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Considerações sobre a logoterapia e a análise existencial como leituras do funcionamento do psíquico: uma revisão de literatura / Considerations on logotherapy and existential analysis as readings of the psychic's functioning: a literature review

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n 3,p 14162-14174 mar . 2020. ISSN 2525-8761

Considerações sobre a logoterapia e a análise existencial como leituras do

funcionamento do psíquico: uma revisão de literatura

Considerations on logotherapy and existential analysis as readings of the

psychic's functioning: a literature review

DOI:10.34117/bjdv6n3-329

Recebimento dos originais: 10/02/2020 Aceitação para publicação: 23/03/2020

Leone Agapito Lima

Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UVA/CE). Bacharel em Psicologia pela Faculdade Luciano Feijão (FLF).

E-mail: leonehpl@hotmail.com

Francisco Flávio Firmino

Licenciado em Biologia pela Universidade Estadual do Ceará (UVA/CE). Graduando em Psicologia pela Faculdade Luciano Feijão (FLF).

E-mail: fflaviobiologia@gmail.com

Leonice Abreu Pereira

Licenciada em Pedagogia pela Universidade Regional do Cariri (URCA/CE). Bacharel em Psicologia pela Faculdade Luciano Feijão FLF).

E-mail: niceabreup@hotmail.com

Patrícia Mendes Lemos

Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC/CE). Pós-graduada em Neuropsicologia pela UniChristus (CE). Especialista em Educação Comunitária em Saúde

pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE). Docente em Psicologia na Faculdade Luciano Feijão (Sobral/CE).

E-mail: ptmenl_78@hotmail.com

RESUMO

Este trabalho objetiva apresentar a teoria psicológica de Viktor Emil Frankl, destacando

brevemente seu histórico, os conceitos da tríade trágica e os pilares da escola frankliana: Liberdade da Vontade, Vontade de Sentido e Sentido da Vida. Destacamos que a relevância para tal estudo é o fato de que a Logoterapia e Análise Existencial está implicada ao contexto social contemporâneo, cujas fatores: de falta de sentido, o “vácuo” existencial e a interrogação acerca do sentido da vida, têm se tornado cada vez mais presente.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n 3,p 14162-14174 mar . 2020. ISSN 2525-8761

ABSTRACT

This work aims to present the psychological theory of Viktor Emil Frankl, highlighting briefly his history, the concepts of the tragic triad and the pillars of the Frankish school: Freedom of Will, Will to Sense and Sense of Life. We emphasize that the relevance for such a study is the fact that Logotherapy and Existential Analysis is implicated in the contemporary social context, whose factors: lack of meaning, existential "vacuum" and questioning about the meaning of life, have become more present.

Keywords: Pillars of the Logotherapy. Tragic triad. Viktor Frankl.

1 NOTAS INTRODUTÓRIAS: SOBRE O AUTOR, VIKTOR EMIL FRANKL

Viktor Emil Frankl é o fundador da logoterapia. O termo que faz referência a esta linha de pensamento e compreensão, pode ser traduzido como ‘terapia através do sentido’, tradução feita pelo próprio fundador da Terceira Escola Vienense de Psicoterapia no livro Um sentido

para a vida. O autor em questão nasceu na cidade de Viena, Áustria, em 1905. De família

judaica, perdeu os pais, um irmão e a primeira esposa nos campos de concentração durante a segunda guerra mundial, lugar onde o mesmo passou por quatro campos de concentração nazista durante os anos de 1942 e 1945.

Alguns podem pensar que Viktor Frankl fundou a logoterapia enquanto esteve nos campos de concentração, mas sua interrogação sobre o sentido da vida começou ainda na infância, como ele mesmo afirmava: “a Logoterapia surgiu então na casa onde nasci” (Frankl, 2010, p. 26). Desde criança o pai da logoterapia queria ser médico, fato que se concretizou, e especializou-se em neurologia e psiquiatria. Antes de ser deportado trabalhou no Hospital Psiquiátrico de Viena, exerceu a psiquiatria também no setor particular e por dois anos foi o responsável pelo departamento de neurologia no hospital de Rothschild.

Em abril de 1945, com o fim da segunda guerra, Viktor Frankl foi libertado dos campos e retornou para Viena. Em julho daquele mesmo ano, num intervalo de nove dias, o livro Em

busca de sentido foi escrito. Esta obra o tornou conhecido mundialmente. Viktor Frankl

escreveu cerca de 39 livros, trabalhou como professor de neurologia e psiquiatria na Universidade de Viena, foi diretor da Policlínica de Viena por 25 anos, trabalhou como logoterapeuta, viajou por muitos países, no Brasil esteve duas vezes, compartilhando suas experiências e formando logoterapeutas. Aos 92 anos o pai da logoterapia faleceu em sua terra natal.

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2 AS CONDIÇÕES PARA O SURGIMENTO DA LOGOTERAPIA

Destacamos, por exemplo, o que Frankl relata na sua autobiografia que aos quatro anos, numa certa noite ele foi como que despertado com a ‘consciência’ de que um dia ele iria morrer. Ele diz que nunca teve medo da morte, o que de fato o incomodava era se a transitoriedade da vida fazia com que ela perdesse o sentido. A questão sobre o sentido da vida foi o que o moveu desde criança. No livro Em busca de sentido ele escreve: “A busca do indivíduo por um sentido é a motivação primária em sua vida, e não uma "racionalização secundária" de impulsos instintivos” (FRANKL, 2015, p. 124).

No ensino médio já tinha curiosidade por assuntos da psicologia. Também foi neste período em que se comunicou com Freud, por meio de cartas e o encontrou pessoalmente quando já estava na faculdade de medicina. Teve contato com Alfred Adler, fundador da psicologia do desenvolvimento individual. Ainda nos anos de estudos conheceu a obra de Max Scheler, que se tornou importante referência para aquilo que já se forjava, a logoterapia. Por volta dos quinze ou dezesseis anos Viktor Frankl proferiu uma palestra intitulada o sentido da vida.

Sobre esta fase o autor escreve:

Naquela época eu estava desenvolvendo duas de minhas ideias centrais: que, na verdade, não podemos questionar sobre o sentido da vida, porque somos nós mesmos que estamos sendo questionados – somos nós que temos que responder às perguntas que a vida nos coloca. E essas perguntas que a vida nos coloca só podem ser respondidas à medida que somos responsáveis pela nossa própria existência. (FRANKL, 2010, p. 63).

Estas duas ideias, sobre como encontrar o sentido da vida e da postura responsável frente a mesma são questões que estão implicadas em todo o processo psicoterapêutico. Para a logoterapia, é a pessoa que é interpelada a todo instante pela própria vida sobre o seu sentido. Então é o sujeito quem tem de responder a esta pergunta e, isto só será possível com atitude responsável pela própria vida.

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A Logoterapia se constitui por meio de três fases distintas: (1) o trabalho de aconselhamento de Frankl nos centros de prevenção ao suicídio na década de 1920. (2) O desenvolvimento de um sistema de pensamento calcado em filósofos como Max Scheler, Karls Jaspers, Martin Heidegger, Ludwing Binswanger e Martin Buber, e, posteriormente, validado por sua própria vivência nos campos de concentração no período da Segunda Guerra Mundial, como prisioneiro comum. (3) Uma extensa casuística que se configura em uma metodologia terapêutica descrita em livros no período pós-guerra. (AQUINO, 2015, p. 46)

Como fora dito acima, a logoterapia não foi fundada nos campos de concentrações nazistas, no livro Em busca de sentido Viktor Frankl diz que levou consigo manuscritos importantes sobre a Logoterapia, estas anotações se perderam nos campos. Ele afirma que os anos como prisioneiro lhe proporcionaram amadurecimento sobre suas teorias, ele pôde comprovar, junto aos companheiros que a falta de sentido fazia a diferença na vida dos recrutas. Aqueles que tinham um sonho, um objetivo, um porquê viver tinham mais resistência do que os que achavam que a vida já não tinha mais razão de ser, estes morriam mais rápido, desistiam mais cedo.

A logoterapia propõe uma análise sobre o noético e conduz a ele. Trata-se de uma análise frente à existência, e não da existência. Nesse sentido, concebendo o ser humano enquanto ser noético, Frankl apresenta algumas capacidades humanas inerentes às possibilidades da existência enquanto poder ser. (CORRÊA, 2013, p. 40).

Faz-se necessário explicar o sentido do termo noético na logoterapia e, para tal, tomamos como referência Lukas (1989, p. 29) que diz: “a dimensão propriamente do homem, ‘especificamente humana’ também chamada na logoterapia, dimensão noética, por derivação da palavra grega noûs, noetos (= espírito, mente)” e como aponta Pereira (2013), quando se fala de espírito enquanto “noûs”, podemos entendê-lo como “inteligência”, “intelecto”.

“A logoterapia e a análise existencial são, respectivamente, aspectos de uma mesma teoria. E, em verdade, a logoterapia é um método de tratamento psicoterápico, enquanto a análise existencial representa uma corrente antropológica de pesquisa” (FRANKL, 2017, pp. 55 – 56). A questão central é o modo como a pessoa se porta frente a existência e não a

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n 3,p 14162-14174 mar . 2020. ISSN 2525-8761 existência propriamente. A atitude do homem é o que fará a diferença, a maneira como este responde aos fatos.

3 A TRÍADE TRÁGICA

Segundo Viktor Frankl, existem três realidades inerentes a nossa condição humana, das quais não podemos nos furtar. Mais cedo ou mais tarde seremos confrontados com o que pode ser chamado também de “otimismo trágico”, que ele denomina por: dor, culpa e morte. Precisamos convir que são três realidades desafiadoras e quando temos que lidar com circunstâncias em que essa tríade “aparece”, alguns de nós achamos que vamos sucumbir e há quem sucumba de fato.

Todos nós já vivenciamos realidades dolorosas, e dores que vêm das mais vaiadas circunstâncias. Quem nunca precisou lidar com a culpa? Já ouvimos relatos de pessoas sobre a culpa ser algo atribuído a pessoas não evoluídas intelectualmente, mas essa experiência nos parece ser própria de todos nós. Quem pode fugir da morte? Quem pode impedir a morte dos seus entes queridos? Sabemos que cada pessoa pode reagir de modos diferentes, não havendo ‘receitas prontas’ aplicáveis à variações de comportamentos frente à lida com a finitude. Independentemente de como estejamos, a existência exige de nós, todos os dias, uma atitude e uma escolha. A logoterapia se debruça sobre tais questionamentos existenciais.

Frankl explica sua teoria sobre a tríade trágica:

Como é possível dizer sim à vida apesar de tudo isso?”. Como, para, colocar a questão de outra forma, pode a vida conservar seu sentido potencial apesar dos seus aspectos trágicos? No final das contas, “dizer sim à vida apesar de tudo”, para usar o título de um livro meu em alemão, pressupõe que a vida, potencialmente, tem um sentido em quaisquer circunstâncias, mesmo nas mais miseráveis. E isso, por sua vez, pressupõe a capacidade humana de transformar criativamente os aspectos negativos da vida em algo positivo e construtivo. Em outras palavras, o que importa é tirar o melhor de cada situação dada. O “melhor”, no entanto, é o que em latim se chama optimum – daí o motivo por que falo de um otimismo trágico, isto é, um otimismo diante da tragédia e tendo em vista o potencial humano que, nos melhores aspectos, sempre permite: 1. transformar o sofrimento numa conquista e numa realização humana; 2. extrair da culpa a oportunidade de mudar a si mesmo para melhorar; 3. fazer da transitoriedade da vida um incentivo para realizar ações responsáveis (FRANKL, 2015, p. 161).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n 3,p 14162-14174 mar . 2020. ISSN 2525-8761 O sentido da vida, apesar de todas as contrariedades, advém da forma como se lida com cada realidade. A logoterapia não tem uma visão pessimista da vida, mas pelo contrário, leva em conta as potencialidades do ser humano, suas possibilidades de transcender a qualquer circunstância. Para Frankl (2016) é uma característica do homem a capacidade de “definir-se e redefinir-se”, o homem precisa tomar consciência de que as coisas, as realidades mudam, as pessoas mudam. Aqui cabem os ditos populares: “enquanto há vida, há esperança” e “se a vida lhe der limões, faça uma limonada”, só podemos dizer que não tem mais jeito quando o sujeito morre.

De fato, existem realidades que não podem ser mudadas, tem coisas que fizemos e que não tem como apagar, na verdade o que foi feito está feito e ponto final, não escolhemos muitas vezes o que pode nos acontecer ou não, o que podemos escolher e de forma responsável, é que atitude devo tomar a cada instante. Como já foi dito, a vida nos pergunta qual o sentido que damos a ela a cada momento. A logoterapia “se preocupa, em primeiro lugar, com o sentido potencial inerente e latente em cada situação que uma pessoa enfrenta ao longo da vida” (Frankl, 2015, p. 166).

4 PILARES DA LOGOTERAPIA

Frankl acredita que o homem sempre é livre, porém, ele não desconsidera os limites, não desconsidera os fatores que independem do sujeito, como por exemplo: ter câncer ou não ter, isto não depende da vontade ou decisão de ninguém. Mas quando Frankl fala que o homem é livre, não está dizendo que o homem é “livre de”, por exemplo: de sofrer um acidente, de ser assaltado, etc., mas a liberdade entendida pelo fundador da logoterapia é a “liberdade para”, para escolher apesar das circunstâncias.

A compreensão de homem para Viktor Frankl vai além das dimensões ambientais e culturais.

O homem, portanto, é mais que produto de processos de aprendizagem, é mais que o resultado da interação entre ambiente e fatores genéticos. Ele possui capacidades de autodeterminação e de responsabilidade por suas decisões. E essas são algumas das potencialidades que fazem dele uma pessoa. Na perspectiva frankliana, a pessoa é noética, ou seja, é considerada para além de suas dimensões biopsicossociais (CORRÊA, 2013, p. 39).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n 3,p 14162-14174 mar . 2020. ISSN 2525-8761 Para a logoterapia a dimensão noética é a mais “profunda do ser humano”. Ainda que o ser humano seja atingido diretamente pelo meio no qual está inserido, por fatores psicológicos e por seus fatores genéticos, este não está condicionado a eles. Aquino (2015, p. 53), escreve sobre a logoterapia, que “atua, sobretudo como uma abordagem adequada para o tratamento de questões existenciais relacionadas com frustração da vontade de sentido de vida.”

4. 1 A LIBERDADE DA VONTADE

Neste primeiro pilar, a logoterapia compreende o homem como um indivíduo que é sempre livre, lembrando que é sempre livre para e não livre de, livre para decidir que atitude tomar a partir das circunstâncias que a vida lhe apresentará. Para Viktor Frankl o homem é livre “para a formação do seu caráter”, isto porque ele tem a capacidade do autodistanciamento, que é a capacidade de não se deixar determinar por aquilo que o “cerca” no ordinário do dia a dia. Corrêa (2013, p. 43) escreve: “O que importa à Logoterapia é saber acordar a consciência do homem, como um despertador, de modo que possa se responsabilizar pela própria vida”. É um processo em que o próprio sujeito vai descobrindo que pode escolher, apensar das circunstâncias.

O que acentuamos é o fato de que o homem (...) toma posição em relação a ele; o fato de que ele sempre se “posiciona” de algum modo e de que esse comporta-se é justamente um comportar-se livre. Tanto em relação ao mundo circundante natural e social, em relação meio exterior, quanto em relação ao mundo interior psicofísico vital, em relação ao meio interior, o homem toma posição a cada instante de sua existência. (FRANKL, 2017. P. 95)

Segundo Santos (2016) a liberdade da vontade é aquilo que possibilita ao homem superar os “condicionamentos biopsicossociais”, isto porque Frankl se opõe veementemente ao “pandeterminismo”. Liberdade e responsabilidade são duas coisas que não se separam. O homem é livre para e é responsável pelo que escolhe. Frankl inclusive aponta para a finitude da vida humana, para o fato da transitoriedade da existência, que diante desta consciência o indivíduo é como que convocado a responder com responsabilidade pela própria vida. Sabendo que somente ele pode responder por si próprio.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n 3,p 14162-14174 mar . 2020. ISSN 2525-8761 “O homem, portanto, sendo capaz de decidir criar e criar-se, é livre no seu decidir, uma liberdade que não é uma falta de limitação, mas que, na verdade, é muito mais a sempre possibilidade de decisão” (ANDRADE, 2015, p.28). A liberdade humana não é ilimitada. O homem, ao longo da vida, vai se deparar em meio a situações que não escolheu, seja a nível cultural, a nível de algum sofrimento ou mesmo dos próprios limites, por exemplo. A liberdade da qual a logoterapia fala é sempre de uma liberdade frente a algo. A partir das situações o homem vai escolhendo como se posicionar. O homem é colocado como o protagonista da própria existência, aquele que não está obrigado a ser o que a cultura, a psiquê ou quaisquer eventos “sugerirem”.

4. 2 A VONTADE DE SENTIDO

“O que chamo de vontade de sentido pode ser definido como o esforço mais básico do homem na direção de encontrar e realizar sentidos e propósitos” (FRANKL, 2011, p. 50). O homem necessita encontrar um sentido que de algum modo justifique uma atitude, uma postura, que o faça suportar e resistir frente a situações de profundas dores ou do vácuo existencial. É uma questão de sobrevivência. Este é interesse mais básico, é o interesse primário do ser humano, aponta Frankl.

O sentido é uma categoria transcendente e objetiva, mas que, por apresentar um caráter também pessoal e singular, deve ser buscada através de um instrumental chamado “consciência”. Este instrumental, por ser um constituinte humano, jamais poderá dar ao homem a plena certeza acerca do sentido último da vida de cada indivíduo, mas é o mais alto aporte que ele detém na busca vital pelo sentido (DOMINGOS, 2015, p. 150).

A vontade de sentido é como uma “mola propulsora”, é aquilo que leva o homem a autotranscender, ou seja, a apontar para algo além de si mesmo, a olhar para fora de si próprio. Para Frankl, é por meio da consciência, “consciência atenta e bem formada”, que o homem conseguirá se atentar para o fato de que cada circunstância “apela” para um sentido. Segundo o psiquiatra, é apenas por meio da consciência que o homem poderá se posicionar.

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A vontade de sentido, constitui, em meu entender, um dos aspectos básicos de um fenômeno antropológico fundamental a que dou o nome de transcendência de si

mesmo. Esta autranscendência do existir humano consiste no fato essencial de o

homem sempre apontar para além de si próprio, na direção de alguma causa a que serve ou de alguma pessoa a quem ama. (FRANKL, 2016, pp. 24 – 25).

Este segundo pilar da logoterapia trata da dimensão motivacional da pessoa, que aponta para a necessidade que o sujeito tem de encontrar um sentido. Segundo a logoterapia, a vontade de sentido é a principal motivação humana. É o que se pode dizer que se refere à uma procura de propósito, a uma finalidade. Frankl defende que o sentido para a vida constitui um fator de proteção a vida humana.

4. 3 SENTIDO DA VIDA

Poderíamos perguntar qual é o sentido da vida para a logoterapia, em que consiste este tal sentido? Pode-se imaginar que existe um único sentido para uma vida inteira, que o sentido para a vida pode ser encontrado de forma abstrata ou ainda que o sentido para vida se assemelhe a bem-estar, a uma “paz de espírito”, a uma impertubilidade da alma, como diriam os gregos antigos. Segundo Frankl (2015) o sentido da vida sempre vai se diferenciar de pessoa para pessoa. A cada dia o sentido pode mudar e, inclusive a cada hora. O autor acredita que o sentido não é único e o mesmo para a vida toda.

O sobrevivente de número 119.104 - Frankl - ressalta que a pergunta sobre o sentido da vida é feita pela própria vida e a resposta para esta pergunta é concreta, assim como a vida de cada sujeito é concreta. Cada momento exige uma postura específica e cada pessoa responde de modo singular. E o sujeito precisa ter consciência de que cada momento é único, que ele é único, portanto, sua resposta e postura é ímpar, que se ele não responder ao seu modo e com responsabilidade ninguém o fará.

A pergunta se é possível encontrar sentido na vida em qualquer circunstância, ainda que nas mais adversas, ainda que saibamos que ela é breve foi o que moveu Frankl na construção da sua teoria psicológica. Não foi o medo da morte que o fez estudar medicina, filosofia, psicologia, psicanálise, etc., mas foi o fato de acreditar que existe no ser humano a necessidade de encontrar um porquê para estar realizando tal atividade, tal escolha. Como ele relata na sua experiência nos campos de concentração, os prisioneiros que já não conseguiam ter um por que estarem vivos desistiam de lutar, desistiam de resistir.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n 3,p 14162-14174 mar . 2020. ISSN 2525-8761 Para Frankl o sentido da vida não estar na ausência do sofrimento ou na busca pela felicidade, estes dois fatores não podem ser um imperativo que dizem se a vida tem sentido ou não. Para a logoterapia, “o ser humano não é alguém em busca da felicidade, mas sim alguém em busca de uma razão para ser feliz, através – e isto é importante – da realização concreta do significado potencial inerente e latente numa situação dada” (Frankl, 2015, p. 162). A felicidade acontece quando o sujeito encontra uma razão pela qual valha a pena cada momento. A felicidade não tem um fim em si mesma, mas é uma espécie de “efeito colateral” de quem encontra um sentido.

Frankl aponta que os homens experimentam uma espécie de vácuo existencial. Muitas vezes se tem como viver, mas lhes falta um porquê viver.

Se nos perguntarmos o que é que produz o vazio existencial e o que pode tê-lo causado, temos a seguinte explicação: ao contrário dos animais, não são os instintos e as pulsões que dizem ao ser humano o que ele tem de fazer. E, ao contrário do que acontecia no passado, também as tradições não lhe dizem mais o que deve fazer. Sem saber o que é imperioso fazer e sem saber o que deve fazer, também já não sabe mais o que quer. E qual a consequência? Ou ele quer apenas aquilo que os outros fazem, e isso é o conformismo, ou o oposto: ele só faz aquilo que os outros querem – querem dele. (...) há ainda outra manifestação que é consequência do vazio existencial: trata-se de uma neurotização específica, a “neurose noogênica”, que etiologicamente tem sua razão de ser no sentimento de falta de sentido, na dúvida em relação ao sentido da vida ou à perda da esperança na existência de um tal sentido (FRANKL, 2016, p. 17).

Frankl não afirma que o vácuo existencial está no fato de um sujeito se questionar pelo sentido da vida, ao contrário, ele considera importante que as pessoas se perguntem, se questionem, não aceitem razões, respostas advindas da cultura, religião, enfim, respostas prontas. Segundo ele, perguntar pelo sentido da vida é um “ato de maturidade intelectual”.

O fundador da logoterapia defende a ideia de que o principal objetivo das pessoas não está na busca do prazer ou na fuga da dor, mas em perceber um sentido em cada circunstância. Para a logoterapia pode-se encontrar o sentido da vida de três diferentes modos, como: “1. criando um trabalho ou praticando um ato; 2. experimentando algo ou encontrando alguém; 3. pela atitude que tomamos em relação ao sofrimento inevitável” (Frankl, 2016, p. 135).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n 3,p 14162-14174 mar . 2020. ISSN 2525-8761 O primeiro ponto diz daquilo que o homem pode criar no espaço em que habita, daquilo que ele constrói e pode fazer a diferença na vida de outros indivíduos beneficamente. Já com relação a segunda maneira, Frankl explica que pode ser quando a pessoa experimenta, tem experiências com coisas que o mundo, as pessoas, oferecem, como coloca ele: com “a bondade, a verdade e a beleza” e encontrando alguém, mas este encontro só é verdadeiro, autêntico por meio do amor, para ele, esta é a única maneira de se ter acesso ao outro no mais íntimo da sua “verdade”, das suas potencialidades. E a terceira, não se trata de buscar o sofrimento, mas de como lidamos com ele no cotidiano de nossas vidas, considerando que não há quem viva sem ter passado pela experiência do sofrer.

No artigo Logoterapia: compreendendo a teoria através de mapa de conceitos, Santos (2016) aponta as cinco características do sentido de vida para a logoterapia, que são: o sentido da vida é único, assim como cada pessoa é única; é incondicional, Frankl acredita que é possível encontrar sentido em qualquer situação; é mutável, não é o mesmo a vida inteira, varia a cada circunstância; é o que tenciona, é o que move o ser humano; é concreto, como cada realidade da vida é.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Viktor Emil Frankl (1905 – 1997), médico, psiquiatra, neurologista, filósofo, professor e sobrevivente do holocausto da segunda guerra mundial, criou a logoterapia e análise existencial, considerada a terceira escola de psicoterapia vienense, antecedida pela Psicanálise de Sigmund Freud e Psicologia Individual de Alfred Adler. Esta escola de psicoterapia aborda temas importantes e inerentes a existência do homem moderno, como por exemplo, o vazio existencial.

Discutimos sobre a tríade trágica, composta pelo sofrimento, culpa e morte. A logoterapia entende que é possível, a partir do sofrimento, tornar esta experiência uma conquista e também uma realização. Com a culpa é possível encontrar mecanismos de mudança, para uma melhoria. Da morte, é possível, a partir da consciência de que a vida é uma realidade transitória, buscar realizar atos responsáveis.

Apresentamos os pilares da terapia centrada no sentido, a liberdade da vontade, a vontade de sentido e sentido da vida. Onde dissemos que o primeiro pilar da escola frankliana aponta para a capacidade humana de fazer escolhas, de tomar decisões frente a quaisquer situações deterministas ou adversas. Sobre a vontade de sentido, Frankl defende que há no

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n 3,p 14162-14174 mar . 2020. ISSN 2525-8761 homem uma necessidade, que segundo ele é primária, de encontrar sentido. E no terceiro pilar, o sentido da vida, o filósofo defende que este sentido não é único, que muda ao longo da vida e que não é dado, mas encontrado pela própria pessoa.

REFERÊNCIAS

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AQUINO, A. A. T. Et al. Logoterapia no contexto da psicologia: Reflexões acerca da análise existencial de Viktor Frankl como uma modalidade de psicoterapia. Logos e Existência: revista da Associação Brasileira de Logoterapia e Análise Existencial. 4 (1), 45 – 65, 2015.

CORRÊA, A. D; RODRIGUES, D. M. C. Finitude e sentido da vida: do torpor à tarefa. Logos

e Existência: revista da Associação Brasileira de Logoterapia e Análise Existencial. 2 (1), 37

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DOMINGOS, P. T. A autêntica imago hominis no limiar entre a filosofia e a psicologia. Logos

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__________. O que não está escrito nos meus livros: memórias. São Paulo: É realizações,

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LUKAS, E. Logoterapia: “A força desafiadora do espírito”. Tradução de José de Sá Porto. Santos: Edições Loyola, São Paulo, 1989.

PEREIRA, S. I. A ética do sentido da vida: Fundamentos Filosóficos da Logoterapia. Aparecida – São Paulo: Idéias & Letras, 2013.

SANTOS, D. M. B. Logoterapia: compreendendo a teoria através de mapa de conceitos.

Referências

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