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EFEITOS DA VARIAÇÃO DA TARIFA DE ENERGIA ELÉTRICA SOBRE A INFLAÇÃO BRASILEIRA: 1996 - 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA

CAMPUS SOROCABA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

ANDRESSA PORTO CASTRO

EFEITOS DA VARIAÇÃO DA TARIFA DE ENERGIA ELÉTRICA SOBRE A INFLAÇÃO BRASILEIRA: 1996 - 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA

CAMPUS SOROCABA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

ANDRESSA PORTO CASTRO

EFEITOS DA VARIAÇÃO DA TARIFA DE ENERGIA ELÉTRICA SOBRE A INFLAÇÃO BRASILEIRA: 1996 - 2015

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Economia, para obtenção do

título de mestre em Economia.

Orientador: Prof. Dr. Maria Aparecida da Silva Oliveira.

Co-orientador: Prof. Dr. Adelson Martins Figueiredo.

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ANDRESSA PORTO CASTRO

EFEITOS DA VARIAÇÃO DA TARIFA DE ENERGIA ELÉTRICA SOBRE A INFLAÇÃO BRASILEIRA: 1996 - 2015

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação, para obtenção do título de mestre em Economia. Área de concentração Economia. Universidade Federal de São Carlos. Sorocaba, 22 de agosto de 2017.

Co - orientador (a)

_____________________________________ Prof. Dr. Adelson Martins Figueiredo.

Universidade Federal de São Carlos

Examinador (a)

_____________________________________ Prof. Rodrigo Vilela Rodrigues

Universidade Federal de São Carlos

Examinador (a)

_____________________________________ Prof. Christiano Alves Farias

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ser minha fortaleza e refúgio em todas horas e por sempre atender às minhas orações.

Agradeço aos meus pais, Claudionir e Marister pela oportunidade de me dedicar exclusivamente aos estudos e principalmente pelo apoio incondicional que sempre demonstram. Ao meu irmão, Darson, pelo suporte e exemplo de dedicação e perseverança. Aos meus tios e primos, Edileusa, Rubi Nei, Gabriel e Melissa, por todo incentivo, compreensão e companheirismo a mim dedicados.

Agradeço à minha orientadora, Maria Aparecida, por ser exemplo de profissionalismo, pela disposição e dedicação que sempre demonstrou comigo, mesmo a distância. Também agradeço ao meu co-orientador, Adelson, pela disponibilidade e contribuições, que foram decisivas para a conclusão deste trabalho.

Agradeço aos colegas de Mestrado pelo companheirismo, em especial, aos amigos que levarei para a vida Camila, Guilherme, Josiane, Mariana e Augusto, a companhia de vocês tornou essa caminhada mais fácil e alegre. Agradeço aos amigos, Tiago e Gregório, cujas visitas em Sorocaba sempre alegraram e trouxeram alívio para os dias de estudos.

Agradeço aos meus amigos de infância, de adolescência e dos tempos de faculdade, que mesmo a distância ou sem saber contribuíram para que eu chegasse até aqui.

Agradeço à Universidade Federal de São Carlos e todos os professores que tive ao longo do Mestrado, por todo conhecimento compartilhado. Agradeço à secretária Manoela, pela disposição e boa vontade com que sempre me atendeu.

Agradeço, aos Professores Rodrigo e Christiano por gentilmente terem aceito gastar seu precioso tempo com a leitura deste trabalho, que certamente resultará em contribuições para aperfeiçoá-lo.

Agradeço a Capes pela concessão de Bolsa de Estudos.

Agradeço à Biblioteca Municipal Dr. Otávio Santos e todos os seus funcionários por permitirem que este espaço seja um local de estudos e aprendizado, que passou a ser minha segunda casa nestes últimos meses.

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RESUMO

No Brasil, adotou-se o Sistema de Metas de Inflação desde 1999 sendo a inflação mensurada através do Índice de Preços Amplo ao Consumidor (IPCA), o qual em sua cesta de bens possui produtos com preços livres e administrados. A inflação ocorrida nos últimos anos no Brasil, pode ser em parte explicada como uma inflação de custos causada por choques na oferta, bem como por uma inflação de componente inercial causada pela indexação dos produtos de preços administrados. Dentre os preços administrados a tarifa de energia elétrica é um dos itens de maior peso e que mais contribui para a variação do IPCA monitorado. A energia elétrica é um dos insumos mais importantes da matriz energética nacional, estando presente não apenas nas residências, mas também é um insumo primordial para os demais setores da economia. O presente trabalho visa analisar os efeitos que as variações da tarifa de energia elétrica provocam no IPCA e nas categorias de bens e serviços que o compõe ao longo do período de janeiro de 1996 até junho de 2015. Para melhor compreender o comportamento da tarifa de energia elétrica estima-se qual o efeito dos seus possíveis determinantes na variação do preço da energia. A análise dos modelos econométricos se dá por meio da metodologia de séries temporais multivariadas. De modo geral, choques positivos na tarifa de energia levam a aumento na variação de preços da maioria das categorias do IPCA. Aumentos na tarifa de energia elétrica também impactam de forma positiva sobre o IPCA dos preços monitorados e de serviços.

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ABSTRACT

In Brazil, the inflation targeting system has been adopted since 1999, with inflation measured through the Extended Consumer Price Index (IPCA), which in its basket of goods has products with free and administered prices. Inflation in recent years in Brazil can be explained as an inflation of costs caused by supply shocks, as well as an inertial component inflation caused by the indexation of administered prices. Among the administered prices, the electricity tariff is one of the items with the highest weight and that contributes most to the variation of the monitored IPCA. Electricity is one of the most important inputs of the national energy matrix, being present not only in the residences, but also is a primordial input for the other sectors of the economy. The present work aims at analyzing the effects that the variations of the tariff of electric power cause in the IPCA and in the categories of goods and services that compose it during the period of January of 1996 until June of 2015. To understand the behavior of the tariff of energy are estimated their determinants. The analysis of the econometric models are based in the methodology of multivariate time series. Overall, positive energy price shocks lead to an increase in the price variation of most IPCA categories. Increases in electricity tariffs also have a positive impact on the IPCA of monitored prices and services.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Decomposição da Variância do Erro de Previsão (%). ... 73 Tabela 2: Função Impulso Resposta – Resposta da Tarifa de Energia ao Impulso dos

Determinantes do Preço da Energia Elétrica. ... 81 Tabela 3: Decomposição da Variância do Erro de Previsão (%). ... 87 Tabela 4: Função Impulso Resposta – Resposta das categorias do IPCA ao Impulso na Tarifa de Energia Elétrica... 97 Tabela 5: Decomposição da variância do erro de previsão (%). ... 101 Tabela 6: Função Impulso Resposta – Impulso na variável Tarifa de Energia Elétrica e

Resposta nas variáveis IPCA monitorado, serviços e livre. ... 106

LISTA DE QUADROS

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Potência Instalada das Usinas em Operação (%) no Brasil em 2015... 17

Figura 2: Tarifa de Energia Elétrica por Classe de Consumo no Brasil entre 2003-2016. ... 29

Figura 3: Consumo de Energia Elétrica por Setor no Brasil em 2015. ... 30

Figura 4: Evolução da Participação da Eletricidade no Consumo Total de Energia no Brasil entre 1994-2015 (tep). ... 30

Figura 5: Consumo de Energia Elétrica por Setor Industrial no Brasil em 2015 (%). ... 31

Figura 6: Evolução do Consumo de Energia Elétrica por Setor no Brasil entre 1994- 2015 (%). ... 32

Figura 7: Resposta da tarifa de energia elétrica ao impulso na taxa de câmbio. ... 77

Figura 8: Resposta da tarifa de energia elétrica ao impulso em IGP-M. ... 77

Figura 9: Resposta da tarifa de energia elétrica ao impulso em hidrelétricas. ... 79

Figura 10: Resposta da tarifa de energia elétrica ao impulso em termelétricas. ... 79

Figura 11: Resposta da tarifa de energia elétrica ao impulso no consumo de energia. ... 80

Figura 12: Resposta de IPCA artigos de residência e IPCA habitação ao impulso na tarifa de energia elétrica. ... 92

Figura 13: Resposta de IPCA vestuário e IPCA artigos de residência ao impulso na tarifa de energia elétrica. ... 93

Figura 14: Resposta de IPCA vestuário e IPCA artigos de residência ao impulso na tarifa de energia elétrica. ... 94

Figura 15: Resposta de IPCA alimentos e bebidas ao impulso na tarifa de energia elétrica.... 95

Figura 16: Resposta de IPCA comunicação e IPCA transportes ao impulso na tarifa de energia elétrica. ... 96

Figura 17: Resposta de IPCA livre ao impulso de tarifa de energia elétrica. ... 103

Figura 18: Resposta de IPCA monitorado ao impulso de tarifa de energia elétrica. ... 104

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 12

1.1 Objetivos ... 15

2. SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA BRASILEIRO ... 16

2.1 Estrutura do Setor de Energia Elétrica ... 16

2.2 Regulamentação do Setor de Energia Elétrica ... 19

2.3 Precificação do Setor de Energia Elétrica e Evolução da Tarifa ... 24

2.4 Consumo de Energia Elétrica ... 29

3. INFLAÇÃO: reflexões teóricas acerca de suas causas ... 33

3.1 Inflação de Custos ... 35

3.2 Inflação Sob a Ótica Keynesiana ... 37

3.3 Inflação sob a ótica Pós-Keynesiana ... 40

3.3.1 Inflação de Salários ... 41

3.3.2 Inflação de Lucros ou de Grau de Monopólio ... 43

3.3.3 Inflação de Rendimentos Decrescentes ... 46

3.3.4 Inflação Importada ... 48

3.3.5 Inflação de Impostos ... 49

3.3.6 Inflação de Choques de Oferta ... 50

3.4 Inflação Inercial ... 51

3.5 Novo Consenso Macroeconômico ... 56

4 METODOLOGIA ... 62

4.1 Modelo específico e variáveis ... 62

4.2 Modelo Econométrico ... 65

5 RESULTADOS ... 69

5.1 Modelo 1 ... 69

5.2 Modelo 2 ... 82

5.3 Modelo 3 ... 98

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 107

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 110

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1. INTRODUÇÃO

A inflação figura no topo da lista de prioridades de problemas macroeconômicos a serem combatidos, porém tal combate requer sacrifícios, como menor crescimento econômico. No Brasil a inflação é caracterizada por alguns autores não só como uma questão conjuntural, mas sim um problema estrutural, e nos últimos anos têm se mantido mais próxima da meta ou até mesmo acima da meta estipulada pelo Banco Central. Essa questão inflacionária ainda não foi resolvida por completo mesmo depois de 20 anos do Plano Real e da adoção do Sistema de Metas em 1999, o qual já vigora há mais de 15 anos (MERKI et al, 2014).

Para o balizamento do sistema de metas brasileiro a inflação é medida através do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo)1, o qual é composto por preços livres e preços administrados. Os primeiros são os preços que flutuam livremente e não sofrem regulamentação por parte do governo. Já os últimos representam uma parcela de preços que não apresentam uma relação direta com as leis de oferta e demanda e o índice de reajuste destes preços é apontado pelo governo. Atualmente os preços administrados representam 23 bens e serviços da cesta do IPCA. Estes preços podem ser regulados em nível federal, pelas agências reguladoras, como os preços de serviços telefônicos, eletricidade e planos de saúde ou estipulados no âmbito municipal e estadual, como a maioria das tarifas de transporte público, como ônibus municipais e serviços ferroviários (FIGUEREDO; FERREIRA, 2002).

De acordo com Gomes e Aidar (2005) os preços administrados representam o coeficiente de persistência do IPCA e influenciam de forma significativa na condução da política econômica do país. Em geral o nível de preços administrados se mantém acima do nível de preços livres, isto ocorre devido ao fato de parte desses preços monitorados apresentar sensibilidade às variações de câmbio e estarem indexados à índices gerais de preços. Como forma de controlar o aumento da inflação a autoridade monetária utiliza como instrumento a taxa de juros. Contudo, uma parte importante do IPCA, os produtos de preços administrados, é insensível à taxa de juros, pois a maioria dos preços administrados depende de contratos e da inflação passada (MENDONÇA, 2007).

Desde novembro de 2014 até novembro de 2015 a inflação medida pela variação do IPCA atingiu a marca de 10,48%, estando 3,92 p.p. acima da registrada entre novembro de 2013

1 Este índice foi escolhido por ser do tipo cheio e considerar os choques temporários e mudanças de preços relativos

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a novembro de 2014, e ultrapassando o teto estipulado pelo Banco Central. De um lado, os preços livres acumulam variação de 8,28% em doze meses, já, os preços administrados por contrato e monitorados variaram 17,95%. O índice de preços administrados, considerando as variações ocorridas até novembro chegou ao patamar de mais de 50%, tal aumento pode ser justificado, ao menos em parte, pelo fato de estar ocorrendo um processo de inflação corretiva e pelas alterações da tarifa elétrica devido a implementação do regime de bandeiras tarifárias, em virtude do aumento nos custos de geração de energia (BANCO CENTRAL, 2015).

Ao analisar-se o IPCA de forma desagregada é possível acompanhar as variações de preços que cada categoria apresenta ao longo do período analisado, e assim perceber que a dinâmica inflacionária se comporta de forma distinta em cada categoria. Entretanto, sabe-se que a economia é composta por cadeias produtivas que são interdependentes entre si, ou seja, há insumos que são utilizados ao longo da cadeia e seus preços acabam impactando no preço do produto final. Assim, percebe-se que embora as categorias do IPCA desagregado possam apresentar comportamentos distintos, no que diz respeito às oscilações de preço, há uma dependência entre essas categorias, por exemplo, aumentos na tarifa de energia elétrica, contribuem diretamente para o aumento da inflação dos bens de preços monitorados e também provoca impactos indiretos uma vez que implica em aumento dos custos dos produtos industriais, dos alimentos e dos serviços podendo levar a variações da inflação dos bens que compõe essas categorias (SUMMA; BRAGA, 2014).

O setor de energia elétrica é crucial para o desempenho da economia brasileira, pois além de estar presente nas residências e representar um importante indicador de desenvolvimento social, a energia elétrica também se configura como um dos mais importantes insumos para o setor industrial. De acordo com o Balanço Energético Nacional (2015), a eletricidade é uma das fontes de energia mais consumida no Brasil, estando atrás apenas do óleo diesel e seguida pela gasolina. Por exemplo, 90% da energia consumida pelo setor comercial em 2015 é elétrica, em relação ao setor agropecuário pelo menos 20% da força energética utilizada em 2014 pelo setor advém da eletricidade. Já quanto as residências 45,8% da energia utilizada é oriunda da eletricidade.

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aproximadamente 61,1%. Outras indústrias como química, mineração e pelotização e ferroligas consomem cerca de 28,71%, 40,7%, 10,2% respectivamente, de energia elétrica em sua produção. Em relação as indústrias de papel e celulose e de alimentos e bebidas, entre todas as fontes de energia utilizadas a energia elétrica é a segunda fonte de energia mais consumida 15,6% e 10,5%, respectivamente.

Desta forma, percebe-se a relevância do setor de energia elétrica para a atividade produtiva do país, logo alterações na tarifa de energia elétrica além de impactarem o IPCA por meio de oscilações na categoria dos produtos de preços monitorados, também afeta indiretamente as demais categorias do IPCA, já que é o preço de um insumo de ampla utilização na cadeia produtiva nacional, impactando no setor industrial, de serviços e até mesmo agropecuário. Ressalta-se ainda a relevância de se realizar análises desagregadas do IPCA e assim conhecer a dinâmica inflacionária de cada categoria do índice, principalmente conhecer como insumos importantes da cadeia produtiva, como a energia elétrica, são capazes de alterar os custos de produção, trazendo consequências para o preço final do produto e para o IPCA.

Sabe-se que os produtos com preços administrados apresentam um peso de aproximadamente 24% em relação ao IPCA, dentre os preços administrados a energia elétrica apresenta peso de aproximadamente 14% atrás somente da gasolina e derivados do petróleo que apresentam peso de cerca de 17% (ALVES et al, 2013). Já ao considerar o peso da energia elétrica em relação ao IPCA, os relatórios de inflação emitidos pelo Banco Central do Brasil (2015) apresentam que nos últimos anos tem sido entre 3% a 4%.

Assim, dado que a economia comporta-se de forma encadeada e certos insumos são utilizados ao longo da cadeia de produção, alterações nos preços desses insumos afetam não só a inflação da categoria a qual pertencem no IPCA como as demais categorias para a qual é utilizado como forma de insumo produtivo, fazendo com que o impacto sobre o IPCA seja ainda maior. Então, o trabalho buscará analisar os efeitos que a variação no preço da tarifa de energia elétrica pode causar sobre as demais categorias, pois a energia elétrica é utilizada por quase todos os setores da economia, assim, variações no preço da energia acarretam em mudança nos custos de produção, o que pode levar a alteração no preço do produto final.

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também justifica-se devido ao comportamento recente do preço da tarifa de energia elétrica e, principalmente, por esse setor servir de base para muitas outras atividades econômicas. Segundo Passe e Rocha (2010), dentre os setores de infraestrutura do país, a energia elétrica é um dos pilares mais importantes da área de infraestrutura, já que afeta desde os indivíduos até o setor industrial.

1.1 Objetivos

O objetivo geral do trabalho será verificar os efeitos da variação da tarifa de energia elétrica sobre os demais bens e serviços inclusos no IPCA. Para que tal análise seja realizada, será considerado o IPCA de forma desagregada, ou seja, verificar-se-á os efeitos da variação da tarifa de energia elétrica sob as categorias que compõem o índice2. O período de análise será desde janeiro 1996 até junho de 2015, a escolha do período temporal baseou-se no fato de que a partir da segunda metade da década de 1990 o setor de energia elétrica sofreu modificações estruturais devido às privatizações, bem como mudanças regulatórias, como a criação da Agência Nacional de Energia Elétrica e regime tarifário do tipo price-cap, os quais visavam dar suporte à nova estrutura do setor.

Assim, para uma melhor compreensão do setor de energia elétrica e o impacto da tarifa sobre a inflação brasileira, o trabalho busca atingir os seguintes objetivos específicos: i) sintetizar a estrutura do setor elétrico brasileiro, buscando compreender as suas características institucionais, regulatórias e de formação do preço da tarifa de energia elétrica; ii) analisar os diferentes tipos de inflação de custos e como se relacionam com a formação e variação de preços do setor de energia elétrica; iii) analisar por meio de técnicas econométricas o comportamento da tarifa de energia elétrica a fim de identificar quais as variáveis afetam o seu preço.

Portanto, após compreender sobre o funcionamento do setor de energia elétrica e principalmente sobre a tarifa de energia elétrica e seus determinantes será possível verificar os efeitos da variação da tarifa sobre as demais categorias de bens e serviços que compõem o IPCA. Para isso o trabalho será dividido em capítulos, o primeiro refere-se à a estrutura do sistema elétrico nacional e a formação da tarifa de energia elétrica. O segundo capítulo aborda a inflação de custos, analisando os tipos de inflação de custos sob a ótica das Escolas Keynesiana, Pós-Keynesiana e Novo Consenso Macroeconômico, o capítulo também abordará o conceito de inflação inercial. O terceiro capítulo dedica-se a explicar a metodologia

2 As categorias do IPCA são: alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, transportes, saúde

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econométrica empregada, enquanto que o quarto capítulo discute os resultados encontrados. Por fim, são apresentadas as considerações finais do trabalho.

2. SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA BRASILEIRO

2.1 Estrutura do Setor de Energia Elétrica

Uma das variáveis consideradas para avaliar o quão desenvolvido é um país está ligada a facilidade de acesso da população aos serviços de infraestrutura, por exemplo, a energia elétrica. Dentre os diversos segmentos de infraestrutura, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel (2007), a energia elétrica é o mais universalizado. O fato de algumas regiões não serem atendidas por esse serviço se deve às suas localizações e as dificuldades físicas e econômicas de expansão da rede elétrica

O setor elétrico brasileiro divide-se em três grupos: geração, transmissão e distribuição. Após a geração de energia através das usinas, as quais são responsáveis por conectar a energia gerada ao setor de transmissão, onde a energia passa pelas redes de transmissão até as subestações das concessionárias responsáveis pela distribuição, onde em geral, a energia tem sua tensão rebaixada até destinar-se ao consumidor final. (ANEEL, 2007).

De acordo com dados da Aneel (2016) o segmento de geração no Brasil conta com 4.048 empresas geradoras de energia. Do total de usinas de geração, 2.291 são usinas termoelétricas, cuja principal fonte de energia advém de combustíveis fósseis como carvão mineral, petróleo e gás natural ou de biomassa, totalizando a geração de 38.372.240kW. É importante ressaltar que muitas das termoelétricas são de caráter emergencial e só são acionadas em períodos de seca. Entretanto, a maior fonte de energia do Brasil continua sendo as usinas hidrelétricas, atualmente o país conta com 1.173 empreendimentos destes tipos, incluindo as centrais hidrelétricas e as pequenas centrais hidrelétricas, totalizando cerca de 89.813.109kW, ou seja, 65% da energia gerada. A predominância das hidrelétrica se deve ao fato de que o país possui grandes bacias hidrográficas alimentadas por grandes volumes de chuvas tropicais, o que favorece a implantação de usinas hidrelétricas.

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correspondem a 28%. As instalações termonucleares e eólicas, em conjunto, representam 7% da capacidade de produção de energia elétrica do país.

Figura 1: Potência Instalada das Usinas em Operação (%) no Brasil em 2015.

Fonte: Aneel, 2016.

O setor de transmissão é responsável pela implantação e operação das redes que conectam as geradoras e as subestações das distribuidoras de energia, isto é, realizam o transporte de longa distância da energia. As concessionárias de transmissão obtêm a licença para operar através de leilões realizados pela Aneel, onde a empresa ganhadora do processo é a que apresentar a menor tarifa e sua licença é de trinta anos podendo ser prorrogada por mais trinta anos. De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em 2014 o Brasil possuía mais de 125 mil quilômetros de linhas de transmissão, o que justifica-se pelo fato de que o setor de geração, principalmente as usinas hidrelétricas localizam-se afastadas dos grandes centros consumidores. O setor de transmissão é coordenado pelo Sistema de Interligado Nacional (SIN), entretanto algumas transmissoras de energia da região Norte não fazem parte do SIN e são denominadas de Sistemas Isolados, embora, a tendência é de que estes sistemas sejam gradativamente incorporados ao SIN.

O SIN abrange quase todo o território nacional, compreendendo as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte do Norte, totalizando cerca de 97% da capacidade de produção de energia elétrica do país, provenientes de fontes interna ou de importação da usina hidrelétrica binacional de Itaipu. O SIN é composto por usinas, linhas e ativos de transmissão, cujo objetivo é integrar as linhas de transmissão da maior parte do território brasileiro, conectando as usinas geradoras às subestações das distribuidoras. Logo o SIN, permite a integração entre as diferentes regiões do país, facilitando a permuta de energia entre regiões, o que é muito

65% 28%

1% 6%

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importante em um país como o Brasil, onde os índices pluviométricos são tão dispares entre as regiões, o que por sua vez afeta o abastecimento de energia nacional (WALVIS, 2014).

Segundo a Aneel (2007), o setor de distribuição é o mais regulamentado e fiscalizado do setor elétrico, o serviço prestado é regulado e fiscalizado pela Aneel, a qual também edita portarias, resoluções e outras normas para melhor adequar a prestação de serviços das distribuidoras. Os direitos e deveres das companhias de distribuição são pré-estabelecidos por meio do Contrato de Concessão firmado com a União para a exploração do serviço público em sua área de concessão, espaço geográfico em que a companhia detém monopólio do fornecimento de energia. O setor de distribuição é composto por cerca de 63 concessionárias, as quais podem ser estatais ou privadas. No primeiro caso, os acionistas majoritários são o governo federal, estaduais ou municipais. Já nas empresas privadas há presença de investidores nacionais, norte-americanos, espanhóis e portugueses. O setor público é responsável por cerca de 40% da distribuição de energia e o setor privado por aproximadamente 60%. (ANEEL, 2007).

Nos últimos anos a demanda por energia elétrica apresenta um crescimento médio de 4% ao ano. Com este nível de crescimento, a segurança energética é uma questão primordial para o setor, principalmente após a crise ocorrida em 2001. O Programa de Investimento em Energia elétrica (PIEE) lançado em agosto de 2015 prevê uma série de investimentos para o setor, a fim de expandir a oferta de energia elétrica. O PIEE estima que entre agosto de 2015 até dezembro de 2018 seja investido aproximadamente 85 bilhões de reais nos setores de geração e transmissão e após 2018 o PIEE prevê mais 105 bilhões de reais em investimentos.

Para atender de forma adequada o crescimento da demanda por energia elétrica, optou-se por priorizar investimentos em termoelétricas e outras fontes de energia limpa, como as geradoras eólicas. A Aneel em seu Plano Decenal para 2023 salienta que o país também tem incentivado a penetração da geração de energia distribuída, que segundo a Aneel (2013a) é

“aquela geração de energia, abrangendo eletricidade e outros energéticos, localizada próxima

ao consumidor final, cuja instalação objetiva seu atendimento prioritário, podendo ou não gerar

excedentes energéticos comercializáveis para além das instalações do consumidor final.”

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A oferta interna de eletricidade cresce a uma taxa média de 4,4% ao ano, estima-se que após a realização de investimentos no setor, em 2023 a oferta de energia será cerca de 934TWh (Terawatts- hora)3. A evolução do consumo final de energia é determinante para a expansão do setor e consequente aumento da oferta interna, estima-se que ao final de 2023 o consumo será de mais de 350 milhões de tonelada equivalente de petróleo (tep) com uma taxa anual de crescimento médio de 3,7%. Entretanto, nas últimas décadas a diferença entre demanda total e produção de energia mantém-se em uma trajetória decrescente (ANEEL, 2013a).

2.2 Regulamentação do Setor de Energia Elétrica

No Brasil o setor de energia elétrica surgiu ainda no século XIX, e desde seu surgimento foram criadas normas de regulamentação e normatização do setor mesmo que de forma ainda incipiente. Entretanto, considera-se que foi a partir de 1934 que a regulação do setor elétrico tomou forma, com o Código de Águas que regulamentava a indústria hidrelétrica, desde a concessão até a regulamentação tarifária. Contudo é a partir da década de 1990 que o arcabouço institucional do setor tornou-se mais consistente e elaborado.

De acordo com Jardim (2013), desde a metade dos anos 1990 foi sendo moldado um novo arcabouço regulatório a fim de garantir o novo padrão de concorrência que viria se formar a partir das privatizações do setor elétrico, o qual deixaria de ser um modelo estatal para tornar-se um modelo de participação mista estatal-privado. O processo de privatização do tornar-setor elétrico seguiu uma conduta gradualista, objetivando reduzir a dívida pública e promover uma melhora na eficiência produtiva e capacidade de investimento das empresas do setor. O governo priorizou a venda das empresas responsáveis pela distribuição de energia elétrica, pois segundo Gomes et al(2002) “dificilmente se conseguiria atrair interessados para os ativos de geração caso não houvesse a perspectiva de um mercado atacadista privado de energia, no qual estariam

eliminados os riscos de calote nas transações de venda de energia”.

Em 1990 a lei 8.031/90 instituiu o Programa Nacional de Desestatização (PND) e o Fundo Nacional de Desestatização (FND). O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi o responsável por administrar o FND, onde eram depositadas as ações das empresas que seriam privatizadas. Portanto, o BNDES era quem gerenciava a venda das empresas que compunham o PND. No que tange ao setor elétrico o processo de desestatização

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iniciou-se em 1995. Desde 1995, o Banco gerenciou operações que elevaram a capacidade instalada do setor em mais de 12 mil megawatts (GOMES et al, 2002).

Assim, para que o processo de privatização tivesse início fazia-se necessário promover certas mudanças no setor. Então, em 1993 com a lei n° 8.631 durante o governo de Itamar Franco o setor elétrico sofreu novas modificações. A partir de então foi extinguida a equalização tarifária e cada concessionária passou a praticar sua própria tarifa, bem como o regime de remuneração garantida, o qual assegurava que cada concessionária receberia de 10% a 12% do capital investido (JARDIM, 2013).

Dessa forma, em 1995, as Leis 8.987 e 9.074 ajudaram a configurar um novo modelo. A primeira delas definiu as regras gerais para licitação das concessões dos segmentos de geração, transmissão e distribuição de energia. Também instituiu um reajuste tarifário que buscava preservar o equilíbrio financeiro dos contratos. Já a segunda lei estabeleceu o livre acesso aos sistemas de transmissão e distribuição para que dessa forma houvesse competição no segmento de geração de energia elétrica, bem como a criação dos Produtores Independentes de Energia (PIE) e os consumidores livres (JARDIM, 2013).

Já em 1996, no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, foi criada a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que é uma agência reguladora do setor elétrico completamente independente do governo, para que esta atendesse aos interesses do Estado e não de partidos políticos (CARÇÃO, 2011). De acordo com Carção, a Aneel tem como função:

[...] regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, sendo um mediador entre os interesses dos consumidores, que querem tarifas baixas e serviço adequado e com regularidade, os interesses dos investidores, que querem maximizar seus lucros, e o Estado, promovendo uma tarifa suficiente para a prestação de um serviço eficiente ao consumidor e uma remuneração justa ao investidor, garantindo o cumprimento dos contratos (CARÇÃO, p. 24, 2011).

A Aneel também foi responsável por planejar e realizar algumas reestruturações no setor de energia elétrica, através do Plano de Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro (RESEB). Tal projeto foi criado, pois até então as empresas de energia elétrica eram muito verticalizadas, ou seja, eram responsáveis pela geração, transmissão e distribuição de energia. O RESEB propunha que ocorresse uma desverticalização das empresas, pelo menos nos custos contábeis, isto é, os custos de geração, transmissão e distribuição seriam contabilizados separadamente (CARÇÃO, 2011).

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a criação da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (CGCE), a qual visava propor e implementar projetos que mantivessem o equilíbrio entre a demanda e oferta de energia, e assim evitar que houvesse interrupções ou controle do suprimento de energia elétrica (GOMES et al, 2002).

Portanto, devido à crise energética durante o governo do Presidente Lula foram sancionadas nova leis que modificavam novamente a estrutura do setor elétrico. Foi criada a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) com a finalidade de realizar estudos que deem suporte ao planejamento do setor de energia. Também foi instituído com a lei n° 10.848 o Sistema Interligado Nacional (SIN), o qual regulamenta a comercialização de energia elétrica. Outra modificação relevante diz respeito à desverticalização do setor, que deixou de ser apenas contábil, para ser obrigatoriamente uma separação de ativos e corpo funcional, isto foi feito para evitar que agentes com capacidade de geração vendessem energia elétrica para uma concessionária de distribuição pertencente ao mesmo grupo econômico. Também houve modificações na concessão de hidrelétricas e termoelétricas, bem como na comercialização de energia elétrica, a qual deve ser realizada por meio de leilões (GOMES et al, 2002).

Este “Novo Modelo” que vem sendo estabelecido encara como uma das questões

centrais a expansão do setor elétrico, a qual deve ser planejada e pensada com metas a serem cumpridas tanto no curto prazo como no longo prazo. O planejamento da expansão do setor é divido em três etapas: i) a EPE deve realizar um planejamento de longo prazo que contemple um horizonte de até vinte e cinco anos, com períodos de atividades quadrienais, denominado de Plano de Expansão de Longo Prazo do Setor Elétrico (PELP); ii) a EPE também deve estabelecer metas a serem cumpridas em um horizonte de dez anos com ciclos de atividades anuais, os quais são estipulados no Plano Decenal de Expansão (PDE), bem como no Programa Determinativo de Expansão da Transmissão (PDET); iii) o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) é responsável pelo monitoramento das condições de atendimento eletroenergético (WALVIS, 2014).

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venceriam a partir de 2015; e (iii) o aporte de R$ 3,3 bilhões anuais pela União à Conta do Desenvolvimento Energético (CDE) (MARQUES, 2014).

Uma das vias para redução de custos foi através da diminuição de encargos setoriais, a medida provisória decretou o fim da cobrança dos encargos relativos a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC)4 e Reserva Global de Reversão (RGR)5, além de reduzir para 25% o valor da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) cobrado nas tarifas. O argumento para a instituição dessa medida baseia-se no fato de que o setor elétrico não deve ser onerado com encargos cuja a função primordial é social, assim os consumidores de energia elétrica devem arcar apenas com encargos intrinsecamente pertencentes ao setor, enquanto as questões de cunho social sejam custeadas pelo Tesouro Nacional (CASTRO et al, 2013).

A medida provisória também impôs mudanças importantes nas tarifas dos ativos mais antigos de geração e transmissão que tiveram seus contratos renovados, provocando alterações na relação intra mercados de energia elétrica. A medida teve como objetivo promover a antecipação da renovação das concessões que viriam a expirar entre 2015 e 2017, provocando instabilidade no setor e queda na arrecadação das empresas que optaram por antecipar a renovação. Por sua vez, se a concessionária optasse por não antecipar a renovação do contrato poderia continuar praticando a antiga tarifa até o final da vigência do contrato, quando o governo abriria um novo processo licitatório (WALVIS, 2014).

A maior parte dos ativos dessas concessionárias de geração já se encontravam depreciados e amortizados, caso os investimentos ainda não estivessem amortizados, a concessionária receberia uma indenização, pois a intenção era retirar da tarifa a parcela relativa à amortizações e depreciação. Desta forma, a receita final da concessionária de geração não contemplaria os custos de capital, mas em contrapartida as empresas que firmassem acordo com o governo teriam sua concessão renovada por mais trinta anos. Para as concessionárias que aderissem às condições propostas pela MP 579 também haveria uma redistribuição de cotas de energia, ou seja, os contratos antigos entre as concessionárias de geração e distribuição seriam cancelados e contratados pelas distribuidoras como cotas, proporcionalmente ao mercado de atuação de cada concessionária, tais cotas seriam contratadas a um preço mais baixo. O sistema de cotas de energia resultaria em um preço de energia elétrica mais baixo, beneficiando o

4 Segundo a Aneel (2014), CCC é um fundo, criado pela Lei nº 5.899/1973, o qual originalmente tinha como

finalidade ratear os custos com os combustíveis utilizados para a geração de energia elétrica nos Sistemas Interligados. A partir de 1992, o mecanismo de rateio de custos com combustíveis foi estendido aos sistemas não integrados ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

5 Segundo a Aneel (2014), a RGR é um fundo utilizado para financiar o Programa Nacional de Universalização do

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consumidor final. Entretanto, por questões políticas e financeiras parte das concessionárias de geração não aderiu à proposta, cerca de 60% do volume de energia estimado pelo governo optou pela renovação antecipada. Assim, aproximadamente 10.000MW de energia não entraram no novo sistema de cotas de energia, fazendo com que a medida não tivesse o efeito esperado pelo governo (MARQUES, 2014).

A partir das mudanças promovidas pela MP 579 os setores de geração e transmissão de energia passaram a posição de prestadoras de serviços, sem mais comercializar a energia a preço de mercado. Recebendo tarifas que cobrem apenas os custos de manutenção e operação das usinas e linhas de transmissão, cujo cálculo foi definido com base na fórmula já utilizada pela Aneel para estipular a tarifa de energia das distribuidoras. É importante ressaltar que a MP 579 causou um impacto maior nas concessões relativas à geração e transmissão de energia, visto que as distribuidoras são reguladas de forma que o reajuste tarifário periódico tenha mecanismos de transmitir os ganhos de produtividade aos consumidores finais. (CASTRO et al, 2013).

Devido a não adesão à MP 579 por parte de algumas geradoras de energia, a tarifa de energia elétrica não sofreu a redução esperada pelo governo. Somado a este fato, nos ano seguinte a Medida Provisória usinas térmicas tiveram de ser acionadas, elevando o custo de geração de energia elétrica. Então, para que o governo cumprisse o anúncio feito em relação à redução da conta de energia elétrica, foi instituído o Decreto 7945, o qual permitia que o governo realizasse aportes para as concessionárias distribuidoras de energia quando o custo adicional do acionamento das térmicas gerasse um aumento superior a 3%, através da Conta de Desenvolvimento Energético. Desta forma, as tarifas de energia poderiam manter-se baixas por um determinado período, conforme anunciado pelo governo federal (COSTELLINI; HOLLANDA, 2014).

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2.3 Precificação do Setor de Energia Elétrica e Evolução da Tarifa

A partir do início da década de 1990, a precificação das tarifas de energia elétrica passou por diversas modificações. No ano de 1993 houve o fim da equalização das tarifas de energia elétrica para diferentes regiões e as empresas prestadoras de serviço em cada região passaram a cobrar suas tarifas com base nos custos e serviços (FIGUEIREDO; FERREIRA, 2002).

Segundo Pires (2000), antes de 1996 as tarifas de energia elétrica eram calculadas a partir dos custos dos serviços de geração, transmissão e distribuição. Porém, a partir de 1996 os contratos de concessão das distribuidoras de energia seguem o regime de ajuste tarifário denominado price-cap, tal regime estabelece um preço limite para a tarifa. Nesta modalidade a Aneel deve estipular um preço máximo inicial que poderá ser cobrado pela empresa distribuidora, e tal preço deve ser mantido até a revisão tarifária seguinte. O preço limite será reajustado de acordo com o vencimento estipulado pela agência reguladora segundo um índice de preços menos um fator – X de produtividade. Tal fator, é um índice que mede os ganhos de produtividade, as estruturas de custos e receitas, as condições do mercado de energia e os níveis de preços observados em cada empresa do país. O fator – X é calculado pela Aneel e cada concessionária de energia elétrica possui um fator próprio de acordo com sua produtividade. Na maioria das vezes o fator – X funciona como redutor do índice de reajuste das tarifas cobradas aos consumidores, pois o percentual do fator – X é deduzido do IGP-M, logo concessionárias mais produtivas possuem um fator – X maior, acarretando em um reajuste tarifário menor, o que beneficia os consumidores atendidos por essa firma (ANEEL, 2007). Segundo Jardim (2013), a fórmula básica do fator- X pode ser expressa da seguinte forma:

𝑋 = (𝑋𝑒+ 𝑋𝑐) ∗ [(1 + 𝐼𝐺𝑃𝑀) − 𝑋𝑎] + 𝑋𝑎

Onde 𝑋𝑒 representa os ganhos de produtividade que serão repassados aos consumidores,

𝑋𝑐 equivale aos resultados obtidos da pesquisa de satisfação quanto aos serviços oferecidos

pela distribuidora de energia e por fim 𝑋𝑎 é a diferença entre o IPCA e o IGP-M.

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Adicionalmente, também é importante ressaltar que o regime price-cap transmite para a tarifa qualquer custo gerado por algum evento econômico não previsto pela concessionária. Assim, a forma generalizada do price-cap pode ser descrita como INDICE DE PREÇO – FATOR – X – Y, onde Y são os custos não previstos (PIRES, 2000). Segundo Pires e Piccini (1998) o regime tarifário do tipo price-cap é um dos mais adequados para os bens públicos, é um método simples e claro capaz de estimular a eficiência das firmas, pois repassa ganhos de produtividade e redução de custos para os consumidores e para a empresa. Contudo, é importante ressaltar que no Brasil esse regime é adotado apenas no âmbito das distribuidoras de energia elétrica.

No que diz respeito à regulação de preços das empresas geradoras de energia elétrica entre 1993 até 2003 era realizada, de modo geral, por meio de contratos entre as firmas de geração e distribuição. Então, no ano de 2003 foi proposto um novo modelo de regulação para o setor de geração. Foi instituído o ambiente de contratação regulada (ACR) e o ambiente de contratação livre (ACL). O primeiro diz respeito ao mercado atacadista e o segundo sobre a competição dos consumidores livres. O ACL conta com uma estrutura de leilões para a comercialização de energia, tais leilões são do tipo simultâneo, onde o vendedor é a empresa geradora de energia, a qual deseja vender o excedente de energia elétrica. Enquanto que os compradores são as concessionárias distribuidoras de energia (LEITE; MARTIGNAGO; FIATES, 2006).

Então, a partir da regulamentação do setor as tarifas de energia elétrica passaram a ser determinadas de acordo com os contratos assinados entre as empresas concessionárias e a Aneel. O setor também passou a ser segmentado entre as atividades de geração, transmissão e distribuição/comercialização de energia elétrica. No índice de inflação, IPCA, o que é contabilizado é a tarifa estipulada pelo setor de distribuição, pois é a que afeta o consumidor final (FIGUEIREDO; FERREIRA, 2002).

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público e consumo próprio (CARÇÃO, 2011). De acordo com a Aneel (2006) as tarifas de energia elétrica são definidas levando em consideração a demanda de potência e o consumo de energia.

Os contratos estabelecidos pela Aneel para a regulação tarifária estabelecem reajuste tarifário anual, revisão periódica e revisão extraordinária. De maneira geral, os contratos de reajustes tarifários anuais são estabelecidos para cada concessionária, e tal reajuste ocorre em dois âmbitos. O primeiro capta os custos não gerenciáveis incorridos pela empresa, este tipo de custo está relacionado aos serviços de geração e distribuição contratados pela empresa, ou seja, custos sobre os quais a empresa não possui controle e não estão sujeitos à barganha, a chamada Parcela A, cujos componentes são:

i) Compra de Energia: Para a distribuidora atender a demanda de energia dos consumidores da sua área de concessão, ela precisa efetuar compras de energia de diferentes empresas geradoras por meio de leilões. Segundo a Aneel o dispêndio com compra de energia dentre os itens de custos não gerenciáveis é o que possui maior peso relativo para as distribuidoras (ANEEL, 2006).

ii) Encargos Setoriais:

a) Taxa de Fiscalização de Serviços de Energia Elétrica (TFSEE): criada com a finalidade de compor a receita da Aneel para prover a cobertura de suas despesas administrativas e operacionais e é paga mensalmente pelos agentes que atuam na geração, transmissão e distribuição (ANEEL, 2006).

b) Rateio de Custos do PROINFA6: é um encargo pago por todos os agentes que compõem o SIN que comercializam com o consumidor final bem como pelos consumidores livres que utilizam a rede elétrica. Tal encargo serve para auxiliar nos custos da energia produzida por pequenas empresas cuja fonte energética é eólica, pequenas centrais hidrelétricas e biomassa (ANEEL, 2006).

c) Conta de Desenvolvimento Energético (CDE): é um encargo setorial que tem seu valor anual calculado pela Aneel e é arrecadado através de cotas pagas pelos agentes que comercializam com o consumidor final. O propósito deste encargo é promover a universalização do serviço de energia elétrica no Brasil, prover recursos para a CCC, bem como auxiliar na promoção da competitividade da energia produzida a partir de

6 De acordo com o Ministério de Minas e Energia o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia

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fontes como carvão mineral, eólica, termossolar, fotovoltaica, biomassa e outras fontes renováveis. Recentemente a alíquota deste encargo sofreu modificações pela Lei 12.783/2013 (ANEEL, 2006).

iii) Encargos de Uso da Rede Elétrica: Todas as empresas de geração, transmissão, distribuição e os consumidores livres que fazem uso da Rede Básica7 devem pagar encargo a fim de ressarcir parte dos custos de distribuição incorridos pela administração e operação do ONS, que é o órgão responsável pelo funcionamento da Rede Básica (ANEEL, 2006).

Além disso, uma outra parcela do reajuste tarifário advém dos custos gerenciáveis, denominados Parcela B, estes custos são assim denominados pois de alguma forma eles podem ser controlados pelas distribuidoras. Tais gastos estão relacionados ao funcionamento da firma, como dispêndios com funcionários, materiais e manutenção das redes, remuneração do capital, cota de depreciação, além das despesas com investimentos em pesquisa e desenvolvimento e com o PIS/Cofins (ANEEL, 2006).

O reajuste do preço da tarifa elétrica é baseado no índice de preços IGP-M e ocorre anualmente para cada concessionária. É estabelecido contratualmente que nas revisões tarifárias, o preço da tarifa de energia elétrica poderá ser alterado para mais ou para menos, isso se deve ao fato do cálculo do fator – X (ANEEL, 2006).

Assim, para determinar a magnitude do reajuste tarifário a Aneel calcula um Índice de Reajuste Tarifário (IRT). A cada reajuste anual, a distribuidora tem o valor consolidado de sua Receita Anual referente aos doze meses passados (𝑅𝐴0) e dos custos gerenciáveis no período inicial (𝑃𝐴0). O novo valor da parcela de custos gerenciáveis (𝑃𝐴1) é um somatório dos custos e encargos que a compõe. Já a parcela B (𝑃𝐵0) é um multiplicador aplicado a variação IGP-M que deverá ser somado ou subtraído do fator X, cujo valor é estipulado pela Aneel a cada revisão (JARDIM, 2013b).

IRT = PA1 + PB0 (IGPM + X)

RA0

A partir de 2015, instituído pela Aneel por meio da resolução normativa n° 547, a tarifa de energia elétrica sofreu modificações devido à adoção do sistema de bandeiras tarifárias. Tal sistema foi implementado com a finalidade de refletir as alterações de custos da geração de energia elétrica, dessa forma, se houver aumento nos custos de geração de energia são rapidamente repassados ao consumidor final por meio da alteração da bandeira tarifária,

7 Rede Básica são as linhas de transmissão do Sistema Interligado Nacional que transportam energia elétrica em

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gerando um aumento da tarifa de energia. Assim, mudanças nos custos de geração, que antes só eram repassadas ao consumidor final quando ocorriam os reajustes anuais de tarifação, são agora repassados logo que a estrutura de custos se altera.

Segundo Kirchner (2015), uma das razões da necessidade de implementação do sistema de bandeiras tarifárias é o incompleto sucesso da MP 579. Embora, as tarifas de energia tenham sofrido uma redução, o custo da energia elétrica para as concessionárias de distribuição aumentou. Portanto, a redução tarifária sustentou-se de forma artificial até o final de 2014, já que foi sustentada através subsídios e financiamentos bancários tomados pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Entretanto, a alta conta dos empréstimos associado ao custo crescente da energia devido ao acionamento de usinas termoelétricas emergenciais fez com que fosse necessário implementar o sistema de bandeiras tarifárias e assim possibilitar o repasse de custos adicionais aos consumidores antes do reajuste tarifário anual.

Há três tipos de bandeiras tarifárias, verde, amarela e vermelha, indicando se as condições de geração de energia estão favoráveis ou desfavoráveis, o que por sua vez pode acarretar em alterações nos custos variáveis das empresas. Se a bandeira vigente for verde, não há alterações tarifárias, pois as condições hidrológicas são propícias à geração de energia. Já se a bandeira é amarela, houve aumento nos custos de geração de energia, o que é repassado ao consumidor final de forma proporcional, isto é, há uma cobrança adicional de R$ 0,025 a cada kWh. Por sua vez, se a bandeira é vermelha, há um alto custo de geração de energia e a taxa adicional é de R$ 0,045 por kWh consumido (ANEEL, 2013b).

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A Figura 2 apresenta a evolução das tarifas médias de energia elétrica no Brasil durante os últimos onze anos para as três principais classes de consumo, bem como a tarifa média, a qual abrange todas as classes de consumo.

Figura 2: Tarifa de Energia Elétrica por Classe de Consumo no Brasil entre 2003-2016 (MWh/R$).

Fonte: Aneel, 2016.

Ao analisar a Figura 2 percebe-se que as tarifas das três classes apresentaram significativos aumentos, a queda mais acentuada apresenta-se no ano de 2013, o que é explicado pelas medidas adotadas pela MP 579 e as desonerações fiscais concedidas pelo governo federal às concessionárias de energia a fim de evitar o aumento das tarifas elétricas. Entretanto, a partir de 2014 verifica-se a recuperação das tarifas de energia elétrica, as quais encontram-se em trajetória ascendente. Entre as tarifas visualizadas na Figura 2, os segmentos residencial e comercial apresentam as taxas mais elevadas, mantendo-se acima da tarifa média ao longo de todo o período. Enquanto que a tarifa industrial mantêm-se abaixo da tarifa média, mas a partir de 2014 o preço cobrado pela energia utilizada pelas indústrias tem se aproximado da média.

2.4 Consumo de Energia Elétrica

O setor de energia elétrica é crucial para o desempenho da economia brasileira, pois além de estar presente nas residências é um importante insumo presente na cadeia produtiva de vários produtos. Assim, a expansão e aprimoramento dos segmentos que compõem o setor de energia elétrica, em conjunto com o crescimento econômico acarretam em um consumo crescente de energia elétrica. A eletricidade é a segunda fonte energética mais consumida, representando 17,2% do total de energia consumida, atrás apenas do óleo diesel que representa 18,4% do consumo final de energia (ANEEL, 2016).

R$ 0,00 R$ 50,00 R$ 100,00 R$ 150,00 R$ 200,00 R$ 250,00 R$ 300,00 R$ 350,00 R$ 400,00 R$ 450,00

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A Figura 3 mostra o consumo de energia elétrica entre os principais setores da economia durante o ano de 2015. O setor comercial é o que mais utiliza energia elétrica, cerca de 91% de toda energia consumida pelo setor advém da eletricidade. Já as residências, de toda energia consumida 45,2% é proveniente da eletricidade. A energia elétrica também se constitui um importante insumo para os setores industrial e agropecuário, aproximadamente 20% da força energética destes setores vêm da eletricidade (EPE, 2016).

Figura 3: Consumo de Energia Elétrica por Setor no Brasil em 2015.

Fonte: EPE, 2016.

A Figura 4 mostra a evolução da participação da eletricidade no consumo total de energia no Brasil entre 1994-2015, medido em tonelada equivalente de petróleo (tep).

Figura 4: Evolução da Participação da Eletricidade no Consumo Total de Energia no Brasil entre 1994-2015 (tep).

Fonte: EPE, 2016.

Como pode ser visto na Figura 4, a participação da eletricidade no consumo total de energia apresenta uma trajetória crescente. No biênio 2000-2001, período em que foi adotado o programa de racionamento de energia, houve uma redução da participação da energia elétrica

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Comercial Residencial Industrial Agropecuário

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no consumo total de energia do país devido a substituição por outras fontes de energia e pelo uso mais consciente e eficiente da energia elétrica. Pela figura percebe-se que em 2009 também houve uma queda da participação da energia elétrica em relação ao consumo energético total, o que pode ser parcialmente explicado pelo fato das indústrias intensivas em energia terem reduzido sua produção física. A partir de 2010 a participação da eletricidade no consumo energético total mostrou-se ascendente, entretanto, em 2015 o consumo energético voltou a cair no Brasil, afetado principalmente pela queda na demanda de energia elétrica, o que pode ser explicado pela crescente elevação da tarifa de energia. (EPE, 2016).

Segundo o Balanço Energético Nacional (2016), em 2015 o consumo de energia elétrica por parte das indústrias sofreu uma variação negativa de 5% em relação ao ano de 2014, uma das causas é a queda na produção dos setores automobilístico e indústria do aço. Contudo, ainda assim a eletricidade é a principal fonte energética do setor industrial, aproximadamente 20% da energia utilizada pelas indústrias advém da energia elétrica. No ramo industrial, apenas os setores de papel e celulose, mineração e pelotização e química apresentaram uma variação positiva de 4,7%, 3,7% e 0,9% respectivamente em relação a 2014.

A Figura 5 mostra o consumo de energia elétrica por cada setor industrial no Brasil para o ano de 2015.

Figura 5: Consumo de Energia Elétrica por Setor Industrial no Brasil em 2015 (%).

Fonte: EPE, 2016.

Conforme a Figura 5, dentre os diversos setores industriais, o setor têxtil é um dos que mais utilizam eletricidade como fonte de energia, aproximadamente 62,6%. Outras indústrias como química, mineração e pelotização e ferroligas consomem cerca de 28,9 %, 32,7%, 43,4% respectivamente, de energia elétrica em sua produção. Em relação as indústrias de papel e

0 10 20 30 40 50 60 70

Têxtil Ferroligas Mineral e

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celulose e de alimentos e bebidas, entre todas as fontes de energia utilizadas a energia elétrica é a segunda fonte de energia mais consumida 15,9% e 10,6%, respectivamente (EPE, 2016).

A Figura 6, mostra a evolução do consumo de energia elétrica nos setores residencial, comercial e agropecuário. Evidenciando a trajetória ascendente do consumo de eletricidade por esses setores, à exceção dos últimos anos em que o setor residencial e agropecuário demonstram um recuo no consumo de energia elétrica. Uma das explicações para tal queda no consumo de energia é o aumento da tarifa de energia elétrica ocorrido nos últimos anos.

Figura 6: Evolução do Consumo de Energia Elétrica por Setor no Brasil entre 1994- 2015 (%).

Fonte: EPE, 2016.

O setor residencial é um dos que mais utiliza energia elétrica, sendo esta a principal fonte energética do setor, cerca de 45,2%. De acordo com Mattos (2005), a demanda residencial por energia elétrica é resultado da demanda por outros serviços, como aquecimento de água, resfriamento, preparação e acondicionamento de alimentos e lazer, ou seja, atividades que necessitam da utilização de aparelhos elétricos. Para o autor o fator que mais influencia na demanda por energia é o preço da tarifa, mas variáveis como estrutura residencial e características climáticas também influenciam no número de aparelhos elétricos e na forma como serão utilizados, o que por sua vez impacta o consumo final de energia. De acordo com o Balanço Energético Nacional (2016), nos últimos anos o consumo residencial de energia elétrica tem aumentado, devido a melhora do poder de compra da população e desenvolvimento tecnológico. Entretanto, com o aumento recente da tarifa de energia elétrica, o consumo caiu 0,7% em relação a 2014, interrompendo a trajetória de crescimento.

O setor comercial é o segmento que mais utiliza eletricidade como fonte energética, aproximadamente 91%. A utilização da energia elétrica como principal fonte energética cresce a cada ano, mesmo com o aumento da tarifa de energia. Entre 2014 e 2015 o consumo de

0 20 40 60 80 100

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eletricidade aumentou 1,3%. Tal fato é explicado pela expansão do setor de comércio e serviços (EPE, 2016).

A eletricidade é a terceira fonte energética mais consumida pelo segmento agropecuário, atrás do óleo diesel e da lenha respectivamente. O consumo de energia elétrica do setor agropecuário expandiu-se bastante nos últimos anos, devido aos investimentos do setor e dos programas governamentais, cujo objetivo era ampliar as redes de distribuição, de modo a levar energia elétrica às áreas rurais. Entretanto, com o aumento da tarifa de energia nos anos de 2014 e 2015 o consumo de energia elétrica decaiu no setor cerca de 0,3% (EPE, 2016).

3. INFLAÇÃO: reflexões teóricas acerca de suas causas

Dentre os diversos fenômenos econômicos, a inflação ocupa um lugar de destaque, sendo não apenas preocupação para os formuladores de política econômica, mas também para os teóricos da área. É sabido que em um cenário de inflação crescente ou de difícil controle, tal elevação do nível de preços pode provocar diversos danos à economia de um determinado país.

Segundo Teixeira (2002, p. 214) “[…] A persistência de processos inflacionários comumente implica, dentre outros fatores, a redistribuição perversa de riqueza, redução do nível e alocação

ineficiente dos investimentos produtivos”.

Há diferentes linhas teóricas que se ocupam de investigar as causas e impactos do aumento generalizado de preços, cada uma destas linhas de pesquisa aponta fatores distintos para o gatilho inflacionário e, consequentemente, apresenta políticas de combate distintas ao fenômeno. Por exemplo, a corrente monetarista que tem como um dos principais teóricos Milton Friedman (1956), considera a inflação como um fenômeno monetário causado por excesso de oferta de moeda, em geral provocado por políticas monetárias expansionistas. Já, as correntes de pensamento keynesiano e pós-keynesiano, não consideram a inflação como um

fenômeno puramente monetário, a “verdadeira inflação” ocorre quando incrementos na

demanda efetiva não geram variação do produto real, mas sim crescimento dos preços, e em geral acontece quando a economia encontra-se próximo do pleno emprego. Ao contrário dos monetaristas a solução para a inflação não é a implementação ou ajuste de políticas monetárias, mas sim de políticas fiscais (MARQUES, 1987).

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necessário analisar cada caso para identificar as causas da inflação e as políticas anti-inflacionárias a serem implementadas.

Em geral, os países apresentam origens distintas para o fenômeno inflacionário, pois este é afetado por diversos fatores. As taxas de inflação podem ser afetadas pela estrutura trabalhista de um determinado país, neste caso o fenômeno constitui-se em um conflito distributivo entre as classes de trabalhadores e capitalistas e o poder de barganha dos sindicatos na luta salarial poderá contribuir para a inflação.8 O grau de abertura comercial do país também é capaz de influenciar no aumento generalizado dos preços, devido as oscilações cambiais e ao efeito pass – through9 (MARQUES, 1987).

Outra distinção necessária é entre inflação de demanda e de custos, há ainda a possibilidade de ser uma inflação de custos provocada por uma inflação de demanda. O primeiro caso ocorre quando há um excesso de demanda em relação a produção de bens e serviços disponíveis na economia. A inflação de custos induzida pela inflação de demanda ocorre quando, por exemplo, uma inflação de demanda provoca aumento nominal no lucro das empresas, consequentemente as empresas visam aumentar sua produção, gerando um aumento da procura por mão-de-obra. Caso a economia encontre-se no nível de pleno emprego ou em um patamar próximo, a escassez de mão-de-obra disponível levará a um aumento dos salários, o que por sua vez eleva os custos de produção. Entretanto, neste caso o aumento dos custos de produção ocasionado pelo aumento dos salários foi provocado devido à inflação de demanda pré-existente (MARQUES, 1987).

Contudo, a inflação de custos pode manifestar-se de forma autônoma, ou seja, quando ocorrem aumentos independentes nos preços de oferta para um dado nível de atividade (SOUZA, 2001). Segundo a abordagem pós keynesiana, o Brasil está passando por uma inflação de custos, cujo cerne está relacionado ao comportamento dos preços administrados, por meio de contratos e poder de oligopólio (SICSÚ; OREIRO, 2003). Os autores ainda ressaltam o efeito do câmbio sobre a inflação, já que muitos insumos são importados e possuem relação intrínseca com a taxa de câmbio, bem como o caráter inercial da inflação devido aos contratos de reajuste dos itens de preços administrados, os quais são indexados a algum tipo de índice geral de preços.

Desta forma, o presente trabalho baseia-se na hipótese de inflação de custos, dado que a energia elétrica é um insumo importante para a manutenção da cadeia produtiva, aumentosna tarifa de energia acarretam em mudanças nos custos de produção, que podem ser repassados

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para o preço dos consumidores. A tarifa de energia elétrica também apresenta um componente inercial, pois sua fórmula de reajuste baseia-se no índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), isto é uma forma de indexação.

A seção a seguir discutirá as fontes e os diferentes tipos de classificação da inflação de custos sob a ótica das Escolas Keynesiana e Pós Keynesiana. Dado que a energia elétrica possui preço administrado, cuja fórmula de reajuste pauta-se em indicadores de preços, considera-se que o preço da energia elétrica também possui um caráter inercial. Portanto, a fim de compreender a inflação inercial é apresentada uma discussão sobre o assunto. Como a abordagem seguida é vista como uma linha alternativa ao mainstream macroeconômico, o Novo Consenso Macroeconômico (NCM) também será discutido, como forma de apresentar um contraponto.

3.1 Inflação de Custos

Como já salientado, o sucesso da estabilização econômica de um país parte inicialmente do diagnóstico correto do tipo de inflação vigente, pois é isso que levará ao melhor tratamento das causas da inflação, determinando qual a melhor política anti-inflacionária a ser aplicada. De acordo com Marques (1987), se a inflação é de demanda a melhor forma de combate é por meio de políticas monetária e fiscal contracionistas. Já se o diagnóstico apontar para inflação de custos, podem ser políticas de preços e renda. Contudo, como dito anteriormente alguns teóricos defendem que a inflação persistente que o Brasil vem enfrentando pode ser diagnosticada como uma inflação de custos que também carrega um forte componente inercial.

Conforme Sicsú (2003) de forma geral, a inflação de custos pode ser caracterizada como um aumento generalizado dos preços motivado pelo aumento da quantidade ou dos preços de insumos utilizados na fabricação de bens, e tal aumento dos custos é repassado para os consumidores causando inflação.

A origem da inflação de custos pode estar ligada, por exemplo, com choques de oferta provocados por quebras de safras, aumentos no preço de matérias-primas de ampla utilização ou ainda elevação de preços de insumos importados. Entretanto, o impacto de aumentos de preços setoriais sobre a taxa de inflação depende do peso que possuem no índice geral de preços, assim os efeitos diretos e indiretos serão maiores sobre o comportamento do índice conforme o peso que possuem (SICSÚ, 2003).

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atrelado à questões de aumentos salariais. Reajustes salarias acima do nível de demanda ou da produtividade da mão-de-obra podem causar inflação, pois os salários maiores elevam os custos de produção e como consequência, os empresários iniciam um processo de reajuste dos preços finais de seus produtos, gerando inflação do tipo wage-push. Além da questão salarial, a fonte da inflação de custos também pode estar associada ao lucro dos empresários. Estruturas de mercado monopolizadas ou oligopolizadas propiciam uma inflação de custos do tipo

profit-push, ou seja, por meio de políticas de mark-up os empresários escolhem aumentar sua margem de lucros e para que isso seja alcançado elevam o preço de seus produtos, provocando inflação. Possivelmente, um impacto inflacionário do tipo wage-push será superior ao do tipo

profit-push, já que os lucros representam uma parcela menor dos preços em comparação aos salários (JORGE, 2012).

No Brasil, o Banco Central (BCB) é o principal responsável pela condução da política monetária e controle da inflação. Desde 1999, o BCB adotou o Regime de Metas de Inflação (RMI)10 e como principal instrumento de política monetária utiliza-se a taxa de juros. Desde a adoção deste sistema de metas, a taxa de juros tem sido alta, o que é explicado pelo grau de rigidez da política monetária praticada, a qual busca principalmente o controle da inflação. Entretanto, estudos apontam que a manipulação da taxa de juros não tem sido utilizada apenas para controle direto da inflação, mas também para influenciar a trajetória da taxa de câmbio (ARESTIS; PAULA; FERRARI FILHO, 2009).

Desta forma, as elevadas taxas de juros auxiliam no combate à inflação, mas também acarretam em outras consequências que podem ser prejudiciais à economia, como: i) aumento do custo do crédito, o que, por sua vez, pode causar alguma restrição ao crescimento econômico, pois o elevado custo dos empréstimos provoca uma revisão nas expectativas dos empresários quanto as decisões de investimento e aumento da produção; ii) taxas de juros elevadas acabam por aumentar a dívida pública, já que no Brasil, a maior parte dos títulos públicos são indexados à taxa Selic (ARESTIS; PAULA; FERRARI FILHO, 2009).

Serrano (2010), ressalta as questões distributivas que envolvem a política de alta dos juros. Os juros reais elevados acarretam um alto custo de oportunidade para o capital, além de elevarem as margens de lucros aceitáveis por parte dos empresários. Assim, para os empresários optarem por investir em capital produtivo, o retorno deste precisa ser igual ou superior ao retorno do capital especulativo, então com os juros elevados o capital financeiro torna-se mais

10 Mais informações sobre o Regime de Metas de Inflação e o Novo Consenso Macroeconômico estão na seção

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Figura 1: Potência Instalada das Usinas em Operação (%) no Brasil em 2015.
Figura  2:  Tarifa  de  Energia  Elétrica  por  Classe  de  Consumo  no  Brasil  entre  2003-2016  (MWh/R$)
Figura 4:  Evolução da Participação da Eletricidade no Consumo Total de Energia no Brasil  entre 1994-2015 (tep)
Figura 5: Consumo de Energia Elétrica por Setor Industrial no Brasil em 2015 (%).
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Referências

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