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O desenvolvimento rural e a agroecologia: uma alternativa para sustentabilidade ambiental / Rural development and agroecology: an alternative for environmental sustainability

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Academic year: 2021

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O desenvolvimento rural e a agroecologia: uma alternativa para

sustentabilidade ambiental

Rural development and agroecology: an alternative for environmental

sustainability

Recebimento dos originais: 15/06/2018 Aceitação para publicação: 20/07/2018

Claudio Soares dos Santos

Doutorando em Desenvolvimento Regional pela UNISC Instituição: Universidade de Santa Cruz do Sul

Endereço: Rua Francisco Talaia de Moura, 430/Porto Alegre-RS E-mail: claudio@cee.com.br

Natacha Souza John

Doutoranda em Desenvolvimento Regional pela UNISC Instituição: Universidade de Santa Cruz do Sul

Endereço: Avenida Independência, 2293 - Universitário, Santa Cruz do Sul - RS E-mail: natachajohn@hotmail.com

RESUMO

O objetivo do presente trabalho é demonstrar as consequências do modelo de produção hegemônico no que tange o desenvolvimento rural, e seus principais reflexos ambientais, econômicas, sociais e políticas. Contudo, em relação ao meio ambiente a problemática pretende ser melhor investigada de forma a estudar a relação do Desenvolvimento Rural e a sustentabilidade e suas implicações em relação a finitude dos recursos naturais. Na medida que se busca considerar também sobre a agroecologia como uma das alternativas viáveis para alcançar o Desenvolvimento Rural sustentável.

Palavras chaves: agroecologia; desenvolvimento rural; meio ambiente; sustentabilidade.

ABSTRACT

The objective of the present work is to demonstrate the consequences of the hegemonic production model regarding rural development, and its main environmental, economic, social and political repercussions. However, in relation to the environment, the problem is intended to be better investigated in order to study the relationship between Rural Development and sustainability and its implications for the finiteness of natural resources. Insofar as it is also sought to consider agroecology as one of the viable alternatives for achieving sustainable rural development.

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1 INTRODUÇÃO

Durante um longo período histórico, o Desenvolvimento Rural, esteve associado, as políticas determinadas pelo Estado, produzindo um modelo de produção agrícola hegemônico. As consequências advindas deste modelo de produção adotado, acabaram por refletir na esfera ambiental, econômica, política e social.

Acabou por se verificar que as mudanças rápidas e complexas decorrentes da produção agrícola, implantadas no campo, e os interesses dominantes do estilo de desenvolvimento adotado provocaram resultados estruturais na organização da sociedade como um todo.

Eis, que surge a necessidade de repensar os modelos adotados até o presente momento, como uma forma de questionar os padrões dominantes, assim, é trazido à tona, a agroecologia como uma forma de alcançar o Desenvolvimento Rural sustentável.

Deste modo, o trabalho utiliza o método indutivo de pesquisa pela natureza do estudo desenvolvido, por se adequar aos objetivos propostos e valendo-se da pesquisa bibliográfica como fonte para a formação argumentativa.

Para tanto, o presente artigo inicialmente vai realizar um aporte sobre o Desenvolvimento Rural, a partir de sua evolução histórica para uma melhor compreensão do assunto, para na sequencia analisar o Desenvolvimento Rural e a sustentabilidade ambiental. E por fim, considerar sobre a agroecologia como uma alternativa para alcançar a o Desenvolvimento Rural sustentável.

A compreensão do tema para o desenvolvimento regional é de grande importância, pois a contribuição deste ensaio é descrever a relevância da agroecologia, para o um “novo” modelo de Desenvolvimento Rural.

Importante mencionar, que a compreensão desta temática envolvem diversas facetas, que implicam o entendimento das dimensões sociais, políticas, econômicas e principalmente as relações existentes entre meio ambiente e o desenvolvimento rural.

2 A CONTEXTUALIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO RURAL E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A crise vivenciada na década de 80, acabou por deixar algumas marcas na economia e na sociedade como um todo, sendo necessário repensar os modelos adotados. Dentre estas novas formas de pensar, é possível destacar a emergência do desenvolvimento rural1, sob este novo

enfoque, diferentemente do pensado até o período histórico vivenciado na década de 80.

1 Importante neste sentindo incluir uma definição de desenvolvimento rural mencionada por NAVARRO: “[...]

Desenvolvimento rural, portanto, pode ser analisado a posteriori, neste caso referindo-se às análises sobre programas já realizados pelo Estado (em seus diferentes níveis) visando a alterar facetas do mundo rural a partir de objetivos previamente definidos. Mas pode se referir também à elaboração de uma "ação prática"

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Alguns fatores são considerados essências, para compreensão do desenvolvimento rural. Segundo Schineider, (2010) é necessário levar em consideração aspectos econômicos, políticos, sociais, bem como as questões ambientais, que contribuíram de forma enfática para o debate do assunto.

No que se refere ao aspecto econômico, é importante destacar que o processo de consolidação somente se configurou no período do governo do F.H.C, onde se propiciou o debate para novas formas de desenvolvimento e consequentemente, repensando sobre o desenvolvimento rural.

Ainda assim, a própria Constituição Federal de 1988, acaba por também repercutir, quando atribui competência aos municípios2 para diremir sobre diversos aspectos sociais.

Já no aspecto social, o período anteriormente vivenciado pela ditadura, foi considerando praticamente nulo, no que tange as articulações sociais. Contudo, após a nova Constituinte, é possível vislumbrar uma nova forma de articulação dos atores sociais, através de movimentos, organizações não governamentais, associações, enfim a sociedade civil, como um todo se apresenta mais articulada para requerer seus direitos (SCHINEIDER, 2010).

E por fim, o outro aspecto que merece destaque nesta linha histórica de repensar o desenvolvimento rural é as questões ambientais, que começaram a emergir, principalmente no Brasil, após a década de 90, marcada pela Conferência das Nações de Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992, na cidade do Rio de Janeiro.

Esse evento, que ficou mais popular como ECO/92, foi a segunda amostra solene da ONU em prol do meio ambiente, resultando na elaboração da Declaração sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e no estabelecimento da Agenda 21.

Neste ínterim, ficou verificado pela ONU3 que a concepção de desenvolvimento sustentável

vai muito mais além da questão do meio ambiente propriamente dita, passando inicialmente por uma abordagem social, apresentando uma sugestão vasta e integradora para a visão social:

para o futuro, qual seja, implantar uma estratégia de desenvolvimento rural, para um período vindouro (assim, existiriam diversas metodologias de construção de tal estratégia, bem como um amplo debate sobre seus objetivos e prioridades principais)”. NAVARRO, Z. Desenvolvimento rural no Brasil: os limites do

passado e os caminhos do futuro. In: Revista Estudos Avançados, São Paulo, USP, Vol. 16, Nº 44, p.

83-100, 2001.

2 A compreensão do papel dos municípios após a Constituição Federal de 1988, através as palavras de NAVARRO:

“Outro foco igualmente primordial com relação às perspectivas do passado refere-se aos fenômenos de democratização dos municípios, sob o impacto das mudanças políticas do período recente. Crescentes inovações na gestão pública, ampliando a participação e o controle social sobre os fundos públicos ao instalar maior transparência e mecanismos de responsabilização - ou, em termos genéricos, mais ampla e eficaz governance -, provavelmente significam uma profunda transformação sócio-política em andamento, cujos contornos mais concretos são ainda imprecisos. NAVARRO, Z. Desenvolvimento rural no Brasil: os

limites do passado e os caminhos do futuro. In: Revista Estudos Avançados, São Paulo, USP, Vol. 16,

Nº 44, p. 83-100, 2001.

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Estamos convencidos de que a consecução do desenvolvimento sustentável exige uma integração dos seus componentes econômicos, ambientais e sociais. Empenhamo-nos novamente em colaborar – com espírito de solidariedade mundial – afi m de multiplicar os nossos esforços conjuntos para satisfazer de modo equânime às necessidades das gerações presentes e futuras.

É possível discorrer que estes elementos (ambiental, econômico, e social) foram de suma importância para se tentar compreender o desenvolvimento rural4, no entanto, é necessário compreender de fato, no Brasil, outros fatores também são considerados relevantes para a complexidade do tema.

A agricultura familiar5 neste aspecto desempenha um importante papel, pois reúne aspectos como sociais, econômicos e também o modelo produtivo adotado. Embora, não possa ser considerado algo novo, o momento histórico vivenciado pelo Brasil na década de 90, permitiu que a temática pudesse insurgir com força em todos os campos de forma mais intensa.

Vale referir, experiências comparadas no que tange a agricultura familiar, o Brasil está muito atrasado, principalmente, se o referencial adotado for países da Europa, que já adotam o modelo produtivo da agricultura familiar desde muito tempo.

Neste sentido, quanto a agricultura familiar, também é razoável afirmar sobre o aspecto social que está revestido, pois é a primeira vez, que se tem abertura política para tanto, bem como o incentivo do próprio Estado para tanto.

Através de diversos mecanismos se pode perceber o apoio por parte da esfera pública, pelo meio de políticas voltadas para agricultura familiar, além de temas como reforma agrária e a questão da segurança alimentar, podendo ser elucidado como exemplo também o PRONAF6, a criação do MDA7, além de atividades desenvolvidas no âmbito do desenvolvimento territorial,

4 A concepção de desenvolvimento rural, merece ser elucidada, para compreender o estudo a que se

propõe, assim, importante abordar o seguinte entendimento: “Desenvolvimento rural, portanto, não se restringe ao "rural estritamente falando" - famílias rurais e produção agrícola - nem exclusivamente ao plano das interações sociais, também principalmente rurais comunidades, bairros e distritos rurais, por exemplo -, mas necessariamente abarcam mudanças em diversas esferas da vida social as quais-, se têm por limite mais imediato de realização o município, podem estender-se para horizontes territoriais mais extensos, como provavelmente ocorrerá em curto prazo. Parecem assim desaparecer definitivamente o corte rural-urbano e as formas de sociabilidade, igualmente demarcadas por tal segmentação” Desenvolvimento rural

no Brasil: os limites do passado e os caminhos do futuro. In: Revista Estudos Avançados, São Paulo,

USP, Vol. 16, Nº 44, p. 83-100, 2001.

5 Sobre a compreensão da agricultura familiar destaca-se: “Desta forma, verifica-se que a compreensão da

agricultura familiar como uma categoria social, não permite a construção de uma Teoria Social, mas sim de uma perspectiva e/ou abordagem teórica que busca a compreensão da realidade e à medida que se aproxima da realidade torna-se mais forte e preponderante”. DEPONTI, Cidonea Machado. Contribuições

teóricas brasileiras ao debate da agricultura familiar. In: Gedecon, Revista Gestão e Desenvolvimento em contexto, Cruz Alta: Unicruz, v. 2, n 1, (jan/jun), p. 82-102. 2008.

6 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. 7 Ministério do Desenvolvimento Agrário

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sufrágio as comunidades ribeirinhas, a questão de demarcação de terras e as próprias condições de trabalho que são oportunizadas.

Na contextualização do desenvolvimento rural em relação ao caminho histórico percorrido, também é importante destacar em relação aos reflexos ideológicos e políticos em relação ao assunto.

O cerne da discussão está situado que existem basicamente dois lados antagônicos. De um lado, está ancorado o modelo dominante, contrário a qualquer tipo de reforma, como também insuscetível a qualquer tipo de mudança que é denominado de elite agrária do agronegócio. Já de outro lado temos o agricultor familiar e todas as discussões ideológicas que permeiam este assunto, eis que surge um contumaz processo de discussão.

3 O DESENVOLVIMENTO RURAL E A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Embora, já tenha sido mencionado anteriormente a questão ambiental, para abordagem do desenvolvimento rural, através do seu contexto histórico, neste momento pretende-se trabalhar de forma um pouco mais a abrangente a temática de forma a verificar de fato a questão ambiental e seus reflexos no desenvolvimento rural.

Conforme aludido em momento antecedente, a questão do desenvolvimento rural, não está estritamente vinculada somente às questões pertinentes ao rural, mas mudanças em diversas esferas.

Porém, o cerne da discussão, diz respeito a sustentabilidade e sua influência no Desenvolvimento Rural, entretanto, não se pode deixar de levar em consideração, também que a discussão sobre a temática ambiental é anterior a emergência do tema do Desenvolvimento Rural.

Inicialmente é necessário mencionar sobre a “revolução verde”8 , pois trouxe mudanças

estruturais não só na dinâmica socioeconômica, como também nas questões ambientais.

É possível aludir que foi um período marcado pela larga utilização dos solos, intensivos agrícolas, produção em grande escala, bem como o consequente estabelecimento de complexos agroindustrial. Assim, se verifica a insustentabilidade do desenvolvimento das sociedades contemporâneas, baseado na finitude dos recursos naturais, bem como as injustiças sociais (Almeida, 1998).

8É possível compreender como revolução verde o período que teve inicio em a partir de meados da década

de 1960, vários países latino-americanos engajaram-se na chamada “Revolução Verde”, fundada basicamente em princípios de aumento da produtividade através do uso intensivo de insumos químicos, de variedades de alto rendimento melhoradas geneticamente, da irrigação e da mecanização, criando a idéia que passou a ser conhecida.

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A exploração ambiental está inteiramente ligada ao avanço do complexo desenvolvimento tecnológico, científico e econômico que, muitas vezes, tem modificado de forma irreversível o cenário do planeta e levado a processos degenerativos profundos da natureza (RAMPASSO, 1997). Dentre os processos degenerativos profundos da natureza Ehlers (1999) destaca a erosão e a perda da fertilidade dos solos; a destruição florestal; a dilapidação do patrimônio genético e da biodiversidade; a contaminação dos solos, da água, dos animais silvestres, do homem do campo e dos alimentos.

Ainda assim, vale referir em relação à modernização, acabou ocorrendo de maneira parcial, no sentido de atingir alguns produtos, em algumas regiões, beneficiando alguns produtores e algumas fases do ciclo produtivo (GRAZIANO DA SILVA, 1999).

Neste sentindo, não só acrescentou o atrelamento da agricultura com relação a outros setores da economia, principalmente o industrial e o financeiro, como também as condições em relação ao desequilíbrio social e o impacto da atividade agrícola sobre condições ambientais .

As modificações causadas pela produção agrícola, implantadas no campo, e os interesses predominantes do estilo de desenvolvimento adotado geraram efeitos sociais que ameaçam a capacidade de sobrevivência não somente do meio rural, mas também das cidades e, portanto, o futuro da própria sociedade. Neste sentindo é salientado por Martine (1987, p. 10):

o custo social das mudanças ocorridas agudiza o questionamento das suas vantagens econômicas. Sem dúvida a produção e a produtividade aumentaram, mas não no ritmo esperado. A agroindústria se expandiu rapidamente, mas a produção per capita de alimentos básicos é menor do que no início da modernização. O número de postos de trabalho no campo aparentemente aumentou, mas grande parte deles são de natureza instável e mal remunerados. O campo se industrializou, se eletrificou e se urbanizou parcialmente, entretanto o êxodo rural também se multiplicou, levando ao inchamento das cidades.

Refletir sobre as perspectivas do “novo mundo rural” demanda que se aprecie a realidade que, ao mesmo tempo em que tem colocado uma classe da sociedade com o que há de mais moderno na agricultura e pecuária, antagonicamente, deixa outra, como os agricultores familiares, a maioria dos produtores rurais, cada vez mais afastados de tais inovações.

Entretanto, se é necessário pensar o desenvolvimento rural com sustentabilidade, é imprescindível, considerar o modelo de produção a ser adotado, pois uma mudança imprudente nessa área pode gerar resultados indesejados.

Importante neste sentindo a contribuição de Kaimowitz (1997, p. 63) a: “Muitas ONGs falam sobre a importância de aprender com os agricultores e resgatar tecnologia autóctone, mas poucas conseguem fazê-lo de forma sistemática.”

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Assim, é preciso “ideologia modernizadora”9, e estabelecer uma realidade na qual a

agricultura deve ser enfocada sob um olhar que não se volte exclusivamente para a reprodução do capital.

4 A AGROECOLOGIA COMO UMA ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

A modernização agrícola, se por um lado trouxe avanços na questão produtiva das lavouras, de outro lado, acabou acarretando problemas ambientais indesejáveis. Assim, sendo é possível mencionar como os problemas ambientais mais comuns, provocados pelo padrão produtivo monocultor foram: a destruição das florestas e da biodiversidade genética, a erosão dos solos e a contaminação dos recursos naturais e dos alimentos, todos danos decorrentes do processo da modernização da agricultura brasileira.

Assim, Veiga (2000, p. 31) afirma: “[...] a erosão da diversidade biológica só poderá ser controlada se houver simultânea retração de atividades que degradam os habitats e crescimento das que os conservam ou recuperam”. Ou seja, o ser humano como agente modificador da paisagem é culpado por impactos na superfície da terra, operando nos meios físico, econômico e social.

As palavras de Azevedo (1986, p. 28) refere-se ao desequilíbrio entre o homem e os sistemas, referindo que:

[...] da falta de conhecimento das leis e processos que controlam os sistemas que se desenvolvem nos ambientes físico, social e econômico, da falta de racionalidade no modelo econômico adotado e/ou da falta de visão sobre a problemática social e até do seu nível cultural.

É razoável mencionar que a questão ambiental, além de complexa, exige conhecimentos multidisciplinares10, pois os impactos também são resultantes nas diferentes áreas.11Contudo, é

9 Importante referir as contribuições dev Graziano Neto (1982, p. 43) explica: “Esta ideologia tende a

desprezar e ignorar aquilo que não é rotulado como moderno, provocando, assim, uma substituição das técnicas que são consideradas obsoletas ou tradicionais”.

10 Infelizmente muitas das pesquisas realizadas no Brasil é desempenhado por fundações internacionais

(Rockfeller, Ford, etc.). Essas pesquisas se fazem sempre no sentido de intensificar o efeito das inovações químicas e/ou mecânicas, geralmente de monopólio de grandes empresas multinacionais, da qual a “Revolução Verde” seja, talvez, o maior exemplo (GRAZIANO DA SILVA, 1981). GRAZIANO DA SILVA .J. Progresso técnico e relações de trabalho na agricultura. São Paulo: HUCITEC, 1981. 210 p. (Economia & Planejamento. Série “Teses e Pesquisas”).

11 Importante neste sentido a contribuição de Amstalden (1991, p. 50-51): 1º) a tecnologia utilizada é

reducionista e desconsidera as intrincadas relações do meioambiente, sendo por isso agressiva acarretando graves perdas, além de não controlar eficientemente problemas, mantendo a lavoura sob dependência do sistema industrial que lhe é exógeno; 2º) no caso brasileiro a situação agrava-se na medida em que a tecnologia foi desenvolvida para realidades ecológicas e sociais do primeiro mundo e foi introduzida aqui sem considerar-se essa diversidade. O resultado é, portanto maior dependência e menor eficiência; 3º) o custo dessa agricultura é muito alto, beneficiando os grupos já capitalizados e excluindo os demais. O custo ainda é muito grande do ponto de vista energético, já que há grande utilização de recursos não-renováveis;

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necessário repensar algumas alternativas aos problemas ocasionados pelo modelo produtivo hegemônico, que acaba trazendo uma serie de consequências econômicas, políticas e sócias.

Ao longo dos anos, os homens vem procurando constituir formas de agricultura menos nociva ao meio ambiente, como uma forma de tentar apresentar uma relação mais harmônica com os recursos naturais e evitando o modo de produção convencional operacionalizado na agricultura.

Eis que neste debate surge, em meados dos anos 80, estudos preocupados em encontrar respostas a situação vivenciada pela agricultura, através de formas alternativas, com distintas determinações, mas todas interligadas por um fim comum: uma agricultura sustentável em favor do homem12.

Assim, tenta-se conceituar sobre a agroecologia, juntando estudos sobre a agronomia, ecologia e meio ambiente. Neste sentindo cumpre salientar as palavras de Caporal (2009, p. 15):

Ao contrário das formas compartimentadas de ver e estudar a realidade, ou dos modos isolacionistas das ciências convencionais, baseadas no paradigma cartesiano, a Agroecologia busca integrar os saberes históricos dos agricultores com os conhecimentos de diferentes ciências, permitindo, tanto a compreensão, análise e crítica do atual modelo do desenvolvimento e de agricultura, como o estabelecimento de novas estratégias para o desenvolvimento rural e novos desenhos de agriculturas mais sustentáveis, desde uma abordagem transdisciplinar.

Além disso, é importante referir que a agroecologia está fundamentada no equilíbrio, na forma harmônica como as relações entre o meio ambiente acontecem.Não obstante, a agroecologia é um enfoque cientifico que é dado para compreensão do desenvolvimento rural e da agricultura tradicional, através de uma matriz teórica que aborda distintas áreas do conhecimento para alcançar uma agricultura sustentável.

Outro aspecto importante de ser elucidado é que essa concepção, está em continua evolução, no decorrer das transformações oriundas do tempo. Eis que não se trata apenas de conhecimentos técnicos, mas também de transformações sociais, através de mudanças nas atitudes e valores dos atores envolvidos em relação ao manejo e conservação dos recursos naturais.

4º) a agricultura industrial é monopolista. De um lado se monopoliza a produção por parte de grandes proprietários rurais beneficiados pela disponibilidade de capital; e do outro se monopoliza a tecnologia por parte de grandes grupos empresariais. Nota-se que o monopólio produtivo agrava os desequilíbrios sociais e o monopólio técnico mantém a dependência do país às importações elevadas e confere aos detentores da tecnologia um poder econômico e político sobre o Brasil; 5º) há um grande domínio da pesquisa e o seu direcionamento para a manutenção do modelo agrícola vigente. Isso inviabiliza soluções e técnicas mais adaptadas e menos agressivas. AMSTALDEN, L. F. F. Os custos da modernização. Campinas: UNICAMP/IFCH, ano 1, n.1, 1991. 56 p.

12 Em diversos países, passaram a surgir estas agriculturas alternativas, com diferentes denominações:

orgânica, biológica, natural, ecológica, biodinâmica, permacultura, entre outras, cada uma delas seguindo determinadas filosofias, princípios, tecnologias, normas e regras, segundo as correntes a que estão aderidas. CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio; PAULUS, Gervásio. Agroecologia como matriz disciplinar para um novo paradigma de desenvolvimento rural.

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Caporal e Costabeber (2004, p. 09) afirmam que:

Em síntese, é preciso ter clareza que a agricultura ecológica e a agricultura orgânica, entre outras denominações existentes, conceitual e empiricamente, em geral, são o resultado da aplicação de técnicas e métodos diferenciados dos pacotes convencionais, normalmente estabelecidas de acordo e em função de regulamentos e regras que orientam a produção e impõem limites ao uso de certos tipos de insumos e a liberdade para o uso de outros.

Ainda, conforme os autores mencionados, agroecologia, é aquela que consegue estabelecer uma visão holística, na medida em que a produção ocorre através de uma baixa vinculação de insumos, utilização de recursos naturais renováveis e facilmente encontrados, respeito as condições locais, no sentindo de não modificar as condições ambientais, conservação a longo prazo da capacidade produtiva.

Além disso, práticas sempre voltadas para a precaução e prevenção da diversidade biológica e cultural e ainda assim, aproveitar os saberes do conhecimento e da cultura da população local.(Caporal e Costabeber, 2009)

Neste sentido, quando se menciona agricultura sustentável, se está ponderando sobre estilos de agricultura de base ecológica que consistam em condições que priorizem solidariedade entre as presentes gerações e as suas relações com as futuras gerações, sendo assim, é possível pensar na agroecologia, como uma forma “alternativa” para o desenvolvimento rural.

5 CONCLUSÃO

A dinâmica territorial oriunda do processo de modernização vivenciado na agricultura demonstra o gravidade com que se reflete nas questões ambientais, econômicas e sócias. Através destas situações é possível constatar diversas mazelas como o inchamento das cidades, concentração da terra e da renda, intensificação das lutas sociais, inclusão e/ou exclusão de segmentos sociais e de lugares no processo agrícola.

No que tange ao desenvolvimento rural especificamente, “moderna agricultura”, ocasionou vários problemas que afetaram o meio ambiente, a qualidade de vida e o processo de produção, colocando em risco o próprio prosseguimento do mesmo.

Assim, esta categoria se apresenta cada vez mais próxima do limite de sobrevivência que, ultimamente, tem merecido maior preocupação por parte das impactos decorrentes do modelo de produção dominante adotado pela agricultura brasileira.

Eis que no contexto de repensar o desenvolvimento rural através de uma forma mais sustentável a agroecologia é apresentada como uma das alternativas a está situação.

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Contudo, e imperioso destacar que os desafios para se alcançar o desenvolvimento rural, através de uma perspectiva sustentável, são enormes e complexos, pois é necessário transcender as barreiras fixadas pela economia e sociedade, no sentido de compreender que a sustentabilidade precisa fazer parte do sucessão dos dias da sociedade.

Diante disso, a abordagem científica e de caráter multidisciplinar, a qual se depreende Agroecologia, é capaz de apresentar a potencialidade para outros estilos de agricultura e processos de desenvolvimento rural sustentáveis que avalizem a preservação ambiental, reverenciando os princípios da sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

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CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio; PAULUS, Gervásio. Agroecologia como matriz disciplinar para um novo paradigma de desenvolvimento rural. Disponível em: https://virtual.unisc.br/presencial/pluginfile.php/476749/mod_resource/content/1/Agroecologia-Conceitos-e-princpios1.pdfAcesso em: out. 2017.

DEPONTI, Cidonea Machado. Contribuições teóricas brasileiras ao debate da agricultura

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