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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE

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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE

João Lourenço Marques e-mail: joaomar@dao.ua.pt

José Manuel Martins e-mail: jmm@ua.pt Universidade de Aveiro Departamento de Ambiente e Ordenamento

3810 Aveiro

Tel: 234 370005 Fax: 234 429290 RESUMO

Em nome do desenvolvimento económico causaram-se grandes prejuízos ao planeta. Os modelos de desenvolvimento adoptados nem sempre levaram em conta o respeito pela natureza e a qualidade de vida das pessoas. Países mais ricos, que exerceram grande pressão sobre seus recursos naturais, agora o fazem sobre os recursos de países mais pobres utilizando, por vezes, tecnologias ambientalmente poluentes.

O esgotamento de recursos naturais, os efluentes gerados pelas empresas poluidoras (derivados dos seus processos produtivos) e a utilização de certos produtos pelo consumidor final são factores que constituem a ameaça ao equilíbrio ecológico. Apesar de serem feitos investimentos, quer na recuperação de recursos (reflorestamentos ou encontrando novos usos), quer na melhoria do seus processos produtivos (tecnologias ambientalmente mais limpas), quer ainda na restrição a usos descontrolados de formas de poluição (uso automóvel) para eliminar ou reduzir os resíduos, as alternativas ainda são satisfazem em pleno e não ganharam a adesão de importantes segmentos da população.

Atendendo às necessidades actuais, a confrontação das receitas e despesas dentro dos seus respectivos regimes de competência é fundamental, por forma a ter-se a percepção do lucro correcto de cada exercício social, e consequentemente dos passivos ambientais. Desta forma, os efeitos destas acções devem merecer tratamento contábil visando demonstrar o verdadeiro potencial económico.

A definição de indicadores, que meçam a sustentabilidade do desenvolvimento pode constituir um instrumento precioso para informar os processo de decisão e monitorizar trajectórias evolutivas das sociedades, permitindo diferenciar as práticas de desenvolvimento sustentáveis das insustentáveis.

Apoiado em vários estudos da vasta literatura sobre o tema, esta reflexão, pretende elaborar um inventário de elementos teóricos e metodológicos que informem análises coerentes e consistentes dos pressupostos, implicações e limitações do conceito de desenvolvimento sustentável e seus indicadores de medição.

Palavras Chaves: Desenvolvimento Sustentável e os Recursos Naturais, Desenvolvimento Económico Sustentável, Desenvolvimento Humano Sustentável, Globalização, Indicadores de Sustentabilidade.

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2.GLOBALIZAÇÃO E O CONJUNTO COMPLEXO DE INTERDEPENDÊNCIAS

Com a globalização da economia de mercado e com o objectivo de se tirar vantagens comparativas pela capacidade atractiva de investimento, novos desafios se colocaram à sociedade. O resultado desta mudança de paradigmas repercute-se em todas as vertentes da vida social, políticas e económicas. As próprias organizações confrontam-se com uma realidade pouco confortável e extremamente complexa, com mutações constantes e altos níveis de incerteza.

Figura 1. Interdependência da multidisciplinaridade

* Adaptado de The State of the Planet, Alexandre King Pergamon Inernational Library, Oxford, 1980.

Para ultrapassar a preocupação ecológica e chegar à sustentabilidade é necessário ter-se consciência deste conjunto complexo de interdependências globais e não pensar isoladamente a questão da sustentabilidade. Assim, um factor primordial das sociedades contemporâneas é o seu nível de interdependências, onde cada região deve ser compreendida na sua relação com as outras, a que alguns autores chamam ‘aldeia global’.

A sustentabilidade representa uma visão global do conceito de desenvolvimento, ou seja, uma estratégia que se articula com diversos níveis e que pode ser definido como uma forma de desenvolvimento não só económico mas também social, compreende várias problemáticas das quais são exemplo aquelas apresentadas na figura 1.

A este propósito, Lopes (1995) quando analisa algumas questões conceptuais do desenvolvimento regional, também considera o termo desenvolvimento na sua acepção mais ampla. Não o identifica com desenvolvimento económico e muito menos com crescimento, já que este é considerado como um meio, um instrumento, nunca um fim. Só o desenvolvimento é um fim. Refere que o desenvolvimento não pode ser considerado como um fenómeno puramente económico, impõe uma abordagem interdisciplinar, e não admite menosprezo dos aspectos qualitativos. Segundo o mesmo autor, o

desenvolvimento implica a irradiação da pobreza, a criação de oportunidades de emprego diversificadas, a redução de desigualdades de rendimento, entre outros aspectos. Desta forma, o desenvolvimento apresenta-se como um processo multidimensional a exigir abordagem interdisciplinar num quadro de interdependências.

Perante a realidade que nos é apresentada, e uma vez que o objectivo deste estudo se centra em indicadores de sustentabilidade, colocam-se algumas questões que são pertinentes. Como avaliar a auto-suficiência local, bem como sua dependência ao resto do planeta? Qual o melhor recorte territorial? Qualquer opção de escala de análise pode ser, em algum grau, arbitrária e mutilante. Cada unidade espacial é suporte de diversas actividades económicas e sociais, possuindo um conjunto complexo de recursos integrados, a outras unidades espaciais. Concordamos com Godard (1997) quando refere que “(…) a questão não reside em encontrar o bom recorte territorial, mas reconhecer que ele não existe e aceitar o caráter ad hoc do mesmo.”

É com esta consciência de complexidade que de deve abordar a questão de desenvolvimento sustentável.

As limitações são muitas, mas a necessidade de encontrar mecanismos de consciencialização, exige que essas barreira sejam ultrapassadas.

3.CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O conceito de desenvolvimento sustentável, sintetiza um problema de grande complexidade, no qual se tentam compatibilizar no mesmo espaço as exigências da economia e as razões do ambiente. Do ponto de vista conceptual, este conceito compreende um vasto leque de questões:

¾ dos problemas da alocação inter e intra- geracional dos recursos aos problemas da capacidade assimiladora de um determinado ecossistema,

¾ passando por aspectos de carácter mais metodológico, como sejam os patamares ecológicos críticos, a estocasticidade e a incerteza dos processos de controlo ambiental (Common et al, 1991).

¾ importa ainda considerar as questões referentes à justiça social e à ética ambiental (Engel et al, 1990).

A preocupação da comunidade internacional com os limites do desenvolvimento do planeta datam da década de 60, quando começaram as discussões sobre os riscos da degradação do meio ambiente. Tais discussões ganharam tanta intensidade que levaram a ONU a promover uma Conferência sobre o Meio

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Ambiente em Estocolmo (1972). No mesmo ano, Dennis Meadows e os investigadores do “Clube de Roma” publicaram o estudo ‘Limits to Growth’.

Concluía-se que, mantidos os níveis de industrialização, poluição, produção de alimentos e exploração dos recursos naturais, o limite de desenvolvimento do planeta seria atingido, no máximo, em 100 anos, provocando uma repentina diminuição da população mundial e da capacidade industrial. O estudo recorria ao neo-malthusianismo como solução para a iminente “catástrofe”.

No ano de 1987, a Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), presidida por Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid, apresentou um documento chamado ‘O nosso futuro comum’, mais conhecido por relatório Brundtland. O relatório diz que desenvolvimento sustentável é “(...) aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades”. Este conceito tem dois elementos essenciais:

¾ conceito de "necessidade", sobretudo as necessidades fundamentais dos seres humanos, que devem receber a máxima prioridade;

¾ a noção de limitação que o estágio da tecnologia e da organização social impõem ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras.

O desenvolvimento sustentável passaria a ser um estilo de desenvolvimento que tem como objectivo básico assegurar condições dignas de vida para as gerações actuais, combatendo desigualdades sócio- económicas e respeitando a diversidade cultural.

Deve ser baseado em padrões de produção e consumo que mantêm os stoks de recursos naturais e a qualidade ambiental, de forma a permitir que gerações futuras possam ter um padrão de vida igual ou superior à actual. Uma das características inovadoras do conceito de desenvolvimento sustentável é a visão holística que integra simultaneamente preocupações sociais, económicas e ambientais. Assim, o crescimento económico não é aceitável se se excluir o combate à pobreza e cuidados com a sustentabilidade ambiental. Ao mesmo tempo, não adianta concentrar esforços na protecção do meio ambiente, sem preocupação com as condições de vida da população humana. Em suma, as metas sociais, ecológicas e económicas não devem ser consideradas conflitantes, mas complementares entre si.

Em 1992, no Rio de Janeiro, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, reconheceu-se a importância de assumir a ideia de sustentabilidade em qualquer programa ou actividade de desenvolvimento,

alcançando o fim da pobreza, acrescida da preocupação em reduzir a poluição ambiental e o desperdício no uso dos recursos.

Resumindo o que foi dito anteriormente, pode-se analisar o conceito de desenvolvimento sustentável sob 3 vectores:

Figura 2. Relação tripartida do conceito de desenvolvimento

Esta relação deve ser realizada de maneira a ter-se sempre como meta os limites de cada um e as possibilidades de sustentabilidade entre ambos, não apenas restringindo-se ao momento ou ao local, mas sim ao futuro, e à escassez dos recursos. O meio deve ser visto como um grande sistema que não se esgota apenas em si mesmo, mas que reflecte num todo que é o nosso planeta.

Nesta perspectiva procura-se no próximo ponto, e de forma ilustrativa, analisar as problemáticas do desenvolvimento sustentável mediante aqueles 3 aspectos, ou seja:

¾ Meio ambiente - Desenvolvimento sustentável e recursos naturais;

¾ Sociedade - Desenvolvimento social sustentável

¾

Economia - Desenvolvimento económico sustentável.

3.1.Desenvolvimento Sustentável e os recursos naturais

Os conflitos e problemas ambientais derivam da redução na quantidade e qualidade do ambiente natural, isto é, da biosfera1 onde existe um equilíbrio entre fluxos contínuos de energia e reciclagem de matéria. Para se perceber melhor o porquê das preocupações ambientais, vejamos as funções principais que proporciona e desempenha a biosfera:

1. Fornece recursos para consumo directo, como para a produção de outros bens:

1 Entenda-se por biosfera a água, solo, atmosfera, flora, fauna, energia solar.

Meio ambiente Sociedade Economia

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¾ Recursos não renováveis;

¾ Recursos renováveis;

¾ Recursos contínuos (ar, sol).

2. Assimila resíduos naturais ou produzidos pelo homem e pelas suas actividades.

3. Fornecem vários serviços ambientais:

¾ Amenidades (consumo directo e consciente);

¾ Suporte de vida (seres vivos dependem dos processos de manutenção da biosfera, consumo inconsciente).

Estas funções tornam-se vitais para o próprio desenvolvimento social, pois sem elas as actividades económicas não funcionam.

Assim os problemas ambientais resultam:

¾ do esgotamento de recursos não renováveis (embora menos acelerado do que previa o relatório do Clube de Roma);

¾ da destruição ou degradação de recursos renováveis (que não é inevitável e está a ocorrer rapidamente);

¾ do aumento de concentrações de poluentes que, ao atingirem determinados níveis têm efeitos nocivos nos organismos vivos e ecossistemas (afectando eventualmente a saúde humana);

¾ perturbação n as amenidades, alteração no suporte de vida na capacidade de regeneração e do equilíbrio dos ecossistemas (áreas naturais, áreas de recreio, habitats).

Apesar do ambiente natural estar a ser degradado rapidamente em larga escala e em diversos sectores, não é objectivo dos decisores provocar intencionalmente a sua destruição.

Há quem argumente que os problemas ambientais são um acidente, resultantes de circunstâncias não intencionais do desenvolvimento industrial, da incapacidade do progresso tecnológico em ter em conta a questão ambiental, ou mesmo resultado da ignorância das suas consequências. Mas obviamente, esta é uma visão limitada face à extensão do problema.

As novas tecnologias têm sido capazes de resolver alguns problemas, por outro lado, apesar do conhecimento já disponível para controlar os problemas, as soluções não aparecem, ou seja, a contribuição das tecnologias na resolução de

problemas ambientais é importante mas não é suficiente2. Tem a ver com questões mais

‘metafísicas‘ como seja as forças de mercado (somas das partes das decisões individuais que determinam tendências globais) e o próprio contexto económico.

A redução da qualidade do ambiente é o resultado do comportamento arbitrário das forças de mercado e não por uma tomada de decisão globalmente planeada.

O funcionamento da economia (forças do mercado) incentivam ao crescimento da produção e consequente exploração de recursos. Aparentemente estas pressões deveriam ser suficientes para explicar a ocorrência da degradação ambiental, mas não explicam. A questão é que não existe uma ligação directa entre quem toma as decisões, quem provoca os danos ambientais e quem os sofre. Sabendo que a pressão para crescer economicamente aumenta a poluição, as coisas fazem-se na mesma.

Estes efeitos externos aos decisores leva a introduzir a esta discussão um outro conceito, externalidades, que se pode definir como “(…)efeito do comportamento de um agente económico sobre o bem estar de outro, com a particularidade desse efeito não se reflectir nas transacções monetárias ou de mercado.”3 Por outras palavras, verificam-se externalidades sempre que pessoas ou empresas imponham custos ou beneficios a outros, sem que estes recebam qualquer indeminização ou efectuem o devido pagamento. Grande parte dos problemas de poluição são externalidades negativas (deseconomias externas). Existem três tipos de externalidades, resultantes da existência de:

¾ Recursos comuns (ausência de bens de propriedade) - Existem publicamente para todos sem restrições, nenhum actor, individualmente quer que o esgotamento ocorra, mas o comportamento económico racional combina-se para produzir aquele resultado. Ex.: pesca nos oceanos.

¾ Bens públicos (não são divisíveis) - Impossibilidade de divisão em partes separadas. A utilização é livre e sem restrições por isso os custos de poluição recaem sobre todos. Ex.: ar.

¾ Gerações futuras (não se podem exprimir) - não podem expressar os seus interesses no mercado.

2 Basta reparar que, desde logo, o desenvolvimento da própria tecnologia depende de invenção, aplicação, escolha e financiamento, baseadas na racionalidade económica e financeira.

3 Samuelson et al, 1993.

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É com estes conceitos que empresas e consumidores têm dificuldade em ter em conta os efeitos globais das suas acções individuais.

3.2.DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO SUSTENTÁVEL

O crescimento económico depende directamente dos stoks dos recursos naturais que devem vir enquadradas nos limites da possibilidade ecológica dos ecossistemas e da sua capacidade de satisfazer as necessidades futuras.

Segundo Stuart L. Hart em Strategies for a Sustentainble World a economia global é formada pela sobreposição de três economias diferentes.

Economia de mercado

São actores da economia de mercado, países desenvolvidos e economias emergentes: é o conhecido mundo do comércio. Cerca de 1000 milhões de pessoas, um sexto da população mundial, vivem nos países desenvolvidos de economia de mercado. Estas sociedades ricas são responsáveis por mais de 75% do consumo de energia e recursos do mundo deixando grandes pegadas ecológicas (a quantidade de terra necessária para satisfazer as necessidades de um consumidor comum - conceito desenvolvido mais adiante).

Não obstante esta intensa utilização de energia e materiais, os níveis de poluição são relativamente baixos nas economias desenvolvidas. Segundo o mesmo autor, são três os factores responsáveis por este aparente paradoxo:

¾ Legislação reguladora

¾ Consciência ambiental condicionam actividades poluidoras;

¾ Localização das actividades mais poluentes nas economias de mercado emergentes.

Assim, até certo ponto, a actuação ecológica do mundo desenvolvido tem sido feita à custa do ambiente das economias emergentes.

Economia de sobrevivência

Consideram-se neste ponto, o tradicional modo de vida das zonas rurais da maioria dos países desenvolvidos. É formada por cerca de 3 mil milhões de pessoas (principalmente África, Índia e China)

orientadas para a subsistência e satisfação das suas necessidades básicas.

Face à rápida expansão da economia de mercado, a existência da economia de sobrevivência está a tornar-se cada vez mais precária. As indústrias extractivas e o desenvolvimento de infra-estruturas, em muitos casos, degradaram os ecossistemas dos quais a economia de sobrevivência depende.

À medida que se vai tornando cada vez mais difícil viver da terra, milhões de pessoas emigram para cidades já sobrepovoadas4 (aspecto aprofundado no ponto seguinte).

Economia da natureza

É formada pelos sistemas e recursos naturais que apoiam as economias de mercado e de sobrevivência.

Os recursos não renováveis (como petróleo, metais e outros minerais) são finitos. Os recursos renováveis (como solos e florestas) renovar-se-ão caso a sua utilização não exceda limites críticos. As inovações tecnológicas criaram substitutos para muitos recursos não renováveis, pelo que, nas economias desenvolvidas, a procura de alguns materiais

‘virgens’ poderá diminuir nas próximas décadas, devido a novos conceitos que vão vingando:

reutilização e reciclagem. Ironicamente, a maior ameaça ao desenvolvimento sustentável é o esgotamento dos recursos renováveis, devido ao crescimento populacional e desenvolvimento industrial.

Em resumo, a actividade humana encontra-se para além do limite da sustentabilidade à escala global.

Mostram-se resumidamente no seguinte quadro os problemas que ameaçam o planeta:

Quadro 1. - Problemas que ameaçam o planeta

Poluição Esgotamento dos recursos

Pobreza Economias

Desenvolvidas

Gases de estufa Contaminação do ar, da água e do solo

Escassez de materiais:água Reutilização e reciclagem insuficientes

Desemprego Marginalidade

Economias

emergentes Emissões industriais Contaminação das águas Falta de

Sobreexploração dos recursos renováveis Uso exaustivo de água para irrigação

Migração para as cidades Falta de trabalhadores qualificados

4 Estima-se que, na China, cerca de 120 milhões de pessoas andam de cidade em cidade, sem terra nem trabalho, tendo abandonado as suas aldeias devido ao desflorestamento, erosão dos solos, cheias ou secas. A nível mundial, o número de refugiados ambientais poderá atingir 500 milhões de pessoas.

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tratamento dos

esgotos Desigualdades

de rendimento Economias de

sobrevivência Falta de infra- estruturas Destruição do ecossistema

Desflorestação Sobrepastagem Perda de solos produtivos

Baixo estatuto da mulher Deslocação

Adaptado de Hart, 1997

3.3.DESENVOLVIMENTO SOCIAL SUSTENTÁVEL Desenvolvimento sustentável significa também melhoria das condições de existência dos povos.

Existe uma ausência geral de reconhecimento de que as pessoas são um fim em si do desenvolvimento.

Muitas sociedades, apesar da abundância de capital financeiro, têm sido incapazes de se desenvolverem.

Por muito tempo, a questão colocava-se em parâmetros meramente quantitativos, interessando apenas quanto era o volume de produção.

Crescentemente, a questão que agora se apresenta é muito mais ampla, discutindo-se muito, se as políticas de crescimento são consistentes com o desenvolvimento social.

A principal razão para essa mudança é o crescente reconhecimento de que o objectivo real do desenvolvimento é aumentar as opções das pessoas.

O capital é somente uma daquelas opções mas não é o somatório total da vida humana.

Baseado no livro "Reflexões sobre o Desenvolvimento Humano" (1995), de Mahbub ul Haq, existem quatro componentes essenciais no paradigma do desenvolvimento humano:

¾ sustentabilidade (oportunidades para gerações futuras);

¾ equidade (assente na igualdade de oportunidades para todos);

¾ produtividade (participação das pessoas no processo de desenvolvimento).

Tal paradigma considera o crescimento económico essencial mas enfatiza a necessidade de se prestar atenção à sua qualidade e distribuição. Embora o paradigma de desenvolvimento humano se firme sobre estes 3 pontos, ele cobre todos os aspectos do desenvolvimento, “(…) seja crescimento económico ou comércio internacional, sejam déficits orçamentais ou política fiscal, investimento ou tecnologia, serviços sociais básicos ou segurança.”5 A oportunidade das pessoas de exercerem o direito de escolha e o enriquecimento das suas vidas estão no centro deste paradigma.

A estrutura social vinculada ao desenvolvimento tecnológico passou a ser um factor limitante do

5 Mahbub ul Haq , 1995.

desenvolvimento sustentável, já que encaminhou as pessoas para um estilo de vida energeticamente mais dispendioso. As exigências associadas ao consumo per capita, criaram uma sociedade que está a gastar mais recursos do que é capaz de gerar de forma sustentável.

De acordo com o "World Resources Institute", embora entre 1860-1991 a população mundial tenha apenas quadruplicado, o consumo de energia inanimada (por excluir a energia animal) aumentou 93 vezes!

Estimativas mais optimistas, baseadas na tendência de declínio das taxas de fertilidade e no aumento da longevidade, é inevitável uma população em torno de 8 biliões para o próximo quarto de século. Mesmo com o controle severo do uso dos recursos naturais, não há certeza da possibilidade de distribuição mínima e justa destes recursos, diante de uma população mundial de tal dimensão.

As grandes cidades são polos de atrações para as multidões rurais que procuram a ilusão de uma melhor qualidade de vida. O mundo está diante da perspectiva de ter a maior parte da população a viver em cidades grandes, pobres, sujas e doentes.

Uma em cada três pessoas vive em cidades; no ano 2025, serão duas em cada três. Prevê-se que, nessa data, existirão mais de 30 megacidades com populações superiores a 8 milhões de pessoas e mais de 500 cidades com mais de 1 milhão de habitantes.

A urbanização nesta escala apresenta enormes desafios ambientais e infra-estruturais. O Banco Mundial estima que em 2010 existirão mais de 1000 milhões de veículos motorizados em todo o mundo.

Concentrados nas cidades, eles duplicarão os actuais níveis de utilização de energia e de emissões.

À medida que a população cresce e a tecnologia se desenvolve o homem altera e reforça a sua posição dominante sobre o meio ambiente. O que está em causa nesta capacidade do homem civilizado são os limites que ele mesmo deve impor para que o meio natural não seja destruído. Dado o actual desequilíbrio e fragilidade do meio ambiente, já não basta ter uma atitude passiva. O nível de destruição atingiu níveis de tal ordem que é necessário reconsiderar alguns modos de produção e de utlização.

A medição e quantificação dos prejuízos causados à comunidade biótica é uma necessidade premente, não só como forma de sensibilização mas também de instrumentos valioso de regulamentação.

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4.INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE

A introdução dos contextos espaciais e territoriais na discussão do desenvolvimento sustentável emerge como um factor essencial. De facto, sendo possível manter a sustentabilidade a uma escala global, desde que sejam controlados o crescimento da população e o consumo dos recursos, poderão existir áreas geográficas caracterizadas pela sua potencial insustentabilidade. As diferenças existentes em termos da distribuição geográfica dos recursos, associadas aos padrões diferenciados de desenvolvimento económico, deixam antever de forma clara a existência de espaços e de populações com menor sustentabilidade, esperando mais de uma mais justa redistribuição da riqueza global do que do aproveitamento de recursos próprios. O diferencial em termos de sustentabilidade está na origem dos fenómenos migratórios entre regiões menos e mais sustentáveis, fenómenos que, muitas vezes, contribuem para degradar áreas anteriormente sustentáveis.

Assim, sem um esforço concertado de promoção do desenvolvimento sustentável a uma escala local que tenha em conta os diferentes contextos sociais, económicos e culturais, as práticas insustentáveis poderão ser simplesmente transferidas para outros locais e exacerbadas (Moffatt, 1995). Uma das mais relevantes questões que se levantam diz respeito às formas de avaliação, (ex-ante, ex-post e durante), dos efeitos que, em termos de sustentabilidade, as estratégias e políticas resultantes desse esforço concertado exercem. Por outras palavras, a medição da sustentabilidade das trajectórias de desenvolvimento emerge como uma faceta de grande relevância na abordagem ao desenvolvimento sustentável.

A complexidade e largo espectro de implicações que caracteriza o desenvolvimento sustentável cria dificuldades de monta a qualquer tentativa de medição da sustentabilidade de uma determinada trajectória de desenvolvimento. As dificuldades que se levantam à introdução de uma métrica do desenvolvimento sustentável podem ser ilustradas pelo argumento de Thierstein et al (1997) quando estes associam aquele conceito a uma “ideia reguladora”, no sentido da filosofia Kantiana, do género de conceitos como a saúde, a liberdade, a justiça ou a beleza. Porém, apesar do reconhecimento de que o conceito de desenvolvimento sustentável é muito mais lato do que eventuais métricas que sejam usadas para o descrever, a definição de indicadores adequados à medição da sustentabilidade dos processos de desenvolvimento pode contribuir decisivamente para a eficácia das decisões e da construção de políticas.

Anderson (1991) defende que os indicadores para medir a sustentabilidade do desenvolvimento devem ser de fácil compreensão, dispor de forte carácter

informativo e propiciar análises comparativas entre diferentes espaços geográficos. Kuik et al (1991), por seu lado, argumentam que os indicadores devem contribuir para informar de forma eficaz o debate nos areópagos de decisão e no seio do público em geral e, ainda, os processos de impacto ambiental e de formulação de objectivos ambientais a nível nacional, regional e local.

A definição de indicadores pode ser considerada nos seus aspectos éticos e pragmáticos (Moffatt, 1995).

No seu aspecto ético, e para além das consequências do axioma segundo o qual todas as formas de vida devem ser respeitadas, os indicadores devem ter em conta a distribuição dos recursos nos contextos intra e inter-geracionais (como a definição corrente de desenvolvimento sustentável deixa facilmente antever). No seu aspecto pragmático, as métricas do desenvolvimento sustentável devem assumir-se como um guia relevante quer para a gestão de projectos e programas específicos, quer para a definição de estratégias de avaliação das trajectórias seguidas por economias e sistemas ecológicos nacionais e regionais (Moffatt, 1995).

Nas últimas duas décadas, têm sido em grande número e diferentes formas as tentativas de integrar o conceito de desenvolvimento sustentável nos processos de construção de políticas de desenvolvimento. Moffatt (1995) classifica os indicadores utilizados nestas tentativas segundo três tipos: - económicos, - ecológicos e - sócio-políticos, dando ainda conta de várias unidades de medida utilizadas (ver quadro seguinte).

Quadro 2. Métodos de medição da sustentabilidade do desenvolvimento

Método Unidades

Económico

PIB “verde” Monetária

Teórico Monetária

Contabilidade de recursos Energia/Monetária Sustentabilidade fraca Monetária

Sustentabilidade forte Monetária

Ecológico

Produção primária líquida Energia per capita Capacidade de carga Hectares per capita Pegada ecológica Hectares

Sócio-político

Composto Índices per capita

Adaptado de Moffatt (1995)

Quando a Eco 92, realizada no Rio, foi concluída, a humanidade foi desafiada a diminuir seu impacto sobre a Terra. Cinco anos depois, esse mesmo impacto mostra-nos um mundo com mais consumo,

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mais gastos, mais pessoas, mais pobreza, menos biodiversidade, menos florestas, menos água doce disponível e menos solo. Para administrá-lo, é necessário saber o quanto gastamos da natureza e o quanto há de disponível para cada um.

No capítulo seguinte, analisaremos com maior detalhe alguns indicadores e métodos de medição da sustentabilidade do desenvolvimento.

5.MÉTODOS DE MEDIÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Como foi referido anteriormente, o debate sobre o desenvolvimento sustentável tem permitido à construção de modelos que, embora numa base de tentativas, introduzem uma componente métrica na análise de trajectórias de desenvolvimento. Neste ponto, serão analisados alguns tipos de indicadores.

5.1.PIBVERDE

A principal referência sobre a base de qualquer economia é o Produto Interno Bruto (PIB), onde o capital físico (bens e serviços) funciona como o principal componente da riqueza produtiva de um país. No entanto, este índice não considera a quantidade e a qualidade dos recursos naturais e os seus serviços, o mesmo será dizer, que para os mercados financeiros, a natureza não tem valor. Mas, desde que o Banco Mundial aceitou a importância do capital natural para o cálculo do PIB, o conceito original passou a ser revisto. Assim, o novo índice devia reflectir, de forma adequada, a saúde económica de um país.

Acredita-se que, sem levar em consideração o papel fundamental da natureza para a produção de bens e serviços, o PIB não retractaria a verdadeira riqueza do país. Desta forma, economistas de todo o mundo e organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) defendem a criação do novo índice económico, que inclui o meio ambiente na economia. O PIB Verde expressaria então monetariamente os custos e benefícios para o meio ambiente das actividades económicas.

O PIB Verde ou PIB Real será um meio de medir o uso e o impacto do homem sobre a natureza. A consideração do PIB Verde, como argumenta Moffatt (1995), pode ser perspectivada como um contributo para avivar na memória dos promotores das actividades económicas o facto de que essas actividades dependem, em última instância, da base de recursos do planeta Terra.

Recentemente, um grupo de cientistas calculou pela

primeira vez o valor do capital natural do planeta, e concluiu que o valor económico da natureza seria o equivalente a quase o dobro do Produto Interno Bruto mundial. Em 1995, uma avaliação do Banco Mundial para 192 países concluiu que o capital físico corresponde, em média, a apenas 16% da riqueza total produzida por estas nações. Já o capital natural representa 20%. Mais importante é o capital humano, que chega a alcançar 64%. A predominância do capital humano é particularmente importante em países ricos. Na Alemanha, Suíça e Japão este ítem representa até 80% do capital total. Em alguns países da África, onde os recursos humanos estão poucos desenvolvidos, mais de metade da riqueza ainda corresponde aos recursos naturais.

A ideia é que os países passem a considerar o valor dos bens e serviços ambientais no cálculo dos seus respectivos PIB. O objectivo é criar o PIB Verde. O PIB Verde ajudaria os países a tomar decisões que proporcionariam crescimento económico sem danificar o meio ambiente. Outro ponto positivo é que a mudança no cálculo do PIB seria mais um instrumento de incentivo ao desenvolvimento sustentável.

5.2.SUSTENTABILIDADE FRACA E FORTE

Análises mais elaboradas foram desenvolvidas por autores como, por exemplo, Pearce, et al (1993).

Com base no paradigma neoclássico, estes autores propuseram medidas “fracas” e “fortes” para a sustentabilidade do desenvolvimento. As medidas

“fracas” pressupõem a perfeição da elasticidade de substituição entre capital natural e capital com origem na actividade humana (mantém intacta a quantidade total de capital). Segundo esta medida, uma economia, para ser sustentável, deve simplesmente igualar o valor da depreciação dos dois tipos de capital. Explicitando este pressuposto em termos matemáticos:

ls=

com

Is- índice de sustentabilidade “fraca”

S- poupança bruta Y- rendimento bruto

δM- depreciação do capital com origem humana

δN- depreciação do capital natural.

Os resultados da aplicação desta medida “fraca” de sustentabilidade a um conjunto de países do Mundo são apresentados no seguinte quadro:

S _ δM _ δN Y Y Y

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Quadro 3. Teste de sustentabilidade “fraca”

País e tipo de economia S/Y δM/Y δN/Y Is

Sustentável

Brasil 20 7 10 3

Costa Rica 26 3 8 15

Checoslováquia 30 10 7 13

Finlândia 28 15 2 11

Alemanha Federal 26 12 4 10

Hungria 26 10 5 11

Japão 33 14 2 17

Holanda 25 10 1 14

Polónia 30 11 3 16

EUA 18 12 3 3

Zimbabwe 24 10 5 9

Sustentabilidade marginal

México 24 12 12 0

Filipinas 15 11 4 0

Reino Unido 18 12 6 0

Insustentável

Burkina Faso 2 1 10 -9

Etiópia 3 1 9 -7

Indonésia 20 5 17 -2

Madagáscar 8 1 16 -9

Malawi 8 7 4 -3

Mali -4 4 6 -14

Nigéria 15 3 17 -5

Papua Nova Guiné 15 9 7 -1

Adaptado de Pierce et al (1993)

Estes resultados são claramente contrastantes com a realidade. A utilização de medidas “fracas” de sustentabilidade pode dar azo à colocação na categoria das economias sustentáveis de países com uma história de destruição sistemática de recursos naturais.

As medidas de sustentabilidade “forte” envolvem a identificação de um ponto crítico do capital natural, por forma a que qualquer depreciação positiva constitui um sinal de insustentabilidade (mantém intacta seja o capital natural seja aquele criado pelo homem). A definição deste tipo de medidas implica a conservação dos stocks de capital humano, da capacidade tecnológica, dos recursos ambientais e da qualidade do ambiente (Brekke, 1997).

5.3.PEGADA ECOLÓGICA

A nossa qualidade de vida depende do uso que fazemos da natureza. Mas como mensurar o uso humano da natureza? Durante muito tempo o homem não sabia como medir essa utilização, mas agora podemos prever o nosso impacto sobre o planeta, ou

seja o quanto de natureza cada país usa, o quanto de área biologicamente produtiva (capacidade ecológica) é explorado por ele - pegada ecológica (ecological footprint, no original).

A medida é feita por hectares, mas obviamente a

"pegada" não é um pedaço de terra, já que, devido ao comércio internacional, cidadãos de todo o mundo usufruem dos recursos naturais de outras nações. Através desse instrumento é possível descobrir quanto, em média, cada cidadão em determinado país utiliza dos recursos naturais disponíveis.

A pegada ecológica indica em que nível de consumo ambiental estamos agora, e até onde podemos ir, e mostra também a contribuição dos diversos países para o declínio ecológico global. E, o mais importante, fornece à sociedade um método para medir o uso humano da natureza em nível global e nacional. Com dados estatísticos, a "pegada ecológica" pode concretizar a sustentabilidade, antes um conceito abstracto e ainda um tanto confuso para a maioria dos povos.

No relatório ‘Pegadas Ecológicas das Nações’, publicado pelo Centro de Estudos para a Sustentabilidade, foram examinadas 52 nações que, juntas, reúnem 80% da população mundial e geram 95% do Produto Interno Bruto mundial.

Como se pode verificar pela tabela apresentada (quadro 4), os dados não são muito positivos. A média per capita da pegada ecológica da humanidade é 2,8 hectares de área ecologicamente produtiva no mundo, em contraste com o 2,1 hectare ideal. Alguns dados ajudam-nos a entender melhor tal quadro. Os homens utilizam 1/3 a mais do que a natureza pode regenerar, ou seja, a nossa "pegada" é 35% maior do que o espaço biologicamente produtivo de que dispomos. Em 1992, este déficit ecológico estava próximo de 25%. Os 10% adquiridos desde então demonstram os efeitos da rápida expansão humana.

Apenas 12 países do relatório apresentaram pegadas ecológicas menores do que o 2,1 hectare ideal. São países com boa capacidade ecológica, capazes de sustentar completamente os seus cidadãos com o mais alto nível de recursos, sem desgastar o meio ambiente ou se apropriar dos recursos de outras nações. Podemos medir essa capacidade ecológica subtraindo a sua "pegada" per capita com o espaço biologicamente produtivo disponível do país. Se a pegada ecológica excede essa área, estamos perante um déficit ecológico nacional. Nesse caso, a área do país não consegue proporcionar serviços ecológicos suficientes para satisfazer os padrões de consumo da população. O déficit representa a pressão ecológica de um país sobre a capacidade de seus recursos, representa o excesso humano e o crescimento autodestrutivo.

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Nos Estados Unidos, são necessários 10,3 hectares (1 hectare equivale sensivelmente à área de dois campos de futebol). Mais notório é o facto de que, se todo o mundo vivesse como os norte-americanos, seriam necessários três planetas Terra para satisfazer a actual população mundial.

Para se chegar à capacidade da utilização máxima da natureza para cada homem, os especialistas somaram as quantidades de áreas biologicamente produtivas disponíveis para cada pessoa. A conclusão é que cada indivíduo no planeta pode utilizar 1,7 hectare, que seria a quantidade ideal para prover as necessidades humanas sem desgastar o ambiente.

Um dos factores que preocupa os especialistas é o crescimento populacional, aliado à degradação ambiental. Quando a população mundial chegar a 10 biliões de indivíduos, o índice cairá de 1,7 hectare para 1 hectare, o que deve acontecer em pouco mais de 30 anos, de acordo com a taxa de crescimento demográfico actual.

Quadro 4. Pegada ecológica País Pegada

ecológica

Capacidade Disponível

Saldo Ecológico [ha/cap] [ha/cap] [ha/cap]

Argentina 3.9 4.6 0.7 Australia 9.0 14.0 5.0

Austria 4.1 3.1 -1.0

Bangladesh 0.5 0.3 -0.2

Bélgica 5.0 1.3 -3.7

Brasil 3.1 6.7 3.6

Canadá 7.7 9.6 1.9

Chile 2.5 3.2 0.7

China 1.2 0.8 -0.4

Colombia 2.0 4.1 2.1

Costa Rica 2.5 2.5 0.0

R. Checa 4.5 4.0 -0.5

Dinamarca 5.9 5.2 -0.7

Egipto 1.2 0.2 -1.0

Etiópia 0.8 0.5 -0.3

Finlandia 6.0 8.6 2.6

França 4.1 4.2 0.1

Alemanha 5.3 1.9 -3.4

Grécia 4.1 1.5 -2.6

Hong Kong 6.1 0.0 -6.1

Hungria 3.1 2.1 -1.0

Iceland 7.4 21.7 14.3

India 0.8 0.5 -0.3

Indonesia 1.4 2.6 1.2 Irlanda 5.9 6.5 0.6

Israel 3.4 0.3 -3.1

Itália 4.2 1.3 -2.9

Japão 4.3 0.9 -3.4

Coreia 3.4 0.5 -2.9

Malásia 3.3 3.7 0.4

México 2.6 1.4 -1.2 Holanda 5.3 1.7 -3.6 N. Zelândia 7.6 20.4 12.8

Nigéria 1.5 0.6 -0.9 Noruega 6.2 6.3 0.1 Paquistão 0.8 0.5 -0.3

Perú 1.6 7.7 6.1

Filipinas 1.5 0.9 -0.6 Polónia 4.1 2.0 -2.1 Portugal 3.8 2.9 -0.9

Rússia 6.0 3.7 -2.3

Singapora 7.2 0.1 -7.1 África do Sul 3.2 1.3 -1.9

Espanha 3.8 2.2 -1.6

Suécia 5.9 7.0 1.1

Suiça 5.0 1.8 -3.2

Tailândia 2.8 1.2 -1.6 Turquia 2.1 1.3 -0.8

Reino Unido 5.2 1.7 -3.5

EUA 10.3 6.7 -3.6

Venezuela 3.8 2.7 -1.1

Total 2.8 2.1 -0.7

The footprints of nations study

5.4.PRODUÇÃO PRIMÁRIA LÍQUIDA E CAPACIDADE DE CARGA

A ainda escassa compreensão do funcionamento de muitos ecossistemas e as dificuldades que rodeiam a construção de modelos de interacção entre a economia e a ecologia, limitam a eficácia dos modelos ecológicos de medição da sustentabilidade do desenvolvimento. No entanto, podem identificar- se indicadores que contribuem para assegurar uma métrica relativamente relevante. É o caso da produção primária líquida e da capacidade de carga.

A estimação da produção primária líquida, associada ao cálculo do montante dessa produção que é apropriada pelo Homem, constitui uma importante medida de sustentabilidade ecológica.

A determinação da capacidade de carga de um determinado espaço geográfico pode ser considerada como um modo tradicional de medir a sustentabilidade ecológica. A capacidade de carga é usualmente definida como a quantidade máxima de uma população de uma determinada espécie que um dado espaço pode suportar sem que o futuro dessa espécie seja posto em risco (Moffatt, 1995). Esta definição levanta alguns problemas quando é introduzida uma dimensão social, dada a impossibilidade de nela integrar as disparidades entre custos privados e sociais e a incerteza dos processos de decisão.

A uma escala global, a produção primária bruta e a capacidade de carga podem ser combinadas (Vitousek et al, 1986). Neste caso, define-se a produção primária bruta como a quantidade de

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energia que resta depois de subtrair a respiração dos produtores primários (na sua maioria plantas) da quantidade total de energia (solar) que é biologicamente fixada. Uma das principais conclusões do estudo realizado por Vitousek et al (1986) aponta para a insustentabilidade dos actuais padrões de exploração, distribuição e consumo num cenário de crescimento acentuado da população.

5.5.ESTUDOS SÓCIO-POLÍTICOS

A definição de indicadores sócio-políticos de desenvolvimento tem já uma longa história, como se pode constatar através do grande número de estudos realizados, ao longo dos anos, sobre as diferenças existentes entre países no que respeita às condições de vida físicas e sociais. As tendências recentes que se verificam na elaboração deste tipo de estudos apontam claramente para uma crescente integração de aspectos sociais, económicos e ambientais.

O trabalho de Daly e Cobb (1989) pode ser usado como exemplo deste tipo de estudos. Aqueles autores construíram um indicador da sustentabilidade do desenvolvimento com base nos custos associados ao uso dos recursos e à poluição. Designado por ISEW- Index of Sustainable Economic Welfare, o índice de sustentabilidade resultante do método de Daly e Cobb é calculado através da expressão:

ISEW = C + nDef – Def + Fc – Cd – δN onde

C- consumo individual

nDef- despesas não associadas à protecção do ambiente

Def- despesas associadas à protecção do ambiente

Fc- formação de capital

Cd- custos da degradação ambiental δN- depreciação do capital natural.

Aplicado aos Estados Unidos da América, no período entre 1956 e 1986, o índice ISEW indica que, apesar do aumento do produto interno bruto per capita, o índice tende a estabilizar nos 5 mil dólares entre 1976 e 1980, decrescendo entre 1980 e 1986. Estes resultados indicam que, a partir de 1980, a trajectória da economia norte-americana deixou de poder ser considerada como sustentável. É evidente que as fragilidades que se podem associar ao modelo implicam que esta conclusão deva ser tratada com algum cuidado.

A introdução de variáveis de carácter sócio-político na métrica da sustentabilidade do desenvolvimento é, sem dúvida, uma questão delicada e difícil. No entanto, como Moffatt (1995) argumenta, a exploração de trajectórias de desenvolvimento sustentável numa região, numa nação ou a uma escala

global, exige que as vertentes sociais e políticas sejam tomadas em consideração.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como o nome indica, um indicador refere-se a uma medida indirecta ou imperfeita. Indicadores são, portanto, instrumentos limitados porque reflectem aspectos parciais da incomensurável realidade, que no entanto podem constituir um precioso instrumento para tomadas de decisão e monitorização de trajectórias evolutiva das sociedades. Tem-se estes problemas com todos os sistemas complexos. A incapacidade de conseguir uma medida perfeita não deve ser considerado portanto um obstáculo.

Pode dizer-se que os indicadores métricos do desenvolvimento sustentável apresentam, simultaneamente, características reactivas e pro- activas em termos de gestão ambiental, isto porque, tanto podem ser utilizados para aquilatar da sustentabilidade de uma determinada estratégia de desenvolvimento como podem ser utilizados como um guia para controlar, monitorizar e alterar uma trajectória não sustentável num determinado espaço geográfico.

Medir a sustentabilidade do desenvolvimento pode contribuir de forma decisiva para a transparência e eficácia dos processos de decisão, assim como para monitorizar o comportamento de uma multiplicidade de variáveis que caracterizam os sistemas naturais, sociais e económicos. Contudo, este debate está longe da exaustão e, devido à complexidade e implicações do conceito, ainda não foi assegurado um consenso quanto à forma de implementação de uma trajectória de desenvolvimento sustentável.

Se há um consenso generalizado quanto à importância de uma métrica capaz de avaliar e prever trajectórias de evolução da sociedade, o mesmo não se poderá dizer das metodologias e dos tipos de indicadores a utilizar. A complexidade e amplitude do conceito de desenvolvimento sustentável não deixa antever uma solução consensual fácil.

Neste contexto, a construção de um corpo teórico forte e de um conjunto de indicadores revestidos de utilidade empírica deve assumir-se como uma prioridade da actividade científica em torno do desenvolvimento sustentável.

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http://iisd1.iisd.ca/ - International Institute for Sustainable Development (IISD)

http://www.ulb.ac.be/ceese/sustvl.html - The WWW

(13)

Virtual Library: acesso a inúmeros outros sites sobre Desenvolvimento Sustentável.

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