CHRISTIANE GRACE GUIMARÃES DA SILVA
Programa de Estudos Pós Graduados em Educação: História, Política, Sociedade (PUC-SP)
TAUBATÉ: A IMPRENSA E A INSTRUÇÃO PÚBLICA (1894-1902) RESUMO
Este trabalho tem como objetivo compartilhar uma pesquisa que se propõe a analisar e comparar, lidando com o conceito de representação, as diversas notícias veiculadas nos jornais de Taubaté no período de 1895 a 1902 sobre instrução pública, para compreender de que maneira a elite letrada taubateana encarou as questões educacionais, num período de efervescência política gerada pela implantação do regime republicano, preenchendo assim uma lacuna de conhecimento sobre instalação desse “novo” modelo de educação em Taubaté, prometido pelos republicanos.
Palavras-chaves: Educação e Imprensa, História da Educação, República.
1. Descrição do Objeto
O Estado de São Paulo vivia um momento importante no cenário nacional na passagem do século XIX para o XX. A expansão da cultura do café trouxe, além do desenvolvimento econômico, o aumento da população e elevado fluxo migratório.
Segundo Soto (2000), analisando a história da formação da cidade entre 1860 e 1935, do ponto de vista econômico, o plantio do café determinava as atividades produtivas em última instância; mas outros setores se desenvolveram à margem e até independentemente da atividade cafeeira. No final do século XIX e início do século XX a “urbe” foi incrementando seu papel de refúgio dos egressos das fazendas de café, dos latifundiários que transferiram definitivamente suas residências e também dos pequenos proprietários que visavam manter sua renda através da venda de sua produção ou ocupando cargos públicos. À medida que o século avançava, a reformulação do espaço urbano tornou-se uma prioridade e definitivamente a ênfase do desenvolvimento, segundo a autora, se descolou definitivamente do meio rural para o urbano. Soto (2000) afirma que “essa consciência das urgências urbanas” fez com que um setor estruturado da população, como os fazendeiros que “foram morar na cidade”, os profissionais liberais e os pequenos proprietários, sugerissem reformas, que consideravam importantes para o desenvolvimento e crescimento de Taubaté, especialmente por meio dos jornais.
Considerando o grande e variado número de notícias sobre educação veiculadas nos jornais que circulavam na cidade nesse período, acredito ser possível verificar quais os temas, problemas e debates que fizeram parte dessa contenda para revelar quais as representações que se faziam sobre a escola nesses jornais.
Para Chartier (1990) as representações do mundo social são sempre determinadas pelos interesses dos grupos que as forjam, portanto, quais eram
os interesses desses grupos representados nas páginas dos jornais, considerando a questão educacional?
Segundo Cruz (2000), na reflexão letrada do final do século XIX e início do século XX, a imprensa começa a ser entendida não só como instrumento de articulação e discussão das posições e interesses das elites, mas também, e principalmente, como veículo de formação cultural e moral do povo. Em Taubaté, segundo Soto (2001), essa foi uma época frutífera para debates jornalísticos. Entre 1860 e 1935 foram registrados aos menos 222 jornais locais, alguns de curta vida e embora se pretendessem imparciais, à margem de paixões políticas, “todos estavam vinculados a uma determinada ideologia”. Ela afirma que, apesar de mencionarem notícias nacionais e internacionais, os acontecimentos locais é que monopolizavam o espaço jornalístico: em geral propaganda em defesa de interesses particulares e, segundo ela, “às vezes batiam numa ou outra tecla como a instrução pública, por exemplo” – uma afirmação que não tem reflexo nos 17 jornais e 272 artigos encontrados sobre o assunto no município de Taubaté entre 1894 e 1902.
A história da Imprensa em Taubaté
Para Sodré (1966) na passagem do século XIX para o XX, aconteceu no Brasil uma transição entre pequena e grande imprensa. Os pequenos jornais de estruturas simples, cedem lugar às empresas jornalísticas, com “estrutura específica, dotadas de equipamento gráfico necessário ao exercício da sua função”. O jornal será a partir desse momento, segundo ele, uma empresa capitalista de menor ou maior porte, porém o jornal como empreendimento individual, como aventura isolada, desaparece nas grandes cidades e sobrevive apenas no interior. Uma das questões levantadas por Sodré refere-se ao fato desses jornais terem pouca duração e muitos deles receberem ajuda financeira do poder público o que explicaria o encerramento de alguns deles devido a rupturas políticas dos seus proprietários. Outra explicação reside no fato de serem financiados individualmente o que demandava certa condição financeira que, muitas vezes era insustentável para um só indivíduo.
Em Taubaté, a história da imprensa na cidade tem um único e importante estudo feito por Mello Jr (1983). Segundo ele, Francisco Xavier de Assis teria sido o responsável pela instalação da primeira tipografia e fundado o primeiro jornal em 1861, chamado O Taubatèense.
O autor faz um levantamento dos jornais que circularam na cidade entre 1842 e 1981 tentando oferecer uma visão geral das publicações surgidas em Taubaté em cento e vinte anos “ao lado dos periódicos de maior porte e importância social ou política”, indicando quais eram seus proprietários, editores e muitas vezes mostrando também quem eram os colaboradores. Ainda é necessário fazer um levantamento biográfico dessas personagens para saber a posição que ocupavam – dados importantes para verificar de qual posição proferiam seus discursos, quais espaços ocupavam na sociedade taubateana e que interesses defendiam.
Todo esse acervo que compõem a hemeroteca municipal tem ainda muito a ser explorado, porém o material parece ser rico em informações acerca do debate instalado no município por conta da instalação do modelo republicano de instrução pública.
2. Objetivo
Através da análise e leitura dos jornais da época, verificar quais temas, problemas ou contendas envolveram a instrução pública no município de Taubaté na passagem do século XIX para o século XX, num momento de instauração de um modelo republicano de educação. Circunscrever assim, um campo de discussão capaz de mostrar quais eram as representações que a elite letrada taubateana fazia da escola.
3. Procedimentos Adotados
Como analisar os artigos dos jornais estabelecendo linha editorial, semelhanças, contrapontos e poder chegar analisar com mais propriedade quais eram as representações sobre a escola constituídas nos jornais?
Segundo Cruz (2000), é preciso problematizar quem era o produtor do discurso, de que forma e como se produziu, sem perder de vista as questões atinentes para quem produziu e quais as conseqüências dessa produção para a sociedade. Ela afirma que, a partir de última década do século XIX, “o povo e a cidade intrometeram-se nas páginas da imprensa”, pela incorporação dessa nova forma de produção e representação. A cultura letrada tecia estreitas articulações com os projetos e disputas para e pela cidade. Para ela, as reflexões sobre a difusão das práticas de leitura e da escrita sobre quem lia o quê em diferentes momentos históricos, como ao universo de significações de diferentes leituras para diversos leitores, é uma discussão das “mais espinhosas”. Para fazer essa análise é preciso remeter-se à Chartier (1990)1 que nos mostra que para cada caso torna-se necessário relacionar os discursos proferidos com a posição de quem os utiliza, pois estamos lidando com esse conceito de representação. Para ele, as representações “inserem-se em um campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominação”, ou seja, são produzias verdadeiras lutas de representações. Essas lutas geram inúmeras apropriações possíveis das representações, de acordo com os interesses sociais, com as imposições e resistências políticas.
Esse diálogo com Chartier se justifica no sentido de pensar as maneiras de como esses atores faziam circular as representações sobre a instrução pública por meio da prática da escrita dos jornais.
4. Principais resultados obtidos
Durante o desenvolvimento da pesquisa, as fontes foram indicando os caminhos por onde eu poderia explorar toda essa discussão acerca do discurso veiculado nos jornais da época em Taubaté relacionados com a instrução pública. E esses caminhos me levaram para a disputa igreja versus república. Fazendo um levantamento mais minucioso de todas as notícias sobre educação, pude encontrar um rico campo de disputa. Notícias relatando Conferências Pedagógicas realizadas na cidade defendendo o método
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Em, A ordem dos livros, Chartier faz da história do livro e da leitura seu espaço de pesquisa e produção. Suas concepções baseiam a compreensão da leitura como ato concreto, que se manifesta nas relações de apropriação e nos diferentes usos que leitores fazem dela.
intuitivo2 e a não interferência da igreja católica na escola republicana e também jornais se contrapondo a essas críticas defendendo o ensino religioso católico nas escolas. Esse novo rumo da pesquisa facilitará pensar as maneiras como essas notícias faziam circular as representações sobre a instrução pública por meio da prática da escrita dos jornais.
Nessa contenda muito ainda precisa ser explorado e a pesquisa está apenas começando
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