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PRODUÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS, AROMÁTICAS E CONDIMENTARES:

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PRODUÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS, AROMÁTICAS E CONDIMENTARES: Resgate cultural, viabilidade técnica, econômica e comercial nas

áreas de assentamento de reforma agrária da região norte de Santa Catarina.

Introdução

A região Norte Catarinense caracteriza-se por ter um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano – IDH1 de Santa Catarina (ATLAS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO/PNUD, 2000). Nessa situação encontram-se 704 famílias assentadas pelo processo de reforma agrária e mais 400 famílias acampadas em áreas ocupadas, pouco assistidas pelos serviços de educação e saúde, créditos para produção, acesso a beneficiamento e comercialização de seus produtos.

As famílias assentadas da região, em sua maioria, vivem em condições de baixo desenvolvimento produtivo, herança da utilização predatória dos recursos naturais anterior à ocupação. Localizados em áreas de difícil acesso, distantes de serviços básicos de saúde, educação, cultura, entre outros, circunstâncias que dificultam sua reprodução social a partir da produção de alimentos, o que as levam ao cultivo de fumo em processo de integração.

Aparentemente a integração possibilitou a manutenção dessas famílias no campo, garantindo a compra de toda produção e o pagamento feito em parcela única com rendimentos financeiros maiores que com outros produtos (PAULILO, 1990). Entretanto, as exigências produtivas das empresas fumageiras gradativamente aprisionaram os camponeses e camponesas ao cultivo de fumo, através dos contratos, financiamentos, entre outros.

Esse contexto levou a direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST da região a buscar alternativas para esses assentamentos. Através de estratégias de desenvolvimento para as áreas de reforma agrária internas ao próprio MST, foi percebida, entre outras estratégias produtivas, a importância de fomentar a cadeia produtiva das plantas medicinais, aromáticas e condimentares – PMACs (CORREA, 2007), favorecendo concomitantemente a saúde, geração de renda, resgate cultural, entre outros benefícios para essas famílias.

Entendendo a necessidade de fazer um estudo mais aprofundado no tema, para então assumir essa estratégia como política real de desenvolvimento regional, firmou-se uma parceria entre MST, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA-SC e Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC através do Laboratório de Educação do Campo e Estudos da Reforma Agrária – LECERA e Núcleo de Extensão e Pesquisa em Educação Popular e Saúde – NEPEPS, com o intuito de avaliar os limites e possibilidades da cadeia produtiva de PMACs para o Norte Catarinense.

A partir de então, se pensou e construiu conjuntamente o projeto: Produção e industrialização de plantas medicinais: Resgate cultural e viabilidade técnica, econômica e comercial nas áreas de assentamentos de reforma agrária do norte de Santa Catarina, aprovado em 2007 pelo edital Universal do CNPq, com vigência de dois anos, estando em andamento.

Esse projeto está calcado em dois vieses: produção e saúde, explicitado no seu objetivo geral: “Investigar as possibilidades de produção e industrialização de plantas medicinais com duplo objetivo: promoção de saúde e geração de trabalho e renda em áreas de assentamento de reforma agrária”. No entanto, estende-se a outros fatores que contribuem para melhoria da qualidade de vida, como resgate e empoderamento da cultura tradicional e camponesa, valorização do trabalho feminino e do idoso, policultivos, além dos benefícios

1 É uma medida comparativa que engloba três dimensões: riqueza, educação e esperança média de vida. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem-estar de uma população. O índice foi desenvolvido em 1990 pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq, e vem sendo usado desde 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no seu relatório anual (ATLAS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO/PNUD, 2000).

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ambientais, já que a produção de PMACs exige, invariavelmente, um sistema de produção limpo2. O trabalho com PMACs também favorece uma maior clareza política das famílias assentadas em diversas dimensões, entre elas o enfrentamento ao domínio das indústrias farmacêuticas e agroquímicas transnacionais, muitas vezes sendo o mesmo grupo detentor de empresas em ambos os ramos industriais.

Com este propósito a investigação confluiu quatro campos do conhecimento: a farmacologia, a pedagogia, a economia e a agroecologia.

No campo da farmacologia pretendeu-se fazer o levantamento das “plantas terapêuticas chave”, tanto aquelas destinadas a ações de promoção de saúde, curativas e preventivas, quando aquelas espécies com potencial econômico, destinadas ao beneficiamento/industrialização e comercialização.

Na área da pedagogia a intenção foi realizar, ao longo dos primeiro ano de execução do projeto, um trabalho educativo junto às 704 famílias assentadas na região, tendo em vista inculcar no plano da cultura a revalorização do cultivo e do uso de plantas terapêuticas.

Em termos econômicos pretendeu-se determinar quais destas plantas possibilitam a geração de trabalho e renda para as famílias, já que se pretende fazer um estudo criterioso das possibilidades de comercialização destes produtos após serem beneficiados e/ou industrializados.

Tudo isto levando em consideração todo o acúmulo científico disponível pela agroecologia que parte do pressuposto de uma agricultura ambientalmente e socialmente sustentável, com o mínimo de agressão ao meio ambiente.

A relação com as plantas foi uma das propulsoras do desenvolvimento das sociedades humanas, obtendo alimento e abrigo. A observação colaborou para o descobrimento de outras utilidades das plantas, como a magia e a cura. Muito conhecimento foi milenarmente acumulado em torno das PMACs, mas com a mudança paradigmática desencadeada pela Modernidade, esse conhecimento tornou-se gradativamente marginalizado e esquecido, substituído pelo conhecimento científico, vinculado à produção de medicamentos sintéticos.

O setor farmacêutico atua ativamente no desenvolvimento de pesquisas, de novas tecnologias, influencia na economia mundial por meio da sua extensa rede de relações geradas em sua cadeia produtiva. Todavia, nos países em desenvolvimento ou com economia de transição, grande parte da população – intensamente a população rural, não tem acesso à assistência farmacêutica convencional. Para essas pessoas, a alternativa mais utilizada ainda são as PMACs.

Semeando a Idéia

A preocupação em relação às dificuldades produtivas e conseqüentemente financeiras das famílias assentadas da Brigada Alzemiro de Oliveira3, localizada na região Norte do Estado de Santa Catarina, levou a direção do MST da região a buscar alternativas para essa situação.

2 Entende-se, neste trabalho, como sistema de produção limpa, aquela baseada nos princípios agroecológicos, que buscam a sustentabilidade nas dimensões humanas, éticas, políticas, sociais, técnicas, administrativas, ambientais, energéticas e holísticas.

3 Brigadas são unidades territoriais do MST, compostas por um conjunto de assentamentos que totalizam aproximadamente 500 famílias. A definição e organização por brigadas vêm sendo adotada desde o ano de 2005, em substituição à organização por regionais, que não limitava o número de famílias abrangidas, a fim de garantir um melhor funcionamento da organização interna e desenvolvimento das comunidades de assentamentos (PEREIRA, 2008). A Brigada Alzemiro de Oliveira compreende áreas de reforma agrária nos municípios de Irineópolis, Mafra, Papanduva, Santa Terezinha, Itaiópolis, Rio Negrinho, Garuva e Araquari.

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Figuras 1 e 2: Mapas do Brasil e Santa Catarina, respectivamente. Indicação da abrangência da Brigada Alzemiro de Oliveira:

Fonte: Adaptado de: http://www.sul-sc.com.br/afolha/cidades/image/mapasc.htm.

Nesse sentido, a direção do MST procurou a UFSC, mais especificamente o LECERA, para desenvolver pesquisa junto aos assentamentos da região, visando uma análise da viabilidade, em suas diversas dimensões, da cadeia de PMACs. Contatou-se o NEPEPS, núcleo de estudos da UFSC, já conhecido do MST por trabalhos anteriores em outros assentamentos do Estado, para contribuir conjuntamente na elaboração e execução do referido projeto de pesquisa sobre PMACs no Norte do Estado.

Como metas, o projeto previu:

- Resgate da cultura popular no que se refere à utilização de plantas medicinais;

- Promoção de ações de saúde popular com atenção especial para prevenção de doenças;

- Estimulo à progressiva e segura substituição de medicamentos alopáticos por fitoterápicos;

- Implantação de unidades de produção de plantas medicinais em quatro assentamentos de reforma agrária, estrategicamente distribuídas na região norte do Estado de Santa Catarina;

- Aquisição de equipamentos para quatro unidades processadoras/secadoras de plantas medicinais;

- Envolvimento de 400 (quatrocentas) famílias assentadas nas ações pedagógicas;

- Promoção de geração de renda e ocupação direta para 80 famílias assentadas

- Publicação dos resultados deste projeto em congressos e artigos em revistas científicas afins;

- Promoção da interdisciplinaridade na universidade – ações conjuntas entre centros de especialidades diferentes;

- Geração de resultados aplicáveis a outras regiões do estado ou país na implantação do processo produtivo de plantas medicinais.

Para realização das metas, estabeleceram-se diagnósticos e caracterização específica da produção e uso de plantas medicinais, ferramentas de métodos de pesquisa qualitativa, pesquisa bibliográfica e levantamento de dados secundários, visita a unidades de produção e processamento de plantas medicinais, contato com pesquisadores e especialistas.

O mapeamento de plantas e os estudos de viabilidade econômica integraram atividades de pesquisa com as atividades pedagógicas previstas para sensibilização das comunidades.

Assim, aplicaram-se ferramentas de pesquisa-ação para levantamento de parte dos dados primários.

A abordagem pedagógica no contato com as comunidades abrangidas pela pesquisa realizou-se através de oficinas de plantio, preparo e uso de plantas medicinais, através do aporte metodológico desenvolvido por Paulo Freire. Para atingir o número de famílias contidas nas metas, optou-se pela formação de Agentes Comunitários de Saúde

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multiplicadores das atividades do projeto nas áreas de assentamentos e acampamentos envolvidas.

Na pesquisa mercadológica realizou-se uma enquete a campo destinada a identificar as variedades de plantas medicinais com maior potencial mercadológico. Após esta seleção realizou-se o levantamento dos custos de produção, bem como a análise econômica que contendo os instrumentos: Índice de Rentabilidade, Taxa Média de Retorno, Período de Retorno do Investimento.

A partir da aprovação do projeto pelo CNPq, iniciou-se a construção participativa da execução do projeto. Houve reuniões de trabalho nas quais participaram lideranças do MST, representantes do INCRA e professores e alunos tanto de graduação quanto de pós-graduação vinculados ao LECERA e NEPEPS da UFSC.

Germinando e desenvolvendo o projeto - Os Encontros

Para início das oficinas e trabalhos a campo, foi necessário fazer um reconhecimento prévio por parte dos integrantes da Universidade nas comunidades envolvidas no projeto.

Assim, o que ficou conhecido como “Visita Prévia” aconteceu entre os dias 15 a 17 de maio de 2008, e foram visitados cinco assentamentos da região. O projeto enquadra 11 assentamentos da região, mas devido à distância entre eles, não foi possível visitar a todos4. Os assentamentos visitados foram: Domingos de Carvalho e Vassoura Branca, município de Rio Negrinho; Norilda da Cruz, município de Papanduva; Conquista do Litoral, em Garuva; e Justino Draszewyski em Araquari. Desses cinco assentamentos, três receberam as unidades de secagem e beneficiamento de PMACs. Entre os não visitados encontrava-se o Assentamento 25 de Maio, em Santa Terezinha que recebeu a quarta unidade (o assentamento dista 36 km de estrada de chão em condições precárias e mais 120 km de estrada asfaltada para chegar a Rio Negrinho, município “sede” do projeto por ser o mais central da Brigada).

Fotos 1 e 2: Assentamento Vassoura Branca e Conquista do Litoral, respectivamente:

Fonte: ALMEIDA (2009).

Para maior estudo dos alunos envolvidos com o projeto e as PMACs, instalou-se um horto didático de PMACs dentro do espaço do Centro de Ciências Agrárias da UFSC, onde se localiza o LECERA. As mudas plantadas foram coletadas na viagem de visita aos assentamentos.

4 Entre o Assentamento Mimo, em Irineópolis e o Assentamento Justino Draszewyski em Araquari são mais de 300 km de distância.

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Fotos 3, 4, 5 e 6: Construção do Horto Didático de PMACs do LECERA:

Fonte: ALMEIDA (2009).

O primeiro encontro já com realização de oficinas aconteceu em Florianópolis, entre os dias 10 a 12 de julho. Esse encontro teve o objetivo de sensibilização e estímulo das camponesas e camponeses participantes do projeto5 e vislumbrar, mais concretamente, algumas metas do projeto.

A abertura aconteceu no CCA – UFSC, com a presença, não só da equipe de trabalho da UFSC, mas também da Superintendência Regional do INCRA/SC. A primeira visita foi à propriedade de Cecília em Canelinha. Ela é produtora de PMACs já algum tempo, manejando mais de 60 espécies, comercializando seu produto internamente e também em exportação.

Inicia um trabalho de beneficiamento das PMACs através da extração de óleos essenciais.

Também foi realizada um visita ao Hospital Universitário – HU, onde os participantes puderam conhecer o hospital internamente, suas alas e atividades.

Houve uma palestra com trabalho prático de reconhecimento, manejo e uso de PMACs no Horto do HU, com o professor Cesar Simionatto e com Alécio Passos o “mago das plantas medicinais” de Florianópolis, com sua Farmácia Viva. Foi feita uma visita à Associação Vida Verde, localizada no bairro Monte Verde. Essa associação gesta um horto medicinal coletivo e uma farmácia de produto medicinais elaborados pelas senhoras que lá contribuem. Todo o trabalho é voluntário, a renda obtida pela venda dos produtos garante a compra de mais materiais necessários para a manipulação dos remédios e cosméticos como vidraria, bases de glicerina, bases para xampu, etc. E no último dia os participantes puderam conhecer a Feira Orgânica da Lagoa e ver algumas das diversas maneiras que se podem comercializar as PMACs.

5 Definiu-se que as comunidades delegassem uma ou mais pessoas, dependendo do número de famílias do assentamento, para participar do projeto. Ao final do primeiro ano de atividades essas pessoas se formariam Agentes de Saúde certificadas pela UFSC e, principalmente, multiplicadoras das atividades do projeto em suas respectivas comunidades como já descrito anteriormente.

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Fotos 7 e 8: Abertura do Encontro CCA-UFSC e visita à Propriedade de Cecília – Canelinha/SC, respectivamente:

Fonte: Fonte: ALMEIDA (2009).

Fotos 9 e 10: Hospital Universitário – UFSC e Horto do HU – UFSC:

Fonte: ALMEIDA (2009).

Foto 11: Associação Vida Verde – Monte Verde, Florianópolis/SC.

Fonte: ALMEIDA (2009).

O resultado desse primeiro encontro foi a definição entre todas as partes da estruturação das seguintes atividades do projeto como: funcionamento em rodízio6, a abordagem em duas pautas: produção e saúde popular e proposta de cronograma para 2008.

A segunda etapa, já de acordo com as definições tomadas realizou-se no Assentamento Herança do Contestado, localizado no município de Mafra/SC. Nessa etapa discutiu-se sobre Agroecologia e Saúde Popular, com atividades práticas de compostagem, elaboração de produtos a base de PMACs, primeiros socorros e diagnóstico prévio de alguns problemas

6 Refere-se aos locais de realização das outras etapas, cada uma em um determinado assentamento, definido pelas partes envolvidas, levando em conta uma série de elementos como disponibilidade de estrutura para as atividades, alojamento e deslocamento dos participantes.

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recorrentes entre a população rural. As oficinas foram ministradas por professores e alunos de graduação e pós-graduação vinculados ao LECERA e NEPEPS. Ao final da etapa também foram distribuídos kits7 para os participantes, além de mudas e sementes de PMACs.

Fotos 12 e 13: Roda de Conversa sobre Agroecologia e trabalho sobre Compostagem:

Fonte: ALMEIDA (2009).

Fotos 14 e 15: Roda de Conversa sobre Saúde Popular e Primeiros Socorros:

Fonte: ALMEIDA (2009).

Foto 16: Prática de utilização de instrumentos aos agentes:

Fonte: ALMEIDA (2009).

Já o terceiro encontro ocorreu no município de Rio Negrinho, no Assentamento Domingos de Carvalho. A proposta dessa etapa foi o trabalho de gestão econômica de

7 Os kits são compostos de um esfigmomanômetro, um estetoscópio, um termômetro e um livro intitulado “Onde Não Há Médico” e capacitações.

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atividades agrícolas para assentamentos de Reforma Agrária e continuação dos trabalhos de primeiros socorros e diagnóstico prévio. Nesse encontro foram propostas duas atividades

“para casa” aos participantes. A atividade da saúde consistia em cada participante fazer uma pesquisa com as famílias de seu assentamento sobre a saúde das famílias.

Para a produção foi solicitado um inventário das PMACs encontradas nos lotes e no assentamento de cada participante. Esse inventário foi elaborado pela autora dessa dissertação e o resultado obtido na compilação das informações sobre o Assentamento 25 de Maio foi utilizado nesse documento. Ao final, foram distribuídas novas mudas e sementes de PMACs.

O inventário das PMACs dos Assentamentos da Região Norte/Litoral de SC foi pensado e elaborado com o objetivo de levantar, mesmo que apenas aproximadamente, o que as famílias plantam, consomem e conhecem de PMACs.

Fotos 17 e 18: Abertura da Etapa e atividades de economia e administração de pequenas propriedades:

Fonte: ALMEIDA (2009).

Fotos 19 e 20: Primeiros Socorros e prática de diagnóstico prévio:

Fonte: ALMEIDA (2009).

A quarta e última etapa do ano de 2008, realizou-se em Araquari/SC, no Assentamento Justino Draszewyski. Foi uma etapa mais longa que as outras, com duração de quatro dias e meio (as outras tiveram duração de três dias e meio). Nessa etapa, os participantes trouxeram e apresentaram os seus inventários sobre as PMACs e pesquisa sobre Saúde.

Trouxeram também uma muda de alguma PMAC plantada em vaso para troca e ao final da apresentação foi realizada a cerimônia de troca e partilha das plantas. Realizou-se também, uma palestra com o pesquisador Cirino Corrêa Júnior do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – Emater do Estado do Paraná, sobre secagem e beneficiamento, armazenamento e comercialização de PMACs. A partir desses conhecimentos

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foi feita uma grande prática sobre colheita e secagem de algumas plantas que serviriam para a atividade seguinte.

Essa atividade consistiu em práticas de manipulação de tinturas, xaropes e cosméticos elaborados com PMACs, com a contribuição do grupo Linha Verde do curso de Naturologia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. Como encerramento do ano de 2008, avaliou-se as atividades realizadas e houve sugestões para o ano de 2009 e em seguida realizou-se a solenidade de entrega dos certificados e distribuição de mudas, sementes, remédios e cosméticos.

Fotos 21 e 22: Algumas PMACs colhidas no Assentamento para troca e alguns produtos manipulados com PMACs na oficina, respectivamente:

Fonte: ALMEIDA (2009).

Fotos 23 e 24: Mudas e sementes para distribuição e entrega dos certificados:

Fonte: ALMEIDA (2009).

Neste ano de 2009, as atividades voltaram-se a apoios e acompanhamentos das atividades desenvolvidas pelos multiplicadores nas suas respectivas áreas de assentamento ou acampamento. Para tanto, o LECERA ofertou suporte material e técnico para as oficinas realizadas.

Colhendo os Frutos

Ao final do primeiro ano do projeto formaram-se 20 agentes de saúde multiplicadores em 11 assentamentos e 3 acampamentos, com a intenção de atingir a totalidade de famílias.

Com o objetivo de analisar as ações já executadas no âmbito da extensão, muitos trabalhos acadêmicos foram ou estão sendo elaborados. Em nível de graduação, dois Trabalhos de Conclusão de Curso – TCCs foram desenvolvidos. Um na área de Agronomia, voltado ao levantamento etnobotânico e promoção da saúde realizado no Assentamento Domingos de Carvalho – município de Rio Negrinho, defendido no final de 2008. O outro

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trabalho é na área das Ciências Econômicas, com um estudo mercadológico da cadeia de PMACs no Brasil e em Santa Catarina, defendido em junho de 2009.

Já em nível de pós-graduação, há uma dissertação de Mestrado defendida em junho de 2009 no Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas, realizada no Assentamento 25 de Maio – município de Santa Terezinha, que analisa as possibilidades e desafios da reconversão produtiva agroecológica do fumo às PMACs dentro das perspectivas apontadas por esse projeto. Mais duas dissertações de Mestrado estão em elaboração e ambas trabalham no âmbito da promoção da saúde, uma também pelo programa de pós-graduação em Agroecossistemas e outra pelo programa de pós-graduação em Enfermagem.

As atividades do projeto constam nos anais da VII e VIII Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFSC, realizados em 2008 e 2009 respectivamente, do Congresso IberoAmericano de Extensão Universitária (Extenso 2009) realizada em Montevideo, Uruguai e no Seminário de Extensão Universitária (SEURS 2009) realizado em Santa Maria. Está em elaboração uma cartilha compilando todos os projetos realizados no âmbito dos assentamentos de Reforma Agrária de SC, no qual constará esse projeto.

Para a continuação dos trabalhos envolvendo as PMACs na região, um novo projeto foi aprovado, agora com financiamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Entretanto, esse novo projeto tem caráter mais de extensão e visa, basicamente, o fomento produtivo das PMACs como geradora de renda às famílias beneficiárias da reforma agrária.

Este projeto aguarda o recebimento do recurso para inicio das atividades.

Na avaliação final do grupo que acompanhou o projeto, alguns pontos foram levantados e importantes para apresentação nesse relatório. Efetivamente o projeto conseguiu capilarizar o retorno ao hábito de cultivar e consumir as PMACs. Financeiramente, disponibilizou-se o último recurso disponível para a construção de três viveiros de mudas em três assentamentos diferentes, viabilizando a distribuição e troca de mudas de PMACs entre as famílias assentadas, além da geração de renda obtida com a venda dos excedentes das mudas para produtores da região. Essa ação foi importante, uma vez que desencadeou a produção de plantas condimentares agregando mais renda às famílias.

A realidade observada antes do projeto iniciar era de inacessibilidade ao atendimento das necessidades primárias e urgentes de saúde. Sendo assim, as capacitações realizadas pelo projeto foram essenciais nesse sentido, valorizando o saber local e potencializando as habilidades das agentes de saúde.

Um dos principais ganhos com o projeto PMAC foi a aproximação da Universidade e principalmente de seus alunos, com um dos extratos da sociedade brasileira mais ansiosa por estudos e contribuições científicas e que, na prática, é a que menos acesso tem ao conhecimento acadêmico. É a Universidade Pública cumprindo, com competência, um de seus pilares de existência – a extensão.

Outro benefício advindo com a experiência desse projeto de pesquisa e extensão foi a prática da interdisciplinariedade. Faz-se a reflexão de que ainda está muito distante da interdisciplinariedade que tanto de discute e busca pela Universidade, no entanto foi um grande passo ao seu alcance. A parceria formada pelo LECERA e o NEPEPS já rendeu outros projetos de extensão na UFSC, inclusive com a inserção de outras áreas do conhecimento.

Referências Bibliográficas

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possibilidades e desafios de uma reconversão produtiva de base agroecológica em Assentamento de Reforma Agrária. Florianópolis: Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas). Universidade Federal de Santa Catarina, 2008.

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Referências

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