ASSOREAMENTO DO RIO TAQUARI – CAUSAS E CONSEQUENCIAS
Vieira, Adriana Silveira 1*; Oliveira, Leonardo Santos de2; Souza, Emerson Ubinski de 3
Resumo – As enchentes e inundações são muitas vezes causadas pela cheia de um rio, fazendo com que as suas águas se elevem acima do normal em tempos de fortes chuvas. Assim, suas águas acabam “invadindo” o espaço de moradia de muitas pessoas, além de ruas e empreendimentos comerciais. As causas das enchentes estão relacionadas com fatores naturais e também com ações humanas ou até mesmo pela combinação dos dois fatores o que pode alterar também de forma significativa as características dos rios e das áreas afetadas naquela região. Os assoreamentos do Rio Taquari devido à grande transporte de sedimentos vindo do Rio Coxim também contribuem para enchentes na cidade de Coxim. Este artigo vem descrever as causas e consequências ocasionadas pelas enchentes devido ao transbordamento do Rio Taquari na cidade de Coxim, bem como os impactos ambientais ocasionados devidos as mesmas. O período de investigação deste material é de 1977 até os dias atuais.
Palavras-Chave – Enchentes, Rio Taquari, Impactos Ambientais.
TAQUARI RIVER SEDIMENTATION - CAUSES AND CONSEQUENCES
Abstract – Floods and floods are often caused by flooding of a river, causing its waters to rise above normal in times of heavy rains. Thus, its waters end up "invading" the living space of many people, as well as streets and commercial ventures. The causes of floods are related to natural factors and also to human actions or even by the combination of the two factors which can also significantly alter the characteristics of rivers and affected areas in that region. The sedimentation of the Taquari River due to large sediment transport from the Coxim River also contributes to flooding in the city of Coxim. This article describes the causes and consequences caused by the floods due to the overflow of the Taquari River in the city of Coxim, as well as the environmental impacts caused due to them. The period of investigation of this material is from 1977 to the present day.Keywords – Floods, Taquari River, Environmental Impacts.
1* Adriana Silveira Vieira, UFMS- Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Departamento de Sistemas de Informação, Coxim/MS.
adriana.ilha@gmail.com
2 Oliveira, Leonardo Santos de. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Departamento de Sistemas de Informação, Coxim/MS.
leonardo_cxm@hotmail.com
3 Souza, Emerson Ubinski de. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Departamento de Sistemas de Informação, Coxim/MS.
1. INTRODUÇÃO
O Rio Taquari tem cerca de 800 quilômetros de extensão: começa no estado do Mato Grosso e percorre todo o Mato Grosso do Sul, até chegar ao rio Paraguai (Figura 1). Ao passar pelo Pantanal as margens do rio se rompem e formam novos leitos, fenômeno este chamado de arrombamentos pelos pantaneiros. As áreas ficam permanentemente alagadas.
Figura1- Representação da posição geográfica e extensão do Rio Taquari. Fonte: https://globoplay.globo.com/v/5023630/
Os problemas que o Taquari sofre no Pantanal são uma consequência do que acontece desde a sua nascente, no município de Alto Taquari (MT).
Onde o rio nasce, em uma grande área de várzea, estão várias vertentes – pequenas nascentes que vão formar o rio (Figura 2). Já no seu começo, o Taquari sofre suas primeiras pressões: Uma ferrovia passa sobre essas pequenas nascentes; em todo o entorno, há plantações; e o canal por onde a água das vertentes corre, vai em direção à área urbana do município, a apenas três quilômetros de distância.
Na divisa de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul está o Parque das Nascentes da Bacia do Taquari, uma área de conservação. Os afluentes que descem os cânions se encontram com o rio Taquari que passa ao norte do Parque. Nessa área, o Taquari cai de uma altitude de 800 metros para 360 metros acima do nível do mar. Essa queda brusca favorecer o poder de erosão, característica natural do Taquari (Figura 3). Um processo que foi acelerado nas últimas décadas, principalmente pela ocupação do solo pela pecuária.
Figura 3 – Queda do Rio Taquari. Fonte: https://globoplay.globo.com/v/5023630/
Segundo Nilo Peçanha (gestor Ambiental da cidade de Coxim), o que o rio demoraria 100, 500 anos para fazer, de repente passa a fazer em poucas décadas. O gado, no processo de descer para beber água no fundo do vale, ele cria aquelas trilhas, isso acaba canalizando a água da chuva, e começa um processo de erosão; até criar voçorocas e até desestabilizar e atingir as nascentes”.
Figura 4- Voçorocas- Parque das Nascentes – Alcinópolis MS. Fonte: https://globoplay.globo.com/v/5023630/
Peçanha explica o que ocorre com o rio quando passa pelo município de Coxim, onde ele recebe as águas do seu maior afluente, o rio Coxim ( Figura 5): "Desse trecho de Coxim, até 150 quilômetros adentrando o Pantanal, é o que nós chamamos de médio Taquari. É a parte onde ele deposita a maior quantidade de sedimentos. Porque ele entra na planície, perde um pouco de declividade e de energia de transporte. Então esse material já começa a depositar no leito do rio".
Figura 5- Encontro do Rio Taquari com seu maior afluente: Rio Coxim Fonte: https://globoplay.globo.com/v/5023630/
O Taquari desce com tantos sedimentos, que uma característica dele fica ainda mais forte: é um rio de cumieira. O Taquari está numa cumieira, está na porção mais alta da planície. Então, nesta situação, ele tende realmente a extravasar nos pontos mais vulneráveis”.
Um dos maiores canais que se abriram foi o arrombamento do Caronal na região conhecida como Paiaguás (Figura 6). Caronal é uma referência ao nome da primeira fazenda invadida pela água. Lá, a água do arrombamento que tomou conta não somente a fazenda Caronal, mas várias outras propriedades, se espalha pelos campos.
Figura 6- Arrombamento do Caronal na região conhecida como Paiaguás. Fonte: https://globoplay.globo.com/v/5023630/
Todos esses fenômenos são partes de fontes diretas para o ocasionamento das enchentes ocorridas na cidade de Coxim-MS.
Trata-se neste artigo do levantamento das enchentes mais significativas ocorridas na cidade de Coxim desde 1977 até os dias atuais (2016). Bem como os impactos ambientais e socioeconômicos ocasionados por elas e pelo assoreamento do rio taquari.
2. PRINCIPAIS ENCHENTES
No dia 2 de fevereiro de 1977, o rio Taquari, repentinamente extravasou de seu leito natural e inundou grande parte do município, causando uma enchente de proporção altamente calamitosa para a população e para a economia do município, o que obrigou o prefeito da época a declarar situação de emergência e a mobilizar todos os recursos disponíveis para socorrer as inúmeras vítimas do flagelo, no que foi auxiliado pelo 47° Batalhão de Infantaria.
Em janeiro de 1989 ( Figura 7), volta-se a repetir o mesmo fenômeno, desta vez com maiores agravantes, quando até a antiga ponte de concreto construída na administração de Alaor Garcia da Silveira, em 1948, sofreu danos estruturais. Até trechos da BR-163 que corta o município e a cidade, sofreu as consequências de desaterros em várias partes do seu percurso.
Figura 7- Enchente – Coxim 1989
Em 2009 o rio Taquari subiu 5metros e deixou mais de 5mil pessoas desabrigadas. Já em março de 2011 ( Figura 8) o rio subiu 5,63m quase 2,5m acima do nível normal, o maior problema é que na altura a chuva não parava de cair nas cabeceiras do rios Taquari e Coxim fazendo com que as pessoas que moram nas zonas ribeirinhas fossem levadas para igrejas e ginásios de esportes da cidade de Coxim.
Figura 8- Ponte so o Rio Taquari em Coxim – 2011 Fonte: Defesa Civil de Coxim
No ano de 2016 (Figura 9), segundo o Geógrafo e AssessorTécnico do Cemtec, Carlos Eduardo Borges Daniel, entre os dias 1º e 11 de janeiro já choveu 152,6 milímetros em Coxim, ou seja, 61,23 % do nível histórico de chuva já registrado para o mês no município, que é de 248,8 %.De acordo com o geógrafo, o dia mais chuvoso foi na última sexta-feira (8), quando foram registrados 39,6 mm de chuva em Coxim. Neste domingo (10), durante a chuva que atingiu o município os ventos chegaram a 47,52 quilômetros por hora e o volume acumulado de chuva registrado foi de 27 mm.
3. IMPACTOS AMBIENTAIS
Por ser de grande extensão e volume, o rio Taquari é destacado pela importância econômica na região.
Na bacia do Alto Taquari, a atividade agrícola e pecuária é intensa. O resultado é a degradação do rio, já considerado praticamente irrecuperável pelas autoridades.
No período de 1977 a 2003, a atividade agropecuária atingia 61,9% da região e apresentava uma evolução de 1.820%. Por ser essencialmente extrativista, a atividade pecuária e agrícola é marcada pela retirada das matas ciliares, o que resulta no depósito de sedimento no fundo do rio.
O depósito de sedimento (terra) ocorre como consequência da erosão. Sem as matas ciliares, as margens do rio ficaram desprotegidas e a chuva arrastou para o leito a terra com mais facilidade. A erosão é causada pela falta de planejamento da atividade agrícola e as matas são retiradas para maior oferta de pasto à pecuária. O assoreamento do rio Taquari constitui hoje um dos mais graves e discutidos problemas de impacto ambiental e sócio econômicos do Pantanal.
O monitoramento de águas permite visualizar a condição (qualitativa) das águas da bacia de análise.
O rio Taquari o mais problemático corpo d’água desta bacia tem sofrido grandes alterações em seu curso devido a rápida e desordenada expansão da atividade agropecuária, iniciada em meados da década de 70, no planalto da unidade de planejamento e gerenciamento do rio Taquari, que intensificou a entrada de sedimentos na planície pantaneira. A consequência desta expansão agropecuária na parte alta da UPG do rio Taquari, fora da planície do Pantanal, muitas vezes sem os cuidados necessários para a conservação dos solos e nascentes. Como resultado, ocorrem processos de assoreamento do rio, bem como permite uma mudança em seu regime hidrológico (GALDINO et al., 2006). Em vários locais na planície, devido à baixa declividade, o rio rompeu seus diques aluviais alagando permanentemente áreas onde a inundação era sazonal.
O Rio Taquari sempre transportou muita areia fina (Brasil, 1974), constituindo-se como um dos principais formadores do Pantanal. Entretanto, a expansão da atividade agropecuária na sua alta bacia, iniciada no final da década de 70, intensificou o assoreamento do leito do Taquari no Pantanal e consequentemente, contribuiu para a inundação permanente, nas últimas décadas, de milhares de km de terras na planície do seu baixo curso. Essa inundação tem sido apontada como o mais grave problema ambiental e socioeconômico do Pantanal.
Apesar do rio Taquari, historicamente, transportar grande quantidade de sedimento, a partir do final da década de 70 esse processo foi intensificado com a expansão da atividade agropecuária na bacia do alto Taquari (BAT). Outro fator importante no aumento do aporte de sedimento para o Pantanal pode estar relacionado á mudança no regime pluviométrico na BAT.
4. COMENTÁRIOS FINAIS
O assoreamento do Rio Taquari devido à grande quantidade de sedimentos vindos do Rio Coxim é uma das fontes diretas na ocorrência de enchentes na cidade de Coxim-MS. Entre outros contribuintes trata-se do rio Taquari estar numa zona de cumeeira o que facilita o acumulo de sedimentação favorecendo o alagamento. As enchentes ocorridas dos anos de 1977 a 2016 sempre trazem muitos prejuízos em especial a população ribeirinha que por muitas vezes acabam perdendo grande parte do que têm.
A maioria dos problemas e impactos ambientais causados pelo assoreamento de leitos de rios na planície da bacia hidrográfica do Rio Taquari tem sua origem nas partes altas desta bacia e são decorrentes das atividades humanas ali desenvolvidas. O desmatamento, principalmente das áreas de cerrado, para fins agropecuários acelerado no início da década de 70 foi responsável, até 2000, por 62% de perda da cobertura vegetal original (Silva, 2003).
Classes de solo de erodibilidade muito forte como Areias Quartzosas, Litólicos e Podzólicos Vermelho-Amarelo recobrem 82,59% da área (Silva, 2003). Nestas áreas são observadas imensas voçorocas que se instalam em relevos de morros e escarpas as quais fornecem grande parte do material sedimentar para a planície (Abdon, 2004).
REFERENCIAS
ABDON, M. de M. Os impactos ambientais no meio físico: erosão e assoreamento na bacia hidrográfica do Rio Taquari, MS, em decorrência da pecuária. 2004. 274 p. Tese (Doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental) - Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada da Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo: EESC/USP, São Carlos. DESASTRE AMBIENTAL NO PANTANAL DE MS AFETA CURSO DE RIO E VIDA DE MORADORES. https://globoplay.globo.com/v/5023630/. Acessado em 11-06-2017.
