Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n.5, p.28997-29004 may. 2020. ISSN 2525-8761
Prevalência de excesso de peso em crianças e adolescentes de uma escola de
ensino gratuito
Prevalence of overweight in children and adolescents at a free educational
school
DOI:10.34117/bjdv6n5-375
Recebimento dos originais:20/04/2020 Aceitação para publicação:19/05/2020
Ana Raquel Silveira Gomes de Britto Avelino
Graduada em Nutrição pela Universidade de Fortaleza Instituição: Universidade de Fortaleza UNIFOR
Endereço: Av. Washington Soares, 1321 - Bloco H, sala 11 - Edson Queiroz, Fortaleza - CE, 60811-905
E-mail: anaraquelsg@gmail.com
Sherida da Silva Neves
Doutorando em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará Instituição: Universidade de Fortaleza UNIFOR
Endereço: Av. Washington Soares, 1321 - Bloco H, sala 11, Edson Queiroz, Fortaleza - CE, CEP 60811-905
E-mail: sheridasn@yahoo.com.br
Patrícia Teixeira Limaverde
Doutora em Biotecnologia - RENORBIO pela Universidade Estadual do Ceará Instituição: Universidade de Fortaleza UNIFOR
Endereço: Av. Washington Soares, 1321 - Bloco H, sala 11, Edson Queiroz, Fortaleza - CE, CEP 60811-905
E-mail: plimaverde@gmail.com
RESUMO
Objetivou-se avaliar o estado nutricional de crianças e adolescentes. Foram coletados e analisados dados de 386 crianças e adolescentes. Os dados coletados de antropometria foram: peso, estatura, circunferência da cintura, dobras cutâneas tricipital e subescapular. A amostra final contou com 386 crianças com idade de 5 a 14 anos, sendo 53,63% do sexo feminino e 46,37% do sexo masculino. Verificou-se que 37,82% estavam com algum tipo de excesso de peso e 24,47% apresentavam excesso de adiposidade. O estudo evidenciou também casos de baixa estatura em 2,41% das crianças do sexo feminino. É necessário incentivar hábitos alimentares mais saudáveis objetivando a redução do excesso de peso.
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n.5, p.28997-29004 may. 2020. ISSN 2525-8761
ABSTRATC
The objective was to assess the nutritional status of children and adolescents. Data from 386 children and adolescents were collected and analyzed. The data collected from anthropometry were: weight, height, waist circumference, tricipital and subscapular skinfolds. The final sample consisted of 386 children aged 5 to 14 years, 53.63% female and 46.37% male. It was found that 37.82% were overweight and 24.47% were overweight. The study also found cases of short stature in 2.41% of female children. It is necessary to encourage healthier eating habits in order to reduce excess weight.
keywords: Child. Teenager. Students. Pediatric obesity.
1 INTRODUÇÃO
A obesidade infantil é uma doença crônica, caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo, tem causa multifatorial que envolve vários aspectos como estilo de vida, meio ambiente, fatores genéticos, fisiológicos, psicológicos e culturais. Essa condição pode atingir qualquer faixa etária e trazer sérias consequências à saúde a curto e longo prazo, tais como: distúrbios psicossociais, distúrbios ortopédicos, respiratórios e dermatológicos, hipertensão arterial, hipertrigliceridemia, resistência a insulina, doenças coronárias, acidente vascular cerebral isquêmico e diabetes mellitus tipo 2 (ABESO, 2016).
No Brasil, a prevalência da obesidade tem seguido a tendência mundial. Em 2014, a avaliação nacional da obesidade apontou que a obesidade infantil vem crescendo no país e o número de crianças com excesso de peso, que chega a 15% da população infantil. Ainda, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2025, o número de crianças com sobrepeso e obesidade poderá chegar a 75 milhões no mundo (ABESO, 2016; ONU, 2015).
Nesse sentido, avaliar o estado nutricional de uma criança é a forma mais eficaz para investigar possível situação de risco, acompanhar o crescimento e desenvolvimento, identificar distúrbios nutricionais (desnutrição ou obesidade), além de ser importante no planejamento de ações de intervenção e prevenção de doenças crônicas na fase adulta. Informações importantes para avaliar o estado nutricional são as medidas antropométricas, como peso, altura, circunferência da cintura e comparadas com referências da Organização Mundial da Saúde (OMS) por idade e sexo. A criança ao ser monitorada por meio dessa avaliação nutricional tem a garantia de um padrão de crescimento, além de um importante instrumento para determinação de intervenção por parte dos profissionais da área de saúde e governo (SBP, 2009).
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n.5, p.28997-29004 may. 2020. ISSN 2525-8761 Deste modo, este estudo objetivou investigar o estado nutricional de crianças e adolescentes em fase escolar. É necessário conhecer esta população para que haja políticas públicas efetivas no combate a doenças como a obesidade infanto-juvenil.
2 MATERIAL E MÉTODO
O estudo foi realizado em uma escola de ensino gratuito na cidade de Fortaleza-Ce, no período de fevereiro a maio de 2018. A população do estudo foi formada por todas as crianças e adolescentes matriculados na escola. Foram excluídas da coleta as crianças ou adolescentes que se recusaram a fazer a aferição das medidas ou que os pais não assinaram o termo de consentimento.
Para a coleta dos dados antropométricos, foram utilizados: adipômetro da Cescorf® (Innovare 4), trena antropométrica Sanny® em Aço, estadiômetro portátil Avanutri®, seguindo a técnica descrita pelas orientações para coleta e análise de dados antropométricos do Ministério da Saúde (BRASIL, 2011).
Para avaliação nutricional, foram coletados os seguintes dados: idade, sexo, estatura, peso, circunferência da cintura (CC), dobras cutâneas tricipital (DCT) e dobras cutâneas subescapular (DCSE). Os dados foram utilizados para o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) e diagnóstico nutricional, sendo a classificação feita segundo recomendação do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN (BRASIL, 2011). Foram avaliados também a adiposidade abdominal segundo Taylor (2000) e o percentual de gordura corpórea, conforme Slaughter (1988) e classificado de acordo com Lohman (1987).
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Fortaleza sob parecer nº 2300207 e foi solicitada a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelos responsáveis legais das crianças. O estudo foi desenvolvido de acordo com a resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que regula a pesquisa em seres humanos no país (BRASIL, 2012). Os resultados foram tabulados e analisados por estatística descritiva no teste Qui-quadrado. As variáveis quantitativas foram expressas em média e desvio padrão. Os resultados foram apresentados em tabelas, sendo considerada a significância de p > 0,05 (probabilidade de erro de 5%). O sigilo dos dados foi mantido durante toda análise.
3 RESULTADO E DISCUSSÃO
A amostra final contou com 386 estudantes com idade média de 8,151,92 anos e variação de 5 a 14 anos, sendo 207 do sexo feminino e 179 do sexo masculino. Considerando
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n.5, p.28997-29004 may. 2020. ISSN 2525-8761 a distribuição por faixa etária, 348 tinham de 5 a 10 anos e 38 de 11 a 14 anos. A avaliação do estado nutricional se deu pela classificação antropométrica dos índices de massa corpórea por idade (IMC/I), estatura/idade (E/I), circunferência da cintura (CC), como demonstrado na tabela 1.
Tabela 1. Distribuição de crianças e adolescentes de uma escola de ensino gratuito de acordo com a classificação antropométrica, Fortaleza, 2018.
Estado Nutricional Feminino Masculino Total
n % n % n % IMC/I Magreza 6 2,90% 2 1,12% 8 2,07% Eutrofia 124 59,90% 108 60,33% 232 60,11% Sobrepeso 37 17,87% 32 17,88% 69 17,88% Obesidade 34 16,43% 25 13,97% 59 15,28% Obesidade grave 6 2,90% 12 6,70% 18 4,66% Total 207 53,63% 179 46,37% 386 100% E/I Muito Baixa 1 0,48% 0 0,00% 1 0,25% Baixa 4 1,93% 1 0,56% 5 1,30% Adequada 202 97,59% 178 99,44% 380 98,45% Total 207 53,63% 179 46,37% 386 100% CC
Sem excesso adiposidade 154 74,76% 136 76,40% 290 75,52% Excesso de adiposidade 52 25,24% 42 23,60% 94 24,48% Total 206 53,65% 178 46,35% 384 100%
Com relação ao índice IMC/I, observou-se que 37,82 % encontravam-se com algum tipo de excesso de peso, este dado está acima da média nacional que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em populações com esta faixa etária é de apenas 15% (ONU, 2015). Com relação a estatura por idade (E/I), a maioria das crianças encontravam-se com estatura adequada, com destaque para o sexo masculino com maior percentual de adequação. Porém ainda foram encontrado crianças e/ou adolescente com baixa estatura por idade. Estudo desenvolvido em população similar constatou que 20% das crianças e adolescentes apresentavam algum excesso de peso e não praticavam atividade física regular ou brincavam com outras crianças em horários livres (NICKEL; MEZZOMO; RAVAZZANI, 2017). Outro estudo aborda o contexto familiar como um fator que contribui para a elevação do peso corporal como, por exemplo, a restrição e as declarações negativas das mães referentes alguns
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n.5, p.28997-29004 may. 2020. ISSN 2525-8761 alimentos, evidenciando que o comportamento alimentar dos pais também esta inserido nesse processo de obesidade em crianças (PESCH et al., 2018).
Com relação a circunferência da cintura, foi identificado que 24,48% apresentavam excesso de adiposidade abdominal, com destaque para o sexo feminino. Pazin et al., 2017, aponta que circunferência da cintura aumentada está associada com pressão arterial elevada em crianças com IMC normal.
Ressalta-se ainda o percentual de gordura da população estudada, considerado, com variação media de 24,4510,21%, no total de 142 crianças e adolescentes, conforme Tabela 2. D’Avila; Silva e Vasconcelos, 2016, encontraram taxas de 23,9% de excesso de gordura corporal em escolares de 7 a 14 anos de idade.
Tabela 2. Distribuição de crianças e adolescentes de uma escola de ensino gratuito de acordo com o percentual de gordura, Fortaleza, 2018.
Percentual de gordura n % Total
Alto % de gordura 70 49,30%
Baixo ou normal % de gordura 72 50,70%
Total 142 100%
Rocha et al., 2016, em um estudo com escolares encontrou prevalência de excesso de peso e de gordura corporal excessiva. Sabe-se que o acúmulo de gordura abdominal em crianças e adolescentes tem aumentado juntos com os dados sobre obesidade, por causa de mudanças nos hábitos alimentares dos brasileiros, indicando uma exposição cada vez mais precoce a alimentos ricos em gordura saturada e sódio e o tempo dedicado a ficar em frete a televisão (DAL MAS; BERNARDI; POSSA, 2017). Estudos relacionam o exercício físico a modificação corporal em crianças na fase inicial da vida e durante a adolescência, o estudo recomenda que são necessários pelo menos trinta minutos de atividade física durante cinco dias na semana para se obter algum resultado favorável a saúde do corpo (ALMEIDA et al, 2018).
4 CONCLUSÃO
O acompanhamento nutricional se faz necessário em crianças e adolescentes, sendo esta uma das formas para identificar o estado nutricional e a partir disso gerar estratégias para melhorar a saúde das crianças e dos adolescentes. A população estudada apresentou um
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n.5, p.28997-29004 may. 2020. ISSN 2525-8761 percentual elevado de obesidade infanto-juvenil e excesso de adiposidade abdominal, um alerta para que esta situação não persista na fase adulta trazendo risco e complicações a saúde.
REFERÊNCIAS
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