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O ENSINO APRENDIZAGEM DA CRIANÇA GUARANI E KAIOWÁ NOS DIAS ATUAIS. 1. Educação e relações étnico-raciais (comunicação oral)

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O ENSINO APRENDIZAGEM DA CRIANÇA GUARANI E KAIOWÁ NOS DIAS ATUAIS

Micheli Alves Machado1 Maria Beatriz Rocha Ferreira2

1. Educação e relações étnico-raciais (comunicação oral)

Resumo: Este estudo é uma reflexão sobre a Educação da criança Guarani e Kaiowá e interrelacões com a Educação Infantil Escolarizada. A questão norteadora do trabalho é: as escolas que hoje atendem crianças na Educação Infantil em salas de Pré I e Pré II na Aldeia de Dourados-MS compreendem e atendem o modo de aprendizagem e as especificidades culturais das crianças Guarani e Kaiowá? Para tanto, como procedimentos metodológicos de investigação foi realizado um levantamento bibliográfico fundamentado em autores que tratam o tema proposto neste trabalho.

Palavras-chave: Educação Infantil; Pré Escolar; Cultura; Guarani e Kaiowá.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda discussões que estão presentes na área da educação infantil entre o povo Guarani e Kaiowá. Esse tema ganha importância para a área educacional a partir de discussões que envolvem a educação escolar indígena entre os Guarani e Kaiowá e processos próprios de aprendizagem de crianças que ainda se mantém no modo tradicional nesta etnia.

Para tanto foram acessados autores, através do banco de dados da CAPES, Scielo e Lattes, que pesquisam a mesma temática. Alguns deles falam do povo

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Mestranda em Educação na PPGEdu-FAED/UFGD. Bolsista Capes.

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Guarani e Kaiowá num todo, já outros falam especificamente da criança Guarani e Kaiowá e a identidade indígena, fazendo um comparativo do saber tradicional com o ensinado nas escolas formais.

No tema “criança Guarani e Kaiowá” foi encontrada 122 trabalhos de autores nacionais. Já no tema “Criança Indígena” foi acessada 3.643 trabalhos. Dos 122 trabalhos foram selecionados apenas 07, baseado no critério de autores que tem envolvimento com o povo Guarani e Kaiowá ou que são indígenas pesquisadores do tema. O envolvimento a qual me refiro é estar em contato com o povo Guarani e Kaiowá.

IDENTIDADE DA CRIANÇA GUARANI E KAIOWÁ

O trabalho de Aquino (2010) mostra a interação da criança com o meio em que vive:

Como as crianças e os adultos interagem entre si? Como compreender o que é ser criança Guarani/Kaiowá? Como transitar com tanta realidade familiar diversa vivida pelas crianças de hoje (há crianças que vivem com os avós; outras com uma segunda família; ou aquele que vive como “guacho”, ou seja, são crianças órfãs acolhidas por outras famílias da comunidade); criança que é uma mistura de raça. São situações que não existiam, mas hoje faz parte da nossa realidade. (AQUINO, 2012, p.51)

A educação infantil escolarizada tem implicações no ensino e na aprendizagem das crianças e influencia o desenvolvimento social e intelectual ao longo da vida.

A Educação indígena requer especificidades da cultura local, que nem sempre são contempladas nas escolas. A presente pesquisa traz reflexões sobre o assunto fundamentado na educação de crianças Guarani e Kaiowá no âmbito da Educação Infantil.

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de um casal mais velho que tem como referência uma liderança (BENITES, 2009). Segundo Nascimento (2000, p. 08) para o povo Guarani e Kaiowá:

[...] a criança aprende experimentando, vivendo o dia a dia da aldeia e, acima de tudo acompanhando a vida dos mais velhos, imitando, criando, inventando [...] o ambiente familiar, composto pelo grupo de parentesco, oferece a liberdade e a autonomia necessárias para esse experimentar da criança.

Ao nascer, a criança Guarani e Kaiowá já é inserida no meio social. A criança indígena não é vista como algo frágil, prova disso é que desde recém-nascidos já são cuidados por irmão mais velhos, ou carregados pelas mães no Võna em seus afazeres diários (AQUINO, 2012). Segundo Landa (2005, p. 64):

Existe, efetivamente, uma segurança social muito grande por parte das crianças [...]. Após o período de amamentação, que em geral se estende até dois anos de vida, quando passam a dominar completamente a marcha, as crianças ganham muita autonomia, pois é comum encontrá-las sozinhas pelas estradas brincando ou andando em grupos de variadas idades [...].

Partindo desse pressuposto podemos dizer que a criança indígena tem um papel social fundamental em meio à comunidade onde vive, desde antes de nascer à criança já possui elementos que a compõem.

A preparação para o nascimento de uma criança, por exemplo, acontecia antes mesmo das crianças nascerem, essas relações eram repletas de sentido espiritual, no qual o pai recebia um aviso do próprio filho em sonho, comunicando-lhe que viria ao mundo, até mesmo, sobre qual nome deveria receber, sendo confirmado depois pelos rezadores (Nhanderu) (BENITES, 2009).

Os rezadores, ou Nhandesy e Nhanderu dão uma importância muito especial ao nome que a criança indígena carregará durante sua vida.

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A educação escolarizada deve atender as especificidades da cultura local, uma vez que tem um impacto significativo no desenvolvimento social e intelectual da criança e repercute ao longo da vida. Infelizmente as escolas nem sempre contemplam as especificidades da cultura.

Brand (1998, p. 266) sugere a retomada das práticas religiosas, realizadas por caciques e rezadores, como os rituais de iniciação para os povos Guarani e Kaiowá. O autor enfatiza a recuperação da força da palavra, através da „reza‟, por ser eficaz e, portanto o restante dos problemas poderá ser superado. E para que isso ocorra segundo ele é necessário centralizar esses ensinamentos nas crianças, pois são elas que disseminarão as rezas reaprendidas.

Para o povo Guarani e Kaiowá a identidade tradicional, é o teko , vivenciado no cotidiano e compartilhado num espaço físico e social, o tekoha (Rossato,2002).

A auto identificação e afirmação do povo Guarani e Kaiowá se expressa através do ñande reko, e se concretiza no dia a dia. E “tem a ver com seus

territórios, sua identidade cultural, seus valores e cosmovisão” (BRAND, 2000,

p. 04).

Para BENITES, 2014, a “produção da identidade indígena Guarani e

Kaiowá é resultado de uma longa trajetória de subalternização e, ao mesmo tempo, de resistência, na qual é construída a subjetividade dos indígenas Kaiowá e Guarani na atualidade.” (p.50)

A identidade da criança Guarani e Kaiowá se constrói a partir da aprendizagem com a família e a comunidade onde vive, seja ela uma Reserva, Aldeia ou Retomada. E mesmo com as influencias de outros fatores da sociedade, a cultura, o saber e o ñande reko podem prevalecer. E desta forma pode revitalizar a identidade desse povo.

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BENITES (2014) é um indígena e estudioso da educação indígena do povo Guarani e Kaiowá. O autor diz:

O termo “educação” para nós, Kaiowá e Guarani, é denominado ñembo‟e, que podemos traduzir como: “ñe” - nós, como auto-afirmação, “mbo”, como a ponta do corpo que mostra a direção, e “‟e” é a redução do termo “ñe‟ẽ” (linguagem, palavra, alma). Assim, ñembo‟e é a “construção do próprio caminho a partir das possibilidades dadas pelo contexto, através da palavra”. Ela também é sinônimo de canto, porque o canto, porahéi (ou mborahéi), possibilita o autoconhecimento a partir da conexão contínua com a espiritualidade. Para nós, o mundo espiritual é a fonte da sabedoria, o arandu. (BENITES, 2014, p. 69)

Apesar da comunidade Guarani e Kaiowá viver violentos processos de intervenção e resistência, luta para criar seus filhos na cultura de seus antepassados, no âmbito da família extensa, especialmente durante a infância, que vai de zero a cinco anos.

Na atualidade os pais saem para trabalhar, e, portanto a criança convive com suas mães, tias e os mais velhos, avôs e avós, e também os irmãos e primos, a chamada parentela.

Após os cinco anos, as crianças vão para escola e a comunidade perde um pouco o sentido da família extensa. E o convívio que antes era diário, passa a serem reuniões de finais de semanas ou encontros familiares programados.

A mãe já tem uma função a mais, o de se preocupar com a escola, além de cuidar da casa, das crianças que ainda circulam em meio à família extensa. (ROSSATO, 2002)

Antigamente as práticas educativas se configuram na imitação, e histórias em rodas de conversas. Segundo BENITES (2002):

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Os primeiros cursos oferecidos para o povo Guarani e Kaiowá basicamente eram de 1ª a 4ª série de primeiro grau, sempre administrada por missionários da Missão Evangélica Caiuá.

A Missão não era governamental, mais tinha o apoio da Fundação Nacional do Indio – FUNAI e da antiga SPI, e tinha basicamente o objetivo de conversão e civilização dos indígenas à igreja presbiteriana, o que ocorre até hoje, formando indígenas missionários e através desse modelo de educação escolar, interferiam de forma brutal no processo próprio de ensino e aprendizagens dos Guarani e Kaiowá, onde se praticava uma ideologia etnocêntrica e discriminante. (BENITES, 2002).

Então nessa época os professores que atuavam entre o povo Guarani e Kaiowá eram não índios, ou missionários, ou ligados ao SPI, mais na maioria eram missionários.

Os professores utilizavam materiais impróprios para a comunidade, fora de sua realidade, e um modelo educacional que sempre tentava impor o modo de viver e de educar dos não indígenas, ensinavam hábitos de higiene, introduziram as roupas e regras além das crenças religiosas, sem levar em consideração a tradição, costumes e conhecimento do povo Guarani e Kaiowá. (BENITES, 2002).

Ainda nessa discussão podemos trazer segundo Nascimento e Vinha que:

“os projetos alternativos tinham como eixo fundamental estabelecer a discussão entre o que se convencionou tratar como educação para o índio e educação indígena. A primeira é caracterizada como a educação colonizadora, integracionista, formal e desintegradora; a segunda seria a educação tradicional da cultura indígena, que se dá no interior das comunidades e sem necessidade da instituição escolar, para tanto, orientada pela pedagogia de cada etnia” (NASCIMENTO e VINHA 2007, p. 05).

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E hoje como está à discussão a cerca da educação de crianças indígenas? Atualmente essa discussão tem trazido muitas interrogações da comunidade e lideranças tradicionais. Opiniões divididas a cerca desse espaço especifico da educação infantil. Uns apoiam a escolarização nesta faixa etária e outros acham uma afronta à cultura e ao modo tradicional.

Nos últimos anos, o debate em torno da temática indígena tomou uma dimensão política. No âmbito municipal em Dourados-MS, há necessidade de se criar um local para atender as crianças indígenas. Trata saber de que forma esse espaço será construído, valorizando a cultura indígena das comunidades. Podemos dizer que a escola não é o único espaço de educação, porém é um espaço importante que pode traçar caminhos conjuntos com a cultura desse povo. De acordo SOUZA, 2014:

“A escola indígena não deve ser apenas um espaço onde se coloca em diálogo os diferentes saberes, é também um espaço de elaboração de um projeto de futuro das sociedades indígenas para construir o mundo que querem...” (SOUZA, 2013, p.148)

Este projeto futuro dependerá dos resultados de diferentes fatores, como de pesquisas, da vontade política das comunidades indígenas e da sociedade em geral para avançar nas discussões sobre a educação infantil indígena escolarizada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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esse povo os ensinamentos das crianças eram transmitidos exclusivamente no âmbito da “Família Extensa”.

Como trata Benites (2002), Nascimento (2000) e Landa (2004) a educação para crianças indígenas devem ser no âmbito familiar, a escola apesar de ser um espaço também de aprendizagem, não contempla os ensinamentos que a criança ainda tem com familiares. No entanto, as mães que trabalham fora ou mesmo em locais na própria aldeia necessitam de um espaço para seus filhos, mas que reconheça a cultura local.

REFERÊNCIAS

AQUINO, Elda Vasques. EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA e os

PROCESSOS PRÓPRIOS DE APRENDIZAGENS: espaços de inter-relação de conhecimentos na infância Guarani/Kaiowá, antes da escola, na Comunidade Indígena de Amambai. Amambai - MS. Defendida no programa de pós

Graduação/Mestrado em Educação UCDB-2012.

BENITES, Eliel. OGUATA PYAHU (UMA NOVA CAMINHADA) NO

PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO E CONSTRUÇÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA DA RESERVA INDÍGENA TE’ÝIKUE. Defendida no

programa de pós Graduação/Mestrado em Educação UCDB-2014.

BENITES, Tonico. A Escola na Ótica dos Ava Kaiowá: Impactos e

Interpretações Indígenas Identidade e o Processo de Ensino do Povo Guaranie Kaiowá Frente À Criança Indígena. Defendido no programa de pós

Graduação/Mestrado em Antropologia Social-PPGAS na UFRJ-2009.

BRAND, Antonio J. O impacto da perda da terra sobre na tradição

kaiowá/guarani. Os difíceis caminhos da Palavra. Tese de doutorado, História,

PUC/RS, 1998.

BRAND, Antonio; PEREIRA, C. Os Guarani na história e a história dos

Guarani. Campo Grande: UCDB, 2000.

LANDA, B. S. Os Ñandeva-Guarani e o uso do espaço na terra indígena Porto

Lindo/Jakarey, município de Japorã/MS. Tese Doutorado. Porto Alegre:

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NASCIMENTO, Adir C. EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: EM BUSCA DE

UM CONCEITO DE EDUCAÇÃO DIFERENCIADA (Tese de doutorado em

Educação). Marília/SP: UNESP, 2000.

ROSSATO, VeroniceLovato. OS RESULTADOS DA ESCOLARIZAÇÃO

ENTRE OS KAIOWÁ E GUARANI EM MATO GROSSO DO SUL –“SERÁ O

LETRAO AINDA UM DOS NOSSOS?”. Defendida no programa de pós

Graduação/Mestrado em Educação UCDB-2002.

SOUZA, Teodora. Educação Escolar Indígena E As Políticas Públicas No

Muncípio de Dourados/MS (2001-2010), defendida no programa de pós

Referências

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