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A liberdade de informação e suas questões polêmicas

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Maria Cristina Barboza

A liberdade de informação e suas questões

polêmicas

Atualmente é gerente de projetos e docente da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, aluna de mestrado do Programa de Estudos Pós-Graduados em Direito da PUC-SP, no núcleo de pesquisa em Direito Constitucional, e bolsista da CAPES (modalidade 2).

Resumo

A liberdade de informação engloba os direitos à opinião, expressão, comunicação, informação e informação jornalística. Com a expansão dos meios de comunicação, a liberdade de informação passou a enfrentar alguns desafios. Este artigo tem por objetivo, portanto, discutir questões polêmicas que envolvem a liberdade de informação, como o controle e os limites da liberdade de expressão, liberdade de informação e o discurso do ódio, a publicidade comercial como forma de manifestação do pensamento, e a liberdade de informação e o sigilo da fonte.

Palavras -Chave

Liberdade de informação, direito de opinião, direito de expressão, direito à informação jornalística1.

Abstract

The freedom of information includes the rights to opinion, expression, communication, information, and press information. With the expansion of the media, the freedom of information began to face some challenges. This article aims, therefore, to discuss controversial issues involving it, such as control and limits of expression freedom, information freedom, hate speech, commecial advertising as a form of expression of thought, freedom of information and confidentiality of the source.

Key words

Freedom of Information, right to opinion, right to expression, right to press information.

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1. A liberdade de informação

A liberdade de informação engloba vários direitos fundamentais previstos na Constituição Brasileira, entre eles:

(1) Direito de opinião, que garante a manifestação do pensamento através da verbalização e da escrita. Este direito está previsto no inciso IV do art. 5ª da Constituição Brasileira: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.

(2) Direito de expressão, que garante a manifestação do pensamento por meio de diferentes formas, como a música, a pintura, o teatro e a fotografia, por exemplo. O direito de expressão também se fundamenta no inciso IV do art. 5º da Constituição Brasileira.

Para Samantha Ribeiro Meyer-Pflug “da liberdade de expressão do pensamento derivam a liberdade religiosa, a liberdade de informação, a liberdade de imprensa e a própria inviolabilidade de correspondência, posto que a liberdade de expressão do pensamento pode dar-se por meio da escrita, ou de uso de imagens e não necessariamente pessoalmente” (MEYER-PFLUG,

2009, p. 70).

Cabe destacar que o direito de opinião e o direito de expressão, conforme previsto no art. 220 da Constituição Brasileira, não podem sofrer qualquer tipo de restrição: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição”,

e também não podem ser objetos de censura prévia, nos termos do § 2ª do mencionado artigo: “É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”.

A respeito da censura, Vidal Serrano Nunes Jr. observa que o direito de expressão “não fica livre de eventual sanção judicial, o que abre caminho para a afirmação de que nosso ordenamento admite uma

espécie de censura: a judicial” (NUNES JÚNIOR,

2011, p. 42).

(3) Direito de Comunicação, que garante a livre movimentação e troca de informações através de meios de comunicação de massa. E como “informações” entendem-se todo fato

relatado (informação jornalística), assim como toda manifestação do pensamento (direito de opinião e de expressão).

Pode-se pensar inicialmente que os direitos relacionadas a manifestação do pensamento (opinião e expressão) prescindem do direito de comunicação. Ocorre que, nos dias de hoje, a manifestação do pensamento não veiculada através dos meios de comunicação possui quase ou nenhuma força ou influencia.

Deste modo, assim como os meios de comunicação se alimentam das manifestações de pensamento, estas manifestações usam os meios de comunicação para se tornarem públicas e relevantes, tornando os mencionados direitos intrinsecamente ligados.

Vidal Serrano Nunes Jr. observa que o direito de comunicação comporta vários elementos, assim como “a manifestação e a recepção do pensamento, a difusão de informações, a manifestação artística ou a composição audiovisual, quando veiculadas através de um meio de comunicação de massa” (NUNES

JÚNIOR, 2011, p. 43).

Os dispositivos constitucionais que disciplinam o direito de comunicação são os seguintes: art. 220 (que proíbe restrições ao direito de opinião, expressão e comunicação), §§ 1º (proibição de leis que criem embaraços ao direito de opinião, expressão e comunicação), 2º (vedação da censura prévia), 3º (poderes conferidos à lei federal para regular as diversões e os espetáculos públicos, assim como para estabelecer meios para a defesa contra programas

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e propagandas abusivas) e 4º (restrições a propagandas de determinados produtos: tabaco, bebidas alcoólicas etc.), e artigo 221 (princípios que a programação dos meios de comunicação devem seguir).

Com relação aos órgãos de comunicação, os dispositivos constitucionais reguladores são os seguintes: art. 220, §§ 5º (proibição de monopólio ou oligopólio) e 6º (veículos impressos não necessitam de licença de autorização), 222 (regras para participação de estrangeiros nos meios de comunicação), 223 (regras para a concessão, permissão e autorização) e 224 (criação do Conselho de Comunicação Social).

(4) Direito de informação: garante a divulgação de um fato relevante para a sociedade. Este direito possui três facetas: direito de informar, direito de se informar e direito de ser informado.

O direito de informar tem em geral caráter negativo, pois qualquer pessoa pode exercer este direito sem sofrer restrições do Estado (art. 220,

caput da Constituição Brasileira). Uma exceção a

esta regra é o direito de resposta (inciso V do art. 5º da Constituição Brasileira), o qual impõe um caráter positivo ao direito de informação.

O direito de se informar está previsto no inciso XIV do art. 5º da Constituição Brasileira: “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.

A respeito de informações contidas em banco de dados públicos, a Constituição prevê o habeas data, no inciso LXXII do art. 5º da Constituição Brasileira, um instituto (ação constitucional) que garante o conhecimento de determinada informação e permite ao interessado sua eventual correção.

Sobre o direito de ser informado, de acordo com Vidal Serrano Nunes Jr., “a

Constituição Federal não atribuiu a nenhum organismo privado, de caráter informativo ou não, o dever de prestar informação” (NUNES JÚNIOR, 2011, p. 47). No

entanto, os órgãos públicos têm a obrigação de fornecer informações aos indivíduos, ou seja, todos possuem o direito de receber informações do poder público, conforme art. 5º, inciso XXXIII (“todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”)

e art. 37 caput (“A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte”) e §1º (“A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”).

(5) Direito à informação jornalística , que garante a publicação de notícias e críticas nos meios de comunicação de massa. O direito à informação jornalística se fundamenta no direito de informar, pois este último, segundo Vidal Serrano Nunes Jr. comporta, em sua essência, direitos distintos: “de um lado, o direito de transmitir idéias, conceitos ou opiniões; de outro lado, o de veicular notícias e os respectivos comentários ou críticas” (NUNES

JÚNIOR, 2011, p. 49).

A partir do exposto, conclui-se que a liberdade de informação engloba vários direitos fundamentais, entre eles: o direito de opinião, de expressão, de comunicação, de informação e de informação jornalística.

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Cabe, a partir de então, analisar algumas questões polêmicas que surgem no exercício de tais direitos, em especial quando estes colidem com os demais direitos fundamentais.

2. Formas de limitação do poder dos meios de comunicação de massa

Os meios de comunicação de massa passaram a influenciar de maneira contundente a opinião pública. Com isso, nos sistemas democráticos, os meios de comunicação tornaram-se muito poderosos. Por exemplo: seis ministros da Presidente Dilma foram afastados por suspeitas de corrupção em 2011, após matérias divulgadas em meios de comunicação de massa (O ESTADO DE SÃO PAULO, 14/09/2011 e 17/08/2011):

• Antonio Palocci: “Sua saída começou a se desenhar quando o jornal Folha de S. Paulo denunciou, no dia 15 de maio, que seu patrimônio aumentou 20 vezes entre 2006 e 2010”.

• Alfredo Nascimento pede demissão: “Começou a perder o cargo quando a revista Veja denunciou, no dia 2 de julho, um esquema para cobrança de propina na pasta e em órgãos ligados à pasta”.

• Wagner Rossi: “O empurrão final para que o ministro da Agricultura entregasse o cargo foi dado nos últimos dois dias, com a notícia, publicada no Correio Braziliense segundo a qual ele e familiares utilizavam um jatinho da empresa Ourofino, que tem negócios com o Ministério da Agricultura”.

• Pedro Novais: “Entregou o cargo após denuncia do jornal Folha de S. Paulo de que teria usado dinheiro da Câmara para pagar o salário da governanta de seu apartamento em Brasília”.

• Orlando Silva: “O ministro do Esporte Orlando Silva deixou o cargo após sucessivas denúncias de fraudes em convênio do ministério. (...) Diante da repercussão negativa para o ministério (...) a presidente Dilma decidiu não mantê-lo na pasta”.

• Carlos Lupi: “Tendo em vista a perseguição política e pessoal da mídia, que venho sofrendo há dois meses sem direito de defesa e sem provas; (...) decidi pedir demissão do cargo que ocupo”.

Como se pode observar, todos os processos de acusação se iniciaram na mídia. Assim, os meios de comunicação tornaram-se verdadeiros poderes nas mãos de seus detentores. Ora, os ministros que caíram tinham motivos para serem afastados, mas e os demais, será que também não possuem desvios de conduta? A grande questão é: são todas as notícias ou suspeitas de corrupção divulgadas, ou há certa ordem de conveniência e interesse nestas publicações? Por que as notícias de corrupção de ministros são divulgadas uma de cada vez, até a demissão ou saída do mesmo, e não todas de uma só vez?

De acordo com Cláudio Luiz Bueno de Godoy “não há como negar o decisivo papel dos meios de comunicação no desdobramento de acontecimentos recentes, de depuração política e moral” (GODOY, 2008, p. 2).

Álvaro Rodrigo Jr. destaca ainda a importância da imprensa e da liberdade de expressão, e do perigo que há no distanciamento da imprensa de sua função social, em virtude da busca fácil por audiência: “usufruindo a ampla e irrevogável liberdade de expressão e de informação asseguradas constitucionalmente, os meios de comunicação social distanciam-se cada vez mais de sua função essencial em um regime democrático, qual seja, a de trazer ao público a vigorosa discussão de temas políticos e permitir às pessoas

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influir diretamente na esfera pública” (RODRIGUES

JÚNIOR, 2009, p. 18).

Continua o autor dizendo que “os interesses comerciais e a busca desenfreada pelo lucro dificultam (ou até mesmo impedem) que os meios de comunicação social desfrutem de sua liberdade de expressão para informar a opinião pública e disseminar ideias e opiniões de verdadeiro interesse público. Em vez disso, mergulham o homem num mar de informações inúteis e de fácil absorção”

(RODRIGUES JÚNIOR, 2009, p. 18).

Assim, a comunicação transformou-se em um objeto muito importante para o estudo do direito, tendo em vista, como menciona Vidal Serrano Nunes Jr. que ela “vai se tornando um autêntico poder social que pode se constituir no mais eficaz meio de transmissão da informação, fazendo chegar às residências e repartições tudo o que acontece no mundo e, ao mesmo tempo, pode se transformar num perigoso veículo de ocisão dos direitos da personalidade, tolhendo as faculdades minimamente necessárias para o desenvolvimento do indivíduo” (NUNES JÚNIOR, 2011, p. 9).

Neste contexto, para que os meios de comunicação não sejam utilizados tão somente como um meio de poder e influencia para os grandes grupos políticos ou empresariais, discutem-se formas de limitar e controlar seus conteúdos e sua posição ideológica. A Constituição Espanhola, por exemplo, adotou a cláusula de consciência e o direito de acesso aos meios de informação aos grupos sociais e políticos significativos.

A cláusula de consciência, segundo Vidal Serrano Nunes Jr., “é uma estipulação tácita que se considera integrada em qualquer contrato de trabalho ou de prestação de serviços de um profissional da informação, que lhe atribui a faculdade de romper seu vínculo com a respectiva empresa de comunicação, com o recebimento de todos os direitos como se houvesse sido despedido sem justa causa, desde que a razão da

rescisão tenha como fundamento uma mudança notável no caráter ou na orientação do jornal, ou do periódico; e esta mudança pudesse, de algum modo, afetar a dignidade, a honra, a reputação, as convicções, em suma, as opiniões do profissional da informação” (NUNES JÚNIOR,

2009, p. 59).

Com relação à Constituição Portuguesa, suas especificidades relacionadas ao controle / limite dos meios de comunicação são: (1) toda pessoa tem o direito de receber informação na íntegra, (2) intervenção do jornalista na orientação ideológica dos meios de comunicação, (3) instituição de conselhos de redação com a participação dos jornalistas, de modo a garantir a intervenção ideológica por parte destes, (4) obrigação de divulgação do nome do proprietário e dos meios de financiamento, (5) estabelecimento da propriedade estatal da televisão.

No caso brasileiro, sete são os elementos importantes de controle / limite dos meios de comunicação: (1) direito de resposta, previsto no inciso V do art. 5º da Constituição Brasileira (“é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”); (2) o controle dos meios

de comunicação por parte de brasileiros natos ou naturalizados (Art. 222 da Constituição Brasileira); (3) obrigatoriedade de transmissão de canais comunitários e estatais para as televisões a cabo; (4) proibição do anonimato; (5) proteção à imagem, à honra, à intimidade e à privacidade; (6) imposição da classificação indicativa dos programas de televisão (art. 21, XVI da Constituição Brasileira; e (7) tutela preventiva e reparatória, quando há abuso na utilização dos meios de comunicação.

Há também restrições, previstas na Constituição Brasileira, que dizem respeito aos estados de sítio e de defesa, situações em que a

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liberdade de informação pode ser restringida por conta do interesse público e da segurança nacional.

Cabe destacar que na ocorrência de conflitos entre a liberdade de informação e os mencionados direitos, pode-se adotar uma das três vertentes citadas pelo professor Vidal Serrano Nunes Jr.: (1) o regime de exclusão, no qual os direitos da personalidade são tidos como mais importantes que o direito à liberdade jornalística; (2) o regime da necessária ponderação, no qual o conflito deve ser analisado de modo a ponderar os interesses em jogo; (3) e o regime da concorrência normativa, que determina que o direito de crítica tem preferência face aos demais direitos, tendo como fundamento a defesa e manutenção da opinião pública. Esta última corrente é a dominante atualmente, mas diz respeito à crítica de interesse público, desde que fundada na verdade e na boa-fé.

3. A liberdade de expressão e o discurso do ódio

De acordo com Samantha Ribeiro, o discurso do ódio “consiste na manifestação de ideias que incitam à discriminação racial, social ou religiosa em relação a determinados grupos, na maioria das vezes, as minorias” (MEYER-PFLUG, 2009, p. 97).

Para combater o discurso do ódio, alguns países adotaram ações afirmativas, outros proibiram drasticamente a defesa pública de posturas preconceituosas. Na América, por exemplo, as manifestações a favor da violência não podem ser proibidas, exceto se a manifestação tenha o poder de gerar ações concretas de violência. Neste sentido, “a restrição à liberdade de expressão só é justificável quando se verifica a existência de um ‘perigo claro e iminente de causar um ato ilegal’, do contrário prevalece o principio da neutralidade do Estado

em face do conteúdo do discurso”. (MEYER-PFLUG,

2009, pp. 141-142).

Neste sentido, “a solução adotada pelo sistema americano no combate ao discurso do ódio tem sido conferir mais liberdade de expressão para a parte atingida para que, por meio do debate aberto e livre, possa evitar manifestações desse jaez. No entanto, há que se considerar que essa solução resta inócua em determinadas circunstâncias, posto que devido ao ‘efeito silenciador’ do discurso do ódio, suas vítimas não têm chances de participar do debate público e contra-argumentar em pé de igualdade com os seus agressores” (MEYER-PFLUG,

2009, p. 148).

Os países europeus, por sua vez, são mais restritivos quanto à liberdade de expressão. Há muitos países que consideram crimes a banalização do Holocausto, a teoria revisionista, assim como a prática de racismo e de antissemitismo.

Importante ressaltar que esse padrão europeu verifica-se bastante influente no direito internacional. De acordo com Samantha Ribeiro “verifica-se no direito internacional e no modelo europeu uma maior ênfase na proteção dos direitos à honra e a dignidade das vítimas do discurso do ódio, em comparação com o sistema americano. O próprio Tribunal Europeu de Direitos Humanos a despeito da existência da ‘jurisprudência flutuante’ tem demonstrado uma inclinação maior no sentido de adotar o sistema europeu”

(MEYER-PFLUG, 2009, p. 197).

Com relação ao combate do discurso do ódio no Brasil, não há norma específica para proibir ou regular esse tipo de manifestação do pensamento. No entanto, Samantha Ribeiro ensina que “o sistema constitucional pátrio erigiu como um de seus valores a proibição ao racismo, bem como a qualquer tipo de discriminação. (...) tendo em vista o discurso do ódio constata-se que o seu conteúdo, em certas situações, é dotado de caráter discriminatório e racista o que poderia levar a sua proibição no sistema brasileiro”

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(MEYER-PFLUG, 2009, p. 125).

Deste modo, “no sistema jurídico brasileiro a prática do racismo, após a descoberta do genoma humano e a recente decisão do STF, envolve a perseguição a qualquer grupo étnico, religioso, cultural, social ou de gênero”

(MEYER-PFLUG, 2009, p. 204).

A partir do exposto, a questão que se coloca é: como combater o discurso do ódio de maneira mais eficaz? Deve-se proibir radicalmente as manifestações de ódio, segundo o modelo europeu, ou o melhor é combater esses discursos garantindo mais liberdade de manifestação do pensamento, tanto para os grupos radicais, quanto para aqueles que combatem as manifestações odiosas, como fazem os americanos?

Samantha Ribeiro adota a seguinte postura: “a simples proibição do discurso do ódio não parece se coadunar com os valores vigentes no sistema jurídico brasileiro, nem tem se mostrado uma solução eficaz ao problema, de igual modo resolver a questão com a mera permissão desse discurso também não se mostra, a princípio, compatível” (MEYER-PFLUG, 2009, p.

221).

Neste sentido, defende a autora que “ deve-se, portanto, assegurar a manifestação do discurso do ódio, mas desde que se assegure igualmente e que se propicie as condições necessárias para as minorias, as vítimas desse discurso possam, rebater os seus argumentos de forma incisiva e eficiente. De igual modo a sua permissão tem de vir acompanhada de políticas públicas na área da educação que promovam o multiculturalismo, a valorização da diferença e evitem o surgimento do preconceito. Não se pode combater atos de intolerância, com intolerância e nem privar o indivíduo do seu direito de libertada e de escolha”

(MEYER-PFLUG, 2009, p. 264).

A jurisprudência no Brasil ainda não tomou uma posição definitiva frente ao discurso do ódio, muito embora tenda a proibi-lo. Recentemente o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) fez comentários

públicos que mexeram com a opinião pública e com a mídia. O parlamentar defende a ditadura militar e declara-se preconceituoso com relação á homossexuais e negros, com muito orgulho. Como possui imunidade parlamentar, o deputado em questão não sofrerá nenhuma punição. Mas e se ele fosse uma pessoa comum? Possivelmente seria processado e condenado por racismo. Mas sua condenação não mudaria alguma coisa? Todos sabem que o preconceito ainda existe. O problema é: como combater este preconceito? Proibi-lo e deixá-lo cada vez mais privado a declarações familiares, ou deixar que a sociedade manifeste livremente sua opinião contra ou a favor do preconceito?

A questão deve ser debatida e amadurecida pela sociedade. Não existe uma forma única e correta para se combater o ódio. Cabe ao judiciário e ao legislativo discutirem e encontrarem formas de combater o crescimento dessas manifestações, sem que com isso a liberdade de informação, expressão e opinião sejam limitadas.

4. A publicidade comercial como forma de manifestação do pensamento

A publicidade comercial tem por objetivo incentivar o consumo de determinados bens e serviços. Para Vidal Serrano Nunes Jr. “a publicidade comercial, obedece à lógica da economia de mercado, identifica sua proteção nos princípios básicos da ordem constitucional da economia, a livre iniciativa e a livre concorrência” (NUNES JÚNIOR, 2001, p. 3).

Importante notar que a publicidade comercial passou, ao longo do tempo, a ser tão importante quanto o próprio produto ou serviço, pois é capaz de transformar um bem em um símbolo de posição social.

Tendo a publicidade os objetivos de divulgação, comercialização, promoção de

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produtos e serviços, é evidente que se trata de uma atividade puramente econômica. No entanto, há autores que defendem que a publicidade comercial fundamenta-se, não nos princípios econômicos, mas sim na liberdade de informação. Neste sentido, seria a publicidade comercial um direito fundamental, assim como os direitos de opinião e expressão.

Essa diferença é substancial e importantíssima, pois entendida a publicidade comercial como um direito fundamental, ela seria privilegiada por vários dispositivos constitucionais, como a proibição da censura, por exemplo.

No entanto, a posição de Vidal Serrano Nunes Jr. & Daniela Batalha Trettel parece a mais correta: “qualquer elemento de liberdade de expressão que se pretenda destacar nas publicidades comerciais é suprimido pela finalidade máxima desse mecanismo de difusão de produtos e serviços: estimular o consumidor ao ato de compra” (NUNES JÚNIOR & TRETTEL,

2008, p. 5).

Sendo a publicidade comercial uma atividade econômica, ela “pode sofrer limitações em respeito a outros direitos constitucionalmente tutelados. Tais limitações podem ter como objetivo proteger relações de mercado - seja a livre concorrência, seja o consumidor - ou toda a sociedade, alcançada pelo informes publicitários em decorrência do longo alcance de seus meios de propagação. No segundo ponto temos a vedação a publicidades discriminatórias e a proteção ao patrimônio cultural, à privacidade e à intimidade, ao meio ambiente, à infância e à juventude, à segurança, à família e aos idosos”

(NUNES JÚNIOR & TRETTEL, 2008, p. 6).

5. A liberdade de informação e o sigilo da fonte

A Constituição Brasileira estabelece, no art. 5, inciso XIV, o sigilo da fonte. Deste modo,

o jornalista tem o direito de manter a sua fonte em segredo, não a revelando a ninguém, em hipótese alguma. Entende-se que este é um dos pressupostos fundamentais para o pleno exercício da profissão de jornalista.

Diferentemente deste sigilo, existe o segredo profissional. Neste caso, o profissional que tem conhecimento sobre um segredo, que lhe foi confidenciado profissionalmente, mas não pode divulgá-lo, sob pena de cometer um crime. Neste caso encontram-se o advogado, o psicólogo, etc.

Importante destacar que o segredo profissional e o sigilo da fonte são coisas completamente diferentes. Enquanto o primeiro é um dever do profissional, o segundo é uma faculdade.

Outra distinção importante é que o segredo profissional, diferentemente do sigilo da fonte, não é absoluto. Há situações em que o poder judiciário pode decretar a quebra do segredo. Ademais, a pessoa que divulgar um segredo profissional somente poderá ser responsabilizada se houver dolo, não houver justa causa, e em casos que causem dano a alguém.

De acordo com Benedito Luiz Franco “o sigilo da fonte assegurado ao jornalista é, inquestionavelmente, absoluto, inexistindo leis que lhe estabeleçam quaisquer limites ou exceções no direito pátrio. (...) Os jornalistas (...) não estabelecem com seus informadores o mesmo tipo de relacionamento mantido pelos demais profissionais com seus clientes” (FRANCO,

1999, p. 124).

Importante ressaltar que o sigilo da fonte não encontra a mesma guarida nos demais países. Por exemplo: “nos Estados Unidos da América, o sigilo da fonte jornalística não é absoluto (...) Newsperson’s privilidge é examinado caso a caso pela Suprema Corte. A não revelação da fonte de informação perante a um

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tribunal, pode ser considerado como crime de desacato á justiça” (FRANCO, 1999, p. 127).

6. Conclusão

Muitas são as polêmicas que envolvem a liberdade de informação. Além daquelas apresentadas neste artigo, muitas outras surgem diariamente nos tribunais por todo o mundo.

Cada país adota sua posição com relação à liberdade e aos limites e controles dos meios de comunicação. Estas questões variam em razão da legislação e da cultura de cada sociedade. No Brasil, embora não haja uma lei específica para regular os meios de comunicação, a Constituição Brasileira contempla dispositivos que dão conta das polêmicas surgidas nos últimos anos.

Cabe à jurisprudência, no entanto, punir os meios de comunicação que abusam do seu direito de informar, assim como às publicidades que ofendem os princípios constitucionais e os direitos fundamentais. Atualmente há uma sensação de impunidade com relação aos meios de comunicação, que deve ser definitivamente resolvida pelo judiciário brasileiro.

É de conhecimento de todos que os meios de comunicação servem como verdadeiros poderes políticos, além de induzirem à formação da opinião pública conforme os interesses de seus dirigentes. Estas condutas devem ser enfrentadas e solucionadas pelo judiciário, de forma a garantir a moralização os meios de comunicação e o exercício do direito fundamental de informar e ser informado.

Nota:

1 Nota-se que o termo “direito de imprensa” foi substituído

pelo termo “direito à informação jornalística”, pois a imprensa sempre esteve relacionada aos meios de comunicação impressos.

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