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PROBLEMATIZANDO A DISTRIBUIÇÃO DE ÁREAS VERDES EM ARACAJU (SE)

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Academic year: 2021

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O PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DA NATUREZA NO ESPAÇO URBANO EM CIDADES TROPICAIS:

PROBLEMATIZANDO A DISTRIBUIÇÃO DE ÁREAS VERDES EM ARACAJU (SE)

RESUMO

O presente artigo objetiva contribuir com uma revisão crítica sobre a distribuição e apropriação das áreas verdes em cidades tropicais, tomando como modelo os índices espaciais de arborização urbana da cidade de Aracaju. Realizou-se revisão bibliográfica, coleta de dados secundários junto a órgãos governamentais, além de uma correlação entre os índices de arborização e a renda média para os bairros e zonas aracajuanas. No que concerne aos resultados encontrados sobre tal correlação, podemos salientar que a mesma mostrou-se diretamente proporcional, sendo a Zona Sul a área que apresenta os maiores índices, tanto de Densidade Arbórea (IDA) com 0,68 indivíduos para cada 100 m2, como de Sombreamento Arbóreo (ISA) 68%, e de renda média 7 a 11 SM, em segundo lugar vem a Zona Centro com 0,61 (IDA), 62% para (ISA) e 4 a 6 SM de renda média. A Zona Norte foi a que apresentou os menores índices com 0,60 de (IDA), 39% de (ISA), e 3 a 5 SM para renda média. Destarte, esses indicadores fitogeográficos são reveladores das desigualdades socioespacias pertinentes ao acesso às áreas verdes, onde a articulação entre incorporadoras imobiliárias e o Estado configura o novo padrão de apropriação da natureza no espaço urbano da capital sergipana.

PALAVRAS-CHAVE: Produção do Espaço Urbano; Qualidade de Vida; Áreas Verdes; Apropriação da Natureza na Cidade.

THE PROCESS OF APPROPRIATION OF NATURE IN URBAN SPACE IN TROPICAL CITIES: QUESTIONING THE DISTRIBUTION OF GREEN AREAS IN ARACAJU(SE)

ABSTRACT

The article below is intended to contribute to a critical review about the distribution and ownership of green areas in tropical cities, taking as a model the spatial indexes of urban afforestation in the city of Aracaju. Based of a literature review, a selection of secondary data from government agencies and also a link between indexes of afforestation and the average income to the neighborhoods and different zones in Aracaju. Regarding the results concluded from this link, we can point that it has a direct proportion, being the South Zone the area that has the highest numbers, both in Tree Density (IDA) with 0,68 individuals every 100 m² and in Tree Shading (ISA) with 68% and with an average income of 7 to 11 basic wages, in second place comes the Central Zone with 0,61 (IDA), 62% of (ISA) and an average income of 4 to 6 basic wages. The North Zone showed the lowest numbers with 0,60 of (IDA), 39% of (ISA) and 3 to 5 basic wages of average income. Thus, these phytogeographic’s indicators reveal relevant sociospatial inequalities related to the access of green areas in which the joint between real state developers and the State sets the new standard of ownership of nature in urban space of the capital of Aracaju.

KEYWORDS: Urban Space Production; Quality of Life; Green Areas; Ownership of Nature in the City.

n.1, Set, Out, Nov, Dez 2011, Jan,  Fev 2012. 

 

ISSN 2237‐9290   

SEÇÃO: Artigos  TEMA: Biogeografia   

DOI: 10.6008/ESS2237‐9290.2012.001.0004      

 

Douglas Vieira Gois 

Universidade Federal de Sergipe, Brasil  http://lattes.cnpq.br/3364013420770381   douglasgeograf@hotmail.com  

 

Miguel Luiz Ferreira Guimarães de  Figueiredo 

Universidade Federal de Sergipe, Brasil  http://lattes.cnpq.br/9661430452279125   miglas_grunge@hotmail.com  

 

Edson Barbosa 

Universidade Federal de Sergipe, Brasil  http://lattes.cnpq.br/6043485134163222   fsddea@hotmail.com  

 

Rosemeri Melo e Souza 

Universidade Federal de Sergipe, Brasil  http://lattes.cnpq.br/3339056948815053   rome@ufs.br  

       

Recebido: 20/01/2012  Aprovado: 27/02/2012 

Avaliado anonimamente em processo de pares cegas. 

          Referenciar assim: 

 

GOIS, D. V.; FIGUEIREDO, M. L. F. G.; 

BARBOSA, E.; MELO e SOUZA, R.. O  processo de apropriação da natureza no 

espaço urbano em cidades tropicais: 

problematizando a distribuição de áreas  verdes em Aracaju (SE). Natural Resources, 

Aquidabã, v.2, n.1, p.44‐67, 2012.  

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INTRODUÇÃO

O espaço urbano é palco de várias mutações, sendo a sua consolidação espelho de grandes impactos advindos das dinâmicas sociais, econômicas, tecnológicas e naturais, tornando- se assim vilão das mais intensas alterações no meio ambiente no mundo hodierno, sendo, pois, objeto de estudo primordial para o entendimento da dinâmica sociedade-natureza, que se consubstancia na produção/ (re) produção do espaço, objeto de estudo geográfico por excelência.

A cidade moderna é reflexo das ações sociais de atores que numa relação dialética a produzem e (re) produzem, imprimindo-lhes dinâmicas que lhes são singulares. Nesse sentido, segundo Corrêa, (2003): “O espaço urbano capitalista-fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campos de lutas é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e agentes que produzem e consomem o espaço”.

Dentro dessa perspectiva, o espaço urbano na cidade contemporânea é produto da realização social dos agentes promotores da dinâmica urbana capitalista, a saber: proprietários dos meios de produção (sobretudo os grandes industriais), proprietários fundiários, promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos, agentes esses que numa relação dialética, articulada/fragmentada constroem o espaço numa prática desigual e combinada.

Nesse viés, “a coexistência, simultânea e dinâmica, de espaços mais desenvolvidos e menos desenvolvidos é o resultado do desenvolvimento geográfico desigual. Mas, também, é condição para o processo de continuada valorização do capital” (SMITH, 1988 citado por THEIS, 2010).

Assim, torna-se salutar destacar o crescimento desigual da cidade capitalista e a articulação entre os proprietários dos meios de produção e o Estado na produção/planejamento do espaço urbano, onde este último modela a cidade de acordo com os interesses privados.

O crescimento nas cidades capitalistas é consubstanciado mediante a escassez de recursos a serem implantados nas cidades. Assim a concentração de renda em determinados bairros gera uma segregação socioespacial que se consolida através da instalação de infra- estrutura pelo Estado e pelo mercado imobiliário, que numa relação dialética criam os chamados espaços luminosos em determinados bairros privilegiados localizados geralmente nas partes mais centrais da cidade. Como resultado dessa lógica, temos nesses espaços uma grande elevação dos preços dos terrenos, e, por conseguinte, uma fortíssima especulação imobiliária.

Nesse sentido, ao mesmo tempo em que a cidade moderna capitalista cresce vertiginosamente, expressa sua estrutura social, que torna-se visível através das relações sociais extremamente desiguais que se espacializam na cidade, onde o acesso a natureza torna-se expressão de uma nova lógica desigual no meio urbano tropical.

A dinâmica urbana atual é marcada por novas matrizes ideológicas, que se configuram,

sobretudo na apropriação da natureza nas cidades e/ou na vulgarização da idéia do verde nesse

espaço, tendo em vista a acumulação capitalista por meio da valorização de áreas que possuem

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um maior potencial natural, incorporando assim elementos da natureza localizados nas áreas urbanas como reserva de valor para a reprodução ampliada dos seus capitais a partir da valoração de suas propriedades.

Destarte, far-se-á imperativo o estudo sobre a apropriação das áreas verdes em cidades tropicais, sobretudo de sua distribuição espacial nas áreas verdes da cidade de Aracaju (SE), tendo em vista sua incorporação como reserva de valor numa configuração espacial excludente, criando dessa maneira uma cidade segregada, onde a natureza é para poucos, a saber, para as classes mais abastadas financeiramente, processo este consubstanciado na aliança Estado- Promotores imobiliários, em detrimento das classes sociais menos favorecidas economicamente que são desprovidas dos benefícios que a arborização pode lhes proporcionar.

REVISÃO TEÓRICA

Produção do espaço e apropriação da natureza em cidades tropicais: o exemplo da arborização urbana

O domínio tropical caracteriza-se por uma grande complexidade em sua dinâmica natural, tanto no que diz respeito aos seus componentes climáticos com suas altas temperaturas e elevados índices de precipitação, quanto a sua diversidade biológica, sendo possuidor das grandes florestas tropicais mantedoras da maior biodiversidade do globo.

Nessa região localizam-se mega cidades a exemplo do Sudeste asiático e da América Latina que caracterizam-se pelo rápido processo de urbanização aliada à falta de planejamento que as fizeram protagonistas do comprometimento do meio ambiente, haja vista ser o meio urbano o exemplo mais refinado das alterações produzidas pelo homem frente ao seu suporte ambiental, fator esse que compromete sua vida nesse espaço.

Em cidades tropicais a presença da arborização no meio urbano é uma condição prístina para uma melhor qualidade ambiental, tendo em vista os vários benefícios que um conjunto arbóreo pode propiciar para a população, sobretudo o melhoramento do conforto térmico, já que estamos tratando de ambientes onde as temperaturas máximas são demasiadas para o conforto humano.

Em termos conceituais a arborização urbana pode ser compreendida de diversas formas, desde concepções que as designam como áreas predominantemente públicas, até as que conciliam o público e o privado, desde que sejam ressalvadas as funções ecológicas da mesma.

Para Nogueira e Wantuelfer (2002 citado por BENINI, 2009) “áreas verdes podem ser de

propriedade pública ou privada e devem apresentar algum tipo de vegetação (não somente

árvores) com dimensão vertical significativa e que sejam utilizadas com objetivos sociais,

ecológicos, científicos ou culturais”.

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No plano funcional, pode-se salientar que as funções e/ou benefícios que as áreas verdes urbanas podem executar em meio tropical, para Troppmair e Galina (2003) são, dentre outras: a criação de microclima mais ameno; despoluição do ar de partículas sólidas e gasosas; redução da poluição sonora; purificação do ar pela redução de micro-organismos; redução da intensidade do vento canalizado em avenidas cercadas por prédios; vegetação como moldura e composição da paisagem junto a monumentos e edificações históricas.

Frente a todos os serviços ambientais que as áreas verdes podem fornecer aos cosmopolitas, evidencia-se sua intensa escassez nas cidades intertropicais, o que pode ser acompanhado pela criação de ambientes quase que inóspitos ao convívio humano.

Em um estudo realizado sobre a arborização urbana na cidade do Quito no Equador, COBO(1998), ressalta que superfícies permeáveis e cobertas por vegetação representam geralmente uma área muito pequena em relação à área total da cidade, e as árvores são escassas nesse meio.

Nascimento et al (1998), em publicação do Seminário Internacional intitulado de Áreas Verdes Urbanas en Latinoamérica y el Caribe, pondera que entre as muitas variáveis que afetam o bem-estar das comunidades urbanas, a que mais se destaca é a presença de áreas verdes suficientes e bem geridas. Para o mesmo, as áreas verdes urbanas devem exercer um papel importante no rápido crescimento das cidades pela contribuição positiva que elas fazem ao meio ambiente no bem-estar social e econômico da população nesses ambientes.

Um dos exemplos mais enfáticos consequentes da ausência e/ou excassez de áreas verdes em cidades tropicais é a formação das Ilhas de Calor Urbano. Aliada ao aumento de superfícies de absorção, dentre outras derivações no uso do solo urbano, a alteração na cobertura vegetal é o principal condicionante na configuração desse fenômeno climático nas cidades.

Segundo Padmanabhamurty (1999), a Ilha de Calor Urbana gera efeitos diferentes em cidades tropicais e temperadas. O custo de uma cidade tropical superaquecida pode ser avaliada em termos da diminuição do conforto humano e aumento dos custos de ar condicionado e refrigeração.

Em um artigo que versa sobre a relação entre a vegetação e clima urbano na cidade subtropical de Gaborone, Botsuana e Jonsson (2004), ressaltam que o crescimento das cidades em países Africanos tem acelerado nas últimas décadas, levando ao meio ambiente problemas de natureza diferente, onde um dos mais expressivos no espaço urbano são as Ilhas de Calor, decorrentes da devastação da cobertura vegetal nas cidades.

Paralelamente ao fenômeno de escassez de áreas verdes em cidades tropicais, consolida-

se um novo processo de apropriação da arborização no espaço citadino. Nessa nova lógica de

apropriação da natureza, as incorporadoras imobiliárias numa relação dialética se apropriam dos

espaços mais arborizados das cidades, em detrimento das classes populares de menor poder

aquisitivo, que despossuídas do valor monetário atribuído a esses espaços, ficam a margem dos

benefícios propiciados pela presença de árvores no meio urbano, sobretudo no tropical.

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Quanto a esse processo de apropriação da natureza no espaço urbano, Henrique (2004), em sua tese de doutorado em Geografia pela UNESP, enfatiza a apropriação de ideias de natureza no período histórico atual, através de empreendimentos imobiliários, localizados principalmente nas cidades tropicais brasileiras de São Paulo (SP), Campinas (SP) e Florianópolis (SC). Nesse estudo o autor ainda salienta a atuação do Estado na legitimação destas práticas. 1

Deste modo, pode-se salientar que a presença de árvores no meio urbano tropical faz-se como condição imperiosa, todavia concomitante a implantação e/ou preservação das mesmas evidencia-se um processo de apropriação da natureza no ambiente urbano em cidades tropicais, onde se observa uma distribuição irregular da mesma dentro do espaço urbano, e sua apropriação pelas empresas do ramo imobiliário, sendo esta, uma nova reserva de valor para as corporações do setor supracitado, deixando-se de lado as funções ambientais que a arborização pode proporcionar nas cidades, ou até mesmo apropriando-se destas funções para acrescer valor aos seus empreendimentos.

Produção/(Re)Produção Do Espaço Urabano, Novas Matrizes Ideológicas

A cidade contemporânea é arena de várias transformações que se materializam a partir das relações sociais de produção/(re)produção do espaço, principiados pelas relações capitalistas de produção, onde a produção da natureza torna-se vilã de tais mutações no espaço citadino.

De acordo com Rodrigues (1998), a produção do espaço é compreendida como o resultado lógico da produção da natureza que a sociedade realiza cotidianamente ao longo de sua história, onde a produção do espaço geográfico, enquanto atividade humana e social realiza-se sobre um espaço natural.

Segundo Limonad (1999), para Lefebvre “a reprodução ampliada e as novas condições materiais do capitalismo estariam intimamente relacionadas aos processos pelos quais o sistema capitalista como um todo consegue ampliar sua existência através da manutenção e disseminação sócio-espacial de suas estruturas. Tanto a nível da reprodução do cotidiano, da reprodução da força de trabalho e dos meios de produção quanto a nível da reprodução das condições gerais e das relações gerais sociais de produção, onde a organização do espaço passa a desempenhar um papel fundamental” (grifo nosso).

Na compreensão de Moreira (2007 citado por CISOTTO, 2008), a configuração do espaço geográfico na cidade capitalista dar-se-á enquanto síntese do processo de produção social mediante a materialização do trabalho:

o espaço geográfico é, pois, resultado de uma produção social que se realiza mediante o trabalho e com a transformação da natureza. A natureza não é apenas um mero integrante deste processo, ao contrário, é condição material, cultural e estética. A cidade, que pode ser entendida aqui como a síntese deste processo, que sob o capitalismo é universal, é produto de uma complexa dialética de forças       

1

Ver também Henrique (2003; 2006; 2011).

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interativas. Quais sejam os produtos das interações sociais e destas com a natureza, que ocorrem simultânea e articuladamente ao longo da história (ibidem).

A produção do espaço é o resultado lógico da produção da natureza, que a sociedade realiza cotidianamente ao longo de sua história, onde a produção do espaço geográfico, enquanto atividade humana e social realiza-se sobre um espaço natural, sendo a natureza a condição material, cultural e estética. Nesse viés o espaço é reproduzido mediante a criação de novos símbolos e ideologias, onde para muitos a qualidade ambiental e de vida são vilãs do processo (CISOTTO, 2010).

Qualidade ambiental e qualidade de vida no meio urbano: concepções e controvérsias

A conceituação do tema qualidade ambiental é bastante controverso dentre as diversas áreas da ciência, haja vista na Geografia, que pode apresentar várias concepções, dependendo da corrente do pensamento geográfico seguida pelo pesquisador, podendo até discordar totalmente, se os mesmos enveredarem por uma corrente do pensamento geográfico compreendido como radical.

Na concepção de seus advogados, a qualidade ambiental torna-se elemento de estudo fundamental no período atual, haja vista a intensa degradação do ambiente natural, e suas consequências para o agravo da saúde humana, entretanto sua definição ainda é objeto de debate entre os vários ramos científicos.

Segundo Tonetti (2010), o conceito de qualidade ambiental é abrangente, por este motivo, diferentes teorias ou diferentes áreas da ciência abordam aspectos diferentes da qualidade ambiental [tornando-se confusa sua conceituação].

Criar uma definição para qualidade ambiental torna-se bastante complexo, tendo em vista toda a subjetividade que está imbuída no termo, sobretudo pela dificuldade de se definir a percepção ambiental, que pode mudar de pessoa para pessoa, ou até mesmo, pelo fato de que uma pessoa pode apresentar várias concepções de percepção, a depender dos meios que lhe formaram a opinião. Nesse sentido, Ribeiro (2004 citado por SANTOS, 2010), “enfatiza o conceito afirmando que perceber não é um ato dependente apenas do ambiente em si, pois o que o individuo percebe nem sempre é o que o ambiente é, mas o que os seus sentidos apreendem a partir de seu filtro cultural”.

Dubus (1971 citado por MACHADO, 1997), ressalta que a dificuldade de se definir o que se entende por qualidade ambiental “reside no fato de que qualidade envolve gostos, preferências, percepções, valores, o que torna difícil de se chegar a um consenso”.

Pode-se ponderar com relação à conceituação de qualidade ambiental, que observa-se

divergências entre os autores, que se dividem em dois pontos principais: aqueles que definem a

qualidade ambiental atrelada a aspectos socioeconômicos, tal como segurança pública,

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transporte, educação etc.; e os autores que tratam a qualidade ambiental preocupando-se mais com as condições do ambiente natural modificado, com o meio físico propriamente dito.

Em se tratando da concepção social da qualidade de vida, tendo em mente os numerosos indicadores destinados à sua avaliação. De maneira ampla, é possível agrupá-los em relação aos vários aspectos, sejam eles: ambientais; habitacionais; urbanos; sanitários e sociais (FORATTINI, 1991).

Tendo em vista os problemas relacionados à urbanização que começaram a ganhar destaque no Brasil e no mundo desde as últimas décadas do século passado, estudos sobre a qualidade ambiental urbana tornaram-se difusos por vários ramos da ciência, sobretudo na Geografia, onde podemos destacar os estudos de (MONTEIRO, 1976; LOMBARDO, 1985;

NUCCI, 1996), dente vários outros nomes da ciência geográfica, onde se destacam os trabalhos no campo da climatologia urbana.

Em contraposição as visões apontadas sobre a qualidade de vida e ambiental pode-se destacar as opiniões contrárias a essa temática. Concepções estas muitas das vezes embasadas pela lógica desigual do capitalismo.

Nesse sentido, pondera-se que para muitos autores, as temáticas qualidade ambiental e qualidade de vida são temas controversos, devendo-se atribuir ao capitalismo a apropriação do termo em favor da criação de novas mercadorias no plano do imaginário, onde a apropriação da ideia natureza e seus serviços é um exemplo emblemático.

Na concepção de Henrique (2006), no período histórico atual há uma apropriação da ideia de qualidade de vida, segundo ele “em várias cidades do Brasil e do Mundo, qualquer objeto associado a uma ideia de natureza torna-se sinônimo de qualidade de vida e transforma-se em valor econômico, aumentando os preços dos apartamentos, casas, condomínios e edifícios”.

Para Fernandes (2009), na contemporaneidade as áreas naturais são consideradas como

“objetos” de valor pelo imaginário social, pois a busca pela qualidade de vida (aquela que pretende a “fuga” do urbano) gera um reencantamento pela natureza por parte da sociedade.

Assim, deve-se salientar o embate político quanto à definição dos termos qualidade ambiental e de vida, onde um dos argumentos mais enfáticos repousa em sua apropriação pelo capitalismo, e, por conseguinte sua extensividade à toda a população. Em contrapartida ressalta- se a importância de diagnósticos ambientais, que independentemente da concepção política, tenham por base a compreensão do ambiente, sobretudo da qualidade ambiental das cidades, morada por excelência do homo urbanus.

Qualidade ambiental urbana

A importância dos estudos sobre a qualidade ambiental nas cidades é cada vez maior, haja

vista que, é nesse espaço onde os problemas ambientais atingem sua maior amplitude, notando-

se maior concentração de poluentes do ar, água, devastação da cobertura vegetal original e

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degradação do solo e subsolo, em consequência do uso intenso do território pelas atividades urbanas.

Expõe Buccheri Filho (2010), que “nas cidades um ambiente saudável e o crescimento concorrem diretamente entre si, pois, em sua maioria, não são projetadas levando em consideração a preocupação com a qualidade do ambiente”. Nesse sentido os cidadãos [leia-se, alguns cidadãos] usufruem das inovações tecnológicas e seus confortos, porém, sofrem com a deterioração do ambiente devido à poluição, congestionamentos, ruídos e com a falta de vegetação e de espaços livres públicos para o lazer.

Seguindo essa perspectiva deve-se salientar que qualidade ambiental e qualidade de vida não são termos equivalentes, porém para se ter uma boa qualidade de vida torna-se necessário a presença da qualidade ambiental, o que nos leva a afirmar que os mesmos não são unívocos, porém complementares.

Para Lima e Amorim (2009 citado por BARGOS, 2010), a qualidade ambiental e a qualidade de vida estão intrinsecamente relacionadas no que se refere à capacidade e condições do meio urbano em atender às necessidades de seus habitantes.

De acordo com Lombardo (1985), a qualidade da vida humana está diretamente relacionada com a interferência da obra do homem no meio natural urbano. A natureza humanizada, através das modificações no ambiente alcança maior expressão nos espaços ocupados pelas cidades, criando um ambiente artificial.

Buccheri Filho (2006), ressalta que, a ideia da qualidade ambiental com ênfase no ambiente natural é compartilhada também por LEFEBVRE (1969) onde comenta que “(...) ar, água, espaço, energia (alimento e calor), abrigo e disposição de resíduos são considerados como as novas raridades e em torno das quais se desenvolve uma intensa luta”.

Segundo Morato et al (2005 citado por BARGOS, 2010), a qualidade ambiental urbana é entendida como a provisão de condições adequadas para o conforto e a saúde da população, tornando-se assim um dos aspectos mais importantes para a determinação da qualidade de vida.

Berto (2008), tendo em vista uma visão integradora sobre a qualidade ambiental urbana, considera que a mesma é resultante de processos diretamente afeitos à relação sociedade- natureza, e que “mensurar a qualidade ambiental urbana deve partir de dados que representem essa relação, de forma a abarcar suas inter-relações”.

Para Bargos (2010), a qualidade ambiental pode ser entendida e analisada sob vários parâmetros, sendo que uma das formas de se mensurá-la é por meio da utilização de indicadores ambientais, que devem ser selecionados segundo critérios que contemplem as relações entre a sociedade e a natureza.

Segundo a compreensão de Luengo (1998), para a avaliação da qualidade ambiental é preciso escolher indicadores confiáveis, sendo condição preliminar o conhecimento dos aspectos gerais e definição das variáveis, que incidem sobre três grandes aspectos de caráter geral:

aspectos físico-naturais, aspectos urbano-arquitetônicos e aspectos socioculturais.

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De acordo com Garcias (2001 citado por BARGOS, 2010) o conhecimento pleno sobre o que se quer avaliar é fundamental para a definição dos indicadores e, principalmente, para a melhor forma de serem medidos, definindo-se assim a forma de apuração dos mesmos.

Tendo em vista a importância da escolha de bons indicadores para auxiliarem nos estudos sobre a qualidade ambiental urbana, Buccheri Filho (2010), em seu estudo sobre a qualidade ambiental nas paisagens urbanizadas, utilizou os indicadores: clima e poluição atmosférica;

cobertura vegetal; espaços livres e áreas verdes; poluição sonora; enchentes; verticalidade e densidade demográfica, sendo a escolha dos mesmos, critério pertinente ao pesquisador que deverá adaptá-los as especificidades de sua área de pesquisa.

Logo, faz-se pertinente o emprego dos índices de arborização como indicadores de qualidade ambiental no espaço urbano, sendo sua apreciação junto à renda média dos moradores das zonas, bem como dos bairros de Aracaju (SE) elucidador de uma nova configuração no planejamento do espaço urbano, a saber, da apropriação da natureza pelas classes sociais de maior poder aquisitivo dentro do lócus das cidades e a ação do Estado como mantedor desse processo.

O verde como fetiche no consumo da cidade

A natureza na cidade moderna apresenta-se como meio a materialização do capital por intermédio de sua resignificação, passando assim da ideia de uma natureza hostil para uma natureza “amiga”, fetichizada através da ideia de valorização do natural como simbólico no espaço urbano contemporâneo.

Na concepção de Henrique (2003), “a natureza carrega consigo um peso simbólico e ao mesmo tempo contraditório e complexo, sendo entendida diferentemente por diversas formas de pensamentos e ideologias”.

Para Rodrigues (1998), “a problemática ambiental é que coloca em evidência a necessidade de compreender o espaço, não como fetiche – responsabilizado por tudo – mas como uma forma de compreender as contradições das formas de apropriação da natureza e da produção social”.

De acordo com Berto (2008) as relações sociedade-natureza, sobremodo, “homem- homem” mediadas pelo trabalho, ganham destaque ainda maior quando se analisa o espaço urbano, “devido às relações de produção do sistema capitalista serem, neste espaço, de mais fácil observação, da mesma maneira que a materialização de seus efeitos”.

Segundo Henrique (2003), o avanço técnico transforma a Natureza em algo cada vez mais

social do que natural. A ação humana sobre a natureza permite ao homem produzir sua história. O

processo histórico – social e não natural – controla, incorpora e produz naturezas, enquadrando-

as nas qualidades humanas.

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O ideal do homem, de acordo com seus desejos e sistema de valores, possibilitará a construção de uma nova beleza da natureza, que irá se constituir para responder a um sentimento com valor estético. Adornar e melhorar a natureza são funções da civilização e da cultura que separaram o homem culto e civilizado daquele bárbaro que apenas destrói a terra, que apenas desfiguram a face da natureza sem acrescentar beleza. Esta condição estética da natureza humanizada está muito relacionada aos grandes jardins que tomaram lugar na Europa desde o Renascimento (op. cit).

Na compreensão de Rodrigues (1998), “o conjunto de problemas denomina-se problemas ecológicos, ambientais, problemática ambiental, questão ambiental, questão do meio ambiente.

São ‘novos’ problemas que mostram as formas predatórias de apropriação da natureza”.

Tendo em vista a ideia de apropriação da natureza no espaço urbano Henrique (2003), pondera que “a reificação da natureza enquanto um objeto a se tornar mercadoria 'elitizada', necessitou de formas sofisticadas de conhecimento para que se pudesse manipular o mundo natural segundo os propósitos humanos e, até mesmo para explorá-la no mercado de trocas e vender suas qualidades de acordo com um design humano”.

Corroborando com essa ideia Correia (2007), afirma que “a natureza conservada no parque da cidade também é uma ilusão na medida em que se torna um fetiche da natureza real. O parque é “vendido” como “natureza”, com canteiros recortados, árvores nativas conservadas e outras plantadas, animais soltos e pássaros voando”.

Nesse sentido, novas lógicas se configuram no plano do urbano, onde a apropriação da natureza nesses espaços dar-se-á, sobretudo a partir da sua feiticização, transformando-se assim o verde em mercadoria, onde muitas vezes vende-se uma natureza simbólica, em benefício da acumulação capitalista. Não obstante, a lógica mercadológica cria novas necessidades para sua acumulação, ora promovendo a natureza como produto comercializável, ora criando o fetiche do consumo natural, vendendo uma natureza simbólica a quem lhe pode pagar.

Apropriação da natureza no espaço urbano: o caso das incorporadoras imobiliárias

Evidenciamos atualmente um novo padrão de consumo da natureza no espaço urbano, sendo este consubstanciado na apropriação da ideia de natureza que enseja várias propagandas de incorporadoras imobiliárias, tornando dessa maneira a natureza urbana elitizada, onde vende- se a imagem de ar “puro”, proximidade com o “natural”, sendo a realidade de Aracaju(SE), um exemplo emblemático dessa nova lógica mercantil-imobiliária .

Inicia-se no século XIX, um movimento mais intenso de associação entre a natureza na cidade e a especulação imobiliária, com a construção de jardins e parques pelos agentes imobiliários, com o objetivo de valorização dos loteamentos construídos no entorno. A natureza na cidade passa a ser uma ‘isca’ ou uma imagem/símbolo (Henrique, 2006).

Nesse sentido a valorização da natureza abre espaço para a (re) incorporação do “natural”

à sociedade, reproduzindo a desigualdade sócio-espacial, onde só as classes de maior poder

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aquisitivo tem acesso a “natureza reificada”. Atualmente, ter acesso a essas paisagens ditas naturais é sinônimo de status e tem contribuído para aprofundar a segregação espacial nas cidades.

Na supervalorização da natureza, real e simbólica, e de determinados setores e bairros das cidades, instauram-se em alguns casos processos de requalificação e gentrificação do espaço urbano, onde todos os prazeres nos nichos específicos do mercado imobiliário se dão na órbita da acumulação, dentro de uma racionalidade capitalista (HARVEY, 2001 citado por HENRIQUE, 2011).

Não é por acaso que o planejamento urbano privilegia algumas localidades em detrimento dos bairros considerados periféricos, criando assim uma rarificação da natureza, o que por sua vez atribui um maior valor de troca nesses espaços.

Henrique, (2011) expõe que:

Na comercialização da natureza, os objetos e as idéias vinculam-se as atividades financeiras e acabam por impregnar os empreendimentos imobiliários com um valor exclusivo em função da raridade da natureza, especialmente as áreas verdes, na cidade. Desta forma, não é algo meramente acidental, que inúmeros empreendimentos imobiliários tragam em suas denominações as palavras privilégio e exclusivo, inclusive com suas traduções para inglês e francês.

Ainda com relação ao enobrecimento de alguns bairros na cidade, sobretudo os que se localizam próximo ao mar, parques urbanos, áreas verdes, enfim localidades adjacentes a áreas com potencial ecológico considerável, ou apenas pelo fetiche do status social, podemos destacar que esses são objeto de investimento do capital tanto privado, quanto público, deixando assim os bairros que não apresentam interesse por parte do mercado imobiliário à margem de qualquer investimento.

As ações dos diversos agentes do mercado imobiliário, notadamente as grandes incorporadoras e construtoras levam a supervalorização de determinados espaços da cidade e da região metropolitana (exclusivamente a faixa litorânea dos municípios metropolitanos), com um uso intenso dos recursos do território – naturais (água, ar, paisagem, etc.) e artificiais (vias de circulação, transportes, etc.). Estas ações e seus produtos (os objetos/moradias/empreendimentos) criam morfologias urbanas específicas, como os condomínios e inserem novos padrões de moradia e de vida. Em contrapartida, áreas da cidade e da Região Metropolitana que não interessam ao mercado imobiliário permanecem à margem dos investimentos públicos e privados. (HENRIQUE, 2011, p.65).

As operações que envolvem o mercado imobiliário lançam mão de diversas estratégias para atrair compradores. É nas propagandas que se materializam as estratégias do setor, onde é destacada a ideia simbólica do “natural”, fazendo-se apelo slogan do verde urbano.

Segundo Barbosa (2010), “o apelo se dá através da exploração de elementos visuais e

simbólicos que visam criar uma imagem positiva em relação ao empreendimento, o que em última

instância contribui para a valorização dos bens imóveis”.

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O resultado é o aumento da demanda por áreas e desenvolvendo novas formas de consumo real e simbólico da Natureza na cidade e produzindo uma Natureza padronizada.

(HENRIQUE, 2011).

Nesse sentido, tendo em vista a raridade de se encontrar ambientes que guardem suas características naturais, sobretudo nas áreas urbanas, haja vista seus níveis de adensamento, podendo-se destacar a construção de um simulacro da natureza pelo setor imobiliário, sendo essa empreitada pautada em uma articulação que se faz contraditória em favor da acumulação capitalista, a saber, a aliança do Estado com o setor imobiliário no planejamento do espaço urbano, sendo seu resultado o acirramento das disparidades sócio-espaciais, pautada no desenvolvimento desigual e combinado do espaço citadino.

METODOLOGIA

Caracterização do Município de Aracaju

Abrangendo uma área de 181,8 Km 2 , segundo Araujo (2006), “o município de Aracaju (Figura 01) está inserido na mesorregião do Leste Sergipano, compreendido entre as coordenadas geográficas de 10° 55’56’’ de latitude Sul e 37°04’23’’ de longitude Oeste”. Limita-se em sua porção Norte, com o rio do Sal que o separa do município de Nossa Senhora do Socorro.

Na extremidade Sul, limita-se com o rio Vasa Barris. A Oeste, com os municípios de São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro e a Leste com o rio Sergipe e Oceano Atlântico.

Figura 01: Localização geográfica do município de Aracaju.

Conforme Araujo (2006), em Aracaju, o clima local é do tipo megatérmico sub-úmido úmido

segundo a classificação de KOPPEN (C 2 A’a’), resultante das interações de atuação dos sistemas

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meteorológicos durante o ano, da posição geográfica do município e sua proximidade em relação à área marítima, fatores estes que imprimem-lhe uma dinâmica de singular complexidade.

Apresenta regime pluviométrico definido por um período seco de primavera-verão e chuvoso de outono-inverno. Quanto à temperatura Aracaju acusa máximas absolutas pouco elevadas, com 34,2°C registrados no mês de março e 33,9°C em fevereiro.

Com relação à cobertura vegetal, o Estado de Sergipe apresenta-se bastante devastado no que concerne a sua vegetação nativa primitiva. Aracaju, não fugindo a regra, vem passando por esse processo desde sua origem , em 1885, com a edificação do seu sítio. “Aracaju surgiu assim, derrubando e aterrando mangues [...] desmatando “apicuns‟ e eliminando restingas.”

(VARGAS, 2002).

No que diz respeito ao seu contingente populacional, segundo o censo do IBGE (2010), a capital sergipana possui 571, 149 habitantes, sendo sua densidade demográfica de 3.140,67 (hab/km 2 ).

Para realizar a análise da distribuição das áreas verdes na cidade e Aracaju (SE), tendo em vista os estudos realizados por Lima Neto (2008), compartimentamos nossa área de estudo em três zonas (zona sul, zona central e zona norte), da capital sergipana.

Zona Sul

A Zona Sul de Aracaju compõe um mosaico que abrange 17 bairros, onde reside majoritariamente a população com maior poder aquisitivo da cidade. A mesma possui uma notável especulação imobiliária que pode ser percebido na configuração da paisagem onde predomina o padrão de crescimento vertical. Nessa Zona encontram-se os dois grandes shoppings da capital sergipana, o que vem a corroborar com o processo de enobrecimento urbano dessa área.

Zona Central

A cidade de Aracaju, fundada em 17 de março de 1985 teve como ponto focal de sua instalação a atual Zona Central, foi neste local onde o responsável pela execução da planta da nova capital, o engenheiro civil Sebastião Brasílio Pirro projetou a primeira quadra da então capital sergipana.

De acordo com Vilar (2000), Aracaju foi uma cidade projetada e não planejada, para suprir as necessidades que a antiga capital não atendia.

“a nova capital foi concebida para ser um modelo de cidade portuária, geométrica e arborizada – para facilitar a livre circulação; uma vanguarda de higiene urbanística frente à „colonial São Cristovão, antiga capital, com ruas estreitas, topografia irregular e porto precário. Aracaju seria um símbolo da idéia de o progresso liberal disseminada pelo Império, embora numa sociedade escravista”.

(CARDOSO, 2002).

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Foi a partir da Zona Central que a cidade de Aracaju começou a crescer e irradiar para todos os cantos, devendo-se salientar que tal crescimento foi marcado pela devastação da vegetação original, pelo aterro de lagoas e restingas, descaracterizando assim todo o sistema ambiental outrora ali encontrado. Hoje o centro de Aracaju possui um caráter predominantemente comercial, com maciça circulação de pessoas e um forte tráfego de veículos.

Zona Norte

A Zona Norte de Aracaju é composta por 18 bairros, onde reside cerca de 50% da população da capital. Analisando o conjunto dos bairros que compõem essa zona, podemos destacar que nesta área predomina uma população de baixa a média renda, divergindo da população da Zona Sul, onde encontra-se grande parte da burguesia aracajuana.

Ademais, pode-se ressaltar que a construção e organização espacial urbana de Aracaju é caracterizada pela forte heterogeneidade, evidenciando as desigualdades sociais não só por Zonas, mas também no interior dos bairros.

Procedimentos Metodológicos

Para a concretização do presente estudo, inicialmente realizou-se revisão bibliográfica com leitura, e análise de livros, teses, dissertações, monografias e artigos sobre temas como arborização urbana, qualidade ambiental urbana, apropriação da natureza, território e meio ambiente, atores promotores do espaço urbano, dentre outros assuntos correlatos que se consubstanciam na atividade analítica sobre a construção e/ou apropriação do espaço urbano.

A pesquisa bibliográfica foi realizada na Biblioteca Central da UFS, nos acervos bibliográficos do PRODEMA/UFS, NPGEO e GEOPLAN (Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Territorial na Universidade Federal de Sergipe), além de artigos pesquisados em base de dados e em periódicos eletrônicos de caráter nacional e internacional.

Foi também realizada uma apreciação dos estudos realizados por Lima Neto (2008), que evidenciam que a cidade de Aracaju possui uma irregular distribuição de sua vegetação arbórea, sendo os índices de Densidade Arbórea (IDA’s), que dizem respeito ao número de árvores existentes em cada 100m 2 , e os índices de Sombreamento Arbóreos (ISA’s), que se expressão como os percentuais de área sombreada em relação à área total, sendo estes indicadores da irregular distribuição da arborização urbana aracajuana.

Após a revisão de literatura sobre o tema em questão, fora realizada uma coleta de dados

secundários junto aos órgãos governamentais, tais como: SEPLAN (Secretaria Municipal de

Planejamento), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), EMURB (Empresa Municipal

de Obras e Urbanização) e EMSURB (Empresa Municipal de Serviços Urbanos), a saber, renda

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média (RM) por morador responsável nos bairros aracajuanos; Censo populacional; número de praças e árias verdes, dentre outros necessários para a materialização da pesquisa, sendo estes primordiais para a correlação entre o planejamento urbano e a distribuição das áreas verdes na cidade de Aracaju (SE).

Para a realização da análise dos dados fora realizada uma correlação direta entre os índices espaciais de arborização urbana, a saber, IDA e ISA, e a renda média da população por bairro de Aracaju, bem como do Número Absoluto de Áreas Verdes Urbanas (NAVU) da cidade de Aracaju (obtidos junto a EMSURB) e estes últimos, tendo como propósito a compreensão da irregular distribuição da arborização no espaço urbano aracajuano.

Após a análise dos índices de arborização urbana (IDA e ISA) e do NAVU da cidade de Aracaju e sua posterior confrontação com os dados secundários supracitados, foram confeccionadas tabelas, gráficos e cartogramas que permitissem expressar de modo mais claro e melhor as correlações tanto no que diz respeito a distribuição por zona, quanto com relação a renda média por bairro, desvelando as desigualdades socioespacias pertinentes sobretudo ao acesso às áreas verdes urbanas na cidade de Aracaju, auxiliando assim na interpretação dos resultados da análise.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Faz-se interessante ressaltar que a qualidade ambiental pode ser entendida e analisada sob vários parâmetros, sendo que uma das formas de se mensurá-la é por meio da utilização de indicadores ambientais, que devem ser selecionados segundo critérios que contemplem as relações entre a sociedade e a natureza na perspectiva de alcançar os objetivos da pesquisa.

Índices espaciais de arborização urbana e qualidade ambiental na cidade de Aracaju: breve análise crítica

O ambiente tropical caracteriza-se pela grande complexidade em sua dinâmica “natural”, sendo a presença da arborização urbana um componente indispensável para a qualidade ambiental nesse espaço.

No ano de 2008, com base em uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, a cidade

de Aracaju, capital sergipana ganha o título de “Capital Brasileira da Qualidade de Vida", slogan

esse que irá ensejar várias campanhas e propagandas governamentais, sendo assim uma mola

propulsora para os agentes produtores do espaço urbano aracajuano, todavia, devemos ponderar

sobre o significado dessa qualidade de vida, bem como se seus benefícios são abrangentes a

todos os aracajuanos.

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É sabido que uma das dimensões da qualidade de vida abrange a qualidade ambiental urbana, tornando-se o uso de indicadores ambientais fator primordial para a sua mensuração e/ou acompanhamento.

Nesse sentido podemos salientar o uso dos índices de distribuição espacial da vegetação arbórea no ambiente urbano, como indicadoras de qualidade ambiental urbana, fato esse que torna-se consubstanciado no estudo em questão, onde são analisados os índices espaciais de arborização, confrontando-os com a renda média por bairro, o que se torna materializado no exercício analítico sobre a apropriação da natureza no espaço urbano aracajuano e por conseguinte na aliança entre Estado e setor imobiliário no planejamento da cidade.

Corroborando com essa ideia, Bargos (2010), afirma que “independente das discussões relacionadas ao conceito, o que se observa é que a vegetação tem sido aceita como elemento importante para a preservação da qualidade ambiental urbana na medida em que esta promove uma série de benefícios ao ser humano”.

Desse modo, os índices espaciais de arborização urbana podem servir como parâmetros no acompanhamento da qualidade ambiental nas cidades, bem como para analisar como se da a distribuição da mesma dentro do espaço urbano (Figura 02).

Figura 02: Proporção de praças por bairros de Aracaju-SE, 2010.

Analisando o cartograma da figura 2, podemos salientar a baixa proporção de áreas verdes

públicas localizadas na zona norte de Aracaju, chegando alguns bairros a não apresentar

nenhuma dessas áreas. Os bairros Lamarão e Soledade, também localizados na Zona Norte

possuem apenas 0,6% do total de áreas verdes, o que corresponde a apenas uma área verde

(17)

para cada bairro. Nos bairros Porto Dantas, Cidade Nova e Jardim Centenário não foi evidenciada a presença de área verde, o que é muito preocupante para a população ali residente, visto os vários benefícios que a vegetação pode propiciar, mormente no meio urbano, sobretudo para a amenidade climática dessas localidades, pois estes números denotam a possibilidade de criação de ilhas de calor urbana nesses locais, o que implica dentre outros fatores na diminuição do conforto térmico dessa população.

Também na Zona Norte, cabe ressaltar que as maiores porcentagens foram encontradas nos bairros Santo Antônio, Bugio e Siqueira Campos, bairros esses onde reside a população com maior poder aquisitivo do espaço em análise. Assim podemos localizar uma percentagem máxima de 3,01% para cada um dos bairros supracitados, formando deste modo um montante de 9,3% do total de áreas verdes pública da capital sergipana (Figura 02).

Assim, frente aos dados supracitados, podemos evidenciar uma desigualdade socioespacial de distribuição da vegetação urbana não só entre as zonas, mas também dentro das mesmas, ou seja, entre os vários bairros de uma mesma zona, tendo sempre como fator preponderante o poder aquisitivo dos residentes nessas localidades.

Em contraponto aos dados encontrados na Zona Norte da cidade de Aracaju, foram achadas na Zona Centro e Sul as maiores proporções das áreas verdes totais da cidade supracitada. Na Zona Centro encontramos um número de 9,2% (Figura 02) do montante total de áreas verdes de Aracaju, valor esse bastante expressivo, haja vista que essa zona é composta por apenas um bairro, o centro, em contraponto à Zona Norte que é composta por 18 bairros, onde reside cerca de 50% da população aracajuana, e mesmo frete a esses números apresenta uma vegetação arbórea escassa, em detrimento da qualidade ambiental da população aí residente.

De modo mais enfático, podemos destacar os resultados encontrados na Zona Sul, local onde foram contabilizadas as maiores proporções de áreas verdes aracajuanas, sendo sua soma resultante da grandeza de 56% em relação ao número total dessas áreas. Em consonância com a Zona Norte, nessa área, também predomina uma desigualdade socioespacial entre os bairros que o compõem, onde os locais com população de elevado poder aquisitivo, preponderantemente detém uma maior proporção de áreas verdes, a exemplo do bairro Farolândia que possui 10,8%

dessas áreas na capital sergipana, sendo o bairro com maior número de áreas verdes da capital supracitada.

Ainda seguindo a análise da Zona Sul, pode-se ponderar que, após o bairro Farolândia

encontram-se os bairros: Ponto-Novo, que possui 7,2%, Luzia 6,62%, Grageru 6,62% e Jabotiana

com 6,62% do total de áreas verdes, alcançando assim uma soma de 37,8% das praças contidas

somente nesses cinco bairros aracajuanos, o que vem a corroborar com uma melhor qualidade

ambiental para os citadinos nesses espaços, sobretudo no que diz respeito ao conforto térmico

dos mesmos. Em contradição aos resultados supracitados, em um dos bairros onde reside a

maioria da população com menor poder aquisitivo da Zona Sul, a saber, o bairro São Conrado

(18)

foram encontrados 2,4% do total de áreas verdes de Aracaju, o que em número absoluto corresponde a 4 praças públicas, confirmando-se assim uma desigualdade socioespacial de distribuição da arborização dentro da Zona Sul, o que não difere da lógica encontrada na Zona Norte, onde a renda média mensal por bairro é fator preponderante em uma correlação direta com a distribuição de áreas verdes na cidade de Aracaju (SE).

No que diz respeito ao número de áreas verdes encontradas na Zona de Expansão de Aracaju, o mesmo correspondeu a 6,62% do total de áreas verdes da capital sergipana, entretanto a esta não foi o objeto de análise principal do presente trabalho pelo fato de ser uma zona onde a sua malha urbana está em processo de consolidação, deste modo não tivemos ainda o acesso a compartimentação por bairros da mesma, o que nos impossibilita de realizarmos a análise entre renda média e número de áreas verdes públicas, o que consiste no cerne da presente pesquisa.

Todavia, cabe salientar que nessa Zona de Expansão existe um expressivo processo de degradação ambiental através, sobretudo do desmanche de dunas, aterro de lagoas, dentre outros impactos ambientais que concorrem extensivamente com a fortíssima especulação imobiliária que prepondera nesse local, que é representada pelo grande número de empreendimentos das grandes incorporadoras imobiliárias operantes em Aracaju, que por meio da apropriação da natureza nesse espaço urbano (re) produz as desigualdades socioespaciais nessa nova Zona da capital sergipana.

Destarte, podemos denotar uma má distribuição deste equipamento no espaço urbano da capital sergipana, o que vem a corroborar para acirrar as desigualdades socioespaciais dentro da cidade supracitada, e por extensão, mostrar o descompromisso do poder público com a população de menor poder aquisitivo, bem como a sua aliança com o setor imobiliário, visto que, é na Zona que possui a maior proporção de praças (Zona Sul), o local onde a expansão imobiliária se consolida, observando-se deste modo um expressivo processo de enobrecimento e, por conseguinte de especulação imobiliária nessas áreas detentoras dos maiores índices de áreas verdes, denotando-se assim um novo consumo da cidade, quiçá, podemos salientar o consumo da natureza na urbe.

Índices espaciais de arborização urbana em Aracaju

Segundo Lima Neto (2008, p.18), “os índices espaciais de avaliação fitogeográfica são definidos como um conjunto de parâmetros utilizados para o estudo da arborização presentes nas áreas verdes, à medida que se realiza a mensuração destes, será obtida uma melhor ou pior condição de arborização, e de fato exercerá influência na qualidade das áreas verdes”.

Vários são os benefícios proporcionados pela presença da arborização em áreas urbanas,

seja ela em praças, canteiros ou até em parques. A arborização urbana pode contribuir no plano

físico-climatológico com a amenidade climática, corroborando com a diminuição dos efeitos das

(19)

ilhas de calor nas cidades, no plano social, propiciando um local de encontro, de lazer, ou até psicológico, dando lugar a espaços de contemplação.

Na cidade de Aracaju a distribuição da arborização urbana dar-se de maneira desigual espacialmente, onde é evidenciada uma maior proporção de praças nos bairros localizados na zona sul da cidade, quiçá são nestes bairros, onde reside a população com maior poder aquisitivo da capital sergipana (Figura 03).

Figura 03: Gráfico dos Índices de Densidade Arbórea distribuídos por Zonas na cidade de Aracaju. Fonte:

Lima Neto, 2008.

Ao realizarmos a apreciação do gráfico acima, que diz respeito aos índices de densidade arbórea distribuídos pelas zonas da cidade de Aracaju, podemos ponderar sobre a irregular distribuição da cobertura arbórea no espaço urbano aracajuano, sendo a zona sul a área que obteve o melhor índice, apresentando 0,68 indivíduos arbóreos para cada 100 m 2 , sendo também, a que mais se aproximou do índice recomendado que segundo Lima Neto (2008), é de 1 indivíduo para cada 100m 2 . A zona centro apresentou 0,61 indivíduos para cada 100m 2 , ficando muito abaixo do preconizado.

Na zona norte foi onde aferiu-se o menor índice de densidade arbórea, a saber: 0,60 árvores para cada 100m 2 , confirmando assim a lógica do planejamento urbano na cidade de Aracaju, onde as zonas que contemplam os bairros mais elitizados são o alvo do planejamento efetivo, o que lhes proporciona uma melhor qualidade ambiental e, por conseguinte melhor qualidade de vida, tudo isso em detrimento das classes populares com menor poder aquisitivo que ficam a margem dos benefícios fornecidos pela arborização no espaço urbano.

Figura 04: Gráfico dos Índices de Sombreamento Arbóreo distribuídos por Zonas na cidade de Aracaju.

Fonte: Lima Neto, 2008.

0 0,5 1

Zona Norte Zona Centro Zona Sul

0,60 0,61 0,68

  de   árvores   para   100m

2

0 10 20 30 40 50 60 70

Zona Norte Zona Centro Zona Sul 39%

62% 68%

Percentagem   de   área   sombreada(%)

(20)

No que diz respeito aos índices de sombreamento arbóreo e sua distribuição pelas zonas da cidade de Aracaju, pode-se destacar do gráfico acima, que o mesmo segue o padrão de distribuição aferido quanto ao índice de densidade arbórea, ficando a zona sul com 68% de sombreamento arbóreo em relação à sua área total, o que mostra um resultado bastante considerável, já que segundo Lima Neto (2008), o ideal é de 30% para bairros comerciais e de 50% para bairros residenciais.

Acompanhando a lógica supracitada, a zona centro apresentou um índice de 62% o que também é bastante significativo, já que esta apresenta um perfil predominantemente comercial, ficando a zona norte aquém dos resultados obtidos nas outras duas zonas, apresentando um índice de 39%, o que é bastante preocupante tendo em vista que seu predomínio ser residencial, e o indicado seria um mínimo de 50%. Mais uma vez nota-se a falta de planejamento urbano nas zonas menos favorecidas economicamente, ou melhor, pode até existir o planejamento visando assegurar o status quo, em favor de um maior enobrecimento dos bairros habitados por uma classe de maior poder aquisitivo, onde a especulação imobiliária é gritante (Tabela 01).

Tabela 01: Análise da classe de renda média por bairro versus índices de arborização.

Fonte: EMSURB/PMA; Lima Neto, 2008.

Ao debruçarmo-nos no exercício analítico sobre os índices espaciais de arborização

urbana, que por sua vez são indicadores de qualidade ambiental e fazermos uma correlação dos

mesmos com a renda média dos responsáveis por domicílio em cada zona de Aracaju, poderemos

(21)

confirmar a falta de compromisso do poder público com as classes sociais de menor poder aquisitivo, onde as correlações (Tabela 01) apontam para a zona sul, onde a renda média por responsável vai de 7 a 11 salários mínimos, a média dos índices de densidade arbórea (IDA’s), correspondeu a 0,68 indivíduos para cada 100m 2 , e a média dos índices de sombreamento arbóreo (ISA’s) foi de 68% de cobertura em relação a área total, o que denota uma melhor qualidade ambiental com mais conforto térmico dentre vários outros benefícios que a arborização urbana pode proporcionar para esses aracajuanos mais abastados financeiramente.

Na correlação correspondente à zona centro evidenciamos uma renda média de 4 a 6 salários mínimos por responsável e médias do (IDA) de 0,61 indivíduos arbóreos para cada 100m 2 e (ISA) de 62% de cobertura arbórea em relação a área total, e na zona norte, onde a renda média por responsável é a menor entre as zonas, de 3 a 5 salários mínimos, encontramos os menores índices tanto de (IDA), como de (ISA), que são respectivamente 0,60 indivíduos arbóreos para cada 100m 2 , e 39% de cobertura arbórea em relação a área total da zona, o que confirma mais uma vez o planejamento desigual e combinado das zonas e dos bairros aracajuanos, onde as áreas habitadas por pessoas de maior poder aquisitivo desfrutam de um bom planejamento de áreas verdes e de lazer, isso em detrimento das classes de menor renda, que vivem a margem da qualidade ambiental propalada em Aracaju, fazendo referência a Lefebvre, os que não tem direito a cidade.

Assim, salienta-se a desigualdade socioespacial que se configura na relação entre a distribuição de áreas verdes e a renda média por bairro no espaço urbano aracajuano, onde os citadinos com menor poder aquisitivo, ou seja, a população que possui a menor renda média mensal tem acesso a uma arborização escassa, ou até inexistente. Em contrapartida, a parcela populacional que detém a maior renda média mensal é também possuidora dos maiores índices de arborização. Podemos então denotar o maior acesso que a classe social com maior poder financeiro tem em relação aos serviços ambientais exercidos pelas áreas verdes, nomeadamente na cidade, isso em detrimento das pessoas que não possuem o poder supracitado, e são afastados, ou até excluídos do aceso a essas áreas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cidade de Aracaju possui uma desigual distribuição de sua vegetação arbórea, estando

os índices de arborização urbana diretamente correlacionáveis com a renda média do responsável

por bairros e zonas aracajuanas. Os resultados dos IDA’s encontrados em Aracaju foram de 0,60

indivíduos para cada 100m 2 na Zona Norte, 0,61 na Zona Centro e 0,68 na Zona sul da cidade de

Aracaju, concomitantemente os ISA’s mostraram-se similares aos IDA’s, sendo 39% na Zona

Norte, 62% na Zona Centro e 68% na Zona Sul. Na referida análise, a renda média por Zona

mostrou-se diretamente proporcional aos índices de áreas verdes (IDA e ISA), sendo para a Zona

Norte de 3 a 5 SM, Zona Centro de 4 a 6 SM e Zona Sul de 7 a 11 SM, podendo-se assim

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confirmar que esses índices são reveladores das desigualdades socioespacias pertinentes ao acesso às áreas verdes na cidade de Aracaju.

Nesse sentido, podemos ressaltar que o desenvolvimento urbano em cidades tropicais se consolida através da devastação/apropriação da natureza, nomeadamente da arborização urbana, deixando-se de lado a importância da mesma para a amenização das condições climáticas desse ambientes, quiçá se apropriando dessa ideia. Na cidade de Aracaju a lógica não é díspar, a mesma se materializa através da mercantilização da natureza na cidade, onde é criada uma escassez do “natural”, mais especificamente da arborização em algumas áreas, concomitante a sua fetichização em outras, o que numa lógica dialética dar-se pela presença de áreas despossuídas e/ou escassas de espaços verdes e outras com este em demasia, ocasionando uma maior valorização destas últimas em detrimento das primeiras, o que será acompanhado por uma vasta gama de propagandas publicitárias de exaltação do verde, do “natural”, tudo isso em nome de uma acresção de valor nestes espaços.

Uma nova lógica mercadológica instaura-se no espaço urbano de Aracaju, nela, o setor imobiliário em parceria com o Estado cria os chamados “espaços luminosos”, através do planejamento urbano, zonas consideradas interessantes do ponto de vista do capital são alvo de grandes obras, como: implantação de áreas verdes, espaços de recreação, shoppings, parques urbanos dentre outros que venham agregar valor ao solo urbano, e por conseguinte acirrar a especulação imobiliária desses locais.

Ademais, pode-se ponderar que a construção do espaço urbano na cidade de Aracaju dar- se-á aos moldes do sistema capitalista de produção, ao padrão desigual e combinado, estando os índices de áreas verdes diretamente relacionados com a renda média dos habitantes por bairros e zonas aracajuanas, denotando-se assim a distribuição das áreas verdes como indicadores das desigualdades socioespaciais na cidade de Aracaju, sendo a articulação entre o setor imobiliário e o Estado o elo configurador do novo padrão de apropriação da natureza no espaço urbano da capital sergipana. Afinal, como diz o merchandising de um empreendimento de uma das incorporadoras com “renome” no setor imobiliário aracajuano “bem-estar é ter a natureza perto de tudo”.

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Referências

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