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Rio Grande do Sul. Os estados da Mata Atlântica

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Academic year: 2021

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Os estados da Mata Atlântica

Localizado no extremo sul do Brasil, na fron- teira do Uruguai e Argentina, o estado do Rio Grande do Sul possui 282.062 km

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, população de 10.187.798, clima subtropical, relevo com três regiões naturais distintas e dois grandes biomas:

Mata Atlântica (no planalto serrano e região lagu- nar) e Pampa. Originalmente três grupos indígenas ocupavam o território gaúcho: o ge ou tapuia, o pampeano (Charrua, minuano) e o guarani. Dois fatores diferem a cultura do Rio Grande do Sul dos demais estados do Brasil: a ocupação tardia do território e a guerras.

A ocupação deu-se, principalmente, a partir de 1824 com a chegada de imigrantes alemães em 1875 e com os italianos que se instalaram no Vale do Rio dos Sinos e na Serra.

Os conflitos entre portugueses e espanhóis sobre os limites da fronteira no extremo sul do Brasil só se encerraram em 1777 e a definição da fronteira definitiva hoje correspondente ao Estado só aconteceu em 1801. No período entre 1835 e 1845, aconteceu a Revolução Farroupilha, que tinha por objetivo proclamar a independência do Estado que não aceitava a subordinação imposta pelo Governo Central. Nessa época, os ideais

de liberdade chegaram ao extremo sul do Brasil vindos da Europa.

Historicamente a base da economia gaú- cha é a pecuária e a agricultura, mas hoje as atividades industriais também têm destaque.

O Estado é conhecido como celeiro do Brasil em razão da grande produção de soja, trigo, arroz e milho. Entre as atividades industriais destacam-se a coureiro-calçadista, alimentícia, metalúrgica e química.

Estima-se que em 1500 havia 11.202.705 km

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(39,70 hectares) com cobertura de vegetação de Mata Atlântica no Estado. Em 1940, a cobertura original era de 9.898.536 Km

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(35,08%), mas em menos de 20 anos perdeu-se mais 7 milhões de hectares dessa vegetação, restando apenas 2.700.501 Km

2

(9,57%). Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostrou que em 1995 havia so- mente 2,69% do território gaúcho com cobertura de remanescentes de Floresta Atlântica. Uma sim- ples e rápida análise constata que o desmatamento ocorrido está estreitamente relacionando com o aumento da área agrícola que ocorreu com a mi- gração de colonos e seus descendentes para novas

Rio Grande do Sul

Parque Nacional dos Aparados da

Serra

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Ruínas de São Miguel das Missões, já no limite com o Pampa

áreas, assim como a mecanização da agricultura.

Como em outras regiões, o crescimento popu- lacional e a conseqüente urbanização também influenciaram os altos índices de desmatamento.

O Domínio da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul é constituído de floresta ombrófila densa, floresta ombrófila mista (floresta com araucária), floresta estacional semidecidual, campos de alti- tude, restinga.

Nos últimos anos, percebe-se a recuperação florestal em áreas abandonadas pela agricultura.

A mecanização e a falta de políticas públicas para o pequeno agricultor têm levado os produtores rurais a abandonar áreas antes usadas para agri- cultura, principalmente as encostas de morros.

Por outro lado, o desmatamento continua.

Pequenos produtores continuam a desmatar para aumento da área “produtiva” ou para lenha, serrarias continuam a explorar florestas nativas, empreendimentos de infra-estrutura como es- tradas e barragens são permitidos em área com remanescentes florestais.

Remanescentes atuais

No Litoral Norte, encontra-se o principal conjunto de remanescentes da floresta atlântica, mais especificamente de floresta ombrófila densa e, do lado atlântico, juncais, campo seco, figueiras,

jerivás, cedros, timbaúvas; no lado continental, re- manescentes de matas de restinga. Na região, está localizada a Reserva Biológica Estadual da Serra Geral - na parte alta -, Parque Estadual de Itapeva – na planície - e Reserva Ecológica da Ilha dos Lobos - no oceano, junto à cidade de Torres.

Nessa região, predomina o minifúndio, onde a terra é explorada ao máximo, inclusive em áreas de preservação permanente (APPs), com a cultura da banana (nas encostas) e arroz. A urbanização da orla marítima para turismo de verão é responsável pela degradação ou extinção de áreas com mata ou vegetação de restinga, banhados e a remoção de dunas.

No planalto gaúcho, encontra-se um dos mais ameaçados ecossistemas da Mata Atlântica:

a floresta com araucária associada aos campos de altitude. O pinheiral possui dois andares per- ceptíveis ao olhar: o andar inferior consiste de árvores baixas, geralmente mirtáceas, sendo o andar superior o domínio da araucária (Araucaria angustifolia).

Nessa região, também restam alguns poucos

remanescentes da floresta estacional semideci-

dual, pequenas manchas de um maciço contínuo

que unia Argentina, Paraguai e Brasil. A região

abriga uma das mais belas paisagens do Brasil: os

cânions do Itaimbezinho e Fortaleza, localizados

nos Parques Nacionais de Aparados da Serra e Serra

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Rio Camaquã e seus

remanescentes florestais

Geral na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. No planalto, estão localizadas grandes áreas com monoculturas de soja, milho e pinus e plantios menores de batata, alho e repolho, entre outros. Pelas características de relevo, a região tem grande potencial de aproveitamento hidrelétrico, especialmente na bacia do Rio Uruguai, na divisa com Santa Catarina, o que indica mais agressão à vegetação nativa. Junto ao Rio Uruguai ocorre a floresta estacional semidecidual, formada por es- pécies como a canafístula, que floresce em janeiro e fevereiro, a paineira, o alecrim, a canela, o cedro e o louro, sendo os últimos quase extintos pela ação de madeireiras.

Na região serrana, encostas do planalto vol- tadas para o sul, encontram-se remanescentes de floresta estacional semidecidual e, nas partes mais altas, floresta com araucárias e campos de altitude e, no leste, da floresta estacional semidecidual. É a região de colonização alemã e italiana, com áreas de minifúndios intensamente exploradas. É dessa região que vem a maior pressão para a flexibiliza- ção e utilização das áreas de preservação perma- nente. Os vitivinicultores, por exemplo, usam as encostas para plantio da uva em grandes parreirais.

A região também apresenta grande urbanização e o principal pólo metal-mecânico do Estado.

Nas regiões do Litoral Médio e Sul e também no entorno da Lagoa dos Patos (na verdade uma laguna), existem diversos remanescentes da mata

de restinga e formações de dunas paleolíticas e floresta estacional semidecidual. Na região, es- tão localizados a Estação Ecológica do Banhado do Taim, o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, ambas com destacado papel na proteção de aves migratórias, e o Parque Estadual do Delta do Ca- maquã (floresta estacional semidecidual). As áreas de banhados (alagadas) são tradicionalmente ocu- padas por grandes plantações de arroz ou drenadas para pecuária. O crescimento urbano aumenta nas cidades localizadas à beira da Laguna dos Patos em razão do turismo de verão. A beleza cênica da região é única, com a presença de figueiras centenárias às margens das inúmeras lagoas que ocorrem nessa área.

Até 2005, o Rio Grande do Sul era o único estado brasileiro onde a caça amadora era permi- tida. Somente nesse ano, uma sentença judicial suspendeu a temporada de caça que ocorria na região em razão das aves de banhado, muito vi- sadas pelos caçadores.

Outra característica do Estado é o trabalho conjunto entre diversas instituições visando a pro- teção e recuperação do bioma Mata Atlântica. O Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica tem atuação ativa com a participação de Secretarias de Estado, ONGs ambientalistas, repre- sentantes dos moradores e comunidade científica.

Desde sua criação, em 1994, esse Comitê mantém

continuadas ações em prol da floresta atlântica.

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Campos nativos em São José dos Ausentes

Município de São José dos Ausentes

Também o Elo da Rede Mata Atlântica tem tido papel relevante para congregar e fortalecer as ações das ONGs que atuam no bioma. O Elo-RS, que atua desde 2002, possui coordenação de três entidades, mais uma secretaria executiva, uma es- trutura de trabalho não existente nos demais estados brasileiros.

Kathia Vasconcellos Monteiro é

coordenadora do Núcleo Amigos da

Terra/Brasil e Nely Blauth é asses-

sora técnica do Núcleo Amigos da

Terra/Brasil

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Ações de proteção na Zona Costeira*

Na região do Rio Grande do Sul, até Uruguai adentro, diversos banhados formam uma imensa zona úmida latino-americana. A Laguna dos Patos, as lagoas Mirim e Man- gueira são enormes reservatórios de água interagindo com banhados e marismas. Uma singular diversidade de fauna e flora - algu- mas raras, endêmicas e/ou ameaçadas de extinção - é encontrada nos remanescentes e ecossistemas associados de Mata Atlântica, que sofrem pelas externalidades oriundas das múltiplas atividades urbanas e também rurais.

O Centro de Estudos Ambientais (CEA), organização ecológica não-governamental, com mais de 22 anos de atuação na região, tem priorizado suas ações e projetos em edu- cação ambiental e direito ambiental na região, tendo como escopo a sustentabilidade das Zonas Úmidas.

Muitos diplomas legais foram conquis- tados através de processos de participação e organização popular em municípios dessa zona costeira gaúcha. Em Pelotas, pode- mos citar: a Lei 3835/94, que reestrutura o Conselho Municipal de Proteção Ambiental (Compam); a Lei 4125/96 que dispõe sobre a criação do Programa Adote Uma Área Verde;

a Lei 4336/98, que declara de valor paisagís- tico e ecológico a Mata do Totó, localizada no Balneário do Laranjal e Barro Duro; a Lei 4354/99, que institui o Código Municipal de Limpeza Urbana (CLU); a Lei 4392/99, que declara como área de interesse ecoturístico a orla da Laguna dos Patos, no município de Pelotas; Lei 4428/99, que dispõe sobre a flora nativa exótica do município de Pelotas;

a Lei 4753/01, que dispõe sobre o Fundo para a Sustentabilidade do Espaço Municipal (Fusem) e a Lei Orgânica Municipal, ainda que de forma tímida.

Praia da Guarita em Torres

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Através de diversos projetos de educa- ção ambiental, o envolvimento da coletivida- de tem ajudado a construir noções teóricas e resultados práticos de sustentabilidade, com inclusão social. Destacamos o Projeto Mar de Água Doce (Promad), desenvolvido em 1995 e que recebeu prêmios internacionais;

Projeto Abrace a Lagoa; movimento “Eu também Quero a Lagoa Despoluída”; pro- jetos de educação ambiental desenvolvidos juntamente com o Programa Mar de Dentro, do governo do estado do Rio Grande do Sul, atualmente quase extinto pela proposta políti- ca governante; apoio ao projeto Coletivos de Trabalho e atualmente Construindo a Agenda 21 de Pelotas, o qual encontra-se numa fase de elaboração de projetos para posterior execução, caso o governo municipal não comprometa ainda mais sua continuidade.

Entretanto, chegou-se a esse módulo depois de várias reuniões públicas com a co-

letividade da orla da laguna dos Patos, cons- tituída por moradores (muitos pescadores e outros cuja sobrevivência também depende dos elementos ambientais) e veranistas. A comunidade local diagnosticou e apontou premissas para projetos e ações, apoiados por uma parceria das ONGs e governo lo- cal, Ministério do Meio Ambiente e o Fundo Nacional do Meio Ambiente. Uma pesquisa realizada junto à comunidade destacou a importância da proteção dos banhados e das matas remanescentes da orla, despertando uma nova relação para com tais ecossiste- ma daqueles (agentes socioambientais) que formam os Núcleos de Educação Ambiental (NEAs).

*Antonio C. P. Soler, advogado ambienta- lista, mestrando em desenvolvimento susten- tável (Argentina) e coordenador do Elo-Sul Rede Mata Atlântica pelo CEA.

Aves típicas do Rio Grande do Sul

PROJETOS NO RS: págs. 238, 251 e 264

AMEAÇAS NO RS: págs. 201, 211, 215, 221 e 223.

A REDE NO ESTADO: pág. 301

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