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RELATÓRIO SITUACIONAL ÍNDIOS(AS) VENEZUELANOS(AS) DA ETNIA WARAO EM JOÃO PESSOA

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Academic year: 2022

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SECRETARIA DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO GERÊNCIA EXECUTIVA DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA

GERENCIA OP. DE SERVIÇOS, PROGRAMAS, PROJETOS E BENEFÍCIOS DO SUAS

RELATÓRIO SITUACIONAL

ÍNDIOS(AS) VENEZUELANOS(AS) DA ETNIA WARAO EM JOÃO PESSOA

Este relatório trata de um breve resumo situacional das condições em que se encontram os(as) índios venezuelanos(as) da etnia warao, que se encontram na cidade de João Pessoa e foram assistidos(as) com ações que envolvem a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano (SEDH) e outros órgãos do poder público. Abordará breve relato sobre quem são os(as) índios(as) warao, suas características peculiares, como chegaram até o Brasil e consequentemente à Paraíba e João Pessoa. Posteriormente será apresentado as ações encampadas por esta Secretaria e parceiros e situação atual em decorrência da pandemia mundial de coravírus (COVID-19). As informações aqui contidas foram reunidas a partir de registros de reuniões, notícias de sites e demais sítios eletrônicos disponíveis na internet que passou pelo meu crivo para representar as informações fidedignas à situação, troca de informações entre as instituições parceiras envolvidas no processo e a partir dos breves encontros in loco ocorridos entre os meses de fevereiro e março do presente ano.

QUEM SÃO E DE ONDE VIERAM OS(AS) ÍNDIOS(AS) VENEZUELANOS WARAO

Em breve apresentação, trata-se de um grupo de indígenas venezuelanos peculiares, diferente de outros grupos venezuelanos que cruzam a fronteira do Brasil desde o ano 2016, vindos para o Brasil a partir do Processo de Interiorização.

São provenientes da região nordeste da Venezuela e norte das Guianas. Viviam

em áreas litorâneas e ribeirinhas e, nestes locais, sobreviviam da coleta e da pesca, às margens

de rios em palafitas.

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COMO CHEGARAM AO BRASIL?

Vários fatores desencadearam a êxodo do povo warao do seu país de origem. A princípio, eles(as) migraram para os centros urbanos daquele país, onde passaram a sofrer com a crise que se instalara na Venezuela e com a xenofobia e alijamento social por parte do povo no mesmo país. Alguns(mas), logo mais, passaram a migrar para o Brasil.

Diz-se que fugiam de invasores, do extermínio de seu povo, de fuga das condições precárias de existência nas palafitas.

Este grupo tem formas peculiares de vivência em relação a outros aspectos do povo venezuelano: tem característica nômade, vivem em grupos coesos, até mesmo amontoados entre si, não consomem certos alimentos e a mendincância (coleta de esmolas na rua).

Ao chegarem ao Brasil, muitos povos dessa etnia foram auxiliados nas cidades fronteiriças da Venezuela, sob a articulação de ONG’s em parceria com a Agência da ONU para refugiados (ACNUR) e Exército Brasileiro. Há registros de que os warao migraram para vários estados do país.

COMO CHEGARAM À JOÃO PESSOA/PB?

Em João Pessoa, os(as) índios(as) venezuelanos(as) que aqui se encontram, pelo menos até onde sabemos a partir dos levantamentos que realizamos, em sua grande maioria chegaram por conta própria, de forma clandestina e gradual, em grupos menores, que logo se amontoaram em grupos maiores e estavam vivendo localizados em uma vila situado no bairro do Roger.

Há registros de que estão na cidade desde novembro de 2019. Esse grupo, no

entanto, não chegou até João Pessoa pelo processo de Interiorização, não sendo abarcado,

por exemplo, pelas políticas de assistência que em sua maioria são geridas pelas ONG’s em

parceria com a ACNUR, abrindo um leque de questões que colocam para o poder público

imensos desafios.

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COMO A SOCIEDADE TOMOU CONHECIMENTO DA EXISTÊNCIA DOS WARAO EM JOÃO PESSOA?

A situação do povo warao foi explicitada pela mídia local no mês de fevereiro/2020 a partir de denúncias anônimas sobre o estado de desidratação e subnutrição de adultos(as) e principalmente crianças. O grupo estava vivendo em uma vila no bairro do Roger, conhecida como “Vila do Lula”, onde o aluguel custava entre R$400 e R$450 reais.

Para conseguirem pagar o aluguel, recorriam à alternativa de pedir nas ruas e sinais com cartazes pedindo ajuda. Dessa forma, conseguiam paga-lo e suprirem as demais necessidades, de forma muito parca e precária.

De acordo com relatos de médicos durante os primeiros socorros ao grupo, eles/as estavam em condições precárias de saúde, alguns(mas) até correndo risco de vida, concentrando as enfermidades no grupo das crianças.

Logo equipes de saúde e assistência social foram acionadas para avaliar a situação das famílias e buscar meios de prestarem os serviços de urgência dos quais necessitavam dadas as condições em que se encontravam.

O caso também trouxe à tona outra grave problemática que assola os(as) venezuelanos(as) nessa vila: a extorsão econômica a qual estavam sendo vítimas pelo proprietário das pequenas residências.

De acordo com o próprio povo venezuelano, ao pagarem o aluguel, logo eram impelidos a pagarem mais mensalidades de outros grupos que entraram e saíram da vila, de forma que praticamente eles(as) estavam pedindo para sustentar os gastos na vila – seus e de supostos(as) outros(as) moradores(as) da mesma etnia.

A situação comoveu também a sociedade e promoveu a ação da sociedade civil

através de campanhas de doação e demais ações filantrópicas e assistencialistas em torno da

questão. Algumas ações pontuais ocorreram, pessoas comuns se mobilizaram para levar

doações até a vila, utilizar meios de comunicação para arrecadar roupas e alimentos, etc.

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QUAIS AS PRIMEIRAS AÇÕES EM QUE A SEDH SE ENVOLVEU NA ASSISTÊNCIA AO POVO VENEZUELANO?

No dia 21 de fevereiro, a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano foi convocada para uma reunião com diversos outros órgãos públicos, a exemplo do Ministério Público Federal (MPF), Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), Defensoria Pública da União (DPU), Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/PB) as próprias lideranças warao, dentre outros, para discutir e traçar estratégias de atendimento à esta população.

A reunião ocorreu no ginásio Guarany no bairro do Roger, próximo ao local onde os warao estavam residindo.

Este momento foi acompanhado pelo eixo de Assistência Social da SEDH, representadas pelas Proteções Básica e Especial da SEDH através de mim, Jéssica Juliana e Adrianny Gomes, respectivamente.

Foram discutidas ações nos campos da saúde, assistência social, trabalho e habitação, perpassando todas as políticas públicas e sociais adotadas pelos governos em âmbito municipal e estadual.

Consensuou-se na discussão de que a mais urgente necessidade dos warao se firmava nas condições primeiras de subsistência. De forma mais urgente, precisavam de assistência médica, que segundo repasses da Secretaria de Saúde de João Pessoa, eles(as) já estavam sendo assistidos(as) e tiveram acesso ao Cartão SUS a partir de uma articulação realizada por esta secretaria, visto que eles(as) não possuíam CPF ou RG.

Logo após, foram discutidas as ações de segurança alimentar, a qual a Prefeitura de João Pessoa, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDES) comprometeu-se em assisti-los(as) com alimentação em “quentinhas”.

O campo da habitação foi o mais extenso e mais complexo, apresentando um

desafio para todas as instituições presentes. Os warao apresentaram dificuldades para o

pagamento dos alugueis e já há dois meses estavam atrasados e sofriam ameaças constantes

de despejo, tornando urgente as providencias a serem tomadas para que não viesses a ser

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A Prefeitura de João Pessoa nesse ensejo, se comprometeu com a inserção do povo warao em um auxílio aluguel, programa executado pela Secretaria de Desenvolvimento Social. No entanto, os warao precisariam ter CPF para abrirem conta corrente na Caixa Econômica Federal, tornando o processo mais lento. Posteriormente, a partir de articulação entre FUNAI e CEF, começaram a ser abertas as primeiras contas.

Abriu-se então a necessidade de se discutir uma ação emergencial de acolhida dessa população em algum prédio público que tivesse condições de abriga-los, levando a discussão para uma outra reunião. Estas discussões foram mantidas nas reuniões que seguiram após esta organizada pelo MPF e DPU e a partir dela, a SEDH tomou algumas medidas emergenciais na assistência a esta população, que serão listadas a seguir. Há a necessidade de discutir cada ponto detalhadamente, mas será abordado posteriormente através de relatório mais detalhado.

Encaminhamentos da Reunião articulada pelo MPF e DPU (21/02)

 SEDH se comprometeu em articular junto aos outros órgãos públicos presentes a pensar estratégias de atendimento aos warao em relação à moradia.

 Documentação básica: processo impossibilitado, pois demandava que eles/as tivessem chego de forma legal ao Brasil. Precisam regularizar situação junto à Polícia Federal.

 Política de emprego e renda: Avaliou-se que seria um contrassenso inserir os warao em políticas de capacitação profissional sem antes conhecer melhor as suas origens, o que eles avaliam enquanto oportunidades de trabalho. Outra questão que se coloca é que são todos analfabetos.

 Habitação: a SEDH, junto a outros órgãos, entrou em um processo de articulação na

busca de um local que pudesse abrigar o povo venezuelano.

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Possibilidade de um imóvel no Varadouro

 Abriu-se uma possibilidade de um imóvel localizado no Varadouro, um casarão com capacidade de abrigamento do número de pessoas do grupo.

 A SEDH articulou o setor de engenharia para ir até o imóvel constatar as condições de habitabilidade do local (hidráulica e elétrica) e suporte à demanda de abrigameto do grupo.

 Após vistoria e parecer da engenharia e setor social da SEDH, constatou-se que o local oferecia riscos e necessitaria de mais tempo e recursos para ajustes, assim como não atenderia as demandas sociais mais urgentes dos warao.

Reunião MPF com pauta sobre habitação (06/03)

 A SEDH foi junto com FUNAI e MPF in loco até dois prédios de duas escolas estaduais desativadas no Ernani Sátiro e outra no Funcionários verificar as condições de habitabilidade, através de uma articulação com a Secretaria Estadual de Educação.

 Constatou-se que a primeira escola oferecia condições, após serem feitos alguns ajustes hidráulicos e elétricos, de abrigar cerca de 40 a 50 pessoas.

 A segunda escola, que tratou-se de um imóvel residencial tipo anexo administrativo, avaliou-se que estava sem condições de atender um grande número de pessoas.

 Foi articulado que um grupo iria para a escola do Ernani Sátiro (Grupo de Rafael) e outro ficaria aguardando a viabilidade de outro local para abriga-los(as).

Audiência Pública na Câmara Municipal de João Pessoa (09/03)

 Tratou-se, especialmente, de um momento de repasses de ações e discussões de várias

instituições presentes, de âmbito municipal, estadual, sociedade civil e outros sobre a

situação dos(as) venezuelanos(as). Intervi apontando quais ações tinham sido tomadas

até o momento.

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Assistência ao povo venezuelano na escola do Ernani Sátiro

 A SEDH viabilizou o translado do grupo de venezuelanos(as) para a escola do Ernani Sátiro através da disponibilização de ônibus.

 Viabilizamos um segundo transporte para buscar algumas pessoas e pertences que não tinham sido levados na primeira viagem.

 Os ajustes estruturais de telhado e portão também foram viabilizados pela SEDH.

 Disponibilizamos em caráter emergencial alimentos e material de limpeza para os warao.

Índios(as) Venezuelanos(as) e COVID-19: primeiras medidas

 A partir de uma articulação entre os órgãos envolvidos na questão dos(as) venezuelanos(as), foi resolvido um local para abrigar os warao. A SEDH aditivou um convênio com a Arquidiocese da Paraíba para abrigamento dos(as) índios(as) venezuelanos(as) que estavam na vila aguardando articulação de um local para manutenção do espaço.

 Foram abrigados(as) na sede do Centro Social Arquidiocesano São José, situado na Diogo Velho, Centro de João Pessoa, 19 famílias contendo 87 venezuelanos(as). A SEDH viabilizará recursos financeiros para que sejam oferecidas as condições de permanência dos warao no local. Será fornecido as 3 alimentações do dia e medidas de segurança para que consigam permanecer em um local com estrutura adequada. A iniciativa é um redimensionamento de parceria já existente entre as entidades para atendimento de pessoas em situação de rua e o convênio é de R$500.000,00.

 Um grupo que ficou remanescente foi o “Grupo de Alonso”, acolhido pela

Arquidiocese, mas pelo Centro Social não ter condições de abriga-los(as), o

coordenador articulou junto ao Sindicato dos Servidores Federais um aluguel de um

imóvel que se localiza no bairro de Jaguaribe que será pago por dois (02) meses.

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 O grupo da Escola do Ernani Sátiro está abrigado e necessitam ainda irem às ruas em busca de dinheiro para suprimento de necessidades básicas. A PMJP está fornecendo cestas básicas e a SEDH está de sobreaviso para caso precisem de algum outro atendimento.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS WARAO

É importante destacar que os warao se apresentou primeiramente como um grupo homogêneo, mas foi se ramificando conforme a necessidade de separação para que houvesse condições de abrigamento nos locais articulados pelos poderes públicos.

Outra questão é que em números, podemos afirmar que o grupo só cresce e que do momento que foram visibilizadas as suas demandas até o presente momento, outros(as) venezuelanos(as) da etnia warao já chegaram em João Pessoa e foram se juntando com os(as) demais.

Os warao têm contato direto com parentes e amigos(as) que estão na Venezuela e alguns(mas) até mesmo podem estar à caminho de João Pessoa, o que nos leva a concluir que o número de venezuelanos(as) da etnia warao pode vir a aumentar nos meses que seguem.

WARAOS QUE ESTÃO SOB ABRIGAMENTO EM NÚMEROS

GRUPO LOCAL QUANTITATIVO

Grupo de Rafael Escola no Ernani Sátiro 48 pessoas Grupo de Nelson Centro Social da Arquidiocese da

Paraíba

87 pessoas

Grupo de Alonso Casa alugada em Jaguaribe 35 pessoas

Total 170 pessoas

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DESAFIOS AO ATENDIMENTO DO POVO WARAO

A assistência aos warao trata-se de um fato novo de recente preocupação para os poderes públicos e consequentemente, à Política de Assistência Social. A demanda chega até os equipamentos da Assistência (CRAS, CREAS, Centros POP, dentre outros) e é atendida seguindo os protocolos já seguidos pela assistência social, mas, por tratar-se de grupos específicos, o atendimento às necessidades dessa população se adequam talvez a normativas que não são adequados para os(as) mesmos(as).

Enquanto política pública, avançamos consideravelmente no atendimento a demandas de vários grupos populacionais, como mulheres, negros e negras, quilombolas, população cigana, pessoas em situação de rua, LGBT’s. No entanto, em relação aos(as) migrantes, necessita-se da articulação com as diversas outras políticas para se estruturar uma política integral de atendimento às pessoas em condição de refúgio, principalmente estes(as) que não estão amparados(as) pela Interiorização, processo que apresenta também suas fragilidades e desafios de operacionalização.

Este relatório não se esgota com estas breves reflexões sobre a situação dos(as) venezuelanos(as) da etnia warao em João Pessoa e necessita de maior aprofundamento na análise, principalmente no que tange a este ponto específico, tarefa para nossas próximas discussões.

João Pessoa, 30 de abril de 2020

Jéssica Juliana Batista

Assistente Social – CRESS/PB nº 5234

Gerente Op. de Serviços, Programas, Projetos e Benefícios do SUAS

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