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O QUE É A DISCIPLINA. O certo e o errado

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Academic year: 2021

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O certo e o errado

Há seguramente muitas formas correctas de educar, tal como existem, sem dúvida, muitas formas erradas de educar. Todos sabe-mos, pela nossa experiência e pelos relatos que ouvimos de familia-res e amigos que, perante uma mesma situação, muitos pais actuam de forma diferente. Algumas dessas formas estarão correctas, levam a criança a comportar-se bem e serão apenas isso: diferentes. Mas em relação a outras ninguém tem dúvidas de que estarão incorrectas e em nada irão contribuir para a disciplina da criança. Pelo contrário, mesmo que possam resultar a curto prazo, terminando algum com-portamento inadequado, irão no futuro aumentar na criança o seu desejo de vingança, promover lutas de poder com os pais, diminuir a sua auto-estima e impedi-la de se tornar uma criança preparada para as adversidades da vida.

Mesmo que pudéssemos reunir um grupo de especialistas, pe-diatras e psicólogos, dificilmente todos estariam de acordo sobre a melhor forma de exercer a disciplina sobre as crianças. Não tenho dúvidas de que não é um tema consensual. Mas, felizmente, acredito que muitos princípios são aceites como desejáveis.

Não há uma estratégia única e infalível. Há seguramente algumas regras básicas que a experiência nos mostra serem as mais correctas

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e eficazes mas, como cada adulto é único e cada criança diferente de todas as outras, qualquer regra deve ser adaptada à situação concreta que vivemos. Como? Com bom senso.

Cada um educa o melhor que sabe e pode, e não há que fazer comparações com outros pais ou outras crianças. A educação com-petitiva, que corresponde ao desejo dos nossos filhos serem melho-res que os do vizinho ou que os colegas da escola, apenas consegue ser um factor de stresse para a criança e para os pais.

Este livro contém as regras que eu considero mais importantes. Haverá outras, também correctas, que as poderão complementar. Mas estas, por si só, parecem-me as mais adequadas e que cada um poderá modelar e adaptar de acordo com a sua própria personalida-de e o temperamento da criança ou crianças com quem vive. Outros métodos poderão também resultar, mas este resulta com certeza, desde que aplicado da forma que ensino nestas páginas.

Ensinar ou punir?

Durante anos, a disciplina foi encarada como uma forma de punição. A ideia subjacente a esta teoria era a de que a criança neces-sitava de sofrer (de “sentir na pele”) a autoridade dos pais pois, caso contrário, nunca iria aprender a comportar-se devidamente.

No entanto, a palavra “disciplina” deriva de “discípulo” e significa ensinar ou guiar. Nada tem a ver com punir, controlar ou humilhar. Desta forma, a disciplina, como a entendo, deverá concentrar-se fun-damentalmente em ensinar à criança os comportamentos adequa-dos e menos em punir os comportamentos indesejaadequa-dos ou incor-rectos.

A forma como educamos os nossos filhos reflecte a nossa for-ma de ser e de estar no mundo e requer, para além de conhecimento (como o que pretendo transmitir com este livro), maturidade, expe-riência e confiança nas nossas capacidades e nas potencialidades de cada criança.

Será possível uma disciplina sem qualquer tipo de punição? Não acredito. Se é verdade que a criança aprende melhor pela positiva, também o é que o castigo faz parte do processo de aprendizagem.

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Mas apenas isso: faz parte. Para uma correcta disciplina são necessá-rios 90% de prevenção e 10% de punição.

Exercer a autoridade não deve ser sinónimo de domínio, supe-rioridade, força ou prepotência para com os nossos filhos. Pelo con-trário, deve ser essencialmente um exercício de influência positiva sobre eles.

Cem metros ou maratona?

A disciplina não se ensina numa conversa “séria” com a criança. Nem num dia “especial” como quando faz anos ou é Natal. Não é sequer uma tarefa de semanas ou meses. É de anos. É de uma vida. Não é uma corrida de 100 metros mas uma maratona. E é para isso que todos devemos estar preparados.

A persistência é um dos factores mais importantes para conseguir-mos atingir os objectivos. O processo de aprendizagem é feito de pe-quenos avanços e recuos mas o mais importante é que, globalmente, os avanços sejam maiores que os recuos, para que a direcção seja sem-pre a mesma, apesar das contrariedades que semsem-pre surgem. Há por isso que não desanimar nem desistir após as primeiras contrariedades. Cada um deve confiar nas suas capacidades e não preocupar-se dema-siado com pequenas imperfeições que, de resto, todos possuímos.

A coerência, de que falarei em detalhe mais adiante, é outro aspecto fundamental e podemos considerá-la como o “cimento” que une todas as nossas acções e torna a disciplina entendida e mais facil-mente aceite pela criança.

Tentativa e erro

As únicas pessoas que acham que é fácil educar uma criança são as que não têm nenhuma. Ninguém nasce ensinado. Os pais sabem muito bem que nenhuma criança é naturalmente bem comportada. Faz parte do seu processo de aprendizagem estar sempre a testar os limites, a desafiar as regras, a perceber onde termina a sua liber-dade e começa a autoriliber-dade dos pais. É desta forma que as crianças descobrem o mundo e percebem até onde pode ir a sua liberdade. Assim, criam valores que as vão acompanhar durante toda a vida.

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Mas se isto é verdade para a criança, também o é para os pais. Antes de ser pai ou mãe nenhum de nós soube verdadeiramente o que era educar outra pessoa. Ninguém tem o conhecimento inato de como disciplinar uma criança. Podemos conhecer alguma teoria, e livros como este ajudam, mas essa teoria terá de passar no exame da prática, sem o qual de nada serve. Pais e mães cedo se apercebem que aquele ser inofensivo que geraram necessita de ser amado, mas que isso não chega para que venha, um dia, a ser uma criança, um adolescente e um adulto feliz. Aquele mesmo ser necessita de limi-tes, de regras, de incentivos, inclusive de algumas punições, para compreender o verdadeiro significado do que é ser um homem ou mulher completa, estando preparado para o que a vida lhe poderá reservar.

O que nos espera é assim um processo contínuo e demorado, cheio de sucessos e algumas frustrações mas que a nossa persistên-cia levará a bom porto. Apesar das dificuldades que possam surgir, o resultado final vai sempre valer a pena.

Prevenção ou correcção?

O grande trabalho da disciplina passa pela prevenção. Todos po-demos conseguir maravilhas dos nossos filhos se lhes conseguirmos proporcionar um ambiente familiar carinhoso, agradável, respeita-dor, coerente e consistente. Se a tudo isto soubermos juntar algumas formas básicas de estimular a criança a desenvolver comportamen-tos adequados, mais de 90% do nosso trabalho disciplinador estará realizado. Os restantes 10% serão utilizados ajudando a criança a perceber, quando as suas atitudes ou acções não forem correctas, que na vida tudo o que fazemos tem consequências, sejam boas ou más.

A disciplina exige assim um equilíbrio entre o ensino e o casti-go com um predomínio do primeiro e doses pontuais do segundo. Terminar um comportamento inadequado é geralmente mais fácil do que estimular comportamentos adequados, mas é também o que tem um efeito mais passageiro. É quando a criança aceita e toma como seus os limites e as regras dos seus pais que a parte mais difícil da disciplina está realizada.

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Expectativas realistas

Não há crianças perfeitas, tal como não há pais ou mães perfei-tos. Esta percepção é fundamental quando lidamos com os nossos filhos. Conhecer o temperamento da criança, o seu grau de desenvol-vimento e de maturidade são aspectos fundamentais a ter em conta. A fasquia não pode estar demasiado alta, pois apenas vai conseguir provocar frustração na criança e dissabores aos pais. Mas não deve estar demasiado baixa, pois uma criança sem estímulos e sem objec-tivos não vai conseguir estar preparada correctamente para a vida. Conhecermos as nossas próprias limitações é também um as-pecto importante. É fundamental sabermos quais os nossos pontos fortes e fracos, os aspectos com os quais sabemos lidar melhor ou pior e quais os momentos em que podemos ou devemos evitar actuar. Muita paciência, repetição e coerência fazem parte deste processo.

Muitos vão encontrar neste livro conselhos que vão contra o que habitualmente fazem ou indicações que chocam com a forma como têm procurado educar os seus filhos. Aquilo que lhes peço é que analisem o que possa estar errado, o corrijam e o façam correc-tamente a partir de agora. Uma coisa é certa: quanto mais velha for a criança, mais difícil será mudar o que está mal, e por isso, o melhor é começar já.

A nossa finalidade não deve ser a de termos a viver connosco uma criança permanentemente feliz. Isso é irrealista. Todas as crian-ças passam por frustrações. O nosso papel é ensiná-las a lidar com essas frustrações, não a evitá-las. Vou mesmo mais longe: faz parte do papel de ser pai ou mãe frustrar os seus filhos de vez em quando. Porque eles não podem ter tudo o querem ou comportar-se sempre da forma que desejam. Não tem qualquer mal estabelecer limites, muito pelo contrário: as crianças precisam de limites e sentem-se seguras com eles.

O verdadeiro objectivo, como veremos mais adiante, não é uma criança obediente mas uma criança capaz de estabelecer os seus pró-prios limites e as suas próprias regras, uma criança emocionalmen-te estável, possuidora dos valores fundamentais que lhe queremos

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transmitir. Em última análise, uma criança capaz de vir a educar os seus próprios filhos e de ser um adulto feliz, integrado na sua família e na comunidade.

REGRAS DE OURO

• Há formas mais correctas do que outras e for-mas incorrectas de educar os nossos filhos. • A disciplina consiste em 90% de prevenção e

10% de punição.

• A verdadeira disciplina começa aos 2 anos e estende-se até à idade adulta.

• Ninguém nasce ensinado. A criança precisa de aprender a comportar-se e os pais preci-sam de aprender a educar.

• Conhecermos as nossas limitações pode aju-dar-nos a educar os nossos filhos.

• Sejamos realistas: por vezes temos de frustrar os nossos filhos.

Referências

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