Aula 12 (T) – A Primeira República (1910-1926): duas conjunturas
1- O ideário republicano
1.1- O contexto da afirmação de um novo projecto político
1.2- Um ideário e um programa: as principais mudanças até à Grande Guerra
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal
2.1- Os custos económicos da guerra
2.2- Economia e sociedade na I República
Capítulo 2- A evidência do atraso em tempos
de globalização
1- O ideário republicano
1.1- O contexto da afirmação de um novo projecto político
A crise de 1890-1891 e os últimos anos da monarquia a) Bancarrota do Estado
b) O Ultimato inglês c) Economia:
inflação
desvalorização cambial, proteccionismo aduaneiro aumento da emigração
estrutura do PIB e da distribuição sectorial do trabalho que tarda em evidenciar industrialização
Focos de modernização empresarial: revalorização da região sul do país
d) Instabilidade politico-partidária – fim dos programas fomentistas e atenção ao problema das finanças públicas, da educação, do alargamento da base eleitoral : a “republicanização da monarquia”.
1- O ideário republicano
1.1- O contexto da afirmação de um novo projecto político
• O Manifesto e programa do Partido Republicano (1890)
a) Federalismo municipalista - assembleia constituída por federação de assembleias
municipais
b) Laicização total do Estado c) Sufrágio Universal
d) Descentralização administrativa das
colónias e revalorização económica do império
africano
Um ideário: uma doutrina
• Portugal uma nação com império (os
novos símbolos nacionais – hino, bandeira e unidade monetária)
• Nacionalismo e democracia.
• Fazer cidadãos, “essa matéria prima de todas as pátrias”, requer instrução
• Laicização e racionalismo da cultura
Um ideário e um programa político- económico
1- O Estado para os republicanos – um regime preponderantemente parlamentar
2- Disciplina financeira do Estado:
a) Contenção das despesas. Prioridade à administração colonial e à instrução básica
b) Aumento das receitas: a importância de uma reforma fiscal assente no imposto sobre o rendimento
3- Separação do Estado e da Igreja
4- Reforma agrária – parcelamento a sul e emparcelamento a norte
5- Aumento da instrução básica
• A Lei da Separação do Estado e da Igreja:
– A) retirou personalidade jurídica a todos os bens da igreja: os registos paroquiais e sua substituição por registo civil
– B) o Estado mantém o beneplácito da nomeação dos bispos
– C) Interdição de ensino religioso nas escolas, mesmo privadas
Um ideário e um programa político-
económico
• Perpetuação do sufrágio restrito –
alfabetizados: o número de recenseados desceu 53% em relação a 1860.
• Eleitorado reconstituído que favorece os centros urbanos
• Adiamento de eleições autárquicas até
1913 – até estarem asseguradas as bases da eleição favorável ao partido
republicano
Um ideário e um programa político-
económico
• Dissidências internas no PRP: origina a sua
divisão entre esquerda – radicais – e direita – os conservadores – que procuram a inclusão dos monárquicos.
• Afonso Costa e Bernardino Machado - Partido Democrático
• António José de Almeida e Brito Camacho - ala liberal que se subdivide:
– António José de Almeida - Partido Republicano Evolucionista
– Brito Camacho – Partido da União Republicana
Um ideário e um programa político-
económico
• A participação na guerra:
– uma esperança: de unificação das dissidências internas
– Uma necessidade: para Portugal participar na cena internacional para defender direitos
sobre os territórios africanos
– Uma estratégia: de reconhecimento internacional do regime
Um ideário e um programa politico-
económico
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal
2.1- Os custos económicos da guerra
• A economia da guerra:
– A) escassez de abastecimento de bens estratégicos – carvão e cereais, mas ocasião para a prosperidade de indústrias emergentes – conservas de peixe
(p.ex.)
– B) Inflação:
– Deficits orçamentais
– Dívida pública coberta por emissão monetária- Banco de Portugal
– Endividamento externo – GB a grande credora – Depreciação do valor do escudo
– C) Instabilidade social – o maior número de greves _ D) O objectivo da estabilização financeira das contas
públicas ficou em xeque.
• Portugal no concerto das nações
• Dívidas e reparações de guerra impostas à Alemanha: o esquema triangular da circulação de capitais no pós
guerra
• Portugal receberia de indemnizações :
– Por estragos – 432 milhões de Libras – Por despesas de guerra – 78 milhões
• Montantes que cobririam largamente a dívida externa e interna.
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal
2.1- Os custos económicos da guerra
• A Alemanha não vai cumprir o pagamento: o esquema internacional de resolução deste problema – as revisões dos pagamentos na Conferência de Génova (1922)
• Portugal ficaria a pagar à Inglaterra 23,925,000 Libras (entrando os juros) em anuidades que se prolongariam até 1988.
• A Moratória Hoover em 1931 no contexto da crise mundial.
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal
2.1- Os custos económicos da guerra
1- A inflação e problemas cambiais
a) O câmbio que começa como sendo fixado em 1911 pelo escudo: 1$
= 4,85 Libras
Em 1924 1$ = 155 Libras
b) Intervenção no mercado cambial em 1924 permitiu travar a desvalorização face à libra através de:
* venda de prata amoedada retirada de circulação durante os anos da inflação
* sobretaxa sobre exportações reembolsáveis contra a venda ao Estado de divisas obtidas pelos exportadores
c) Estabilização a partir de 1924 : regularização dos pagamentos das reparações alemãs e renegociação das formas de pagamento da dívida externa à GB. Libra fixa-se em 1$ = 95 Libras
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal
2.2- Economia e Sociedade na I República
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal
2.2- Economia e Sociedade na I República 2- As finanças públicas:
– A primeira guerra atira o país para um dos piores descontrolos financeiros da sua história
_ O aumento total da despesa pública em cerca de 2/3:
saltou de 14% do PIB para 24% do PIB
– os deficits chegaram a 13% do PIB em 1919
• Deficits que continuaram a ser financiados pelo Banco de Portugal e por empolamento da massa monetária
• A situação gera inflação descontrolada:
– Em 1924 os preços eram 20 vezes mais altos que em 1914 – A inflação penaliza as receitas do Estado e dificulta qualquer
aumento da carga fiscal que ficaria adiada até 1922.
Anos 1914-1919 1919-1928
Número de anos 5 9
saldos positivos 0 0
saldos negativos 5 9
média da cobertura
Receitas/ despesas 0,53 0,64
O equilibrio das contas públicas?
Fonte: N. Valério “Aspectos das finanças públicas portuguesas: 1913-1983”, O Estado Novo. Das Origens ao fim da autarcia, 1926-1959, Colóquio, actas de, S/D. Lisboa
Evolução das receitas e despesas públicas
Fonte: apud, J. Silva Lopes, “Finanças Públicas”, Lains e Silva, História Económica De Portugal, vol. III, ICS, Lisboa, 2005, p. 278
T axa s de cr esc im e nto a p reço s de 19 50 191 3-192 6
PIB 1,4
D espe sa s p úblicas efectiva s 1,2
R eceitas Tota is -2,1
% em relaç ão aoPIB 1 91 3 19 26
D espe sa s p úblicas 1 4,2 13 ,9
R eceitas 1 5,2 9 ,6
• 2.1- Fiscalidade
• Reforma de 1922: Toca-se finalmente nos impostos directos sobre o rendimento para incluir o princípio de todas as fontes de
rendimento: sobre capitais (aplicações de); sobre o rendimento pessoas (incluindo também o rendimento de capitais); agrava-se a taxa da contribuição industrial.
• Impostos indirectos –abolidos quase todos os impostos ao consumo e criado um imposto geral de transacções
• Aumento dos direitos aduaneiros em 1923
• Mas esta reforma tardou em ser implementada em toda a sua execução e em 1927 ainda não estava completa a maquina
burocrática. Só o Estado Novo retiraria os dividendos desta reforma com algumas alterações pontuais em 1933
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal
2.2- Economia e Sociedade na I República
• Um dos postulados da política republicana não se cumpre:
o desequilíbrio orçamental é tão
crítico como fora na monarquia. As causas desse desequilíbrio são obviamente muito distintas.
• Cabe indagar até que ponto o programa republicano ficou por cumprir: que diz a estrutura da despesa pública?
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal
2.2- Economia e Sociedade na I República
dívida militares economia ultramar educação
1909-10 45,5 23,1 8,8 5,2 c.4
1910-11 46,6 22,2 10,1 2,8 c.4,5
1916-17 24,1 56,6 2,7 1,2 2,8
1919-20 16,9 42,6 7 2 5,6
1922-23 15,6 19,2 12,8 1,1 7,2
1926-27 21,9 29,4 9,2 0,9 9,8
Estrutura da despesa pública (algumas rúbricas)
Fonte: N. Valério “Aspectos das finanças públicas portuguesas: 1913-1983”, O Estado Novo. Das Origens ao fim da autarcia, 1926-1959, Colóquio, actas de, S/D. Lisboa
3- O probelama agrário:
• A importância de uma reforma na estrutura da propriedade:
Ezequiel de Campos
• A intenção é eliminar os incultos por expropriação e vendê-los em lotes de 10 a 50 h nos terrenos de regadio e de 10 a 130 h nos de sequeiro
• Colonização do sul por população do norte
• Emparcelamento de propriedades a norte e parcelamento da exploração a sul.
• Necessidade de infra estruturas de rega
• A ideologia do casal de família: redistribuição da terra como pre- condição ao crescimento harmonioso do produto e mais igualitária redistribuição dos recursos humanos no país.
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal
2.2- Economia e Sociedade na I República
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal
2.2- Economia e Sociedade na I República 4- A indústria e modernização tecnológica
Recorde-se que as maiores empresas dos sectores industriais mais modernos se afirmam durante este período (cimentos e moagens)
Um salto em frente na produção energética durante este período (tecnologia da 2ª revolução industrial). O
consumo de energia per capita, contudo, devolve ainda a imagem de atraso.
consumo de KW per capita:
Espanha=100; Itália= 180; Portugal = 29 França = 238; EUA = 560.
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal
2.2- Economia e Sociedade na I República 5- Níveis de vida
• Inquéritos efectuados na I Republica sobre a condição da operariado:
Relatório de 1921 : Calorias/ dia consumidas pelo operariado
Português: 2373
• Italiano: 2591; Russo: 2796; Alemão: 3135; Inglês: 4210.
• Concluía o relatório que a produtividade destas calorias medidas em cavalos vapor em oito horas:
• Português = 0,0068 contra Inglês = 0,0671!
• (As melhoria das condições de vida torna-se assim condição necessária ao crescimento da economia)
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal 2.2- Economia e Sociedade na I República
Ano Índice
Custo de vida
Índice do venciment o coronel
Índice
vencimento alto
funcionário
Índice dos salários de operários
1914 100 100 100 100
1917 162,3 61,6 61,6 225
1920 551,6 31,4 22,6 400
1923 1719,5 63,3 49,4 1650
1926 2286,4 56,5 43,7 2330
Vencimento de coronel em 1926: 1528$68; Director-geral:2001$00;
operário:390$00 (estimativa com base em 30 dias de trabalho)
A.H. Oliveira Marques (org), História da 1ª República Portuguesa, Lisboa, s/d (1978)
2- Conjuntura mundial da Grande Guerra e os impactos em Portugal
2.2- Economia e Sociedade na I República 6- Instabilidade social e política
• Nº de greves (entre 1910-1912, dados de: 94 greves, maioritariamente nas fábricas de tecelagem, corticeira)
• Nº de governos: entre 1910 e 1926 houve 45 governos:
• 5 ministros das finanças em 1918
• 5 em 1919
• 9 em 1920
• 7 em 1921…
7- O desfecho numa ditadura militar : Marechal Mendes Cabeçadas, Gomes da Costa, e finalmente Carmona