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MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

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Academic year: 2019

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Claudia Silva Fernandes

Cenografia e

ethos

discursivo em o

Artigo do Mestre Masaharu Taniguchi

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

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Claudia Silva Fernandes

Cenografia e

ethos

discursivo em o

Artigo do Mestre Masaharu Taniguchi

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Língua Portuguesa, sob a orientação do Professor Doutor Jarbas Vargas Nascimento.

 

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Banca Examinadora

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Por que é que vocês estão procurando entre os mortos quem está vivo? Ele não está aqui, mas foi

ressuscitado!

Lucas 24:5b-6 a

A ilusão leva o homem a se julgar corpo carnal. Mas o corpo carnal não é o homem. Na sua imagem verdadeira, o homem é filho de Deus, é Vida imortal.

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A Deus, Pai querido, que sempre ouve minhas orações e me orienta; A Cristo Jesus, que me guia amorosamente;

Ao meu orientador e admirável, Dr. Jarbas Vargas Nascimento, que me recepcionou, amigavelmente, na PUC-SP e me apresentou a Análise do Discurso;

À minha mãe querida, Maria do Carmo Silva Fernandes; A minha admirável irmã, Simone Silva Fernandes;

Aos Mestres do Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa, pela dedicação;

À Banca Examinadora do Exame de Qualificação, pelas preciosas orientações;

À CAPES, pela bolsa de estudos que me proporcionou realizar mais um sonho: cursar o Mestrado;

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Dedicatória

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Este trabalho está inserido nos postulados da Análise do Discurso de linha francesa e tem como tema o exame da constituição da cenografia e do ethos discursivo no processo de revelação do sujeito enunciador em o Artigo do Mestre Masaharu Taniguchi, publicado na revista Pomba Branca da Seicho-No-Ie. Esse tema mostra-se relevante, pois buscamos entender a forma como os sujeitos interagem em um discurso utilizado para a propagação e a manutenção de valores e conceitos institucionais. Para tanto, tomamos como base as abordagens de Dominique Maingueneau sobre interdiscurso, cena enunciativa e ethos discursivo. A investigação realizada utiliza um procedimento teórico-analítico, em que analisamos a cena enunciativa, em sua tripartição em cena englobante, genérica e cenografia, bem como a forma de desvelamento do ethos discursivo. Nosso estudo apontou o papel da interdiscursividade na organização do discurso da Seicho-No-Ie, principalmente, o atravessamento dos campos discursivos da religiosidade, do pedagógico, do científico, entre outros e a imagem construída pelo sujeito enunciador que é a de um mestre que atua em uma cenografia de sala de aula para conseguir a adesão do co-enunciador.

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This study is based on the postulates by the French line of the Theory of Disiscourse and has as theme the examination of the scenography as well as the discourse ethos in the process of revelation of the enunciator subject in Master Masaharu Taniguchi's Article, published in Seicho-No-Ie’s Pomba Branca (White Dove) magazine. Such theme proves to be relevant, since we aimed at understanding the way how subjects interact in a discourse used for the propagation and maintenance of institutional values and concepts. For this purpose, we elected as basis Dominique’s Maingueneau approach on interdiscourse, enunciative scene and discoursive ethos. The carried out investigation deals with a theoretical analytical procedure in which we analyze the enunciative scene, in its tripartition in englobing scene, generic and scenography as well as the form of unveiling of the discoursive ethos. Our study emphasized the role of interdiscoursivity in the organization of Seicho-No-Ie’s discourse, especially the crossing of the discoursive fields of religiosity, pedagogical and scientific ones, among others, as well as the fact that the image constructed by the enunciator subject is the one of a master who acts in the scenery of a classroom with the target of achieving the adhesion of the co-enunciator.

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 1

CAPÍTULO I – CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO DISCURSO DA SEICHO-NO-IE 1.1 A construção da Seicho-No-Ie no Japão ... 4

1.2 Masaharu Taniguchi: as ‘revelações divinas’ do fundador ... 8

1.3 As bases filosóficas e religiosas da Seicho-No-Ie ... 10

1.4 Práticas filosófico-religiosas e seus desdobramentos ... 16

1.5 A construção da Seicho-No-Ie no Brasil... 21

1.6 A religiosidade na Seicho-No-Ie... 32

1.7 Pomba BrancaA Revista da Mulher Feliz ... 36

CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. A Análise do Discurso e seu enfoque interdisciplinar ... 48

2.2. Discurso e Interdiscurso ... 54

2.3. Gênero de Discurso ... 63

2.4. Gênero de Discurso: artigo de revista ... 73

2.5. Cena enunciativa ... 77

2.6. Ethos discursivo ... 81

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3.3. Análise ... 98

3.3.1 Interdiscursividade ... 99

3.3.2 A cenografia e o ethos discursivo ... 109

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 132

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 135

GLOSSÁRIO DE TERMOS ESPECÍFICOS DA SEICHO-NO-IE ... 145

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

As interações dos sujeitos, em sociedade, são, sempre, permeadas pela linguagem e o resultado dessas trocas, nas mais variadas esferas sociais, é a produção de discursos. Dessa forma, considerando-se o contexto, no qual seus sujeitos se encontram inseridos e suas finalidades específicas, temos o discurso da

Seicho-No-Ie, na revista Pomba BrancaA revista da Mulher Feliz que se trata de uma produção discursiva, muito peculiar, dentro da esfera do religioso, possível de ser examinado do ponto de vista da Linguística, com seus métodos específicos de análise. Consideramos para a análise, desse discurso, o arcabouço teórico da Análise de Discurso (AD), de orientação francesa.

A Seicho-No-Ie (doravante SNI) é considerada uma ‘nova religião japonesa’ que se baseia numa postura filosófica de otimismo na vida e que tem como objetivo despertar o Divino, inerente ao ser humano, por meio da palavra, a fim de concretizar o modelo perfeito de vida, a imagem verdadeira, o Jissô.

A SNI teve, inicialmente, uma abrangência étnica e, em seguida, expandiu-se entre os não-descendentes de japoneses, por meio de suas publicações, que, ainda, são o principal veículo de doutrinação. O sincretismo, sua marca peculiar, também, tornou viável a aproximação com os brasileiros, os quais, em si, já estão inseridos em uma tendência sincrética, no plano religioso, que engloba católicos, evangélicos, cultos de origem africana e religiões de procedência oriental.

Apesar de uma produção vasta, a SNI possui poucos estudos sobre seus discursos, principalmente, sob o ponto de vista da Linguística. Um dos instrumentos de divulgação de seus ensinamentos é a revista mensal Pomba Branca publicada pela Associação Feminina Pomba Branca, que traz artigos que particularizam aspectos da vida cotidiana, sob o ponto de vista filosófico e espiritual.

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Fizemos tais escolhas, pois esses discursos apresentam a fala de Masaharu Taniguchi, fundador da SNI, foram produzidos em outro momento histórico e social, no Japão, foram recortados e inseridos na revista Pomba Branca, no mês em que se homenageia as mulheres, com o propósito de doutrinar e de conseguir a adesão das leitoras.

Examinamos a construção da cenografia e a constituição do ethos discursivo, no processo de revelação do sujeito enunciador, com o intuito de verificarmos em que medida os indícios textuais, que constroem a cenografia, fazem emergir o ethos

discursivo, legitimando-o e conferindo credibilidade ao discurso materializado na coluna selecionada.

Esse estudo se justifica, tendo em vista que o discurso, assinado por Masaharu Taniguchi e produzido, segundo ele, sob inspiração divina, serve para manter e para transmitir valores e conceitos da instituição. Além disso, trata-se de um rico material de pesquisa, na medida em que os discursos funcionam como propagadores de sentidos e de informações tão aceitos pelos analistas, que tratam dos diversos tipos de discursos que circulam na sociedade.

Nesse exame, ultrapassamos os aspectos formais para chegarmos aos efeitos de sentido, aliando as condições sócio-históricas de produção e as formações discursivas materializadas. Para tanto, selecionamos a Análise do Discurso de linha francesa, nas perspectivas apontadas por Dominique Maingueneau, que trata do ethos ligado, crucialmente, ao ato enunciativo e da cenografia.

Postulamos como objetivos: identificar os indícios textuais que constroem a cenografia e a forma de desvelamento do ethos discursivo no discurso da SNI; verificar como esse discurso projeta a imagem do enunciador e como tal imagem articula valores e modos de vida na dimensão religiosa proposta pela instituição.

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No Capítulo II, apresentamos o arcabouço teórico ao qual nos filiamos. Inicialmente, enfatizamos o caráter interdisciplinar da Análise do Discurso, focando nos estudos de Maingueneau sobre o interdiscurso, as cenas enunciativas e o ethos

discursivo.

Por fim, no Capítulo III, explicamos a constituição do corpus e os procedimentos metodológicos empregados para o exame e para a seleção de nosso objeto de estudo, desenvolvemos, também, as análises da cenografia e do ethos

discursivo no discurso da coluna Artigo do Mestre Masaharu Taniguchi..

Ao final são apresentadas as Considerações Finais, seguidas das

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CAPÍTULO I

CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO DISCURSO DA SEICHO-NO-IE

1.1 A construção da Seicho-No-Ie no Japão

Para adentrarmos na coluna Artigo do Mestre Masaharu Taniguchi, objeto de análise desta pesquisa, temos, antes, que compreender as feições mais gerais da doutrina, o seu início, no Japão e o seu desenvolvimento, no Brasil, bem como refletir sobre a estruturação da Revista Pomba Branca, instrumentode divulgação de seus ensinamentos, na qual se veicula a mencionada seção.

A SNI surgiu no Japão, em 19301, mais, precisamente, na cidade de Kobe, principal cidade portuária do país. A doutrina tem origem nas ‘revelações divinas’ que seu único fundador, Masaharu Taniguchi (1893-1985), diz ter recebido por Deus e que se empenhou em divulgá-las por meio das revistas intituladas Seicho-No-Ie 2. Tais publicações resultaram na confecção da obra Seimei no Jissô (A Verdade da Vida), em 1932, uma coleção de 40 volumes, que apresenta a doutrina fundamental.

Taniguchi nasceu em Kobe, em 22 de novembro e, aos quatro anos de idade, foi adotado e criado por uma tia. Aos 37 anos, casou-se com Teruko Emori (1899-1988), atuou como tradutor de livros técnicos na empresa americana Vacuum Oil Company e, com essa idade, lançou sua doutrina por meio de revistas com o apoio da esposa. A utilização da imprensa escrita, por ele, insere-se em um aspecto comum da sociedade japonesa, já acostumada ao letramento e à leitura de

      

1 A doutrina surgiu, em um período de instabilidade econômica e social, no Japão. Ao longo dos anos 1930 a

1940, diante da política territorial expansionista instituída pelos seus Imperadores, o país buscou por matéria-prima para o seu desenvolvimento industrial e por pontos geográficos no Pacífico, os quais eram considerados importantes para a comercialização e para os negócios com os países do Ocidente. Dentro dessa política expansionista territorial japonesa, esse país enfrenta a China e, em diversos momentos, a Indochina, a Malásia, a Filipinas, a Birmânia e alguns outros pontos geográficos que possuem portos marítimos e comerciais na região do Pacífico. Paralelamente, a esses fatos, o Japão já era reconhecido como um país importante na região da Ásia e articulado com países da Europa, como Alemanha, Itália, Holanda, da América, como os EUA. No entanto, essa política imperialista sofreu retaliações de países ocidentais, os quais praticaram o embargo de exportações de matéria-prima ao Japão e, mais adiante, na Segunda Guerra Mundial, o bombardeio de seus territórios.

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publicações3; bem como revela a inclinação do próprio idealizador à produção de textos, possibilidade reforçada pela escolha do curso de literatura inglesa iniciado, mas não concluído, na Universidade de Waseda, em Tókio. Ele estudou diferentes áreas do conhecimento como a Filosofia, a Psicologia e a Religião.

Taniguchi, em suas obras, relata que passou por problemas familiares, econômicos, existenciais e que vivenciou muitos problemas sociais. Com o intuito de entender o porquê do sofrimento humano, buscou esclarecimentos para suas dúvidas em diversos tipos de filosofias e religiões e sentiu-se atraído pelas obras de Oscar Wilde, Arthur Schopenhauer, Willian James e pelas teorias de Psicanálise. Entrou, ainda, em contato com os ensinamentos do Dr. Franz Anton Mesmer (fundador do Mesmerismo), de Phineas Parkhurst Quimbye (fundador do Novo Pensamento Americano), de Ernest Holmes (fundador da Ciência Religiosa). Foi membro das seitas Oomoto, Itto-em e estudou os ensinamentos do Budismo, Cristianismo entre outros.

Segundo Taniguchi (2012, p. 6), a intenção não era iniciar um movimento religioso, mas veicular, na sociedade japonesa, princípios filosóficos, como revelam os escritos, ainda de hoje, os quais traduzem e transmitem as ideias originais do fundador, acerca da SNI:

é uma filosofia que transcende o sectarismo religioso, pois acredita que todas as religiões são luzes de salvação que emanam de um único Deus.

À medida que se publicavam as edições da revista, surgidas da necessidade de seu fundador em compartilhar suas revelações, Taniguchi começou a receber um grande número de cartas de leitores que relatavam que, após lerem os exemplares, curas milagrosas de doenças ocorriam. De acordo com Albuquerque (1999), devido       

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a essa repercussão, as atividades dele começaram ser consideradas religiosas, pelo governo e palestras foram proferidas em outras cidades, como Tókio.

Após 11 anos da impressão da primeira revista e diante da quantidade de adeptos, no Japão4, em 1941, a instituição foi, oficialmente, registrada pelo

Ministério da Cultura como entidade religiosa. Albuquerque (1999) afirma que isso ocorreu para fortalecer o governo imperial diante das crises internas e das guerras com as quais o país se envolvia e que outras denominações, que também apoiavam o governo, passaram por isso, convivendo com as já religiões tradicionais como o xintoísmo e o budismo. Contudo, o fundador Taniguchi (2007, p. 317), ao longo de sua produção literária, continuou a considerá-la como um movimento de iluminação da humanidade.

Sobre essa oficialização como religião, Albuquerque (1999) apresenta que a SNI surgiu em um contexto de reconstrução do Japão, durante as guerras com os povos do Pacífico e a II Guerra Mundial. Nesse sentido, a doutrina fortalecia a tradição japonesa e valorizava a imagem do Imperador, reforçando a estrutura ideológica do sistema familiar japonês.

Segundo Albuquerque (op.cit., p.20), desde a sua origem, a instituição acompanhou as oscilações sociopolíticas e deu apoio às ideologias dominantes. Nesse contexto, Taniguchi prega que o homem virtuoso adapta-se às circunstâncias, ou seja, vive conforme as diretrizes sociais, culturais, econômicas, políticas e, também, religiosas do seu presente – a ideia de sincretismo religioso será desenvolvida mais adiante.

Ainda cabe mencionar que o surgimento de novas doutrinas e práticas espirituais, no Japão, bem como a oficialização delas, levou os estudiosos, como Paiva (2005, p.210), a chamarem esses movimentos de ‘novas religiões japonesas’ por se caracterizarem como:

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grupos religiosos que surgiram desde os anos finais da era Tokugawa5, têm seu centro espiritual na pessoa e no

ensinamento pretensamente singular de um fundador, proveniente do povo comum, e se orientam para a conquista de novos membros a partir das massas.

Nesse sentido, a SNI, por meio de um fundador comum, transmite ensinamentos únicos, para além das filosofias e religiões existentes, para a grande massa urbana e rural japonesa.

André (2008, p.10) lembra que a instituição converteu-se numa das ‘novas religiões japonesas’ mais populares no país, ao lado de alguns templos budistas. A organização tem seu pleno estabelecimento, na década de 1970, com o crescimento no número de adeptos e assinantes, acompanhado pelo aumento de núcleos locais. Seu objetivo era alcançar um milhão de assinantes.

Conforme afirmam Mullins & Kisala6, é difícil saber com precisão quem é “adepto" de uma nova religião japonesa, pois os padrões para se tornar um membro ou para ser considerado um, diferem entre os movimentos. Dados estatísticos mostram que a SNI tinha três milhões de adeptos, em 1985, e que, em 1989, tinha 80.000. Segundo os autores, essa discrepância nos números não foi devido à perda massiva de adesão, mas a diferentes maneiras de calcular o número de membros. Assistir a algumas palestras ou a rituais ou preencher um formulário para tal fim, por exemplo, pode ser critério para uma pessoa ser considerada uma adepta.

Segundo levantamento feito, em 31 de dezembro de 2010, pela sede, no Japão7, há, na SNI, 1.683.227 adeptos, desses, 1.032.108 são de outros países e       

5 Era Tokugawa ou período Edo, tem seu final em meados de 1860 e é marcada pela transição do período feudal

para o período industrial.

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Problemas estatísticos semelhantes foram encontrados na Kofuku no Kagaku, que afirmou, no início de 1990, ter-se tornado o maior movimento no Japão (10.000.000), superando Soka Gakkai (considerada a maior e com milhões de seguidores). De fato, em 1991, funcionários da Kofuku admitiu que, aproximadamente, 90% de seus membros, apenas, eram assinantes de sua revista mensal. Uma estimativa mais realista desse movimento, em meados dos anos de 1990, revelou que havia entre 100.000 e 300.000 membros ativos ( Mullins, R. MARK &

KISALA, ROBERT. Social crisis and religion in contemporary Japan. In:

<http://cla.calpoly.edu/~bmori/syll/Hum310japan/KisalaandMullins.html>. Acessado em 20 de outubro de 2012.

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651.119 são do Japão. Há, ainda, 22.995 preletores: 7.202, em outros países e 15.793 atuam no Japão.

Desde a sua oficialização, a SNI conseguiu se estabelecer pelo Japão, contudo, não foram encontrados dados precisos sobre as cidades receptivas da filosofia. De acordo com Pizzinga8 (2009), a partir de 1962, Taniguchi iniciou várias viagens internacionais, pela Europa e pela América, para divulgar seus trabalhos e suas revelações, pessoalmente. Visitou os Estados Unidos, por três vezes, o Canadá, o México e o Brasil, este, por duas vezes, acompanhado de sua esposa Teruko.

1.2 Masaharu Taniguchi: as ‘revelações divinas’ do fundador

Taniguchi comenta, em suas obras, que em sua busca pela paz interior e pela compreensão de alguns de seus problemas, começou a meditar e, que após pedir a Deus, que revelasse a Verdade, recebeu a seguinte revelação divina:

A matéria é nada. O corpo físico é nada. Todos os fenômenos, no mundo da matéria, são nada. O que existe verdadeira e eternamente é Deus e Sua manifestação. O homem é, na realidade, um filho de Deus. Ele não é matéria, mas existência espiritual. O homem já é um ser perfeito. Tudo em nosso ambiente é simplesmente o reflexo de nossa própria mente (Revista Pomba Branca, número 284, p.35).

Taniguchi (2007, p.272) afirma que, após receber as ‘revelações’, compreendeu que ele:

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era um ser divino, um ser búdico, desde o princípio dos tempos e que, a partir daí, apesar das muitas dificuldades enfrentadas, dedicaria-se à transmissão de suas revelações.

Desde então, ele se denominou ‘mestre’, sendo, até os dias de hoje, identificado, assim, pelos praticantes de sua filosofia.

Em 13 de dezembro de 1929, dia em que, pela segunda vez, fora roubado e perdera suas economias, para a divulgação de seus ensinamentos, ele decidiu criar a Fundação da Sociedade para a Difusão do Pensamento Iluminador. Sobre essa situação, ele diz que:

aquele momento crucial fez com que eu alcançasse o verdadeiro despertar e tomasse a firme decisão de começar a trabalhar para a divulgação da Verdade, mesmo não tendo vigor físico nem dinheiro. (TANIGUCHI, 2007, p.292).

Em primeiro de março de 1930, Taniguchi9 redige e elabora a primeira Revista

Seicho-No-Ie, cujo trabalho de comunicação e distribuição gratuita foi feito por sua esposa. Dessa forma, é dado início ao que ele denomina: Movimento de Iluminação da Humanidade. O objetivo da SNI, segundo ele (2007b, p.19), em palestra proferida, em 1934, na sede Central no Japão, é dizer à humanidade que no Jissô (ser verdadeiro) do homem já existe de tudo e que, portanto, ele deve buscar tudo no seu interior e não no exterior.

Após seu falecimento, em 1985, Seicho Taniguchi, seu genro, torna-se o Supremo Presidente da SNI. Hoje, o atual vice-presidente da instituição é Masanobu Taniguchi, neto do líder. André (2008, p. 5) enfatiza que essa continuidade da       

9 Taniguchi produziu os 40 volumes da coleção A Verdade da Vida (obra que possui a base do ensinamento da

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estrutura de poder e o nome familiar tornam-se um capital simbólico e conferem legitimidade aos especialistas/sacerdotes do campo religioso.

1.3 As bases filosófico-religiosas da Seicho-No-Ie

O termo Seicho-No-Ie, literalmente, significa “a casa do desenvolvimento”, porém, costuma-se interpretar como “o lar do progredir infinito”. Taniguchi (2008, p.11) afirma que não se trata do lar dele, mas de todos os lares que obedecem ao princípio da manifestação da vida e destaca que quando um membro de uma família se torna leitor da revista No-Ie, todos os demais membros tornam-se Seicho-No-Ie. Nesse sentido, o próprio leitor passa a se tornar um ‘lar’, um locus de desenvolvimento constante.

A sua proposta é estabelecer o reino do céu na Terra, porém para que isso aconteça, é preciso que todos se empenhem e progridam espiritualmente. Sobre o estabelecimento do “paraíso”, neste mundo terreno, Taniguchi (2008, p.60) afirma que:

isso dependerá muito do esforço dos fervorosos adeptos e leitores que se reuniram inicialmente na Seicho-No-Ie. Todo desenvolvimento é gradual [...] como obra inicial da construção do paraíso na Terra, a Seicho-No-Ie divulga à humanidade, através de publicações, a correta filosofia de vida, o correto modo de viver e o correto modo de educar.

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Da apresentação dessas características, compreendemos como afirma Osaki (1990, p.37), que a doutrina se fundamenta em um princípio filosófico do idealismo que afirma supremacia absoluta do espírito sobre a matéria.

O corpo humano é visto como uma construção do pensamento, assim como a realidade social o é também; por conseguinte, as doenças, os males físicos, os percalços da vida e o pecado são frutos, também, dessa construção. Dessa maneira, Taniguchi acredita que a prática de seus ensinamentos pode fazer com que o ser humano, por meio do autocontrole mental, projete imagens de saúde, bondade, gratidão, dentre outros, que proporcionarão bem-estar e satisfação para si, para o próximo e para o meio onde vive/convive.

Sobre essa realidade, criada pelo pensamento, o fundador a chama de espiritual e explica, em suas obras, que somente existe Deus, que é a Suprema Realidade e o que Ele criou. Devido a Deus ser espírito, sua criação, somente, existe no mundo espiritual, que é denominado de Jissô. Ademais, nesse ensinamento, o que é apreendido pelos cinco sentidos do ser humano é considerado como se fossem sombras ou reflexos da mente e, a realidade material, ou seja, a realidade concreta seria a imagem de um filme cinematográfico projetada em uma tela.

No diálogo entre as obras originais do fundador e as pesquisas de estudiosos sobre a SNI, (OSAKI, 1990, ALBUQUERQUE, 2001 e CASTILHO, 2006), averiguamos que, para a criação desse ensinamento, foram utilizados diversos conhecimentos. Das religiões, foram usados elementos do Budismo, do Cristianismo e do Xintoísmo; das crenças populares japonesas, a adoração aos antepassados e o culto à alma dos mortos. Taniguchi recebeu influência, também, da Ciência Cristã, corrente do Novo Pensamento americano e de correntes do pensamento ocidental, entre elas a psicanálise freudiana, que serviu de apoio na elaboração de sua psicologia de educação infantil e a filosofia idealista alemã que foi reinterpretada com base na filosofia panteísta do Budismo.

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até o século XIX, a religião e a filosofia podiam se fundamentar em princípios alheios à ciência, mas a partir do século XX, principalmente da segunda metade, já não está sendo possível pregar arbitrariamente crenças dissociadas das ciências (Prefácio do livro Mistérios da Vida, 1951).

Esse sincretismo é justificado pelo fundador, ao pregar que o papel da religião é reconciliar os homens entre si. Daí a SNI divulgar que sua função é promover a reconciliação entre os homens e, também, reconciliar as religiões entre si.

A reconciliação das religiões e a intenção de ser o centro integrador delas são traduzidas no emblema (Enkan) da SNI, figura 1, é composto por três elementos que estão relacionados, por sua vez, a três grandes religiões: o Xintoísmo, o Budismo e o Cristianismo.

figura 1

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negativo, feminino10. O verde simboliza a Vida e o florescimento do homem na terra. As trinta e duas linhas do halo do Sol representam as trinta e duas boas fases de Buda.

Paiva (2005, p.211), ao analisar a referência às três religiões nesse emblema, explica que, mesmo com essa união, a SNI continua sendo considerada uma das

‘novas religiões japonesas’ e comenta ainda que:

essa tripla referência não coloca a Seicho-No-Ie na esteira de nenhuma dessas formas religiosas, pois sua doutrina provém de revelação pessoal ao fundador e a organização do grupo religioso é autônoma.

O termo ‘novas religiões japonesas’ é definido por Arai (apud Paiva 2005, p.210) como:

grupos religiosos que surgiram desde os anos finais da era Tokugawa, têm seu centro espiritual na pessoa e no ensinamento pretensamente singular de um fundador, proveniente do povo comum, e se orientam para a conquista de novos membros a partir das massas.

Paiva (2005) acrescenta, ainda, que as ‘novas religiões’ fazem suas orientações para o momento presente, o mundo de agora e não para o futuro, por meio de práticas de aparência mágica.

      

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A intenção da SNI, ao integrar várias religiões em seus ensinamentos, é receber pessoas de várias crenças, sem que elas abandonem sua religião de origem, pois, de acordo com o fundador (2008a, p.18):

a filosofia da Imagem Verdadeira é uma filosofia que prega a identidade de todas as religiões na sua essência. Do mesmo modo que o alimento nutre as pessoas, a nossa filosofia nutre alma de todos que a assimilam, qualquer que seja sua religião.

Ainda sobre esse sincretismo religioso que permeia a instituição, Davis (1970, p.55), ao escrever a biografia de Masaharu Taniguchi, diz que o fundador recorreu às escrituras de todo o mundo para modelar uma filosofia praticável que possa ser aceita pelas pessoas de todas as crenças religiosas.

Outro motivo que pode ter levado a adesão das pessoas à SNI, é a diluição da ideia de pecado, que é considerado fruto do pensamento e uma ilusão. Segundo os ensinamentos do líder, estudos no campo da psicanálise, afirmam que os problemas enfrentados pelas pessoas são formas de autopunição, devido o ser humano ter sedimentado no subconsciente tal ideia. As dificuldades são, para ele, o resultado da projeção de uma punição (social ou do próprio eu) por alguma atitude/ação apreendida, socialmente e/ou espiritualmente, como negativa pelo indivíduo.

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o conscientizarmos o fato de que a Imagem Verdadeira da Vida é perfeita e harmoniosa, passa a atuar a força curadora da Grande Vida e se processa a cura metafísica (cura divina).

Cura metafísica é, para ele, a maneira de curar as infelicidades sem a necessidade de recorrer a métodos materiais. Taniguchi (2008) explica, ainda, que escolheu usar esse termo, a fim de evitar que o seu método fosse equiparado aos métodos de cura espiritual ou de cura pela aplicação da palma da mão.

Sobre esses métodos de cura, Davis (1970) afirma que eles não têm identificação com a hipnose, a sugestão, o magnetismo ou com outra forma de cura mental ou magia. Para ele, a idéia central dessa filosofia é mostrar que somente o despertar espiritual pode libertar as pessoas da limitação.

Nesse âmbito, segundo os ensinamentos, as pessoas traçam suas vidas por meio da mente, tendo em vista que os cinco sentidos trabalham na perspectiva da captura das projeções da mente humana, chamadas de ilusão. Esse mundo captado pelos sentidos, ou seja, o mundo material é identificado como ‘mundo fenomênico’, de ‘sombra’, conforme observamos em Taniguchi (2010, p.62):

os cinco sentidos do homem não veem senão o ‘mundo da projeção’. Desejando purificar o ‘mundo da projeção’, deveis purificar a matriz da mente e eliminar as nódoas da ilusão.

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A segunda verdade ensinada é sobre o mundo apreendido pelos sentidos, ou seja, ‘o mundo fenomênico’ que, para ele, trata-se de projeção da mente humana, ou seja, uma ‘ilusão’ com começo, meio e fim, sendo, portanto uma realidade efêmera. São exemplos de ‘ilusões’: o envelhecimento, as enfermidades, a morte, o pecado, entre outras. As práticas propostas pela SNI seriam o meio para purificar a mente, para que, assim, o homem ‘projete’, ‘crie’ uma realidade sem tais infortúnios.

1.4 Práticas filosófico-religiosas e seus desdobramentos

A base doutrinária da SNI, como dito, consiste em fazer o ser humano manifestar sua natureza divina de filho de Deus, seu aspecto real, o Jissô. Para tanto, são organizadas práticas para difundir seus ensinamentos e para compartilhar suas crenças, que se aliam a características pedagógicas, pois, segundo Davis, (1990, p.115):

o propósito da organização é o de educar o povo através da palavra escrita, preleções, aulas, conselhos pessoais e pela instrução na arte e na prática da Meditação Shinsokan.

Para que o ‘mundo da projeção’ seja modificado, é ensinado aos seguidores a ‘purificação da mente’, ou seja, o Shinsokan, definido como ‘a arte da meditação contemplativa’. Trata-se de uma prática diária que deve ser feita ao acordar e à noite, ao dormir, com o intuito de se estabelecer uma conexão com a natureza divina que, por sua vez, será refletida na vida cotidiana.

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Sobre livros sagrados, vale lembrarmos sua frequente presença nas principais religiões e que seus autores, geralmente, afirmam que receberam ‘revelações divinas’ para produzí-los. Esses escritores são considerados, muitas vezes, pelos adeptos, pessoas iluminadas, profetas que se comunicam com Deus, com anjos, com deuses, entre outros. Para exemplificarmos, citamos os livros sagrados das principais religiões: a Bíblia, no Cristianismo; o Alcorão, no Islamismo; a Torá e a Bíblia, no Judaísmo; a codificação de Allan Kardec, no Kardecismo.

A importância da leitura da sutra e da prática da Meditação Shinsokan é enfatizada nas obras e incentivada em palestras, em cursos, como sendo responsáveis por uma série de ‘milagres’. Essa divulgação estimula os adeptos a inserirem essas práticas, no dia a dia, por serem o meio utilizado para purificar a mente e, por conseguinte, mudar o ambiente, que, conforme já dissemos, é uma ‘projeção da mente’.

Dentre as técnicas acima citadas e outras apresentadas aos adeptos, destacamos: o agradecimento constante a todas as pessoas, coisas e fatos, o elogio, as repetições de frases, a purificação da mente, a maratona de leitura de sutras, o oferecimento de cultos aos familiares falecidos ou não e às crianças abortadas. Os frequentadores são incentivados, ainda, a irem às Academias de Treinamento Espiritual para aprimorarem os ensinamentos, pois lá são oferecidos seminários, cursos, palestras e, também, são organizadas várias cerimônias.

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Em todas as práticas estabelecidas, a leitura de alguma obra de Taniguchi ou de trechos dela estão, frequentemente, presentes. Nesse sentido, não é por acaso que a literatura seja o meio de divulgação predominante da doutrina, havendo centenas de livros publicados e vendidos para os adeptos, na sede e nos núcleos ou, ainda, no próprio site. Dentre essa vasta produção, destacamos as revistas

Fonte de Luz, direcionada para os homens; Pomba Branca, para as mulheres e

Mundo Ideal, para os jovens. Há ainda os jornais, Querubim, para as crianças e

Círculo da Harmonia (Enkwan) para divulgar as principais atividades da SNI, que apresenta, também, uma versão on-line. Sobre a comercialização das obras, fora desse ambiente, verificamos que nas livrarias11, os poucos livros comercializados são encontrados na seção religiosa ou de autoajuda. Isso nos mostra que a doutrina não fica restrita a um único campo.

Para que a instituição acompanhe as transformações, pelas quais a sociedade passa e para que divulgue seus ensinamentos para um grande número de pessoas, os dirigentes e os preletores fazem uma releitura da vasta obra do fundador, adaptando-a ao momento atual. No que se refere às adaptações feitas, é importante destacarmos que apesar das mudanças, relacionadas às questões cotidianas, os dirigentes, para validarem o próprio discurso, baseiam-se na tradição do sensei (que significa professor e, literalmente, quer dizer aquele que veio antes), tendo como fundamento o retorno às origens e aos vários textos sagrados ou que foram sacralizados, posteriormente (DINIZ, 2005).

Ao visitarmos a sede e os núcleos da SNI, verificamos que, além das publicações, são utilizados, para propagar seus ensinamentos, CD’s com gravações de palestras proferidas, com canções e com orações, calendários de mesa ou de parede, chamados Palavras de Luz, muito conhecidos por terem, para cada dia, frases extraídas das obras. São usados, ainda, pingentes, fitas cassetes e kits, para homens, para mulheres ou para crianças, organizados por temas, como: prosperidade, saúde, amor etc.

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Além dessas estratégias de divulgação, os membros, para aderirem ao que é propagado, recebem orientações acerca de “As Sete Declarações Iluminadoras” que, conforme Taniguchi (2008), contêm os valores maiores da doutrina e servem de base para o trabalho de difusão da organização. Nesse âmbito, transcrevemos as declarações, a seguir:

1. Declaramos transcender todo sectarismo religioso e, reverenciando a Vida, viver em fiel obediência à Lei da Vida.

2. Acreditamos que a lei da manifestação da vida é o caminho do progredir infinito e acreditamos também que é imortal a Vida que se aloja em cada indivíduo.

3. Estudamos e publicamos a Lei da criação da Vida, para que a humanidade possa seguir o verdadeiro caminho do progredir infinito.

4. Acreditamos que o amor é o alimento da Vida e que a oração, as palavras de amor e o elogio constituem o poder criador da palavra que concretiza o amor. 5. Acreditamos que, como filhos de Deus, possuímos em nosso interior a

possibilidade infinita e que podemos atingir o estado de absoluta liberdade com o uso controlado do poder da palavra.

6. Para melhorarmos o destino da humanidade por meio do poder criador das boas palavras, publicamos a revista Seicho-No-Ie e livros sagrados, que contém boas palavras.

7. Baseados na correta filosofia da vida, no correto modus vivendi e no correto modo de educar, organizamos movimentos concretos que dominem doenças e todas as demais formas de sofrimento humano, para construir na face da Terra o Reino dos Céus de amor mútuo e cooperação.

Essas declarações são lidas e explicadas, pelos preletores, para o público, em reuniões, em seminários, em treinamentos, sendo, também, elucidadas, em algumas obras e, comumente, servem de tema de palestras.

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1º. Agradecer a todas as coisas do Universo. 2º. Conservar sempre o sentimento natural. 3º. Manifestar o amor em todos os atos.

4º. Ser atencioso para com todas as pessoas, coisas e fatos.

5º. Ver sempre as partes positivas das pessoas, coisas e fatos e nunca suas partes negativas.

6º. Anular totalmente o “ego”.

7º. Fazer da vida humana uma vida divina e avançar crendo sempre na vitória infalível.

8º. Iluminar a mente, praticando a meditação Shinsokan todos os dias sem falta.

Notamos que essas normas prescrevem o comportamento que os adeptos devem ter, diante das situações do cotidiano, para que eles adotem uma postura passiva, diante dos percalços do dia-a-dia, diferenciando-se, assim, daqueles que não são praticantes dos ensinamentos.

Assim, no que tange as práticas filosófico-religiosas, Osaki (1990, p.43) comenta que a SNI é considerada, à primeira vista, uma super-religião muito rica em todos os aspectos religiosos. No entanto, ele a avalia como sendo bem pobre nas suas manifestações, rituais e cerimônias de culto. O pesquisador justifica sua opinião, pois leva em conta a recomendação feita, pela doutrina, aos adeptos de outras religiões, para que se mantenham fiéis aos cultos de sua religião de origem.

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Figura 2

Vale ressaltar que, durante o ano, ocorrem festividades especiais, em datas consideradas consagradas, que são revestidas de solenidade, no aspecto religioso bem como no aspecto social. Entre elas, destacamos: a festa de Ano Novo, em primeiro de janeiro; a fundação da SNI, comemorada em primeiro de março; a data natalícia do fundador, em 22 de novembro; a comemoração dos mortos, no começo da primavera e do outono e as grandes purificações nos meses de junho e de dezembro.

1.5 A construção da Seicho-No-Ie no Brasil

A trajetória da SNI, no Brasil, iniciou em 1932, quando um imigrante japonês recebeu a Revista Seicho-No-Ie12 e a distribuiu para algumas pessoas. Em 1933, Daijiro Matsuda, lavrador japonês, residente perto de Duartina, interior de São Paulo,       

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após a leitura do livro A Verdade da Vida (Seimei no Jissô), disse ter sido curado de disenteria amebiana. Ele e o irmão Miyoshi Matsuda entraram em contato com a SNI, do Japão, para obterem uma assinatura da revista. A partir de então, eles começaram a tratar das doenças de seus vizinhos e a disseminarem o movimento, atraindo japoneses da região.

Os originais das primeiras revistas que aportaram, no Brasil, eram em japonês. Com isso, a leitura feita, por esses primeiros imigrantes, não sofre com as interferências de uma tradução para outra língua, sem ter, portanto, as marcas locais e temporais da língua portuguesa.

Vale ressaltar que a primeira revista foi editada no Japão, em 1930, portanto a distância temporal entre o produzido e o publicado é pequena, de dois anos, o que nos faz pensar sobre uma concomitância de tempos entre o Brasil e o Japão, quanto à difusão dos ensinamentos de Taniguchi, pela SNI, nesses países.

Devido aos exemplares chegarem sem tradução e à difusão dos ensinamentos ser fruto de uma iniciativa individual desses primeiros irmãos japoneses, Albuquerque (1999) ressalta que, no início, os imigrantes japoneses eram o público principal e que não havia a supervisão da sede, no Japão. As regiões de Gália e Duartina13 se tornaram o centro de difusão e os divulgadores que surgiam interpretavam, livremente, os ensinamentos sem receber orientação da matriz. No entanto, as reuniões organizadas pelos pregadores retraem-se, durante a Segunda Guerra, e o contato com a doutrina restringe-se à leitura das revistas, pois ocorre um desligamento da sede nesse período. Não obstante, ocorre, nesse momento, a formação de novos grupos de adeptos ao movimento14.

      

13 Os dois municípios de Gália e Duartina, respectivamente, tornaram-se unidades administrativas, em 1928 e

1930, eles juntos somam 10.000 habitantes. O reconhecimento público, dessas cidades, coincide com a ida de imigrantes japoneses para a região que, apesar de serem poucos, trabalhavam na produção de seda e no desenvolvimento da agricultura nessas cidades.

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Por conseguinte, Osaki (1990, p.18), ao estudar o surgimento das religiões japonesas no Brasil, lembra a existência de três momentos históricos15 que mudaram a vida religiosa do povo japonês. Aqui, destacaremos o terceiro momento, marcado pela derrota do Japão, na Segunda Guerra Mundial (1938-1945) e pela divulgação da nova Constituição que decretou a liberdade de culto no país, bem como a separação entre religião e Estado e a oficialização das ‘novas religiões japonesas’. Dentre essas novas religiões que surgiram, no Brasil, Osaki (1990) destaca a Instituição Religiosa Perfect Liberty (PL), a Igreja Messiânica do Brasil, a

Tenrikyo, a Sokagakkai, a Oomotokyo, a Sukyo Mahikari, no entanto, a SNI, por ser a pioneira, conseguiu o maior número de seguidores.

Esse momento de transformação, pelo qual o Japão passou, refletiu na organização da colônia japonesa que se estabelecia no Brasil, pois, após a Segunda Guerra, os imigrantes dividiram-se em dois partidos: os que aceitavam a derrota do Japão e os que consideravam o Japão invencível.

De acordo com Davis (1990), essa divisão provocou vários conflitos, com vítimas fatais, porém, com o término dessa situação, a maioria dos imigrantes preferiu permanecer no Brasil a voltar para o Japão e sofrer as consequências da Guerra. Esse, portanto, foi o momento ideal para as ‘novas religiões’ agirem em favor desses estrangeiros.

Os encontros são reiniciados, em 1946, e o centro das atividades da SNI é transferido para a cidade de São Paulo, devido o movimento migratório dos japoneses para a capital e o aumento de imigração de estrangeiros, em decorrência dos conflitos no Japão, no final da II Guerra Mundial.

      

14 No primeiro momento, século VII, houve a introdução e domínio do Budismo, no país, que resultou na fusão

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Nesse sentido, conforme Albuquerque (1999), em 1951, a matriz japonesa reconhece a sede brasileira e envia o representante, Katsumi Tokuhisa, para a unificação dos grupos existentes. Nesse período, é estabelecida a Sociedade Religiosa Seicho-No-Ie do Brasil, na cidade de São Paulo. As atividades começam a ser supervisionadas pela sede nipônica e esse intercâmbio aumenta. São habilitados 39 pregadores regionais e, após treinamento, Miyoshi Matsuda - irmão de Daijiro Matsuda, curado em 1933 - retorna do Japão com o título de “Pregador Residente”.

Diante desse aspecto, segundo Castilho (2006), em agosto de 1952, o governo brasileiro, ao reconhecer a SNI como sociedade religiosa, impulsiona a propagação dos ensinamentos da SNI aos não-descendentes de japoneses. Sobre isso, Albuquerque (1999, p.22) lembra que a instituição, até então, configurava-se no Brasil como uma religião voltada para o patrimônio étnico-cultural da comunidade nipônica e que, com sua oficialização no país, ela iniciou sua abertura para a sociedade brasileira.

No período, de 1950 a 1960, houve iniciativas de integração com a sociedade brasileira que enfatizavam o patriotismo com a intenção de preservar os valores na colônia japonesa. Em 1955, foi criada a Academia de Treinamento Espiritual, em Ibiúna, interior de São Paulo e a Associação de Moços (Seinen-Kai). Em 1956, realizou-se o primeiro Congresso Nacional da Associação das Senhoras ( Shirohato-Kai) e, a partir de 1958, houve a preocupação de se traduzir as sutras e as revistas. Notamos que, nessa época, os preletores pregavam, ainda, em língua japonesa, os ensinamentos doutrinários sistematicamente.

Por conseguinte, Albuquerque (1999) observa que, a partir da década de 60, do século XX, a instituição empenhou-se em aumentar o número de adeptos e a diversificar suas atividades. Em virtude disso, houve um crescimento significativo no número de pessoas que se filiavam à SNI: de aproximadamente 8.500 adeptos, em 1961, para 15.630, em 1966. A maior parte deles é da classe média, mulheres e jovens, brasileiros e nisseis, sendo a maioria, ligados ao espiritismo kardecista e à teosofia16. Devido a essa demanda, a instituição começou a organizar reuniões,       

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especialmente, para esse público e criou o Departamento de Divulgação em Português. Essas ações mostram que esses novos membros eram importantes para o movimento.

Nesse âmbito, Albuquerque (2001) e Castilho (2006), ao tratarem das formas usadas pela SNI, para ganhar espaço no Brasil, dizem que a instituição utilizou três estratégias em períodos distintos para alcançar seu objetivo. A primeira, de 1950 a 1960, em que se adotou uma postura nacionalista, durante e após a Segunda Guerra, no Brasil e no Japão, além disso, foi priorizado o alinhamento à situação política brasileira pós-1964: elogiando o governo militar e o apoiando, em suas publicações, como sendo fonte de estabilidade e ordem social – tal qual a doutrina fazia no Japão. Essa postura se tratava de uma maneira de buscar a legitimação na sociedade brasileira, tendo em vista que a instituição começava seu trabalho de expansão, no Brasil e, por isso, precisava negociar, com as autoridades, o desenvolvimento de suas atividades.

A partir daí, André (2008, p. 7) ressalta que esse aspecto se diferencia do que acontecera, na primeira metade do século XX, quando o Estado Novo de Getúlio Vargas empreendeu uma política repressiva em relação aos imigrantes japoneses, considerados súditos do eixo comunista.

A segunda estratégia era do ponto de vista doutrinário e consistia em publicar, na revista Acendedor, traduções de artigos de Taniguchi que tratavam de temas cristãos comuns aos brasileiros, como, por exemplo, os significados da cruz, da ressurreição, da Páscoa etc. Nesse âmbito, Castilho (2006) afirma que, no período de1970 a 1980, intensificaram-se, as traduções e os seminários em língua portuguesa e que, além disso, a SNI permitia que as pessoas tivessem duas religiões, o que era comum no Japão, porém, pouco praticado e/ou assumido no Brasil.

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Japão e de seus descendentes. Eles perceberam que mudar o idioma – do japonês para o português – não era suficiente, pois, mesmo com essa mudança idiomática, as mensagens não tinham sentido, uma vez que contextualizavam o universo japonês.

Diante disso, para resolver esse problema, foi decidido que, para ultrapassar essa barreira, seria necessário adaptar os textos religiosos para o contexto dos brasileiros sem ascendência japonesa. Para Waragai (2008), assim como os jesuítas, esses missionários, para atingirem seus objetivos, tiveram que abrir concessões como, por exemplo, criar ou suprimir ritos para atender às necessidades dos adeptos.

Waragai (2008), ao discorrer sobre os textos traduzidos da SNI, afirma, ainda, que os tradutores, sempre, estão atentos ao contexto brasileiro e que, apesar de, muitas vezes, a tradução não ser feita de maneira literal, há a preocupação em se manter o cerne dos ensinamentos, adaptado à realidade do Brasil.

A terceira estratégia foi adequar a doutrina aos problemas e demandas locais, para que se adaptasse ao contexto brasileiro, a partir de 1990. Diferentemente, de outras religiões orientais, que não se abriam para os brasileiros, a SNI executou muitas ações, com o intuito de buscar a aproximação e a identificação com quem não tivesse familiaridade com a cultura do Japão ou com brasileiros e não-descendentes de japoneses, dentre elas destacamos: a tradução de trechos que implicam a compreensão dos ensinamentos, como Jissô (Imagem Verdadeira), a entoação do canto da Shinsokan (meditação) em língua portuguesa, deixando de ser obrigatório em japonês, em 2004, a inauguração da Academia de Treinamento Espiritual, em Curitiba, Paraná e a iniciativa de trabalhos sociais e filantrópicos.

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A SNI, também, tentou atrair mulheres e empresários, organizando seminários. Para eles, os temas abordados eram sobre prosperidade, para elas, os assuntos discorridos considerados importantes se organizavam em temas relacionados à culpa sexual dos cônjuges, à finalidade da mulher, entre outros.

Nesse sentido, Albuquerque (1999) e Castilho (2006) lembram que o desenvolvimento, junto aos brasileiros, foi marcado por visitas da liderança da sede japonesa, do fundador, com sua esposa (em 1973) e do sucessor, seu genro, Seicho Taniguchi (em 1970 e em 1977). Houve, também, a adesão dos primeiros preletores brasileiros, em 1978, a inauguração das Academias de Treinamento Espiritual em Santa Tecla, no Rio Grande do Sul, em 1982 e em Santa Fé, na Bahia, em 1989. Aconteceu o lançamento da revista Pomba Branca, em 1985, ano da morte do fundador, e houve a 1ªConvenção Nacional de Educadores, em 1989.

Dessa forma, Paiva (2005), ao pesquisar sobre a fenomenologia da pertença à SNI, em jovens e adultos brasileiros de ambos os sexos, verificou que aqueles são atraídos, conscientemente, para essa ‘nova religião’ pela libertação da culpa e do clima de pecado. Já os adultos, mais especificamente, os homens, foram atraídos pela ampliação da visão religiosa, enquanto as mulheres tinham interesse de melhorarem interiormente. Após analisar as informações obtidas, ele descreve, resumidamente, o adepto brasileiro como sendo:

 

alguém outrora mortificado e diminuído pela consciência de ser pecador; essa consciência é aguçada pela repre-sentação de um Deus exterior, distante e arbitrário. Ser pecador inclui não só um profundo sentimento de culpa, mas também a desestima pessoal. Nos jovens, esse sentimento se prolonga em desânimo […]. Nos adultos, o sentimento se revela na crítica ao negativismo católico perante a vida (PAIVA & NAKANO, 1987, p. 56 apud

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Ele explica, ainda, que as diferenças constatadas decorrem de motivações particulares: os jovens, aparentemente, procuram uma elevação da autoimagem; os homens, por outro lado, estão em busca da verdade e as mulheres buscam a solução de problemas pessoais e familiares.

Diante dessa realidade, Paiva (op.cit., p.212) comenta que não foi encontrada nessa ‘nova religião’ a xenofilia, que disporia os convertidos a aceitarem, positivamente, ‘coisas do Japão’, não foi encontrada nenhuma predisposição particular favorável à cultura japonesa.

Assim como no Japão, a SNI sincretizou elementos da cultura e da sociedade, na qual estava inserida, por serem necessários para o desenvolvimento da doutrina, para a tradução dos textos e para a compreensão dos conceitos difundidos. Para esta modalidade de sincretismo, que vai muito além da religião, como explorado anteriormente, Paiva (op.cit., p.215), em seu estudo sobre a inserção das novas religiões no Brasil, sob a perspectiva da psicologia, afirma que o sincretismo favorece à

produção de novos insights, a partir do encontro entre culturas, capazes de favorecer a expansão da personalidade, a tolerância entre os grupos e a diversidade de modos de ser.

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Por conseguinte, Clarke (op.cit., p.25) defende que, muito mais que ‘misturar’, as religiões descobrem similaridades subjacentes muito significativas, que tornam, assim, as diferenças irrelevantes ou que mantêm o compartilhamento de rituais como algo separado da aceitação intelectual que diz respeito à doutrina, não ocorrendo, nos adeptos, nenhuma mistura em nível intelectual, em suas mentes, pois eles sabem quando alguma prática não tem a ver com a sua doutrina.

À vista disso, Verger (apud Clarke, 2008, p.35), ao discorrer sobre esse envolvimento, considera-o mais como um processo de “justaposição” do que como sincretismo e cita, para exemplificar, os praticantes do Candomblé, religião afro-brasileiras, pertencentes, por exemplo, das tradições católicas, que se esforçam em não misturar o que consideram católico com o que consideram ser de origem africana, por terem consciência das diferenças entre o catolicismo e sua religião.

Assim sendo, o crescimento fenomenal dos adeptos das novas religiões japonesas, entre as décadas de 70 e 80, do século XX, segundo Clarke (2008) começou a diminuir, no início dos anos 90 e, em meados dessa década, começaram aparecer sinais visíveis de declínio. A partir daí, vieram novas maneiras de se pensar a questão do recrutamento e da expansão, já que algumas das novas religiões se reformularam para aparentarem ser mais budistas do que antes, pois acreditavam que essa nova imagem seria mais atraente, agora, aos brasileiros, enquanto outras, despiram suas roupagens budistas ou xintoístas.

A SNI, da mesma forma que muitas novas religiões japonesas, não quer que o movimento se descreva como uma religião, sob o argumento de o termo religião ter sido, conforme Clarke (op.cit., p.42), corrompido pelo uso que dele fizeram os sucessivos governos, desde os tempos de Meiji (1868-1912) até o fim da II Guerra Mundial. Para o estudioso, isso torna a identidade da SNI no Brasil ambígua, permitindo, assim, uma maior flexibilidade no que diz respeito ao recrutamento e filiação. Pessoas de outras religiões sentem-se à vontade ao ouvir ou praticar o que é ensinado, no entanto, ele afirma que, seguramente, a ambiguidade pode, também, afugentar aqueles que estão buscando, logo de início, uma identidade religiosa, claramente, definida.

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e o twiter para a divulgação de seus ensinamentos, sendo a única, das novas religiões japonesas, a usar a mídia no cenário religioso brasileiro. Essa visibilidade atrai um público variado e aumenta o desafio da organização que é o de estar atualizada para auxiliar as pessoas que a procuram, sem perder a conexão com a base da doutrina: despertar a natureza divina, por meio da palavra, a fim de manifestar a perfeição da vida, a imagem verdadeira, o Jissô.

Existem regionais, núcleos e associações locais que divulgam a doutrina na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, além de estar presente em São Paulo e no interior, a SNI atua em, aproximadamente, 20 estados e tem como diretora-presidente, a preletora Marie Murakami. Em todos esses locais, assim como na sede, há livrarias para que os adeptos ou os visitantes adquiram as diversas publicações ou outros produtos como pingentes, broches, adesivos, entre outros.

Sobre a distribuição de adeptos, ela é sentida na posição que a SNI ocupa em alguns censos. Considerada uma ‘religião oriental’, em alguns casos17, é a mais popular dentre a Soka Gakkai e a Igreja Messiânica Mundial, possuindo 27.784 adeptos. Somando essas informações com os dados do censo de 2000 e 201018, constatamos um aumento na diversidade religiosa, no Brasil, de 462 mil adeptos dessas ‘novas religiões’, nesse período. Desse modo, percebemos que esse crescimento tem uma peculariedade: a grande quantidade de não-japoneses e de mulheres – o que desperta o nosso interesse em analisar uma coluna dedicada a esse público feminino19.

       17

Segundo o Novo Mapa das Religiões (2011), análises feitas pela FGV em 2011. In: <http://www.cps.fgv.br/cps/bd/rel3/REN_texto_FGV_CPS_Neri.pdf >. Acessado em 20 de janeiro de 2013.

18

IBGE / Censo 2000 e 2010. In: <http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=sp&tema=censodemog2010_relig>. Acessado em 20 de

janeiro de 2013.

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Ainda sobre sua participação no Brasil, em janeiro de 2010, a SNI recebeu a Certificação ISO 14001- International Organization for Standardization, que estabelece diretrizes sobre a área de gestão ambiental dentro de empresas. Essa preocupação com assuntos ambientais provoca simpatia entre adeptos e não-adeptos que, por meio de reuniões e pela mídia, são conscientizados e estimulados sobre a cultura de defesa do meio ambiente. Em seu slogan (figura 3): o modo feliz de viver em harmonia com a natureza é evidenciado o seu interesse pela preservação ambiental:

Figura 3

Com o intuito de preparar pessoal para assumir a responsabilidade pelo

Movimento Internacional de Paz e de dar continuidade à propagação de seus ensinamentos, a SNI oferece, desde 2011, bolsas de estudo no Japão20 para todos os líderes ou membros da Missão Sagrada que tenham participado de reuniões, na associação local, por mais de um ano.

Assim, para preservar sua história, foi inaugurado, em 11 de novembro de 2006, o Museu Histórico da SNI no Brasil, na Academia Sul-Americana de

       20

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Treinamento Espiritual em Ibiúna, SP. Lá estão expostos objetos utilizados por Taniguchi em sua estada, no Brasil, em 1963 e 1973, há, também, fotos, referentes ao início do movimento, no Brasil, entre outras lembranças que mantém a memória viva entre os japoneses.

Diante desse contexto, Castilho (2006) diz que a SNI, ao se expandir no Brasil e ao se aproximar da sociedade brasileira, não tem, somente, dado destaque às características da cultura nipônica, mas, concomitantemente, tem mantido os princípios da doutrina preconizados pelo fundador. Ademais, essa aproximação proporciona o contato com os mais variados temas, como alimentação, comportamento, educação, saúde, meio ambiente, política, entre outros.

1.6 A religiosidade na Seicho-No-Ie

Apesar de a SNI não ser vista como religião, notamos a presença da religiosidade em seu discurso, ou seja, encontramos uma disposição para abordar temas religiosos e para usar elementos de diversas religiões. Essa tendência se justifica, pois segundo Masaharu Taniguchi (2007c, p. 16):

a Seicho-No-Ie não defende o sectarismo, opondo-se a outras religiões. Para ela o xintoísmo é ótimo, o budismo é ótimo, o cristianismo também é ótimo [...]. Vindo à Seicho-No-Ie, qualquer pessoa sendo, budista ou xintoísta, passa a entender a essência de sua respectiva religião.

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Taniguchi (2007c) explica que recorre aos ensinamentos de várias religiões, pois todas são vistas como luzes de salvação irradiadas de um único Deus. Assim, na Judéia, irradiou-se há dois mil anos a luz da salvação, nascendo Jesus; e na Índia irradiou-se essa mesma luz há três mil anos, nascendo Sakyamuni

(TANIGUCHI, op.cit., p. 17).

Tendo como característica, essa aceitação religiosa, são comuns, nas obras, em palestras e em cerimônias referências à Kojiki (mitologia japonesa), à Bíblia, às escrituras budistas, aos ensinamentos e as práticas de seitas japonesas como Shin, Zen, Shingon. Conforme Taniguchi (2008, p. 21), devido a esse “acolhimento”, não se deve falar mal delas, pois a SNI se funde com a essência de todas as religiões.

Como exemplo dessa identidade religiosa, foi publicado, em 1960, o livro

Preleções sobre a interpretação do Evangelho segundo João: à luz do ensinamento da Seicho-No-Ie. Nesse livro, há a transcrição de várias preleções, sobre o Evangelho de João (Novo Testamento), feitas na Academia de Treinamento Espiritual em Akasaka, Tóquio.

No prefácio dessa obra, o autor afirma que o Evangelho segundo João deve ser lido dezenas e centenas vezes, para que se compreenda os ensinamentos e a personalidade espiritual de Cristo. Além disso, ele comenta que apesar de não pertencer a nenhuma igreja cristã, ele leu a bíblia, sob inspiração divina, e apreendeu sobre a Vida de Cristo, e complementa, afirmando que as pessoas que pertencem às igrejas tradicionais, talvez, não estejam conseguindo apreender a Vida de Jesus.

Consequentemente, conforme Taniguchi (2009) argumenta, muitas religiões cristãs ocultam o valor da Vida de Jesus e, por isso, movimentos, como a SNI, pregam o valor intrínseco de Cristo, ou seja, pregam a Verdade comum a todas as religiões. Além disso, ele adverte que a SNI não deve ser considerada uma miscelânia de religiões, já que:

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dão vida à Bíblia como também às escrituras budistas

(TANIGUCHI, 2009, p. 255).

Assim sendo, para o autor (op.cit., p. 239), por exemplo, é uma blasfêmia dizer que o homem, um impuro filho do pecado, seja filho de Deus. Ele faz referência ao ensinamento cristão, que se baseia no antigo testamento (Gênesis 3:23), que afirma que o homem passou a ter o pecado original desde a expulsão de Adão e de Eva do paraíso. Ele afirma que o homem não é descendente de Adão e Eva, que desobedeceram às ordens de Deus para não comerem o fruto proibido e postula que o homem não é pecador, pois nasceu de Deus e é filho de Deus e que, portanto, nesse ensinamento cristão, a relação homem/Deus está comprometida, devido a ambos estarem separados.

Taniguchi (2007, p. 155) comenta que devido a essa ideia de pecado original

a humanidade passou considerar o ser humano “pó da terra” - um mero corpo material - e a considerar o mundo um aglomerado de elementos materiais, sendo essa crença, a origem do sofrimento das pessoas.

Sobre a materialidade, na SNI, ensina-se que o homem não é matéria, pois ele é espírito, é a Imagem Verdadeira (Jissô) e que, por isso, ele é perfeito, é harmônico, é saudável, é feliz, é livre de sofrimento e de dor. Essa convicção é decorrente da seguinte interpretação do primeiro texto da Bíblia - Gênesis:

o primeiro capítulo de Gênesis refere-se à Imagem Verdadeira perfeita do homem espírito. Já o segundo capítulo vê o homem como uma criatura imperfeita, formada do pó da terra. Isso constitui a primeira ilusão da humanidade, o primeiro pecado (TANIGUCHI, 2007, p. 155).

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conhecimento, o ser humano não conseguirá iniciar o processo de modificação de sua realidade exterior. Para ele, o não reconhecimento dessa natureza espiritual do ser humano, implica cometer o mesmo pecado praticado por Adão e por Eva. Nessa perspectiva religiosa, a relação homem/religião estaria comprometida, por não desempenhar o seu papel.

No entanto, para Taniguchi, o homem não precisa abrir mão de suas convicções religiosas, para praticar o que lhe é ensinado. As pessoas devem incorporar os seus ensinamentos ao cotidiano. Notamos, assim, a presença do sincretismo, da pluralidade, que nos remete à heterogeneidade.

Nessa interação com um público que possui credos distintos ou na divulgação da ideia de um convívio harmonioso entre todos, com suas diferenças e/ou semelhanças, percebemos a forma pela qual é representado o sincretismo na SNI, pois ao igualar o “nós” e os “outros”, preconiza-se que não há separação entre as pessoas, mas uma continuidade, uma parte de nós e, por isso, não ocorre a categorização de raças nem de religiões.

Sobre a palavra religião, etimologicamente, ela vem do latim relegere (reler) e quer dizer aqueles que cumpriram cuidadosamente com todos os atos de culto divino e, por assim dizer, os reliam atentamente (ABBAGNANO, 2001, p. 814). Esse vocábulo pode ter sua origem da palavra religare (religar, ligar novamente) ligar novamente valores religiosos dos quais as pessoas haviam se afastado em meio às diversas opções oferecidas pela realidade (WILGES, 1994, p.15).

Nessa perspectiva, na SNI, é explicado que as religiões, ao pregarem a existência de um único ‘eu’, separado do ‘outro’, transmitem a existência de uma única cultura, de uma raça, de um único Deus, o que impossibilita o convívio com a diversidade, principalmente, com o vasto campo religioso.

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Percebemos, dessa maneira, que a instituição se caracteriza pelo não seguimento restrito das doutrinas das demais religiões, no entanto, em seu discurso, é criado um efeito de sentido que, leva o leitor a inferir um sincretismo.

Além disso, as orientações espirituais e a relação com Deus não são tratadas de forma autoritária (Deus manda), pois o homem é ensinado a não ser ver como um ser inferior ao Criador, mas como alguém que consegue interagir com Deus de maneira livre, sem as ‘ameaças’ concretizadas pela figura do inferno, de castigo, de punição, caso a doutrina não seja obedecida.

Ademais, ensina-se que o homem deve controlar, racionalmente, sua vida e, com esse “ideal libertário”, deve enxergar a possibilidade de se reconhecer como uma nova criatura, sem culpa, livre, independente, enfim, deve-se enxergar como criador e não como criatura, já que é filho do Criador.

1.7 Pomba Branca– A Revista da Mulher Feliz

Um dos instrumentos de divulgação dos ensinamentos filosóficos e religiosos da SNI é a revista Pomba Branca. Nela se encontra a coluna Artigo do Mestre Masaharu Taniguchi que será o objeto de análise para nossa pesquisa. Essa publicação destina-se a mulheres e contém matérias relacionadas ao lar e assuntos considerados como pertencentes ao universo feminino, como educação dos filhos, culinária entre outros. Nela, há artigos, que particularizam aspectos da vida da mulher do ponto de vista espiritual, de autoria do fundador; de sua esposa, Teruko Taniguchi; de sua filha, Emiko Taniguchi; de sua neta Junki Taniguchi e de seu genro e atual presidente, Seicho Taniguchi.

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No Japão, a Associação Shirohato (figura 4), tradução Pomba Branca, surgiu em 1935 e de acordo com relato da senhora Tsuneko Matsumoto21, sobre o surgimento da entidade, ele ocorreu a partir de reuniões informais com algumas mulheres e, entre elas, estava Teruko Taniguchi, esposa do fundador da SNI. Ela ressalta, ainda, que, a partir da segunda reunião, que passou a ser na “casa da colina”, residência da família Taniguchi, o esposo estava presente nos encontros e

não obstante de intensos afazeres, passamos a receber orientações, pessoalmente.

Slogan Associação Pomba Branca - Japão Figura 4

Ela lembra, também, que veio do “mestre” a seguinte orientação de expandirem as reuniões:

a Associação Pomba Branca veio até o momento efetuando atividades internas. [...] doravante, deverá atuar, também, do lado horizontal, trabalhando ativamente em atividades externas, de mãos dadas, seguindo mais as características femininas de amor e paz, assim mantendo um equilíbrio entre o interior e o exterior

(Revista Pomba Branca – edição especial – 2004, p.39).

      

21 Relato extraído da revista Pomba Branca (2004, p.38), edição especial, da comemoração do Jubileu de Ouro

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Após ouvirem dele o que tanto esperavam, as senhoras se reuniram, informalmente, na ‘casa da colina’ e, após debates, na presença dele e de sua esposa, decidiram “fazer da Associação Pomba Branca a Associação das Senhoras da Seicho-No-Ie, em âmbito nacional”. A partir daí, surgiu o Departamento das Senhoras e a associação separou-se, da SNI, em 13 de fevereiro 1936.

O nome Pomba Branca, conforme relato da senhora Teruko22, presente em diversas obras e no site da organização, surgiu na seguinte ocasião:

eu usava, na ocasião, um broche com o formato de pomba branca, para prender a faixa do quimono. O Mestre observou o broche e disse:- Que tal o nome de “Pomba Branca?” Ela simboliza a pureza, a delicadeza a paz [...] uma figura realmente feminina. - Ótimo! Acho muito bom! – respondi. E assim surgiu a denominação Associação Shirohato (Revista Pomba Branca23 - em japonês – nº. 424, p. 58).

       22

Informação obtida no site <http://www.sni.org.br/pomba_branca/>. Acessado em 11 de novembro de 2012.

23

Capa da revista Pomba Branca, em japonês, de fevereiro 2013. Extraída do site

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Revista Pomba Branca – Japão – fev.2013.

Sobre a importância da revista Pomba Branca, Masaharu Taniguchi (2004, p.6),24 no artigo Ensinamentos de Luz para as Mulheres, publicado na primeira edição dessa revista, diz que é uma publicação que visa a levar felicidade a todas as mulheres, iluminando-as e promovendo a união delas e que, apesar dele não ser mulher, está disposto a liderar um movimento que vise à felicidade de todas as mulheres, porque sou dirigente da Seicho-No-Ie. O lar do crescimento infinito.

Ele, nesse primeiro artigo, orienta as leitoras sobre como deixarem seus maridos satisfeitos em seus lares, afirmando que o segredo de um lar feliz está na expressão sorridente que a mulher mostra quando fala com o marido e com os demais membros da família e que um lar é infeliz quando a mulher, em vez de se mostrar satisfeita com o marido e os filhos, fica reclamando deles o tempo todo.

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