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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0024.13.246654-1/001

Número do Númeração 2466541-

Des.(a) Beatriz Pinheiro Caires Relator:

Des.(a) Beatriz Pinheiro Caires Relator do Acordão:

18/06/2015 Data do Julgamento:

29/06/2015 Data da Publicação:

E M E N T A : R E C U R S O E M S E N T I D O E S T R I T O . C R I M E D E DESOBEDIÊNCIA. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. INFRAÇÃO QUE DECORRE DAS RELAÇÕES FAMILIARES. COMPETÊNCIA DA VARA CRIMINAL ESPECIALIZADA.

RECURSO PROVIDO. - Constatado que o delito de desobediência atribuído ao acusado decorre das relações domésticas, por descumprimento de medidas protetivas previstas na Lei n.º 11.340/2006, é competente para julgamento do feito, a vara criminal especializada em conflitos desta natureza. - A mulher deve ser considerada vítima, no caso de inobservância das medidas de proteção que lhe foram conferidas, o que firma a competência da vara especializada em feitos envolvendo a Lei Maria da Penha.

REC EM SENTIDO ESTRITO Nº 1.0024.13.246654-1/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - RECORRIDO(A)(S): ROVANI SILVA - VÍTIMA: T.K.G.V.

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DESA. BEATRIZ PINHEIRO CAIRES

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DESA. BEATRIZ PINHEIRO CAIRES (RELATORA)

V O T O

Trata a espécie de Recurso em Sentido Estrito interposto pelo Ministério Público, contra a r. decisão de fl. 68/69, de lavra do em. Juiz de Direito da 14ª Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte, que, de ofício, declinou de sua competência para apreciação da ação penal em que se apura a possível prática, por Rovani Silva, do delito previsto no art. 359 do CP.

Segundo se aquilata do exame dos autos, o acusado teria descumprindo medidas protetivas previstas na Lei n.º 11.340/2006, circunstância que gerou denúncia pela prática, em tese, do crime de desobediência à decisão judicial.

Inconformado com a decisão proferida, o Ministério Público recorreu (fl.

72/81), sustentando que as medidas protetivas tutelam a integridade da vítima e seu descumprimento importa em violação da proteção conferida à mulher, o que determina a competência do juízo especializado em violência doméstica.

Devidamente contra-arrazoado (fl. 110/115), bate-se a ilustre Defesa pela manutenção da decisão objurgada, ratificada por ocasião de eventual retratação (fl. 116).

Nesta instância, instada a se manifestar (fl. 123/126), opinou a douta Procuradoria-Geral de Justiça no sentido do provimento do recurso, em parecer subscrito pela Dr.ª Myrian Regina Xavier do Nascimento Carvalhaes.

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É, resumidamente, o relatório.

Presentes os pressupostos de admissão e processabilidade, conheço do recurso, interposto de acordo com o previsto no art. 581, II, CPP. Ilustra-se:

Contra as decisões que concluírem pela incompetência do juízo, manejável é o recurso em sentido estrito, nos termos do art. 581, II, CPP. São as decisões comumente chamadas de declinatórias de competência, quando o magistrado, ex officio, entende que não tem atribuição para atuar no caso.

(TÁVORA, Nestor. ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 7 ed. Salvador: JusPODIVM, 2012, p. 985).

Não foram arguidas questões preliminares, e não as constatando de ofício, passo ao exame do mérito.

Depois de apreciar detidamente os fundamentos do recurso, em confronto com os documentos dos autos, constato que assiste razão à ilustre Promotora de Justiça, pois a competência para análise do presente feito é atribuída ao douto juízo da 14ª Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte, especializado na solução dos conflitos inerentes às relações domésticas.

Com efeito, segundo é possível se apurar dos documentos acostados aos autos, o magistrado deferiu medidas de proteção insertas na Lei n.º 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), em favor da ofendida T. K. G. V., conforme decisão de fl. 14/15.

Em virtude do descumprimento das obrigações impostas, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o recorrido, pela prática do crime previsto no art. 359 do CP, não sendo a denúncia recebida pelo douto julgador, que

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Ora, a meu sentir, uma vez que o suposto delito decorre da inobservância das medidas de proteção, conferidas no intuito de fazer cessar violência contra a mulher, tem aplicação na espécie a previsão do art. 14 da Lei n.º 11.340/2006, no sentido de que incumbe à vara especializada julgar as ações decorrentes das relações familiares havidas entre vítima e agressor.

Destarte, a ofendida é diretamente afetada pela conduta do infrator, ao serem descumpridas as obrigações inerentes à sua proteção, sem que a competência da vara especializada em violência doméstica seja afastada.

Há evidente correlação entre o delito supostamente praticado pelo autor, e as medidas protetivas conferidas em virtude das relações familiares, de tal sorte a firmar a jurisdição vara especializada em solucionar conflitos desta ordem, sem que se possa atribuir a competência a outro juízo criminal.

Na conformidade da orientação doutrinária, onde há juízo especializado para a solução de conflitos decorrentes da convivência doméstica, afasta-se a competência de outros julgadores, justamente para que a solução da causa seja mais eficiente, com extensão da proteção legal conferida à ofendida.

A este respeito, confiram-se lições da doutrina:

Onde há JUDFM, deferida ou não a medida protetiva, o procedimento lá permanece. Havendo inadimplemento, a execução fica a cargo do juiz. Este tem competência não só para o processo e julgamento, mas também para execução das medidas protetivas. Além das ações criminais, também as ações civis intentadas pela vítima ou pelo Ministério Público, que tenham por fundamento a ocorrência de violência doméstica, são distribuídas aos JUDFM, onde cabe o processo, o julgamento e a execução destas medidas.

(DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. 2 ed. São Paulo:

Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 93).

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A Lei 11.340/2006 extraiu do gênero da violência comum uma nova espécie, qual seja, aquela praticada contra a mulher (vítima própria), no seu ambiente doméstico, familiar ou de intimidade (art. 5º). Nesses casos, a ofendida passa a contar com precioso estatuto, não somente de caráter repressivo, mas, sobretudo, preventivo e assistencial, criando mecanismos aptos a coibir essa modalidade de opressão. (GOMES, Luiz Flávio. CUNHA, Rogério Sanches.

Legislação criminal especial. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 1.164).

Importante frisar que a mulher, diante do indicado descumprimento das medidas de proteção, sofre os efeitos mais concretos da inobservância da ordem judicial, circunstância que atrai a competência da vara especializada, justamente para conferir proteção integral à ofendida, escopo maior da legislação.

Por oportuno, colaciono arestos deste eg. Sodalício:

CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO - CRIME DE DESOBEDIÊNCIA - PENA MÁXIMA ABSTRATA COMINADA NÃO SUPERIOR A 2 ANOS - AMEAÇAS ATRELADAS À LEI MARIA DA PENHA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM - RECONSIDERAÇÃO - CONFLITO JULGADO IMPROCEDENTE. - Não compete ao Juizado Especial Criminal o processamento e julgamento de ação penal que trate exclusivamente do delito previsto no art. 359 do Código Penal, apesar de se tratar de delito de menor potencial ofensivo, por estar atrelado ao contexto de ameaças previstas na Lei Maria da Penha. - Há competência da justiça comum ou especializada em violência doméstica ou familiar para a apreciação de ação penal que trate exclusivamente deste delito, visto que praticado em decorrência de violação a medida protetiva. (TJMG, 2ª C. Crim., Conflito de Jurisdição n.º 1.0000.14.094526-2/000, Rel. Des. Catta Preta, j. 30/04/2015,

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VARA CRIMINAL - CRIME PRATICADO NO ÂMBITO FAMILIAR - INCIDÊNCIA DA LEI MARIA DA PENHA - DECISÃO REFORMADA - COMPETÊNCIA DA VARA ESPECIALIZADA - RECURSO PROVIDO. - As causas decorrentes de situações que envolvam violência doméstica estão abrangidas pela Lei 11.340/06, e segundo o disposto no art. 41 da Lei Maria da Penha, competindo à Vara Especializada o julgamento do feito. - O crime de desobediência cometido não está desatrelado da violência doméstica que o motivou, de modo que a ofendida pode ser considerada com a vítima mediata do citado delito, sendo aplicáveis ao caso as disposições previstas na Lei nº. 11.430/06. - Recurso provido. (TJMG, 4ª C. Crim., RSE n.º 1.0024.13.292768-2/001, Rel. Des. Doorgal Andrada, j. 24/02/2015, pub.

04/03/2015).

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - MEDIDAS PROTETIVAS - DESCUMPRIMENTO - COMPETÊNCIA DECLINADA PARA VARA CRIMINAL - CRIME PRATICADO EM ÂMBITO FAMILIAR - INCIDÊNCIA DA LEI MARIA DA PENHA - DECISÃO REFORMADA - RECURSO PROVIDO.

1. Tratando-se da suposta prática de crime de desobediência envolvendo o descumprimento de medida protetiva imposta no âmbito da Lei Maria da Penha, conclui-se que compete ao Juiz da Vara Criminal Especializada em violência doméstica e familiar contra a mulher analisar o feito. 2. Recurso provido. (TJMG, 1ª C. Crim., RSE n.º 1.0024.13.026761-0/001, Rel.ª Des.ª Kárin Emmerich, j. 13/05/2014, pub. 23/05/2014).

Sendo assim, uma vez que o delito atribuído ao acusado decorre das relações domésticas, pois praticado em razão do descumprimento de medidas protetivas previstas na Lei n.º 11.340/2006, é competente para apreciação da causa o juízo especializado na solução de conflitos desta natureza.

Fiel a essas considerações, e atenta a tudo mais que dos autos consta, na esteira do parecer apresentado pela preclara Procuradora de Justiça oficiante, meu voto é no sentido de se DAR PROVIMENTO AO RECURSO, para reconhecer a competência do Juízo da 14ª Vara

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Criminal da Comarca de Belo Horizonte, a quem incumbe processar e julgar este processo.

Custas e honorários do ilustre defensor dativo, ao final.

É o meu voto.

DES. MATHEUS CHAVES JARDIM - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CATTA PRETA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO"

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