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Acidentes de trabalho em meio hospitalar e sua relação com riscos profissionais

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Academic year: 2021

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Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

ACIDENTES DE TRABALHO EM MEIO

HOSPITALAR E SUA RELAÇÃO COM RISCOS

PROFISSIONAIS

C

LÁUDIA

S

OFIA

B

ARROS

V

IEIRA

(2)

FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO

PORTO

Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

Cláudia Sofia Barros Vieira

ACIDENTES DE TRABALHO EM MEIO

HOSPITALAR E SUA RELAÇÃO COM RISCOS

PROFISSIONAIS

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto para a obtenção do grau de

Mestre em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais.

Trabalho realizado sob a orientação do Professor Doutor Joaquim Góis do Departamento de Engenharia de Minas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

(3)

AGRADECIMENTOS

______________________________________________________

A apresentação desta tese é o culminar de uma longa sequência de acontecimentos e são muitos aqueles que merecem o meu agradecimento. A conquista tem que ser dividida com muitas pessoas e a ajuda de todos foi importante para que concluísse este trabalho. Alguns, no entanto, foram fundamentais:

Ao Professor Doutor Joaquim Góis, o profundo reconhecimento pela sua disponibilidade e orientação fundamental à realização desta tese, sempre alicerçada em rigor e exigência crescente que permitiram aprimorar o trabalho e aprofundar os meus conhecimentos. Aos meus pais e ao Pedro Teixeira, o meu profundo agradecimento pelo apoio, incentivo e contributo para a concretização deste trabalho e, principalmente pelo amor, carinho e atenção manifestada. À minha irmã pelo companheirismo, apoio, amizade e incentivo. Ao Engenheiro Emanuel Silva pelo apoio indispensável e contribuição essencial para o despoletar deste estudo.

À D. Maria Fernanda Ferreira pela disponibilidade e contribuição essencial à concretização desta tese, em especial na fase de recolha de dados.

A todos os meus colegas de trabalho e amigos, em especial à Dr.ª Marina Pistachinni, à Beatriz Almeida e ao Pedro Silva que contribuíram com incentivo e apoio.

Finalmente, a todos que de uma forma mais indirecta colaboraram na execução desta tese e que de alguma forma a tornaram possível.

(4)

RESUMO

______________________________________________________

Nas instituições de saúde, os profissionais estão expostos a uma diversidade e multiplicidade de riscos ocupacionais que, por vezes, culminam com a ocorrência de acidentes de trabalho (AT). Estes acidentes de diferentes naturezas, apresentam reflexos na actividade dos vários serviços, uma vez que acarretam implicações internas (instituição e funcionário) e, externas (comunidade em geral).

Numa fase em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) apelam ao desenvolvimento de uma cultura de segurança preventiva, face ao aumento do número de acidentes de trabalho e de doenças profissionais, torna-se fundamental analisar as causas que levam à ocorrência dos acidentes de trabalho para, posteriormente, serem propostas medidas que visem reduzir e/ou eliminar os acidentes. Neste sentido, o presente trabalho é um estudo descritivo e analítico que aborda os AT ocorridos numa unidade hospitalar, procurando caracterizá-los e relacioná-los com os riscos profissionais.

A população alvo do estudo, é constituída pelos profissionais que exercem actividade numa instituição hospitalar do Norte de Portugal. A amostra compreende todos os funcionários que efectuaram a participação dos AT no período de 1 de Outubro de 2007 a 1 de Outubro de 2008.

A recolha de informação processou-se por análise dos modelos internos de participação e de investigação de higiene e segurança no trabalho dos AT e através da observação dos locais de ocorrência dos acidentes.

O tratamento exploratório da informação recolhida foi efectuado com o recurso a técnicas estatísticas no domínio da estatística multivariada, em particular através do uso da Análise Factorial das Correspondências (AFC). Procura-se, com esta metodologia, ir um pouco mais longe do que a simples enumeração dos AT por categoria profissional, género, tipo de acidente, risco associado, parte do corpo atingida, local de ocorrência, dia da semana, etc. A abordagem preconizada, abandona a tradicional caracterização dos AT de “per se”,

(5)

procurando a visão conjunta, simultânea e necessariamente mais realista do sistema de inter relações das diferentes variáveis consideradas e o seu papel na ocorrência dos AT. Palavras – Chave: Acidentes de trabalho; Riscos ocupacionais; Hospitais, Profissionais de saúde; Análise factorial das correspondências.

(6)

ABSTRACT

______________________________________________________

In Health Institutions, professionals are exposed to a variety of occupational risks that may culminate in accidents in the workplace (AW). These accidents are different in nature and they reflect the activity of the services, as they cause problems both internally (institution and worker) and externally (community in general).

At a time when the World Health Organization (WHO) and International Labor Organization (ILO) called for the development of a culture of preventive security, with the increased number of accidents and occupational diseases, it is important to analyze the causes that lead to the occurrence of accidents at work, then propose measures to reduce or even eliminate accidents.

In this sense, the present work is a descriptive and analytical study that addresses AW that occurred in hospitals, trying to characterize them and to relate them to occupational hazards.

The population target of the study consists of professionals that provide services in a hospital in northern Portugal. The sample includes all employees who were in juried at work between 1 October 2007 to 1 October 2008.

The information was collected using internal models of workplace injuries by observing the work environment and administering a questionnaire to the injured victims, and if necessary, to the witnesses.

A multivariate statistical study of the collected information was performed using Factorial Analysis of Correspondence (FAC). The purpose of this methodology was to broaden the analysis rather than performing a simple enumeration of the accidents by profession, gender, type of accident, associate risk, part of the body injured, place of accident, day of the week, etc.

This approach abandons traditional characterization of AW per se, and looks for the a simultaneous more realistic system of relationships between the different variables and their role in the occurance of AW.

(7)

Keywords: Accidents in the workplace; Occupational risks; Hospitals; Health care professional; Correspondence Analysis.

(8)

ÍNDICE GERAL

______________________________________________________

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ... 12

PARTE I -ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL.………...…15

CAPÍTULO II – EVOLUÇÃO HISTÓRICA E ENQUADRAMENTO DA SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ... 16

2.1. Breve evolução histórica da segurança, higiene e saúde no trabalho em Portugal... 16

2.2. Enquadramento jurídico da SHST na administração pública (serviços de saúde)... 18

CAPÍTULO III – RISCOS EM MEIO HOSPITALAR... 20

3.1. Introdução... 20 3.2. Risco biológico... 21 3.3. Risco químico... 24 3.4. Risco ergonómico... 27 3.5. Risco físico ... 30 3.6. Risco mecânico... 35 3.7. Risco eléctrico ... 36

CAPÍTULO IV – ACIDENTES DE TRABALHO EM MEIO HOSPITALAR ... 37

4.1. Enquadramento legal ... 37

4.2. A realidade portuguesa dos acidentes de trabalho em meio hospitalar... 38

4.3. Acidentes de trabalho por exposição ao risco biológico... 40

4.4. Acidentes de trabalho por exposição a agentes químicos... 41

4.5. Acidentes de trabalho associado ao risco ergonómico ... 42

4.6. Acidentes de trabalho associado ao risco mecânico ... 43

PARTE II - DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO………45

CAPÍTULO V – MATERIAIS E MÉTODOS ... 46

(9)

5.2. Objectivos do estudo ... 46

5.3. População alvo e amostra do estudo... 47

5.4. Instrumentos de recolha de dados... 48

5.4.1. Descrição das variáveis ... 48

Modelo de participação clínica dos acidentes em serviço (anexo A): ... 49

Modelo de participação dos acidentes em serviço (anexo B):... 50

Modelo de investigação de HST dos acidentes em serviço (anexo C): ... 50

5.5. Recolha de dados... 51

CAPÍTULO VI – TRATAMENTO ESTATÍSTICO E ANÁLISE DOS DADOS ... 52

6.1 Análise exploratória de dados... 52

6.2 Análise Factorial das Correspondências... 63

PARTE III - CONSIDERAÇÕES FINAIS………...92

CAPÍTULO VII – CONCLUSÕES... 93

BIBLIOGRAFIA ... 97

ANEXO A ………..107

ANEXO B ………..110

(10)

ÍNDICE DE FIGURAS

______________________________________________________

FIGURA 1-EXISTÊNCIA DE SERVIÇOS DE SAÚDE OCUPACIONAL (SSO) EM UNIDADES HOSPITALARES (FONTE:

DURÃO,2009)... 18

FIGURA 2-EXISTÊNCIA DE PROGRAMAS OU PLANOS DE SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO (FONTE: DURÃO,2009)... 19

FIGURA 3-PERCENTAGEM DE TRABALHADORES EXPOSTOS A LESÕES MÚSCULO-ESQUELÉTICAS (FONTE: OFFICE FOR OFFICIAL PUBLICATIONS OF THE EUROPEAN COMMUNITIES,2004)... 28

FIGURA 4-ACIDENTES RADIOLÓGICOS COM EFEITOS CLÍNICOS OBSERVÁVEIS EM SERES HUMANOS OCORRIDOS A NÍVEL MUNDIAL EM 1945-2000(FONTE:IRSN,FRANÇA)... 32

FIGURA 5-CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ATENDENDO À CATEGORIA PROFISSIONAL E AO GÉNERO... 47

FIGURA 6-DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO EM ESTUDO ATENDENDO À FAIXA ETÁRIA... 48

FIGURA 7–NÚMERO TOTAL DE ACIDENTES PARTICIPADOS... 52

FIGURA 8-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR GÉNERO... 53

FIGURA 9-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR FAIXA ETÁRIA DOS PROFISSIONAIS... 53

FIGURA 10-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO SEGUNDO AS HABILITAÇÕES LITERÁRIAS... 54

FIGURA 11-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR CATEGORIAS PROFISSIONAIS... 54

FIGURA 12-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR VÍNCULO À INSTITUIÇÃO... 55

FIGURA 13-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR ANTIGUIDADE NA INSTITUIÇÃO... 55

FIGURA 14-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES POR SERVIÇOS... 56

FIGURA 15-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR LOCAL DE OCORRÊNCIA... 56

FIGURA 16-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR TAREFA A EXECUTAR NO MOMENTO DO ACIDENTE ... 57

FIGURA 17-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR MESES DO ANO... 57

FIGURA 18-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR DIA DA SEMANA... 58

FIGURA 19-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR HORA DO DIA... 58

FIGURA 20-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR NÚMERO DE HORAS DE TRABALHO CUMPRIDAS NO MOMENTO DO ACIDENTE... 59

(11)

FIGURA 22-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR TIPO DE LESÃO... 60

FIGURA 23-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR PARTE DO CORPO ATINGIDA... 60

FIGURA 24-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR TIPO DE RISCO... 61

FIGURA 25-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR TIPO DE INCAPACIDADE... 61

FIGURA 26-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR NECESSIDADE DE INTERNAMENTO... 62

FIGURA 27-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR NECESSIDADE DE CONSULTA MÉDICA... 62

FIGURA 28-MATRIZ DE PARTIDA PARA A ANÁLISE DE DADOS (AFC)... 63

FIGURA 29-RETROACÇÃO EM ANÁLISE FACTORIAL (SEGUNDO GARCIA PEREIRA,1990)... 64

FIGURA 30-PLANO GERAL DOS ENSAIOS DESTINADOS A EXPLORAR OS DADOS INICIAIS EM TERMOS DE AFCB ... 74

FIGURA 31-AFCB-PROJECÇÕES DAS VARIÁVEIS NO PLANO FACTORIAL 1,2-ENSAIO 1... 75

FIGURA 32-AFCB-PROJECÇÕES DOS INDIVÍDUOS NO PLANO FACTORIAL 1,2-ENSAIO 1 ... 75

FIGURA 33-AFCB-PROJECÇÕES DAS VARIÁVEIS NO PLANO FACTORIAL 1,2-ENSAIO 2... 79

FIGURA 34–AFCB-PROJECÇÕES DAS MODALIDADES NO PLANO FACTORIAL 1,3-ENSAIO 2... 81

FIGURA 35–AFCB-PROJECÇÃO DAS MODALIDADES NO PLANO FACTORIAL 1,4-ENSAIO 2 ... 82

FIGURA 36-AFCB-PROJECÇÕES DOS INDIVÍDUOS NO PLANO FACTORIAL 1,2-ENSAIO 2 ... 83

FIGURA 37-AFCB-PROJECÇÃO DAS MODALIDADES NO PLANO FACTORIAL 1,2-ENSAIOS 3 ... 84

FIGURA 38–AFCB- PROJECÇÃO DOS INDIVÍDUOS NO PLANO FACTORIAL 1,2-ENSAIO 3 ... 84

(12)

ÍNDICE DE TABELAS

______________________________________________________

TABELA 1–EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE CASOS DE TUBERCULOSE EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA REGIÃO

NORTE DO PAÍS (2000-2004)... 22

TABELA 2-RISCOS MECÂNICOS E RESPECTIVAS LESÕES... 35 TABELA 3-DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES DE TRABALHO ASSOCIADOS AO RISCO MECÂNICO NA UNIDADE

LOCAL DE SAÚDE DO BAIXO ALENTEJO (2007/2008) ... 43

TABELA 4-ACIDENTES DE TRABALHO ASSOCIADOS AO RISCO MECÂNICO (2000-2004) ... 44 TABELA 5–QUADRO COM AS VARIÁVEIS, MODALIDADES, OS CÓDIGOS DAS MODALIDADES E SEUS

SIGNIFICADOS... 66

TABELA 6–EXEMPLO DO QUADRO DE DESCRIÇÃO LÓGICA (PRESENÇA - AUSÊNCIA), MATRIZ DE INPUT DE DADOS CODIFICADA EM DISJUNTIVA COMPLETA UTILIZADA NA AFCB ... 72 TABELA 7-RELAÇÕES DE PROXIMIDADE/OPOSIÇÃO ENTRE AS MODALIDADES, NOS EIXOS FACTORIAIS

CONSIDERADOS... 76

TABELA 8-COORDENADAS E CONTRIBUIÇÕES ABSOLUTAS DAS MODALIDADES NOS EIXOS FACTORIAIS

-ENSAIO 2... 77

TABELA 9-TESTE DE χ2 APLICADO AO NÚMERO DE ACIDENTES POR MÊS... 89

(13)

SIGLAS E ABREVIATURAS

______________________________________________________

AAM – Auxiliares de Acção Médica ADN – Ácido Desorribonucleico

AFC – Análise Factorial das Correspondências

AFCB – Análise Factorial das Correspondências Binárias AT – Acidentes de Trabalho

dB – Decibéis;

DGS – Direcção Geral de Saúde ICL – Índice de Capacidade Laboral LME – Lesões Músculo-Esqueléticas

LMELT – Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao Trabalho MCDT – Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica mSV - Sub-Múltiplo o Milisievert;

OIT – Organização Internacional do Trabalho OMS – Organização Mundial de Saúde

SHST – Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho SNS – Serviço Nacional de Saúde

SSO – Serviço de Saúde Ocupacional HST – Higiene e Segurança no Trabalho VHB – Vírus da Hepatite B

VHC – Vírus da Hepatite C

(14)

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO

Os hospitais como unidades prestadoras de cuidados de saúde caracterizam-se por serem organizações complexas, que envolvem profissionais de saúde, com o intuito de desenvolverem acções de promoção, protecção e recuperação da saúde da população em geral, assistindo o ser humano, avaliando as suas necessidades de forma holística e implementando a assistência nas condições e no local em que se encontram. Envolvem igualmente profissionais que executam actividades que, embora não estejam directamente relacionadas com a prestação de cuidados, são fundamentais para que as mesmas possam ocorrer de forma adequada (com perícia técnica e ética), valorizando as relações humanas entre os utentes e os membros da equipa de saúde, bem como a importância da relação homem/máquina e posto de trabalho.

Há cerca de 15 a 20 anos, a visibilidade da existência de factores de risco de natureza profissional em hospitais e outros serviços de saúde, tornou inadiável, mesmo para os mais cépticos, a urgente criação de serviços de higiene, segurança e saúde dos trabalhadores, indispensáveis à gestão desses riscos. Lopes et al. (1996), citado em Faria, afirma que, por mais paradoxal que possa parecer, o ambiente em que estes profissionais se inserem tem como objectivo promover o bem-estar dos doentes é, em si mesmo, rico em factores de risco (Faria, 2008).

Nos últimos 10 anos, têm vindo a ser organizados alguns serviços de saúde ocupacional (SSO) ou serviços de higiene, segurança e saúde dos trabalhadores em várias unidades de saúde, ainda que desde o início dos anos 90, fizesse parte do âmbito do enquadramento legal independentemente da sua dimensão ou de pertencerem aos sectores público ou privado.

Apesar dos profissionais de saúde estarem expostos a uma multiplicidade de riscos inerentes às tarefas que executam, a maioria apenas identifica e considera o biológico como um dos principais riscos geradores de situações de insalubridade, senão mesmo como sendo o único factor de risco destes trabalhadores. Segundo alguns autores, vários são os factores de risco de natureza profissional subdividindo-se, de acordo com a sua origem, em factores de risco de natureza física, química, mecânica, ergonómica, eléctrica, psicossocial e estrutural. A estes acrescentam-se o trabalho por turnos, os ritmos de trabalho, a organização do trabalho, a ausência de comunicação, entre outros.

(15)

Os acidentes de trabalho representam um problema grave para aqueles que desenvolvem a sua actividade profissional, condicionando sobretudo os próprios funcionários, interferindo muitas vezes na sua qualidade de vida, afectando igualmente os colegas de trabalho e originando custos por vezes elevados para as instituições e para a economia do país. Neste sentido, é de extrema relevância que as instituições e os seus trabalhadores tenham conhecimento da real situação, no âmbito da higiene e segurança no trabalho (HST) para que sejam adoptadas medidas preventivas, com o objectivo de reduzir e/ou eliminar a ocorrência dos AT.

Esta dissertação tem como propósito geral a caracterização e análise dos acidentes de trabalho1 ocorridos com os profissionais de uma instituição hospitalar, relacionando-os

com os riscos a que estes se encontram expostos.

Para a concretização deste objectivo geral foram definidos os seguintes objectivos específicos:

• Caracterizar os AT participados no período de 1 de Outubro de 2007 a 1 de Outubro de 2008, segundo as variáveis constantes nos modelos de participação e de investigação de higiene e segurança dos AT;

• Evidenciar os riscos profissionais a que os trabalhadores de uma instituição hospitalar se encontram expostos.

O eventual interesse por este estudo poderá fundamentar-se na quase inexistência de estudos sobre esta temática que consideramos tão significativa, o que justifica a necessidade de estudar as causas dos acidentes de trabalho em contexto hospitalar. Deste modo, procurar-se-á traçar um plano de orientação para prevenir e combater a ocorrência dos AT, minimizando não só as lesões físicas e psicológicas dos profissionais como os custos para a instituição. Este estudo justifica-se também pela ausência de estimativas oficiais, organizadas e declaradas em relação à incidência de AT em meio hospitalar a nível nacional.

O estudo apresentado encontra-se organizado em três partes, que permitem situar a problemática em questão e enquadrá-la metodologicamente.

1 Na administração pública os acidentes de trabalho são designados por acidentes em serviço. No entanto, e apesar desta

investigação incidir numa instituição pública, optou-se por utilizar o termo de acidentes de trabalho para uma melhor percepção deste estudo. No contexto deste trabalho, sem prejuízo do correcto entendimento jurídico, por acidente de trabalho entende-se todo o evento e/ou ocorrência não desejado causadora de AT.

(16)

Na primeira parte do trabalho é efectuado o enquadramento conceptual, onde se procede à revisão científica existente sobre o tema desta investigação a nível nacional e internacional. Esta parte divide-se em três capítulos. No segundo capítulo aborda-se a evolução histórica e o enquadramento jurídico da segurança, higiene e saúde no trabalho (SHST) na Administração Pública, particularizando a situação vivida em Portugal. No terceiro capítulo são identificados e descritos os riscos ocupacionais presentes em meio hospitalar. Finalmente no quarto e último capítulo, desta primeira parte, abordam-se os acidentes de trabalho em contexto hospitalar, no qual são referidos aspectos tais como, o enquadramento legal, o panorama nacional dos acidentes e a sua relação com os riscos profissionais.

Na segunda parte da dissertação, composta por dois capítulos é efectuado o desenvolvimento do caso de estudo. São apresentados os materiais e métodos utilizados no estudo, descreve-se o desenho da investigação, abordando o contexto em que a mesma foi realizada, apresentam-se as variáveis do estudo, descreve-se a recolha de dados e respectivo instrumento de recolha de dados. O sexto capítulo diz respeito, à apresentação do tratamento estatístico e análise dos dados referentes aos AT participados na unidade hospitalar em estudo.

Na terceira e última parte desta tese, é efectuada a apresentação das conclusões. São, ainda propostas algumas perspectivas futuras em função dos resultados obtidos.

A investigação termina com a bibliografia, assim como com os anexos necessários para melhor compreender o estudo efectuado.

(17)

Parte I –

Enquadramento

Conceptual

(18)

CAPÍTULO II – EVOLUÇÃO HISTÓRICA E ENQUADRAMENTO

DA SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO NA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2.1. Breve evolução histórica da segurança, higiene e saúde no trabalho em Portugal

Na Constituição da República Portuguesa, promulgada em 1976, em substituição da de 1933, o trabalho deixa de ser visto como uma mera fonte de rendimento ou meio de subsistência, reconhecendo-se o direito dos trabalhadores à "… organização do trabalho

em condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal…", bem

como à " … prestação do trabalho em condições de higiene e segurança …" (art. 59º, na revisão de 1982).

Desde 1962 que os serviços médicos eram obrigatórios para as empresas com riscos de silicose, no entanto, apenas com a legislação de 1967 as empresas industriais com 200 ou mais trabalhadores, além das que apresentavam "riscos de silicose", ficavam na prática obrigadas a criar serviços privativos de medicina do trabalho, dispondo para esse efeito de um prazo de dois anos.

A criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), em 1979, a reforma do Ministério da Saúde e a publicação da Lei de Bases da Segurança Social em 1984, não foram acompanhadas de quaisquer inovações no domínio da SHST, quer a nível legislativo e regulamentar, quer técnico e organizativo, continuando, nomeadamente, o reconhecimento e a reparação dos danos provenientes da exposição a riscos profissionais a não estarem integrados num sistema geral e universal da segurança social.

Em 1990 era aprovada a nova lei de bases da saúde, que vem apontar como prioridades da política de saúde do país, a promoção da saúde e a prevenção da doença, bem como a garantia da equidade, entendida como igualdade de oportunidades no acesso aos cuidados de saúde, na distribuição dos recursos e na utilização dos serviços. No entanto, este novo diploma não faz, qualquer referência à SHST.

Em 1991, o Decreto-Lei n.º 441/91, de 14 de Novembro que estabeleceu o regime jurídico do enquadramento da SHST (Lei-Quadro da SHST) abrangeu toda a população activa,

(19)

incluindo os trabalhadores independentes e o funcionalismo público. Este diploma legal, vem reconhecer inequivocamente o direito à saúde no local de trabalho, até então apenas implícito na nossa ordem jurídico-constitucional, adaptando, assim o normativo interno à Directiva n.º 89/391/CEE (Graça, 2000; Nunes, 2006).

Os princípios normativos constantes do citado Decreto-Lei n.º 441/91, de 14 de Novembro, e demais legislação complementar, exigem que se adaptem conceitos e se explicitem algumas das obrigações e inerentes responsabilidades dos empregadores e funcionários no âmbito da administração pública. Este é o objectivo do diploma supramencionado, que pressupõe a garantia da avaliação e registo actualizado dos factores de risco, da planificação e orçamentação das acções conducentes ao seu efectivo controlo, bem como a existência de recursos humanos com competência e qualificações adequadas, em conformidade com o regime consagrado na referida lei-quadro (Decreto-Lei n.º 441, 1991). Pretende-se ainda assegurar a formação, informação, participação e consulta dos funcionários e estabelecer o regime de responsabilização pelo não cumprimento dos normativos legais sobre segurança, higiene e saúde no trabalho.

Neste contexto, o diploma obteve o acordo da Frente Sindical da Administração Pública e do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, tendo a Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública manifestado a sua indisponibilidade para o negociar.

No entanto, no desenvolvimento do regime jurídico estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 441/91, de 14 de Novembro, e nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 198.º da Constituição, o Governo decreta, para valer como lei geral da República, o Decreto-Lei n.º 488/99, de 17 Novembro que definiu as formas de aplicação do regime jurídico de segurança, higiene e saúde do trabalho aos Serviços e Organismos da Administração Pública, abrangendo assim as entidades prestadoras de cuidados de saúde (hospitais, centros de saúde, entre outros), apesar da Lei-Quadro da SHST, de 1991, ser aplicável a este tipo de serviços (Graça, 2000).

(20)

2.2. Enquadramento jurídico da SHST na administração pública (serviços de saúde)

A saúde dos funcionários nos locais de trabalho é, para além de uma matéria laboral, económica e de saúde, um assunto que exige responsabilidade social e de cidadania, pelo que implica uma maior atenção e envolvimento de diversos parceiros sociais, incluindo a administração pública. A aplicação do enquadramento legal da SHST à administração pública foi primeiro estabelecida e regulada pelo Decreto-Lei n.º 488/99, de 17 de Novembro. No entanto, apesar deste enquadramento legal ter entrado em vigor a 1 de Janeiro de 2000, poucos foram os serviços públicos que implementaram medidas para o seu cumprimento (Sindicato dos quadros técnicos do estado, 2005).

Segundo os dados da Direcção Geral de Saúde (DGS) as informações sobre a organização de serviços de saúde ocupacional são insuficientes. No ano de 1994, em 18% das instituições de saúde existiam serviços de segurança e saúde no trabalho, em 1997 este número aumentou para 21%. Entre 2007/2008 verificou que 65% dos estabelecimentos hospitalares estavam cobertos por serviços de segurança e saúde no trabalho; 30% informaram não ter estes serviços e 5% não responderam a esta questão (figura 1) (Durão, 2009).

(21)

Outro aspecto pertinente, evidenciado em estudos recentes sobre a existência ou não de programas ou planos de prevenção de SHST, revela que independentemente dos estabelecimentos hospitalares apresentarem serviços de saúde e segurança no trabalho, 67% possuem programas ou planos de prevenção de riscos profissionais e de vigilância e promoção da saúde dos funcionários, 27% não têm programas ou planos nestas áreas e 6% não responderam a esta questão. (figura 2) (Durão, 2009).

(22)

CAPÍTULO III – RISCOS EM MEIO HOSPITALAR

3.1. Introdução

Os hospitais são entidades que se caracterizam por serem organizações complexas e cujo propósito “… cuidar/tratar o ser humano, em situação de doença e sofrimento…”, tem direccionado a sua concepção e a alocação de recursos na satisfação das necessidades dos utentes, traduzida na ampliação dos cuidados a prestar e na introdução de novas tecnologias e práticas. Em alguns dos casos, estas alterações são implementadas sem serem garantidas as condições de segurança e saúde dos funcionários e a qualidade ambiental interior, são portanto relegadas para segundo plano as condições de trabalho dos profissionais. Contribuem também para esta situação, o facto da maioria dos profissionais de saúde considerar que é capaz de assegurar autonomamente a manutenção do seu estado de saúde (acesso facilitado a consultas médicas informais), reduzindo desta forma a utilização de serviços organizados de saúde ocupacional e o facto de toda a hierarquia hospitalar estar vocacionada para a vertente curativa, colocando menos ênfase na perspectiva da prevenção (Cabral e Veiga, 2008).

Os hospitais são constituídos por um conjunto de serviços muito diversificados e especializados, que englobam as actividades que conduzem ao diagnóstico médico e ao tratamento de doentes, ao qual está frequentemente associado a obtenção de um conjunto de informações fornecidas por serviços especializados, designadamente pelos meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT). O tratamento do doente pode exigir o internamento e portanto, a necessidade de prestar cuidados de base - alimentação e higiene - e o recurso a técnicas diferenciadas. Existe ainda um conjunto de serviços que, sem desenvolverem tarefas específicas na área da saúde, são fundamentais para o funcionamento de um hospital, destacando-se: os serviços de instalações e equipamentos; os serviços farmacêuticos, as centrais de esterilização, os serviços de sistemas de informação, os serviços de limpeza, entre outros.

(23)

Face ao exposto, podemos inferir que o ambiente hospitalar oferece múltiplos e variados riscos profissionais, específicos do tipo de actividade desenvolvida, das características inerentes ao desempenho profissional e da potencial má qualidade do ar interior. Para Funden (1996), citado em Silva, “…Os riscos ocupacionais são todas as situações de

trabalho que podem romper o equilíbrio físico, mental e social das pessoas, e não somente as situações que originem acidentes e doenças…” (Silva, 2008).

Neste contexto, podem destacar-se, como principais os seguintes riscos profissionais em meio hospitalar no âmbito da higiene e segurança no trabalho:

• Risco biológico; • Risco químico; • Risco ergonómico; • Risco físico; • Risco mecânico; • Risco eléctrico;

• Risco de incêndio e de explosão (Mayan, 2004; Cabral e Veiga, 2008).

Apesar da enumeração dos riscos presentes em meio hospitalar acima mencionados, será dado, neste e no próximo capítulo maior destaque aos riscos que são mais susceptíveis de serem causadores de AT na unidade hospitalar em estudo.

3.2. Risco biológico

Segundo Bulhões, referido em Faria, os principais riscos de exposição dos profissionais a agentes biológicos são as infecções causadas por bactérias, vírus, fungos, clamídias e, em menor grau, pelos protozoários, artrópodes, todos eles provenientes num local de trabalho como os hospitais, do contacto com os doentes e da manipulação de produtos biológicos (sangue, urina e outros fluídos biológicos) (Faria, 2008; Cabral e Veiga, 2008).

Estes microrganismos podem causar determinadas doenças mundialmente reconhecidas para os profissionais de saúde, nomeadamente a tuberculose, as hepatites virais, o vírus da imunodeficiência humana (VIH) (Jansen, 1997). Por vezes, os funcionários podem

(24)

ser atingidos por outras doenças infecciosas como a rubéola, meningites, difteria, herpes simplex, varicela, herpes-zoster, febre tifóide, gastroenterites, constipações, gripes, pneumonias, entre outras, não faltando as doenças causadas por bactérias envolvidas nas infecções hospitalares, algumas das quais resistentes a diversos antibióticos como:

Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Salmonella, Streptococcus, Pseudomonas, e Proteus (Faria, 2008).

Estudos conduzidos nas décadas de 1960 e 1970 mostraram que o risco de infecção por tuberculose entre profissionais de saúde expostos a doentes contaminados pelo

Mycobacterium tuberculosis era 4 a 6 vezes superior ao apresentado pelos profissionais

não expostos. Verificou-se ainda a existência de uma relação entre o número de doentes com a doença admitidos nas instituições e o número de trabalhadores das mesmas (Franco et al., 2004).

O contágio ocorre principalmente por via aérea, a partir de aerossóis libertados durante o acto de tossir, falar ou espirrar dos doentes. Outras possíveis vias de transmissão, embora sejam raras e com pouca importância epidemiológica, são a digestiva, a cutânea, entre outras. (Bloom, 2002).

Segundo Resende, referido em Faria, o risco de infecção está relacionado com os seguintes factores: prevalência da doença, perfil dos casos atendidos, áreas de trabalho, categoria profissional, tempo de trabalho e medidas de prevenção e protecção implementadas (Faria, 2008).

A título de exemplo, poder-se-á indicar que a evolução da tuberculose em profissionais de saúde tem aumentado (tabela 1), apesar do número total de casos ter sofrido uma diminuição.

Tabela 1 – Evolução do número de casos de tuberculose em profissionais de saúde da Região Norte do País

(2000-2004)

Ano Total de casos declarados Casos em profissionais de saúde

2000 1718 24 2001 1688 26 2002 1710 65 2003 1594 60 2004 1500 65 Fonte: SGIV- TB

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Igualmente ilustrativo do risco biológico a que estão sujeitos os profissionais de saúde temos a infecção por hepatite B (VHB) que constitui um elevado risco ocupacional para estes profissionais. O VHB é transmitido por via sanguínea, após exposição percutânea ou da mucosa a sangue ou fluidos biológicos de um doente com infecção por VHB, aguda ou crónica (Cunha et al., 2006).

Nos Estados Unidos, estimou-se a ocorrência anual de 8700 infecções e de 200 mortes pelo vírus da hepatite B, por acidente de trabalho, entre profissionais de saúde. A incidência da infecção na população em geral dos Estados Unidos, foi de 0,1%, enquanto nos profissionais da saúde foi de 0,5% ao ano. Quanto à prevalência de anti-HBsAg, foi da ordem de 10 a 15% nos profissionais de saúde e de 4% na população geral (Faria, 2008).

O risco de transmissão da hepatite B, em funcionários não vacinados é elevado, estimando-se que seja 5 vezes superior ao da população em geral.

No que concerne à hepatite C (VHC) existe uma taxa de transmissão entre profissionais de saúde na ordem dos 3 a 4%, o que torna a transmissão importante entre estes profissionais (Vieira et al., 2003).

Estudos em profissionais de saúde expostos a sangue infectado por VHC, em consequência de lesões percutâneas, mostram existir uma baixa incidência de seroconversão (média: 1,8%; variação: 0-7%) (Cunha et al., 2006).

A transmissão do VIH (vírus da imunodeficiência humana) entre profissionais de saúde, pode ocorrer devido a exposições cutâneas, resultantes de acidentes com materiais perfurantes e cortantes, as recomendações actuais, para esse fim, ainda não são capazes de prevenir tais acidentes (Faria, 2008).

Em estudos prospectivos em profissionais de saúde, a média do risco de transmissão do VIH foi estimada em 0,3% após lesão percutânea e em 0,09% após exposição da mucosa. Embora tenham sido referidos casos de transmissão depois de uma exposição de pele não intacta, calcula-se que esse risco é menor do que após uma exposição da mucosa (Cunha et al., 2006).

De acordo com Guadalupe Simões, citado em Faria, “… não existem dados em

Portugal…” sobre o número de profissionais de saúde infectados por via mucosa. Nos

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infectados com o VIH contraíram a doença acidentalmente devido a picada acidental com uma agulha no local de trabalho (Faria, 2008).

3.3. Risco químico

Os principais riscos de exposição dos profissionais de saúde a produtos químicos são gerados pela manipulação e armazenamento de uma variedade de substâncias químicas e também pela preparação e administração de medicamentos que podem provocar, desde simples alergias até importantes neoplasias (Xelegati e Robazzi, 2003). As substâncias químicas podem penetrar no organismo por via respiratória, serem absorvidos pela pele ou muito raramente por ingestão, podendo originar, em geral, lesões imediatas (Cândido et al., 2005).

Da panóplia de produtos químicos utilizados em ambientes hospitalares, cuja a exposição aos mesmos acarreta riscos para a saúde humana, podemos mencionar: os gases anestésicos, outros gases (hidrogénio, oxigénio, azoto, acetileno), citostáticos, desinfectantes (álcool, hipoclorito de sódio, formaldeído, glutaraldeído), solventes orgânicos (acetona, éter, clorofórmio, metanol, etanol, entre outros) e outros produtos químicos (Mayan, 2008).

Os gases anestésicos mais frequentes são: o sevoflurano, o haloetano, o isoflurano, o metoxiflurano e o óxido nitroso. A exposição a gases anestésicos, verifica-se nas salas de cirurgia e de apoio à cirurgia e os profissionais expostos são, essencialmente todos os funcionários que fazem parte das equipas de cirurgia. Os efeitos agudos da exposição a estes gases caracterizam-se por tonturas, alterações do humor, náuseas, fadiga e falta de coordenação dos movimentos.

No grupo de outros gases destacam-se: o oxigénio (utilizado na prestação de cuidados aos doentes); o hidrogénio, o azoto e o acetileno (utilizado em actividades laboratoriais e em oficinas); o fréon (utilizado na esterilização, em mistura com o óxido de etileno, em laboratórios, para a congelação rápida de tecidos) e o óxido de etileno (utilizado na esterilização em particular de instrumentos médicos que não podem ser expostos ao calor). O oxigénio e o acetileno são gases que podem originar graves riscos de incêndio e/ou explosão. O fréon e óxido de etileno têm efeitos irritantes nas mucosas, aparelho respiratório e no sistema nervoso central. O óxido de etileno apresenta também propriedades mutagénicas e é considerado um provável carcinogéneo.

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Os citostáticos e drogas antineoplásicas caracterizam-se pela sua acção nas células cancerígenas, impedindo o seu crescimento. Contudo, a sua acção tóxica também se verifica nas outras células e tecidos, destacando-se os efeitos mutagénicos, teratogénicos, carcinogénicos, a acção hepatotóxica, nefrotóxica e a acção irritante na pele e membranas mucosas. No universo dos funcionários hospitalares, a exposição a citostáticos ou outras drogas utilizadas na quimioterapia, destacam-se os técnicos (farmácia ou farmacêuticos), enfermeiros responsáveis pela preparação e administração daquelas substâncias e os auxiliares de acção médica (AAM) que manipulam os resíduos e efectuam a higienização das instalações. A exposição pode ocorrer por contacto e/ou por inalação de aerossóis.

No que concerne ao grupo dos desinfectantes temos o álcool isopropílico, o hipoclorito de sódio, o formaldeído e o glutaraldeído. O álcool isopropílico é um anti-séptico e desinfectante, muito utilizado na limpeza de pequenos materiais de enfermagem e de laboratório (termómetros, equipamentos de anestesia, equipamento laboratorial, entre outros). Os efeitos da exposição a este composto são: irritação na pele, nas vias respiratórias e nos olhos. No contexto hospitalar, os enfermeiros, os auxiliares de acção médica (AAM) e os técnicos são os que mais utilizam este produto, pelo que são os profissionais para os quais poderá existir um potencial risco de exposição a álcool isopropílico. O hipoclorito de sódio, em solução de diferentes concentrações, é eficaz contra bactérias e vírus, sendo por isso muito utilizado para a higienização de pavimentos e instalações sanitárias, (este produto não deve ser misturado com produtos amoniacais, porque a reacção pode libertar grande quantidade de gás tóxico). O manuseamento de soluções de hipoclorito de sódio pode provocar queimaduras e irritação da pele. Face à sua utilização, os profissionais com risco acrescido de exposição a estes produtos são essencialmente os auxiliares de acção médica. O formaldeído é uma substância muito reactiva, que se utiliza principalmente como fixador de tecido celular em anatomia patológica e laboratórios de histopatologia. Também pode ser utilizado como desinfectante em unidades de diálise e como esterilizante, nos processos de esterilização a frio de instrumentos diversos. Esta substância é irritante para os olhos e vias respiratórias, provoca alterações neurocomportamentais e é um potencial carcinogénico para o homem. De entre os profissionais, para os quais existe um maior risco de exposição a formaldeído, constam os técnicos de laboratório (anatomia patológica e histologia), e os profissionais das

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unidades de diálise responsáveis pela desinfecção e esterilização do material e instrumentos. Por fim, o glutaraldeído que sendo uma substância com uma potente acção biocída, eficaz para bactérias, vírus, fungos e esporos é utilizado na esterilização a frio, aplicada em instrumentos termo-sensíveis, nomeadamente drenos, cateteres, enxertos acrílicos e tubos de poliestireno. Também é manipulado na desinfecção de equipamentos de terapia respiratória, endoscópios, tubos de espirometria e equipamentos de diálise e odontológicos. Face à sua utilização são particularmente vulneráveis à exposição a glutaraldeído, todos os profissionais, de saúde e outros, com actividades nas áreas de desinfecção e esterilização. O glutaraldeído é tóxico, com acção irritante dos olhos e vias respiratórias, o contacto prolongado pode provocar alergias e dermatoses.

No grupo dos solventes orgânicos e outros produtos químicos estão incluídos um conjunto de reagentes manipulados em laboratórios. Nos solventes orgânicos destacam-se os hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos, acetonas e álcoois e, no grupo de outros produtos químicos, os reagentes da biologia molecular, em particular a acrilamida, o brometo de etídeo utilizados na extracção do ácido desorribonucleico (ADN). Os principais efeitos da exposição profissional situam-se ao nível do sistema nervoso central e fígado; alguns destes produtos estão classificados como carcinogéneos ou potenciais carcinogéneos (Mayan, 2004).

As publicações que contextualizam a protecção dos profissionais de saúde, particularmente em relação aos riscos químicos que eles enfrentam, é ainda muito reduzida e o que existe publicado concentra-se em poucos estudos internacionais. Existem, no entanto, alguns factores de risco químico referenciados a nível internacional associados sobretudo à manipulação de drogas citostáticas, à exposição a gases anestésicos, à exposição a vapores e gases esterilizantes, aos agentes químicos em geral, à manipulação de antibióticos, à exposição a vapores do cimento de ossos, à manipulação de mercúrio, bem como outros agentes químicos (Faria, 2008).

Relativamente aos profissionais que manipulam citostáticos, a literatura evidencia casos de aparecimento de tumores secundários e de maior probabilidade de aparecimento de cancro, mutagenicidade, alterações genéticas e efeitos colaterais nesses funcionários (Rocha et al., 2007).

As publicações sobre a exposição a gases anestésicos referem a influência destes gases na ocorrência de malformações congénitas, abortos espontâneos, diminuição da

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capacidade de trabalho e da produção de ADN entre os profissionais de enfermagem. A poluição do ar das salas de cirúrgicas pelos gases anestésicos (óxido nitroso) produzem efeitos adversos nos funcionários, uma vez que o óxido nitroso oxida a vitamina B12 e diminui a produção de ADN. A poluição dos gases anestésicos existe e preocupa até os governos, como o Reino Unido, que publicou um relatório afirmando que a problemática da poluição para os profissionais da área de saúde ainda não se encontra resolvida (Xelegati e Robazzi, 2003).

Outro dos estudos publicados refere-se à manipulação de xilol em laboratórios e no qual se concluiu que a ausência de formação e informação dos profissionais de saúde agrava o risco de exposição ocupacional e ambiental ao xilol (Costa et al., 2007).

3.4. Risco ergonómico

Os hospitais estão constantemente a remodelar os espaços físicos, com o objectivo de implementar novos serviços e de responder às exigências impostas pelos avanços técnico-científicos. Inversamente, não existe uma preocupação em melhorar as condições de trabalho dos profissionais de saúde, no que diz respeito à adequação da concepção das infra-estruturas, da organização do trabalho e dos equipamentos e materiais em uso (Faria, 2008).

Segundo Marziale et al., referenciado em Faria, os riscos ergonómicos em meio hospitalar estão principalmente associados à movimentação e ao transporte de doentes, ao manuseamento e transporte de equipamentos e materiais, a posturas prolongadas e inadequadas nos diferentes postos de trabalho, ao tipo de mobiliário (na maior parte dos casos não regulável e inadequado para os utilizadores), aos movimentos repetitivos, além das deslocações frequentes e desnecessárias realizadas durante a jornada de trabalho e da existência de doentes com graus de dependência múltipla. Tudo isto, contribui para aumentar, de forma exponencial, a ocorrência de lesões que afectam os ossos, os músculos e os tendões, devido à sobrecarga ou má utilização dessas estruturas (2008).

Algumas das condições ergonómicas inadequadas verificadas em unidades hospitalares são a inexistência de dispositivos mecânicos auxiliares para a movimentação dos

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doentes e cargas, a ausência de manutenção periódica dos equipamentos existentes e a utilização de mobiliários improvisados e inadequados, que leva os profissionais a adoptarem posturas inadequadas para a realização das suas actividades (Comélio e Alexandre, 2005).

Segundo os dados das publicações oficiais da comunidade europeia de 2004, os profissionais da área da saúde e trabalho social estão expostos a uma elevada percentagem de factores de risco de lesões músculo-esqueléticas (LME), relacionados com o transporte de cargas pesadas e posições inadequadas.

De acordo com a figura 3, podemos constatar que depois dos sectores da agricultura e pesca e da construção, o sector da saúde e trabalho social encontra-se em terceiro lugar no que se refere ao transporte de cargas pesadas (28%) e em quinto lugar no que se refere à exposição a posições dolorosas (38%). Referência, ainda para a exposição a movimentos repetitivos da mão e do braço, que representa o maior factor de risco de LME para este sector (41%) (Silva e Aparício, 2005).

Figura 3 - Percentagem de trabalhadores expostos a lesões músculo-esqueléticas (Fonte: Office for Official

Publications of the European Communities, 2004)

Diversos estudos internacionais, sobretudo no contexto da actividade dos enfermeiros corroboram de forma irrefutável o impacto das lesões músculo-esqueléticas em termos de produtividade, absentismo e decréscimo da qualidade de vida dos profissionais envolvidos (Martins, 2008).

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Num estudo sobre a utilização de cadeiras de banho na actividade de higienização corporal dos doentes, constatou-se que existe um elevado nível de esforço em relação ao comprometimento do sistema osteomuscular durante a utilização da mesma, afectando sobretudo os auxiliares de acção médica e os profissionais de enfermagem (Comélio e Alexandre, 2005).

Segundo Marziale, mencionado em Silva, na sua pesquisa subordinada à temática “Condições ergonómicas do trabalho da equipa de enfermagem em unidade de

internamento de cardiologia” refere que o frequente levantamento de peso para

mobilização e transporte de doentes e equipamentos, a postura inadequada e flexões de coluna vertebral em actividades de organização e assistência podem causar problemas à saúde dos trabalhadores, tais como fracturas, lombalgias e varizes (2008).

O estudo, realizado por Paschoarelli et al., mencionado em Ribeiro e Diniz nas enfermarias de um hospital de uma faculdade de medicina, verificou níveis de desconforto na região da coluna lombar, nos membros inferiores, nas extremidades dos membros inferiores, nos ombros, na região da coluna cervical e da coluna torácica, entre outros (2005).

Monteiro et al. (2004), citado em Martins, relatam, a partir de estudos efectuados com profissionais de enfermagem de uma instituição hospitalar numa, unidade de internamento com elevado grau de dependência física, queixas na região lombar, na região cervical, nos ombros, joelhos, mãos e punhos, além de problemas relacionados com factores psicológicos (2008).

Recentemente, têm surgido em Portugal, vários estudos direccionados para os profissionais de enfermagem (Maia, 2002; Fonseca, 2005; Cotrim et al., 2006; Barroso

et al., 2007). O estudo realizado por Maia (2002) ao quantificar o Índice de Capacidade

Laboral (ICL) em enfermeiros, registou valores de risco de lesões músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT), considerados muito elevados para as actividades de movimentação, transferência e posicionamento de doentes. Fonseca (2005), referenciado em Martins, no estudo que realizou sobre a prevalência de sintomatologia músculo-esquelética auto-referida pelos enfermeiros, refere que os níveis de desconforto, incómodo ou dor, com origem no sistema músculo-esquelético estão relacionados com a actividade de trabalho e as condições em que esta é exercida. Movimentações de cargas, frequentemente sem auxílio a equipamentos mecânicos e posturas extremas, concretamente a rotação do tronco e a flexão do pescoço e membros

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superiores, são alguns dos aspectos verificados pela autora aquando da observação das posturas adoptadas pelos enfermeiros durante a prestação de cuidados aos doentes. (2008)

Aspectos como posturas incorrectas, carga física, manipulação de cargas pesadas, mobiliários e equipamentos e espaços de trabalho inadequados são referenciados em vários outros estudos, citado em Martins, como factores preponderantes no desenvolvimento de patologia músculo-esquelética (Marziale e Robazzi, 2000; Maia, 2002; Silva e Alexandre, 2002; Trinkoff et al., 2002; Alexopoulos et al., 2003; Estryn-Behar et al., 2004, Sherehiy et al., 2004; Fonseca, 2005; Murofuse e Marziale, 2005; Alexopoulos et al., 2006; Barroso et al., 2007; Baumann, 2007) (2008).

Um estudo recente incidindo sobre 420 enfermeiros de seis hospitais distritais gregos revelou que, 64% dos enfermeiros referiam o levantamento frequente de materiais com peso superior a 5 kg. O mesmo estudo constatou serem igualmente frequentes o empurrar e puxar cargas com mais de 50 kg e o transporte de cargas acima de 25 kg. Correlações significativas foram encontradas entre o manuseamento manual de materiais, posturas extremas e percepção de esforços extremos (Martins, 2008).

Poucos são os estudos associados a outras categorias profissionais que desenvolvem actividades em contexto hospitalar, no entanto, relativamente à classe médica refere-se o estudo sobre a prática cirúrgica, que exige aos profissionais muitas horas em posições desconfortáveis e inadequadas para a saúde. Muitas cirurgias são longas e exigem a presença de uma quantidade substancial de cirurgiões, dada a necessidade de ficar em pé em posturas estáticas, com a atenção voltada para o campo cirúrgico e com a cabeça voltada para baixo, movimentando cuidadosamente as mãos e os dedos. Essa posição é prejudicial à circulação sanguínea, podendo gerar problemas de varizes e consequentemente dores nas pernas, além de ser prejudicial para a coluna, podendo provocar dores e deformidades irreversíveis (Filho, 2002).

3.5. Risco físico

Os riscos de natureza física em meio hospitalar estão representados pelas radiações (ionizantes e não ionizantes), ambiente térmico, iluminância, ruído e vibrações que

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contribuem de forma decisiva para a ocorrência de diversas doenças profissionais e acidentes de trabalho.

A exposição a radiações ionizantes relaciona-se em contexto hospitalar com as áreas de tratamento de doentes nomeadamente na radioterapia, radiologia e na medicina nuclear. No entanto, estes riscos também estão presentes noutras áreas que utilizam equipamentos de diagnóstico e de imagens médicas em tempo real, como os blocos operatórios, as unidades de cuidados intensivos e as enfermarias, nos casos de impossibilidades de locomoção dos doentes (Faria, 2008).

As radiações ionizantes produzem efeitos que afectam o próprio indivíduo exposto à radiação e pode manifestar efeitos nos descendentes do profissional de saúde que esteve exposto. Os efeitos imediatos após exposição a radiações ionizantes em doses excessivas são: irritação da conjuntiva ocular, da córnea e lesão da retina (Faria, 2008). Segundo Carvalho, a exposição às radiações ionizantes durante um certo período de tempo, à dose correspondente ao limite de dose ocupacional para radiações ionizantes (20 mSv durante 1 ano), implica um risco de morte por cancro 10 vezes superior à que se verificaria se se tratasse de uma exposição ao amianto durante o mesmo período de tempo. Apesar disso, actualmente são raros os trabalhadores que estão expostos a doses de radiação próximas dos 20 mSv/ano (Carvalho, 2009).

De acordo com os dados da figura 4, referentes ao número de acidentes com radiação por sector de actividade a nível mundial, podemos constatar que apenas 11% dos casos dizem respeito ao sector da Medicina (Carvalho, 2009).

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Figura 4 - Acidentes radiológicos com efeitos clínicos observáveis em seres humanos ocorridos a nível mundial em

1945-2000 (Fonte: IRSN, França)

Em meio hospitalar, a emissão de radiações não ionizantes (laser, infravermelho, ultravioleta, entre outras) ocorre em diversas técnicas de diagnóstico, de tratamento e cirúrgicas. Os profissionais com maior risco de exposição são os técnicos que realizam exames complementares de diagnóstico e os enfermeiros que executam tratamentos aos doentes (Cabral e Veiga, 2008).

A exposição a radiações não ionizantes tem efeitos imediatos no profissional de saúde, e pode contribuir para o envelhecimento prematuro da pele, e o eventual aparecimento de cataratas e cancro de pele. Os efeitos térmicos sobre os tecidos em exposição prolongada, podem produzir um desequilíbrio do sistema de termo-regulação, denominado por "golpe do calor" que pode revelar-se mortal (Faria, 2008).

Os níveis de ruído, em ambiente hospitalar, variam consoante o local, na medida em que este pode integrar serviços com características e equipamentos diferentes. Existem áreas que estão expostas a níveis de ruído elevados, nomeadamente as centrais de compressão de ar e geração de vácuo, as oficinas de manutenção, as centrais térmicas, podendo ocorrer nestes locais problemas de saúde, designadamente a surdez profissional.

Nas unidades de cuidados intensivos, nos serviços de urgência, bem como em outros serviços, existe ruído de menor intensidade, que pode, no entanto, tornar-se incómodo devido aos alarmes sonoros presentes e contínuos dos equipamentos de monitorização dos doentes. Outro factor a ter em conta é o ruído presente no ambiente hospitalar resultante quer, do desenvolvimento normal das actividades terapêuticas, quer o que resulta das visitas, o qual também contribui para um ambiente não terapêutico, muitas vezes descuidado nas diversas instituições hospitalares (Faria, 2008).

De acordo com um estudo realizado por Afonso e Dias num hospital central, onde foram avaliados os níveis de ruído numa unidade de internamento, numa unidade de cuidados especiais, num serviço de apoio e num hall de entrada de grandes dimensões, concluiu-se que os turnos de trabalho têm influência no ruído produzido, sendo o turno da manhã o mais ruidoso e aquele cujos os valores ultrapassaram largamente os níveis sonoros recomendados (2001).

Benavides, citado em Faria, refere tendo em conta o conforto acústico nos diversos ambientes, os seguintes níveis de ruído: (nos hospitais os valores de ruído medidos em

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decibéis devem estar compreendidos entre os 30 e os 35 dB), nas enfermarias, berçários e serviços de cirurgia deverá situar-se entre os 35 e os 40 dB; nos laboratórios e áreas de acesso ao público entre os 40 a 50 dB e nas áreas de serviço entre os 45 e os 55 dB. Considera que o valor inferior de cada um destes intervalos representa o nível sonoro para conforto, enquanto que o limite superior significa o nível aceitável para aquela finalidade. Níveis superiores aos mencionados são tidos como de desconforto (2008). Outro factor de risco de natureza física é a vibração. Os seus efeitos para além de atingirem os profissionais que exercem funções num hospital, os doentes e as estruturas da edificação, atingem também um determinado tipo de equipamentos sensíveis, impedindo o seu adequado funcionamento. Felizmente este tipo de risco é pouco frequente a nível das instituições hospitalares, afectando sobretudo as áreas dos laboratórios e das oficinas (Faria, 2008).

A literatura existente sobre as vibrações em meio hospitalar é escassa, contudo, existe um estudo realizado sobre a exposição a vibrações induzidas pela utilização de instrumentos rotatórios pelos cirurgiões dentistas. Este estudo demonstra que não existe risco ocupacional em termos das vibrações transmitidas às mãos, mesmo operando continuamente ao longo de seis horas de trabalho. Por outro lado, o conjunto de efeitos fisiológicos das vibrações, leva a crer que, fortes oscilações mecânicas diminuem a capacidade de desempenho e em muitas situações aumentam o risco de acidentes de trabalho (Toscano, 2008).

Um outro factor de risco físico é a iluminação. Num hospital os diferentes tipos de utilizadores e as diversas actividades realizadas requerem cuidados particulares e especializados, no sentido de ser proporcionado o adequado bem-estar visual. Assim, a questão da iluminação, deve ter em conta as salas de cirurgia dos blocos operatórios, as salas de trabalho de enfermagem, as enfermarias e os laboratórios. A iluminação insuficiente nestes casos pode dar origem a consequências graves quer para o profissional quer para o doente. Para diminuir os riscos nas salas de cirurgia, a iluminação eléctrica deve ser feita com focos de 24 volts. A adequação da iluminação nas salas de preparação dos doentes para cirurgia ou mesmo para a realização de um simples exame, como por exemplo um electrocardiograma, contribui muito para a redução de acidentes de trabalho (Faria, 2008).

O reconhecimento dos riscos referentes à iluminação pode, entre outros factores, ser identificado quer pelas queixas dos profissionais, quer pela investigação e análise dos

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acidentes ocorridos por iluminação deficiente, inadequada, ou ainda pela verificação de áreas sombreadas nos locais de trabalho (Faria, 2008).

Uma das funções da arquitectura é garantir ao homem condições térmicas compatíveis com o conforto ambiental humano no interior dos edifícios, independentemente das condições climatéricas exteriores. No entanto, a intervenção humana, no acto da construção dos edifícios, altera as condições climáticas locais, das quais também depende a resposta térmica do edifício (Ribeiro, 2007). Em contexto hospitalar, apesar de ser dado grande ênfase ao conforto ambiental para a recuperação dos doentes, existem serviços onde o ambiente térmico pode originar situações de stress térmico (Silva e Corrêa, 2008). Para além disso, existem determinados locais nos hospitais, por exemplo, as centrais térmicas, as centrais de esterilização, que são particularmente susceptíveis a situações de stress térmico (Cabral e Veiga 2008).

Oliveira e Costa (2004), citados em Costa et al. mostraram, através de um estudo do conforto térmico em ambiente hospitalar, que as condições térmicas eram totalmente inadequadas para a recuperação e o restabelecimento da saúde dos doentes e provocavam stress para os diversos profissionais das enfermarias. Concluiu-se que as unidades estudadas necessitariam de uma reestruturação em termos de circulação do ar interior. O aumento do número de ventiladores em funcionamento e a permanência por longos períodos de tempo das janelas abertas, certamente facilitariam uma maior circulação de ar nestes ambientes e, consequentemente, a diminuição das sensações de desconforto térmico (2006).

Algumas das variáveis que interferem no problema do conforto térmico são aquelas que regulam os intercâmbios térmicos e pertencem ao espaço habitado: a temperatura do ar; a temperatura das paredes circundantes; a radiação solar; a velocidade do vento e a humidade relativa do ar (Costa et al., 2006).

Segundo, a publicação de Santos, citado em Faria, no que diz respeito à qualidade do ambiente hospitalar, a OIT, recomenda que nos locais de trabalho onde são executadas actividades que exijam solicitação intelectual e atenção constante, como é o caso dos hospitais, devem verificar-se as seguintes condições de conforto:

• Índice de temperatura efectiva no inverno entre 20 a 24°C, e no verão entre 23 e 26°C;

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• Velocidade do ar no inverno 0,12 m/s (metros por segundo), e no verão 0,25 m/s;

• Humidade relativa do ar entre 40% a 65%;

• Renovação do ar deve ser de 25 m3 por pessoa e por hora (2008).

3.6. Risco mecânico

As lesões mecânicas estão directamente relacionadas com as condições de trabalho dos profissionais de saúde e sendo muito frequentes em contexto hospitalar, abrangem as diversas categorias profissionais.

Os riscos mecânicos estão sobretudo associados aos perigos que resultam das condições das instalações, da disposição dos espaços e do seu estado de conservação, da manipulação de equipamentos ou máquinas, da utilização de ferramentas inadequadas ou defeituosas e do armazenamento de materiais.

Faz-se notar que os riscos mecânicos podem originar lesões, do tipo cortes ou picadas, que não se encontram associadas ao risco biológico ou ao risco químico.

No quadro seguinte apresentam-se alguns dos riscos mecânicos presentes em meio hospitalar e as respectivas lesões a que os profissionais se encontram expostos:

Tabela 2 - Riscos mecânicos e respectivas lesões

Riscos Mecânicos Alguns exemplos de lesões mecânicas

Espaço exíguo (entre camas, entre máquinas) Contusões;

Luxações.

Super-aproveitamento dos espaços (armazenamento de materiais em altura)

Contusões; Esmagamento; Luxações.

Manipulação de objectos ou equipamentos com saliências e esquinas

Contusão; Traumatismos; Luxações.

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Riscos Mecânicos Alguns exemplos de lesões mecânicas Manipulação de objectos cortantes e perfurantes

(sem agentes biológicos ou químicos)

Cortes; Picadas; Amputações

Transporte de materiais, máquinas, equipamentos em espaços insuficientes

Esmagamento; Traumatismo.

Manipulação de materiais com temperaturas elevadas

Queimaduras.

Pavimento húmido ou em mau estado de conservação – Quedas ao mesmo nível

Entorses; Fracturas; Traumatismos.

Utilização de ferramentas inadequadas Cortes;

Esmagamento.

3.7. Risco eléctrico

A electricidade estática é outro dos riscos ocupacionais a que os profissionais de uma instituição hospitalar estão expostos, e que decorre de um fenómeno associado à acumulação de cargas eléctricas em qualquer material condutor, semicondutor ou isolante.

A justificação para a ocorrência deste tipo de choques é normalmente atribuída a excessiva quantidade de ar seco (com baixo teor de humidade relativa), o qual sendo isolador, não permite que as descargas eléctricas se façam de forma contínua.

O aparecimento de electricidade estática em unidades de saúde deve-se, em grande parte, à presença de diversos equipamentos eléctricos e a uma deficiente manutenção dos mesmos e condução dessas cargas à terra. Por outro lado, a acumulação de cargas eléctricas no corpo humano (e posterior descarga) pode ocorrer devido ao atrito entre o pavimento e o calçado isolador, com solas sintéticas, como acontece, por exemplo, com os socos utilizados em inúmeros serviços assistenciais e blocos cirúrgicos (Arrabaço, 2008)

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CAPÍTULO IV – ACIDENTES DE TRABALHO EM MEIO

HOSPITALAR

4.1. Enquadramento legal

Os acidentes de trabalho têm ao nível da legislação nacional um bom suporte legal, encontrando-se definidos os conceitos de acidente, bem como a respectiva reparação dos danos.

O Decreto-Lei n.º 100/97, de 13 de Setembro é uma lei-quadro que aprova o regime jurídico dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais e abrange todos os funcionários por conta de outrem.

Posteriormente, devido à necessidade de clarificação do regime legal dos acidentes em serviço (designação utilizada na administração pública para acidentes de trabalho) e das doenças profissionais na administração pública, é publicado o Decreto-Lei n.º 503/99 de 20 de Novembro que estabelece o regime jurídico dos acidentes ocorridos e das doenças profissionais ao serviço da administração pública, uma vez que a última publicação era de 1965 e encontrava-se perfeitamente ultrapassada e desenquadrada das novas exigências.

Conforme o Decreto-Lei n.º 503/99 de 20 de Novembro, o conceito de acidente em serviço é considerado como “… o acontecimento não intencional inesperado que se

verifique no local e no tempo de trabalho. Acidente que se verifique no local de trabalho e produza directa ou indirectamente: lesão corporal, perturbação funcional, doença e que cause a morte, ou redução da capacidade de trabalho ou de ganho…” no

capítulo II, secção I, no artigo 7 a qualificação do acidente em serviço é “(...) todo o que

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Figura 2 - Existência de programas ou planos de segurança, higiene e saúde no trabalho (Fonte: Durão, 2009)
Tabela 1 – Evolução do número de casos de tuberculose em profissionais de saúde da Região Norte do País   (2000-2004)
Tabela 3 - Distribuição dos acidentes de trabalho associados ao risco mecânico na unidade local de saúde do Baixo  Alentejo (2007/2008)
Figura 5 - Caracterização da população alvo atendendo à categoria profissional e ao género
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