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Algumas palavras sobre os efeitos, tratamento e meios de prevenir o esfalfamento mental

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ALGUMAS PALAVRAS

SOBRE OS EFFEITOS, TRATAMENTO E MEIOS DE PREVENIR O

IIRTAL

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(3)

FRANCISCO IGNACIO PARRA

Algumas palavras

SOBRE OS EFFEITOS,

1 TRATAMENTO E MEIOS DE PREVENIR O

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DISSERTAÇÃO INAUGURAL APRESENTADA A*

ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO

£»

PORTO

PAPELARIA E TYPOGRAPHIA MORGADO 27 — Passeio da Cordoaria — 31

1898

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ESCOLA V E O I H U H 00 PORTO

DIRECTOR INTERINO

DR. AGOSTINHO ANTONIO DO SOUTO

SECRETARIO

DR. RICARDO D'ALMEIDA JORGE

C O R P O D O C E N T E P r o f e s s o r e s p r o p r i e t á r i o s 1." Cadeira—Anatomia dcscriptiva ge

' ral

2.a Cadeira—Physiologia . . .

3 * Cadeira- Historia natural dos me dicamcntose materia medica 4.a Cadeira—Patholngia externa e Ih

rapeuthica externa . . . . 8." Cadeira—Medicina operatória 6." (ladeira—Fartos, doenças das mu

lheros de parlo e dos rtcem-nas eidos

7." Cadeira—Pathologia interna e lhe rapeuthica interna . . . . 8a Cadeira—i linica medica . .

O a Cadeira—Clinica cirúrgica. .

JO.a Cadeira—Anatomia patnologica H.a Cadeira—Medicina legal, hygiene

pnvada e publica e toxicologia J2.a Cadeira—Patholngia geral,

meiologia e historia medica . riiarmacia

João Pereira Dias Lebre. Antonio Placido da Costa. Illydio Ayres Pereira do Valle Antonio I. de Moraes Caldas. Koborto li. do Hosario Frias. Dr. Agostinho Antonio do Souto. Antonio d'Oliveira Monteiro. Antonio d'Azevedo Maia.. Cândido A. Correia de Pinho. Augusto H. d"Abneida Brandão.

tficardo d'Almeida Jorge. Maximiano A. d'Oliveira Lemos. Nuno Dias Salgueiro

P r o f e s s o r e s j u b i l a d o s Secção medica Pedro Augusto Dias. Dr. José Carlos Lopes.

Jose d'Andraile Gramacho. P r o f e s s o r e s s u b s t i t u t o s

Secção medica . . . . j íoío L> da Silva Martins Junior.

' (Alberto Pereira Pinto d'Aguiar. Secção cirúrgica ) Clemente J. dos Santos P. Junior.

' I Carlos Alberto de Lima. D e m o n s t r a d o r de a n a t o m i a Secção cirúrgica Vago.

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\

A Escola' não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação t> enunciadas nas proposições.

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A M E M O R I A

ftlanod gtntoma farm

E DE MINHA CUNHADA

Isabel Maria da rfunfia

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eterna-A MEU CUNHeterna-ADO

Eugénio Celestino cia Cunha

E A MINHA IRMÃ

.

Dylan a $csé "Parra

O vosso irmão e cunhado, reco-nhecido pelo bom acolhimento que me tendes prestado.

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AOS MEUS PROTECTORES

0 ILL.m o E EX.™ SNR.

Mlfredo Wnfante Wassanlia

E A SUA EX.™" ESPOSA

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>aura -Meitâo Wassanha

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T e r e i sempre na lembrança c t»enefioio que me fizestes.

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AOS COMPANHEIROS E AMIGOS DEDICADOS

DA

REPUBLICA DA CAPADÓCIA

Br. Augusto da iunha fiolla Pereira Alexandre da iunha Mia Pereira Adelino da iunha Mia Pereira Ur. íosé Mendes Paiva

Br. Antonio Maria Freitas Monteiro

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AOS MEUS CONDISCÍPULOS

Luis Augusto Ribeiro Vieira de Castro Antonio Joaquim d'0/iveira

Manoel Lopes Pereira Henrique d'A morim Alberto José Baptista

Antonio Maria Freitas Monteiro Aurélio Augusto Rodrigues Seara Miguel das Neves Rodrigues Francisco José Martins Morgado José Maria de Mesquita

Antonio Rodrigues Gomes Antonio Joaquim Sousa Junior Rodolpho Augusto da Silva Telles José Antunes Rodrigues

Manoel Duarte Roque Belmiro Antunes Braga

Procopio da Silva Pereira Caldas Valentim Dias de Castro Azevedo

Um afFectuoso adeus do vosso condiscípulo agradecido.

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AOS MEUS AMIGOS

Francisco Ferreira Figueiredo ieitão ilemente Moreira

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A MEU PRESIDENTE

ILL,"1" E EX,"1" SNR.

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& © ê ©I ê J3^ ® & Q Q Q S >3< '5S I al 9

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EFFEIT05 DÕ ESFALFAMENTO MENTAL

O esfalfara en to mental representa para a so-ciedade contemporânea um perigo mais sério que Carthago para a Roma antiga, e nós devemos so-mente desejar encontrar na epocha actual um ho-mem tão auctorisado, e tão tenaz, como Portins Caton, para fazer vêr á geração moderna o perigo que a ameaça.

Caetero censeo asthediam frontalem delen-darn esse.

Vejamos presentemente em que, e de- que feitio, se manifesta o esfalfamento mental.

Os primeiros symptomas traduzem-se por um mau humor do individuo, estado de tristeza, ex-cesso de excitabilidade, um descontentamento de si e de tudo o que q cerca, e pela tendência a procurar novas impressões e novas excitações. A attenção enfraquece-se, assim como toda a acti-vidade nervosa coordenada. Os doentes não po-dem concentrar a sua attenção por muito tempo sobre qualquer cousa ; os seus pensamentos, e as

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suas representações não lhe obedecem, e quando desejam pensar em tal ou tal questão determina-da concebem involuntariamente pensamentos, representações de toda a natureza extranhas á questão, distrahindo-os n'esta ou n'aquella direc-ção. E' por isso que notamos n'esses indivíduos uma maior ou menor distracção, e uma falta d'at-tenção. E' evidente, n'um semelhante estado da esphera psychica, isto é, em tal estado de enfra-quecimento de coordenação e de disciplina, que o homem perde em grau mais ou menos elevado a faculdade de se governar; toda a emoção come ça a manifestar-se com mais energia, isto é. toda a emoção provoca n'elle actos reflexos mais ou menos generalisados, mais ou menos desordena-dos. O esfalfamento mental, frequentemente re-petido, pôde conduzir os indivíduos fortes, e bem desenvolvidos, a uma hysteria completa, de ma-neira que se põem a esfriccionar a cada impres-são inesperada, manifestando-se por um terror singular, e por uma impressionabilidade exage-rada.

Nota-se n'elles bocejos nervosos e gargalha-das hystericas. Queixam-se incessantemente de experimentarem sensações, différentes e extra-nhas; e dores indefinidas em todo o corpo; ao mesmo tempo, o estado do seu humor altera-se sem motivo algum; e sem saberem porque, sof-frem uma tristeza universal, e experimentam uma alegria convulsiva que lhes não é de todo

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nha. Torna-se ainda necessário notar que a me-nor bagatella os excita, e lhes tira a faculdade de se orientarem.

Os factos mais importantes, e os successes mais ruidosos não provocam n'elles reacção al-guma, tolerando-os com indifferença e apathia. Em geral, esse estado vem sempre acompanhado de cephalalgias mais ou menos frequentes, mais ou menos violentas, e quasi sempre complicadas d'affecçoes mórbidas nos outros órgãos. Não é raro vêr em doentes d'essa natureza, desenvolve-rem-se perturbações gástricas, nervosas, a dyspe-psia nervosa com o cortejo de symptomas que lhe andam associados: irregularidades na acti-vidade do coração, accessos d'angina do peito, uma alteração geral da nutrição e albuminuria. Um tal estado pôde ser bem funesto. Tem-se dado occasiões, em que occupações continuas e uniformes, em consequência de exames ou de concursos, provocaram a asthenia mental, e a alie-nação.

Mas os factos d'esse género são bem mais raros que aquelles em qne a fadiga, e o esfalfa-mento do systema nervoso central, produzem a perturbação geral da nutrição, de que resulta um estado mórbido permanente, e o enfraquecimen-to vital do ser doente. A irregularidade na escri-pta e nas palavras é o symptoma mais precoce do esfalfamento mental; os indivíduos que soffrem d'essa doença, não teem a faculdade de assimilar

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d'uma só vez tal ou tal nome próprio, e tal ou tal substantivo, notando-se frequentemente nos seus discursos ideas abstractas, como : ah ! «como fal-iam» «isto é» etc...

E' também d'uso frequente em taes enfermos o emprego d'um termo, em vez d'outro ; assim em logar de prato, empregam os termos: taça, forquilha...

N'outros casos, tudo se limita ao esquecimen-to involuntário das palavras que se esquecimen-tornam ne-cessárias ti'um dado momento, e os doentes d'es-se género são um excellente exemplar, para mos-trar a que ponto se torna incommodo um desar-ranjo de coordenação na actividade do systema nervoso central.

O enfermo faz os maiores esforços por em-pregar um termo que lhe era bem conhecido, mas o impulso da vontade não segue o caminho que lhe foi indicado, isto é, desviando se para um ou outro lado, provoca a actividade de elementos, e de apparelhos, de que não precisa n'esse momen-to, sendo assim coagido a pronunciar termos que lhe não servem.

Em taes casos, vemos claramente como a in-fluencia nociva da incoordenação, se repercute sobre os actos psychicos relativamente elemen-tares, e é evidente que taes perturbações da„acti-vidade coordenadora do systema nervoso central, devem induzir a resultados os mais complicados, e os mais malignos, toda a vez que actuem sobre

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os actos psychicos de mais alta importância e de maior complexidade.

Assim, como acabamos de vèr, o doente não encontrando o termo preciso, pronuncia irresis-tível e involuntariamente outro. Egnalmente suc-cède, que em logar d'uma representação, d'um sentimento, e d'um pensamento desejado, são ou-tras representações, outros sentimentos e outros pensamentos que lhe affluem, tornando-se assim um servus a mandatis do seu systema nervoso incoordenado.

Tudo isto quer dizer, que n'um dado momen-to, o mechanismo por meio do qual brotam no homem as representações e as idêas irresistíveis, que absorvem toda a sua attenção, é inutilisado; porque evidentemente são os elementos e os ap-parelhos do systema nervoso, os menos fatigados, e que dispõem d'uma maior energia, os que tam-bém são mais susceptíveis de semelhante activi-dade automática; e d'esta arte, por um exercí-cio continuo, chegam a adquirir um predomínio mais intenso, e o resultado será o avassallamen-to do individuo por certas ideas e por certas re-presentações irresistíveis.

Meynert reconheceu que tudo o que enfra-quece a energia das circumvoluções cerebraes contribue para o apparecimento das representa-ções involuntárias, das allucinarepresenta-ções, e das idêas falsas. Além d'isso provou que um tal estado d'apathia cerebral, se manifesta era todos os'

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fermos em que a actividade psychica está desi-quilibrada, e incoordenada ; nos hypochondricos etc... Kostermann, um dos defensores da pre-cedente opinião, affirmou que uma tal fadiga, e um tal estado de esgotamento conduz os enfer-mos a uma depressão tal, que reconhecem a necessidade de excitantes, que os defendam ain-da que provisoriamente ain-das imagens importunas e penosas, e dos pensamentos enfadonhos e in-cohérentes. Está plenamente assente, que o uso de taes excitantes artificiaes deve ser funesto a semelhantes indivíduos, porque não fazem mais, que perturbar profundamente a nutrição dos te-cidos do cérebro.

Afinal não devemos perder de vista que toda a incoordeuaeão cerebral, affecta a mutação ge-ral das substancias no organismo, como o pro-vou o dr. Mairet em certas doenças nervosas e men taes.

I

Vimos, que sob a influencia do esfalfamento mental, os doentes se esquecem muitas vezes das palavras proprias, substituindo-as por outras menos apropriadas; mas nem sempre se limitam só a esses symptomas.

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tos cerebraes que governam a linguagem do ho-mem, continua a sua marcha, tornando a ex-pressão mais difficil e o discurso menos fluente; não podendo os doentes por vezes acabar a phrase começada, e chegando por fim á perda completa da falte; desenvolve-se pois n'elles uma aphasia que pôde desapparecer sob a influencia do repouso e d'uma abundante alimentação, e de boa qualidade, para se reproduzir com a reappa-rição do esfalfamento ; e assim até que tal as-thenia produza lesões irreparáveis.

Durante esse estado de fraqueza mental, no-ta-se antes de tudo na escripta dos doentes a omissão das ultimas letras das palavras, isto é, a omissão das terminações, ou ainda uma repeti-ção absolutamente inutil das letras, das palavras, e das suas terminações; mas este ultimo pheno-meno observa-se muito mais raramente que o da omissão. As palavras omittidas consistem pela maior parte em nomes substantivos que se en-contram nos incisos e nas definições. Se o doente está ainda no começo da phrase, não se submet-te jamais, ao passo que se submetsubmet-te no caso con-trario.

Nos manuscriptos procedentes de doentes afï'ectados d'asthenia dos lobos frontaes, dão-se omissões de todas as espécies, e nota-se que as terminações são omittidas 40 p. 100; os nomes substantivos 28 p. 100 ; as preposições, os pro-nomes e os adjectivos numeraes 15 p. 100; e a

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transposição das syllabas duma palavra n'outra, dá-se na'proporção de 5 p. 100.

Vemos pois que omittem assim na lingua-gem, como na escripta, sobretudo os substanti-vos, isto é, as partes do discurso que represen-tam essencialmente a encarnação das concepções abstractas do homem, a encarnação das idêas. E isto é perfeitamente comprehensivel, pois que todo o agente nocivo affecta e perturba os ele-mentos mais desenvolvidos, e por consequência os elementos e os apparelhos do systhema ner-voso centra], mais recentemente differenciados. Das observações feitas acerca do desenvolvimen-to da linguagem nas crianças, o das investiga-ções sobre a marcha das idèas nos homens de différentes edades e de desenvolvimento des-igual, tira-se a firme conclusão de que, a lingua-gem humana começa por interjeições e verbos, emquanto que os nomes substantivos represen-tam Requisições relativamente tardias. Assim por exemplo, estudando as associações das idèas, convencemo-nos de que, quanto mais um indivi-. duo se encontra n'um grau de desenvolvimento

mais inferior, tanto mais perdominam nas suas associações, as noções d'actos, e de qualidades ; da mesma forma, as acquisições mais tardias, e

mais próximas do systema nervoso central, são as menos estáveis, e as menos capazes de luetar contra as influencias nocivas, e portanto contra o esfalfamento mental. Concebe-se também, que

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nos homens, que soffrem de asthenia central, a memoria se encontra enfraquecida, sobre tudo no que diz respeito aos successos da vida quo-todiana, e da vida corrente. Os indivíduos d'esse género, esquecem-se de aonde ha uma hora po-zeram tal ou qual objecto, do que diz a sentinel-la, e do que resolveram fazer...

Na cópia d'um livro são coagidos a consul-tar mui frequentemente o original, porque não são capazes de reter mais de duas ou três pala-vras no mesmo tempo; mas pelo contrario res-suscitam na sua consciência factos, conhecimen-tos, successos, e sentimentos d'um passado re-moto, e de ha muito esquecidos. Nas crianças que sabem ainda copiar do original, a asthenia dos lobos frontaes manifesta-se d'uma forma mui nitida sobre o que escreveram dictando ou co-piando ; mas é evidente, que para emittirmos um juizo exacto, precisamos saber d'antemao, como as crianças escrevem no estado normal.

Sob esse ponto de vista, as observações do dr. Sykorsty, apresentam um interesse assaz par-ticular. Comparando 4:500 dictados, feitos por crianças, o 1." de manhã, antes do começo das classes, e o 2.° no fim das classes, apontou em cadernos o numero dos erros que não depen-diam do saber, nem da ignorância, e que podepen-diam ser prevenidos pela vontade e pela attenção, com a condicção de que a actividade do machinismo psychonervoso funccionasse segundo uma ordem

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m

perfeita, e de que a actividade dos centros cere-braes fosse bem disciplinada, e assas coordenada. Ora é sabido, que no estado d'asthenia mental a .actividade coordenada é transtornada.

Em todas as classes se encontra o mesmo resultado, a saber: o numero d'erros nos dicta-dos, feitos depois das classes era maior que nos dictados, feitos antes das classes; a mediado nu-mero dos erros era: na primeira classe, antes das licções 123,56 p. 100 ; depois das licções 156,68 p. 100; na segunda classe antes das licções 121,48 p. 100, depois das licções 145,27 p. 100; na terceira classe antes das licções 72,44 p. 100, depois das licções 108,88 p. 100 ; na quarta classe antes das licções 66,47 p. 100, depois das licções, 94,20 p. 100; na quinta classe, antes das licções 61,39 p. 100, depois das licções 81,06 p. 100 ; na sexta clas-se antes das licções, 45,70 p. 100, depois das lic-ções, 80,05 p. 100. Do que íica dito, parece natu-ral admittir-se, que se a questão do esfalfamento mental dos lobos frontaes fosse bem estudada, e elucidada nas crianças, um grande numero d'er-ros chamados distracções, e negligenciadas crian-ças, se reduziriam simplesmente a erros de fa-diga excessiva de certas partes do cérebro, em virtude de estudos monótonos.

Os symptomas mórbidos não se manifestam com a mesma intensidade em todos os enfermos, e essa diíferença dlntensidade resulta das susce-ptibilidades individuaes, e da organisação de cada

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doente, assim como da natureza dos agentes que provocaram a doença.

Segundo as observações feitas, os indivíduos que soffrem de fadiga cerebral, apresentam dois quadros mórbidos différentes. Uns são frios, apa-thicos, e indifférentes mesmo ás cousas que em condições normaes, deviam commovel-os. Quei-xam-se pela maior parte de cephalalgias, d'uni desgosto da vicia, e de peso de cabeça, mormen-te na região frontal. A sua conversação é mais lenta que no estado normal, e muitas vezes não se recordam dos termos de que precisam, offe-recendo a sua escripta as omissões e os erros supracitados. Althaus notou que a sua escripta se pôde modificar, escrevendo lentamente, e que cada letra lhes occasiona maiores vertigens que o ordinário. As observações têm egualmente de-monstrado, que os asthenicos são affectados de uma somnolentia assaz accentuada, dormindo muito sem que o somno os alivie, acordando com cephalalgia, com um sentimento de abatimento geral, e com extrema diffículdade de movimen-to dos membros, parecendo-lhes que teem chum-bo nos pés. A sua face é tumefacta, a íris rea-ge mal á luz; taes enfermos não ouvem muitas vezes as perguntas que lhes dirigem, e as obser-vações que lhes fazem. N'outros casos de esfal-famento mental, os doentes distinguem-se por uma excitabilidade, e uma inquietação excessi-vas ; a menor coisa os incommoda e os

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ta; a linguagem é intercortada e não continua. Na escripta como na linguagem obseryam-se não só as omissões, mas também as repetições de letras, bem como de palavras inteiras. Tendo-se procedido á contagem do numero de repeti-ções na escripta, encontrou-se que em 70 repe-tições 40 eram em favor' dos verbos, 20 dos advérbios, dos pronomes, e dos adjectivos nu-meraes, e. 10 dos nomes substantivos, dos adje-ctivos e das interjeições.

Por conseguinte as omissões dão-se espe-cialmente nos substantivos, e as repetições nos verbos. O que se concebe perfeitamente, porque os substantivos representam por assim dizer ura producto de maior desenvolvimento, e de maior diferenciação da linguagem humana e por con-seguinte do systema nervoso central; logo que uma região do cérebro é tornada anormal e pa-thologica em virtude do esfalfamento cerebral, são os mechanismòs mais elevados, e as aequisi-ções mais recentes, que serão mais enfraqueci-das, e mais affectadas d'onde se conclue que to-da a excitação, e toto-da a congestão sanguínea accentuada, provocando a supra actividade dos différentes elementos nervosos, se repercutirá com maior intensidade sobre os elementos

me-nos enfraquecidos, e mais intactos, e portanto cada augmento da actividade ha-de necessaria-mente actuar d'uma maneira mais accentuada

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sobre as acquisições mais antigas, e sobre o mais primitivo meio cerebral.

Como consequência, é licito dizer-se que no surmenage mental, são os verbos sobre tudo que se repetem, e os substantivos que se omittem. O que se adquire mais cedo, conserva-se mais tempo, e resiste mais tempo á influencia da doença. Antes da linguagem articulada, os ho-mens primitivos, da mesma forma que os nos-sos filhos, limitavam-se a interjeições, a certas exclamações imitativas, e assim foi que sob o influxo d'uma degeneração completa do typo humano, nos idiotas privados da falia, não se en-contra algum traço de linguagem humana, sub-stituído por différentes sons recordando os gri-tos dos animaes, isto é, que n'esses idiotas o pro-cesso demolidor, aboliu tudo, salvo os primeiros sons adquiridos pela humanidade.

A marcha ulterior da destruição, e do pro-cesso de degeneração deve conduzir a ura mu-tismo completo, ao silencio da morte.

Todas as cousas n'este mundo têem certos limites que se não podem transpor. Comtudo, nos indivíduos que soffrem d'asthenia central, e manifestam uma excitabilidade exagerada, e uma tendência a repetições, nota-se na sua lin-guagem a tendência a empregar os superlativos ; encontrando tudo mui bello, mui alegre, e mui

triste.

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vezes n'elles dão-se na primeira forma do esfal-famento mental. N'essa forma, os doentes toem muitas vezes idêas importunas, a memoria lhes recorda involuntariamente os versos que apren-deram nos seus primeiros annos, e em geral to-da a espécie to-da activito-dade intellectual que lhes era natural na infância, e na mocidade, se tor-nou desmesurada, e sem utilidade.

O dr. Meyer nos cita a observação d'iim juiz, sobrecarregado de trabalho, e sobre o influ-xo do esfalfamento mental, que apresentava uma tendência irresistível a toda a espécie de calcu-lo numérico, somente porque durante a sua mo-cidade se tinha dedicado assaz ás mathematicas, tendo mesmo leccionado essa sciencia. Essa ten-dência era n'elle tão intensa que não podia vol. tar do tribunal a sua casa, sem contar todas as janellas, vidros, e as traves de todas as casas que

encontrava no caminho, e resolvia esses proble-mas com notável presteza. Essa propensão para os cálculos involuntários manifestava-se n'elle, cada vez que estava fatigado pelas longas cogita-ções do tribunal. Os doentes d'esté feitio soffrem ordinariamente de insomnia, e muitas vezes são victimas de migraine, acompanhadas de illusões visuaes, isto ê, de enxaquecas a que Charcot cha-mou ophtalmicas. Althaus notou também que a força muscular d'esses doentes não soffre

altera-ção, e, que pelo contrario, os diversos movimen-tos musculares delicados, que precisam d'uma

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stricta.coordenação, são desregrados ; esses doen-tes ferem-se facilmente, quando se barbeam, co-mettem graves erros quando tocam piano, e no-ta se n'elles uma cerno-ta incapacidade para os mo-vimentos musculares que exigem finura e ligei-reza. Não são jamais aptos para coser, para fazer preparações microscópicas, para fazer meia, e para se abotoarem ; tudo lhes parece difPicil. Al-thaus diz que o esfalfamento dos lobos frontaes, apresenta muita anologia, com a paralysia geral dos alienados, e que, como temos indicado, se desenvolve sobretudo, e cada vez com mais in-tensidade, nas ultimas dezenas d'annos, nos indi-víduos absortos por um trabalho intellectual.

Antes de terminar com a descripção dos symptomas do esfalfamento mental, julgo conve-niente referir uma observação do professor Al-thaus. Segundo elle o doente era um homem d'estado que gosava boa fama, e se distinguia por seu fino espirito, por uma memoria fértil, é por uma elevada erudicção. Em 1879, depois de occu-pações intellectuaes assíduas, o doente começou a sentir, que a sua palavra não fluia tão livre-mente, como antes, mas não prestou mais atten-ção a isso, do que a outros symptomas mórbidos, como cephalalgias.

Em 1880 o seu estado peorou, começando uma arenga na camará dos grandes, chegando ao fim da primeira metade ainda que com extre-ma difíiculdade; por fim perdeu o fio do seu

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dis-40

curso, e na impossibilidade de proferir uma pa-lavra, resmungou qualquer cousa, incomprehen-sivel, e sem nexo, vendo-se coagido a pedir des-culpa, e a recolher ao seu logar. O doente quei-xava-se, de que estava intimidado, mas na reali-dade isso não era senão um pretexto, porque não sentia timidez alguma, e se não terminava o dis-curso, era em virtude d'um estado, de que não podia dar conta. Este incidente obrigou o lord F. a dirigir-se a Althaus, a quem confessou que ha-via notado nos últimos annos um enfraquecimen-to da memoria ; assim, esquecia facilmente os ata-ques dos collegas, o que acabava de 1er, e as con-versações dos negócios do Estado.

Referia também que sentia na cabeça, não uma dôr, mas um desprendimento completo da vida, e parecia-lhe, que o cérebro se tinha tor-nado mais fino, e mais liquido; que podia ain-da escrever com graça, mas expunha as cartas com menos lucidez que outr'ora, notando-se-lhe erros orthographicos, e omissões importantes. No resto o doente não deixava nada a desejar. Al-thaus reconheceu n'elle a existência do esfalfa-mento mental, receitando-lhe um trataesfalfa-mento con-veniente, com que o lord F . . . se restabeleceu. Nos casos em que o estado mórbido, nervoso central, provocado pelo esfalfamento, se estende á região motora do cortex cerebral, os doentes são jamais incapazes de executar movimentos prolongados; os músculos fatigarn-se-lhes

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mente, tornando-se dolorosos com trabalhos in-significantes. Além d'isso, não podem permane-cer muito tempo no mesmo logar, vendo-se obri-gados a mudar frequentemente de posição. Nota-se também n'elles um tremor dos membros acom-panhado de contracções fibro-musculares. Por vezes a fraqueza muscular, termina n'uma hémi-plagia, e mesmo na paralysia completa.

E' emfim necessário ainda mencionar que os indivíduos que soffrem de esfalfamento mental, sentem calafrios durante o somno em todo o cor-po, ou em tal membro. Se o estado anormal se prolonga a outras partes do cérebro, pôde appa-recer uma surdez nervosa, isto é, um enfraqueci-mento do ouvido, que se não acompanha d'algu-ma alteração na estructura do ouvido médio ou esterno, podendo-se não obstante, observar

allu-cinações auditivas. Depois de ter apresentado a exposição dos symptomas mais importantes por-que se manifesta a asthenia mental, por-que tão desastradas consequências produz na sociedade contemporânea, julgo conveniente começar com as medicações que a cada um compete.

TRATAMENTO

Em que deverá pois consistir o tratamento do esfalfamento mental ? Tem-se obtido

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excellen-4l2

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tes resultados pela electrisação cerebral; além disso aconselha-se também receitar aos doentes diversos meios próprios para fortificarem o sys-tema nervoso, como os compostos do phosphoro, do arsénico, da estrychinina, e do bromo re to de potassa... Mas o tratamento especifico, deve va-riar com o caracter predominante de cada caso ; assim, logo que os doentes são apathicos, isto ó, logo que ha rasões para crer na anemia cerebral, torna-se necessário receitar-lhes excitantes, e tó-nicos ; mas, se pelo contrario, são os phenomenos de excitação que predominam, se os doentes se mostram muito agitados, cuidadosos, e inquie-tos. . e se têem insomnia... n'iima palavra se tudo parece indicar a presença d'uma congestão sanguínea cerebral, e a presença de stases pas-sivas no cérebro, empregar-se-ha com efficaz re-sultado a medicação calmante e derivativa. Tem-se obtido bom resultado pelo uso de banhos frios e de massagens, e também pela applicação de compressas, humedecidas em agua fresca, e ba-nhos duches de agua fria. Além d'isso é também conveniente despertar a actividade anormal do apparelho digestivo e da sustentação, quando se tornar preciso pelo emprego dos saes neutros. Os duches d'agua fria, a applicação de bexigas com gelo são efficazes, porque auxiliam a cons-tricção dos vasos cerebraes, que em consequên-cia d'uma actividade intellectual continua, se en-chem d'uma quantidade excessiva de sangue,

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que pela repetição frequente, produz o enfraque-cimento das paredes vasculares, e a diminuição da tonicidade ; effeito que dá em resultado a ex-clusão da possibilidade das contracções e das di-latações alternantes, que tão necessárias se tor-nam em todas as formas da actividade cerebral.

As experiências pléthysmographicas de Mos-so, demonstram que toda a concentração da at-tenção sobre uma sensação qualquer, e que todo o esforço da actividade psychica, se acompanha d'um affluxo de sangue ao cérebro, e d'um reflu-xo aos membros. Depois do repouso d'um traba-lho intellectual, o sangue afflue em maior quan-tidade aos membros e á periphêria do corpo ; o que se torna necessário, porque segundo as observa-ções de Durkam é fora de duvida, que para a nu-trição do tecido cerebral, e para o restabeleci-mento das forças gastas durante a actividade ce-rebral, precisa-se d'uma circulação mais lenta, que os vasos se contraiam, e que os espaços pé-rivasculares se encham de liquido plástico, for-necendo aos elementos cerebraes á materia nu-tritiva de que carecem. Por conseguinte tudo o que enfraquece a contractibilidade dos vasos ce-rebraes diminue-lhe a actividade.

Durante um trabalho intellectual e d'um pe-ríodo da actividado psychica, o sangue passa com rapidez pelos vasos sanguíneos dilatados do cé-rebro, cujas paredes se applicam directamente sobre o tecido cerebral, porque os espaços

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vasculares vasios são comprimidos n'estes indi-víduos; esta circumstaucia favorece assaz a tro-ca gazosa entre o tecido cerebral e o sangue, em quanto que a troca plástica se encontra reduzida ao minimo; é o motivo porque os productos da metamorphose regressiva, que devem ser elimi-nados do corpo, se accumulam em quantidade tanto maior quanto mais a actividade cerebral se prolonga. Entre os productos da metamorphose regressiva, se encontra o acido láctico que possue, como sabemos, propriedades soporificas, e que, por conseguinte, accumulando-se no organismo, provoca a somnolencia e o somno no homem. Du-rante o somno o sangue reflue do cérebro e af-flue para as pernas, para os braços e para toda a peripheria do corpo. A realidade d'estas conside-rações pôde ser verificada não só pelo plethys-mographo, mas também pela balança de Mosso. Assim, o somno apresenta as condições requeri-das para a nutrição plástica do tecido cerebral, e para a recompensa das despegas que soffreu esse tecido durante a sua actividade. Comprehende-se que assim seja, porque uma insomnia longa e per-severante deve sempre inspirar-nos o receio de se ver desenvolver no tecido cerebral, perturba-ções irreparáveis. Além d'isso no esfalfamento mental, é evidentemente necessário interromper as occupações que o occasionaram ; mas não se deve condemnar d'alguma forma os doentes a um repouso completo da actividade cerebral, pois que

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para a vida normal, a actividade é tão necessária como a nutrição.

Apoiando se em certas observações de doen-tes nervosos, chegaram diversos clínicos á con-clusão de que uma vida monótona e ociosa, pro-voca mais doenças que os trabalhos exagerados. E continuando n'esta ordem de idêas, reflectin-do attentamente nos différentes reflectin-doentes que sof-frem d'asthenia mental, chega-se á conclusão de que é nas classes ricas, opulentas o civilisadas que se dão com mais frequência as doenças ce-rebraes, e principalmente n'aquellas que durante a mocidade mais soffreram sob a influencia noci-va dos estudos, ficando desde esse tempo mais ou menos affectadas, e propensas a essa asthe-nia.

Além d'isso, as classes opulentas e civilisa-das, apesar de uma ociosidade sem limites, podem todavia abusar da leitura, e continuar a fatigar o systema nervoso central, não menos que os que dispõem d'uma grande energia d'actividade.

Submettendo tudo o que precede, a uma criti-ca rigorosa, concebe-se que a monotonia prejudicriti-ca a existência, mas não demonstra a acção pernicio-sa da ociosidade, tal como os homens de scien-cia, em geral a percebem.

Todo o homem que para melhorar a saúde segue uma vida ociosa no sentido ordinário da palavra, e que estimula a sua intelligencia com uma serie de novas impressões, e de novos

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contros, de que Althaus falia, taes como diver-sões e viagens, atténua a asthenia mental.

O esfalfamento, repito, resulta não tanto do excesso e do trabalho intellectual exagerado, co-mo da sua uniformidade, e é por isso que a lei-tura, não acompanhada da actividade independen-te do pensamento, pôde ser perigosa, porque pro-voca a actividade dos elementos cerebraes, e por conseguinte prejndica-os: 1.° fatigando certas re-giões cerebraes, e 2." deixando sem exercicio ou-tras regiões do mesmo.

II

E' muito mais importante para todas as doen-ças em geral, e para o esfalfamento em particu-lar, sabel-as prevenir, do que ter de as tractíir. E a questão de saber prevenir o esfalfamento men-tal, é d'um grande interesse para as escolas, e para todos os estabelecimentos de instrucção pu-blica, porque esse estado mórbido, desenvolven-do-se na infância e na mocidade, tem uma influen-cia mais funesta do que se fosse na edade adulta da vida humana. Isto é bem evidente, pois que todo o desarranjo da nutrição cerebral, assim co-mo da actividade funccional, deve exercer uma acção particularmente nociva na edade, em que

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o desenvolvimento dos elementos cerebraes, não tiveram ainda tempo de se fortificar.

Ha uma opinião corrente do publico, que diz que as crianças soffrem muito bem todas as es-pécies de doenças, e que estas não lhes deixam alguma tara maligna; mas as investigações sobre o desenvolvimento mostram segundo Galton, que toda a doença soffrida por uma criança produz uma suspensão mais ou menos importante no desen-volvimento physico, que se não regenera jamais no futuro. Esta observação refere-se especialmen-te ás suspensões de toda a natureza, sobrevindo na marcha regular do desenvolvimento cerebral. E' pois necessário saber-se, dispor dos meios de determinar dantemão a possibilidade do appare-cimento da asthenia cerebral, e na affirmativa, porque methodos podemos fazel-o.

Não ha methodo especial para esse género de determinação, mas apoiando-nos nos factos, postos em evidencia pela sciencia, podemos ter a segurança de que certos methodos physiologi-cos nos darão as indicações precisas para esta questão.

Assim, os methodos da mensuração da velo-cidade das sensações podem ser applicados a este género de pesquizas, pois que resulta das investiga-ções d'Obersteiner que durante a fadiga do cére-bro, o homem tem necessidade d'um intervallo de tempo mais longo para reconhecer uma sensação exterior, como por exemplo, o contacto da mão.

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A medida da velocidade das sensações (isto é, a medida do período de reacção) consiste nas ma-nipulações seguintes: toca-se com uma vareta na mão esquerda do individuo, e a experiência é es-tabelecida de tal sorte, que no momento em que a vareta fere a mão, uma corrente eléctrica se fe-cha, e essa oclusão inscreve-se n'um cylindro em movimento, no instante preciso em que o indivi-duo sentiu o toque na mão esquerda. Deve pre-mer com a sua mão direita uma alavanca, sobre a qual se encontra posto d'antemao o seu index. Essa pressão fecha um circuito, e esse momen-to é também notado no cylindro em movimenmomen-to, cuja velocidade de rotação é conhecida.

Pela distancia que separa no cylindro as duas indicações, calcula-se o tempo que levou o indi-viduo a perceber uma sensação determinada, e a responder-lhe com um movimento determinado. Quanto mais desenvolvido é um homem, mais curto è o periodo de reacção; ordinariamente os-cila entre 0,13 e 0,33 de segundo. Nos velhos pôde durar 0,98 de segundo. Tudo o que fatiga o homem, como um calor exagerado, diminue a velocidade das sensações. D'esta forma podemos mesmo reconhecer as phases primitivas do esfal-famento mental. Por outro lado podemos utilisai-, para o mesmo fim, a medida da velocidade das associações das idêas. Quanto mais fatigado é o cérebro, mais lento é o apparecimento das diffé-rentes associações, e menor é o numero dos seus

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grupos. Nos últimos tempos Mosso descreveu a balança por meio da qual mede a quantidade de sangue que se transporta sob a influencia das différentes condicções, quer para a cabeça, quer para os membros do individuo em experiência.

Essa balança compõe-se d'uma caixa, na qual se pôde deitar um homem adulto, collocada n'u-ma mesa com três oriíicios, pelos quaes passam três laminas de ferro.

A lamina que atravessa o orificio médio é munida d'uni parafuso do qual se desloca um peso de 25 kilogrammas, que serve para dar á ba-lança maior estabilidade. Pelos orifícios das ex-tremidades da mesa passam também laminas de ferro que prendem solidamente á primeira n'uma direcção obliqua. O peso em forma de cylindro, que desempenha o papel de lastro pôde ser le-vantado ou abaixado á vontade, permittindo as-sim augmentar a sensibilidade da balança. Quan-do o individuo é deitaQuan-do na caixa, é preciso espe-rar alguns instantes antes de emprehender as ex-periências relativas á influencia de tal ou talcon-dicção sobre a distribuição do sangue no corpo ; essa precaução é indispensável, porque os vasos das pernas devem despejar-se antes que o exces-so de sangue se encontre ahi.

Mosso observou mais que, passando da posi-ção vertical á horisontal a quantidade de sangue que reflue das pernas é quasi de 100 centímetros

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Durante o tempo quente a quantidade de san-gue que se accumula nas pernas é maior.

As oscillações da balança na experiência de Mosso, inscreviam-se por meio d'uma pluma sobre o cylindro esfumado em movimento e para assegurar que as oscillações dependiam realmente do sangue, applicava aos indivíduos em experiência plethysmographos particulares. E assim, por meio d'essa balança, reconheceu-se que durante o somno o sangue reflue da cabeça, e durante a vigília afflue a ella. Além d'isso observou-se que todo o trabalho intellectual, e que toda a excitação psychica faz subir o sangue para o cérebro. Basta questionar com o homem que está na balança, propondo-lhe a resolução d'um problema, para que a sua cabeça comece a ganhar sangue, o que se conhece pelo augmento de peso accusado pela balança. Póde-se ainda para verificar esses effeitos, applicar ás mãos e aos pés do individuo plethysmographos, que in-diquem o affluxo e o refluxo do sangue ás ex-tremidades, e d'esta forma nota-se d'uma ma-neira muito nitida que todo o pensamento, e que toda a concentração d'attençao, e mesmo a sim-ples recordação na memoria de certos versos, outrora apprendidos de cor'—tudo isso se acom-panha d'um maior affluxo de sangue á cabeça, e d'um maior refluxo ás extremidades. Com a balança psyco-physiologica de Mosso nota-se d'uma forma nitida todos os desarranjos da

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toni-51

cidade vascular. Nos anemicos e fatigados, a contracção e a dilatação vascular produz-se d'uma maneira fraca e lenta, cuja diminuição da activi-dade é accusada pelo movimento da balança. Gollocando sobre a balança indivíduos novos, e vigorosos, obtem-se um estado de equilíbrio tal, que o sangue que se accumula em excesso nos membros inferiores reflue em virtude da posi-ção vertical, destribuindo-se uniformemente pe-las outras partes do corpo ; porque os vasos das extremidades, tendo as paredes completamente tónicas, excluem logo a possibilidade da accumu-lação, e da stase sanguínea ; e logo que o indivi-duo toma a posição horisontal, esses vasos ex-pellem rapidamente contrahindo-se, todo o san-gue que ahi se encontra em excesso.

Observa-se o contrario nos indivíduos ane-micos, e esgotados nos quaes as paredes vascu-lares estão naturalmente flascas, e privadas do tonos normal.

N'esses indivíduos temos, que esperar algum tempo, antes de obter a distribuição uniforme do sangue, para podermos emprehender as expe-riências em tal ou tal condicção de distribuição sanguinea pelo organismo.

Observo u-se que as diffère nças podem ser enormes; assim, encontram-se indivíduos, em que o equilíbrio da distribuição necessária do sangue, se effectua em cinco minutos; ao passo que o mesmo effeito não se produz em menos de vinte

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ou mesmo de quarenta minutos n'outros. A pro-priedade que tem a balança de Mosso de apreciar as differences d'estado do systema nervoso é im-portante, porque nos dá a possibilidade de deter-minar o estado de toda a esphera vaso-motora nas diversas condicções de saude, de fadiga e de repouso.

Do que precede, resulta que em todas as af-fecções do systema nervoso central, é a esphera vaso-motora a primeira attingida; começando já pela diminuição de contractibilidade vascular, que não tem a energia sufficiente para impedir nor-malmente o sangue, ou pela propriedade de se dilatarem, quando é preciso, para deixarem pas-sar o affluxo do sangue, cuja necessidade se pôde fazer sentir. E' por isso que n'um cérebro fatiga-do, se dá d'um lado a congestão passiva, e do outro uma anemia cerebral e um espasmo vascu-lar.

A balança de Mosso nos permitte assim de-terminar as perturbações vaso-motoras, e preve-nir os symptomas graves do esfalfamento mental. Tem já prestado a balança serviços importantes á humanidade na lucta contra as manifestações psychicas e illogicas, e na lucta da luz da verda-de e da sciencia contra as manifestações selva-gens d'um vulgo cego e ignorante. As experiên-cias da balança (segundo consta) salvou d'uma morte precoce e pungente (a morte na fogueira), um grande numero de pessoas, n'esse tempo da

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ignorância, em que a bruxaria era considerada, e ainda acreditada. Nos séculos dezesete e dezoito «a balançados bruxos» d'Oudeval, na Hollanda, gosava d'uma gloriosa reputação. Pesavam-se na balança todos os bruxos e bruxas, na presença dos ofííciaes, representantes do poder militar da cidade, e se o seu peso correspondia ao seu ta-manho eá sua constituição proclamavam-se inno-centes, e lhes davam um certificado justificativo. A ultima bruxa foi pesada n'esta balança em 1873.

A balança das bruxas salvou d'uma morte certa e precoce, e de soffrimentos immerecidos, muitas pessoas tidas como suspeitas; e talvez, a balança psycho -physiologies de Mosso, sob a sua. nova forma venha prestar á humanidade não me-nos importantes serviços na lueta contra o esfal-famento mental, e por consequência na lueta con-tra as doenças nervosas e mentaes, como a hys-teria e as psycho-pathias... n'iima palavra, na lueta contra o processo de degeneração do typo humano,

Não nos resta a desejar mais, que a prom-pta realisacão d'esté voto, pois que é fora de du-vida que esse estado de fadiga excessiva e con-tinua traz muitos soffrimentos, e tormentos á vida humana, e occasiona muitas mortes perma-turas. Caetero censeo astheniam frontalemdden-dam esse.

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54 I I I

Além dos raethodos de determinação do es-falfamento mental já mencionados, julgo conve-niente ainda citar um novo: è o da photographia das contracções e das dilatações da pupilla.

Este methodo foi inventado por um jovem sábio russo, M. Cybesbski, e proseguido, nos seus detalhes, e nas suas applicações ao estudo dos olhos pelo doutor Bellarminoff.

Por meio d'esse methodo obtem-se uma co-pia photographica das dilatações, assim como das contracções da pupilla sob a influencia de excitações determinadas e ao mesmo tempo tem-se a possibilidade de medir a velocidade do apparecimento e a duração de cada reacção da pupilla com uma precisão mathematics. Este re-sultado é importante, pois que as pu pillas dos doentes que soffrem de esfalfamento mental, rea-gem de uma maneira mui lenta e mui fraca

as, excitações luminosas, o que se observa d'uma forma assas nitida a olho nú, e sem algum apparelho. A photographia da pupilla nos permit-tirá certamente determinar as transformações, que nos escapam a olho nú.

Para dar uma idêa exacta da grande impor-tância, que apresenta o estado da pupilla, e as suas différentes reacções no acto da

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determina-55

ção do esfalfamento mental, bastaria citar os di-versos factos impressos nos jornaes medicos.

Segundo os trabalhos de R.ehlmann e de Wikousky, sabe-se, que, durante o somno, isto é, que durante a suspensão directa do cérebro, as pupillasse encontram no estado de contracção; e pelo contrario tudo o que provoca um affluxo de sangue mais considerável no cérebro, occa-siona também uma dilatação pupillar. Assim, por exemplo, o professor Westphal observou que na narcose chloroformica podemos provocar uma dilatação da pupilla, se dissermos qualquer cou-sa ao ouvido do individuo narcoticou-sado. Da mes-ma formes-ma actuam différentes outros excitantes eléctricos, como reconheceram diversos' aucto-res, Claud Bernard, Mœlicte, etc.

Em seguida Ewald Hecker notou que as có-cegas provocam uma dilatação das pupillas, e se-gundo as investigações feitas por muitos outros... como o doutor Istamanoff não resta duvida de que a mais leve comichão d'uma parte qualquer da pelle provoca um affluxo notável de sangue ao cérebro. Além d'isso, Bochefonlaine provou, por experiências directas sobre animaes, que a ele-ctrisaçjkrdos différentes pontos da substancia cor-tical do cérebro, isto é. da parte em que se lo-calisant os centros e os apparelhos mais elevados, acompanha-se sempre d'uma dilatação mui evi-dente das pupillas, do que se pôde concluir com rasão que todo o trabalho intellectual

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concentra-56

do se acompanha também d'uma dilatação mais ou menos accentuada da pupilla.

De mais, o doutor Johnson affirma que, sob a influencia do esfalfamento mental, as pupillas se encontram n'um estado de contracção e não reagem mais a qualquer luz. Sabe-se também, que diversas substancias actuam d'uma maneira excitante sobre o cérebro, e provocam ao mesmo tempo a dilatação da pupilla, como a atropina... Deve ajuntar-se a tudo isto que a correspon-dência immediata das pupillas com o estado do cérebro, se demonstra ainda pelo facto das mu-danças das pupillas e as suas reacções gosarem um papel importante na diagnose das diversas doenças do systema nervoso central. Do que pre-cede, conclue-se, que o methodo de Cybulski e de Bellarminoff, consistindo em photographar a pupilla, pôde ter uma grande importância no pon-to de vista pratico, como no caso da determina-ção da asthenia mental nas escolas. Vê-se, pois, que já possuímos methodos capazes de determi-nar o esfalfamento mental; mas para o effectuai-d'uma maneira fácil e prompta, devemos em pri-meiro que tudo recolher, usando d'esses metho-dos, os algarismos médios e necessários para a comparação, isto é, que sejam precisos desde lo-go para estabelecer de prompto, a grande lenti-dão na producção da reacção, e da associação das idèas, e a que grau de lentidão, na distribuição re-gular do sangue pelo organismo, nós teremos o

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direito de admittir a existência dos primeiros tra-ços do esfalfamento mental.

Da mesma forma, no tocante ás dilatações e ás contracções vasculares, devemos em primei-ro logar pprimei-rocurar os algarismos médios, para as-sim podermos determinar com uma certa appro-ximação, qual é o grau de lentidão na reacção da pupilla, ainda compatível com a vida normal do cérebro etc... Os methodos existem. Não falta, para os applicar nas escolas, senão o desejo e a boa vontade dos que presidem á educação da mocidade da edade contemporânea. Os methodos existem. E' somente preciso encontrar o meio de os applicar a indivíduos de edade e desenvolvi-mento différente.

Para obter os algarismos médios sobre os in-divíduos adultos e bem conformados, precisar-se-ia de muitas mensurações sobre a velocidade das reacções, das associações, das idêas e o conjun-cto de todas essas medidas sobre a dilatação da pupilla, e as reacções vaso-motoras, nos regimen-tos, nas universidades e noutros estabelecimen-tos de instrucção superior. E' forçoso dizer-se que, para o cumprimento d'um semelhante tra-balho, não bastam as forças d'um só homem, e que se torna necessário o concurso unanime d'uma actividade, e d'uma attenção enérgicas, in-tensas e bem dirigidas da sociedade actual, auxi-liada pelos representantes que se acham á frente dos différentes gabinetes scientiflcos.

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P R O P O S I Ç Õ E S

Anatomia—As superficies articulares derivam todas de

três formas : plano, cylindro e esphera.

Physiologia—O estômago não é indispensável para se

fazer uma digestão completa.

Materia medica—No caso de delírio provocado por

in-somnias, prefiro a applicação do chloral a qualquer outro

cal-mante.

Anathomia pathologica — As investigações, ainda as mais bem dirigidas não conseguiram o descobrimento do agen-te especifico do sarampo.

Pathologia geral—A vulnerabilidade é proporcional ao estado depressivo do organismo.

Pathologia interna — O som baço précordial ouve-se n'uma região mais extensa nas lesões aórticas do que nas mi-trães.

Pathologia externa—A gravidade do aneurisma popli-teo, augmenta com a invasão do tronco tibio-peroneal.

Medicina operatória — A extirpação do carcinoma do

seio não dá resultado favorável, ainda mesmo que se extirpem os ganglios axillares.

Partos—A causa determinante do parto é devida á

irri-tação das fibras circulares do colo uterino.

Hygiene — A causa determinante de muitas infecções é

devida a uma alimentação de má procedência.

IMPRIMA-SE \ Souto., Directo! interino. VISTO eHnno, fresidente.

Referências

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