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A AIDS de cabelos brancos : ocorrência de AIDS em idosos no Brasil

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Academic year: 2017

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Stricto Sensu

em Gerontologia

A AIDS DE CABELOS BRANCOS: OCORRÊNCIA DE AIDS EM

IDOSOS NO BRASIL

Brasília - DF

2011

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ANDREA MORAES RIBEIRO

A AIDS DE CABELOS BRANCOS: OCORRÊNCIA DE AIDS EM IDOSOS NO BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Gerontologia.

Orientadora: Profª. Drª. Gislaine Ferreira Melo

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7,5cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

R484a Ribeiro, Andrea Moraes

A AIDS de cabelos brancos: ocorrência de AIDS em idosos no Brasil. / Andrea Moraes Ribeiro – 2011.

55f. : il.; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2011. Orientação: Gislaine Ferreira Melo

1. AIDS (Doença) . 2. Idosos. 3. Sexo. 4. Gerontologia. I. Melo, Gislaine Ferreira, orient. II.Título.

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ESPAÇO RESERVADO PARA A FICHA DE APROVAÇÃO

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AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus, que pela sua infinita bondade, permitiu-me trilhar os caminhos do conhecimento.

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RESUMO

RIBEIRO, Andrea Moraes. A Aids de cabelos brancos: ocorrência de Aids em idosos no Brasil, 2011. 53 fls. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em

Gerontologia da Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2011.

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a AIDS, tem atingido pessoas dos mais variados níveis sócio-econômicos e estilos de vida. No Brasil, inicialmente era concentrada entre homossexuais, hemofílicos e usuários de drogas injetáveis, contudo, nos últimos anos, a soropositividade ao HIV tem assumido outras características epidemiológicas, como a feminização, heterossexualização e aumento da ocorrência no grupo etário mais idoso da população brasileira. Dados atuais do Ministério da Saúde do Brasil revelam que é cada vez maior a ocorrência de AIDS em pessoas acima de 60 anos. Este trabalho teve por objetivo geral descrever a ocorrência de AIDS no país, no período de junho de 2000 a junho de 2010, em especial entre os idosos com idade a partir de 60 anos. Sendo objetivos específicos: expôr o comportamento da epidemia de AIDS nas diferentes regiões do país, apontar o aumento da ocorrência de AIDS em idosos a partir de 60 anos de idade, indicando os fatores que aumentam a vulnerabilidade deste grupo à infecção pelo HIV, descrever a feminização da epidemia de AIDS entre as mulheres idosas e revelar a relação entre escolaridade e ocorrência de AIDS em idosos. Foram utilizados os dados epidemiológicos dos sistemas de informações SINAN e SIM, disponíveis e consolidados nos Boletins Epidemiológicos de 2009 e 2010. Dos 370.994 casos de AIDS notificados, de 2000 a 2010, a região mais acometida é a sudeste, mas, com declínio e tendência à estabilização nos grandes centros urbanos e aumento na região norte do país. Dos casos acumulados no Brasil, 11.543 ocorreram em idosos, ou seja, 3,1% do total. A taxa de incidência nos mais velhos passou de 7,4 em 2000 para 10,8 em 2009. A feminização da AIDS é uma característica presente no Brasil, principalmente entre as mulheres idosas, onde a detecção de casos novos aumentou mais de 90% de 2000 a 2009. A heterossexualização, característica atual da epidemia, associada ao não uso do preservativo, tem aumentado a vulnerabilidade das mulheres idosas às doenças sexualmente transmissíveis. Quanto ao nível de escolaridade, o maior número de casos se concentra entre os idosos com 04 a 07 anos de estudo (31,6%). Portanto, faz-se urgente a adoção de políticas públicas que garantam à pessoa idosa o direito de exercer sua sexualidade com segurança, livre de discriminação de gênero e identidade sexual, já que a sexualidade e o desejo sexual não se acabam com a idade.

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ABSTRACT

Ribeiro, Andrea Moraes. The white-haired AIDS: AIDS occurrence in the elderly in Brazil, 2011. 53 pgs. Dissertation submitted to the Graduate Program in Gerontology Strictu Sensu Catholic University of Brasilia, Brasilia, 2011.

The Acquired Immune Deficiency Syndrome, AIDS has affected people from many different socio-economic levels and lifestyles. In Brazil, it was initially concentrated among homosexuals, hemophiliacs and intravenous drug users, however, in recent years, HIV seropositivity has taken other epidemiological characteristics, such as feminization, heterosexuals and increased occurrence in the oldest age group of the population. Current data from the Ministry of Health of Brazil show that is increasing the incidence of AIDS in people over 60 years. This study aimed to describe the general occurrence of AIDS in the country, from June 2000 to June 2010, especially among the elderly aged above 60 years. As specific objectives: to expose the behavior of the AIDS epidemic in different regions of the country, pointing out the increased occurrence of AIDS in the elderly from 60 years of age, indicating the factors that increase the vulnerability of this group to HIV infection, describe the feminization of the AIDS epidemic among older women and reveal the relationship between schooling and the occurrence of AIDS in the elderly. We used epidemiological data of information systems and SIM SINAN available and consolidated Epidemiological Bulletin 2009 and 2010. Of the 370,994 AIDS cases reported from 2000 to 2010, the most affected region is the southeast, but with a tendency to decline and stabilization in large urban centers and increased in the northern region of the country. Of the accumulated cases in Brazil, 11,543 occurred in the elderly, or 3.1% of the total. The incidence rate in older increased from 7.4 in 2000 to 10.8 in 2009. The feminization of AIDS is a feature present in Brazil, especially among elderly women, where the detection of new cases increased more than 90% from 2000 to 2009. The heterosexuals and current characteristic of the epidemic, not associated with condom use has increased the vulnerability of older women for sexually transmitted diseases. Therefore, it is urgent to adopt policies that ensure the elderly person is entitled to exercise their sexuality safely, free from gender discrimination and sexual identity, as sexuality and sexual desire did not end with age.

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LISTA DE TABELAS

Tabela I – Tabela 1- Casos de AIDS (%) notificados no SINAN em indivíduos com 13 anos

de idade ou mais, segundo região de residência por ano de diagnóstico. Brasil, 2000-2010. Pg. 33.

Tabela II –Taxa de detecção (por 100.000 hab.) de casos de AIDS notificados no SINAN em

indivíduos com 13 anos de idade ou mais, segundo UF e região de residência por ano de diagnóstico. Brasil, 2000-2009. Pg. 35.

Tabela III –Casos de AIDS (número e percentual) notificados no SINAN em indivíduos com

13 anos de idade ou mais , segundo categoria de exposição hierarquizada, por sexo e ano de diagnóstico. Brasil, 1980-2010. Pg. 36.

Tabela IV –Evolução da taxa de incidência (por 100.000 hab) de casos de AIDS notificados

no SINAN, por faixa etária e sexo. Brasil, 2000-2009. Pg. 38.

Gráfico I - Casos de AIDS notificados no SINAN, segundo Sexo, por ano de

diagnóstico em Idosos com idade igual ou superior a 60 anos. Brasil, 2000-2010. Pg. 40.

Gráfico II: Escolaridade (em anos de estudo) dos idoso com 60 anos ou mais, notificados

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LISTA DE ABREVIATURAS

AIDS – Síndrome da imunodeficiência Adquirida

HIV – Vírus da imunodeficiência Humana

UNAIDS – Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SIM – Sistema de Informação de Mortalidade

HART –Highly Active Antiretroviral Therapy –Terapia anti-retroviral de ampla ação

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SUMÁRIO

1 Introdução ... ...9

1.1 Justificativa ... 10

1.2 Objetivos ... ...12

2 Referencial Teórico... 13

2.1 O Envelhecimento e a Velhice ... 13

2.2 Políticas Públicas para o Idoso ... ..15

2.3 Sexo e Sexualidade na Velhice...17

2.4 Sexualidade da Mulher Idosa...19

2.5 Epidemiologia da Aids no Brasil e no Mundo...21

2.6 O que é a AIDS?...23

2.7 Fisiopatologia da AIDS e Imunossenescência...25

2.8 Velhice e a AIDS: Os novos rumos da Epidemia no Brasil e no Mundo...28

2.9 Nível de Escolaridade e AIDS em Idosos...29

3 Materiais e Métodos...31

3.1 População de Estudo...31

3.1 Instrumentos...31

3.2 Procedimento...32

3.3 Análise estatística...32

4 Resultados e Discussões...33

4.1Panorama da AIDS no Brasil...33

4.2A AIDS entre os Idosos Brasileiros...37

4.3Feminização da AIDS...39

4.4Relacionando a Escolaridade com a ocorrência de AIDS em Idosos...42

5 Considerações Finais...44

6 Referências Bibliográficas...46

Anexo I...52

Anexo II...53

Anexo III...54

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1 INTRODUÇÃO

Nas últimas três décadas, verificou-se em diferenciados graus o avanço da

soropositividade ao Vírus da Imunodeficiência Humana e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – HIV/AIDS – no Brasil e no mundo. Inicialmente, a incidência era quase que restrita ao público masculino, graças às práticas homossexuais, transmissão sanguínea e ao uso de drogas injetáveis. Contudo, recentemente, a soropositividade ao HIV tem assumido outras características epidemiológicas, como a feminização, pauperização e aumento da ocorrência no grupo etário mais idoso da população brasileira (BRITO, CASTILHO, SZWARCWALD, 2000; ARAÚJO et al., 2007).

O HIV é pertencente à classe dos retrovírus e sua transmissão pode ocorrer através de quatro vias: sexual, sanguínea, parenteral, além da transmissão ocupacional, onde ocorre o contato e/ou troca de sangue ou de secreção orgânica que contém o vírus ou células parasitadas pelo mesmo. A suspeita da infecção pode ser confirmada com teste sorológico, que detecta o anticorpo produzido pelo organismo para se proteger do vírus. No entanto, as pessoas mais velhas costumam adiar a realização do teste anti-HIV, por se considerarem um grupo com menor risco de contrair a infecção ou imunes a ela (ROTTA et al., 2003; BRASIL,

2006).

Dados do Ministério da Saúde do Brasil (2010) apontam que em mulheres com mais de 60 anos os casos notificados por ano de diagnóstico mais que dobraram, comparando-se o ano 2000 ao ano 2009. Destes, mais de 90% dos casos ocorreram por transmissão sexual, exclusivamente nas relações heterossexuais. Percebe-se que a mulher idosa, ao exercer sua sexualidade, tem se revelado como segmento populacional de grande vulnerabilidade às doenças sexualmente transmissíveis.

Até meados dos anos 80, quando os métodos para seleção de doadores e controle de sangue não eram tão rigorosos, a transfusão sanguínea representava o principal fator de risco para aquisição do vírus HIV entre os idosos, chegando a ser apontada como responsável pela maioria das contaminações ocorridas em pessoas com 60 anos ou mais. Atualmente, no entanto, observa-se a maioria dos casos de Aids nesta população pode ser atribuída ao contato sexual (ARAÚJO et al., 2007; PRILIP, 2004).

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do preservativo, tem contribuindo para a propagação da AIDS entre os idosos (LITIVOC e BRITO, 2004; BERTONCINI, MORAES e KULKAMP , 2007).

Outro fator que muito contribuiu para esta propagação foi a descoberta dos medicamentos que melhoram o desempenho sexual, o que aumentou significativamente o número de relações sexuais entre adultos maiores de 50 anos (BERTONCINI, MORAES e KULKAMP, 2007). Porém, apesar da melhora na vida sexual dos idosos, possibilitada pelos avanços na medicina, não foram adotadas políticas públicas voltadas para a educação e orientação deste público.

Em geral, as pessoas idosas não são inseridas, rotineiramente, nas estratégias de aconselhamento anti-HIV e nem de formas de prevenção da doença. Os materiais educativos e as orientações são, em sua maioria, direcionados especificamente aos mais jovens. Só recentemente, que o Ministério da Saúde tem lançado campanhas voltadas para os maiores de 60 anos.

Sabendo do aumento da longevidade do povo brasileiro, caracterizado por um processo de envelhecimento demográfico irreversível e sem precedentes, (Centro Latino Americano e Caribenho de Estudos Demográficos, 2001) fica clara a necessidade de adoção de estratégias de prevenção da AIDS e promoção da saúde deste público.

Considerando, então, a vulnerabilidade dos idosos ao HIV, evidenciada no aumento da ocorrência de AIDS em pessoas acima de 60 anos de idade em todo território nacional, torna-se de grande relevância a realização de estudos que aborde a questão da soropositividade neste grupo etário. Logo, este estudo descreve a ocorrência da AIDS em idosos, no Brasil, no período de junho de 2000 a junho 2010, segundo dados do Ministério da Saúde do Brasil, e investiga quais os fatores que aumentam a vulnerabilidade deste grupo etário ao HIV/AIDS. Faz-se também uma relação entre este novo perfil da doença à variável de escolaridade entre os idosos. A sexualidade feminina e a vulnerabilidade das mulheres envelhecidas ao HIV/AIDS também é tema de discussão nesta pesquisa.

1.1 Justificativa

Como enfermeira que atua na Atenção Básica à Saúde, especificamente na Estratégia1 Saúde da Família, a autora nunca se deparou com um caso de HIV/AIDS em idosos, contudo,

1 A Estratégia Saúde da Família foi implantada no Brasil em 1994, como mecanismo de reestruturação da

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em sua prática diária é possível perceber que os mais velhos têm, sim, uma vida sexual ativa com menor ou maior intensidade, e, que não raras vezes apresentam queixas compatíveis com doenças sexualmente transmissíveis. Entretanto, este é um assunto delicado e complexo de ser abordado.

Geralmente, os idosos procuram os serviços básicos de saúde em busca de medidas de controle de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial e diabetes mellitus, e, na anamnese não é investigada a sua vida sexual. Portanto, não é inserido nas atividades de educação em saúde ou orientação sexual, seja por não demandarem estes cuidados nas unidades básicas de saúde, seja por falta de iniciativa dos profissionais em oferecê-los.

Outro fator, percebido na prática da autora, que pode aumentar a vulnerabilidade deste segmento populacional às doenças sexualmente transmissíveis é a presença da infidelidade do marido, que mantendo relações extraconjugais, geralmente com mulheres mais jovens, põe em risco à sua saúde e a saúde da esposa, uma vez que não possui o hábito do uso da camisinha. Portanto, considerando as vivências desta pesquisadora com o cuidado voltado para o idoso, bem como o aumento da incidência do HIV nesta população, surgiu o interesse de realização de um estudo que possibilitasse uma aproximação crítica com esta nova realidade no país.

Além disso, ainda são poucos os estudos que tratam da soropositividade em pessoas acima de 60 anos. Apenas nos últimos anos, nota-se um maior interesse da comunidade científica em torno do tema, já que não se pode continuar negando a sexualidade do idoso brasileiro, evidenciada nas diversas relações amorosas, de afinidade, intimidade, ato sexual e no aumento da incidência da AIDS.

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1.2 Objetivos

Objetivo Geral:

 Descrever a ocorrência de AIDS no Brasil, no período de junho de 2000 a junho de 2010, em especial entre os idosos com idade igual ou superior a 60 anos.

Objetivos Específicos:

 Expôr o comportamento da epidemia de AIDS nas diferentes regiões do país, no período de junho de 2000 a junho de 2010 ;

 Apontar o aumento da ocorrência de AIDS em idosos a partir de 60 anos de idade, bem como descrever os fatores que aumentam a sua vulnerabilidade à infecção pelo HIV;

 Descrever a feminização da epidemia de AIDS entre as mulheres idosas.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O Envelhecimento e a Velhice

Não é mais novidade que a população brasileira está envelhecendo. De acordo com os dados preliminares do Censo Demográfico realizado no ano de 2010 estima-se que o número de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos na população brasileira seja de 190.732.694 (cento e noventa milhões, setecentos e trinta e dois mil e seiscentos e noventa quatro). Até o ano de 2020, essa proporção triplicará, o que colocará o Brasil como o sexto país no mundo com maior número de idosos (IBGE, 2011). Fatores como o aumento da expectativa de vida e da longevidade, graças ao avanço médico-científico e tecnológico, tem proporcionado o aumento significativo no número de idosos no mundo.

Essas transformações demográficas e sociais pelo qual o Brasil e o mundo vêm passando causam um considerável impacto sobre os serviços de saúde, que devem estar preparados para atender às necessidades específicas deste público, uma vez que a velhice trás consigo uma gama de doenças crônicas e demandas próprias de cuidado. Contudo, os serviços de saúde no Brasil não estão conseguindo atender estas necessidades, pois segundo Veras e colaboradores (2002) o país possui um sistema de saúde desorganizado e com baixa resolutividade, agravada pela desinformação, dificuldade no acesso e despreparo dos profissionais de saúde em lidar com as demandas próprias do envelhecimento.

Sabe-se que os idosos são os maiores consumidores dos serviços de saúde. Suas taxas de internações hospitalares são as mais onerosas para o estado, uma vez que o tempo de ocupação do leito é muito maior. De acordo com o IBGE, entre os idosos, o custo da internação per capita tende a aumentar à medida que a idade avança, passando de R$ 93,00 por idoso na faixa etária de 60 a 69 anos, para R$ 179,00 entre aqueles de 80 anos ou mais. Os homens idosos apresentaram, em 2006, um custo per capita (R$ 100,00) menor do que as mulheres, R$ 135,00 (IBGE, 2010). A insuficiência de serviços preventivos, domiciliares e ambulatoriais, que faz com que o primeiro atendimento ocorra em fase avançada no hospital, agrava ainda mais a proteção e recuperação da saúde dos mais velhos.

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indivíduos. Para Minayo e Coimbra Jr. (2002, p.14), “o processo biológico, que é real e pode ser reconhecido por sinais externos do corpo, é apropriado e elaborado simbolicamente por todas as sociedades, em rituais que definem, nas fronteiras etárias, um sentido político e organizador do sistema social". Percebe-se, então, que o corpo do idoso recebe uma conotação negativa, simbolizando a deficiência e improdutividade.

No entanto esta não é uma visão dos velhos. Os idosos encaram a velhice como uma etapa comum da vida, também sujeita a novas conquistas. Apesar das condições físicas e psicológicas estarem em declínio progressivo no envelhecimento, e de todos os estigmas depreciativos em relação à velhice e ao seu corpo, os velhos ainda aspiram a realizações de vida e sonham de alguma forma conquistá-las.

Diferentemente da visão negativa e homogeneizadora do outro em torno da velhice, de maneira geral os idosos vivenciam o processo do envelhecimento de forma diferente e relatam a velhice como uma fase de prazer, não sendo percebidos conflitos, frustrações ou dramaticidade na forma de vivenciarem a velhice. (JARDIM, MEDEIROS, BRITO, 2006, p. 7).

O envelhecimento traz vulnerabilidades, perdas sociais importantes, agravamento de doenças crônicas e degenerativas, perdas de entes queridos, mas também aparecimento de novos papéis. Não é homogêneo para todos os seres humanos, pois este processo sofre influência de discriminação e exclusão associadas ao sexo, à etnia, ao racismo, às condições sociais e condições econômicas (CAMARANO, 2002).

Conforme Beauvoir (1990), a velhice é uma totalidade biosociocultural, ou seja, é um fenômeno biológico e cultural, o resultado e o prolongamento de um processo. Portanto, não basta descrever de maneira analítica os diversos aspectos da velhice, pois cada um deles reage sobre todos os outros e é afetado por ele. Segundo Néri e Yassuda (2004) a velhice caracteriza-se pelo declínio das funções biológicas e psicológicas, e, as perdas, eventos típicos do envelhecimento, provocam o aumento da dependência e comprometimento da autonomia em relação a vários aspectos da vida. Contudo, ao contrário do que se pensa, é possível a preservação e ganhos evolutivos em determinados domínios do funcionamento, como o intelectual e o afetivo, sendo este último capaz de atuar de maneira compensatória sobre as limitações cognitivas.

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Envelhecer bem é um anseio de toda a humanidade. Quem não gostaria de chegar á oitava ou nona década de vida com saúde e qualidade de vida? Esta é uma questão complexa que tem ganhado cada vez mais ênfase na sociedade atual. O homem tem tentado a qualquer custo adiar a velhice, como se isto fosse possível. Mas, o envelhecer é inerente à condição humana. E, como um processo dinâmico e multifatorial, envelhecemos desde o momento em que nascemos. Contudo, é consensual a idéia de que a forma como o indivíduo se vê e suas crenças sobre como é visto pelos outros influenciam diretamente nos esforços que desempenhará para se adaptar às condições próprias da velhice.

Para Vasconcelos e colaboradores, (2004), devido às múltiplas exigências adaptativas que as alterações do envelhecimento comportam, os indivíduos enfrentam dificuldades para preservar a identidade pessoal e a integridade de alguns papéis e funções, sobretudo aqueles relativos à sexualidade que a sociedade atentamente vigia e sanciona.

Corroborando, Ferreira (2004) afirma que a sociedade impõe aos idosos a forma como devem agir ou pensar, o que os leva a assumir comportamentos estereotipados dentro do contexto sociocultural. Nesta perspectiva, o idoso é visto pela sociedade em geral como pessoa assexuada, impotente e sem um projeto de vida.

Importante ainda lembrar que a velhice surge como o resultado do processo de envelhecimento, não vem pronta, mas, está em constante construção. Dessa forma, este processo, como já colocado, é dinâmico, multifatorial e progressivo.

2.2 Políticas Públicas para o Idoso

No Brasil, adota-se como critério cronológico a idade a partir de 60 anos para definir a pessoa idosa. Nos países desenvolvidos são idosos os indivíduos com idade a partir de 65 anos. Tanto a Lei 8.842 de 4 de janeiro de 1994, que aprova a Política Nacional do Idoso, quanto o Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003) consideram idosa a pessoa com 60 anos de idade ou mais.

Quanto aos direitos sociais, o Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso integram o arcabouço legal de proteção de direitos deste grupo etário. Direitos, estes, resultantes de um processo histórico de lutas e de reconhecimento de valores fundamentais e éticos dos cidadãos idosos.

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do INPS a partir de 60 anos de idade. “A admissão era feita considerando o desgaste físico e mental dos idosos, a insuficiência de recursos próprios e familiares e a inexistência de família

ou abandono por ela” (ZORNITA, 2008, p.32). A Renda Mensal Vitalícia foi adotada neste

mesmo ano para os deficientes físicos e idosos da área rural e urbana que não tinham meios próprios de se manterem.

Entretanto, o primeiro documento do governo federal com diretrizes para uma política social de proteção a pessoa idosa só foi adotado em 1976, intitulado Política Social para o Idoso: diretrizes básicas. Também direcionado para medidas assistenciais de idosos carentes. De modo que neste período, o segmento idoso da população brasileira era visto como dependente e vulnerável, que só recebe e pouco ou nada contribui (ZORNITA, 2008).

Este cenário começa a mudar na década de 80, com movimentos e organizações sociais reivindicando os direitos à cidadania da pessoa idosa nos vários cantos do país, influenciados pelo debate internacional acerca dos direitos sociais e pelo clima de democracia que culminou com a promulgação da carta constitucional de 1988. A carta magna representou uma grande conquista dos movimentos sociais de proteção aos direitos da pessoa idosa, entretanto, ainda se fazia necessária a adoção de um documento de medidas específicas de proteção a este segmento populacional.

Nesta perspectiva, a Política Nacional do Idoso foi aprovada em 1994 pela lei 8.842 e tem como princípio que “o idoso é um sujeito de direitos e deve ser atendido de maneira diferenciada em cada uma de suas necessidades: físicas, sociais, econômicas e políticas”. Esta política leva em consideração as questões preventivas, como a promoção da saúde do idoso e atendimento multidisciplinar e as perdas funcionais com comprometimento de sua autonomia e capacidade para desempenhar suas atividades diárias.

As principais diretrizes da Política Nacional do Idoso são: promoção do envelhecimento saudável; manutenção da capacidade funcional; assistência às necessidades de saúde do idoso; reabilitação da capacidade funcional comprometida e capacitação de recursos humanos especializados (Brasil, 1994).

Contudo, ainda se fazia necessária a existência de um único instrumento legal que abordasse e integrasse todas as políticas de apoio ao idoso, já que até então estas medidas eram fragmentadas e desarticuladas. Neste sentido, o Estatuto do Idoso é aprovado em 2003, e, representa um marco na história de lutas em defesa dos direitos da pessoa idosa.

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assegurar à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, além do respeito à liberdade e à dignidade.

Cabe destaque, para efeito desse estudo, que em nenhuma parte da Lei que institui o Estatuto do Idoso há menção ao direito de exercer livremente e com segurança a sua própria sexualidade. O que contribui para o mito e reforça a idéia de que os mais velhos são indivíduos assexuados.

2.3 Sexo e Sexualidade na Velhice

A sexualidade na velhice sempre foi um tema pouco estudado e, consequentemente, negligenciado nos meios científicos e culturais, uma vez que a todos parecia óbvia a ausência de pulsação sexual nos velhos. No entanto, avanços na tecnologia de medicamentos têm ajudado a romper com este tabu, já que tem permitido aos mais velhos manterem suas experiências sexuais por um período maior de tempo. As pílulas para ereção e as terapias de reposição hormonal têm lhes oferecido novas oportunidades para desempenho do exercício sexual.

Em estudo que aborda a vida sexual de pessoas mais velhas, Pascual (2002) revela que entre os 50 e os 60 anos, 95% das pessoas são sexualmente ativas, quer entre casais ou solteiros. Já entre as idades de 60 e 70 anos, este percentual reduz-se a 85%, e, aqueles acima de 70 anos, este percentual cai para 70%. Pode-se observar que 70% não é um percentual o qual se possa julgar baixo. Embora, o número de relações diminua com os anos, a qualidade melhora com o aumento da experiência e intimidade, principalmente entre os casais.

Interessante enfatizar que sexo e sexualidade são dois conceitos diferentes, mas que se relacionam e se completam, apesar de que, muitas vezes, são representados na sociedade em geral como sinônimos. A sexualidade inclui o sexo, mas não se restringe a ele, abrange o conjunto de fenômenos da vida sexual, designando condutas e comportamentos relacionados à atividade sexual e sua expressão afetiva e funcional.

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Cabe ressaltar que, segundo Penteado (2002), o indivíduo trás para a relação com o outro e para o exercício de sua sexualidade o conhecimento acumulado durante toda a vida, incluindo sua percepção de feminino, masculino, atração entre duas pessoas, gratificação e reprodução. Para Gott (2006), na atualidade está ocorrendo uma mudança sócio-cultural entre os idosos em atitudes relativas à sua sexualidade e ao envelhecimento que desafia o estereótipo de velhice assexuada, uma vez que o exercício sexual passou a ser visto como comportamento indispensável ao envelhecimento bem sucedido, apesar do assunto ainda constituir tema de baixa prioridade nas políticas públicas e pesquisas em geral.

O idoso atual tem lançado um novo olhar sobre o “ser idoso”, principalmente nas

questões acerca de sua sexualidade. Divórcios, re-casamentos e novas formas de relacionamentos estão cada vez mais frequente entre as pessoas nesta faixa etária. Ainda segundo Gott (2006), há uma tendência crescente de vida íntima, mas de não-coabitação nas relações entre estas pessoa, inclusive, existe uma maior aceitação legal e social de estilos de vida não-heterossexuais.

Interessante lembrar que há uma crescente atuação de adultos maiores de 50 anos na vida social, uma vez que estes estão mais ativos, participando de bailes, grupos de convivência e/ou clubes de terceira idade. Isto está possibilitando a ampliação de sua rede social e novas oportunidades do exercício de sua sexualidade (BERTONCINI, MORAES e KULKAMP, 2007).

Para Walz (2002), de forma preconceituosa, manifestações de sensualidade na velhice podem mostrar-se à sociedade como sinais de demência senil. Devido a isto, algumas pessoas ainda temem serem vistas como dementes que perderam o controle de seus instintos sexuais, logo, é mais cômodo suprimir seus desejos a colocar em julgamento público sua moralidade.

Entre os homens, o principal fator biológico que limita o exercício sexual é a dificuldade de ereção do pênis, o que provoca o medo de desapontar a parceira e põe em crise seu autoconceito de masculinidade. A crise de meia idade caracterizada pela aproximação da aposentadoria, casamento dos filhos, alterações da aparência física como queda de cabelo, aumento de peso, doenças crônicas e alterações psíquicas e espirituais decorrentes da necessidade de re-elaboração das diversas perdas sociais ao longo da vida contribuem, e muito, para as disfunções sexuais nos velhos (MARTINS, 2009).

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casamento. E, o medo de decepcionar a nova parceira pela perda da ereção dificulta a negociação do preservativo, o que coloca em risco a sua saúde e a saúde da esposa nas relações eventuais. Além disso, culturalmente, o idoso tem mais dificuldade em aceitar o preservativo, já que em sua juventude não existia este hábito e as doenças transmitidas pelo sexo, mais temidas, eram de fácil tratamento, como a sífilis e a gonorréia (CARDOZO, 2009). Logo, é inconcebível que se continue negando a sexualidade da pessoa idosa, evidenciada nas relações diversas de afinidade e afeto e no ato sexual propriamente dito, bem como sua vulnerabilidade às doenças sexualmente transmissíveis, dentre elas a infecção pelo HIV. É necessário que seja desconstruído, na sociedade em geral, o mito de que apenas os jovens praticam sexo, pois é preconceito pensar que os mais velhos não possuem desejos e fantasias amorosas, culminando ou não com o ato sexual.

2.4 Sexualidade da Mulher Idosa

É comum a idéia de que “os corpos envelhecidos não têm espaço no mercado erótico”, (ALVES, 2010, p.216), o que representa uma desvantagem que acaba por dificultar o exercício da conquista sexual pelas pessoas mais velhas. As marcas do envelhecimento impregnadas no corpo, como as rugas, cabelos brancos e perdas das curvas femininas, do ponto de vista estético não são valorizadas e comprometem o poder de sedução do corpo. “Na

medida em que envelhecem, as mulheres se vêem e são vistas como pouco atrativas

sexualmente” (ALVES, 2010, p.216).

O conceito de beleza e a própria sexualidade não são os mesmos em toda a sociedade. O sentimento de invisibilidade nem sempre é compartilhado por todas as mulheres mais velhas e em todas as situações. O que é sexualmente atrativo pode variar segundo a cultura, idade, orientação e opção sexual.

(22)

Entre as mulheres heterossexuais com menor ou maior idade, um corpo jovem é sinal de capacidade para a conquista e o desempenho sexual. Portanto, as mulheres envelhecidas, na sociedade atual, se vêem e são vistas como pouco atraentes e até assexuadas, muitas vezes pelo próprio parceiro de longos anos, que procura fora do casamento mulheres mais jovens como realização própria e estímulo a sua sexualidade (ALVES, 2010, p.216).

Biologicamente, é consenso, entre os estudiosos do assunto, que nas mulheres ocorre um declínio das atividades sexuais em torno dos 45 anos de idade, e, associam este fato à deficiência hormonal própria do climatério, fase em que os níveis de estrogênio diminuem gradativamente e sintomas como a dispareunia – coito doloroso – fazem com que evitem, sempre que possível, as relações sexuais. A perda da capacidade de reprodução, depois de instalada a menopausa, dependendo dos aspectos culturais e psicológicos, pode agravar a situação com maior ou menor intensidade.

Segundo Vieira (2009), a mulher menopausada não sente necessidade de usar o preservativo, já que não corre o risco de engravidar. E, esta é uma situação grave, já que após a menopausa as paredes da vagina são finas, frágeis e sem lubrificação, facilitando, assim, a transmissão de doenças pelo sexo. Em estudo realizado com 4.753 ginecologistas em todo o Brasil, Abdo e Oliveira (2002) mostraram que as principais queixas apresentadas pelas mulheres nos consultórios são: falta de desejo sexual, associação da falta de desejo à dispareunia e disfunção orgástica. Sendo as alterações mais comumente encontradas, a secura vaginal e a perda da sensibilidade ao toque.

Este quadro é bem mais presente entre as mulheres acima de 50 anos, as chamadas mulheres menopausadas, devido ao declínio do estrogênio. Entretanto, a menopausa – último ciclo menstrual – não pode ser considerada como o marco cronológico do fim da vida sexual da mulher, nem como a data da aposentadoria sexual. O Ministério da Saúde recomenda um tratamento conjunto dos fatores psicológicos e hormonais, com a presença incentivadora do marido ou parceiro (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Outro agravante é a dificuldade de negociação do preservativo. A mulher idosa é repleta de fragilidades físicas e psicológicas, logo, são mais carentes afetivamente e fisicamente do que os mais jovens, e, por conta disso, sonham com um companheiro para dividir as angústias e solidão. E, como não engravidam, para manterem o parceiro que conseguem não negociam o uso do preservativo. Talvez esta nova realidade tenha contribuído para o aumento do HIV entre as idosas viúvas, solteiras e divorciadas (VIEIRA, 2009).

(23)

Nappi e Nijland (2007) sobre mudanças na função sexual e comportamento de mulheres com a chegada da menopausa – último ciclo menstrual da mulher – mostrou que 34% de 1.805 mulheres referem redução da iniciativa no sexo, enquanto que 53% referiram diminuição no interesse pelo sexo, contudo, a grande maioria (71%) afirmou ser importante a manutenção de uma vida sexualmente ativa. Apesar da redução da iniciativa e interesse pelo ato sexual, essas mulheres ainda têm desejos sexuais, e, consideram importante a existência deste tipo de relação com o outro.

Nesta perspectiva, estudo realizado por Abdo (2004) envolvendo 7.103 pessoas de 18 a 80 anos, sobre a sexualidade da população brasileira, revelou que 20% das mulheres idosas referem diminuição do desejo sexual após os 60 anos, contra 5% dos homens. No entanto, este mesmo estudo mostrou que as mulheres idosas se auto-avaliaram melhor quanto ao desempenho sexual do que os homens idosos. Além disso, segundo Abdo (op. cit), em

comparação às mais jovens, mulheres mais velhas têm menor dificuldade em atingir o orgasmo. E, com o passar dos anos, apesar dos vários estereótipos em torno do corpo envelhecido, a mulher pode adquirir maior confiança em si mesma e no parceiro, podendo usufruir mais prazer da relação sexual. Como não mais corre o risco de engravidar, a mulher pode experimentar seus desejos sexuais com mais liberdade, principalmente quando a relação com o parceiro é permeada de confiança e afeto.

2.5 Epidemiologia da AIDS no Brasil e no Mundo

A identificação da AIDS, em 1981, tornou-se um marco na história da humanidade. A ocorrência representa fenômeno global, apresentando entre outros determinantes, o comportamento humano individual e coletivo. A descoberta dessa nova doença causara profundas mudanças no comportamento das pessoas, seja no tocante a saúde, seja no campo social e sexual. Inicialmente, foi considerada doença de grupos homossexuais masculinos e hemofílicos nos grandes centros urbanos, e, atualmente temos visto um aumento na incidência da infecção em pessoas idosas, além de assumir características heterossexuais, com tendência à feminização, interiorização e pauperização (BRITO; CASTILHO; SZWARCWALD, 2000).

(24)

Segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS –

UNAIDS (2010), atualmente, estima-se que 33,3 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com HIV/AIDS. Desde a descoberta da infecção em 1981, já morreram 25 milhões de pessoas infectadas, porém o número de pessoas acometidas, no mundo, parece ter se estabilizado.

Desde a década de 80, surgiram várias modelos de estudo para explicar o perfil epidemiológico da infecção pelo HIV. O documento intitulado “Confronting AIDS: Public Priorities in a Global Epidemic”, encomendada pelo Banco Mundial em 1997, propõe as seguintes categorias:

 Epidemia Nascente ou de baixo risco: ocorre nos países onde a prevalência da infecção pelo HIV é menor que 5% em todas as subpopulações com comportamento de alto risco, a exemplo de alguns países como Chile, Cuba, Suriname e países europeus como Rússia e Polônia;

 Epidemia Concentrada: onde a prevalência em subpopulações em alto rico é maior que 5%, mas a ocorrência em gestantes atendidas no pré-natal é inferior a este percentual. É o caso do Brasil, Tailândia e Etiópia.

 Epidemia Generalizada: ocorre em países onde a prevalência da infecção é superior a 5% em subpopulações de alto risco e em gestantes inscritas nos serviços de pré-natal. É o que ocorre em alguns países da África subsaariana como Nigéria, Moçambique, Zimbábue, Quênia e Angola e Haiti.

Para fins deste estudo, será utilizado o conceito de epidemia acima, já que foi proposto peo Banco Mundial, em 1997, para chamar a atenção do mundo acerca do comportamento da AIDS em todos os países e continentes, além disso, é o termo utilizado nos estudos atuais acerca do HIV/AIDS.

A terminologia grupo de risco caiu em desuso por não abranger todas as situações de risco para a infecção. Ao contrário, o conceito de vulnerabilidade inclui uma maior gama de comportamentos, situações e condições favoráveis a infecção pelo HIV.

Em novembro de 2009, foi lançado pela UNAIDS e OMS o Relatório “Atualização sobre a Epidemia da AIDS 2009”, que é uma atualização dos dados disponibilizados no

“Relatório sobre a epidemia global da AIDS 2008”, a mais completa avaliação mundial sobre

o HIV, da qual participaram 147 países de um total de 192 Estados Membros da Organização das Nações Unidas (ONU).

(25)

descoberta. Em 2008, havia um aumento de mais de 20% na quantidade de pessoas que vivem com Aids em relação a 2000, o que se explica pelo surgimento de novas infecções e pela melhora da cobertura e ação dos anti-retrovirais (UNAIDS-BRASIL, 2009).

Uma informação marcante do Relatório sobre a epidemia global da Aids de 2009 é o declínio da taxa de incidência da infecção pelo HIV em escala mundial, ou seja, é notória uma queda no número anual de novas infecções, que caiu de 3,2 milhões em 2001 para 2,7 milhões em 2008. Na África Subsaariana, por exemplo, houve uma redução de 25% no número de novas infecções, comparada ao ano de 1995, quando houve um pico epidêmico na região. Entretanto, a região ainda permanece como a mais afetada no mundo, mantendo o perfil de epidemia generalizada com 22,5 milhões de pessoas contaminadas pelo HIV. Concentrando mais de 70% das novas infecções e 72% dos óbitos por AIDS em todo o globo (UNAIDS-BRASIL, 2009).

O Caribe permanece como a segunda região mais afetada no mundo, com 240.000 pessoas contaminadas pelo HIV, em 2009. Outro dado chocante é a situação de países como República Dominicana e Haiti, que juntos têm quase 75% das pessoas vivendo com HIV, sendo a AIDS uma das principais causas de morte entre pessoas na faixa de 25 a 44 anos.

Na América Latina, o número estimado de pessoas vivendo com a infecção pelo HIV é de aproximadamente 2 milhões de pessoas. Sendo 170 mil novas infecções por ano, um terço delas no Brasil. Desde o primeiro caso no país na década de 80 até junho de 2010, foram notificados, no SINAN, 592.914 mil casos de AIDS.

Atualmente, estima-se que cerca de 600 mil pessoas vivam com HIV/AIDS no Brasil. Com características de uma epidemia concentrada, a prevalência da infecção é da ordem de 0,61% entre a população de 15 a 49 anos, sendo 0,42% entre mulheres e 0,80% entre homens. Contudo, é provável que muito mais pessoas estejam infectadas. Durante esse período, foram registradas 217.091 mortes devido à AIDS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010; UNAIDS-BRASIL, 2009).

2.6 O que é a AIDS?

(26)

Para o Ministério da Saúde do Brasil (2004) um caso de AIDS em pessoa com idade a partir de 13 anos é definido como:

Todo indivíduo com 13 anos de idade ou mais que apresentar evidência laboratorial da infecção pelo HIV (dois testes de triagem para detecção de anticorpos anti-HIV ou um confirmatório reagente) no qual seja diagnosticada imunodeficiência (pelo menos uma doença indicativa de aids e/ou contagem de linfócitos T CD4+ abaixo de 350 células/mm3), independentemente da presença de outras causas de imunodeficiência (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p. 15).

No Brasil, são considerados testes de triagem para detecção de anticorpos contra o vírus, dentre outros, o ELISA e o ensaio imunoenzimático por quimiluminescência. São considerados testes confirmatórios: imunofluorescência indireta, Imunoblot, Western Blot e

teste de amplificação de ácidos nucléicos (carga viral). Os mais utilizados no Brasil, tanto na rede pública de serviços de saúde quanto na particular, são o ELISA para triagem e o Western

Blot para confirmação. Contudo, o idoso costuma adiar a realização destes exames, por se

considerar imune à infecção, o que contribui para o diagnóstico tardio neste grupo etário (ROTTA et al., 2003).

Manfredi, Calza e Chiodo (2004) afirmam que o comportamento de risco na população acima de 50 anos e o sucesso das terapias anti-retrovirais associados ao diagnóstico tardio tem aumentado a prevalência de Aids nesta faixa etária.

A imunodeficiência é comprovada pela contagem de linfócitos T CD4+ menor do que 350 células/mm3 e/ou o diagnóstico de pelo menos uma das doenças indicativas de AIDS, listadas abaixo:

1. Câncer cervical invasivo; 2. Candidose de esôfago;

3. Candidose de traquéia, brônquios ou pulmões;

4. Citomegalovirose em local atípico, logo, que não sejam em fígado, baço e linfonodos, como a retinite por citomegalovírus;

5. Criptococose extrapulmonar; 6. Criptosporidiose intestinal crônica;

7. Herpes simples mucocutâneo, por um período superior a 1 mês;

8. Histoplasmose disseminada (localizada em quaisquer órgãos que não exclusivamente em pulmão ou linfonodos cervicais/hilares);

9. Isosporidiose intestinal crônica;

(27)

13. Pneumonia por Pneumocystis carinii;

14. Micobacteriose disseminada em órgãos que não sejam o pulmão, pele ou linfonodos cervicais/hilares (exceto tuberculose ou hanseníase); 15. Reativação de doença de Chagas (meningoencefalite e/ou miocardite); 16. Sepse recorrente por bactérias do gênero Salmonella (não tifóide); 17. Toxoplasmose cerebral. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

O diagnóstico de qualquer uma dessas doenças é forte indício de AIDS, já que corresponde ao grupo das denominadas doenças oportunistas.

A transmissão do HIV pode ocorrer através de quatro vias: sexual, sanguínea, parenteral, e transmissão ocupacional, onde ocorre o contato e/ou troca de sangue ou de secreção orgânica que contém o vírus ou células parasitadas pelo mesmo. O vírus ainda pode ser transmitido da mãe ao feto via placentária ou ao recém-nascido pelo leite materno (LEVY, 1993).

Quanto aos aspectos clínicos, a infecção pelo HIV pode ser classificada em: infecção aguda, fase assintomática ou de latência, fase sintomática inicial ou precoce e AIDS. A evolução da infecção para a Aids depende diretamente da carga viral plasmática e da velocidade de depleção das células T CD4+, verificada pela diminuição progressiva dos níveis destas células no sangue (MILLER et al., 1997).

Logo, as condições de saúde anteriores à infecção também são determinantes no surgimento da AIDS, já que um sistema imunológico pouco eficiente responderá com dificuldade à invasão viral. O que coloca o idoso em situação de maior risco para a rápida evolução da infecção e estabelecimento da síndrome. Pois a imunossenescência própria do envelhecimento aumenta a suscetibilidade do idoso às infecções e à morbi-mortalidades (PRELOG, 2006). O vários mecanismos que colocam a pessoa idosa em situação de risco para o rápido estabelecimento da AIDS são complexos e merecem uma discussão a parte.

2.7 Fisiopatologia da AIDS e Imunossenescência

O sistema imunológico se altera consideravelmente ao longo do envelhecimento. A diminuição na quantidade de alguns marcadores imunológicos associado à alterações qualitativas da resposta imune constituem a imunossenescência (LUZ, 2006).

(28)

pró-inflamatórias, como as citocinas IL-6, IL-1β, TNF-α, prostaglandina E2. Esta última alteração provoca no idoso um estado crônico de inflamação (GOMÉZ, et al., 2005).

As mudanças no sistema imune adquirido incluem a diminuição na produção

de células T e B e diminuição do número das células T virgens com aumento das células T de memória(PAWELEC, et al., 2002).

Para Pawelec e colaboradores (1999), as principais alterações imunológicas no envelhecimento estão relacionadas às células T, e uma explicação para estes eventos seria a involução do timo, característica do processo de envelhecimento.

O timo é um orgão diretamente responsável pela proliferação de células T virgens, e sua involução acarretaria uma diminuição destas células com aumento dos linfócitos T de memória. O que corresponde a uma perda importante da resposta imune adaptativa ou específica, já que a resposta a novos antígenos depende diretamente da proliferação de células T virgens (PAWELEC, et al.,op.cit.).

De forma que a imunocenescência, caracterizada sobretudo pela diminuição da resposta imune adquirida coloca o idoso em situação de risco para infecções por diversos patógenos, dentre eles o HIV.

O vírus causador da AIDS tem um alto tropismo por células com receptores CD4+, como NK, Eosinófilos, Astrócitos, Microglia, Oligodendrócitos, Megacariócitos e Linfócitos T. Na viremia inicial o título do vírus é alto no plasma, contudo, com o estabelecimento da resposta imune específica, a carga viral cai significativamente, e o HIV, frequentemente, se torna indetectável no plasma. É a fase de latência da infecção (GREEMBERG, 2003).

Contudo, o HIV nunca está em estado de latência verdadeira. Segundo Harisson (2002) a produção de vírus é contínua em todos os estágios da doença. Para este autor, há um equilíbrio dinâmico entre a replicação e a eliminação do vírus. Cerca de 10 bilhões de partículas de HIV são produzidas e eliminadas por dia. Tal equilíbrio leva ao estágio de latência clínica.

O estabelecimento da AIDS ou da imunodepressão ocorre quando este equilíbrio é perdido, devido, principalmente, à incapacidade do sistema imunológico em recrutar células de defesa e pela rápida depleção de células T (MILLER et al., 1997; HARISSON, 2002).

(29)

Contudo, a adoção dos medicamentos anti-retrovirais tem aumentado a sobrevida e qualidade de vida das pessoas acometidas, inclusive dos idosos. A Highly Active Antiretroviral

Therapy (HART) é constituída de medicamentos que agem inibindo a replicação viral e a

evolução da infecção.

Segundo dados da UNAIDS (2009), a cobertura de HART a todos os que necessitam da terapia medicamentosa tem aumentado consideravelmente na América Latina. No Brasil, a lei federal 9.313 de 1996 garante a terapia antiretroviral a todo o indivíduo acometido, por meio do Sistema Único de Saúde. Colocando o país, em posição de referência mundial no manejo da AIDS. Atualmente, no Brasil, são disponibilizadas 19 drogas para a HART, e, cerca de 200.000 pessoas fazem uso de pelo menos três dessas medicações (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

É consenso na literatura que a adesão às terapias medicamentosas propostas melhora com o envelhecimento, com declínio a partir dos 75 anos de idade devido à complexidade dos esquesmas (MEHTA et al., 1997). Portanto, o idoso com AIDS também pode se beneficiar

com a terapia antiretroviral e alcançar uma melhor qualidade de vida, apesar da imunodepressão, principalmente se o diagnóstico é feito precocemente.

2.8 A Velhice e a AIDS: Os novos rumos da Epidemia no Brasil e no Mundo

A Help Age Internacional (2010)– Rede Global de apoio ás pessoas idosas que

trabalha em parceria com Organizações em todos os países do mundo com interesses afins: defender a pessoa idosa, reivindicando seus direitos, diminuindo a pobreza e melhorando suas condições de vida – revela que um grande e crescente número de pessoas idosas, em todo o mundo, estão vivendo com o HIV, mas raramente recebem adequadas condições de prevenção, tratamento, cuidado e apoio. Algumas informações da Help Age merecem

destaque:

 Nos serviços de testagem anônima, em Uganda, 4,6% das pessoas que se submeteram ao teste da AIDS, entre 1992 e 2002, tinham mais de 50 anos. Destes, um em cada cinco era HIV positivo (24% mulheres e 18% homens);

 Na África do Sul, as taxas de infecção pelo HIV em pessoas acima de 50 anos, era de 12% para homens e de 15% para mulheres.

(30)

 Em um centro de testagem anônima de Addis Abeba, capital da Etiópia, pesquisa mostrou que de 23% dos testados tinham mais de 50 anos e, destes, 39% eram positivos.

 No Quénia, 8% das pessoas entre 50-54 estão vivendo com o HIV. Incidência superior à taxa de prevalência nacional.

Ainda segundo a Help Age Internacional, um fato marcante é o importante papel do

idoso como cuidador dos filhos e netos que vivem com o HIV e das crianças órfãs em conseqüência da AIDS, o que impacta sua saúde física, emocional e situação econômica. No Camboja, os pais mais velhos eram os principais responsáveis pelos cuidados em 80% dos casos em que uma criança tenha morrido de AIDS. Neste país até dois terços das pessoas que vivem com AIDS são cuidadas por seus pais, que têm entre 60 e 70 anos. Além de surgir como agente importante no cuidado aos familiares com HIV/AIDS, o idoso também se revela como pessoa vulnerável à infecção, pois a transmissão do vírus entre os mais velhos e entre os jovens ocorre da mesma forma.

Nos Estados Unidos o número de idosos diagnosticados com AIDS também vem crescendo. Até maio de 2007 foi registrado um total aproximado de 78.000 pessoas com 50 anos ou mais contaminadas pelo HIV/AIDS. Atualmente, presume-se que cerca de 29% das pessoas infectadas, no país, sejam maiores de 50 anos. Munk e Jenison (2011), em pesquisa realizada nos EUA desde 2004, apontam várias razões para a contaminação:

1) os serviços de saúde não costumam testar os idosos; 2) os idosos podem não se perceber em risco para a AIDS;

3) muitos idosos são solteiros recentes, se divorciaram ou perderam seus companheiros e enquanto estavam casados ignoravam as informações de prevenção ao HIV;

4) há uma lacuna nas campanhas educacionais de prevenção aos idosos; 5) crença de que o HIV só atinja os jovens;

6) não uso de preservativos;

7) troca de agulhas com pessoas contaminadas (em torno de 17% das infecções em idosos); 8) relações sexuais desprotegidas – hetero ou homossexuais.

(31)

2.9 Nível de Escolaridade e Aids em Idosos

A pessoa idosa tem o direito de ser informada, dentro de suas limitações e potencialidades, acerca das várias questões que abrangem o tema da terceira idade, como relações intrafamiliares, doenças crônicas, autocuidado e autonomia, e por que não sobre

sexualidade? Cachioni e Néri (2004) adotam o termo “educação gerontológica” para

designarem a educação de idosos e da formação de profissionais para esse fim. Para estas autoras, este tipo de abordagem abrange a percepção de toda a sociedade sobre e para o envelhecimento e, parte da premissa que todo o indivíduo tem a capacidade de aprender e de assimilar este aprendizado em prol de uma melhor qualidade de vida.

Sabe-se que uma das variáveis que melhor revela o nível de desenvolvimento social e econômico de um país é o nível escolaridade, uma vez que esta relaciona-se intimamente com o poder do conhecimento. Nos últimos anos, estudos têm tentado relacionar o nível de escolaridade com o crescimento econômico dos países (GUISAN, AGUAYO, EXPOSITO, 2001;LLERAS-MUNEY, 2002 ).

Presume-se que os indivíduos com mais anos de estudo tenham um arcabouço maior de informações necessárias à prevenção e promoção da saúde. Neste sentido, Colombrini, Coleta e Lopes (2008), em pesquisa sobre os fatores de risco para a não-adesão de pacientes com Aids ao tratamento antiretroviral, apontaram que a escolaridade é um fator social que se relaciona com a adesão ao tratamento. Os sujeitos não-aderentes apresentavam menor nível de escolaridade que os aderentes e verificou-se haver associação entre a escolaridade igual ou menor que seis anos e a não-adesão.

Também já existem estudos que relacionam a escolaridade com os modos de enfrentamento da soropositividade ao HIV. Seidl e Faria (2006) mensuraram o poder de predição da variável escolaridade com o bem estar subjetivo de pessoas HIV positivas e concluíram que pessoas com menor nível de escolaridade – menos de 07 anos de estudo –

utilizam, predominantemente, o afeto desprazeroso (recusa, angústia e isolamento) como forma de enfrentamento, enquanto que aquelas com nível médio ou superior de escolaridade adotam estes mecanismos com menor frequência.

(32)

da Aids. Destes, a grande maioria (79%) tinham o ensino fundamental de escolaridade – até 8 anos de estudo. Tais resultados denunciam a coexistência de baixa escolaridade e preconceitos sociais.

Apesar de apresentarem conhecimento acerca da Aids, ainda é marcante entre os idosos a crença em inverdades que promovem a manutenção, na sociedade em geral, da discriminação em relação aos soropositivos. Nesta perspectiva, faz-se de grande relevância a adoção de atividades de educação voltada para a pessoa idosa, uma vez que a capacidade de aprendizado não acaba com a velhice.

Dentre as diretrizes internacionais propostas pela UNAIDS (2000), inclusive, a Diretriz IX

postula que “Os Estados devem promover uma distribuição ampla e contínua de educação

criativa, treinamento e programas de mídia, especialmente elaborada para mudar as atitudes de

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo retrospectivo, de caráter descritivo, que por meio dos métodos quantitativo e qualitativo faz uma análise da freqüência absoluta e relativa dos dados e aprofunda a discussão acerca dos vários contextos sociais envolvidos no fenômeno HIV/AIDS. Descritivo porque é realizada uma descrição das características dos grupos populacionais envolvidos e do fenômeno em estudo. Também há o estabelecimento de relações entre variáveis, como previsto no método descritivo, de acordo com Silva e Menezes (2001).

A abordadem quantitativa é empregada levando-se em consideração que esta tem como campo de prática e objetivo trazer à luz dados, indicadores e tendências, classificando-os e tornando-classificando-os inteligíveis através de variáveis (GIL, 1999). E a qualitativa é empregada porque possibilita a objetivação do fenômeno e sua descrição, compreensão e explicação. Além disso, valoriza a relação entre o global e o local, o indívidual e o social ( Goldenberg, 1999). Premissas indispensáveis à compreenção do fenômeno da AIDS entre a população brasileira, em especial entre os idosos, já que leva em consideração o indivíduo e suas relações sociais.

3.1 População de Estudo

A amostra em estudo inclui todos os casos de AIDS notificados no SINAN, no período de junho de 2000 a junho de 2010, em especial os ocorridos entre os idosos com idade a partir de 60 anos.

3.2 Instrumentos:

Foram utilizados os dados agregados e discutidos no Boletim Epidemiológico de 2009 e de 2010, disponíveis na Home page WWW.aids.gov.br. Para busca dos dados, levou-se em

(34)

3.3 Procedimento:

Os Boletins foram consultados no período de janeiro de 2010 a janeiro de 2011. Os dados de interesse para esta pesquisa foram codificados e tabulados para melhor análise descritiva. Das tabelas do Ministério da Saúde foram retirados os dados que revelam a ocorrência de AIDS, no Brasil, no período de junho de 2000 a junho de 2010, dando ênfase aos dados absolutos e relativos correspondentes aos maiores de 60 anos de idade.

3.4 Análise estatística:

Os testes estatísticos utilizados foram a taxa de incidência e cálculos de percentuais e variação. A taxa de incidência avalia o comportamento da epidemia, uma vez que retrata a detecção de novos casos de AIDS. Os cálculos de percentuais e variação revelam a participação de cada região no número absoluto de casos registrados no país e a distribuição destes casos entre os sexos. Também foram considerados os números absolutos de casos notificados acumulados de 2000 a 2010 para se avaliar a frequência e permanência do vírus na população.

(35)

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como os dados de notificação individualizados presentes no SINAN e SIM são de difícil acesso, foram utilizados os dados já agregados nos Boletins Epidemiológicos de 2009 e 2010, publicações anuais do Ministério da Saúde e disponíveis em sua Home page.

Ainda não há disponível no nível central alguns dados considerados importantes para o estudo da ocorrência de AIDS em idosos, como a distribuição de casos por categoria de exposição e realidade sócio-econômica dos idosos acometidos, como dados de renda, moradia, estado civil ou presença do parceiro ou companheiro. A variável de escolaridade foi escolhida para ser abordada, porque encontra-se disponível nos bancos eletrônicos e é considerada de fundamental relevância para se entender a ocorrência de AIDS nos mais velhos.

Para melhor alcance dos objetivos, os resultados da pesquisa foram divididos em duas categorias: Panorama da AIDS no Brasil e A AIDS entre os idosos brasileiros.

6.1 Panorama da AIDS no Brasil

De acordo com dados do Ministério da Saúde (2010), de junho de 2000 a junho de 2010, foram notificados 370.994 casos de AIDS no Brasil, sendo a região sudeste a mais acometida, com mais de 43% dos casos acumulados. A tabela I mostra que o sul do país vem em segundo lugar com cerca de 24% dos casos registrados.

Tabela 1- Casos de AIDS (%) notificados no SINAN em indivíduos com 13 anos de idade ou mais, segundo região de residência por ano de diagnóstico. Brasil, 2000-2010.

Fonte: Ministério da Saúde/DATASUS/ Boletim Epidemiológico 2010. *Casos notificados no SINAN até 30/06/2010.

Chama a atenção a situação do Estado de São Paulo, que segundo o Ministério da Saúde (2010) é responsável por cerca de 28,5% dos casos acumulados em todo o país, neste

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Norte 3% 4% 4% 4% 5% 5% 6% 7% 8% 8% 5%

Nordeste 11% 11% 12% 13% 14% 15% 15% 17% 18% 19% 21%

Sudeste 60% 57% 56% 55% 54% 53% 50% 46% 44% 43% 43%

Sul 21% 22% 22% 22% 21% 20% 22% 24% 23% 23% 24%

Centro-Oeste 5% 5% 6% 7% 7% 6% 6% 7% 6% 6% 7%

Brasil 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Ano de diagnóstico Grandes

(36)

período. Apesar de que também é possível perceber um declínio nestes números com tendência à estabilização da epidemia nos grandes centros urbanos, a partir de 2004.

A região menos acometida é a Norte, representando pouco mais de 5% do total de casos notificados de 2000 a 2010. Destacando-se a situação do Acre, com apenas 454 casos de AIDS registrados neste mesmo período – vide anexo 1 - (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Entretanto, pode-se identificar, pela tabela acima, um aumento progressivo a partir do ano 2000 na participação das regiões menos populosas no percentual de AIDS no Brasil, o que pode estar ocorrendo graças à melhora nos serviços de diagnóstico e na alimentação dos sistemas de informação nestas regiões, ou por uma tendência discreta, mas persistente, de interiorização da epidemia. A exemplo do que ocorre no Norte e Nordeste brasileiros.

A taxa de detecção indica a ocorrência de casos novos de AIDS por ano, segundo a população exposta, logo, revela o comportamento da epidemia nos diferentes estados brasileiros, já que leva em consideração a população residente nas grandes regiões e estados brasileiros.

A tabela II, revela que, atualmente, a região sul é a responsável pela maior detecção de casos novos de AIDS ao ano, superando inclusive, a região sudeste e, mantendo as maiores taxas de detecção de AIDS desde o ano 2000. Mas com tendência a estabilização.

Na região norte, a ocorrência de novos casos também tem aumentado, passando de 6,1 em 2000 para 9,8, para cada 100.000 habitantes, em 2009. Sendo que este aumento foi verificado em todos os estados da região, inclusive naqueles menos populosos e com menor concentração de casos acumulados de AIDS, como Acre e Amapá (vide anexo 1). Nas regiões nordeste e centro-oeste percebe-se pouca variação na taxa de detecção dos casos de AIDS, mantendo-se estáveis de 2000 a 2009.

Apesar dos estados do sudeste ainda concentrarem um maior percentual de casos de AIDS acumulados no país desde o início da epidemia, segundo a tabela II a detecção de novos casos nestas localidades tem diminuido, consideravelmente, nos últimos anos. É o que ocorre, por exemplo, no estado de São Paulo, onde a redução na incidência foi superior a 60%, passando de 30,7 em 2000 para 11,8 casos para cada 100.000 habitantes em 2009. No estado do Rio de Janeiro, esta redução foi de quase 50%.

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Tabela II - Taxa de detecção (por 100.000 hab.) de casos de AIDS notificados no SINAN em indivíduos com 13 anos de idade ou mais, segundo UF e região de residência por ano de diagnóstico. Brasil, 2000-2009.

FONTE: Ministério da Saúde/DATASUS/Boletim Epidemiológico 2010.

Ainda, de acordo com o Ministério da Saúde do Brasil (2009) de 1997 a 2007 a taxa de incidência da AIDS dobrou nos municípios com menos de 50.000 habitantes. Em 1997, a incidência nesses municípios era oito vezes menor do que a registrada naqueles com mais de 500.000 pessoas, e, esta relação caiu para três vezes. A AIDS se faz presente em todos os cantos do Brasil, com pelo menos 01 caso notificado em 87% dos municípios brasileiros (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

No início da epidemia, o segmento populacional constituído dos homens que fazem sexo com homens - homossexuais e bissexuais masculinos - foi o mais atingido, chegando a

71% dos casos notificados no ano de 1986. Era o denominado “mal gay” (MINISTÉRIO DA

UF residência 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Total

Brasil 17,2 16,7 17,3 17,4 16,2 14,5 13,1 12 11,7 10,9 14,7

Norte 6,1 7,4 7,9 8 10,8 9,5 9,3 10,1 10,9 9,8 8,9

Rondônia 8 8,6 11,2 12 11,2 9,9 11,5 13,1 11,3 9 10,5

Acre 3,9 5 7,2 5,8 7,2 7,2 4,1 6,8 4,9 4,1 5,62

Amazonas 10,3 10 10,8 9,7 13,9 14,4 14 12,1 12,9 15,5 12,3

Roraima 14,2 13,9 8,9 19,6 26,1 14,1 15,9 20,9 26,9 20,6 18,1

Pará 3,7 6 6 6,4 9,9 8,1 7,3 8,6 9,6 7,1 7,2

Amapá 6,9 9,4 11,2 7,1 8,5 10,1 11,2 14 13,9 13,2 10,5

Tocantins 4,8 5,4 5,4 5,4 6,1 3,9 5,5 6,4 8,8 9,8 6,1

Nordeste 6,4 6,4 7,4 8,1 8 7,6 7 7,1 7 6,9 7,2

Maranhão 5,3 5,5 5,9 7,8 7,9 5,7 7,3 5,5 5,8 5 6,2

Piauí 5,7 5,2 5,9 6,2 7,1 8 7 9,9 10,3 9 7,4

Ceará 7,4 7,6 7,7 9,4 9,3 7,7 6,8 7,4 6,7 6,6 7,6

Rio G. Do

Norte 5,9 5,7 4,8 6,6 4,3 5,6 4 6,9 6,2 7

5,7

Paraíba 6,4 6 6,2 6,3 6 6,1 5,2 6,4 6,7 6,4 6,2

Pernambuco 8,7 10,1 13,7 12,7 12,3 12,9 11,1 9,9 9,9 9,4 11

Alagoas 5,5 6,2 5,7 7 6,3 7,4 6,8 7,6 9,3 8,4 7

Sergipe 5,7 4,3 5,3 7,7 6,9 7,7 7,2 8,2 10,2 8,4 7,1

Bahia 5,4 4,8 5,8 6,2 6,6 6,1 5,6 5,1 4,6 5,4 5,6

Sudeste 24,1 22,8 22,7 22,5 20,1 17,7 15,2 12,9 12,1 11 18,1

Minas Gerais 9,9 9,7 10,9 12,4 11 9,9 10,8 8,7 8,4 7 9,8

Espírito Santo 13,5 14,7 16 16,2 15,7 13,7 10,8 8,7 8,2 9,5 12,7

Rio de Janeiro 26,9 26,3 24,8 23,4 23,8 19,7 16,8 14 11,8 14,1 20,4

São Paulo 30,7 28,4 28,1 27,6 23,3 21 18 14,8 14,3 11,8 22

Sul 25,4 24,9 26,4 25,7 23,4 20,9 20,7 19,6 20,5 19,4 22,6

Paraná 18,6 17,6 18,2 17,8 16,8 15,4 13,7 12,1 13,1 10,9 22,6

Santa Catarina 29,7 31 30,6 28 26,5 23,2 24 21,9 21,5 22,4 25,8 Rio G. do Sul 29,6 28,6 31,8 31,8 28 24,8 25,6 25,5 27,1 25,9 27,8

Centro-Oeste 13,5 13,3 15,2 16,7 16,3 14,1 12,8 11,9 10,8 9,9 13,4 Mato Grosso

do Sul 12,9 13,1 15,1 14,7 14,3 9,5 11,3 14 14,2 13

11,8

Mato Grosso 10,8 11,5 15,4 17,2 19,3 17,7 12,8 12,8 11,7 9,6 13,8

Goiás 12,5 13,4 13,8 13,6 14,5 12,8 12,3 9 7,6 7,3 11,6

Imagem

Tabela  1-  Casos  de  AIDS  (%)  notificados  no  SINAN  em  indivíduos  com  13  anos  de  idade  ou  mais,  segundo região de residência por ano de diagnóstico
Tabela II - Taxa de detecção (por 100.000 hab.) de casos de AIDS notificados no SINAN em indivíduos com 13  anos de idade ou mais, segundo UF e região de residência por ano de diagnóstico
Tabela  III  -  Casos  de AIDS  (número  e  percentual)  notificados  no  SINAN  em  indivíduos  com  13  anos  de   idade ou mais , segundo categoria de exposição hierarquizada, por sexo e ano de diagnóstico
Tabela IV: Evolução da taxa de incidência (por 100.000 hab) de casos de AIDS notificados no SINAN,  por faixa etária e sexo
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Referências

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