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Impacto da pandemia de Covid- 19 na saúde de idosos: uma revisão narrativa

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Impacto da pandemia de Covid-

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19 na saúde de idosos: uma

revisão narrativa

Genilson Bento dos Santos UEPB

Camila Victória Pereira da Silva UEPB

Clésia Oliveira Pachú UEPB

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Palavras-chave: COVID-19, Idosos, Envelhecimento Humano.

RESUMO

Em 11 de março de 2020 foi declarada a Pandemia COVID-19. Altas taxas de mortalidade por Coronavírus têm sido, em sua maior parte, associadas a pacientes idosos ou a pre-sença de comorbidades mais comuns em pacientes idosos. O estudo analisou o impacto da pandemia de COVID-19 na saúde de idosos, envolvendo aspectos biopsicossociais, por meio de revisão narrativa. A presente pesquisa de natureza qualitativa, foi realizada por meio de revisão narrativa, em novembro de 2020. Optou-se pela revisão narrativa em bases de dados: Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (PubMED) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram encontrados 680 artigos nas buscas às bases de dados, após leitura e análise, com base nos critérios de elegibilidade, um total de vinte e oito estudos foram incluídos e selecionados para dar continuidade na pesquisa. Indivíduos com mais de 65 anos foram comumente descritos como grupo de risco, mais vulneráveis às complicações da doença COVID-19. O perigo que cerceia este público desemboca em questões como o aumento da incidência de medo e ansiedade, além disso, o distanciamento social sem o uso de tecnologias digitais, como as redes sociais, acentua as implicações frente à saúde de idosos. Torna-se importante enfatizar a rela-ção da COVID-19 e distanciamento social, bem como incidência de preconceito etário disseminado, estigmatização senil, nexo causal entre isolamento e solidão e implicações para o comportamento suicida. O impacto da COVID-19 em idosos que passaram por experiências traumáticas anteriormente, parece ter sido relativizado na crise atual.

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INTRODUÇÃO

O primeiro caso do novo coronavírus foi notificado em Wuhan, na China, em 31 de dezembro de 2019 e foi declarada a Pandemia Mundial no dia 11 de março de 2020 (WHO, 2019). No Brasil, o primeiro caso positivo foi anunciado em 26 de fevereiro de 2020, sendo um homem morador de São Paulo, de 61 anos, que esteve na Itália (BRASIL, 2020).

A população idosa em base territorial brasileira tem suporte estabelecido por lei, como disposto no Capítulo IV, art. 15, do estatuto do idoso: é assegurada atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para prevenção, promo-ção, proteção e recuperação da saúde, incluindo atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos (BRASIL, 2003).

Em 2006, foi aprovada a Portaria n° 2528/GM, a qual estabelece a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, tem como finalidade primordial, recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos idosos, direcionando medidas coletivas e in-dividuais de saúde para esse fim, em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2006).

Vale ressaltar que, nos países em desenvolvimento, o enfrentamento à pandemia de COVID-19 torna-se ainda mais desafiador devido à alta taxa de pobreza, conflitos e insta-bilidade política, violência, analfabetismo, laboratórios de diagnóstico deficientes e outras doenças infecciosas que competem pela escassez de recursos de saúde. O Brasil exemplifica tal situação, assim como outros países, o impacto causado pela pandemia se refletiu em diversos contextos da sociedade, como na educação, saúde e desenvolvimento econômico (ANSER et al., 2020).

Altas taxas de mortalidade por Coronavírus e a presença de comorbidades mais co-muns, têm sido, em sua maior parte, associadas a pacientes idosos, ultrapassa um quinto dos acometidos com mais de 80 anos, tanto na China (21,9%) como na Itália (20,2%). A pandemia de COVID-19 constitui um desafio para proteção da saúde de idosos, considerando a sus-ceptibilidade desse grupo populacional a complicações mais graves, cujos desfechos podem resultar em óbito (BARRA et al., 2020; SHERLOCK et al., 2020; D’ADAMO; YOSHIKAWA e OUSLANDER, 2020).

Sabe-se que, à medida que a pessoa envelhece, a perda de capacidades físicas e mentais é evidente para todos, embora esse processo natural do desenvolvimento humano ocorre de maneira diferente entre os indivíduos. Diante disso, as manifestações fisiológicas são particulares de cada pessoa, visto que reflete fatores intrínsecos, como características genéticas, e extrínsecos, por meio dos hábitos de vida e contexto ambiental no qual o idoso está exposto, passa a contabilizar fatores como uma boa alimentação, higiene, exercício

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físico, para além de aspectos sociais, políticos e psicológicos, que concorrem para possibilitar longevidade e envelhecimento saudável (NOGUEIRA; MENEZES, 2020).

Dessa forma, o conhecimento acerca de aspectos inerentes à saúde do idoso asso-ciados à pandemia de COVID-19, desempenha um diferencial para tomada de decisões coerentes por órgãos públicos mediante a proteção e preservação da saúde da população idosa. Neste contexto, a sociedade, regida de conhecimento direcionado aos cuidados frente ao idoso, poderá contribuir seguindo normas padronizadas impostas para combater a disse-minação do SARS-CoV-2 e evitar a contadisse-minação entre indivíduos da população, especial-mente do público idoso. O presente estudo analisou o impacto da pandemia de COVID-19 na saúde de idosos, envolvendo aspectos biopsicossociais, por meio de revisão narrativa.

METODOLOGIA

A presente pesquisa de natureza qualitativa, acerca da pandemia por COVID-19 e saúde de idosos, foi realizada por meio de revisão narrativa, no período de novembro a dezembro de 2020. Optou-se pela revisão da literatura em base de dados nacionais e internacionais, por meio da leitura, análise, interpretação e seleção de artigos de revistas científicas. Na busca em bases de dados, foram escolhidas a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (PubMED), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google scholar.

Fundamentado por referenciais literários, utilizou-se na estratégia de busca nas di-ferentes bases de dados escolhidas, os operadores Booleanos AND e OR e respectivos Descritores em Ciências da Saúde / Medical Subject Headings (DeCS/MeSH). Diante disso, utilizou-se os seguintes descritores: “COVID-19”; “Coronavírus”; “SARS-CoV-2”; “Idoso”; “Pessoa idosa”; “Envelhecimento humano”; “Saúde”; “Saúde mental” e “Socialização” / “COVID-19”; “coronavírus”; “SARS-CoV-2”; “Aged”; “Health”; “Mental health” e “Socialization”.

Num primeiro momento, discute-se o contexto da pandemia de COVID-19 e saúde mental e física do idoso. Posteriormente, segue discussão acerca de COVID-19 no âmbito da vida social e processo de socialização inerente a esse grupo populacional. Como critérios de inclusão, os artigos deveriam abordar temática envolvendo a pandemia por COVID-19 e consequências da doença sobre a saúde de idosos. Ainda, terem sido publicados na litera-tura nos últimos 5 anos e apresentados nos idiomas português, inglês ou espanhol (KOCHE, 2011; LUDKE e ANDRÉ, 2013).

A execução das pesquisas deu-se de forma autônoma pelos autores, frente a dispo-sitivos eletrônicos, seguindo critérios lógicos de busca, atendendo a fonte determinada: literatura científica (PEREIRA et al., 2018). Foram excluídos os estudos incoerentes com a proposta do trabalho, aqueles que não abordavam as temáticas COVID-19, saúde de idosos

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ou envelhecimento humano; resumos de trabalhos e aqueles que não disponibilizaram gra-tuitamente o texto para leitura e análise.

RESULTADOS

O resultado da busca nas bases de dados compreendeu 680 artigos, após leitura e análise de título, resumo e texto completo, definiu-se os estudos que estavam em conformi-dade para dar sequência à pesquisa (Figura 1).

Figura 1. Delineamento da inclusão dos artigos na pesquisa.

Fonte: O autor, 2020.

Observou-se um amplo retorno de estudos, porém, são de subtemas diversos, cujos assuntos tratados não concordam com a proposta de pesquisa. Dessa forma, após a realiza-ção da busca nas bases de dados PubMed, BVS e Google Scholar, um total de vinte e oito estudos foram incluídos com base nos critérios de elegibilidade (Figura 1) e selecionados para dar continuidade à pesquisa.

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DISCUSSÃO

COVID-19 NO CONTEXTO DA SAÚDE FÍSICA E MENTAL

Diante da crise de saúde com repercussões mundiais devido a infecção por COVID-19, houve o acometimento de diversas faixas etárias, todavia, os adultos com mais de 65 anos foram consistentemente descritos como grupo de risco, portanto, mais vulneráveis a de-senvolver doenças graves que requer hospitalização. O perigo que cerceia este público desemboca em questões como o aumento da incidência de medo e ansiedade, além disso, o distanciamento social sem a utilização de ferramentas tecnológicas como redes sociais, mensagens/torpedos instantâneos, videoconferências desencadeou ainda mais o estigma segregacionista (JESTE, 2020).

Ainda de acordo com o autor, a baixa familiarização dos adultos mais velhos com a tecnologia de comunicação, que tornou-se imprescindível em tempos de pandemia por COVID-19, acabou por evidenciar o estudo realizado por pesquisadores italianos que obje-tivou compreender como idosos previamente treinados para o uso de sites de redes sociais vivenciaram esse período de lockdown e distanciamento social. É válido ressaltar que este grupo de indivíduos com idade entre 81 e 85 anos, residentes de Abbiategrasso (Milão), participaram anteriormente de um estudo que pretendia avaliar o impacto do uso dessas redes na solidão na velhice.

Dessa maneira, contemplaram a estratificação como treinados, e versando com ou-tros sujeitos não treinados. Ficou constatado em participantes treinados e que fizeram uso tecnológico, a redução da sensação de esquecimento e afastamento de pessoas de seu convívio. Este fato corroborou a necessidade de treinamentos em mídias de redes sociais com idosos, a fim de melhorar sua inclusão social (ROLANDI et al., 2020).

Mediante o impacto da COVID-19 no isolamento social, bem como na saúde mental geriátrica, uma edição do periódico da International Psychogeriatrics (IPG) pretende pro-mover o bem estar de idosos por todo mundo, para tanto, houve alguns relatos oriundos de alguns países da África (Gana, Nigéria), da Ásia (China, Índia), Europa (alemanha, Portugal, Espanha, Reino Unido), Oriente Médio (Israel, Líbano), América no Norte (Canadá, EUA), América do Sul (Brasil, República Dominicana). Por conseguinte, Jeste (2020), considera importante enfatizar aspectos específicos na psicogeriatria relacionados à COVID-19 e ao distanciamento social, como as incidências do preconceito etário disseminado, o forte nexo causal entre isolamento e solidão e implicações para o comportamento suicida.

Nas Filipinas, as intensas medidas de lockdown objetivaram impedir ou adiar a infecção pelo coronavírus. Contudo, as consequências indesejadas na saúde mental têm recaído sobre os indivíduos mais velhos, pelo fato de constituírem o grupo de risco, assim como

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pela reclusão a qual estão submetidos, de acordo com as exigências do governo. Os sin-tomas persistentes incluem preocupação, debilidade na execução de atividades de rotina, agitação mediante incerteza, ausência de suporte e de eventos sociais foram elencados como aspectos que potencializam o estresse e diminuem as habilidades de enfrentamento, e que corroboram para presença de ansiedade e depressão em idosos devido à pandemia (BUENAVENTURA et al., 2020).

Concomitantemente, na Índia houve uma alta demanda por ajuda psiquiátrica, apesar de contar com diversos profissionais da saúde mental em zonas urbanas, a inacessibilidade de idosos, carentes destes profissionais, torna-os ainda mais vulneráveis, se considerado, à priori, os danos gerados pela solidão e desamparo. Coincidentemente, o país é também um dos lugares no mundo onde há mais assinantes de Internet (560 milhões em 2018) e também de usuários de smartphones (500 milhões no final de 2019). Entretanto, esse bene-fício está vinculado aos idosos que residem em áreas urbanas, e que utilizam redes sociais como WhatsApp e Facebook para se comunicar com a família, amigos e vizinhos, além de terem acesso às notícias locais e globais, atenuando alguns prejuízos desencadeados pelo isolamento social (VAHIA et al., 2020).

Outrossim, a conjuntura social, histórica e econômica da Nigéria parece ofertar condi-ções favoráveis para disseminação da COVID-19. Ainda em consonância com os autores, o Seguro Nacional de Saúde do país cobre cerca de 4% da população nigeriana, a assistên-cia para aposentados e idosos é baixa e precária, para isso é necessário o pagamento dos serviços de saúde, o que torna-se inviável para a maioria dos adultos mais velhos. Diante desse fato, os métodos adotados pelos idosos rurais do país para manutenção da saúde mental são a medicina alternativa e lares espirituais (BAIYEWU et al., 2020).

Uma pesquisa realizada online, durante os estágios iniciais da quarentena, com pes-soas de diferentes grupos de idades, buscou avaliar os modos de enfrentamentos adotados para lidar com a pandemia do COVID-19 na Espanha. Nesse país, pessoas com mais de 60 anos viveram recortes históricos como Guerra Civil Espanhola e ditadura que durou até 1975, por serem experiências traumáticas, podem ter ajudado na relativização da crise atual. Sob esta ótica, ficou comprovado os altos índices de resiliência nesse público, bem como a efetividade da religião como fator protetivo, além disso, o estudo previu impacto psicológico relevante quando consideravam situação de risco iminente (JUSTO-ALONSO et al., 2020).

Destarte, um estudo realizado com mil quinhentas e uma pessoas, com faixa etária dos 18 aos 88 anos, avaliou-se os níveis de ansiedade, tristeza e solidão e a autopercepção do envelhecimento. A partir disso, o objetivo era perceber essa diferenciação - caso houvesse - com base na idade de cada participante, quais sejam pessoas jovens, de meia-idade e idosos confinados devido à pandemia. Os idosos entrevistados relataram menos ansiedade

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e tristeza se comparados aos de meia-idade e jovens; a comorbidade depressiva apresen-tou-se mais em jovens e menos em pessoas mais velhas. O estudo verificou, por meio do relato dos idosos, que houve menos sofrimento psicológico do que em outras faixas etárias (LOSADA-BALTAR et al., 2020).

COVID-19 E O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO

A Pandemia por Coronavírus tem atingido desde preocupações com a saúde física e mental a aspectos sociais, interferindo no processo de socialização de grupos populacio-nais. Em consonância com Jeste (2020), por volta do dia primeiro de setembro de 2020 ha-via cerca de vinte e cinco milhões de pessoas com o diagnóstico confirmado de COVID-19, destes, dezessete milhões se recuperaram e oitocentos e cinquenta mil tiveram suas vidas ceifadas. Ademais, as crises são estimulantes e fomentam novas possibilidades, desse modo, estratégias que versem o envolvimento social e o público de adultos mais velhos, pretendendo atenuar as repercussões negativas na saúde mental, devem ser consideradas.

Pois, embora o distanciamento físico seja elementar, o social é prejudicial, com isso, atenta-se para a socialização remota, ou seja, através de dispositivos tecnológicos, como mecanismo salutar à aproximação em tempos de pandemia. Rolandi et al. (2020), salientam que em muitas comunidades de aposentados houve uma crescente incidência do uso de celular smartphone, o que possibilitou o envio de fotos e vídeos, ligações por vídeo e por plataformas de reuniões online, e envio de e-mails. Para tanto, o contato virtual pode não ser qualitativamente o mesmo que o presencial, todavia, apresenta-se como facilitador em época de pandemia.

Buenaventura et al. (2020), ratificam que o envolvimento físico e relacional com outras pessoas são imprescindíveis para a promoção de um envelhecimento bem-sucedido, o que tem sido impossibilitado em razão da pandemia. Uma pesquisa na China expôs a incidência significativa de 37,1% de casos de idosos que apresentaram depressão e ansiedade nesse período de crise devido a interrupção de atividades diárias. Nas Filipinas essa tendência foi ainda mais acentuada pela situação socioeconômica do país, o que explica a ruptura do

lockdown por alguns idosos que tiveram de ir às ruas para trabalhar e manter seu sustento.

Assim, a redução do processo de socialização, seja pelo afastamento de familiares, amigos e grupos de apoio, reflete nos grupos de idosos em consequência do isolamento. Ademais, torna-se mais prejudicado pelo não uso de recursos tecnológicos.

Em suma, no espectro psicossocial, existem ainda as características idiossincráticas do sujeito que podem maximizar todas reais incidências da doença no mundo, desembocando no agravamento da saúde mental. A solidão é umas das queixas mais mencionadas pelos autores que aqui traremos, seguida pelo adoecimento emocional e psicológico, seja pela

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distância ou perda de parentes, impotência diante da situação, receio da morte, ou mesmo a negligência de familiares para com os idosos (JESTE, 2020).

Holt et al. (2020), apontam que é importante considerar a necessidade de maior atenção àqueles idosos que vivem na comunidade com deficiência cognitiva e apresentam incapa-cidade de compreender as recomendações de distanciamento social, incluindo a capaci-dade de relatar sintomas ou contatos recentes. Dado o aumento do risco de hospitalização e morbidade entre os idosos, como foco importante de estratégia de saúde pública, deve haver a implementação de sistemas de vigilância e gestão de longo prazo para aqueles que se recuperam dos efeitos agudos do COVID-19, isto é válido para enfrentar deficiências persistentes sobre a saúde dos idosos.

De acordo com Brooks et al. (2020), a perda de conexão direta com os prestadores de cuidados de saúde de rotina, devido à incapacidade de realizar interações pessoais, tam-bém intensifica o sofrimento e a ansiedade do público idoso. O estudo de Liu et al. (2020), mostrou que pacientes com COVID-19 acima de 55 anos tiveram mortalidade três vezes maior. Além disso, foi observado hospitalização aumentada, recuperação clínica retarda-da, envolvimento pulmonar aumentado, progressão mais rápida da doença e presença de comorbidades, como diabetes e hipertensão arterial. Em complemento, Gest-Emerson e Jayawardhana (2020), apontam que o auto-isolamento entre os idosos estaria associado a considerável morbimortalidade secundária a complicações cardiovasculares e neurocogni-tivas e problemas de saúde mental.

Portanto, o isolamento social para os idosos pode restringir suas atividades e intera-ções. Isso, por sua vez, parece desencadear uma série de impactos, incluindo situações de solidão, a interrupção das rotinas e atividades diárias, acesso alterado a serviços essenciais, como consultas médicas (VAN et al., 2020). Outros autores, como Choi; Irwin e Cho (2015), corroboram com esse princípio, de que o distanciamento social também pode levar a um au-mento da sensação de isolaau-mento e solidão. Dessa forma, idosos que não estão habituados a eventos semelhantes, cujo convívio diário é cercado de pessoas, carecem de aprendizado sobre práticas de resiliência e bem-estar consigo mesmo, fortalecendo pensamentos que criem expectativas mais positivas frente o cenário que o cerca.

A pesquisa de García-Fernández et al. (2020), buscou avaliar o estado emocional de idosos durante o período crítico de isolamento social na Espanha. Pode-se constatar que a solidão, como parte do isolamento imposto pela quarentena, não foi associada às consequências psicológicas negativas (ex: transtorno e desgaste mental) que geralmente acompanham a desconexão social. Este achado discorda do exposto por Stuller; Jarrett e DeVries (2012), estes autores acreditam que os fatores sociais podem ter uma influência profunda na saúde física e mental. Assim, pessoas com amplo envolvimento em processos

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de socialização, apresentam mortalidade mais baixa por todas as causas e recuperação funcional e cognitiva mais rápida e extensa após uma ampla variedade de insultos patoló-gicos, como doenças cardiovasculares.

Segundo Koening (2020), a religião e a espiritualidade podem desempenhar um papel como fator de risco ou proteção. Uma vez que os encontros presenciais nas igrejas foram reduzidos ou cancelados, assim como a prestação de serviços religiosos, esses idosos podem não se sentir aptos a atuarem de forma plena em auxílio a outras pessoas, gerando angústia e insatisfação pessoal. Por outro lado, a fé, utilizada como força ´positiva, pode auxiliá-los para superação das barreiras encontradas diante deste cenário provocado pela pandemia por SARS-CoV-2.

A sensibilização da população acerca dos fatores que permeiam condições no âmbito da saúde biopsicossocial do público idoso, pode conduzir para um processo educacional positivo no combate à estigmatização que denigre sua identidade e representatividade na sociedade. Destarte, de forma a contrariar a percepção equivocada de que o envelhecimento é sinônimo de doença, portanto, que a longevidade representa um ciclo de perdas progres-sivas da natureza humana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O impacto da COVID-19 em pessoas com mais de 60 anos que passaram por experiên-cias traumáticas, de alguma forma, foi relativizado na crise atual. Neste aspecto, adotando altos índices de resiliência, bem como a efetividade da religião como fator protetivo. Ao avaliar os níveis de estresse, tristeza e solidão e a autopercepção do envelhecimento, os idosos relataram menos sofrimento comparado aos de meia-idade e jovens. Diante disso, notou-se que, a solidão é umas das queixas mais frequentes, seguida pelo adoecimento emocional e psicológico, causado pela distância ou perda de parentes, impotência, receio da morte, ou mesmo a negligência de familiares para com os idosos. Em complemento, a dificuldade de socialização, estaria associado a considerável morbimortalidade secundária a complicações cardiovasculares e neurocognitivas e problemas de saúde mental.

Entretanto, no contexto social, é importante enfatizar a relação da COVID-19 e distan-ciamento social, bem como incidência de preconceito etário disseminado, estigmatização senil, nexo causal entre isolamento e solidão e implicações para o comportamento suicida. Foi visto que, em idosos treinados ao uso tecnológico, reduziu-se a sensação de esqueci-mento e afastaesqueci-mento de pessoas de seu convívio. Nesse ponto, o contato virtual pode não ser qualitativamente o mesmo que o presencial, mas apresenta-se como facilitador para vínculo social em época de pandemia.

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Contudo, enquanto perdurar esta pandemia, as populações vulneráveis, especial-mente os adultos mais velhos, denotam e carecem do reconhecimento por órgãos públicos competentes, que compreendem grupos de alto risco para exacerbação de problemas de saúde física e mental, além do impacto negativo causado pela limitação na comunicação interpessoal, dificultando o processo de socialização. Ademais, a pandemia do novo coro-navírus constitui-se um evento recente, isso pode ser um fator que limitou a possibilidade de encontrar pesquisas efetivas e com resultados mais objetivos.

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