas ao aumento da dependência, à dificuldade e à dor, estão presentes também a diminuição da força, da resistência e da velocidade de contração dos músculos flexores do joelho. Dor e eventuais episódios de efusão articular podem levar a uma inibição da unidade motora, resultando em uma diminuição da ativação muscular e, portanto, em redução na força e na velocidade de contração muscular. Esse mecanismo, conhecido como

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www.ccs.uel.br/espcoparasaude “inibição reflexa”, impede o músculo de produzir

força máxima, contribuindo assim para a fraqueza muscular, especialmente observada no quadríceps de pacientes com OA, comprometendo as atividades de locomoção22.

Exercícios físicos de moderada intensidade (por exemplo, uma vigorosa caminhada) são benéficos para a saúde de indivíduos de todas as idades. Esses benefícios incluem redução da morbidade e mortalidade por doença coronariana, controle da hipertensão arterial, da glicemia e do colesterol e melhora do peso26.

A ausência de atividades físicas está associada com diversos problemas músculo- esqueléticos que podem afetar negativamente as atividades funcionais do idoso. Dessa forma, recomenda-se que adultos de diferentes idades pratiquem pelo menos 30 minutos de atividades físicas moderadas na maioria dos dias da semana e, se possível, todos os dias 27. No presente estudo, verificou-se que somente 5 (35,7%) dos idosos conseguem caminhar de 500 a 900 metros (aproximadamente de 8 a 15 minutos) com dor, 2 (14,3%) relatam conseguir apenas de 100 a 300 metros e 1 (7,1%) menos de 100 metros.

Neste estudo, 10 idosos (71,4%) apresentaram uma ou mais doenças crônicas associadas, sendo hipertensão arterial, diabetes mellitus e doenças cardíacas as mais freqüentes. Segundo Alves et al18, a presença de hipertensão arterial aumenta em 39% a chance de o idoso ser dependente nas AIVDs, a doença cardíaca aumenta em 82%, a artropatia em 59% e a doença pulmonar em 50%. Para a dependência nas AIVDs e AVDs, a chance mais que dobrou para a presença de mais de uma dessas doenças crônicas.

A manutenção da capacidade funcional é um requisito fundamental para o envelhecimento saudável e pode ter importantes implicações para a qualidade de vida dos idosos, por estarem relacionadas com a capacidade de ocupar-se com o trabalho até idades mais avançadas e/ou com atividades agradáveis25.

De acordo com Alves et al18 poucos pesquisadores têm se preocupado em investigar o efeito de uma doença crônica específica, ou seja, o impacto independente de cada doença.

Com o aumento da expectativa de vida e o avanço da medicina no controle das doenças crônico-degenerativas, o conceito de saúde do idoso passa a ser avaliado não somente pela presença ou ausência de doenças, mas sim, pela capacidade do idoso de determinar e executar seus próprios desejos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se verificar com o presente estudo que a OA é uma doença funcionalmente incapacitante principalmente nas atividades de vida diária que exijam maior amplitude de movimento de membros inferiores, como agachar, ajoelhar, subir e descer degraus.

Sugere-se a realização de outros estudos para a compreensão dos fatores que contribuem na capacidade funcional no idoso. Esse entendimento é importante para o planejamento de políticas públicas e implementação de programas que visem principalmente a prevenção e o controle das doenças crônicas incapacitantes, promovendo bem estar e maior qualidade de vida para essa população.

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Recebido em 13/12/07 Aprovado em 20/03/08

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