• Nenhum resultado encontrado

Repensando a Habitação Social a partir de experiências históricas: estudo de caso de conjunto habitacional em Poços de Caldas MG.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Repensando a Habitação Social a partir de experiências históricas: estudo de caso de conjunto habitacional em Poços de Caldas MG."

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

777

Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo ISBN 978-65-86753-31-8

EIXO TEMÁTICO:

( ) Cidades inteligentes e sustentáveis ( ) Conforto Ambiental e Ambiência Urbana

( ) Engenharia de tráfego, acessibilidade e mobilidade urbana ( X ) Habitação: questões fundiárias, imobiliárias e sociais

( ) Patrimônio histórico, arquitetônico e paisagístico ( ) Projetos e intervenções na cidade contemporânea

( ) Saneamento básico na cidade contemporânea ( ) Tecnologia e Sustentabilidade na Construção Civil

Repensando a Habitação Social a partir de experiências históricas:

estudo de caso de conjunto habitacional em Poços de Caldas – MG.

Rethinking Social Housing based on historical experiences: a case study of a housing complex in Poços de Caldas

MG.

Repensar la Vivienda Social a partir de experiencias históricas: un estudio de caso de un conjunto habitacional en Poços de Caldas

MG.

Cynthia Pereira Costa de Oliveira

Mestranda, PUC Campinas, Brasil.

cynthia.pco@puccampinas.edu.br

Ivone Salgado

Professora Doutora, PUC Campinas, Brasil.

salgadoivone@puc-campinas.edu.br

(2)

778 RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma alternativa para a ocupação de áreas de caráter ocioso e transitório para a realocação de população em conjuntos de habitação social, na cidade de Poços de Caldas – MG, considerando que estas áreas, a longo prazo, podem vir a alimentar a especulação imobiliária, gerando consequente gentrificação. Partindo de abordagens históricas no panorama mundial e, sobretudo, da questão da Habitação Social no Brasil, desde as primeiras produções de cunho privado até o surgimento e desenvolvimento das políticas públicas, o trabalho visa discutir um modelo sustentável de ocupação que compreenda o uso misto da quadra, além de empregar os princípios da sustentabilidade, procurando atender requisitos básicos primordiais ambientais, sociais e econômicos. Objetivando a inclusão social, a reflexão sobre alternativas de políticas de habitação social no Brasil pretende desconstruir o ideário de que a arquitetura sustentável é elitista. A intenção é promover moradia de qualidade às populações de baixa renda, inserindo-as em contexto urbano adequado.

PALAVRAS-CHAVE: Modelo de ocupação; Poços de Caldas; Habitação Social.

ABSTRACT

The present article aims to present an alternative for the occupation pattern of areas of idle and transitory character in means to relocate the population living in social housing complexes, in the city of Poços de Caldas – MG, considering that these areas, in the long term, may come to fuel real estate speculation, generating consequent gentrification.

Starting from historical approaches in the world panorama and, above all, from the issue of Social Housing in Brazil, analyzing the first private production to the emergence and development of public policies, the work aims to discuss a sustainable occupation model that includes the mixed use of the court, in addition to employing the principles of sustainability, seeking to meet basic environmental, social and economic basic requirements. Having social inclusion at sight, the reflection on alternatives for social housing policies in Brazil intends to deconstruct the idea that sustainable architecture is elitist. The intention is to promote quality housing to low-income populations, placing them in an appropriate urban context.

KEY-WORDS: Occupation model; Poços de Caldas; Social Housing.

RESUMEN

El presente trabajo tiene como objetivo presentar una alternativa para la ocupación de áreas de carácter ocioso y transitorio para la reubicación de población en conjuntos habitacionales de protección social, en la ciudad de Poços de Caldas -MG, considerando que estas áreas, en el largo plazo, pueden llegar para alimentar la especulación inmo- biliaria, generando la consiguiente gentrificación. A partir de enfoques históricos en el panorama mundial y, sobre todo, desde el tema de la Vivienda Social en Brasil, desde la primera producción privada hasta el surgimiento y desa- rrollo de políticas públicas, el trabajo tiene como objetivo discutir un modelo de ocupación sostenible que incluye el uso mixto. de la corte, además de emplear los principios de sostenibilidad, buscando cumplir con los requisitos am- bientales, sociales y económicos básicos fundamentales. Con el objetivo de la inclusión social, la reflexión sobre alter- nativas para las políticas de vivienda social en Brasil pretende deconstruir la idea de que la arquitectura sostenible es elitista. La intención es promover viviendas de calidad a poblaciones de bajos ingresos, ubicándolas en un contexto urbano adecuado.

PALABRAS-CLAVE: Modelo de ocupación; Poços de Caldas; Vivienda Social.

(3)

779 1 INTRODUÇÃO

No Brasil, os conjuntos habitacionais sociais construídos pelo Banco Nacional de Habitação, BNH, e pelo Programa Minha Casa Minha Vida, MCMV, geralmente foram implantados em áreas afastadas das centralidades, com moradias de baixa qualidade projetual, distantes das áreas urbanas com boa infraestrutura – como água encanada, tratamento de esgoto e correta destinação de dejetos, equipamentos de educação, lazer, cultura, comércio e serviços de qualidade, o que leva à marginalização das classes populares, criando patologias de mobilidade urbana, deixando a população à mercê do transporte público que, grande parte das vezes, é escasso. Ainda, com o advento da estandardização, a sua adoção permitiu o barateamento do projeto e uma desqualificação do mesmo.

Uma retrospectiva histórica sobre diversas experiências bem-sucedidas de conjuntos de Habitação Social, com destaque para algumas experiências no Brasil, podemos subsidiar a formulação de novos projetos de conjuntos habitacionais, novos modelos de políticas para Habitação de Interesse Social, assim como fundamentar propostas de intervenção nos conjuntos já construídos para uma requalificação.

No século XIX, as cidades industriais na Europa apresentavam superpopulação devido ao êxodo rural. Esta população que buscava trabalho nas fábricas revelava pobreza extrema, consequência das relações abusivas de poder nos ambientes fabris. As doenças se alastravam pelos centros urbanos fabris devido às condições sanitárias urbanas: detritos, resíduos tóxicos e esgoto a céu aberto ocasionavam a morte de grande parcela da população dos grandes centros que, à Era Vitoriana britânica, chegou a ter uma expectativa de vida que mal passava dos 24 anos de idade. Tal cenário causou o efervescer de ideias sobre a forma de viver, trabalhar e morar da classe desfavorecida, a dos trabalhadores, resultando em estudos filosóficos, sociológicos e urbanísticos que são de suma importância para o entendimento da complexidade da cidade industrial até os dias de hoje.

De acordo com Leda Velloso Buonfiglio, o habitar como necessidade humana para manutenção e perpetuação da espécie foi apontado, em um primeiro momento, por Karl Marx – filósofo, sociólogo, economista, historiador e teórico político – em Grundrisse e, posteriormente, em O Capital, 1867. Em ambas as obras, Marx trata das necessidades em dois diferentes âmbitos: as necessidades naturais, ou “as fomes do corpo”, e as necessidades socialmente determinadas, o “apetite do espírito” (Marx, 1971, v.1, p. 41). A habitação é entendida como uma necessidade natural e material que se estende ao âmbito sociocultural historicamente determinado. (BUONFIGLIO, v. 17, 2018, p. 2).

[…] As casas, entre outras necessidades humanas, não são e não podem ser satisfeitas enquanto necessidade no capitalismo, por isso se manifestam como carência. Essa necessidade está presente nas cidades contemporâneas do século XXI, reduzindo a - condição humana a uma situação limite. (BUONFLIGLIO, v. 17, 2018, p. 3).

Em uníssono ao pensamento Marxista, Friedrich Engels – filósofo, historiador, cientista social e jornalista – apresenta o primeiro estudo sobre o assunto, denunciando as péssimas condições habitacionais da classe trabalhadora: Sobre a questão da moradia, conjunto de três artigos que visavam analisar o contexto sociocultural em que vivia a classe trabalhadora, sua pobreza extrema com jornadas abusivas de trabalho, aonde se encontravam desprovidos de

(4)

780

acesso a água limpa e moradia de qualidade. O livro registrava, ainda, as soluções apresentadas pela burguesia – pontuais – e que ignoravam elementos históricos e dialéticos da questão. A burguesia demonstrava interesse apenas pelo fato das soluções apresentadas começarem a ocupar terrenos centrais considerados vitais para a urbanização além do fato que a saúde debilitada dos operários estava afetando a produtividade nas fábricas. A alternativa das vilas operárias apresentada pela burguesia, segundo Engels, apenas reforçava as relações de dependência do proletariado para com o empregador e seu consequente endividamento, roubando-lhe a liberdade. (CASTELO, 2018, v. 20 p. 90 e 91, 2010).

O conjunto de estudos realizados por Marx e Engels, assim como o ideário do filósofo iluminista Jean-Jaques Rousseau, para quem a sociedade industrializada era culpada pela corrupção da alma humana, influenciaram a formulação de políticas de habitacionais sociais em todo o mundo. Dentre as propostas para a solução das péssimas condições habitacionais na cidade industrial, destaca-se a de Ebenezer Howard, publicada em 1898, na obra denominada Cidades-Jardins de Amanhã, quecontribuiu para uma nova concepção urbana.

Como observado na análise de Antonio Carlos Bonfato, o arcabouço teórico da obra, juntamente com a vivência de Howard na Londres fabril, o levaram à formulação de uma teoria utópica para uma cidade ideal, um agrupamento humano equilibrado e saudável, permeado por jardins e pomares que apresentava uma fusão entre as vantagens de se residir no campo, como a beleza natural, campos e parques de fácil acesso, ar e água puros e drenagem adequada com os benefícios da moradia nas cidades, como as oportunidades de trabalho, produção e transporte. Howard propunha uma organização social num sistema cooperativista, aonde haveria oportunidade social, a um preço simbólico e acessível. (BONFATO, 2008).

O desenho para a implantação do modelo das cidades-jardins deveria levar em conta peculiaridades topográficas locais, apresentando núcleos comerciais, atividades culturais e de lazer permeando as principais vias de circulação entre as áreas habitacionais e industriais, locadas a distância segura, e separadas por vegetação uma da outra de maneira a evitar a contaminação da população com a poluição proveniente das fábricas. Esta cidade seria circundada por linhas férreas de ligação para com as outras pretendidas cidades-jardins (que viriam a “nascer” após ser atingido o limite máximo populacional, variando este de acordo com as possibilidades espaciais do local em que se encontrava implantado) e envolvida por um cinturão verde. (BONFATO, 2008).

A primeira aplicação prática da teoria de Howard foi a cidade de Letchworth, no condado de Hertfordshire, Inglaterra, em 1903. A linha férrea que permeia seu tecido conecta a localidade à Londres e outros centros urbanos. Seu zoneamento conta com os mais variados serviços públicos, como mercado, jardins, estufas, hortas comunitárias, área para feiras e largas vias públicas para circulação de pedestres, permeadas por vastas áreas verdes. Letchworth é dividida – através de barreiras vegetais – em 3 principais setores: autoconstrução e artesanatos, mercado e trocas, educação e cultura, sendo as três micro comunidades essenciais para o seu caráter de autossuficiência. A densidade nestes locais varia, sendo maior nos centros e menor às margens. Sua paisagem é produtiva e de claras funções, permeada por camas de junco, pomares, campos agrícolas, estufas, prados e até mesmo locais destinados a armazenamento da água proveniente das chuvas. A proximidade que reserva para com outras localidades urbanas permite o desenvolvimento da cidade e a criação de parcerias e relações de troca, promovendo um modo alternativo de vida, com enfoque sustentável e fortalecimento de laços de comunidade entre seus habitantes. (BBC NEWS, 2020).

(5)

781

A repercussão do modelo de cidades-jardins de Ebenezer Howard não se limitou a países Europeus e Estados Unidos – onde ganhou forma em projetos de expansão e reformas fabris, chegando também ao Brasil. Alguns desses exemplos nos Estados Unidos podem ser citados, como a construção de algumas company towns – uma prática empresarial do início do século XX, como estratégia de gestão e produção para dar suporte às atividades industriais – promovidas por Earle Draper, após a Primeira Guerra Mundial, como a de Chicopee, construída entre 1926 e 1927 (ver figuras 1 e 2), implantada no estado da Georgia pela empresa Johnson &

Johnson, um caso particular que reservava semelhanças para com as diretrizes propostas para as cidades-jardins. (LIMA, 2008, p. 158).

Figura 1 – Implantação de Chicopee, foto aérea, 1927. Figura 2 – Foto na perspectiva do observador.

Fonte: The Times. Fonte: Chicopee Village – Village History.

A vila contava com 250 unidades habitacionais construídas em alvenaria de tijolos, dentre elas 31 diferentes tipologias avarandadas e todas contavam com encanamento, cozinha e banheiro próprios, eletricidade e água quente, além de telas nas janelas para evitar insetos;

pontos de garagens ao longo da implantação, para atender às famílias com carros e para as demais, pontos de ônibus. A implantação contava ainda com uma escola, centro comunitário e uma clínica médica. Além dos equipamentos citados, havia um sistema de esgoto e captação de águas pluviais, iluminação viária – cuja fiação era subterrânea. O traçado foi feito de maneira pitoresca, paisagem focada para o conforto psicológico dos moradores, com pequenos morros, para tornar a circulação mais atrativa aos residentes, cortados por vias pavimentadas e calçadas.

Todas as casas estavam locadas à distância caminhável da fábrica. (GUROWITZ, 2013).

2. OBJETIVOS

O objetivo geral do trabalho é analisar a questão da moradia de qualidade como direito de todo ser humano a partir de abordagens históricas no panorama mundial e, sobretudo, da questão da Habitação Social no Brasil; desde as primeiras produções de cunho privado até o surgimento e desenvolvimento das políticas públicas.

Como objetivos específicos, definimos: analisar aspectos históricos de políticas habitacionais que resultam na produção dos conjuntos habitacionais brasileiros; avaliar modelos que visavam proporcionar qualidade de vida urbana e inclusão às populações marginalizadas;

estudar os principais períodos de produção de Habitação Social no Brasil e alguns de seus melhores produtos; reforçar a importância de políticas públicas bem estruturadas para a qualidade do espaço, em especial, o espaço produzido para a população que usufrui da Habitação Social; e refletir sobre um modo de vida coletivo, saudável e inclusivo.

(6)

782 3. METODOLOGIAS

A metodologia adotada na pesquisa consistiu, inicialmente, na análise bibliográfica, assim como na análise de produção cinematográfica sobre o tema escolhido. Realizamos também pesquisas em documentos de legislação urbana e Plano Diretor. Quanto à análise do estudo de caso, realizamos levantamento de dados primários, in loco, complementado pelo uso do software Google Earth e Street View, portanto, fizemos recurso ao método procedimental observacional. Foram promovidas, ademais, análises sobre políticas públicas de Habitação Social em diferentes períodos no país, e contextualização do surgimento da questão habitacional como problema social no panorama mundial. Os levantamentos documentais se deram a partir de acervos que competem questões e condições regionais de cada caso analisado.

4 RESULTADOS – EXPERIÊNCIAS HISTÓRICAS NA PRODUÇÃO DE HABITAÇÃO SOCIAL 4.1 Primeiras experiências de Habitação Social no Brasil: As Company Towns

A partir do final do século XIX, muitas municipalidades brasileiras foram redefinidas com a implantação da Indústria, causando alterações na paisagem com o crescimento dos núcleos urbanizados e a introdução de novas tipologias construtivas que resultaram na implantação de novos instrumentos de organização do espaço e novas formas de gerência da infraestrutura urbana.

Na primeira metade do século XX, o modelo de subúrbio-jardim inspirado na obra de Ebenezer Howard foi difundido no Brasil e pode ser encontrado em alguns exemplos de núcleos habitacionais fabris. O primeiro conjunto residencial fabril que faz recurso ao modelo de subúrbio-jardim de que se tem conhecimento no país foi implantado na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Trata-se do núcleo residencial do Frigorífico Swift, de 1918, na construção de uma company town, ou seja, um conjunto produzido pelo dono da indústria com o intuito de melhorar a vida de seus operários aumentando a produtividade nas fábricas além do lucro comumente obtido através da locação das unidades de moradia. Implantaram-se muitos outros conjuntos com características que seguiam a mesma ideologia, algumas de maior qualidade, como a projetada por Ângelo Bruhns para a Cia Commercio e Navegação (1919-1921) de estética pitoresca e cujo programa inclui posto médico, armazém, escola, igreja, lojas e 158 unidades habitacionais em 3 diferentes tipologias, além de alojamento para solteiros e casa para o superintendente. A pavimentação seguia as linhas de drenagem do terreno, e contava com áreas de parque espalhadas pelo projeto além de todas as casas serem providas de quintal.

4.2 Os Institutos de Aposentadoria e Pensão – IAPs

O princípio de uma política de Habitação Social no Brasil centralizada data da década 1940, segundo Nabil Bonduki, com o Projeto Nacional Desenvolvimentista implantado após a Revolução de 1930 no governo Vargas, em função das políticas sociais e direitos trabalhistas –

(7)

783

dentre as quais inclui-se o direito à habitação – que tem posição estratégica no desenvolvimento do capitalismo urbano no Brasil. (BONDUKI, 2013, p. 81).

Durante o governo de Getúlio Vargas, com a estatização da previdência foram instaurados programas de proteção ao trabalhador registrado, o salário mínimo, a regulamentação das jornadas de trabalho e a Lei do Inquilinato (1942), que consistia no congelamento dos aluguéis, a principal aliada ao crescimento das iniciativas de Habitação Social, entre outros direitos trabalhistas. (BONDUKI, 2013, p. 89).

Foram criadas, seguindo o modelo cooperativo italiano – por categorias – os IAPs, ou seja, os Institutos de Aposentadoria e Pensão, que vem como iniciativa para aplicação dos fundos previdenciários e preservá-los da depreciação monetária. Os IAPs criaram um parque imobiliário público que, após o golpe de 1964, com a instalação do Banco Nacional de Habitação – BNH – foi abandonado e as unidades vendidas para os moradores. (BONDUKI, 2019).

Sistema organizado que é criado do zero e tem vida longa, pois arrecada muito e paga pouco benefício, então acumula um fundo muito grande. Na época de Vargas esse fundo é muito importante para aumentar a capacidade de investimento do Estado – entra dentro do projeto Desenvolvimentista do Vargas. (BONDUKI, 2019).

Segundo Roberto Eustáquio dos Santos, o parque imobiliário criado pelos IAPs foi uma tentativa de resolver o problema habitacional e erradicar favelas, cortiços e moradias coletivas – medidas sanitaristas – e conferir aos trabalhadores de carteira assinada melhores qualidades de vida. (SANTOS, 2019).

Entretanto, atendia apenas a esta categoria de trabalhadores (valoração do setor formal da economia), sendo que aqueles que não possuíam carteira assinada ou eram trabalhadores rurais nunca foram contemplados com o serviço oferecido. Eles atendiam a todas as categorias dentro das cooperativas – desde o peão da fábrica até engenheiros e administradores. Alguns conjuntos eram de grande qualidade projetual e estes costumavam atender à cúpula dentre os setores. Como se produzia pouco frente às dimensões das categorias, era um privilégio conseguir uma unidade habitacional. (BONDUKI, 2019).

4.3 A política pública de Habitação Social: A experiência do Departamento de Habitação Popular (DHP) no Rio de Janeiro

Devemos o mérito à implantação da política pública de Habitação Social no Brasil a uma mulher, formada em Engenharia e pós-graduada no primeiro curso de Urbanismo do Brasil:

Carmen Velasco Portinho, que mais tarde viria a se tornar diretora do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e neste fundou, juntamente com Max Bill, a primeira escola de ensino superior de Desenho Industrial. Fundou também a primeira revista de engenharia e arquitetura no ano de 1934: a Revista da Diretoria de Engenharia, que mais tarde passou a se chamar Prefeitura do Distrito Federal, ou PDF, na qual eram divulgados projetos de grandes arquitetos modernistas como Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Lúcio Costa, entre outros. (SEGAWA, 2016, Revista Projeto).

Durante o período da Segunda Guerra Mundial, Carmen Portinho participou como estagiária na Inglaterra, no Conselho Britânico, do projeto de reconstrução de cidades inglesas destruídas por bombardeios, onde presenciou e vivenciou as unidades de vizinhança, bairros autossuficientes que tinham a escola como edificação central e equipamentos, como postos de

(8)

784

saúde, mercados e mercearias e lavanderias acessíveis a pé em no máximo 30 minutos, compondo o espaço habitacional. As ruas eram seguras para o trânsito de crianças.

(NASCIMENTO, 2007, v. 9, n. 1).

Ao voltar da Inglaterra, Carmen Portinho vem com toda a bagagem prática de sua atuação na Inglaterra, resultando na criação do Departamento de Habitação Popular, DHP, departamento no qual ela chegou à diretoria, em 1946, no governo de Eurico Gaspar Dutra.

(SEGAWA, 2016, Revista Projeto).

A partir deste momento iniciaram-se os primeiros financiamentos para a produção da Habitações de Interesse Social por entidades públicas. Dos primeiros conjuntos de habitação social implantados no Brasil neste modelo temos o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, comumente conhecido como Pedregulho (ver figuras 3 e 4), em 1947, cuja obra foi concluída em 1951, no Rio de Janeiro e projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy, chefe do setor de Arquitetura do Departamento de Habitação Popular. O conjunto habitacional, que utiliza o concreto armado, revela a filiação de Affonso Eduardo Reidy a Le Corbusier e às experiências de Carmen Portinho. Servido de comércio e serviços gerais, paisagismo de Burle Marx, jardim-de-infância, maternal, berçário, escola primária, quadras esportivas, ginásios, piscinas, lavanderia comunitária mecanizada, centro sanitário e posto de saúde com atendimento odontológico, além de 4 tipologias de apartamentos (variando de 1 a 4 quartos) totalizando 328 unidades habitacionais, tinha o intuito de ser habitação para os trabalhadores da Prefeitura do Distrito Federal, situando-se a apenas 30 minutos de distância dos departamentos, propondo-se também a resolver a questão do transporte trabalho-casa.

Figura 3 – Implantação do Conjunto Pedregulho. Figura 4 – Conjunto Pedregulho em construção.

Fonte: Nabil Bonduki (2012). Fonte: Facebook: Memórias do subúrbio Carioca.

4.4 As experiências do Banco Nacional da Habitação – BNH

O modelo de organização da previdência social por categorias profissionais se extingue após o Golpe Militar em 1964, de acordo com a arquiteta e urbanista Nilce Aravecchia Botas. Os institutos são, então, reorganizados e unificados como Instituto Nacional de Previdência Social, ou INPS (atual INSS – Instituto Nacional de Seguro Social). Segundo Ana Paula Koury, “a partir da instituição da Constituição de 1988 há uma separação entre as esferas econômica e social, abrindo espaço para que a questão social se torne filantrópica ou acessória ao desenvolvimento da sociedade brasileira.” (KOURY, 2019).

Neste contexto, o crescimento do setor industrial no país acarreta em medidas de produção seriada e estandardização projetual, como consequências do ideário Moderno e das

(9)

785

teses formuladas nos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, os CIAMs. A administração política também se reorganiza, pois a produção habitacional passa a ser responsabilidade do BNH, que repassa as unidades habitacionais anteriormente geridas pelos IAPs e pelo poder público para os moradores, deixando de ser vista como serviço público e passando a ser um produto a ser adquirido através do mercado privado e de maneira individual, como patrimônio, o que provoca grandes transformações – físicas, nas edificações e sociais, devido ao decaimento da qualidade dos projetos oferecidos pelo mercado para as camadas mais frágeis da sociedade, sem recursos para obter melhores ofertas. (BOTAS, 2019).

Desta maneira, a qualidade projetual acabou perdendo a relevância nos projetos elaborados no período, quando uma massiva quantidade de edificações financiadas pelo BNH foi produzida, em conjuntos habitacionais distantes de tecido urbano consolidado, sem acesso à equipamentos de lazer, saúde, educação, comércio e serviços.

5 A QUESTÃO CONTEMPORÂNEA DA HABITAÇÃO SOCIAL NO BRASIL 5.1 As experiências do Minha Casa Minha Vida – MCMV

Os mesmos aspectos dos conjuntos habitacionais do BNH podem ser observados nos conjuntos habitacionais implantados no país nas primeiras décadas do século XXI, no contexto do Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), criado em 2009 no governo Luis Inácio Lula da Silva, como o exemplo da Colônia Juliano Moreira na cidade do Rio de Janeiro.

Para Raquel Rolnik, o programa MCMV acabará criando novos guetos de pobreza, sendo um sucesso financeiro para os setores de obras públicas e especuladores imobiliários.

Apesar de criado como política de Habitação Social, seu objetivo maior era apoiar o setor da construção civil para enfrentar a crise financeira global de 2008, fato que invalida seu argumento de programa social. Raquel Rolnik explica:

O êxito econômico e político do programa repercute na eleição de Dilma Rousseff em 2010 e em sua reeleição em 2014, períodos em que são lançados o MCMV-2 (2011) e o MCMV-3 (2014), com novas metas. De acordo com o Ministério do Planejamento, em agosto de 2014 o programa já havia contratado 3,5 milhões de unidades e entregado cerca de 1,7 milhão de casas e/ou apartamentos. De pacote de salvamento de incorporadoras financeirizadas, o MCMV transformou-se na política habitacional do país, baseada no modelo único de promoção da casa própria, acessada via mercado e crédito hipotecário. Abortou-se, assim, a incipiente construção de uma política habitacional diversificada, aderente às especificidades locais e sob controle social, aposta dos movimentos sociais e dos militantes da reforma urbana no início do governo Lula. (ROLNIK, 2015, p. 309).

Neste contexto, a moradia passa a ser um produto dos processos de industrialização e requer estandardização para seu barateamento, o que acaba por decair em qualidade projetual, sendo as unidades vistas sob seu aspecto de rentabilidade em cima do menor custo possível.

Para isso, analisa a ex-relatora especial para o Direito à Moradia Adequada da Organização das Nações Unidas, a ONU, além da queda na qualidade projetual, cai também a qualidade do local em que se insere, pois, os terrenos para implantação dos conjuntos habitacionais devem ser de baixo valor venal, geralmente descolados do tecido urbano consolidado, ou em área de proteção permanente, solo contaminado, difícil acesso, alta isodeclividade, entre outros problemas.

(ROLNIK, 2015, p. 310).

(10)

786

Essas condicionantes levam, de acordo com a análise de Rolnik, ao processo de financeirização da moradia a partir das políticas urbanas, levando ao processo de financeirização também da terra: “...os deslocamentos contribuíram claramente para “ajustar” os valores do solo, retirando as famílias de baixa renda de localizações mais centrais e reassentando-as em regiões homogêneas de renda média domiciliar muito baixa.” (ROLNIK, 2015, p. 315).

5.2 Estudo de caso: Conjuntos de Habitação Social em Poços de Caldas – MG.

Poços de Caldas é uma cidade de médio porte localizada no Sul de Minas Gerais. Ao fim do século XIX até a metade do século XX a cidade era conhecida pela capacidade medicinal de suas águas. Em 1940, ganha prestígio e o turismo praticado na cidade passa a ser da classe abastada devido aos cassinos, mas por um período curto devido à proibição de tais atividades no ano de 1946. Todavia, a cidade mantém seu perfil de cidade turística até os dias de hoje. Em 1960 inicia-se o processo de industrialização na cidade, causando expressivo crescimento populacional, principalmente nas regiões próximas às fábricas instaladas, como na Zona Sul e na Zona Leste; a primeira com problemas devido a áreas altamente alagáveis e a segunda de topografia acidentada, ambas distantes do tecido urbano. Tal expansão territorial ocorreu de maneira segregada e excludente nos âmbitos social e territorial, fato que se manifesta por serviços e infraestrutura urbana deficitários em espaços ocupados por famílias carentes e sem capacidade financeira para competir por lotes melhor localizados no mercado imobiliário existente.

Segundo a análise realizada por Silva e Tourinho, as décadas que se seguiram à industrialização foram então implantados empreendimentos de Interesse Social, como o Conjunto Habitacional Engenheiro Pedro Affonso Junqueira (ver figuras 5 e 6), pioneiro e fruto de uma política nacional de implantação de habitações populares, COHAB, programa viabilizado pelo repasse de recursos do BNH para as empreiteiras que posteriormente comercializavam as unidades habitacionais (SILVA; TOURINHO, 2015, p. 407), Andrade e Silva informam:

[...] foi entregue pelo próprio governador à época: Francelino Pereira, no ano de 1981 - um dos maiores projetos de Habitação Social da cidade, com 1553 moradias entregues, atendendo a 7800 pessoas, representando o nascimento da Zona Sul, que recebeu nos anos seguintes outros conjuntos, como o Parque São Sebastião I e II e o Jardim Esperança I e II que juntos somam 3898 lotes apenas na mesma Zona Sul, área com maior número de unidades habitacionais de cunho social do município, somando 20% da população Poços-Caldense, segundo o senso de 2006. (ANDRADE, SILVA; 2019;

v. 29, p. 135).

Figuras 3 e 4 – Implantação das habitações do Conjunto Pedro Affonso Junqueira (COHAB-BNH).

Fonte: Caderno de Geografia de Poços de Caldas. V.29.

(11)

787

O Conjunto Pedro Affonso Junqueira foi implantado, portanto, distante da área central da cidade, promovendo o afastamento da população pobre para local isolado, distante da percepção dos turistas, com precária mobilidade urbana, projeto estandardizado de baixa qualidade, sem qualquer projeto paisagístico ou atenção às relações sócio culturais da comunidade, monótono quanto aos usos, e em local com deficiente infraestrutura urbana.

Atualmente, segundo Andrade e Silva, a Zona Sul goza de certa independência com relação ao centro de Poços de Caldas devido à instalação de equipamentos públicos de educação, saúde e lazer e investimentos privados no setor comercial, formando um pequeno subcentro a partir do final da década de 1980 e início de 1990. Ainda assim percebe-se como a mais segregada, tornando-a mais suscetível a menores oportunidades de emprego, mantendo sua população permanentemente carente. (ANDRADE, SILVA; 2019; v. 29, p. 138).

5.3 Repensando a inserção urbana de conjuntos de Habitação Social

Ao problematizar a implantação e os aspectos construtivos e sociais do Conjunto Habitacional Pedro Affonso Junqueira, na cidade de Poços de Caldas, com o objetivo de analisar a possibilidade de uso de área no centro da cidade para a relocação das populações da Zona Sul foram possibilitadas algumas constatações. No ato da procura de um terreno vago que atendesse a tais características, não foi obtido sucesso, colocando sob análise exemplares de regiões destinadas pelo Plano Diretor como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), porém constatou-se que estes fugiam às características desejadas, em sua maioria apresentando topografias desfavoráveis, isolamento e distância de centralidades. Concluiu-se que estava na hora de voltar o olhar para as áreas ocupadas em situação ociosa. Dado que no centro da cidade não se tem grandes áreas nestas condições e observando uma área de expansão da mancha urbana, ao longo da Avenida João Pinheiro constatou-se ótima qualidade de infraestrutura, servida de comércio e serviços em geral, além de equipamentos de saúde, educação, lazer e transporte.

Quase todo o quarteirão é ocupado por usos de caráter transitório que poderiam ser facilmente realocados para áreas periféricas de menor valor venal, como garagens de ônibus, empresas de transporte de cargas e galpões abandonados, fatores que reforçam o surgimento de serralherias e lojas de materiais de construção na região, o que favorece as fracas relações socioespaciais oferecidas pelo local e sua consequente especulação imobiliária, alimentando a possibilidade de sua gentrificação.

A região escolhida para a proposta – compreendida entre os bairros São Geraldo, Country Club e Vila Cruz, adjacente à Avenida João Pinheiro aparece já no primeiro Plano Diretor da cidade, elaborado no ano de 1943 quase completamente desocupada. No Plano Diretor de 1968 (ver mapa 1) ela aparece novamente, mas em condições um pouco diferentes: parte da área que hoje compreende a garagem de ônibus já estava construída, sendo colocado no mapa de Área Urbana parcialmente como área urbana utilizada e o restante como ociosa. Ao longo do tempo a área foi de uso significativo para Poços de Caldas: onde hoje temos o parque Country Club, instalação de lazer locada a frente do Parque Municipal, foi, até a década de 1920 o Centro Zootécnico da cidade. Ao início do século XX a Avenida João Pinheiro era utilizada para competições desportivas e eventos com participação popular, como competições de ciclismo e hipismo.

(12)

788

A partir das décadas de 1960 e 1970, com a industrialização da cidade iniciam-se novos tipos de ocupação nas margens da Avenida, dando-a um caráter industrial e de serviços, que hoje conferem espaços ociosos e de medo em contraste com a qualidade das centralidades que a cercam (ver figura 7).

Mapa 1 – Área com infraestrutura escolhida - circunscrita em rosa - para realocação da população que habita a zona sul de Poços de Caldas.

Fonte: Plano Diretor de Poços de Caldas, 1968. Acervo físico do Museu Histórico-Geográfico de Poços de Caldas.

Figura 7 – Usos atuais da área com infraestrutura escolhida para realocação da população que habita a zona sul de Poços de Caldas.

Fonte: Google Earth, junho 2019.

Quadro 1 – Quadro de legenda por áreas referentes à figura 7.

Legenda por áreas 1. Terreno vago, percebe-se que cortam caminho por ele

devido à marca na grama – integrar ao programa.

7. Uso indeterminado.

2. Concessionária de automóveis. 8. Indústria e venda de pisos e tintas.

3. Empresa de transporte de carga. 9. E Uso misto - Residencial e comercial familiar integrar ao programa.

4. Garagem de ônibus. 10. Escombros de demolição - integrar ao programa.

5. Área abandonada. 11. Serralheria familiar – integrar ao programa.

6. Uso residencial. 12. Uso comercial familiar – integrar ao programa.

Fonte: Elaborada pela autora.

(13)

789

Um dos vazios urbanos – entendendo aqui vazio como área subutilizada – nesta área com infraestrutura urbana, apresenta isodeclividade, possibilitando fácil mobilidade para usuários pedestres, possui serviço de esgotamento sanitário e está próximo à estação de tratamento, a 4 Unidades Básicas de Saúde e a 6 Centros de Educação Infantis, 5 Escolas Estaduais, 3 escolas de Ensino Especial e 1 Núcleo Beija-Flor. Nos arredores há um comércio consolidado. Ainda, fica próximo ao Parque Municipal, à pista de skate, à Vila Olímpica, ao Kart e ao Parque Véu das Noivas. Conta também com serviços automobilísticos, serralheiros e serviços essenciais – apesar de escassos – como bancos, que se localizam dentro do shopping.

Linhas de ônibus atendem a região conectando os bairros ao centro da cidade. Há uma forte presença de lotes vagos e/ou de usos ociosos no local, resultando em área ociosa e propícia a especulação imobiliária.

Portanto, a ocupação dessa área com Habitação Social permitiria a integração das residências e comércios de pequeno porte já existentes, praticando a desapropriação e demolição das edificações ociosas existentes no local, baseando-se na Lei N° 10.257, de 10 de julho de 2001: o Estatuto da Cidade, que prevê a ordenação e controle do uso do solo de modo a evitar a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização; a deterioração das áreas urbanizadas e garantir a sustentabilidade, ou seja, o direito à terra urbana, moradia, saneamento ambiental, infraestrutura, transporte e serviços públicos, trabalho e lazer, além da justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização com a adequação dos instrumentos políticos de natureza econômica, tributária e de gastos públicos para que o desenvolvimento urbano privilegie investimentos que venham a garantir o bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais.

Desta maneira os lotes em questão passariam a pertencer à Prefeitura de Poços de Caldas, responsável pela gestão do empreendimento desde as fases iniciais até o momento de locação a comerciantes, moradores e prestadores de serviços em potencial.

6 CONCLUSÃO

O modelo de gestão político e econômico sugerido para a realocação de Habitação de Interesse Social para a cidade de Poços de Caldas, pode ser considerado um Plano de Locação Social, já aplicado em países europeus como Rússia, França e Inglaterra, e que a Engenheira Carmem Portinho sugeriu ao funcionamento do Edifício Pedregulho no Rio de Janeiro na década de 1950: As unidades edificadas seriam oferecidas às famílias de acordo com suas necessidades de moradia, havendo a possibilidade de mudança – sem custos adicionais – para outra unidade residencial no caso de aumento ou redução do número de residentes.

Desta forma as famílias beneficiadas não correriam o risco de passar necessidades devido a valores de locação altos, que em geral custam aproximadamente 30% de seus rendimentos mensais devido ao ônus imobiliário excessivo, sem contar outras despesas de moradia como luz, água, internet, vestuário e alimentação, e o empreendimento continuaria a conseguir gerar a verba necessária para sua manutenção.

Quanto ao uso, consideramos a implantação em quadra aberta de uso misto ideal, pois, segundo Jane Jacobs, a complexidade dos usos e suas mudanças ao longo do tempo garantem uma sucessão permanente de “olhos” em uma espécie de balé complexo e espontâneo que ocorre nas vias públicas e que nunca volta a acontecer do mesmo modo,

(14)

790

ocorrendo diariamente em rituais cotidianos que tem como base as relações sociais, garantindo o funcionamento de uma política de segurança não-interventora (sem delimitações de lotes, muros ou grades) onde as vias de circulação possuem multiplicidade de usos ao longo do dia e são bem iluminadas, gerando fluxo de pessoas de maneira contínua em horários distintos e estabelecendo laços de confiança. (JACOBS, 2011, p. 56-57).

A circulação proposta teria o intuito de privilegiar o pedestre e o ciclista, promovendo uma locomoção saudável para o meio ambiente e para a manutenção da saúde dos moradores.

As vias de circulação principais, no entanto, assim como as secundárias, teriam estrutura para suportar a circulação de automóveis, mas fica como diretriz que esta deve ser ocasional e de status emergencial, como para o uso de ambulâncias, viaturas, caminhões de mudança e caronas em dias de fortes chuvas. Ao privilegiar o pedestre e não o carro (como geralmente acontece em todos os tipos de projetos, inclusive os habitacionais) na implantação a dinâmica da quadra passa a ser mais livre e segura, podendo ser criados caminhos arborizados e de tez orgânica que fazem com que a paisagem aos poucos se revele no ato do caminhar, tornando mais prazerosas as caminhadas do ir e vir do dia-a-dia.

7 REFERÊNCIAS 7.1 Livros

BONDUKI. Nabil; Origens da habitação social no Brasil: Arquitetura Moderna, Lei do Inquilinato e Difusão da Casa Própria; Editora Estação Liberdade; São Paulo; 7ª edição, 2013.

BONDUKI, Nabil; Os Pioneiros da Habitação Social, v. 1: Cem anos de construção de política pública no Brasil;

Fundação Editora da UNESP; São Paulo; 2012.

BONFATO, Antonio Carlos; Macedo Vieira: Ressonâncias do Modelo Cidade Jardim; Editora SENAC; São Paulo; 2008.

JACOBS, Jane; Morte e Vida de Grandes Cidades; Editoria WMF Martins Fontes; São Paulo; 3ª edição, 2011.

MARX, Karl; O Capital; Livro 1. Editora Civilização Brasileira; Rio de Janeiro, 1971.

ROLNIK, Raquel; Guerra dos Lugares: A colonização da terra e da moradia na Era das Finanças; Editora Boitempo;

São Paulo, 2019.

7.2 Trabalhos publicados em eventos

CORREIA, Telma de Barros. A cidade jardim: os conjuntos residenciais de fábricas (Brasil, 1918-1953). Anais do Museu Paulista, São Paulo, SP. 2014.

FRANCISCO, Pedro Gabriel de Paiva; SILVA, Diego Cândido da. A implantação do conjunto habitacional na cidade de Poços de Caldas (MG). 7ª Jornada Científica e Tecnológica do IFSULDEMINAS, 4º Simpósio de Pós Graduação;

Instituto Federal do Sul De Minas (IFSULDEMINAS), Poços de Caldas; 2015.

7.3 Artigo de Periódicos

BUONFIGLIO, Leda Velloso. Habitação de Interesse Social. Mercator, vol. 17, issue 2, pp 1-16; ISSN: 1984-2201;

publicado por Universidade Federal do Ceará, Fortaleza; 2018.

CASTELO, Rodrigo; A “questão social” nas obras de Marx e Engels; Revista Praia Vermelha, v.20 nº 1, pp 85-94; Rio de Janeiro; 2010.

LIMA, Soeli Regina; Capital Transnacional, Company Town e a produção do espaço urbano; Revista on-line Caminhos da Geografia, v. 9, n. 25; Uberlândia; 2008.

(15)

791

NASCIMENTO, Flávia Brito do. Carmen Portinho e o Habitat Moderno. Teoria e Trajetória de uma Urbanista. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 9, n 1, maio de 2007.

SEGAWA, Hugo. Entrevista – Carmen Portinho – A arquitetura moderna e o desenho industrial (Entrevista de Carmen

Portinho a Hugo Segawa). Revista Projeto, 24/04/2016. Encontrado em:

<https://revistaprojeto.com.br/acervo/entrevista-carmen-portinho/>; acessado em 13 de março de 2021.

SILVA, Marlon Lima da, TOURINHO, Helena Lúcia Zagury; O Banco Nacional de Habitação e o Programa Minha Casa Minha Vida: duas políticas habitacionais e uma mesma lógica locacional; Caderno Metropolitano de São Paulo, v.

16, n. 34, p. 401-417; São Paulo; novembro de 2015.

SILVA, Eduardo de Araujo da; ANDRADE, Alexandre Carvalho de; A Formação da Zona Sul de Poços de Caldas, Minas Gerais; Caderno de Geografia, v. 29, Número Especial 2, ISSN 2318-2962; Poços de Caldas; 2019.

7.4 Artigo de Jornal

BBC NEWS, Welwyn Garden City’s postponed centenary events to be ‘Better than ever’. BBC News, Londres, 29 de abril de 2020. Disponível em <https://www.bbc.com/news/uk-england-beds-bucks-herts-52465308>; acessado em 30 de abril de 2020.

DYCKHOFF, Tom. Let’s move to Welwyn garden city, Hetfordshire. The Guardian. Londres, 01 de junho de 2012.

Property. Disponível em <https://www.theguardian.com/money/2012/jun/01/lets-move-to-welwyn-garden-city>;

acessado em 05 de abril de 2020.

SMITH, Adéle; HENNIES, Marina. Isolamento, dívida e baixa qualidade de vida nos conjuntos habitacionais do Rio. Le Monde/Rio on watch. 19 de setembro de 2016. Disponível em <https://rioonwatch.org.br/?p=22938>; acessado em 02 de abril de 2020.

7.5 Documentários e Sites

BONDUKI, Nabil; Habitação Social – Projetos de um Brasil; ANCINE; Brasil, 2019. Série documental encontrada em

<https://www.primevideo.com/detail/0H3CMRHZMP4WV7ZDI8LL1IIRG1/ref=dvm_src_ret_br_xx_s>; acessado em 15 de março de 2021.

BOTAS, Nilce Aravecchia; Habitação Social – Projetos de um Brasil; ANCINE; Brasil, 2019. Série documental

encontrada em

<https://www.primevideo.com/detail/0H3CMRHZMP4WV7ZDI8LL1IIRG1/ref=dvm_src_ret_br_xx_s>; acessado em 15 de março de 2021.

FERREIRA, Ana Paula. História em imagens do bairro COHAB. Poços de Caldas, 21 de dezembro de 2016. Disponível em <https://www.slideshare.net/AnaPaulaFerreira94/conjunto-habitacional-de-poos-de-caldas-mg-histria-em- imagens> acessado em 25 de março de 2020.

GUROWITZ, Margaret. Chicopee Village – Village History; Georgia, Estados Unidos; 22 de março de 2013. Disponível em <http://historicchicopeega.com/village-history> acessado em 17 de abril de 2021.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; Poços de Caldas. 2017. Disponível em

<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/pocos-de-caldas/panorama> acessado em 02 de março de 2020.

KOURY, Ana Paula; Habitação Social – Projetos de um Brasil; ANCINE; Brasil, 2019. Série documental encontrada em

<https://www.primevideo.com/detail/0H3CMRHZMP4WV7ZDI8LL1IIRG1/ref=dvm_src_ret_br_xx_s>; acessado em 15 de março de 2021.

PARTNERS, Weston Williamson + Letchworth Garden City. Londres, 2020. Disponível em

<https://www.westonwilliamson.com/projects/letchworth-garden-city> acessado em 03 de abril de 2020.

Prefeitura de Poços de Caldas; História de Poços de Caldas, 03 de agosto de 2017. A Cidade. Disponível em

<https://pocosdecaldas.mg.gov.br/a-cidade/historia/> acessado em 21 de março de 2020.

SANTOS, Roberto Eustáquio dos; Habitação Social – Projetos de um Brasil; ANCINE; Brasil, 2019. Série documental

encontrada em

<https://www.primevideo.com/detail/0H3CMRHZMP4WV7ZDI8LL1IIRG1/ref=dvm_src_ret_br_xx_s>; acessado em 15 de março de 2021.

Referências

Documentos relacionados

A Lei nº 2/2007 de 15 de janeiro, na alínea c) do Artigo 10º e Artigo 15º consagram que constitui receita do Município o produto da cobrança das taxas

A presente pesquisa demonstrou a participação ativa dos coletores de material reciclado e o reconhecimento do Poder Público local com o trabalho de parceria,

Destaca-se, também, a intensa utilização desse sistema de ensino pelas empresas, o que caracteriza o que se chama de Educação a Distância Corporativa. É visível o

Por sua vez, a complementação da geração utilizando madeira, apesar de requerer pequenas adaptações do sistema, baseia-se em um combustível cujas origens são mais diversifi

Com base nos resultados da pesquisa referente à questão sobre a internacionalização de processos de negócios habilitados pela TI com o apoio do BPM para a geração de ganhos para

de vida e as características dos povos originais das terras. Ou seja, a depender do tipo de civilização encontrada, a dominação ocorrerá de maneiras diferentes.

Minesse ® não deve ser utilizado por mulheres que apresentem qualquer uma das seguintes condições: história anterior ou atual de trombose venosa profunda

2.4 – Política habitacional: habitação na Constituição Federal e na LODF; Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS); Programa Minha Casa Minha Vida