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A liminar foi indeferida (fl. 256).

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Comarca de Divinópolis/MG – Vara de Fazenda Pública Autos nº 0223 13 008772-7

Sentença

Trata-se de ação ordinária ajuizada por Leonardo Moreira Pio e Fabiane Faria Gomes em desfavor do Estado de Minas Gerais afirmando, em síntese, que ocupam, respectivamente, os cargos de delegado e escrivã da Polícia Civil, trabalhando frequentemente em regime de plantões, mas não recebem adicional de horas extras de trabalho e tampouco adicional noturno, o que viola as regras constitucionais e legais pertinentes. Pedem, inclusive liminarmente, a condenação do réu à obrigação de pagar-lhes os citados benefícios com seus reflexos sobre outras verbas, além de quantia equivalente aos retroativos, observada a prescrição. A inicial (fls. 2/12) foi instruída com os documentos de fls. 13/255.

A liminar foi indeferida (fl. 256).

O réu foi citado e apresentou resposta na forma de contestação alegando, resumidamente, que os cargos ocupados pelos autores demandam o desempenho das respectivas funções em horários e condições diferenciados, em regime de dedicação integral, nos termos da legislação específica, o que é incompatível com os benefícios pleiteados; que a legislação estadual previa o adicional pelo regime de trabalho policial civil, o qual foi incorporado na nova remuneração das respectivas carreiras; e que os autores podem compensar os horários de trabalho noturno e extraordinário, de forma que o pagamento dos benefícios implicaria em dupla vantagem (fls. 274/284).

Os autores impugnaram a contestação (fls. 286/292).

Foi produzida prova oral (fls. 305/307).

As partes apresentaram memoriais, ratificando seus argumentos e tecendo considerações sobre as provas (fls. 309/315).

É o relatório. Decide-se.

Com todo respeito, os pedidos serão julgados improcedentes.

A carreira dos cargos ocupados pelos autores, integrantes dos quadros da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, era regulada integralmente pela Lei estadual nº 5.406, de 16 de dezembro de 1969, que dispunha em seu arts. 124, 126 e 127, in verbis:

“Art. 124 – Os ocupantes de cargos de natureza estritamente policial, mencionados no artigo 59 e os de cargos de chefia ou direção assim considerados nos termos do artigo 60, sujeitam-se ao expediente normal das repartições públicas estaduais e ao regime do trabalho policial civil, que se caracteriza:

I – pela prestação de serviço em condições adversas de segurança, com risco de vida, cumprimento de horários normais e irregulares, sujeito a plantões noturnos e a chamados a qualquer hora e dia, inclusive nos dias de dispensa do trabalho;

II – pela realização de diligências policiais em qualquer região do Estado ou fora dele.

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Art. 126 - Vencimento é a retribuição pecuniária correspondente ao valor fixado em lei para o nível ou símbolo do cargo exercido.

Art. 127 - O ocupante de cargo de natureza estritamente policial somente poderá auferir as seguintes vantagens:

I - adicional pelo regime de trabalho policial civil;

II - adicionais por tempo de serviço;

III - gratificação a título de:

a) magistério em curso de treinamento ou outro curso regularmente instituído na Academia de Polícia Civil de Minas Gerais;

b) trabalho técnico-científico, não decorrente das atribuições normais do cargo;

c) participação em banca examinadora de concurso;

d) ajuda de custo;

e) diárias;

f) participação em órgão de deliberação coletiva;

g) exercício de cargo de chefia ou direção;

h) gratificação por risco de contágio, nos termos da legislação própria;

i) gratificação de gabinete;

j) gratificação de tempo integral.

Parágrafo único - Com exceção dos adicionais por tempo de serviço das gratificações a título de ajuda de custo e a título de exercício de cargo de chefia, esta quando fixada em lei, as demais vantagens pecuniárias serão concedidas nos termos do regulamento.”

Os dispositivos legais transcritos foram revogados pela LC estadual nº 129, de 8/11/2013, que disciplinou a matéria em seu art. 58:

“Art. 58. Os ocupantes de cargos das carreiras policiais civis sujeitam-se ao regime do trabalho policial civil, que se caracteriza:

I - pela prestação de serviço em condições adversas de segurança, cumprimento de jornadas normais e excepcionais, sujeito a plantões noturnos e a convocações a qualquer hora e dia, inclusive durante o repouso semanal e férias, garantidas, em caso de se exceder a carga horária prevista em lei, as compensações devidas;

II - pelo dever de imediata atuação, sempre que presenciar a prática de infração penal, independentemente da carga horária semanal de trabalho, do repouso semanal e férias, respeitadas as normas técnicas de segurança;

III - pela realização de diligências policiais em qualquer região do Estado ou fora dele.

§ 1º Na hipótese do inciso II do caput, diante da impossibilidade de atuação decorrente de condições adversas, por exposição a risco desproporcional à incolumidade do policial civil ou de terceiros, deverá aquele acionar apoio para o atendimento do evento.

§ 2º A prestação de serviço em regime de plantão implica:

I - no efetivo exercício das funções do cargo ocupado pelo policial civil em atividades de competência da PCMG;

II - no prévio aviso a respeito da escala de plantão que deve ser cumprida pelo policial civil;

III - no descanso, imediato e subsequente, pelo período mínimo de doze horas;

IV - no cumprimento de carga horária semanal de trabalho de quarenta horas;

V - compensação financeira ou em dias de folga, nos termos de lei específica a ser encaminhada à Assembleia Legislativa.”

Como se vê, a norma estadual mais recente prevê a compensação financeira ou em dias de folga pelo serviço no regime de plantão, nos termos de lei específica a ser encaminhada à Assembleia Legislativa.

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Destarte, a partir de 8 de novembro de 2013, data da vigência da LC estadual nº 129, parece claro que o reconhecimento do direito dos autores depende de previsão legal ainda inexistente, o que impede o acolhimento do pedido nesse pormenor.

Quanto ao período anterior, data maxima venia, tem-se que os pagamentos almejados não são devidos.

Como visto dos dispositivos da Lei estadual nº 5.406/69, os benefícios remuneratórios inerentes à Polícia Civil são aqueles neles previstos taxativamente, dentre os quais não se incluem as verbas pleiteadas pelos autores.

Registre-se que a legislação estadual previa adicional pelo regime de trabalho policial civil e gratificação de tempo integral, mas eles foram incorporados na nova remuneração dos respectivos cargos pela Lei Delegada nº 45/2000, conforme detalhado pelo réu em sua contestação.

Esta medida já foi chancelada pelo colendo STF em caso similar.

Confira-se a ementa do acórdão:

“EMENTA Gratificação especial de trabalho policial. Adicional noturno. art. 7º, IX, da Constituição Federal. 1. Não malfere o disposto no artigo 7º, IX, da Constituição Federal a interpretação oferecida pelas instâncias ordinárias que consideraram que a gratificação chamada Regime Especial de Trabalho Policial - RETP, como expressamente previsto na legislação de regência, alcança o trabalho em horário irregular, incluído o regime de plantões noturno.

Interpretação em outra direção conflita com o disposto no artigo 39, XIV, da Constituição Federal. 2. Recurso extraordinário desprovido.” (STF, RE 185312/SP; DJe 30/5/2008; disponível no site www.stf.jus.br; acesso no dia 25/9/2014).

Não obstante a fundamentação acima, o pagamento de horas extraordinárias de trabalho, com o respectivo adicional, é incompatível com o regime de trabalho policial civil, previsto no art. 124 da Lei estadual nº 5.406/69 e no art. 58 da LC estadual nº 129/13, transcrito acima.

Noutras palavras, o pagamento de horas extras de trabalho não se harmoniza com o sistema de trabalho em tempo integral, como é o regime policial civil.

Ademais, os autores podem compensar as horas extraordinárias de trabalho com descansos posteriores, conforme comprovado pela prova oral (fls. 305/307), o que também inviabiliza o pagamento almejado.

Nesse sentido, colhe-se da jurisprudência do STJ:

“RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PAGAMENTO DE HORAS EXTRAS. AGENTES DA POLÍCIA CIVIL DE LONDRINA/PR.

ATIVIDADE ESPECIAL SUJEITA A REGIME DE ESCALAS E PLANTÕES.

GRATIFICAÇÃO ESPECÍFICA QUE RETRIBUI EVENTUAL IRREGULARIDADE DE HORÁRIOS. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. NÃO DEMONSTRADO. 1. A limitação da jornada de trabalho imposta pela Constituição Federal de 1988 deve ser considerada como medida garantidora da saúde do trabalhador, na forma do art. 7.º, inciso XVI; direito este extensível

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previsão constitucional de limitação da jornada de trabalho, com o pagamento adicional para as horas extras, não exclui a possibilidade de a legislação infraconstitucional estabelecer regime próprio de cumprimento de jornada, em razão da natureza do serviço e das peculiaridades da função desenvolvida pelo servidor. 3. O art. 274 da Lei Complementar Estadual n.º 14/82, alterado pela Lei Complementar Estadual n.º 35, de 24 de dezembro de 1986, estabeleceu regime especial de trabalho, em face da natureza peculiar da função policial e da necessidade de implementação de plantões para garantir o caráter ininterrupto do serviço prestado. Precedente. 4. Os documentos relativos à escala de serviço da Delegacia de Jaguapitã (fl. 27) e à escala de reforço de plantão da Subdivisão Policial de Londrina (fl. 31), não demonstram cabalmente a ausência de compensação de horários entre os meses de maio e junho do ano de 2003 que justifique o pagamento de horas extras. 5. Recurso ordinário desprovido.” (STJ, RMS 18399/PR; DJe 30/11/2009; disponível no site www.stj.jus.br; acesso no dia 24 de setembro de 2014).

Igualmente, não se pode condenar o réu a pagar adicional noturno aos autores.

De fato, prevê o art. 12 da Lei estadual nº 10.745, de 25 de maio de 1992:

“Art. 12 - O serviço noturno, prestado em horário compreendido entre as 22 (vinte e duas) horas de um dia e as 5 (cinco) horas do dia seguinte, será remunerado com o valor-hora normal de trabalho acrescido de 20% (vinte por cento), nos termos de regulamento.”

Ocorre, porém, que o regulamento exigido pela norma não foi editado, pelo que consta dos autos, o que impede a concretização do direito.

Ademais, na linha da fundamentação acima, parece evidente que o pagamento de adicional noturno é incompatível com o regime integral de trabalho policial civil, previsto no art. 124 da Lei estadual nº 5.406/69 e no art.

58 da LC estadual nº 129/13, transcritos acima.

Não se pode olvidar, também, que os autores são remunerados pelo serviço noturno prestado, porque recebem gratificação por tempo integral e o adicional pelo regime de trabalho policial civil, incorporados aos seus vencimentos pela Lei Delegada 45/2000, conforme especificado pelo réu na contestação.

É inegável a relevância do trabalho prestado à sociedade pelos autores em regimes de plantões, inclusive noturnos. Porém, é certo que eles conheciam tais exigências dos respectivos cargos quando neles tomaram posse. Outrossim, conheciam os respectivos sistemas remuneratórios e a eles aderiram, de modo que concordaram com as remunerações oferecidas pelo Estado de Minas Gerais.

Consequentemente, não há como alterar a forma de remuneração dos cargos ocupados pelos autores.

Ante o exposto, julgam-se improcedentes os pedidos.

Devido à sucumbência os autores são condenados, pro rata, ao pagamento das custas e honorários advocatícios, estes arbitrados em R$

800,00 (oitocentos reais), considerando o grau de zelo do profissional, o lugar

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de prestação do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço, mas não olvidando que não houve condenação, nos termos do art. 20, §§ 3º e 4º, do CPC. O pagamento destas verbas, porém, ficará suspenso na forma do art. 12 da Lei nº 1.060, de 5/2/1950, porque foi deferida a justiça gratuita aos autores (fl. 256).

P. R. I. C.

Divinópolis/MG, 25 de setembro de 2014.

Núbio de Oliveira Parreiras Juiz de Direito

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