Morfologia do Morfologia do solo solo
J. Miguel Reichert, PhD
(Prof. Ricardo Dalmolin)
MORFOLOGIA DO SOLO
2.1 – Conceitos
2.2 - Horizontes pedogênicos
2.3 - Simbologia usada na identificação dos horizontes 2.4 - Características morfológicas do perfil do solo 2.5 - Características ambientais
2.6 - Descrição do perfil do solo 2.7 – Aplicações
1. Introdução à morfologia do solo
Conceito de morfologia
Horizontes pedogenéticos
Morfologia:Estudo das formas de um objeto ou corpo natural
Morfologia do solo: Descrição da aparência do solo no campo (perfil).
Características visíveis a olho nu ou perceptíveis por manipulação
Fatores de Formação
Clima, Relevo, Organismos e Tempo
ROCHAS
Processos Internos
Físicos, químicos e biológicos
A A
R R
A A
Bw Bw A
A E E
Bt Bt
Feições morfológicas (características) Cor, espessura de horizontes, textura, estrutura, etc.
Caraterísticas morfológicas do solo São utilizadas:
- Identificação de solos (gênese, levantamento e classificação);
-Avaliação:
- da capacidade de uso da terra
- da habilidade do solo em suportar o desenvolvimento de plantas - de suportar obras de engenharia civil
- do movimento de água e solutos no perfil - na resposta ao manejo
- na resistência à degradação pelos processos erosivos - projetos ambientais
Características morfológicas + químicas e físicas
Importância
O – ocorre sobre horizonte mineral em condições de boa drenagem e é constituído de restos orgânicos.
H – de constituição orgânica e ocorre em condições de má drenagem.
A – horizonte mineral enriquecido por matéria orgânica (coloração escurecida).
E – horizonte de perda de argilas, óxidos ferro e alumínio ou matéria orgânica, com textura mais arenosa e cor mais clara.
B – horizonte de intensa transformação pedogenética, com acúmulo de argilas e óxidos, o que confere cor mais avermelhada ao horizonte.
C – horizonte pouco afetado pelos processos pedogenéticos.
R – camada com material consolidado, constituindo substrato rochoso contínuo.
Principais horizontes e camadas do solo
Modificações nas designações dos horizontes principais
Características especiais
Sufixos que identificam determinados processos.
Exemplos:
c – concreções ou nódulos endurecidos (Bc), f – presença de plintita (Bf, Cf),
g – glei (Bg, Cg),
h – acumulação iluvial de matéria orgânica (Bh), i – desenvolvimento incipiente do horizonte B (Bi), k – presença de carbonatos (Ck),
n – acumulação de sódio (Bn), p – horizonte lavrado ou revolvido (Ap), r – rocha branda ou saprólito (Cr),
s – acumulação iluvial de sesquióxidos de Fe e Al (Bs), t – acumulação iluvial de argila (Bt),
v – características vérticas (Bv),
w – intenso intemperismo do horizonte B (Bw).
A
E
Btg
A
E
Bt
A
AB
BA
B
A
R
O H
Boa Drenagem Má Drenagem
A caracterização morfológica é realizada no perfil do solo com metodologia padronizada
Manual de descrição e coleta de solo no campo
Santos et al. (2005)
1aEtapa: Características morfológicas internas (anatômicas) 2aEtapa: Características morfológicas externas (ambientais)
2. Características Morfológicas do Perfil do Solo
1aEtapa
Características morfológicas internas (anatômicas)
a- Espessura e transição entre horizontes b- Cor
c- Textura d- Estrutura e e- Porosidade f- Consistência g- Cerosidade
2aEtapa
Características morfológicas externas (ambientais)
a. Localização b. Situação e declive c Altitude
d. Litologia e. Vegetação
f. Relevo local e regional g. Drenagem
h. Erosão
a. Espessura e transição entre horizontes
Transição Contraste entre horizontes
Abrupta: < 2,5cm Clara: 2,5 a 7,5cm Gradual: 7,5 a 12,5 cm
Difusa: >12,5 cm
Forma ou topografia Plana, ondulada, irregular e descontínua
Seqüência de horizontes
0 - 16cm 16 - 49cm
49 - 70cm
70 - 93cm
93 - 126cm
Profundidade (cm)
16cm 33cm
21cm
23cm
33cm
Espessura (cm)
b. Cor do Solo
Característica morfológica de fácil visualização e identificação
Os sistemas de classificação do solo considera a cor para distinção de classes
Importância
Infere sobre a ocorrência de processos pedogenéticos ou avaliação de características importantes no solo
Principais agentes responsáveis pela cor Matéria orgânica e óxidos de ferro
Cores escuras: indicam presença de matéria orgânica e estão relacionadas com o horizonte A
Cores vermelhas: indicam condições de boa drenagem e aeração do solo. Estão relacionadas com a presença de hematita
Cores amarelas: podem indicar condições de boa drenagem, mas com regime mais úmido. Estão relacionadas com a presença de goethita
Cores claras:presença de minerais claros (caulinita e quartzo). Pode significar a perda de materiais corantes.
Horizontes mosqueados:
manchas amarelas, vermelhas, pretas, em uma matriz ou fundo normalmente acinzentado
Significados das cores
Cores acinzentadas:
indicam condições de saturação do solo com água (redução do ferro)
Algumas Inferências sobre as Cores do Solo Ex. Solos vermelhos
Drenagem
Estágio de intemperização CTC
Acidez
Reserva de nutrientes Disponibilidade de P Agregação
Caracterização da Cor do Solo
Segue uma padronização mundial
“Sistema Munsell de Cores”
Carta de Cores Munsell para Solos
A notação se faz de acordo com o:
Matiz Valor Croma
Matiz: cor do espectro de cores. Varia em função de uma escala radial. Está relacionado com o comprimento de onda de luz.
Espectro dominante de cor no solo Vermelho (R)
Vermelho Amarelo (YR) Amarelo (Y)
Classes de solos: Vermelhos, vermelho-amarelos e amarelos Matiz no
solo
Valor ou tonalidade: refere-se à luminosidade relativa da cor.
Escala vertical.
8
2
Croma: é a pureza do espectro de cores, em relação ao cinza (valor). Identificação na escala horizontal
0 10
Cores neutras, acinzentadas
Aumenta a pureza
Croma
Valor Escala de Munsell de Cores para Solos (1954)
Matiz: 10R Valor: 3 Croma: 4
Notação da Cor
b) Cor: geralmente dada pela quantidade e estado em que se encontra o ferro e/ou a matéria orgânica.
•matiz – nome da cor (R=Red, Y=Yellow)
•valor – brilho ou tonalidade
•croma – intensidade ou pureza da cor em relação ao cinza 5YR 3/4
matiz valor croma
Cor dos horizontes Cor do fundo
Cor das manchas Arranjamento do mosqueado
Quantidade, tamanho e contrastes das manchas
Caracterização da cor dos horizontes do perfil do solo
c. Textura do Solo Partículas que apresentam
diferentes tamanhos
Frações granulométricas ou frações texturais
Fração Diâmetro Matacões 20 cm
Calhaus 20 mm a 20 cm Cascalhos 2 a 20 mm Areia grossa 2 a 0,2 mm Areia fina 0,2 a 0,05 mm
Silte 0,05 a 0,002 mm Argila 0,002 mm ou 2 TFSA
Determinação da textura do solo
Campo (caracterização morfológica)
Laboratório
No Campo
A textura é feita por estimativa, esfregando uma massa de solo úmida e homogeneizada entre os dedos
• Areia
• Silte
• Argila
Sensação aspereza, nãoplástico, nãopegajoso
Sensação sedosidade, plástico, nãopegajoso
Sensação sedosidade, plástico, pegajoso
Alguns cuidados
Solos muito oxídicos:a manifestação de pegajosidade e de platicidade não é tão intensa, mesmo quando muito argiloso (estrutura pó-de-café).
Solos com predomínio de argilominerais 2:1 expansivos:grande área superficial. Superestima o teor de argila (plasticidade e pegajosidade).
Solos com elevados teores de concreções (> que 2mm):
recomenda peneirar o solo.
33%
argila
40%
silte
27% areia Classes texturais
d. Estrutura do Solo
Arranjo das partículas areia, silte e argila em agregados ou torrões
Macroporos
Unidade Estrutural Agregado
Areia Silte Microporos
Argila
Avaliação da estrutura a campo Tipo Tamanho (mm)
M. Pequena Pequena Média Grande M. grande
< 1 1 a 2 2 a 5 5 a 10 >10 Regiões secas e frias (hor A, E e C) ou Hor A (compactação)
< 10 10 a 20 20 a 50 50 a 100 >100 Hor B (características solódicas ou sódicas): Planossolos e Luvissolos
Hor B de solos mal drenados: Planossolos
< 5 5 a 10 10 a 20 20 a 50 >50 Hor B solos mal drenados
Hor B solos bem drenados
< 1 1 a 2 2 a 5 5 a 10 >10 Hor A
Laminar
Colunar
Prismática
Blocos angulares
Blocos subangulares
Granular Laminar
Colunar Prismática
Blocos angulares
Blocos subangulares
Granular
Grau de desenvolvimento
- Sem estrutura (maciça – grãos simples) - Com estrutura
Fraca: unidades estruturais, na maioria, destruídas no ato da sua remoção do perfil
Moderada: resistente a manipulação leve Forte:resistente a desagregação. Separa-se os agregados sem a ocorrência de material desagregado
e. Porosidade do Solo
Espaço existente entre as partículas sólidas e entre os agregados do solo
Campo:
Descrição morfológica Lupa Tamanho
Quantidade
Muito pequenos (Ø 1mm), até muito grandes (Ø 10 mm)
Poucos poros e poros comuns
f. Consistência do Solo
Resistência do solo à sua desagregação Capacidade do solo de se moldar.
Condicionada pelas forças de adesão e coesão Depende da umidade
Solo Seco:Dureza ou tenacidade
Solto; Macio; Ligeiramente duro; Duro; Muito duro; Extremamente duro
Solo Úmido:Friabilidade do Solo
Solto; Muito friável; Friável; Firme; Muito firme; Extremam. firme
Solo Molhado:Plasticidade e Pegajosidade
- Não plástico; Ligeiramente plástico; Plástico; Muito plástico - Não pegajoso; Lig. Pegajoso; Pegajoso; Muito pegajoso
Formas e graus de consistência
x
Solo Seco:torrão de +- 3 cm (pressionar entre o polegar e o indicador).
Solo Úmido:Umedecer o torrão e tentar esboroar na mão.
Solo Molhado:
Plasticidade: mudar de forma (moldar).
Moldar um cilindro de solo de 3 a 4 mm de diâmetro e 6 cm de comprimento e posteriormente tentar deformar.
Pegajosidade:aderir ao objetos.
Usa-se uma massa de solo molhada e comprime entre o polegar e o indicador.
Determinações da formas e graus de consistência
g. Cerosidade
Consiste numa fina película de argila depositada na superfície dos agregados conferindo-lhes aspecto lustroso e com brilho graxo. É resultante da migração de argila iluvial.
Serve para identificar horizonte B textural e B nítico
Quanto ao grau de desenvolvimento:Fraca, moderada, forte Quanto a quantidade:pouco, comum, abundante
Nitossolo
h. Slickensides
Superfícies lisas e lustrosas com estrias paralelas encontradas na superfície das unidades estruturais. Características de solos com argilominerais 2:1 expansivos (montmorilonita). Ex. Vertissolos
45o
i. Nódulos e concreções de minerais
São corpos cimentados que podem ser removidos do solo - Presença de carbonatos
- Presença de manganês - Presença de sulfetos
NA descrição deve incluir:
- Quantidade - Tamanho - Dureza - Forma
2aEtapa:
Características morfológicas externas (ambientais)
a. Localização
b. Situação e declive: área plana, encosta, etc.
c. Altitude
d. Litologia: formação geológica
e. Vegetação: mato, cerrado, campo, pastagem, etc.
f. Relevo local e regional: plano até escarpado g. Drenagem: excessivamente drenado a muito mal drenado
h. Erosão Laminar
Ligeira: menos de 25% do horizonte A foi erodido Extremamente severa: horizonte A e B removido, atingindo o horizonte C
Sulcos
Sulcos superficiais: desfeitos pelas práticas de manejo Sulcos muito profundos: não pode cruzar com máquinas
Voçorocas: desmoronamentos de massa de terra
i. Pedregosidade e rochosidade (mais de 20 cm) Varia de 0,01% (Classe 0) até mais de 90% (classes 5) j. Uso atual
3. Descrição Morfológica do Perfil do Solo
3.1- Seleção do local para descrição
3.2- Seqüência para exame morfológico do perfil 3.3- Coleta de amostras
3.4- Formulários
3.5- Lista dos materiais necessários 3.6- Exemplo de descrição do perfil do solo
Levantamento de Solos (unidade de mapeamento) Locais representativos
Sempre que possíveis, sob vegetação natural 3.1. Seleção do local para descrição do perfil do solo
Polipedon 1
Polipedon 2
Solum exclui
C Perfil
inclui C Bt
E A
C Pedon
(UnidadeTridimensional) x
y z
Pedon Perfil
Seleção do local para descrição do perfil do solo
3.2. Seqüência para exame morfológico do perfil
a) Expor o perfil do solo
b) Separação dos horizontes
Cor, textura, estrutura, consistência, etc Uso de faca e/ou martelo pedológico
Observação visual (transição entre horizontes, tamanho e forma da estrutura, material concrecionário.
Manuseio: consitência, textura, grau de desenvolvimento da estrurtura
- Medir a espessura Caracterizar a cor, textura, consistência seca, úmida e molhada e transição entre os horizontes
Incluir: distribuição de raízes, atividade biológica, linhas de pedras, de concreções, compactação, altura do lençol freático, etc
Coletas de amostras
A A E E Bt Bt
c) Após separados os horizontes
3.3. Coleta de amostras
Caracterização analíticas do perfil Químicas, físicas e mineralógicas
Determinação da densidade
Amostras com estrutura indeformada
Amostras indeformadas para análise micromorfológicas
Amostras de rochas: estudos complementares
Caracterização de fertilidade (0 – 20 cm): levantamento e uso da área
3.4- Formulários
3.5- Lista dos materiais necessários
5.1. Para abertura da trincheira, preparo do ferfil e coletas
Martelo pedológico, trados, enxadão, pá quadrada, faca, facão, canivete, tesoura, espátulas, etc.
5.1. Para registro
Altímetro, trena, clinômetro, escala de cores de Munsell, ácido clorídrico, água oxigenada, lente de mão, imã, caderneta de notas, prancheta, canetas, pincel atômico, máquina fotográfica, fita para fotografia de perfis, bisnaga com água, mapas e fotografias aéreas, GPS, etiquetas para identificação
5.2. Para coleta
Latas de alumínio, anéis volumétricos, sacos para acondicionamento das amostras
3.6.Exemplo de descrição de um perfil do solo
a. Descrição Geral b. Descrição Morfológica c. Análises físicas e químicas
d. Análises mineralógicas
Exemplo de descrição de um do solo a. Descrição Geral
Perfil:Sanga – Ponto 8 Data: 04-06-2002
Classificação:PLANOSSOLO HIDROMÓRFICO Eutrófico plíntico (ver pg 9) Unidade de Mapeamento: SGe
Localização:Santa Maria, Caomobi, RS. Longitude 241.210 e Latitude 6.714.665 Situação e declive:Descrito e coletado em barranco de uma sanga.
Altitude:98 m Litologia: Areia, silte e argila fluvial Formação Geológica:Sedimentos recentes Cronologia:Quaternário
Pedregosidade e rochosidade:ausente Relevo local:Plano
Relevo Regional:Plano Erosão:laminar e sulcos
Drenagem:imperfeitamente a mal drenado Vegetação:gramíneas, capim rabo de burro e maria-mole Clima:Cfa 2 de Koeppen.
Uso atual:pastagem
Descrito e coletado por:Clovis Orlando Da Ros e Gilberto Logueiro Collares
Exemplo de descrição de um do solo
b. Descrição Morfológica
A1 0-35cm, bruno-escuro (7,5YR 3/2, úmido) e cinzento-avermelhado (7,5YR 5/2, seco); franco;
moderada média granular; poros pequenos e poucos; dura, friável, ligeiramente plástica e pegajosa; transição difusa e muitas raízes.
A235-58cm, bruno (10YR 5/3, úmida) e bruno-acinzentado (10YR 5/2,5, seco); franca; moderada pequena granular; poros pequenos e poucos; dura, friável e ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa; transição abrupta e raízes comuns.
E158-81cm, bruno-acinzentado-muito-escuro (10YR 3/2, úmida) e cinzento-brunado-claro (10YR 6/3, seco); franco arenosa; moderada média blocos angulares; poros muito pequenos e poucos; dura, friável e plástica e pegajosa; transição gradual e raízes comuns.
E281-92cm, bruno-acinzentado-escuro (10YR 4/2, úmida), mosqueados (10YR 5/6, úmida), bruno (10YR 5/3, seco) e mosqueados bruno-escuro (7,5YR 4/4, seco); franco arenosa; moderada média blocos subangulares; poros muito pequenos e poucos; dura, friável e plástica e ligeiramente pegajosa; transição abrupta e poucas raízes.
Btg92-127cm, bruno-escura (7,5YR 3/2, úmida) e bruno-acinzentado-escuro (10YR, 4/2, seco); franco argilosa; forte grande prismática que se quebra em média blocos subangulares; poros muito pequenos e poucos; duro, firme, plástica e pegajosa; transição gradual e poucas raízes.
C 127 – 142cm+, preto (5YR 2,5/1, úmida) e cinzento-muito-escuro (5YR 3/1, seco); argilosa; forte média e grande prismática que se quebra em média blocos subangulares; poros muito pequenos e poucos; duro, firme, plástica e pegajosa; transição gradual e raízes raras.