Os Jovens e a
Renovação do Jornalismo
Actas das IV Jornadas Internacionais de Jornalismo
Ricardo Jorge Pinto
Jorge Pedro Sousa
(Organizadores)
ISBN: 978-989-643-025-2
Depósito-legal: 287738/09
Edições Universidade Fernando Pessoa
Os Jovens e a
Renovação do Jornalismo
Prólogo
As Jornadas Internacionais de Jornalismo são um património da comunidade lusófona de pesquisadores em Jornalismo, em especial, dos pesquisadores galegos, brasileiros e portugueses, mas também dos pesquisadores dos países irmãos hispânicos, em especial da Espanha. Centenas de pesquisas e reflexões sobre jornalismo foram apresentadas durante as quatro edições das Jornadas, por convite ou autoproposta, por pesquisadores desses e de outros países, abarcando temas como a teoria do jornalismo; a história do jornalismo; o direito, ética e deontologia do jornalismo; as análises do discurso jornalístico; jornalismo, cultura, sociedade e democracia; produtos jornalísticos e produção jornalística; gestão das empresas jornalísticas; marketing jornalístico; comunicação política e jornalismo; jornalismos especializados; jornalismo público; parajornalismos; assessoria de imprensa, etc.
As Jornadas Internacionais de Jornalismo são, também, um espaço privilegiado para se apresentarem e discutirem ideias e resultados de pesquisas no campo dos Estudos Jornalísticos, para se lançarem as bases de projectos comuns e para os estudantes de graduação e pós-graduação em Jornalismo tomarem contacto com a pesquisa avançada neste campo, podendo mesmo apresentar trabalhos resultantes da sua investigação, a título individual ou em conjunto com os seus professores.
Escola Superior de Educação de Coimbra e a Escola Superior de Educação de Leiria. Embora sem ter um estatuto de parceira oficial, a Escola Superior de Educação de Viseu adquiriu, também, um estatuto de entidade assoiada ao evento.
Em 2006, o tema central das Jornadas foi “O Futuro do Jornalismo”; em 2007, foi “Porquê Estudar (o) Jornalismo?”; e em 2008 foi “Jornalismo e Democracia Representativa”. O tema central das IV Jornadas Internacionais de Jornalismo foi “Os Jovens e a Renovação do Jornalismo”, pois são muitas as interrogações e inquietações que, neste domínio, se colocam ao jornalismo, aos jornalistas e às entidades que os formam. Por exemplo, que produtos jornalísticos consomem os jovens e por que é que os consomem? Quais as qualidades que um produto jornalístico deve ter para agradar aos jovens? Qual o paradigma que deve presidir à formação superior de jornalistas? Quais os obstáculos que um jovem jornalista recém-formado tem de superar quando ingressa do mercado de trabalho?
Nas comunicações realizadas no evento, de que estas actas são um pálido reflexo, procuraram-se respostas a essas e muitas outras questões e inquietações, tendo-se, certamente, contribuido para solidificar os Estudos Jornalísticos e enriquecer o ensino e a investigação sobre essa extraordinária e importante actividade, representativa do que mais nobre é capaz o génio humano − o Jornalismo.
Os organizadores consideram que a especificidade do Jornalismo, como actividade que procura descrever a realidade com determinados métodos e técnicas e que gera um tipo particular de conhecimento sobre ela, implica que o Jornalismo e os Estudos Jornalísticos não sejam descaracterizados no seio das Ciências da Comunicação, sendo essa a principal razão pela qual têm insistido na organização de eventos internacionais devotados especificamente aos Estudos Jornalísticos, de que as IV Jornadas Internacionais de Jornalismo são exemplo.
Índice
Comunicações plenárias
A influência do contexto multimidiático na configuração atual do telejornalismo no Brasil
Ana Silvia Lopes Davi Médola (Universidade Estadual Paulista) Página 24
Comunicações de tema livre
Sesquicentenário da investigação sobre o jornalismo no Brasil
José Marques de Melo (Catedrático UNESCO/Universidade Metodista de São Paulo e professor emérito da Universidade de São Paulo)
Página 41
O contributo de José Agostinho de Macedo para a crítica ao jornalismo em Portugal
Jorge Pedro Sousa (Universidade Fernando Pessoa e Centro de Investigação Media & Jornalismo), Nair Silva, Carlos Duarte, Gabriel Silva, Patrícia Teixeira e Mônica Delicato (Universidade Fernando Pessoa)
(Re) vendo Saramago: Ensaio Fotográfico sobre a Cegueira
Cássia Maria Popolin (Universidade Estadual de Londrina) e Ieda Cristina Borges (Universidade de Marília)
Página 94
O silêncio da foto e a foto do silêncioCássia Maria Popolin (Universidade Estadual de Londrina); Roberto Aparecido Mancuzo Silva Júnior (Universidade Estuadual de Londrina e Universidade do Oeste Paulista) e Paulo César Boni (Universidade Estadual de Londrina)
Página 106
Afogamento num tonel de chucrute – Considerações sobre a prática jornalística a partir de
duas notas internacionais
Tomás Eon Barreiros (Universidade Positivo) Página 126
Las retransmisiones futbolísticas en los programas de la radio española durante las últimas
décadas
Manuel Antonio Pacheco Barrio (IE Universidad) Página 144
O mundo dos jornalistas: aspectos teóricos e metodológicos
Jornalismo e Cultura : uma abordagem contemporânea
Márcia Eliane Rosa (Faculdade Cásper Líbero) Página 185
A Visibilidade do Idoso nos Meios de Comunicação. Estudo de caso: Jornais “El País” e
“ABC”- 2007
Pedro Celso Campos (Universidade Estadual Paulista) Página 197
Jornalismo e identidade: o fluxo da notícia regional
Rogério Eduardo Rodrigues Bazi e Duílio Fabbri Jr (Pontifícia Universidade Católica de Campinas- Brasil)
Página 242
El Análisis de las Prácticas del Ejercicio Periodístico en un contexto de Transición a la
Democracia. El caso de Querétaro, México
Gabriel A. Corral Velázquez (Universidad Autónoma de Querétaro (México) Página 255
Rádiojornalismo no Brasil: um jornalismo sem jornalistas
Francisco Sant’Anna(Réseau des Études sur le Journalisme – REJ e Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília – Nemp-UnB)
Jornalismo no Parlamento Brasileiro: sistema perito para ampliar a confiança na democracia?
Cristiane Brum Bernardes (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro/ IUPERJ) e Antonio Teixeira de Barros (Câmara dos Deputados/Brasil)
Página 303
Favela como espaço de identidade: Representações na telenovela Duas Caras
Fernanda Castilho Santana (Universidade de Coimbra) Página 333
Mídia e Cidadania: o caso da Rede Jovem
Janaina Dias Barcelos (Universidade de Coimbra) Página 347
Infografia Multimédia: reflexões sobre uma ferramenta para o jornalismo digital
Eduardo Zilles Borba (Universidade Fernando Pessoa) Página 365
Os Valores Presentes no Discurso Jornalístico sobre Comportamento das Revistas Veja,
Época e Isto É
Periodização da agenda ambiental nos estudos de jornalismo: Brasil-Portugal
António Teixeira de Barros (Câmara de Deputados do Brasil), Jorge Pedro Sousa (Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal e Centro de Investigação media & Jornalismo, Lisboa, Portugal) e Maria Érica de Oliveira Lima (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
Página 395
Entrevista no jornalismo moderno, perigos e desafios criativos
Wlodzimierz Józef Szymaniak (Universidade Jean Piaget de Cabo Verde) Página 427
Manifestações do espetáculo no jornalismo televisivo: reflexões sobre o discurso do
apresentador José Luiz Datena do programa Brasil Urgente
Michele Negrini (Universidade Federal do Pampa) Página 434
Entre Embates e a Política no Século XIX: O Início do Jornalismo na Província do
Maranhão-Brasil (1821-1823)
Roseane Arcanjo Pinheiro (Universidade Federal do Maranhão-campus Imperatriz) Página 451
Do Marketing a Internet na IURD
BiVolt!: Reflexões da presença midiática do blog
Álvaro Mozart Brandão Netto (Universidade Federal de Alagoas) Página 485
Imprensa das colônias de expressão portuguesa: Primeira aproximação
Antonio Hohlfeldt (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) Página 493
Situación actual de las emisoras “Localia TV” en Galicia
Mercedes Román Portas e José Octavio Rodríguez Nieto (Universidad de Vigo) Página 510
Radio Basilé y la aparición de Radio Makuto
Aurora García González. (Universidad de Vigo) Página 521
A verve de Cronos – textos cronísticos de Oitocentos
Isabel do Vale Trabucho (Universidade Aberta) Página 536
Os medios de comunicación peza chave na configuración do tecido organizativo da acción
social
Nuevos Hábitos de Consumo de la Televisión e Internet y su repercusión en conflictos
judiciales
Luis Mañas Viniegra (Universidad Complutense de Madrid. Doctorando) Página 575
A representação das ONG nas notícias – O caso da AMI na imprensa
Sónia Lamy (Escola Superior de Educação de Portalegre) Página 591
Delinquências juvenis em notícia
Maria José Brites (FCSH-UNL/CIMJ) Página 618
Consumir ou participar – Análise dos produtos mediáticos para jovens 12-18
Ana Jorge (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa / Fundação para a Ciência e a Tecnologia)
Página 640
A “retração” e a “promoção” como componentes da lógica de visibilidade institucional, em
situações de rompimento da rotina produtiva de notícias
Relatos noticiosos da Guerra do Kosovo pela Imprensa Portuguesa
Adriano Cerqueira e Ana Margarida Pinto (Universidade do Porto) Página 691
Os repórteres gráficos durante a Guerra Civil Espanhola: Madri (1936-1939)
Beatriz de las Heras (Universidad Carlos III de Madrid) Página 718
La renovación de la docencia del Periodismo en el Espacio Europeo de Educación Superior
(EEES): nuevas herramientas de enseñanza-aprendizaje
Francisco Cabezuelo Lorenzo e Javier Sierra Sánchez (Universidad San Jorge de Zaragoza) Página 746
A luta partidarista através de sua representação visual nos cartazes eleitorais: a transição
democrática na Espanha
Beatriz de las Heras e Antón R. Castromil (Universidad Carlos III de Madrid / Universidad Complutense de Madrid)
Página 762
Crítica y análisis de diez grandes clásicos del cine universal
José Sixto García (Universidade de Santiago de Compostela) Página 784
Los diarios gratuitos de información general: un modelo de publicación que consigue captar
la atención de los jóvenes españoles
Fotografia e Jornalismo On-line: revisão de conceitos e perspectivas do Fotojornalismo na
Web
Keiny Andrade (Universidade Fernando Pessoa) Página 833
A Renovação do Jornalismo pelas Funcionalidades Web
João Simão (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) Página 852
Enseñanza y aprendizaje en Locución.
Jon Murelaga Ibarra, Gotzon Toral Madariaga, Irene García Ureta, Pedro Barea Monge, José Ignacio Cea Ugarte (Universidad del País Vasco-Euskal Herriko Unibertsitatea)
Página 868
A influencia de Obama 2.0 na campaña electoral 2009 á presidencia de Galicia
Teresa Barberena Fernández, Óscar Reboiras Loureiro, José Villanueva Rey (Universidade de Santiago de Compostela)
Página 881
A influência da personalização dos conteúdos dos jornais on-line nos comportamentos sociais
das suas audiências
Auditoria de Imagem – uma ferramenta de gestão: estudo da empresa Águas do Douro e
Paiva, S.A.
Álvaro Lima Cairrão, Eva Mendes, Isabel Fidalgo, Joana Costa e Sandra Soares (Universidade Fernando Pessoa)
Página 916
Novas práticas do jornalismo cidadão: a fonte amadora na construção de realidades pelo
telejornalismo
Miro Bacin (Universidade Federal do Pampa) Página 946
Jornalismo e violência na escola. A Cobertura Jornalística da Violência na Escola na
Imprensa Portuguesa (1998-2002)
Elsa Videira da Cunha Rebelo (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa)
Página 972
Carmen Miranda na passarela do jornalismo de moda
Adriana Ruschel Duval (Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos) Página 1000
Projeto Teatro Shakespeare em Inglês: uma experiência de ensino de Língua Inglesa em curso
de Jornalismo
Imagens enunciativas nas revistas semanais de informação Veja e Istoé
Carlos Augusto de França Rocha Júnior, Fernanda Daniele Dino Soares, Francisco Laerte Juvêncio Magalhães (Universidade Federal do Piauí) e Michelly Santos de Carvalho (Universidade do Minho) Página 1037
Lentes Ingênuas: a fotografia reveladora das estruturas sociais
Bernardo Wolff da Rocha Loures Pacheco, Samara Vergínia Willuweit e Maria Zaclis Veiga Ferreira (Universidade Positivo)
Página 1057
Nuevas tecnologías, nuevos lectores: Relaciones entre información y videojuegos
Alfonso Cuadrado Alvarado, Marina Santín Durán e Pablo R. Prieto Dávila (Universidad Rey Juan Carlos)
Página 1079
O debate sobre a repercussão na qualidade da democracia do negativismo midiático
Antón R. Castromil (Universidade Complutense de Madrid) Página 1109
O caso do telemóvel da Escola Carolina Michaëlis: a representação nos jornais “Público” e
“Correio da Manhã”
Kárita Cristina Francisco (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa)
O jornalista enquanto sujeito no ciberespaço
Roberto Aparecido Mancuzo da Silva Júnior e Thaisa Sallum Bacco (Universidade Estadual de Londrina e Universidade do Oeste Paulista)
Página 1158
La especialización periodística en la difusión audiovisual del Patrimonio Cultural y Artístico.
Sebastián Sánchez Castillo (Universidad de Valencia. España) Página 1172
La formación en competencias digitales de los futuros periodistas: la experiencia curricular de
la Universidad San Jorge
Javier Sierra Sánchez (Universitat Abat Oliba-CEU) e Francisco Cabezuelo Lorenzo (Universidad San Jorge)
Página 1183
El cambio en la 2ª Cadena de TVE: su orientación hacia un público joven
Erika Fernández Gómez (Universidad de Vigo) Página 1202
O novo paradigma do Jornalismo e o consequente “emagrecimento” das redacções
Redefinición del concepto de marketing aplicado a la empresa periodística: una estrategia
basada en la tecnología
María José Pérez Serrano e Francisco Cabezuelo Lorenzo (Facultad de Ciencias de la Comunicación – Universidad San Jorge)
Página 1241
Os elementos do agir político nas campanhas eleitorais da Rádio Nacional
Mara Regina Rodrigues Ribeiro e Gabriella Souza de Oliveira (Universidade Federal do Pampa – Unipampa)
Página 1255
Teorias do jornalismo: negociando sentidos com Gatekeeper e Newsmaking.
Paulo Fernando de Carvalho Lopes (Universidade Federal do Piauí) Página 1274
A cobertura policial e o debate em torno da redução da maioriadade penal no Brasil
Elza Aparecida de Oliveira Filha e Renan Colombo (Universidade Positivo) Página 1290
Situación laboral de la mujer en la profesión periodística. El caso español
Sobre as notícias como contributo para a democracia – Uma proposta normativa para a
cobertura da infância
Lidia Marôpo (Universidade Nova de Lisboa/Universidade de Fortaleza) Página 1330
A auto-representação profissional de jornalistas com atuação em assessoria de comunicação
no Brasil
José Ricardo da Silveira (Universidade do Estado do Rio G. do Norte / UnB / Université Rennes I) Página 1354
Protagonismo e participação juvenil na comunicação
Janaina Pucci, Lígia Isis Pinto Bernar, Lívia Maria Neves Bentes e Larissa Latif (Universidade da Amazônia)
Página 1382
Telejornal vs. Jornal da Noite: a Cenografia como Modo de Análise
Luciana Fernandes, Maria do Rosário Saraiva e José M. Azevedo (CETAC.media, Universidade do Porto)
Página 1406
El criterio económico y la creatividad en la caracterización de formatos televisivos
innovadores
Políticos e jornalistas: imagens fora de foco?
Pedro Aquino Noleto Filho (Universidade de Brasília) Página 1430
El periodismo preventivo: un nivel en la especialización periodística
Maria Victoria Campos Zabala y Gloria Gómez-Escalonilla (Universidad Rey Juan Carlos) Página 1456
Jornalismo, Linguagem e Conhecimento: Reflexões para a superação da crise
José Carlos Vasconcelos e Sá Página 1468
Quando a informação televisiva se faz com elites especializadas: Análise do plateau do
noticiário À Noite, as Noticias (RTPN)
Felisbela Lopes (Universidade do Minho) Página 1492
La inteligencia emocional del periodista
Arturo Merayo Pérez y Paloma del Henar Sánchez (Universidad Católica San Antonio, Murcia) Página 1517
Modelos de interactividad en los cibermedios deportivos europeos de referencia: claves para
la participación ciudadana
Xosé López García, Carlos Toural Bran, Moisés Limia Fernández e Teresa de la Hera Conde-Pumpido (Universidad de Santiago de Compostela)
Olhares jornalísticos sobre a primeira Cimeira UE-Brasil
Ana Isabel Martins (Universidade de Coimbra) Página 1554
Significación perceptiva tecnológica del joven televidente: inteligencia emocional.
H. Miluska Sánchez Gonzales e Maritza Sobrados León (Universidad de Sevilla) Página 1572
La construcción de la otredad en la escuela: Nuevo desafío para los medios de comunicación
Maritza Sobrados León e H. Miluska Sánchez Gonzáles (Universidad de Sevilla) Página 1589
SWITCH OFF ANALÓGICO – Contributos sobre a multiresistência ao digital
Ricardo Nunes (Instituto Politécnico de Setúbal) Página 1609
Discurso fotojornalístico nas eleições norte-americanas: Público e Correio da Manhã
Pedro Jerónimo (Escola Superior de Educação e Ciências Sociais – Instituto Politécnico de Leiria) Página 1630
Opções de interatividade cidadã no webjornalismo brasileiro, Uma análise dos webjornias A
Tarde e Folha de S. Paulo
Comunicações
A influência do contexto multimidiático na configuração atual do telejornalismo no Brasil
Ana Silvia Lopes Davi Médola (Universidade Estadual Paulista). asilvia@faac.unesp.br
Resumo
Os telejornais, assim como as demais produções televisivas, estão em fase de adequação de suas estruturas discursivas e de produção em função da influência dos elementos estruturantes dos sistemas digitais de comunicação. Incidindo não apenas sobre a formatação, mas principalmente sobre os critérios de noticiabilidade, observa-se o surgimento de uma nova dinâmica de produção e consumo de informação ocasionada pelo processo de integração dos telejornais às redes da esfera digital. Resultante das inovações tecnológicas, a interatividade é o recurso comunicativo que mais tem mobilizado esforços de jornalistas e produtores no processo de adaptação das empresas de televisão, antecipando a tendência de um maior fortalecimento do papel do receptor na relação comunicativa, o que deverá ser intensificado pela convergência dos meios com a implantação da TV digital brasileira. Tal fato promove, entre outros desdobramentos, a construção de novos espaços de comunicação e novas formas de relação do emissor com o seu público, em um cenário marcado pela conectividade possibilitada pela internet e pela acessibilidade permitida pelos dispositivos móveis e portáteis.
Brasil está em fase inicial de implantação da televisão digital, o que deverá promover impactos consideráveis no telejornalismo que conhecemos. O primeiro ano das transmissões da TV neste sistema em canal aberto e terrestre, ocorrido em algumas capitais do país, foi importante sinalizador dos desafios e dos grandes obstáculos no sentido de tornar realidade muitas das possibilidades desta nova mídia. Em tese, trata-se de um projeto com potencial para promover a inclusão digital e a democratização do acesso à informação em amplas camadas da população de um país que, contraditoriamente, apresenta índices de utilização de computadores próximos dos índices de analfabetismo. Entretanto, a concretização de um modelo de televisão digital voltado aos interesses da sociedade, depende do tipo de regulamentação e do negócio a ser constiuído. Aspectos determinantes na configuração da televisão e do papel social que irá desempenhar em base tecnológica digital.
Em um país onde a televisão é uma das principais fontes de informação e entretenimento de grandes parcelas da população, sendo que os telejornais e os demais formatos de programas jornalísticos devem cumprir, entre outras, a função de democratização do acesso à informação, cabe analisar em que medida os conceitos estruturantes das redes digitais interferem e modificam o modelo de telejornalismo forjado e assimilado pelo público ao longo das cinco décadas de existência da televisão em suporte analógico. Neste sentido, verifica-se que o jornalismo exibido nas redes de televisão aberta do Brasil já evidencia a ocorrência de mudanças resultantes do processo de digitalização das etapas de produção e, mais recentemente, de transmissão de sinais em plataforma digital. Incidindo não apenas sobre a formatação, mas principalmente sobre os critérios de noticiabilidade, observa-se uma nova dinâmica de produção e consumo de informação ocasionada pelo processo de integração dos telejornais às redes da esfera digital, notadamente a internet1. A incorporação da rede mundial de computadores nas modalidades operacionais da estrutura de
1
produção da notícia desencadeou, entre outros desdobramentos, a construção de novos espaços de comunicação, incidindo nas modalidades de conexão e relação da emissora com o público.
A ampliação das formas de interação entre emissor e receptor gera diversas configurações de fluxos comunicacionais de modo que o tipo de jornalismo estruturado em suportes de base analógica enfrenta, na atualidade, um processo de transformação determinado pela convergência midiática. Nesse sentido, cabe analisar os aspectos referentes às novas práticas produtivas, veiculação e agora disponibilização das informações, bem como a forma de apropriação dos conteúdos telejornalísticos pelos telespectadores, em um cenário marcado pela conectividade possibilitada pela internet, ambiente paradigmático da comunicação na contemporaneidade.
Lógicas colaborativas no telejornalismo: limitações e incompatibilidades.
A partir de um levantamento exploratório observamos que o Jornal Hoje - JH, levado ao ar de segunda a sábado, em cadeia nacional, pela Rede Globo, vem progressivamente introduzindo novos quadros e séries de matérias com propósitos de readequação do formato diante dos desafios sócio-culturais acarretado pelas constantes inovações técnicas que interferem diretamente nas tendências do consumo de mídia. Um dos primeiros noticiários da maior rede de televisão brasileira a introduzir em suas edições estratégias discursivas voltadas à criação de efeitos de sentido de interatividade, o JH parece ser um lugar de prospecção e experimentação da emissora diante das possibilidades de articulação da televisão e da internet.
da participação em chats, blogs, a proliferação dos sites pessoais, a utilização dos serviços de conversa instantânea e outros usos de instrumentos de interação disponibilizados na rede evidenciam a criação de vínculos criados a partir de diversos objetivos que agregam interesses comuns. Nestes ambientes a base de sustentação é regida por princípios de diálogo, cooperação e participação, podendo promover a defesa de identidades culturais, mas também a democratização da esfera pública.
Sem ignorar a questão da infoexclusão (CASTELLS, 1999; MORAES, 2003), com raízes de ordem econômica, política, educacional, o fato é que a rede mundial de computadores horizontaliza a circulação de mensagens e abriga as manifestações de cidadãos anônimos, gerando possibilidades de descentralização do poder enunciativo antes se concentrado em empresas e grandes monopólios de comunicação. Isto não significa que a diversificação das mensagens tenha diminuído o poder ou o controle dos meios de comunicação de massa, como lembra Castells (1999), mas deixam de atuar como únicos. Para além de representados os indivíduos passam a ser reconhecidos por discursos próprios em linguagens próprias (BARBER, 2003). Essa base de autogestão e da crescente acessibilidade às tecnologias é que propiciou o surgimento de práticas como o jornalismo cidadão2, no qual indivíduos sem formação jornalística participam na confecção e na divulgação de notícias, podendo relatar histórias, escrever textos opinativos, publicar fotos e vídeos (BRAMBILLA, 2006). Dos acontecimentos inesperados de interesse social às grandes tragédias, nada mais parece escapar dos registrados das câmeras fotográficas e de vídeos acopladas aos portáteis equipamentos digitais. Disponibilizados na Internet, são reproduzidos por indivíduos comuns e instituições jornalísticas enquanto despertar interesse.
Talvez motivado pela insatisfação com o conteúdo que é apresentado na mídia tradicional, ou pela necessidade de uma maior transparência na comunicação ou simplesmente pelo desejo de se expressar sobre os assuntos de seu interesse, o fato é que a adesão do receptor às formas participativas em lógicas colaborativas começa a influenciar as produções jornalísticas
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institucionais que passam a conviver com um certo tipo de ‘concorrência’. A exemplo de sites famosos como o YouTube3 - website de compartilhamento de filmes na internet, criado em fevereiro de 2005 permitindo o acesso livre a imagens audiovisuais - e Wikipedia4 - enciclopédia virtual criada em 2001 em que as pessoas constroem o conhecimento de forma colaborativa - observa-se a existência de sites voltados para o jornalismo, desenvolvidos e alimentados somente por pessoas que desejam escrever e publicar matérias, expor pontos de vista ou abordar assuntos que não recebem destaque na grande mídia, como o site sul coreano OhMy News5 e o BrasilWiki6. O site BrasilWiki, por exemplo, se dedica a abrir espaço para todos publicarem informações, criticando a
forma unidirecional da imprensa tradicional. Wiki é a abreviatura, em inglês, da frase what I know is..., que resume – para os fundadores – a função básica dos repórteres. Editado por um grupo de
jornalistas, o canal oferece a oportunidade para as pessoas fazerem um cadastro e enviarem conteúdos de texto, imagem, áudio ou vídeo.
Atentas às transformações em curso, o expediente da participação do público por meio da internet começa a ser adotado também pelas empresas tradicionais de comunicação, entre elas a televisão. Nos sites informativos conceituados a divulgação de materiais produzidos pelo público já é uma prática corrente, sendo que alguns deles chegam a pagar pelo conteúdo. O site Terra7, por exemplo, criou o canal VC Repórter, especialmente para a participação de pessoas comuns na produção das notícias. O grupo de comunicação O Estado de São Paulo tem um canal semelhante, porém voltado às imagens: o Foto Repórter8, no qual as fotos dos internautas, sejam de máquinas digitais ou de celulares, passam por uma triagem antes da divulgação no site, podendo inclusive ser publicadas nos jornais impressos, mediante pagamento ao autor.
3
O YouTube é uma grande biblioteca dezenas de milhares de vídeos publicados pelos usuários da rede <http://www.youtube.com/>
4
Hoje a enciclopédia tem cinco milhões de verbetes publicados em mais de 200 idiomas com a ajuda de mais de 10 mil usuários (CASTILHO, 2007). <http://www.wikipedia.org/>.
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Criado em fevereiro de 2000, o site é voltado para a publicação de matérias jornalísticas e já possui mais de 35 mil colaboradores que enviam uma média diária de 200 notícias – e recebem remuneração por isso. O site, que também conta com o trabalho de 35 profissionais na edição e organização do material, tem 15 milhões de visitantes por dia, aproximadamente 35% da população do país (CASTILHO, 2004). Alcançou tamanha popularidade que ganhou uma versão internacional. <http://www.ohmynews.com/>.
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No caso do telejornalismo, a tendência também é de se aliar aos portais de informação, de modo que as empresas de televisão passaram a utilizar os recursos da internet para garantir espaço na nova organização midiática. Desde maio de 2007 site G19, portal de notícias da Rede Globo, também possui um canal para publicações dos internautas, o VC no G110. Identificados com um selo especial, as matérias enviadas pelo público vão ao ar juntamente com as produções de repórteres profissionais.
Entretanto, se a interatividade com o público é constitutiva do ambiente virtual da internet, com as suas muitas ferramentas de fácil acesso e manipulação por parte do internauta, a iniciativa de incluir a audiência na produção de conteúdos nas mídias tradicionais é ainda um expediente que poucas empresas arriscam adotar. Em telejornais, por exemplo, embora há muito tempo as emissoras utilizem eventualmente imagens amadoras na veiculação de uma notícia, a abertura de quadros específicos para a inclusão de sons e imagens realizados pelo do público para forjar um tipo de participação, representa uma tentativa de introduzir no telejornalismo algo que seja apenas correspondente ao que é próprio da internet. Isto porque são meios com características e linguagens próprias, portanto sem possibilidade de transposição efetiva até que ambos estejam em um mesmo suporte e com uma forma expressiva decorrente desta convergência.
A internet é estruturalmente interativa enquanto a televisão não, no sentido de que não requer uma ação do receptor para o agenciamento com o propósito de acessar conteúdos. Na televisão a programação é exibida, enquanto na internet é exigida a ação de busca. As mudanças na estética televisiva, observadas a partir da década de 90 com a chegada dos computadores pessoais, fizeram com que os gêneros passassem a se confundir, em formatos de programas cada vez mais híbridos, atingindo inclusive os telejornais, com o recurso da encenação ficcional para a simulação dos fatos. Em outros programas os limites entre informação e ficção chegam a se diluir, sendo a proliferação de reality shows a evidência maior desta hibridização. No entanto, o telejornal consegue preservar, o ethos de representação do real. Ainda que em breve os dois meios venham a estar em um mesmo
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<http://www.g1.com.br/>
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suporte e sejam interoperáveis, tanto a televisão quanto a internet irão resguardar elementos de suas características fundamentais.
E o que é próprio da TV e o que é próprio da internet? Ainda que operando em uma organização pautada pela convergência, a transmissão ao vivo de sons e imagens em movimento continua sendo a característica própria da televisão também no suporte digital. A transmissão de conteúdos de interesse coletivo também corrobora para a manutenção da identidade do meio. Nesse sentido, as grandes coberturas jornalísticas, com a transmissão direta dos fatos em imagens em movimento são, e continuarão sendo produtos televisuais que podem ser vistos nas telas de diferentes dispositivos – televisão, computador, celular – para citar os mais acessíveis, e disseminados na rede. Entretanto, a nova configuração do meio com a incorporação dos elementos estruturantes das tecnologias da informação indicam que neste ambiente midiático o caráter indicial dos conteúdos televisivos, em relação à possibilidade de aprofundamento na internet, poderá constituir uma das funções do que conhecemos até o momento como televisão.
A caracterização de forma expressiva da televisão em plataforma digital e convergente está por ser constituída, e mesmo com as transformações que virão, um dos papéis a ser desempenhado pelo telejornalismo no contexto das redes digitais interconectadas continuará sendo o de dar visibilidade aos temas de interesse coletivo, com inequívoca relevância social.
Isso não significa que os informativos televisivos poderão negligenciar o compromisso com a apuração dos fatos, com a abordagem crítica e compromisso social. Ao contrário, a transmissão para uma audiência coletiva deve ter a perspectiva de cumprir o papel integrador entre os diferentes segmentos, promover a discussão em torno de questões de interesse da sociedade, em transmissão em tempo real. Na integração com a internet o que muda é a ampliação das formas de produção, processamento e consumo dos conteúdos nos telejornais. Dessa forma, as empresas e os profissionais de jornalismo estão sendo constantemente desafiados pelas demandas criadas pelas potencialidades tecnológicas contemporâneas.
Atualmente é possível observar nos telejornais da maior rede de televisão aberta brasileira, assim como as demais produções, como os novos conceitos inerentes aos sistemas digitais de comunicação interferem na formatação dos conteúdos. Há um descolamento da dinâmica consolidada nos meios analógicos massivos, ocasionado pela perspectiva bastante concreta da introdução de elementos como a conectividade, portabilidade, mobilidade, ubiqüidade e pervasividade nos fluxos comunicacionais. São elementos interligados em função da base tecnológica infoeletrônica. A convergência torna os dispositivos interoperáveis e aponta para uma direção de profundas transformações na geração e difusão de conteúdos audiovisuais. No caso da televisão digital brasileira, considerando o fato de que o padrão adotado privilegia a transmissão terrestre e aberta, em alta definição, com recursos de mobilidade, portabilidade e interatividade, a produção dos telejornais sofrerá impactos importantes nas formas de inserção sócio-cultural, sustentação econômica e estética.
telespectador a desempenhar ações em um processo de busca de dados, notadamente com a adoção da interatividade como estratégia enunciativa no plano do conteúdo, vinculada direta ou indiretamente a ações de comercialização.
Embora as propostas interativas ainda não estejam em suporte totalmente convergente, a introdução dos efeitos de sentido de uma comunicação interativa cria modalidades ainda não exploradas na forma de fruição do telejornal, forjando novos hábitos de consumo de conteúdos baseados na possibilidade de participação e colaboração do receptor no processo de construção da informação. Acompanhar a tendência de incluir o público em uma mídia na qual os custos de produção são muito elevados e, portanto, restrito a umas poucas grandes empresas de comunicação, é um grande desafio a ser transposto. Para incluir os vídeos, a empresa deverá adotar critérios de seleção e edição, uma vez que segue uma programação rígida e é impossível colocar no ar todos os conteúdos enviados sem qualquer tipo de organização, pois um tele jornal não é um website com os propósitos de um YouTube.
Os jornalistas têm e sempre terão uma superabundância de acontecimentos que devem, como explica Wolf (1995), ser selecionados, classificados e construídos no campo dos significados – atitude necessária à construção de conhecimento e transmissão de informação. Nesse processo regulado por um deadline rigoroso são utilizados critérios de noticiabilidade, ou seja, “operações e instrumentos com os quais os órgãos de informação enfrentam a tarefa de escolher, quotidianamente, de entre um número imprevisível e indefinido de factos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de noticias” (WOLF, 1995, p. 170). O autor determina os critérios em categorias relativas ao grau de importância dos envolvidos, ao grau de interesse público, às condições da cobertura e de acessibilidade e à imagem que os profissionais têm de seu público. Assim os critérios incluem, por exemplo, a importância do assunto, a autoridade dos entrevistados, a capacidade de alterar a rotina do maior número de pessoas entre outros.
personagens durante todo o processo (WOLF, 1995). Considera-se então, que as informações passam por uma rotina industrial – subordinada a critérios, rotinas, interesses e constrangimentos organizacionais – para se transformarem em notícias. A tendência de consumo de mídia com maior participação do receptor em uma lógica colaborativa, muito presente na internet, dá sinais que pode migrar para os telejornais da televisão digital. Uma das modalidades de participação com este potencial é o jornalismo cidadão (open source), de modo que pessoas sem formação jornalística e não imersas na cultura profissional também utilizam critérios ao reportar algum fato e enviar para um meio de comunicação. Mas esses critérios, por não estarem associados às rotinas produtivas da informação, não sofrerem os constrangimentos organizacionais nem a pressão do tempo – fatores que interferem nas escolhas (PENA, 2005; SOUSA, 2002; TRAQUINA, 2005; WOLF, 1995) –, são muito amplos e variam bastante de pessoa para pessoa. No entanto, revelam os graus de domínio de um determinado código, o audiovisual, para formatação de um conteúdo de caráter jornalístico. Seria este o caminho para uma prática mais horizontal e plural da comunicação?
Levando em conta este cenário de mudanças, torna-se importante analisar como a mídia tradicional se apropria da participação do público e em que medida os critérios de seleção e edição dos conteúdos feitos pelo público têm relação com os mesmos aplicados por profissionais. Diferentemente do caráter democrático de libertário da lógica colaborativa da web 2.0 , a rotina da prática jornalística talvez acabe por anular o conceito de intervenção do público nas notícias nos telejornais, mantendo a posição de comando no jornalista profissional e, dessa forma, tornando apenas uma jogada de marketing ao invés de uma real inserção do público. Por outro lado, como afirma Brambilla (2006), a interferência profissional é extremamente necessária para dar credibilidade aos conteúdos e creditá-los como uma prática jornalística.
audiência com uma clara intenção fática visando manter a solidariedade entre os sujeitos da comunicação, ou seja, são estratégias para a manutenção do contato entre emissor e público com vistas à manutenção do interesse do receptor. Tarefa difícil em um sistema onde impera a abundância de mídia, e brevemente com alto grau de acessibilidade tendo em vista a perspectiva de popularização da TV nos dispositivos móveis que facilitarão a comunicação ubíqua em função da conectividade. Captar e manter a atenção do público em todos os níveis de oferta de conteúdo será um desafio, pois em função da convergência dos meios o contrato a ser estabelecido entre emissor e receptor contempla atender às expectativas de um receptor interessado tanto nos assuntos de interesse coletivo, quanto individual.
Desafios do telejornalismo em plataforma convergente.
Ainda que a televisão seja um meio de massa por excelência, capaz de mobilizar o interesse de multidões em torno da transmissão de grandes acontecimentos, ou atender às demandas por informação, serviço e entretenimento de determinados segmentos, não é possível negligenciar o fato de que as formas de acesso estão multiplicadas e segmentadas. Um mesmo conteúdo pode estar sendo compartilhado em único ambiente por muitas telas, seja no aparelho de televisão, no computador, no celular ou no Iphone. O telejornal pode ser visto em casa, no trabalho, no trânsito. Como equacionar editorialmente nas edições dos telejornais a veiculação de conteúdos capazes de manter o interesse de uma audiência, ora integradas a um coletivo, ora pautada por demandas mais específicas? No ambiente de convergência midiática, a hiper-fragmentação dos conteúdos é correlata à hiper-segmentação dos públicos, fato que vem sendo considerado no negócio do telejornalismo, embora as soluções se mostrem ainda muito limitadas.
produção, seja pela limitação do dispositivo tecnológico. No primeiro caso permanece a intervenção do filtro que o profissional realiza no processo de seleção. Já no tocante ao suporte é necessário haver a convergência plena para que haja uma comunicação ‘pervasiva’, necessária para dar concretude às relações mais interativas, nas quais o conteúdo veiculado no telejornal pode ser expandido para a internet, complementado informações relativas àquela edição.
Em outro momento discutimos como a ‘pervasividade’ está presente no atual estágio dos processos de convergência midiática (MÉDOLA & REDONDO, 2008). Conceito utilizado nas ciências da computação, o termo ‘pervasivo’ é um neologismo do termo inglês pervasive computing, significando a disseminação de chips e da informática nos mais diversos ambientes e aparelhos. O termo está intimamente ligado aos conceitos de computação ubíqua e interoperabilidade, os quais remetem à idéia de conteúdos que podem ser acessados em qualquer lugar por meio de dispositivos móveis e de redes sem-fio comunicando-se entre si. Assim, a “pervasividade” está relacionada à disseminação e expansão de sinais em toda parte.
Estabelecendo um paralelo com os processos de difusão da informação, verificamos nos telejornais que inserem formas de interatividade, a mesma lógica da ‘pervasividade’ descrita acima, mas incidindo por enquanto apenas no plano de conteúdo das mensagens. Determinadas notícias veiculadas Jornal Hoje, bem como nos demais telejornais da Rede Globo são reproduzidas no portal G1, pertencente ao mesmo grupo econômico que administra a emissora. Ou seja, as matérias são
público vai em busca da informação, a mais completa, a mais atual, a que melhor responde à suas demandas. Na perspectiva da hiper-segmentação dos grupos, isso aumenta o desafio para os profissionais de jornalismo no sentido de estabelecer uma relação mais sólida com a audiência. Entretanto, não devemos esquecer que a televisão é um meio de grande alcance e que entre os critérios de noticiabilidade dos conteúdos jornalísticos estão os fatos que despertam, conforme já enfatizado, um interesse social. Assim, o telejornal voltado à audiência massiva na TV, quando transferido para internet, é fragmentado e desdobrado em produtos outros relacionados com o conteúdo audiovisual originalmente produzido para a exibição em fluxo televisivo. O conteúdo de um meio se estende de tal forma que sua expansão atinge outras mídias, mas no atual estágio de convergência tecnológica estes suportes não se encontram ainda totalmente integrados no Brasil. A televisão digital aberta e terrestre poderá ser um dos suportes desta convergência. No entanto, entraves no processo de regulamentação do modelo (BOLAÑO & BRITTOS: 2007) e nas questões econômicas em toda cadeia produtiva, podem dificultar o processo. A comercialização em massa de aparelhos de televisão digital ou a popularização das caixas conversoras de sinal digital para serem acopladas aos aparelhos analógicos, são soluções muito distantes em função dos altos custos para a maioria da população brasileira. Além disso, as emissoras necessitam de altos investimentos para a substituição dos equipamentos de transmissão de sinais. Tais dificuldades indicam que outros caminhos poderão ser trilhados antes da popularização do acesso à TV digital, com adoção dos dispositivos móveis e portáteis como os telefones celulares, também capazes de receber os sinais de TV agregando conceitos fundamentais da convergência como portabilidade, mobilidade, acessibilidade, conectividade e ubiqüidade.
digitais. A bidirecionalidade na relação de comunicação, para não mencionar a possibilidade de conexão entre os próprios telespectadores, força o emissor a tornar-se mais flexível desenvolvendo estratégias enunciativas que produzam efeitos de sentido de uma programação mais participativa. Pela internet, portais e sites com seus chats, blogs, e-mails. Pelo telefone, as ligações e as mensagens de texto. Obviamente, tudo sob fortes estruturas de comercialização. A convocação da audiência para esta forma de contato referenda a tendência de acompanhar o que já ocorre na internet, e evidencia como os meios estruturados em suportes de base analógica estão se preparando para quando a convergência for total. Mas enquanto isso não se concretiza na televisão, os emissores estão preocupados em construir discursos capazes forjar a imagem institucional de que estão sintonizados com as demandas de participação do público, ao mesmo tempo em que incentivam a aproximação dos receptores com os novos dispositivos tecnológicos. Ao estimular o telespectador a utilizar a internet para sugerir pautas, fazer perguntas aos entrevistados, participar de votações, acompanhar os relatos dos bastidores de uma matéria, o fazer jornalístico passa a servir ao propósito de renovar não apenas o negócio do jornalismo, mas fundamentalmente as bases que sustentam o vínculo do telejornal com seu telespectador.
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Comunicações
Sesquicentenário da investigação sobre o jornalismo no Brasil
José Marques de Melo (Catedrático UNESCO/Universidade Metodista de São Paulo e professor emérito da Universidade de São Paulo)
marquesmelo@uol.com.br
Resumo
Publicado em 1859, o artigo de Fernandes Pinheiro sobre a mítica introdução da imprensa no Brasil pelos holandeses no século XVII constitui um marco histórico para o conhecimento jornalístico brasileiro. Esta comunicação pretende resgatar o significado do episódio, suscitando o debate sobre a periodização da investigação jornalística.
Palavras-chave: Jornalismo. História. Investigação. Brasil
Abstract
Fernandes Pinheiro article on the mythic print press established in Brazil by XVII century Dutch colonizers, was published in 1859, becoming a token for national journalism history. This paper intends to rescue this event meaning in order to improve the debate on the journalism research landmarks.
Key words: Journalism. History. Research. Brazil
Resumen
pretende rescatar el significado del acontecimiento para fomentar el debate sobre la periodización del estudio científico del Periodismo.
Palabras-clave: Periodismo. História. Investigación. Brasil
Contexto cognitivo
Mesmo catalisando a atenção dos pensadores brasileiros desde o século XIX, o Jornalismo somente se torna um campo do conhecimento no século XX (Marques de Melo, 2006: 15-36; Pena, 2008: 226; Machado da Silva, 2008: 91). Portanto, o Brasil não constitui exceção, acompanhando a tendência dominante no panorama mundial da pesquisa midiológica (Marques de Melo, 2003c). Nesse processo de institucionalização, o jornalismo é inicialmente um problema que suscita observação ou controvérsia, converte-se em objeto de reflexão e debate, passando a ser reconhecido como disciplina acadêmica para formar agentes produtivos, até que se estrutura uma comunidade científica dedicada à sua cognição. Desta maneira, tem como meta permanente estimular a crítica das rotinas vigentes no sistema produtivo, influindo na atualização, dinamização ou reinvenção da práxis.
Entretanto, permanece indefinido o momento em que o interesse dos analistas pelo fenômeno deixa de ser informal, especulativo e isolado, gerando dados, construindo memória ou nutrindo correntes de pensamento. Também continua imprecisa a ocasião em que o seu estudo configura uma atividade coletiva, objetiva, generalizante e não valorativa (Duverger: 1962: 36), produzindo conhecimento sobre a práxis.
“marco histórico” (Duverger, 1962: 43) da teoria e pesquisa do Jornalismo no Brasil (Marques de Melo, 2006).
Marco histórico
O marco referencial da pesquisa brasileira em Jornalismo foi a publicação, no dia 20 de novembro de 1859, no Rio de Janeiro, do artigo “A imprensa no Brasil”, de autoria do historiador Fernandes Pinheiro na Revista Popular, vol. 1, n. 4, p. 217-224.
Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro11 nasceu no Rio de Janeiro, em 1825. Teve formação eclesiástica no Seminário de São José, no Rio de Janeiro, concluindo teologia em Roma. Conquista, por concurso, a cátedra de Retórica do Colégio Imperial de Petrópolis, Admitido no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1854, foi guindado imediatamente à sua diretoria, onde desempenhou “laborioso e fecundo” trabalho até sua morte em 1876.
Exerceu também o jornalismo, tornando-se um dos principais artífices do “ensaismo histórico”. Publicou volumosa obra literária, sendo um dos pioneiros na produção de obras didáticas que embasaram o preparo intelectual de várias gerações.
Seu polêmico artigo representou a semente que ensejaria a constituição do campo acadêmico do jornalismo no Brasil.
Trata-se de acontecimento que embute curiosamente uma contradição histórica, pois o nascimento tardio da imprensa brasileira contrasta com a precocidade da reflexão sobre a natureza peculiar ao jornalismo que ela difunde.
Ao invés de inibir os pioneiros agentes da nossa atividade jornalística, a carência de tipografias em território nacional, durante três séculos (Marques de Melo, 2003), vai aguçar o seu interesse reflexivo. Exercitando a crítica sobre o ofício, agentes da estirpe de Hipólito da Costa ou Evaristo
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da Veiga, transparecem a busca voraz de alternativas para compensar aquela privação intelectual. (Marques de Melo, 2007: 15-40)
Liberdade de expressão
Aliás, a conjuntura histórica por si só justifica o comportamento dos “precursores” do pensamento jornalístico brasileiro. Ela é caracterizada pela consolidação da doutrina da liberdade de imprensa, fato desencadeado pelas revoluções burguesas, em fins do século XVIII.
A pesquisa sobre os fenômenos jornalísticos no Brasil remonta à segunda metade do século XIX, pois as condições singulares do período histórico que vai de D. João VI a D. Pedro I foram marcadas por restrições legais, cerceando a liberdade de imprensa. Inibindo o desenvolvimento do nosso jornalismo, elas atuaram como fatores adversos à pesquisa sistemática desse fenômeno que só encontraria ambiente fértil no segundo império.
Durante o Segundo Reinado a imprensa vive seu melhor período de liberdade, garantido pela sabedoria de Pedro II. Em meio a esse ambiente de conciliação das elites nacionais, os Institutos Históricos começam a resgatar precocemente a trajetória do nosso jornalismo. E despertam polêmicas que conquistariam os corações e mentes dos nossos intelectuais, ao “enaltecer o pioneirismo dos holandeses na introdução da imprensa em terras brasileiras, contrastando com o atraso dos portugueses, que a proíbem e reprimem.” (Marques de Melo, 2003b)
Tese
A “preocupação inicial” do desbravador fluminense e dos seus continuadores imediatos “não está centrada nos processos noticiosos, porém nos seus meios de difusão, mais precisamente na tecnologia de impressão de livros, jornais e revista”. (Marques de Melo, 1999)
A tese de Fernandes Pinheiro segundo a qual os colonizadores holandeses introduziram a imprensa no Brasil sustentava-se na única evidência documental existente: o folheto Brasilche GeltSak, datado de 1645 e supostamente publicado no Recife.
A motivação do autor esta enraizada no movimento ascendente, no período posterior á abdicação do trono por Pedro I, de afirmação da identidade brasileira através da negação cultural da nossa herança portuguesa. “Nesse momento, (...) a identificação do português com o atraso e o passado”, dando origem a um “antilusitanismo particular...” (Ferreira & Neves, 2000: 228).
Antítese
Os historiadores pernambucanos deixaram de lado as especulações e foram buscar evidências empíricas capazes de refutar sua autenticidade, negando aquilo que seus pares fluminenses entendiam como mera “hipótese” investigativa.
Suas “pesquisas se concentraram em arquivos brasileiros e holandeses, produzindo resultados que negariam a hipótese dominante”. A conclusão aceita consensualmente pela comunidade historiográfica foi a seguinte: “A iniciativa de Nassau não fora consumada, por razões fortuitas, e os impressos supostamente recifenses haviam sido reproduzidos em gráficas européias.” (Marques de Melo, 2003b)
De qualquer maneira, a polêmica suscitada na segunda metade do século XIX, cuja faísca foi o artigo controverso de 1859, impulsionou os historiadores a reconstituir a história da nossa imprensa, motivados pelas efemérides nacionais de 1908, “começando pelo duplo centenário: a criação da Imprensa Régia e o lançamento do nosso primeiro jornal independente, o Correio Braziliense de Hipólito José da Costa”.
Parceiro de Alfredo de Carvalho no inventário do primeiro século da imprensa brasileira (1808-1908), Max Fleiuss produziu, no Rio de Janeiro, um dos primeiros state of art da pesquisa histórica sobre jornalismo, cujo texto aparece em 1922, durante as comemorações do centenário da Independência.
Rigorosamente “tais estudos ainda não enfocam o jornalismo como objeto definido”, tratando da “imprensa e dos seus produtos”, e só marginalmente focalizando “os processos socio-políticos que dão fisionomia peculiar à comunicação de atualidades”. (Marques de Melo, 2006)
Fronteiras
O divisor d`águas é sem dúvida o estudo paradigmático de Barbosa Lima Sobrinho, o jornalista que ocuparia espaço memorável na vanguarda da comunidade jornalística brasileira, ao longo do século XX. Ele desenha um perfil do desenvolvimento do jornalismo na sociedade industrial e dos impasses enfrentados no Brasil. Vale-se da experiência profissional como jornalista e da metodologia de análise aprendida no âmbito da ciência jurídica, sem deixar de recorrer também à ciência histórica.
Seu exemplo só seria emulado um quarto de século mais tarde, quando Carlos Rizzini, cujo perfil intelectual assemelha-se ao de Barbosa Lima Sobrinho, publica seu magnífico inventário histórico sobre o livro, o jornal e a tipografia no Brasil, produzido com o tirocínio do repórter e experimentando estratégias metodológicas “ iluminadas pela prática profissional ” (Dias, 2004: 12).
Interfaces
Rizzini atua, na verdade, como ponte de ligação entre o trabalho desbravador de Fernandes Pinheiro e os estudos fundadores do campo acadêmico do jornalismo, cuja iniciativa caberia a Danton Jobim (1960) e Luiz Beltrão (1960), pertencentes à geração dos jornalistas-professores. A ela Rizzini se integrara de corpo inteiro, lecionando no curso de jornalismo da antiga Universidade do Brasil e dirigindo a Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero em São Paulo.
Contestando a hipótese de “submersão no embrutecimento” (Dias, 2004: 15) e glosando outras assertivas de Fernandes Pinheiro, Rizzini em certo sentido legitimou o trabalho exploratório desse historiador fluminense, cuja atuação no campo comunicacional, particularmente jornalístico, mereceu estimulante incursão por parte do seu biógrafo, Paulo da Rocha Dias (2004). Suas anotações factuais e percepções críticas convidam outros pesquisadores a dar respostas a questões que permanecem desafiando os exegetas da historiografia midiática.
Mérito
Não fora sua impetuosidade e talvez ainda hoje a mítica tipografia holandesa permanecesse fascinando as novas gerações, a exemplo de tantos outros episódios que intrigam os estudiosos da área.
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O contributo de José Agostinho de Macedo para a crítica ao jornalismo em Portugal
Jorge Pedro Sousa (Universidade Fernando Pessoa e Centro de Investigação Media & Jornalismo), Nair Silva, Carlos Duarte, Gabriel Silva, Patrícia Teixeira e Mônica Delicato (Universidade Fernando Pessoa)
jorgepedrosousa@hotmail.com
Resumo
Nascido em 1761 e falecido em 1831, José Agostinho de Macedo foi um desbragado e truculento polemista português que se distinguiu, entre outros aspectos, pela crítica feroz que, após a Revolução Liberal de 1820, fez ao jornalismo panfletário e “partidário”, à proliferação de periódicos e à liberdade de imprensa. Sendo uma figura controversa, Agostinho de Macedo suscitou o interesse de autores tão insuspeitos como Teófilo Braga e Inocêncio Francisco da Silva (1898), mas até ao momento não foi feita qualquer abordagem específica à actuação de Macedo como crítico do jornalismo. Este trabalho pretende contribuir para o conhecimento da teoria crítica do jornalismo desenvolvida por Macedo, defendendo-se nele a tese de que o referido autor merece ser considerado um dos progenitores portugueses de uma Teoria Crítica do Jornalismo, pois identificou alguns dos problemas que levariam o jornalismo panfletário artesanal a ser substituído pelo jornalismo informativo industrial ainda no decorrer do século XIX.
Palavras-chave
Introdução
Em 1820, estava D. João VI no Brasil, a Revolução Liberal eclodiu em Portugal, no Porto, no dia 24 de Agosto. Esta sublevação, encorajada pelo exemplo espanhol, país onde o Rei, D. Fernando VII, tinha sido obrigado a aceitar uma Constituição liberal, representou o fim do Antigo Regime no País, pese embora o curto período de retoma do Absolutismo, protagonizado por D. Miguel, desde 1828 até à sua derrota, no desfecho da Guerra Civil, em 1834.
Os revolucionários vintistas procederam com cautela em relação às instituições herdadas do Antigo Regime. Afinal, e na sequência das invasões francesas e do domínio britânico, herdavam uma população pobre e esfomeada e um país fracturado entre um povo maioritariamente tradicionalista e católico e uma burguesia maioritariamente racionalista, progressista e liberal (Oliveira Marques, 2006: 448; Labourdette, 2003: 495). A censura prévia aos jornais, por exemplo, manteve-se. No entanto, o Governo Provisório de Lisboa12 promulgou, a 21 de Setembro de 1820, uma portaria que instituía o princípio da liberdade de imprensa, embora, ao mesmo tempo, regulasse o exercício da censura prévia e nomeasse uma Comissão de Censores. De qualquer modo, por força dessa portaria, passou a ser aceite a publicação de todo o tipo de escritos que não desrespeitassem o catolicismo, o Rei e a Dinastia de Bragança, a futura Constituição, as nações estrangeiras e, de forma geral, os bons costumes.
As novas condições legais permitiram o aparecimento de dezenas de novos jornais políticos e político-noticiosos em poucos meses, maioritariamente de perfil liberal, distinguindo-se, entre eles, o Astro da Lusitânia, de Joaquim Maria Alves Sinval, e O Independente, do patriarca da Revolução de 1820, Manuel Fernandes Tomás, e de José Joaquim Ferreira de Moura. O Mnemosine Constitucional, de Pedro Alexandre Cavroé, não foi tão influente quanto os outros dois, mas deve
ser citado porque foi a esse panfletarista que Macedo redigiu várias Cartas referidas neste trabalho. Os partidários do Antigo Regime absolutista reagiram à proliferação de jornais liberais. Vendo neles uma ameaça à sua ideologia, autores como o padre José Agostinho de Macedo e frei José
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