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MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA NÚCLEO DE ESTUDOS JUNGUIANOS SÃO PAULO 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

RAFAELA BOICZUK DE TOLEDO

Binge drinking e consumo excessivo de

bebida alcoólica em jovens

universitários

um enfoque junguiano

MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA NÚCLEO DE ESTUDOS JUNGUIANOS

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

RAFAELA BOICZUK DE TOLEDO

Binge drinking e consumo excessivo de bebida alcoólica

em jovens universitários

um enfoque junguiano

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Psicologia Clínica, sob a orientação da Profa. Doutora Liliana Liviano Wahba.

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BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

____________________________________________________

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por proporcionar esta experiência e por todo auxílio nesta jornada.

Gostaria de agradecer aos meus pais, Claudia e Lafayette, que sempre me apoiaram, incentivaram e não mediram esforços para me ajudar nesta jornada.

À Liliana Liviano Wahba, que orientou meu caminho com toda paciência, experiência e generosidade. Com certeza tornou-se um referencial de profissionalismo acadêmico e clínico em minha vida.

À minha querida amiga Karina Cervi Santos, que junto comigo trilhou este caminho. Sua presença tornou nossa jornada mais leve, interessante e divertida. Muito obrigada por ter vivenciado isto comigo, levo no meu coração todas as experiências, alegrias e tristezas vividas na ponte aérea Curitiba – São Paulo.

À minha analista Renata Wenth, que me ajudou a compreender o sentido desta pesquisa em minha vida.

À Gabriela Betto Etcheverry pela parceria, disponibilidade e incentivo.

Ao meu querido amigo Rafael Baldo, que sempre me inspirou e nunca me deixou esquecer meus sonhos.

À Aline Mamede, Ana Carolina Deitos, Kamila Chenek e Mayara Redana, pela força de espírito, por me ouvirem e estarem presentes em minha vida, sempre apoiando e compreendendo a minha ausência.

Aos meus amigos Bruna Guebert, Rafaela Secron, Ana Paula Sedorko, Simone Gomes, Bruno Guilhermo e Sid Baroni. A distância se torna pequena diante do carinho e do afeto.

A Mauro Rocha, Ana Paula Cantagalli, Annie Kelly Tamashiro, Nelson Bertholi Junior e Juliana Pinc, que participaram do semear da Psicologia Analítica em minha prática profissional; inevitável não lembrar dos nossos grupos, dos cafés e dos bares.

A todos aqueles que estiveram envolvidos direta ou indiretamente neste estudo, meus colegas de curso: Michel, Gladys, Lyana, Fernando, Caio, Carol, Paula, Gil, Helena, que partilharam desta construção.

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A Maycon Donato, pelo auxílio na revisão ortográfica e a Iana Ferreira pelas demais correções.

Ao professor Walter Mattos, pelas ideias e pelo direcionamento na fase inicial da pesquisa.

À Denise Ramos e Jussara Janowski, por aceitarem participar das bancas de qualificação e defesa, pelas orientações que foram fundamentais para meu direcionamento na pesquisa.

À CAPES que me concedeu a bolsa tão desejada.

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RESUMO

TOLEDO, R. B. Binge drinking e consumo excessivo de bebida alcoólica em jovens universitários um enfoque junguiano. 2014. 138 f. Dissertação (Mestrado). Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014.

O presente estudo teve por finalidade investigar o binge drinking e o consumo excessivo de bebida alcoólica em um grupo de jovens universitários, a fim de compreender quais são as motivações, percepções e fantasias envolvidas na ingestão compulsiva de álcool. O binge drinking é um padrão nocivo de consumo de bebida alcoólica muito comum entre a população universitária, capaz de acarretar diferentes consequências danosas. A população foi composta por 21 estudantes universitários, 11 mulheres e 10 homens, com idades entre 20 e 30 anos, de diversos cursos de graduação na cidade de Curitiba e que tiveram pelo menos um episódio de binge drinking no último ano. Foram realizadas entrevistas e aplicados três instrumentos a cada participante (Alcohol Use Disorders Identification Test, Escala Fatorial de Ajustamento Social/Neuroticismo e a técnica projetiva de Desenho temático com história). O material coletado foi analisado qualitativamente por meio de categorias baseadas na Análise de Conteúdo segundo Bardin. Teoricamente a análise fundamentou-se nos pressupostos da Psicologia Analítica. Conclui-se que o consumo excessivo de bebida alcoólica e o binge drinking fazem parte do cotidiano da amostra estudada havendo uma banalização do abuso de bebida entre esses jovens, que não conseguem simbolizar o sofrimento psíquico e adotam atitudes regressivas e compulsivas.

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ABSTRACT

TOLEDO, R. B. Binge drinking and excessive drinking among college students – a jungian approach. 2014. 138 f. Masters Dissertation. Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014.

The present study aimed to investigate the binge drinking and excessive drinking among a group of young college students, in order to comprehend which motivations, perceptions and fantasies are involved in the compulsive alcohol drinking. The binge drinking is a harmful alcohol consumption pattern very common among the university population, able to cause various harmful consequences. Population consisted of 21 college students, 11 women and 10 men, aged between 20 and 30 years old, from several graduation courses in the city of Curitiba and who had at least one episode of binge drinking in the last year. There were conducted interviews and applied three instruments on each participants (Alcohol Use Disorders Identification Test, Social Adjustment Scale Factor / Neuroticism and projective technique of drawing with themed story). The material collected was analyzed qualitatively using Bardin’s Content Analysis. Theoretically the analysis was based on the assumptions of Analytical Psychology. It was concluded that the excessive drinking and binge drinking are part of the studied sample’s daily life indicating a trivialization of binge drinking among these young people, who are not able to symbolize their psychological suffering therefore they adopt a regressive and compulsive posture.

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LISTA DE TABELAS

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Componentes motivacionais situacionais que motivam o consumo excessivo de bebida alcoólica (binge drinking) ... 69

Quadro 02 – Componentes motivacionais intrapsíquicos que estimulam o consumo excessivo de bebida alcoólica (binge drinking) ... 73

Quadro 03 – Percepção sobre o consumo excessivo e efeitos do binge drinking... 79

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 14

2. OBJETIVOS 19

2.1 Objetivo geral 19

2.2 Objetivos específicos 19

3. REVISÃO DE LITERATURA CIENTÍFICA E DE PESQUISAS SOBRE

O TEMA 20

3.1 Álcool e juventude 21

3.2 Binge drinking e os jovens universitários 23

4. ÁLCOOL: ASPECTOS CLÍNICOS 27

4.1 Teorias sobre a etiologia das dependências 28

4.2 Classificação, mecanismo de ação e efeitos no organismo 28

4.3 Relações com o álcool: uso, abuso, dependência 30

4.4 Dados do II LENAD - Levantamento Nacional de Álcool e Drogas 33

5. A JUVENTUDE E O CONSUMO NA PERSPECTIVA PÓS-MODERNA 36

5.1 Juventude e pós-modernidade 36

5.2 Juventude, consumo e bebida 40

6. APORTES DA PSICOLOGIA ANALÍTICA 44

6.1 A clínica e o sintoma do binge drinking 46

6.2 Os símbolos e as metáforas do binge drinking e do beber excessivo 51

7. MÉTODO 55

7.1 Caracterização do estudo 55

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7.3 Local de coleta de dados 55

7.4 Instrumentos de coleta de dados 55

7.4.1 Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) 56

7.4.2 Desenho com tema 57

7.4.3 Questionário sociodemográfico e entrevista 58

7.4.4 Escala Fatorial de Neuroticismo 59

7.5 Procedimentos 60

7.5.1 Procedimento de coleta de dados 60

7.5.1.1 Critérios de inclusão 60

7.5.1.2 Critérios de exclusão 61

7.5.2 Aplicação dos instrumentos 61

7.5.3 Procedimento para análise de dados 61

7.5.4 Procedimentos éticos 63

8. RESULTADOS 64

8.1 Questionário Sociodemográfico 64

8.2 Resultados Estatísticos 65

8.2.1 Análise Estatística 65

8.2.2 Avaliação da associação entre neuroticismo e classificação

de AUDIT 65

8.3 Análise do discurso 67

8.3.1 Componentes motivacionais situacionais que motivam o consumo

excessivo (binge drinking) 68

8.3.2 Componentes motivacionais intrapsíquicos que estimulam o consumo

excessivo (binge drinking) 71

8.3.3 Percepção sobre o consumo excessivo e efeitos do binge drinking 75

8.3.4 Familiarização com a bebida 83

8.4 Análise do material projetivo gráfico e associativo 86

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10. CONSIDERAÇÕES FINAIS 99

REFERÊNCIAS 102

ANEXOS 109

ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 109

ANEXO B – AUDIT 113

ANEXO C QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO E ENTREVISTA 114

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1. INTRODUÇÃO

O uso e abuso de bebida alcoólica tem recebido grande atenção da mídia, principalmente em campanhas de conscientização sobre as consequências e riscos envolvidos no consumo excessivo. A preocupação em torno do consumo de bebida alcoólica e de outras substâncias psicoativas ilícitas é alvo de campanhas eleitorais e manchetes de jornais, além de estarem entre os principais tópicos da lista de preocupações de pais com relação aos seus filhos, devido os efeitos nocivos que o abuso de bebida alcoólica pode acarretar.

O consumo excessivo de bebida alcoólica faz parte de outros transtornos do comportamento relacionados à contemporaneidade, como os transtornos alimentares, as compulsões por jogos, sexo e compra. A única delas que possui relação direta com a epidemiologia é o consumo e abuso de bebida alcoólica.

O hábito de beber é um fenômeno frequente que acontece entre os jovens. Eles experimentam, fazem uso ocasional e, muitas vezes, não sofrem as graves consequências desse ato. Existe uma parcela que passa a consumir em padrões de risco, e alguns acabam por se tornar dependentes.

É nesse contexto, que o presente estudo visa investigar os jovens universitários que abusam da bebida alcoólica e que apesar de apresentarem um padrão de beber muito específico, chamado binge drinking, não são classificados como dependentes dessa substância.

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Existem diversos estudos internacionais sobre o binge drinking com universitários, uma vez que esta população é considerada uma das que mais apresenta tal padrão de consumo (CARLINI-COTRIM; GAZAL-CARVALHO; GOUVEIA, 2000; PEUKER et al., 2006; SOUZA; ARECO; SILVEIRA, 2005; SILVA et al., 2006; WAGNER; ANDRADE, 2008; SANCHEZ et al., 2013). Segundo autores o fácil acesso, o baixo custo e o fato de ser uma substância lícita, culturalmente aceita, corroboram para a disseminação e aceitabilidade do uso da bebida alcoólica por estudantes universitários.

De forma geral, observa-se excessiva tolerância e estímulo para uso do álcool, ao contrário da intolerância existente com qualquer outra substância psicoativa (SILVEIRA, 1994).

Segundo Silveira e Moreira (2006), o uso de substâncias químicas, lícitas ou ilícitas, é capaz de aliviar sintomas ligados à depressão (tristeza, baixa autoestima e dificuldade em sentir prazer) e ansiedade (agitação, dificuldade de se concentrar). A substância atua como um atenuador do sofrimento, capaz de tornar a vida mais fácil. De acordo com os autores citados, a dependência é o sintoma de uma condição e não propriamente uma entidade nosológica.

Estudos revelam que menos de 10% das pessoas que usam álcool ou cannabis de forma ocasional podem desenvolver alcoolismo ou dependência dessas substâncias. Essas pesquisas apontam que o uso contextualizado de uma substância configura uma situação relativamente protegida, oferecendo potencialmente pouco risco (SILVEIRA; MOREIRA, 2006). No entanto, dados recentes do II Levantamento Nacional de álcool e Drogas (LARANJEIRA, 2013) revelaram que o consumo de bebida alcoólica em binge

aumentou 31,1% na população geral desde 2006. O mesmo estudo também aponta que quase dois terços dos homens jovens bebedores problemáticos já se envolveram com brigas envolvendo agressões físicas no último ano.

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existência das civilizações e do descobrimento do processo de fermentação, assim como a aparição de suas consequências nocivas. Existem registros históricos que fazem referência ao uso habitual de álcool e, neles, diversas citações sobre seu uso problemático, exemplos disso são as passagens contidas na Bíblia em Salmos 80:9, Deuteronômio 29:5, Jeremias 23:9 e Eclesiastes 2:3 e os versos II:219, IV:43, II:219, V:90 do Alcorão sobre o consumo de bebida alcoólica.

O álcool se faz presente em nossa cultura de forma coletiva e histórica, ocupando importante lugar na sociedade e fazendo parte do imaginário social. Diversas conotações e valorações são dadas ao álcool conforme as épocas e lugares.

O presente estudo procura conhecer as diferentes atitudes que um grupo de jovens universitários adota diante do consumo de bebida alcoólica, objetivando identificar as diferentes significações que a bebida pode revelar. É necessário olhar para o consumo sob o mesmo ponto de vista daquele direcionado às outras compulsões, ou seja, como um comportamento capaz de gerar prazer ao indivíduo, fato que não exclui o sofrimento advindo dele. Por isso, muitas vezes é difícil sentir empatia por alguém que sofre e faz outros sofrerem em nome do prazer.

O objetivo desta pesquisa não é realizar um estudo sobre a patologia da dependência de substâncias químicas, e sim propor a investigação de um padrão específico de consumo que não leva necessariamente o usuário de bebida alcoólica à dependência.

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O propósito do trabalho se assenta na investigação das motivações, percepções e fantasias que um grupo de jovens universitários possui acerca do seu próprio consumo de bebida alcoólica e da realização dos seus episódios de binge drinking.

Uma forma de compreender o consumo é por meio de sua mensuração, por isso, na presente pesquisa, será classificado o consumo dos participantes por meio do Alcohol use disorderidentificationtest (AUDIT), instrumento desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde cujo propósito é investigar o uso problemático de bebida alcoólica, capaz de rastrear diferentes padrões de uso. Juntamente com o AUDIT, será administrado outro instrumento de coleta de dados chamado Escala Fatorial de Neuroticismo (EFN). Esta escala permite a avaliação de uma dimensão da personalidade denominada Neuroticismo, que diz respeito ao nível crônico de instabilidade emocional e as diferenças individuais ocorridas em situações de desconforto psíquico. A análise dos dados advindos dos instrumentos citados permitirá a compreensão da relação entre o tipo de consumo do jovem universitário e sua estabilidade emocional, já que no contexto clínico observa-se a relação entre essas duas variáveis.

Neste trabalho, neuroticismo é compreendido como o nível de ajustamento e instabilidade emocional e “representa as diferenças individuais que ocorrem quando pessoas experienciam padrões emocionais associados a um desconforto psicológico (aflição, angústia, sofrimento, etc.) e os estilos cognitivos e comportamentais decorrentes” (HUTZ; NUNES, 2001, p. 7).

Diversas pesquisas sobre o binge drinking já foram realizadas por renomados profissionais da área de psicologia, psiquiatria e neurociência, mas a maioria se dedica a estudar tal fenômeno sob o olhar epidemiológico da questão. A realização de um estudo qualitativo sobre o binge drinking em estudantes universitários abre novos caminhos para maior compreensão deste fenômeno, além de agregar novos conhecimentos no campo científico e clínico.

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dos maiores grupos voltado para pessoas com problemas de adição, o Alcóolicos Anônimos – A. A. (ADDENBROOKE, 2013; FINLAY, 2000), foi analista de um dos fundadores do grupo.

A relação entre o jovem universitário e a bebida alcoólica é permeada pela percepção que ele tem da substância. Compreender o sentido deste fenômeno para o usuário é o objetivo do presente estudo. A psicologia analítica será o pano de fundo seu desenvolvimento e os postulados teóricos de Jung e de outros analistas serão utilizados na análise e compreensão dos dados.

O trabalho se organiza em quatro capítulos teóricos, o primeiro é destinado para a apresentação de pesquisas científicas voltadas para o consumo de bebida alcoólica associado à juventude e para a conceituação do fenômeno binge drinking entre os jovens universitários. O segundo capítulo discorre sobre a dimensão clínica do alcoolismo, as diferentes categorias de uso, bem como as teorias sobre a etiologia das dependências, a classificação, os mecanismos de ação e os efeitos do álcool no organismo.

O terceiro capítulo é dedicado à população abordada na pesquisa, a saber, o jovem universitário, compreendendo-o como um indivíduo presente na cultura, que da mesma forma que é influenciado por ela, também é capaz de construí-la. Nesta seção, os conceitos de cultura pós-moderna, excesso, consumo, identidade serão explorados a fim de enriquecer a discussão sobre a relação estabelecida entre o jovem e a bebida alcoólica na esfera cultura.

Por fim, o último capítulo teórico é voltado para o aspecto psicodinâmico do consumo excessivo de bebida. Neste espaço serão tratadas as principais ideias desenvolvidas por Jung e outros analistas junguianos sobre o tema, além de apresentar os conceitos da teoria junguiana, tais como: símbolo, sintoma, função transcendente, complexos, sombra, fantasia e compensação, importantes na compreensão da psicodinâmica da dependência.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Investigar o sintoma do binge drinking e seu significado atribuído em um grupo de jovens universitários que tiveram pelo menos um episódio de binge drinking no último ano.

2.2. Objetivos específicos

• Compreender as percepções, motivações e fantasias envolvidas no binge drinking para a amostra do estudo;

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3. REVISÃO DE LITERATURA CIENTÍFICA E DE PESQUISAS SOBRE O TEMA

A produção científica acerca do binge drinking cresceu, assim como as pesquisas sobre consumo de álcool entre os jovens universitários aumentaram nos últimos anos de forma significativa, na tentativa de compreender as dimensões do consumo, suas características e o perfil da população estudada, para aprimorar os programas de prevenção e tratamentos nas instituições de ensino superior.

Os estudos encontrados nesta revisão de pesquisa trazem informações relevantes que legitimam alguns dados encontrados em pesquisas internacionais e explicitam a dedicação científica ao tema.

Para fins de revisão de literatura, foram efetuadas buscas em diferentes bases de dados digitais a fim de encontrar publicações científicas em periódicos nacionais e internacionais concernentes ao tema pesquisado. Sítios como Scielo, Pubmed, Wiley – o qual inclui as publicações feitas no The Journal of Analitycal Psychology – foram consultados.

Foram utilizados os seguintes vocábulos e cruzamentos de termos: binge drinking x young adults (adultos jovens); alchohol (álcool) x college students

(estudantes universitários); binge drinking x Brazil (Brasil). Observou-se que as investigações sobre o binge drinking e sobre o beber pesado entre os universitários recebem bastante atenção do meio científico, principalmente em seu viés epidemiológico e médico clínico, possivelmente como estratégica de investigação do tema, ainda são escassas as pesquisas que abordam tal problemática do ponto de vista da psicologia analítica.

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3.1 Álcool e juventude

Kuntsche, Rehm e Gmel (2004) apontam que o termo binge drinking é utilizado de forma ambivalente na literatura científica, e é identificado de duas formas: a primeira considera a prática de um episódio de beber que leva à intoxicação, frequentemente medido pela quantidade de doses consumidas em uma única ocasião. Já a segunda, compreende o binge drinking como um padrão de beber pesado que ocorre em um longo período de tempo, ligado as definições clínicas de abuso ou dependência. Neste trabalho será utilizada a primeira definição, que compreende a ocorrência a partir de um episódio binge.

A prática do binge drinking entre os jovens é um comportamento de risco, capaz de levar a intoxicações fisiológicas e a possível morte, bem como está associado às altas taxas de violência sexual, acidentes de trânsito, baixo desemprenho escolar, envolvimento em outros comportamentos de risco e possibilidade de desenvolver alcoolismo no futuro (SANCHEZ et al., 2013; SILVA et al., 2006, PEUKER et al., 2006).

Embora sejam conhecidos os efeitos danosos do consumo excessivo de bebida alcoólica, nota-se a falta de consenso sobre como avaliar o consumo de risco entre os universitários, pois não existe uma definição operacional sobre o padrão de beber problemático. Mesmo as medidas de quantidade e frequência do consumo, isoladas, são insuficientes para determinar o status do problema do uso de álcool na população universitária. Enquanto pessoas que apresentam um padrão de consumo frequente podem ter baixos indicadores de problemas advindos do álcool, outras que são consideradas bebedores ocasionais ou moderados podem referir altos índices de problemas associados à bebida (PEUKER et al., 2006).

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pares são capazes de influenciar o perfil do jovem universitário (WAGNER; ANDRADE, 2008).

A tentativa de descrever o perfil dos jovens que mais consomem bebida alcoólica é proposta por diversos autores: Sanchez et al. (2013); Souza, Areco e Silveira (2005) e Silva et al. (2006), que em diferentes estudos, apontaram que o caráter econômico está associado ao consumo abusivo de bebida alcoólica. Diferentemente do que ocorre em lugares como Estados Unidos e Europa, no Brasil o consumo de bebida alcoólica é prevalente entre os jovens de camadas mais altas (SANCHEZ et al. 2013).

Silva et al. (2006), em seu estudo com estudantes universitários, identificaram que os maiores índices de consumo nos últimos doze meses provinham de indivíduos com elevada renda familiar. Do mesmo modo, Carlini-Cotrim, Gazal-Carvalho e Gouveia (2000) observaram os alunos da rede de ensino de São Paulo e identificaram maior consumo significativo de bebida alcoólica e outras substâncias psicoativas entre os alunos da rede particular de ensino.

Ao procurar a prevalência do consumo e do alcoolismo entre estudantes trabalhadores e não trabalhadores da cidade de Cuiabá, Souza, Areco e Silveira (2005) verificaram a prevalência de 71,3% para consumo de álcool dentro de sua amostra total, a maior parte dela composta por jovens que eram trabalhadores. O estudo, entretanto, apontou que o consumo de álcool não está associado ao trabalho, mas sim a indivíduos do sexo masculino e com história social do álcool na família; portanto, para Souza, Areco e Silveira (2005), o consumo excessivo de bebida alcoólica está associado à idade (entre 15 e 20 anos), além do fato de não morar com os pais e possuir histórico familiar de consumo.

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3.2 Binge drinking e os jovens universitários

Na literatura científica encontram-se produções que abordam o consumo de bebida alcoólica em estudantes universitários (CARLINI-COTRIM; GAZAL-CARVALHO; GOUVEIA, 2000; PEUKER et al., 2006; SOUZA; ARECO; SILVEIRA, 2005; SILVA, et al. 2006; WAGNER; ANDRADE, 2008; SANCHEZ et al., 2013). O principal objetivo desses estudos é identificar os fatores envolvidos no fenômeno do consumo e seus desdobramentos (a dependência e os riscos). Os estudos sobre os universitários brasileiros não são representativos, mas revelam a problemática do uso de álcool nesta população.

Existe notória concordância na literatura científica acerca da dificuldade em definir o termo binge drinking. De acordo com Silveira et al. (2008), Dietz (2008), Castro et al. (2012), Nunes et al. (2012) e Weschler et al. (1995a), o binge drinking é um padrão nocivo de uso de bebida alcoólica, definido pelo consumo de cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas em uma única ocasião para homens, ou quatro ou mais doses de bebidas alcoólicas consumidas em uma única ocasião por mulheres.

Para Nunes et al. (2012), o termo binge drinking pode ser traduzido como "beber episódico pesado" que, por sua vez, é utilizado para definir o uso excessivo episódico da bebida alcoólica. O binge drinking pode ser definido de duas maneiras: o binge drinking frequente, que se refere à apresentação de três ou mais episódios binge e o

binge drinking ocasional, o qual é caracterizado pela frequência de menos de três episódios em duas semanas.

Na literatura científica a maior parte das evidências sobre padrões de consumo advém de investigações realizadas em países desenvolvidos; pouco se sabe sobre aqueles países que estão em desenvolvimento, onde a maior parte da população mundial reside.

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graduação se tornou um dos principais problemas de saúde pública nessas nações. Sanchez et al. (2013) e Silveira et al. (2008) apontam a falta de informações nas pesquisas sobre os padrões de consumo do jovem brasileiro, assim como a escassa existência de produção científica referente ao binge drinking entre jovens universitários em países considerados de economias emergentes.

O binge drinking é um comportamento que expõe o jovem a situações de risco, capazes de comprometer a saúde daquele que bebe e de quem está a sua volta. A possibilidade de passar por riscos relacionados ao uso do álcool é muito maior para a pessoa que consome sete doses de bebida em uma única ocasião do que para outra que consome uma dose por dia da semana. Dentre as consequências do binge drinking

são encontrados danos à saúde física, sexo desprotegido, gravidez indesejada, infarto agudo do miocárdio, overdose alcoólica, quedas, comportamentos violentos (brigas, violência doméstica e homicídios), acidentes de trânsito, comportamento antissocial, baixo desempenho escolar e possibilidade de desenvolver quadro de dependência no futuro (SILVERIA et al. 2008; WESCHLER; NELSON, 2001; DIETZ, 2008; CASTRO et al., 2012; NUNES et al., 2012; SANCHEZ et al., 2013; GUIMARÃES et al., 2010).

O desenvolvimento do binge drinking está associado à influência que o ambiente cultural é capaz de suscitar no jovem universitário; ou seja, existe nas instituições universitárias o que alguns autores chamam de prevalência da cultura do álcool. Ela se apresenta de diferentes formas nas universidades e nos meios acadêmicos, mas a mensagem que emana do consumo é a mesma: beber é normal e faz parte da "experiência" universitária, ou seja, nas festas, confraternizações, "trotes", irmandades, centros acadêmicos e outros.

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refletem o status social e cultural que o consumo adquire principalmente ao ser considerado como recreacional.

Dietz (2008) descreve em seu estudo os preditores envolvidos no binge drinking,

intimamente ligado aos mitos e crenças existentes a respeito do consumo abusivo de bebida alcoólica. Tais mitos levam à normatização e aceitação do binge drinking, ao mesmo tempo em que é associado a experiências positivas. Um dos mitos apontados pelo autor diz respeito à lógica "trabalho pesado - festa pesada" na qual o esforço acadêmico deve ser compensado pelo uso de bebida ou pela crença de que o jovem pode consumir o quanto quiser, sem ter seu desempenho acadêmico afetado pelo excesso de bebida.

Embora a população acadêmica, possivelmente, conheça os efeitos danosos do uso abusivo de álcool, a busca de substância está intimamente ligada também ao alívio de situações estressantes e causadoras de ansiedade; e nesses momentos a bebida passa a ser associada à sensação de refúgio ocasional (NUNES et al., 2012; KUNTSCHE; REHM; GMEL, 2004). As expectativas positivas sobre o uso de bebida alcoólica e a falta de percepção dos riscos envolvidos são consideradas importantes preditores para o desenvolvimento do comportamento binge drinking.

No estudo considerado como o primeiro levantamento sobre o binge drinking no Brasil foi encontrado o perfil daqueles indivíduos engajados nesta prática de consumo. Castro et al. (2012) apontaram que os adultos apresentam mais probabilidade de sofrer os efeitos adversos do binge drinking, ao contrário de outras pesquisas realizadas em países como os Estados Unidos. Indivíduos entre 18 e 44 anos de idade podem apresentar até quatro vezes mais o padrão binge drinking do que aqueles com idade inferior aos 18 anos. Segundo o estudo, pessoas mais velhas consomem mais devido às leis de consumo brasileiras que proíbem a comercialização de bebidas alcoólicas para indivíduos com idade inferior a 18 anos. A pesquisa também aponta que o poder de compra dos jovens adultos e adultos pode contribuir para tais resultados.

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2004; ALMEIDA-FILHO; LESSA; MAGALHÃES, 2004; WESCHLER et al., 1995b; BARRO et al., 2007; GUIMARÃES et al., 2010); ao fato de já ser consumidor antes de ingressar na faculdade como acadêmico (WESCHLER et al., 1995a); ser solteiro (CASTRO et al., 2012; WESCHLER et al., 1995b); não referir vínculo religioso (NUNES et al., 2012) e fazer parte da camada da sociedade pertencente a níveis econômicos mais altos (ALMEIDA-FILHO; LESSA; MAGALHÃES, 2004; SANCHEZ et al., 2013; GUIMARÃES et al., 2010); além de ser frequentemente associado ao consumo de outras espécies de substâncias psicoativas (GUIMARÃES, et al., 2010; KUNTSCHE; REHM; GMEL, 2004). Outras pesquisas assinalam a prevalência do binge drinking em indivíduos pertencentes a camadas sociais menos favorecidas (BARRO et al., 2007). Guimarães et al. (2010) apontam que enquanto o consumo abusivo de bebida alcoólica é realizado prevalentemente por indivíduos do sexo masculino com incremento da escolaridade, por outro lado, a dependência do álcool está associada a menor escolaridade e não exercer atividade de trabalho.

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4. ÁLCOOL: ASPECTOS CLÍNICOS

O uso de substâncias psicoativas se constitui um fenômeno presente na vida de diversos jovens. Grande parte desta população experimenta tais substâncias, e uma parte começa a fazer uso ocasional. Desse grupo, uma parcela menor de usuários ocasionais evolui para padrões de uso considerados de risco e alguns podem tonar-se dependentes (SILVEIRA; MOREIRA, 2006).

Ao invés de ser considerada uma entidade nosológica distinta e autônoma, a dependência química pode ser compreendida como uma manifestação do comportamento que "constituiria um sintoma de desarranjo psíquico, frequentemente relacionado a outras patologias, como depressão, ansiedade, transtornos neuropsicológicos e transtornos de personalidade" (SILVEIRA; MOREIRA, 2006, p. 5).

O dependente químico encontra-se em situação de sofrimento insuportável, é incapaz de evitar ou resolver tal cenário, a saída para ele alterar a percepção real de tal situação é através da droga. A depressão, por exemplo, é o transtorno psíquico mais comumente associado às dependências químicas e pode ser manifestada de diferentes formas e graus. Na população jovem é difícil de ser diagnosticada devido à apresentação de sintomas inespecíficos. Muitos adolescentes não se reconhecem doentes, mas são portadores de um sofrimento imenso, como tristeza, baixa autoestima e incapacidade de sentir prazer, que podem ser atenuados pelo efeito de uso de substâncias psicoativas. Desse modo, a droga atua como um remédio, e a dependência como uma espécie de automedicação (SILVEIRA; MOREIRA, 2006).

O uso de substância pode ser atenuador do sofrimento mesmo em casos nos quais não haja transtorno psíquico diagnosticável, ilustrados por contextos de vida patogênicos e estressantes, como os casos de famílias disfuncionais e situações sociais desfavoráveis.

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quais o uso de determinada substância é tolerado, os usuários tendem a ser socialmente adaptados (SILVEIRA; JULIÃO; NIEL, 2006). Em contrapartida, nas sociedades mais repressoras, o uso de determinadas substâncias é marcado por um estigma de marginalização (exclusão social, patologização).

4.1 Teorias sobre a etiologia das dependências

De acordo com West (2001), a adição é um transtorno motivacional capaz de provocar prejuízos na saúde, na psique e no convívio social. O autor aponta a existência de 136 teorias que possui como objeto de estudo a dependência, que são agrupadas em cinco grupos que focam os conceitos gerais da dependência, a saber: os efeitos do estímulo indutor da dependência, a susceptibilidade individual, os fatores ambientais, a recaída e recuperação (FORMIGONI; QUADROS, 2006).

As diversidades de teorias que se propõem a explicar a dependência química revelam as diferentes dimensões deste fenômeno, como as possíveis lacunas no conhecimento sobre o assunto e a inexistência de uma única teoria capaz de compreender a dependência de forma integral. A teoria do reforço e as vias de recompensa do cérebro postulam que a possibilidade da droga levar um indivíduo à dependência está relacionada aos seus efeitos reforçadores e estimulantes no cérebro. O álcool, de acordo com tal teoria, possui efeito ansiolítico agudo e atua como um reforçador negativo (WEST, 2001).

4.2 Classificação, mecanismo de ação e efeitos no organismo

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remédio e veneno (DIAS; PINTO, 2006), o que refletia a ambivalência que girava em torno de tais substâncias.

Atualmente, a definição em vigor é a divulgada pela Organização Mundial da Saúde (1993) que define droga como "qualquer substância natural ou sintética que administrada por qualquer via no organismo afete sua estrutura ou função". As substâncias psicoativas são aquelas capazes de alterar as sensações, o humor, a consciência e as demais funções psicológicas e comportamentais.

As substâncias psicoativas, por sua vez, são classificadas de diferentes formas. Existem seis critérios básicos de classificação: fonte da substância; uso terapêutico; local de atuação; estrutura química; mecanismo de ação e denominação popular. Outro ponto de classificação bastante relevante diz respeito aos aspectos legais, ou seja, à licitude da substância. De acordo com tais classificações, podem ser identificados diversos tipos de substâncias psicoativas, entre as quais o álcool, que é abordado neste trabalho.

Para compreender o mecanismo de ação de uma substância é importante salientar que a concentração da substância no local de atuação depende das características da substância utilizada, de suas propriedades e características químicas, da via de administração, de sua distribuição, do metabolismo no corpo do usuário, do local de atuação e da eliminação (DIAS; PINTO, 2006).

Da mesma forma que a substância é capaz de provocar alterações no funcionamento do corpo, este gera alterações na substância - por meio dos processos de absorção, metabolismo e eliminação.

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Após ser absorvida pela corrente sanguínea, a substância é distribuída por todo o corpo. No que diz respeito à distribuição, o álcool difere das outras drogas, pois ele tem distribuição uniforme, ao contrário das outras que se concentram de forma diferente nos diversos tecidos do corpo (DIAS; PINTO, 2006).

Segundo seu mecanismo de ação, a bebida alcoólica é considerada uma droga

depressora do Sistema Nervoso Central, pois causa diminuição da atividade cerebral e das funções orgânicas. O álcool é composto por etanol, uma molécula pequena capaz de atravessar as membranas com facilidade e é absorvida rapidamente no estômago, no intestino delgado e no cólon. Ao ser vaporizado é absorvido pelos pulmões e pode resultar em intoxicação fatal.

O consumo de bebida alcoólica promove diversos efeitos no Sistema Nervoso Central, que vão desde relaxamento e sedação leve até anestesia, coma e óbito, além de somar os efeitos secundários, como acidentes de trânsito, violência doméstica e sexual, queda de desempenho no trabalho ou na escola, sexo desprotegido, comportamento antissocial dentre outros (CASTRO et al., 2012; DIETZ, 2008; NUNES et al., 2012; SILVEIRA et al., 2008; WESCHLER; NELSON, 2001; SANCHEZ et al., 2013; SILVA et al., 2006, PEUKER et al., 2006).

4.3 Relações com o álcool: uso, abuso, dependência

O alcoolismo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (1993), está entre os dez maiores problemas de saúde pública do mundo e, no Brasil, o álcool é a substância psicoativa mais utilizada.

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O álcool é uma substância lícita, culturalmente aceita, cujo consumo é constantemente estimulado e reforçado pela mídia e pelos hábitos culturais, muitas vezes o consumo excessivo e danoso é inclusive estimulado. Possui baixo preço e livre acesso, a fiscalização de seu consumo e distribuição é deficiente, mesmo havendo restrições legais de comercialização do produto. O uso crônico de álcool pode levar a severos comprometimentos clínicos e o uso habitual está envolvido na alta prevalência de acidentes de trânsito, violência doméstica e urbana (NIEL; JULIÃO, 2006).

Em decorrência do uso abusivo de álcool e das consequências geradas por ele, como internações hospitalares, foram gastos mais de 300 milhões de reais no período entre 1995 e 1997. Estima-se que cerca de 774.000 pessoas, a nível mundial, tiveram sua morte relacionada ao álcool (BURNING et al., 2004). A utilização do álcool de forma abusiva pode levar a disfunções neuropsicológicas persistentes, que se mostram em grande proporção reversíveis com a parada do uso da substância (SILVEIRA; JULIÃO; NIEL, 2006).

Para entender as consequências geradas pela bebida alcoólica é necessário indicar os diferentes aspectos do consumo delas, ou seja, as diferentes relações estabelecidas entre o usuário/consumidor e a substância. Nota-se a necessidade, principalmente no campo clínico, em saber como diagnosticar a dependência, assim como diferenciar outros padrões de consumo (uso, abuso ou dependência) e os problemas promovidos por cada um deles.

Parte-se do princípio de que nem todo consumo de substância é prejudicial para o organismo, posto que diversas pesquisas indiquem que o uso diário de baixa quantidade de vinho tinto seco traz benefícios para o sistema cardiovascular, por exemplo (NIEL; JULIÃO, 2006). Além disso, tem que ser levado em consideração que o uso de bebida alcoólica ocupa importante lugar na cultura ocidental, como também nas festas e celebrações de diversos contextos sociais.

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esfera familiar e social, que podem atuar como fator de proteção contra a dependência química.

Em contrapartida do uso, encontra-se o abuso de bebida alcoólica, que é tomado como um padrão de uso problemático (GUIMARÃES et al., 2010; LARANJEIRA et al., 2013; PEUKER et al., 2006). Esta não estabelece ligação com a quantidade e a frequência apenas de uso, mas também levam em consideração as consequências danosas advindas do consumo (NIEL; JULIÃO, 2006). De acordo com o DSM-IV, o abuso de substância se caracteriza como um padrão prejudicial de uso, capaz de afetar diversas áreas na vida do usuário, como por exemplo: presença de problemas legais, agravo à saúde, dificuldade em honrar compromissos e persistência no uso, problemas na esfera pessoal e social.

O binge drinking, consumo de quatro doses de bebida alcoólica para mulheres e cinco doses para homens, em um período de três horas, está incluído dentro da categoria de abuso de substância. As consequências do binge drinking são tão devastadoras e prejudiciais quanto da dependência.

É possível considerar que a dependência é o agravamento do uso abusivo de substância, mas este quadro possui delimitações mais específicas do que o abuso, e vale salientar que nem toda pessoa que faz uso ou abuso de substância pode ser considerado um dependente químico.

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Para a identificação e avaliação dos quadros de dependência, são utilizados diferentes instrumentos e escalas que possibilitam a padronização da coleta de dados para pesquisa e para identificação clínica (psicodiagnóstico). Existem diferentes instrumentos com aplicações distintas que podem ser divididos entre: instrumentos para triagem, instrumentos para diagnóstico e instrumentos para avaliação de consumo

(NIEL; JULIÃO, 2006).

 Instrumentos de triagem (screeningtests): identificam pessoas dentro da população geral que possuem problema com o álcool, os mais comuns utilizados para o rastreamento de álcool são a AUDIT (Alcohol Use Identification Test), a CAGE, a MAST (Michigan AlcoholismScrenning Test) entre outros.

 Instrumentos para diagnóstico: são formulados com base nos principais sistemas internacionais de classificação (DSM-IV, CID-10), os mais utilizados são a ADS (Alcohol Dependence Scale); a CIDI (Composite International Diagnostic Interview); a DrInC (The Drinker Iventory of Consequences); SADD (Short Alcohol Dependence Data); SADQ (Severity of Alcohol Dependence Questionnare); entre outras.

 Instrumentos para avaliação do consumo: avaliam a intensidade, a frequência e a quantidade do consumo, como por exemplo, a QFV (Quantity-Frequency Variability Index), a NIAAA-QF (National Institute Of Alcohol Abuse And Alcoholism Quantity-Frequency) e a LDH (Lifetime Drinking History).

4.4 Dados do II LENAD - Levantamento Nacional de Álcool e Drogas

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LENAD. Esta pesquisa é a mais atualizada no que diz respeito ao levantamento de comportamentos com relação ao uso de substâncias psicotrópicas no país. No estudo foi estimado que, no Brasil, 50% da população são abstêmia, 32% apresentam comportamento de beber moderado e 16% de beber nocivo (consumo de seis doses ou mais por ocasião).

Observou-se que o hábito de beber regularmente (uma vez por semana ou mais) aumentou cerca de 20% na população geral adulta, nos homens o aumento foi de 14,2% e nas mulheres de 34,5%. O beber em binge (ingestão de 4/5 doses em duas ou três horas) aumentou significativamente de 45% para 59% de bebedores, o aumento maior foi constatado no sexo feminino de 36% para 49%.

Na região Sul, houve aumento de 28% no consumo de bebida alcoólica da população geral adulta; aumento de 22% na população masculina e de 52% na população feminina da amostra. O beber em binge (uma ou mais vezes por semana) permaneceu o mesmo desde 2006 na população geral (50%), mas houve queda de 12% deste padrão de beber na população masculina e aumento de 25% na população feminina.

Os resultados preliminares do II LENAD (LARANJEIRA et al., 2013) revelaram que o número de pessoas que bebem não aumentou no país, mas aqueles que bebiam passaram a beber ainda mais e de modo mais frequente. Mulheres jovens se tornaram a população que está em maior risco, pois passaram a beber mais e de forma nociva, apresentando aumento entre 2006 e 2012. Cerca de dois terços dos homens jovens bebedores problemáticos já se envolveram com agressão física no último ano.

O estudo também indicou a forte associação entre depressão e abuso de álcool, relatando que de duas em cada dez tentativas de suicídio está relacionada com uso de álcool.

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revelariam que o uso de álcool já prejudicou o seu trabalho; 4,9% (4,6 milhões) das pessoas que bebem já perderam o emprego devido ao consumo de álcool; 9% (12,4 milhões de pessoas) admitiriam que o uso de álcool já provocou efeito prejudicial na sua família ou relacionamento.

Os resultados preliminares do II LENAD revelam a dimensão da problemática presente em torno do abuso de bebida alcoólica, tal estudo é relevante por expor os aspectos e consequências que o alcoolismo gera na população brasileira.

A dependência é um fenômeno complexo, que acompanha a humanidade há muitos séculos, é incapaz de ser explicado por apenas uma vertente teórica e a recuperação ainda representa um desafio para as diferentes áreas do conhecimento. Encarar o uso, o abuso e a dependência do álcool como um fenômeno cultural e social contemporâneo significa olhar para tais relações além da perspectiva médico clínica.

Compreender que o alcoolismo, o abuso e o uso de substâncias são diferentes é o primeiro passo para ampliar a compreensão da relação que é estabelecida entre o usuário e a substância. Mesmo sendo padrões de uso diferentes, eles possuem em comum a ingestão da bebida alcoólica, a embriaguez e todos os outros aspectos e consequências nocivas envolvidos no consumo de álcool. Não existe a necessidade que uma pessoa desenvolva o quadro de dependência química para que seja prejudicada pelas consequências danosas do abuso de bebida.

Deste modo, investigar o binge drinking, um padrão específico de beber dentro diversos outros, é necessário e importante no campo científico para que exista a possibilidade de prevenir e proteger os indivíduos do agravamento e cronificação do quadro clínico.

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5. A JUVENTUDE E O CONSUMO NA PERSPECTIVA PÓS-MODERNA

Em linhas gerais, o quadro de dependência corresponde ao estabelecimento disfuncional entre o indivíduo e um produto, seja este a comida, a estética, um comportamento (como ato de comprar), o cônjuge, o trabalho, o exercício físico, entre outros.

Ao se pensar como é estabelecida tal ligação, é importante olhar para o fenômeno das dependências sob a perspectiva da sociedade em que ela ocorre para poder contextualizar qual é função social do consumo excessivo de bebida alcoólica para o jovem dos dias de hoje.

A proposta do presente capítulo é a de discorrer sobre a juventude e a cultura contemporânea em uma tentativa de delimitar o personagem que será estudado na pesquisa, a saber, o jovem contemporâneo.

5.1 Juventude e pós-modernidade

Delimitar o significado de juventude não é tarefa fácil, de acordo com Kehl (2004), ela corresponde a um estado de espírito; a uma maneira de se corporificar; a um sinal de saúde; a um perfil do consumidor; a uma fatia de mercado da qual todos querem fazer parte. Na atualidade, a juventude possui o sentido de moratória, que é o período dilatado para aqueles que deixaram de ser crianças, mas que não se enquadram nos moldes da vida adulta.

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Juventude, segundo a Unesco (2004), é o período da vida que pode se estender dos 15 aos 29 anos de idade, mas há outros autores que afirmam ser impossível colocar um número sobre a juventude. Abramovay e Esteves (2007) consideram impossível conceber a juventude como uma parcela homogênea da sociedade, são muitos e diversos os grupos juvenis, estes formam um complexo heterogêneo, com oportunidades, facilidades e dificuldades diferentes em contextos diversos. A fim de sanar o problema, os autores propõem o conceito de juventudes ao discutir o tema, com a finalidade de revelar as diferenças presentes em tal grupo social.

Segundo os autores Abramovay e Esteves (2007), não existe uma cultura juvenil unitária, senão culturas juvenis, com pontos convergentes e divergentes, com pensamentos e ações semelhantes, mas que são, geralmente, bastante contraditórias entre si. Apesar das diferenças, os jovens são unidos pela procura do novo; pela busca de respostas para situações e contextos desconhecidos; pelo jogo com o sonho e a esperança; pelas incertezas diante dos desafios, dentre outros.

Se de um lado alguns reconhecem que a juventude não pode ser definida por fronteiras claras e rígidas (KEHL, 2004; ABRAMOVAY; ESTEVES, 2007; OLIVEIRA, 2007), de outro ainda existe a tentativa de estruturar a juventude. Levinson (1978), ao discorrer sobre as etapas da vida de um homem, divide a juventude (fase do noviço) em três períodos: transição adulta; entrada no mundo adulto e transição dos trinta anos. O autor considera que a entrada no mundo adulto é um processo longo e complexo, tem início aos 17 anos de idade e pode continuar até os 33 anos, o jovem adulto leva cerca de 15 anos para emergir da adolescência.

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A fase do noviço, assim chamado por Levinson (1978), começa com o período chamado transição para idade adulta, que ocorre entre os 17 e 22 anos. Esta etapa é uma ponte entre a adolescência e o início da idade adulta, nela estão presentes duas tarefas importantes: acabar com a estrutura de vida adolescente e iniciar a vida de adulto jovem. A primeira tarefa envolve o processo de finalização, enquanto a segunda é um processo de iniciação.

De forma geral, na transição para a idade adulta, o adulto jovem deve se tornar internamente mais diferenciado de seus pais e externamente mais autossuficiente. Levinson (1978) salienta que o processo de separação deve ir além das figuras parentais e se estender para seus relacionamentos com pessoas e grupos importantes. Todo término implica um sentimento de perda.

A segunda tarefa é a iniciação como adulto jovem que significa a construção da base daquilo que será a vida adulta; o jovem neste momento necessita obter treinamento e aprender mais sobre si mesmo e o mundo, articulando suas fantasias e sonhos com as delimitações da vida de adulto. É o período de entrada na faculdade, da ampliação do círculo social e do comprometimento com novas responsabilidades.

A segunda fase, entrada no mundo adulto, é um período mais estável no qual uma nova estrutura de vida começa a ser construída, inicia aos 22 anos e dura até os 28 ou 29 anos de idade. O posicionamento frente sua vida e sua família muda, ele deve deixar de ser a criança na família de origem para adotar a posição de noviço. É necessário que avalie e explore suas possibilidades para que possa expandir sua personalidade e assim construir terreno para sua vida como adulto.

O autor considera um período no qual é elaborada uma estrutura de vida de caráter provisório. Tal estrutura possui diferentes facetas: padrões de relacionamento com o sexo oposto; ambiente profissional que determina a formação da carreira; a aquisição de uma casa; a forma que irá se inserir na comunidade; o estabelecimento da relação com seus pais; envolvimento com religião, política, etc.

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assim são impulsionados para a próxima etapa de suas vidas pelas cobranças que a própria vida realiza.

A transição dos trinta anos é a última fase para a entrada na vida adulta, ela inicia, tipicamente, aos 28 anos e acaba aos 33 anos de idade, é um período que oportuniza a correção das falhas na estrutura de vida formada ao longo dos períodos prévios. Deste modo, a transição para os trinta anos pode ser um presente ou um fardo.

Nota-se que nas considerações do autor sobre a passagem do tempo e da construção da identidade adulta, os períodos são bem definidos, mas ele deixa claro o quanto eles podem variar de um indivíduo para outro. Da mesma forma, questiona-se se tal visão pode ser tomada ao analisar os jovens do século XXI, muitos ainda nos seus 25 ou 26 anos estão ingressando na faculdade, muitos homens de 40 anos ainda residem na mesma casa que seus pais.

A juventude caracterizada principalmente pelo distanciamento e pela diferenciação do jovem com seus pais (JUNG, 1907/2011), o adolescente tenta o distanciamento seus pais, mas permanece ligado a eles pelas imagens internas que tem de tais figuras. O afastamento é capaz de promover a diferenciação para o desenvolvimento de sua personalidade individual.

Para Jung (1907/2011), a juventude ocorre na primeira metade da vida, é uma etapa de separação e diferenciação que leva ao desenvolvimento da maturidade. A ampliação desta etapa revela o adiamento da maturidade, assim como a influência dos valores presentes na sociedade contemporânea, deste modo, cabe o questionamento de como se desenvolverá o processo de individuação desses jovens e a formação dos complexos provenientes da cultura na qual estão inseridos.

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(1930/2011) considera que tal período pertence à primeira metade da vida que, por sua vez, é destinada à expansão e à adaptação do indivíduo ao meio externo.

Frankel (1998) explora a pertinência do conceito junguiano de individuação no entendimento dos importantes aspectos das transformações que acontecem na adolescência. De acordo com o autor, este é o momento de expressão daquilo que outrora era suprimido, no qual ocorre a diferenciação do jovem com seus pais e a psique é transformada por meio de tal diferenciação. A adolescência tem um sentido teleológico para a psique, ou seja, o que surge na adolescência diz respeito ao desenvolvimento psíquico individual no futuro.

5.2 Juventude, consumo e bebida

A vida do homem pós-moderno é guiada pela construção de seu projeto de vida, que caminha concomitantemente com a elaboração de sua identidade. Baumam (2004) aponta para a liquidez presente nas relações sociais atuais e para a influência do consumismo na construção da identidade, um dos prováveis motivos é que, nos dias atuais, o consumo é a medida de uma vida bem-sucedida (BAUMAN, 1998).

A fluidez da vida contemporânea é marcada pela descartabilidade, pela rapidez, pela descartabilidade, pela cobrança de constante superação, pela superficialidade dos laços afetivos formatados em uma série de encontros descontínuos. De tal fluidez surgem os medos e arrependimentos do indivíduo contemporâneo que dizem respeito ao não aproveitamento das coisas; ele é cobrado para ser produtivo, bem sucedido, belo, famoso e saudável.

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juventude, pois seus aspectos, muitas vezes, são contraditórios entre si. O estudo sobre a juventude é contaminado pelos conceitos de crises e excessos, conflitos e explosões. A construção social da juventude é atravessada por significados negativos e muitas vezes é considerada criadora de problemas.

Paradoxalmente, ser jovem se tornou slogan no século XXI, é imperativo, categórico. O adolescente das últimas décadas, de acordo com Kehl (2004), abandonou a imagem de criança crescida e desajeitada, e passou a ser o ideal de uma cultura, modelo de beleza, sensualidade e liberdade para todas as faixas etárias.

Kehl (2004) indica a contradição encontrada no estudo da juventude contemporânea, ao mesmo tempo em que é observada a dinamicidade da juventude, esta é imbuída pelo caráter depressivo. Jovens com quadros de depressão e crises fóbicas comumente estão presentes nos consultórios de psiquiatras e psicólogos. Para Kehl (2004), tal sofrimento é uma tentativa de tornar a angústia de amadurecer em sintoma medicável. O pânico, nesta perspectiva, pode ser traduzido como a dificuldade em entrar no mundo dos adultos que, por sua vez querem permanecer jovens, deixando o jovem sem nenhum modelo identificatório que lhe dê ferramentas de enfrentamento.

Abramovay e Esteves (2007) avaliam que as principais características da situação juvenil são a identidade visual, a moda e a cultura. Apesar de a moda ser efêmera, ela oferece a função simbólica de identificar, distinguir e prestigiar – a moda leva à inclusão, ao sentimento de pertença, reconhecimento e legitimidade, à afirmação da identidade social.

Cabe ao jovem o poder e a possibilidade da experimentação para a construção da sua individualidade e a ampliação das suas potencialidades. O sentimento de autorrealização agrega-se à noção de felicidade, e a meta de muitos jovens é de serem o mais felizes que puderem. A busca pela felicidade, ao fugir à métrica, se torna patológica (WAHBA, 1994) e pode conduzir o indivíduo ao risco para si e para os outros.

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suas conquistas, passando a atuar de maneira defensiva, adotando comportamentos que afastam o seu sofrimento, no intuito de proteger seu senso de identidade e o sentimento de pertença.

O ingresso no mundo acadêmico é um marco na vida de muitas pessoas, por ser um período da construção da vida profissional e consequentemente da identidade. Pensar no jovem universitário é deparar-se com uma parcela da juventude que adota certos costumes, comportamentos e valores. O consumo excessivo de bebida faz parte do leque de comportamentos associados a tal grupo.

O consumo excessivo de bebida alcoólica entre jovens ocorre há muito tempo, ainda mais ao considerar que no Ocidente, o álcool remete à sociabilidade, mesmo em que quantidades excessivas. O status social do álcool é diferente de o de outras substâncias, “existe um aculturação ancestral do produto, assim como de suas formas de consumo” (SILVEIRA, 1994, p. 30). Ao pensar no jovem universitário contemporâneo, frequentemente, a embriaguez representa um modelo de conduta. É fato que o jovem pós-moderno consome bebida alcoólica em grandes quantidades e que o consumo excessivo e a falta de limites apontam para um comportamento generalizado e indiferenciado que coloca o jovem em situações de risco e limítrofes.

A cadeia estabelecida entre o jovem e a bebida alcoólica frequentemente segue o caminho da experimentação, do uso esporádico, do uso habitual, que pode a vir a se tornar uso abusivo. O álcool é a substância que mais influencia a trajetória das dependências químicas ilícitas, pode ser considerado fator de risco familiar, porta de entrada das toxicomanias e produto de associação de outras substâncias psicoativas (SILVEIRA, 1994).

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estabelecidos de passagem da infância para a vida adulta, e desta para a velhice, hoje os jovens modernos se encontram no consumo abusivo um meio de serem incluídos e iniciados a diferentes grupos.

Kehl (2004) como Zoja (1992) aponta a falta de ritos de passagem e a substituição de um rito apropriado para um rito de consumo. A falta de ritos dificulta a passagem de uma fase da vida para a próxima, para a autora, os objetos de consumo e os espaços frequentados pelos jovens adquirem o caráter ritualístico, demarcando a fase da vida na qual ele está. O consumo de substâncias psicoativas leves atua como articuladores da entrada de novos membros aos grupos, demarcando a linha entre os abstêmios e os consumidores, os que estão dentro e os que estão fora do grupo.

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6. APORTES DA PSICOLOGIA ANALÍTICA

Jung não procurou compreender a psicodinâmica da dependência química afundo e, ao longo de sua obra foram encontrados 26 trechos referentes ao tema, principalmente concentrados em sua fase inicial de prática profissional (entre 1904 e 1906). O alcoolismo era retratado como uma doença degenerativa e um mal incurável. Os escassos escritos de Jung acerca da temática da dependência química sugerem que ele reconhecia que o consumo de substâncias psicoativas era capaz de interferir na dinâmica e na conexão entre o ego e o Self (RIBEIRO, 2012).

Apesar de nunca ter se focado nos estudos da dependência química, o autor possui considerações bastante interessantes sobre tema. A experiência mais relevante sobre esta temática é encontrada na correspondência entre Jung e Wilson, nela nota-se que, para Jung, o alcoolismo era uma problemática de ordem espiritual.

Em 23 de Janeiro de 1961, William Wilson, um dos membros fundadores do Alcoólicos Anônimos (A. A.), escreveu uma carta para Jung sobre Roland H., co-fundador do A. A. Na carta Wilson fala sobre a influência que Jung teve na vida de Roland que fora seu paciente. Roland havia buscado Jung para o tratamento de alcoolismo, ele havia parado de beber durante sua análise, mas teve diversas recaídas após ela. Jung havia afirmado que Roland não se curaria se não houvesse uma conversão religiosa em sua vida, pois a psicologia e a psiquiatria não poderia fazer nada por ele. Na carta, Wilson afirma a necessidade de existir o colapso profundo do ego, para que afim emerja algo no lugar da adição.

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homem estabelecer contato com os processos espirituais, inerentes a todo ser humano, na dependência química é travado um conflito, o autor utiliza o aforismo “spiritus contra spiritum” (WILSON; JUNG, 1994).

O uso de substâncias e a dependência química de acordo com a Psicologia Analítica diagnostica a sintomatologia e o poder desestruturante que a droga tem sobre a psique e, ao mesmo tempo, aponta simbolicamente para sua função ritualística. (PALOMO, 2009).

O álcool é a substância psicoativa mais consumida nos dias de hoje, mas existem registros do consumo de bebidas alcoólicas na Bíblia, como na passagem em que Noé, após o dilúvio, produz vinho e se embriaga.

Os egípcios já conheciam o processo de fermentação das frutas desde 3000 anos a. C., assim como Hipócrates (406 a. C.) já descrevia a loucura induzida pelo seu consumo e os problemas decorrentes do seu uso pelos epilépticos. São também notórios os relatos de seu consumo nas festas dionisíacas, na Grécia Antiga. O ópio era utilizado pelos chineses há pelo menos 3000 anos a.C., extraído da papoula, com funções analgésicas e tranquilizantes (PALOMO, 2009).

Segundo Ribeiro (2012), não foram encontrados registros em nenhuma civilização antiga que apontassem para um caráter de doença ao consumo de qualquer tipo de substância psicoativa, entretanto há relatos de excessos, especialmente ligados ao consumo de álcool, um dos mais antigos registros apareceu em textos egípcios por volta de 2000 a.C.

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O presente capítulo destina-se à compreensão do binge drinking e do uso abusivo de bebida alcoólica à luz dos postulados da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung e de autores pós-junguianos que investigaram o fenômeno das dependências químicas.

6.1 A clínica e o sintoma do binge drinking

Segundo Zoja (1992), a dependência química (ou toxicomania) é o aspecto mais doentio do consumismo moderno, ela reflete a característica do ciclo maníaco-depressivo da estrutura psíquica. Para o autor, o consumismo contemporâneo é capaz de promover a regressão da personalidade, é um pseudo-ritual que não promove a satisfação da necessidade, mas seu prolongamento, tornando os indivíduos contemporâneos ansiosos e impacientes, a dependência seria uma faceta de tal problemática.

O consumo excessivo obedece a uma vontade maior do que a do próprio sujeito, pois não basta consumir; é necessário consumir tudo, não basta beber, é preciso beber de forma exagerada e desmedida. O consumo excessivo, tão comum nas festas universitárias, nos bares e baladas, deve ser encarado sob a ótica do modelo consumista, pois o modelo iniciáticos no qual o uso de substância possui o propósito ritualístico (tão comuns em seitas e rituais de sociedades primitivas) é insuficiente para abarcar tal fenômeno nos dias atuais, o ritual hoje dá lugar a obsessão e a compulsão, a função arquetípica é vista de forma estereotipada (ZOJA, 1992).

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ocorria nos rituais, e passa a ser instrumento de alienação: de si e do mundo (OLIVEIRA, 2005). Atualmente, o uso de substâncias psicoativas segue a necessidade de enfrentamento da própria condição de vida habitual e cotidiana (ZOJA, 1992), pode-se inferir que o consumo abusivo realizado pelos jovens pode-seria a tentativa de enfrentar seus dilemas e obstáculos.

Oliveira (2005) aponta que na dependência química a substância é utilizada de forma alienada, os indivíduos não conseguem se enxergar e encarar o mundo sem o consumo contínuo, a autora concorda com Zoja (1992) ao afirmar que o indivíduo passa a adotar férias químicas de si mesmo.

Segundo Zoja (1992), a necessidade de transcender a experiência interna é mais forte em indivíduos quem sofrem uma condição insignificante, sem identidade e papel preciosos, ou seja, que se encontram em um estado de indiferenciação e preso na massificação. A iniciação às drogas é um processo arquetípico, por trás de todo consumo de substância existe a presença de uma instância arquetípica personificada no herói negativo. Deste modo, o sacrifício do herói negativo é des-ritualizado, se dá sobre a esfera negativa, pautado no sentimento de inadequação e insegurança frente às dificuldades que a vida impõe.

Ribeiro (2012) aponta que uso de substância está ligado ao rebaixamento psíquico, podendo causar prazer e aliviar a dor psíquica. O prazer obtido a partir do consumo de bebida alcoólica exerce importante função na psique. Do ponto de vista psicológico é possível diferenciar 5 grupos de fatores instintivos que agem na consciência: a fome, a sexualidade, a atividade, a reflexão e a criatividade (JUNG, 1936/2011). A atividade, também chamada de impulso a ação diz respeito ao desassossego, à procura de mudança e à busca de prazer e diversão. Neste sentido, possivelmente a bebida ocupa tal espaço e função na vida de muitos jovens.

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