D e m ocr a cia com o N ã o D om in a çã o
e Espa ço Pú blico
An t ón io Rosa s
Faculdade de Ciências Polít icas e Sociais Univer sidade de Sant iago de Com post ela Em ail: anr o_pt @yahoo.com
Re su m o
Nest e ar t igo aplicar em os a ideia shapir iana de dem ocr acia com o sist em a polít ico de não dom inação par a desenvolver m os um a concepção út il do espaço público. Par a esse fim , incidir em os a nossa análise na cat egor ização das quat r o t r adições da t eor ia dem ocr át ica e do espaço público pr opost as por Fer r ee, Gam son, Ger har ds e Rucht ( 2002) , m ost r ando com o um a der iv ação, m esm o que pr ov isór ia e pr ospect iva, do espaço público, a par t ir da t eor ia dem ocr át ica de I an Shapir o, não apenas escapa a essa cat egor ização com o é suficient em ent e aut ónom a e út il par a ser explicit ada.
Pa la vr a s- ch a ve :
Dem ocr acia; Poder ; Oposição; Com pet ição; Espaço Público; Não Dom inação; I nt er esses Básicos.
Abst r a ct
I n t his paper , w e w ill apply Shapir o’s concept ion of dem ocr acy as a polit ical sy st em of non dom inat ion for dev eloping a useful concept ion of t he public space. To t hat end, w e w ill base our analy sis on t he w or k of Fer r ee, Gam son, Ger har ds, and Rucht ( 2002) dealing w it h t he four m ain t r adit ions in t he st udies of dem ocr acy and t he public space, t o show how an account of t he public space based on I an Shapir o’s dem ocr at ic t heor y , alt hough gener al and t ent at iv e, is not only not com pr ised in t hat cat egor izat ion as it is sufficient ly aut onom ous and useful t o be fleshed out .
Ke y w or ds:
Dem ocr acy; Pow er ; Opposit ion; Com pet it ion; Public Spher e; Non Dom inat ion; Basic I nt er est s.
I n t r od u çã o
Se os dois pr incípios t ut elar es da t eor ia clássica da dem ocr acia for am , pelo m enos desde as or igens m oder nas, o do aut o- gov er no ( collect ive self- gover nm ent ) e o da oposição ( loyal opposit ion, Bar r ingt on Moor e 1966; Shapir o 1999; Pr zew or ski 1996) , não par ece ser facilm ent e quest ionável que o segundo t enha sido e cont inue sendo am plam ent e secundar izado em r elação ao pr im eir o ( Shapir o 1999: 30; Rosas e Máiz 2005) .
inst it ucionais das dem ocr acias ocident ais foi sem pr e indissociável da puj ança dos pr incípios liber ais- dem ocr at as, par t icular m ent e apt os a secundar izar os aspect os oposicionais da dem ocr acia, a favor da com ponent e r epr esent at iva. Basicam ent e, um t al m odelo assent a na desconfiança de que a m aior ia dos cidadãos não se int er essa, não com pr eende ou não é suficient em ent e com pet ent e acer ca das com plexidades da polít ica.
Não deixa de ser cur ioso que t enha sido um a concepção m at er ialist a da dem ocr acia a r evigor ar o pr incípio da oposição na t eor ia dem ocr át ica cont em por ânea ( Pr zew or ski 1996: 4; Shapir o 1999) . Com efeit o, as cont r ibuições do r ealism o schum pet er iano ( Schum pet er 1942) par a super ar o idealism o da t eor ia clássica, ao fazer da dem ocr acia o palco pr ivilegiado da oposição e da com pet ição pelo poder , for am t udo m enos do que não decisivas. A um pr eço, por ém , que não deix ou de ser excessivo. O agnost icism o de Schum pet er quant o à nat ur eza e às font es do poder levou- o a consider ar a com pet ição par t idár ia com o sendo o único m ecanism o de cont r olo do poder social.
A par t ir de pr incípios schum pet er ianos t em sido possível, no ent ant o, dilat ar o pr incípio da oposição dem ocr át ica a t odas as act ividades hum anas, com consequências t ant o concept uais com o definicionais im por t ant es par a a noção de dem ocr acia. Com efeit o, para alguns aut ores, est a não é m ais encarada com o um regim e for m al, par a ser m elhor com pr eendida com o um sist em a polít ico de não dom inação, ou de não int er fer ência ilegít im a nos int er esses básicos dos cidadãos.
ent endida com o um sist em a polít ico ou um conj unt o de sist em as polít icos ( de bens subor dinados) par t icular m ent e vocacionados par a ger ir as r elações de poder e as event uais r elações de dom inação iner ent es às act ividades hum anas que visam det er m inados fins ( bens supr a- or denados, sej am est es o socialism o, a v isibilidade pública, na qualidade de bem final ou inst r um ent al, pr opor cionar um a educação de qualidade par a os filhos, et c.) .
Nest e ar t igo, m ost r ar em os com o um concepção de dem ocr acia com o sist em a polít ico de não- dom inação, assim com as suas im plicações par a a t eor ia do espaço público, não só escapa às m alhas da cat egor ização pr opost a por Fer r ee, Gam son, Ger har ds e Rucht ( 2002) , com o é suficient em ent e aut ónom a e út il par a m er ecer um a explicit ação m ínim a. Com esse fim em vist a, com eçar em os por det ect ar quais as pr incipais car act eríst icas das quat r o t r adições dem ocr át icas apr esent adas pelos aut or es par a, de seguida, avaliar m os, com par at iva e r espect iv am ent e, qual o gr au da aut onom ia e de heur ist icidade da per spect iva shapir iana.
As qu a t r o t r a diçõe s de m ocr á t ica s e os m ode los de e spa ço pú blico
cont inuidade t eór ica de per fil hist ór ico, ant es um a ident idade m ínim a em t or no de cer t os pr incípios essenciais que pode ser det ect ada a par t ir da panóplia t eór ica dos est udos dem ocr át icos.
As quat r o t r adições da t eor ia dem ocr át ica apr esent adas pelos aut or es e com o que aglut inando a m aior par t e dos est udos cont em por âneos sobr e a dem ocr acia são a Liber al Repr esent at iva, a Liber al Par t icipat iva, a Discur siva e a Const r ut ivist a. A seguir , far em os um a descr ição sucint a de cada um a, assim com o dos r espect ivos m odelos de espaço público. A secção ser á com plem ent ada com a apr esent ação dos pr incipais cr it ér ios nor m at ivos de cada t r adição, discrim inados pelos aut or es em t er m os de qu e m de v e fa la r ( w ho) , qu a l o con t e ú do do pr oce sso ( w hat ) , e st ilo pr iv ile gia do do discu r so ( how ) , e a r e la çã o n or m a t iv a e n t r e o discu r so e os r e su lt a dos pr ocu r a dos ou e v it a dos/ t e m idos ( out com es) ( Fer r ee, Gam son, Ger har ds, Rucht 2002: 290) . Na secção subsequent e, avançar em os com um a exposição necessar iam ent e sum ár ia da t eor ia shapir iana da dem ocr acia, assim com o dos seus princípios analít icos e nor m at ivos m ais opor t unos em t er m os do espaço público.
Tr a diçã o Libe r a l Re pr e se n t a t iv a :
Te or ia d e m ocr á t ica
cidadãos, est es não pr ecisam nem devem par t icipar polit icam ent e na gover nação ou no discur so polít ico, devendo pois delegar essas t ar efas nos em pr eendedor es polít icos e, de um m odo ger al, nos seus r epr esent ant es. A act ividade polít ica dos cidadãos esgot a- se no dir eit o e no dever de escolher em , per iodicam ent e, at r avés do vot o, quem , de ent r e os concor r ent es à gover nação, deve exer cer a aut or idade polít ica do Est ado.
M ode lo de e spa ço pú blico
Est a t r adição, m aior it ár ia nos est udos dem ocr át icos, coloca o ênfase em quem deve par t icipar . Pr ivilegia um a esfer a pública concebida par a pr oduzir decisões acer t adas ( w ise decisions) por par t e dos r epr esent ant es polít icos or ganizados em par t idos e pr est ando cont as ( account abilit y) dos seus act os. Dado o int er esse nor m at ivo que at r ibui à ascendência nat ur al das elit es ( elit e dom inance) , valor iza os crit ér ios da t r ansparência, da pr opor cionalidade, da exper t ise, do m er cado livr e das ideias, do dist anciam ent o obj ect ivo,
da civilidade, e do encer r am ent o ( closur e) discur sivo na fase decisional.
Tr a diçã o Libe r a l Pa r t icipa t iv a
Teor ia dem ocr át ica
pot encialidades da acção hum ana. Desse m odo, a par t icipação polít ica deve ser dir ect a, act iva, cont ínua, capaz de for m ar e de t r ansfor m ar pr efer ências, de for m ar cidadãos, ao m esm o t em po que se suspeit a de t odas as for m as de r epr esent ação convencional ou nom inal de int er esses. Em algum as das suas ver sões m ais cont em por âneas, com o a de Benj am in Bar ber , por exem plo, a t r adição defende cer t os r egim es de aut o- gover no nos casos em que t êm de ser decididas polít icas básicas ou m obilizando apar at os significat ivos de poder social.
M ode lo de Espa ço pú blico
O cr it ér io nor m at ivo cent r al é o do m ais lat o em pow er m ent possível dos cidadãos, o que só pode ser obt ido at r avés da inclusão popular . Apoia um am plo leque de est ilos com unicat ivos, evit ando o encer r am ent o discur sivo pr em at ur o ( pr em at ur e closur e) na fase decisional. Além disso, r ej eit a, ou m ost r a- se am bivalent e, quant o aos cr it ér ios de per ícia ( exper t ise) , de dist anciam ent o ( det achm ent ) e de civilidade. At endendo a que o papel essencial do discur so público é o de m obilizar a par t icipação dos cidadãos e não apenas o de aj udar as elit es a decidir , a t r adição m ost r a- se r et icent e quant o a cr it ér ios cuj as consequências, m esm o que não int encionais, possam desencor aj ar, ou excluir , a par t icipação popular .
Tr a diçã o D iscu r siv a
Te or ia d e m ocr á t ica
r easoning am ong equal cit izens.” O seu valor cent r al é, por t ant o, a deliber ação, que deve ser est endida, com o suger e Haber m as, a t odas as decisões que não envolvam pr ocessos polít icos de r ot ina m as sim pr incípios nor m at ivos im por t ant es. Um a inclusão abr angent e deve pois ser vir t odas as for m as de ar gum ent ação de act or es ou speaker s aut óct ones que, a par t ir das per ifer ias, poder ão desse m odo quest ionar , em condições discur sivas ideais, as polít icas e as decisões cent r ais que os afect am .
M ode lo de e spa ço pú blico
Tr a diçã o Con st r u t iv ist a
Te or ia d e m ocr á t ica
A últ im a e a m ais r ecent e das t r adições dem ocr át icas com eça por quest ionar a separ ação convencional ent r e o público e o pr ivado, par a at r ibuir aos discur sos e à linguagem um papel cent r al na pr odução e na r epr odução das r elações sociais de poder e na const r ução da r ealidade. Nas suas ver sões m ais r adicais, de inspir ação foucault iana, as ident idades dos act or es, a linguagem e as r elações sociais de poder são encar adas com o indissociáveis. Par a est a per spect iva, os pr ocessos polít icos são, pois, t ot alm ent e cont ingent es e const r uídos pelos indivíduos e gr upos, cuj o poder discur sivo inescapável pr oduz incessant em ent e fr ont eir as e dom ínios de discr im inação e de inclusão.
M ode lo de e spa ço pú blico
as r elações que os unem . A legit im ação da linguagem do m undo da vida ( life- w or ld) , expost a nos discur sos, não só pr ivilegia o saber exper iêncial dos cidadãos com uns com o cont r ibui par a o seu em poder am ent o. O encer r am ent o após a decisão é igualm ent e vist o com o suspeit o, dado poder supr im ir a diver sidade expr essiva que r evit aliza a dem ocr acia.
D iscr im in a çã o e m t e r m os de qu e m , o qu ê , com o, com qu e r e su lt a dos
Cr it é r ios n or m a t iv os n a t e or ia de m ocr á t ica
Cr it é r ios de u m bom discu r so pú blico
Tipos de Te or ia
Qu e m
pa r t icipa
Con t e ú do do Pr oce sso
Est ilo do discu r so
Re su lt a do da r e la çã o e n t r e discu r so e de cisã o
Libe r a l
Re pr e se n t a t iv a
Ascendência da elit e Exper t ise
Proporcionalidade
Mercado liv r e de ideias Tr anspar ência
Dist anciam ent o Encer r am ent o
Libe r a l
Pa r t icipa t iv a I nclusão Popular Em poder am ent o
Leque de Est ilos
Evit a
Encer r am ent o im post o
D iscu r siv a I nclusão Popular Deliberat iv o
Diálogo
Respeit o Mút uo Civilidade
Evit a
Encer r am ent o pr em at ur o não
consensual
Con st r u t ivist a I nclusão Popular Em poder am ent o
Reconhecim ent o
Cr iat ividade nar r at iva
Evit a
Encer r am ent o excluidor Expansão da com unidade polít ica
A de m ocr a cia de Sh a pir o
Com o se viu, as quat r o t r adições dem ocr át icas diver gem subst ancialm ent e quant o aos cr it ér ios nor m at ivos do espaço público. Vam os ver com o a t eor ia shapir iana da dem ocr acia e a cor r espondent e nor m at ização do espaço público, m esm o que pr ovisór ia e pr ospect iva, não só escapam a est a cat egor ização, com o apr esent am vir t ualidades e alt er nat ivas que m er ecem ser explicit adas.
Em t er m os bast ant e lat os, os dois eixos nor m at ivos essenciais da concepção de dem ocr acia de Shapir o consist em , por um lado, num a r eleit ur a dos m ecanism os for m ais schum pet er ianos de cont r olo do poder social, at r avés da ext ensão do pr incípio oposicional a t odas as esfer as e fases das act ividades hum anas; e, por out r o, na incor por ação do bem subst ant ivo m ínim o de não dom inação.
Definido nos seus t er m os r epublicanos de base, o “ bem com um ” é aquilo que t odos os que t êm int er esse em evit ar a dom inação par t ilham ( Shapir o 2003) . Dada a cent r alidade do poder nos sist em as polít icos, a dem ocr acia é equacionada com o sendo a m elhor alt er nat iva par a a gest ão desse poder , ao per m it ir m inor ar , se não er r adicar , algum as das for m as m ais pat ent es de dom inação ou de int er fer ência, ilegít im a, nos int er esses básicos dos cidadãos - “ t he obvious essent ials t hat t hey need t o develop int o and sur vive as independent agent s in t he w or ld as it is lik ely t o ex ist for t heir lifet im es” ( Shapir o 2003: 45) . Esse obj ect ivo é conseguido at r avés da ext ensão dos m ecanism os com pet it ivos da oposição a t odas as esfer as das act ividades hum anas.
pr át icas inovador as at r avés das quais o poder j udicial pode ser r einst it ucionalizado a fim de gar ant ir e r egulam ent ar a dem ocr at icidade das int er acções hum anas. Est as ser ão t ant o m ais dem ocr át icas quant o m ais um a oposição leal e com pet it iva, apoiada nos t r ibunais ou em out r as inst it uições ( second- guessing agencies) , for capaz de ident ificar e de int er vir nas m odalidades ( decisões, não-decisões ou cont r olo da agenda, quiescência, cont r olo de r ecur sos m at er iais ou sim bólicos) at r avés das quais alguns agent es afect am ilegit im am ent e os int er esses básicos de out r os.
Tendo em m ent e o que dissem os, um a dedução pr ovisór ia e pr ospect iva dos pr incipais cr it ér ios nor m at ivos do espaço público shapir iano ser á a seguint e:
Qu e m pa r t icipa ?
A abst enção de Shapir o em r elação a t odas as for m ulações nor m at ivas do bem com um , à excepção da noção r epublicana de não dom inação, aliada ao seu r ealism o em r elação às m últ iplas for m as de dom inação e de int er fer ência ilegít im a que podem em er gir das act iv idades hum anas, lev am a supor que conj unt am ent e com um pr incípio univer sal de inclusão, t er ão de ser acaut elados t odos os dir eit os de r epr esent ação e de voz aos indivíduos e gr upos event ualm ent e afect ados nos seus int er esses básicos.
quot as, nos m eios de com unicação t r adicionais e/ ou em out r os alt er nat ivos, dest inadas a pr eser v ar a v isibilidade pública dos afect ados. Os m eios de com unicação e os canais for m ais e infor m ais do espaço público dever ão est ar sem pr e disponíveis ( int er dição r egulam ent ada e m onit or izada de gat ekeeping) a t odos os indivíduos e gr upos que, independent em ent e do t am anho ou grau de influência, vej am os seus int er esses ilegit im am ent e afect ados.
Não é m enos not ór io o cept icism o de Shapir o em r elação a qualquer nor m a de exper t ise. Pensam os m esm o que v iola lim inar m ent e o princípio da defesa dos int er esses básicos. Com efeit o, se a dom inação pode ocor r er em qualquer sect or da sociedade ou das act ividades hum anas, nada gar ant e que os exper t s sej am os m elhor es defensor es de causas e de int er esses alheios. O pr incípio da exper t ise deve pois ser subst it uído pelo da insider s w isdom , segundo
o qual ser ão os pr ópr ios afect ados os m ais m ot ivados e habilit ados a defender , por exem plo pela via deliber at iva, os seus int er esses ( Shapir o 2003: 43) . Daqui poder á ser der ivada um a nor m a de espaço público, e est abelecer - se com o det er m inadas m odalidades de r epr esent ação ou de deliber ação dever ão aí ser int egr adas, bem com o a inst it ucionalização de um conj unt o de dir eit os que, apesar de acessór ios, são im por t ant es. Est ão nest e caso os dir eit os de assist ência j ur ídica e t écnica por par t e do Est ado ( a par t ir de um a pool de consult or es, advogados oficiosos, especialist as em m ar ket ing
e com unicação polít icas, et c.) .
desiguais de poder - que m uit as v ezes escapam ao dom ínio das acções m at er iais, dos r ecur sos e dos m odos de poder par a r evest irem for m as veladas de dom inação sim bólica ( Rosas e Máiz 2005) - , nunca dever á ser um a excepção ao afinam ent o dos pr ocessos com pet it ivos dem ocr át icos t endo em vist a a salvaguar da dos dir eit os oposicionais dos m ais vulner áveis.
Qu a l o con t e ú do do pr oce sso?
Com o a r gu m e n t a r ?
É lícit o supor que a m inor ia dos cidadãos que pr ocur a o espaço público par a expor os seus pont os de vist a ou por quaisquer out r os m ot ivos não o faz par a nar r ar as suas exper iências ou par a pr ocur ar consensos que r evit alizem a dem ocr acia. E o m esm o sucede, em bor a por r azões difer ent es, com as elit es, com os seus r epr esent ant es, ou com t er ceir os, incluindo j or nalist as e líder es de opinião. Par a além de haver sem pr e que cont ar com um a m ult iplicidade de m ot ivações, as for m as com o os agent es ut ilizam o espaço público não deixam de ser acessór ias, a m enos que r esult em de est r at égias que lhes per m it am obt er vant agens, lançar cor t inas de fum o ou m arcar pont os nas com plexas negociações sim bólicas que ger alm ent e acom panham as pr át icas dos act or es. Em bor a a civilidade e o r espeit o m út uo sej am valor es a t er em cont a nos pr ocessos de com unicação pública, dever ão ser acaut elados t odos os dir eit os e os cor r espondent es dever es de um eficaz exer cício dos poder es discur sivos, sem deixar de m ant er em abert o t odas as opções discur sivas com as suas for ças e fr aquezas.
Assim sendo, há que t er em cont a que a defesa dos dir eit os dem ocr át icos de oposição, t endo em vist a a pr ossecução de bens super ior es, pode exigir , em cer t as cir cunst âncias, que as infor m ações de que os cidadão car ecem sej am t r anspar ent es, da m esm a m aneir a que, em out r as, poder ão ser m ais út eis as suas nar r at ivas exper iênciais ou um a panóplia de est ilos. No lim it e, “ people can r easonably find t hings unaccept able even w hen t hey cannot ar t iculat e an account of w hat w ould be accept able” ( Shapiro 2003: 76) .
público não deve ser t ido com o o único m eio de que os cidadãos de um a dem ocr acia dispõem par a ar gum ent ar ou canalizar discur sos ou pr át icas. Cer t os est ilos com unicat ivos podem at ingir m elhor os seus obj ect ivos e públicos at r avés de out r os m eios de difusão – negociações dir ect as ent r e as par t es, sob o pat r ocínio da j udicial r eview dem ocr át ica, e pr ot egidas por segr edo de j ust iça, por
exem plo. Por fim , há que r ealçar que um a posição sem i-cont ext ualist a, com o a de Shapir o, visa ir sem pre m ais além dos discur sos, par a t er igualm ent e em cont a os pr ocessos e os m ecanism os causais subj acent es à dom inação. Est a é um a difer ença significat iva e com im por t ant es r eper cussões em pír icas e nor m at ivas, j á que a expr essividade dos discur sos ou um a pr et ensa e inalcançável sit uação discur siva ideal não são, só por si, suficient es par a r evelar as r elações de poder subj acent es, t al com o o pr et endem os const r ut ivist as m ais r adicais. Um a engenhar ia inst it ucional eficaz deve t er em cont a t ant o as dim ensões ext er nas com o int er nas das acções, pr opondo soluções englobando não apenas as difer ent es com ponent es da dom inação, com o a nat ur eza dos pr ocessos e das est r ut ur as sociais que a acom panham .
Com qu e r e su lt a dos?
excluidor as ou dom inador as que as do encer r am ent o im post o, ou de out r as for m as de encer r am ent o m ais t ípicas com o as que r esult am de r ot inas. Convém , pois, m ais um a vez não esquecer que um dos pilar es dos r egim es dem ocr át icos foi o da oposição dos gover nados face aos pr iv ilégios e aos poder es abusivos e ar bit r ár ios dos gover nant es. Não se com pr eende por t ant o, pelo m enos em t eor ia, que a m aior par t e dest es r egim es cont inue a r evelar - se indifer ent e aos efeit os polít icos e sociais r esult ant es t ant o das decisões dest es, com o dos fenóm enos m ediát icos de fr am ing, prim ing, gat ekeeping ou agenda- set t ing. “ On m y account , opposit ion r ight s have equal
st anding w it h decision- m ak ing r ight s in a dem ocr acy. Opposit ion is of independent im por t ance par t ly because t her e ar e no per fect decision r ules, par t ly because opposit ion is a m echanism for keeping t hose cur r ent ly in pow er honest , and par t ly because opposit ion is essent ial t o pr ovide t he alt er nat ives t o t he st at us quo t hat r ender com pet it ion for pow er m eaningful.” ( Shapir o 2002: 175)
Apesar de nenhum cidadão poder ser obr igado a deliber ar , a fazer par t e de um m ovim ent o, de um grupo de discussão, ou a per seguir cer t os fins subst ant ivos - ou m esm o a opor - se a cer t os poder es inst it ucionais e convencionalizados, m esm o que “ dem ocr át icos” - , não par ece m enos evident e que um r egim e dem ocr át ico de não dom inação dever á est abelecer incent ivos par a que em det er m inadas cir cunst âncias o façam ( Shapir o 2003: 5) , e sem pr ej uízo de quer er em ou não opt ar pela via do espaço público. Par a esse fim , dever ão ser acaut elados t odos os dir eit os e dever es de oposição leal, de m odo a que os indivíduos e gr upos possam
que é execut ada ( ger alm ent e hier ár quico) , dever ão ser inst it ucionalizados. O seu r egim e dever á ser facult at ivo, cabendo aos m eios de com unicação disponibilizar os r ecur sos m at er iais e hum anos apr opr iados e suficient es para que as decisões gover nam ent ais ou de t er ceir os não afect em ilegit im am ent e os int er esses daqueles que, sem esses m eios, est ar iam ainda m ais vulner áveis.
Os cr it é r ios sh a pir ia n os
Cr it é r ios n or m a t iv os n a t e or ia de m ocr á t ica
Cr it é r ios de u m bom discu r so pú blico
Tipos de Te or ia
Qu e m
pa r t icipa
Con t e ú do do Pr oce sso
Est ilo do discu r so
Re su lt a do da r e la çã o e n t r e discu r so e de cisã o
Te or ia
D e m ocr á t ica
I nclusão popular Cidadãos com int er esses básicos afect ados ( insider w isdom )
Os m esm os das out r as t r adições Com pet ição ar gum ent at iva dos afect ados apoiada num a Judicial Rev iew Dem ocr át ica
Leque de est ilos com o com ponent e da r evelação da dom inação
Encer r am ent o Super int enbdido Ev ent ual
det erm inação Judicial par a apr esent ação de alt er nat ivas
Con clu sã o
A noção plur alist a e pr agm át ica de que não há apenas um poder social m as sim um a var iedade de poder es com pet indo, em sim ult âneo, com as r elações ent r e gover nant es e gover nados, conduzem - nos a um a cr ít ica de qualquer concepção do espaço público que a encar a com o um a hipóst ase. Não adm ir a, por t ant o, que um a ext ensão br ilhant e, em bor a par adoxal, do liber alism o com pet it ivo schum pet er iano, t al com o a pr opost a por Shapir o, nos leve a consider ar o espaço público com o um a plur alidade de r egim es m at er iais e sim bólicos pr oblem át icos que t êm a ver com as act ividades hum anas e o espect r o sem pr e pr esent e da dom inação ou da int er fer ência ilegít im a.
Um a infer ência lógica da t eor ia dem ocr át ica de Shapir o não é, pois, independent e da análise de com o difer ent es espaços públicos podem ser or denados t endo em vist a cer t os fins m inim alist as de pr ot ecção de int er esses. Essa é at é, j ulgo eu, um a das suas m aior es cont r ibuições, ao pr om over , por ex em plo, um a or denação est at al m ínim a daqueles, par t indo do pr essupost o de que os dir eit os e os dever es de oposição não se esgot am nos conflit os ou nas negociações pela igualização das assim et r ias m at er iais. Esses espaços públicos são inst r um ent os inst it ucionais essencias que dever ão ser sem pr e t idos em cont a nos pr ocessos de ident ificação e de int er r upção das hegem onias inr ent es a m uit as pr át icas m at er iais e sim bólicas.
Re fe r ê n cia s
FERREE, M. M., GAMSON, W., GERHARDS, J., RUCHT, D. 2002. “ Four Models of t he Public Spher e in Moder n Dem ocr acies.” Theory and Societ y 31: 289- 324.
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