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Apesar da taxa de detecção da AIDS ainda ser maior entre os homens, os dados acima revelam que a soropositividade ao HIV se faz cada vez mais presente entre as mulheres brasileiras. Entre as adolescentes já houve uma inversão nesta relação, com 10 meninas soropositivas, de 13 a 19 anos, para 8 meninos infectados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

A epidemia concentrada, nas década de 80 e 90, entre os homossexuais masculinos e usuários de drogas injetáveis se expandiu aos demais subgrupos da população. Em 1986, a

razão de homens infectados em relação às mulheres era de 15, no ano de 2003 esta razão caiu para 1,5 e, tem se mantido até os dias atuais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

Entre as mulheres acima de 50 anos, de 2000 a 2009, pela tabela acima, percebe-se um aumento de 80% na ocorrência de casos novos, chegando a 94% entre as idosas a partir de 60 anos de idade. Portanto, a feminização da AIDS é um fenômeno presente entre as mulheres brasileiras, em especial, entre as idosas.

De acordo com Pottes e colaboradores (2007), o tema da feminização da AIDS vem sendo discutido em todo o mundo. Apesar do número de casos entre os homens idosos ainda ser maior, há uma notória expansão da epidemia entre as mulheres.

Como em outros grupos etários, a soropositividade ao HIV, de 2000 a 2010, tem sido maior entre os homens a partir de 60 anos de idade, contudo, percebe-se uma tendência a um possível equilíbrio na relação idoso/idosa acometida. O gráfico abaixo retrata bem esta situação:

Gráfico I - Casos de AIDS notificados no SINAN, segundo Sexo, por ano de diagnóstico em Idosos com idade igual ou superior a 60 anos. Brasil, 2000-2010*.

Fonte: Ministério da Saúde/DATASUS/Boletim Epidemiológico 2010

*Dados registrados até junho/2010.

Como já revelado neste trabalho, mais de 90% dos casos de AIDS em mulheres de todas as idades ocorreram por transmissão sexual nas relações heterossexuais, portanto, podemos inferir que a heterossexualização – característica atual da epidemia – associada ao não uso do preservativo tem aumentado a vulnerabilidade das mulheres idosas às doenças sexualmente transmissíveis.

Estudo realizado por Camargo, Torres e Biassus, no sul do Brasil, em 2009, sobre práticas sexuais de pessoas com mais de 50 anos, revelou que as mulheres têm maior

1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 Masculino Feminino Total

escolaridade e apresentaram maior conhecimento acerca do HIV/AIDS em relação aos homens, contudo, ainda praticam sexo sem camisinha. Para estes pesquisadores, isto, provavelmente, ocorre devido a confiança dessas mulheres na relação estável do casamento, já que a maioria é casada.

Estudo realizado por Silva e Vargens (2009) revelou que para as mulheres casadas sugerir a utilização do preservativo pode provocar a desconfiança do parceiro de estar sendo traído ou de estar sendo desacreditado pela esposa em suas atitudes extraconjugais, já que o preservativo não tinha como finalidade evitar uma gravidez.

De modo que, o casamento na atualidade, mascara a situação de risco para as doenças sexualmente transmissíveis entre as mulheres idosas, uma vez que estas não vêem a necessidade do preservativo nas relações sexuais com o marido, e a negociação do uso é permeado por questões de gênero e poder.

A mulher idosa é aquela que se preparou durante toda a vida para o casamento, dedicando-se integralmente ao marido, filhos e netos (GOLDANI, 1999). Como cuidadora nata, a mulher idosa vê na relação com o outro a obrigação de sempre se doar, muitas vezes nada recebendo. Nesta fase da vida, o contrato familiar de cuidado mútuo é bem mais pesado para a idosa, e, nas relações sexuais com o companheiro de longos anos esta realidade não é diferente.

Portanto, não é incomum as mulheres envelhecidas sentirem-se protegidas contra as DSTs pelo casamento ou pela relação de afetividade, apesar de muitas vezes terem o conhecimento acerca da infidelidade do companheiro (SILVA, VARGENS, 2009).

Também não se pode esquecer das idosas em situação de viuvez, já que envelhecer também é uma questão de gênero (CAMARANO, 2003). É certo que no Brasil as mulheres vivem mais que os homens, o que pode desencadear o fenômeno conhecido como feminização da velhice.

Para Salgado (2002), existe uma maior proporção de viúvas na velhice que em qualquer outra faixa etária. Uma explicação estaria na tendência das mulheres em se casarem com homens mais velhos, o que aumentaria a probabilidade de uma viuvez feminina (GOLDANI, 1998; SALGADO, 2002).

Nesta perspectiva, a viuvez traz consigo novas possibilidades de relações amorosas, já que uma característica marcante da família brasileira na atualidade são os recasamentos, novos arranjos e papéis familiares (GOLDANI, 1999).

A idosa, na atualidade, pode se ver frente a novos desafios, como o da sedução e da conquista de um novo parceiro, já que a aptidão sexual e o desejo de afeto não se acaba com a

velhice, e é neste momento que não se deve negligenciar a negociação do uso do preservativo. A mulher, nesta fase da vida, não sente a necessidade deste tipo de cuidado, já que não corre o risco de engravidar (ALVES, 2010). Além disso, é culturamente aceito a posição de subornação e submissão a que a mulher ocupa na relação com o homem. O que a coloca em situação vulnerabilidade às doenças sexualmente transmissíveis, aqui em estudo a AIDS.

Vale ressaltar também que não há casos registrados de transmissão do vírus entre mulheres que fazem sexo com mulheres (lésbicas, transsexuais) nesta categoria de exposição, no entanto, não se pode negar os contextos de vulnerabilidade às DSTs aos quais estas mulheres estão expostas. Além disso, é evidente o número cada vez maior de mulheres que assumem sua identidade sexual em idade mais madura (ALVES, 2010).

Os contextos de vulnerabilidade às DSTs aos quais as mulheres lésbicas, bissexuais e mulheres que fazem sexo com mulheres estão expostos envolvem o não reconhecimento de sua identidade de gênero, levando à discriminação por parte de toda a sociedade, inclusive dos serviços de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

A invisibilidade das mulheres do denominado grupo “Mulheres que fazem sexo com mulheres”, aumenta, e muito, sua exposição às doenças transmitidas pelo sexo, uma vez que os serviços de saúde não as enquadram nas Políticas e ações de promoção à saúde da mulher, já que não são vistas como mulheres nem como homens. Exemplo disto é a ausência de insumos voltados para este público.

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