C
ontabilidade
do
3º S
etor
• Organizações Não Governamentais (ONG)
• Entidades Beneficentes
• Entidades Sem Fins Lucrativos
• Escrituração Contábil Fiscal (ECF)
• Escrituração Contábil Digital (ECD)
ALDENIR ORTIZ RODRIGUES
Contabilista, advogado, especialista em tributos diretos, contribuição para o PIS/Cofins e legislação societária. Coautor de livros das áreas contábil e tributária.
CLEBER MARCEL BUSCH
Contador, bacharel em direito, especialista em tributos diretos, contribuições para o PIS/Cofins e legislação societária. Coautor de livros das áreas contábil e tributária.
EDINO RIBEIRO GARCIA
Contador, bacharel em direito, especialista em tributos diretos, contribuições para o PIS/Cofins e legislação societária, professor e palestrante. Coautor de livros das áreas contábil e tributária.
WILLIAM HARUO TODA
Contabilista, advogado, tecnólogo em análise e desenvolvimento de sistemas, especia-lista em tributos diretos, contribuições para PIS/Cofins e legislação societária, pós-gra-duado em Gestão da Comunicação e Marketing Institucionais com cátedra da Unesco, e pós-graduado em Gestão Pública. Coautor de livros das áreas contábil e tributária.
a
preSentação
Chamamos de “terceiro setor” as Organizações Não
Governamen-tais (ONG), mantidas pela iniciativa privada, não possuindo fins
lucra-tivos, mas que congrega as Organizações que, embora prestem serviços
públicos, produzem e comercializem bens e serviços, não são estatais,
nem visam ao lucro financeiro. Mas, sim, ao bem estar social, por meio de
atividades filantrópicas, culturais, recreativas, religiosas e artísticas.
A finalidade da presente obra é proporcionar a todos aqueles que
estudam ou lidam profissionalmente no cenário técnico-contábil e
tribu-tário do 3º Setor, um instrumento de trabalho essencial para o
desenvolvi-mento desta ação, onde foram incorporados recentes estudos e inovações
nesta área.
Nesta 4ª edição, continuamos oferecendo ao leitor os temas que
jul-gamos primordiais no dia a dia destas entidades, tais como: elaboração do
plano de contas, fluxo de caixa, registros contábeis, demonstrações
contá-beis, obrigações fiscais, aspectos tributários, dentre outros.
Diante da falta de confiabilidade por grande parte da sociedade, em
face do envolvimento de algumas organizações em escândalos
fraudulen-tos, encontramos na contabilidade o instrumento mais adequado para
au-xiliar na efetiva administração dos recursos colocados à disposição dos
gestores dessas entidades. Com a contabilidade, é possível demonstrar de
maneira clara e inequívoca, de que forma os recursos são aplicados para
os fins que se destinam, tornando transparente para a sociedade o
traba-lho que realmente vem sendo desenvolvido por parte dessas instituições
sem fins lucrativos.
Desse modo, com a finalidade de atender aos profissionais contábeis
que prestam serviços às organizações do Terceiro Setor, oferecemos aos
nossos leitores a 4ª edição desta obra, onde esperam os autores continuar
merecendo a acolhida de seus colegas profissionais, cujas críticas e
suges-tões serão sempre bem recebidas para o aperfeiçoamento da obra.
S
umário
APRESENTAÇÃO ... 5 1. INTRODUÇÃO ... 15 2. NATUREZA JURÍDICA ... 19 2.1. Associações ... 19 2.2. Fundações ... 21 2.3. Organizações religiosas ... 22 2.4. Partidos políticos ... 22 2.5. Entidades beneficentes ... 23 2.5.1. Saúde ... 23 2.5.2. Educação ... 24 2.5.3. Assistência social ... 25 2.6. Sindicatos ... 26 2.7. Condomínios ... 27 2.8. Esportivas ... 282.9. Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip)... 28
2.9.1. Vedações ... 29
2.9.2. Objetivos sociais ... 30
3. PLANO DE CONTAS ... 31
3.2. A codificação ... 33
3.3. Gerenciamento e autorização para abertura de conta nova ... 34
3.4. Plano de Contas versus Manual de Contas ... 34
3.5. O atendimento aos demais usuários: publicação, fisco etc. ... 35
3.6. Outros erros que precisam ser evitados ... 36
3.7. Modelo de Plano de Contas das entidades de interesse social ... 37
3.7.1. Modelo de Plano de Contas ... 38
4. ORÇAMENTO ... 49
4.1. Conceito de orçamento ... 50
4.2. Função do orçamento ... 53
4.3. Orçamento social ... 53
4.4. Aspectos na elaboração de um orçamento ... 56
4.5. Controle orçamentário ... 58
4.6. Orçamento público - Um exemplo de planejamento técnico ... 73
4.6.1. Funções do orçamento público ... 74
4.6.2. Sistema brasileiro de planejamento e orçamento ... 75
4.6.3. Orçamento participativo... 77
4.6.4. Problemáticas e desafios no orçamento público na gestão pública ... 78
4.6.5. Instabilidade política e econômica ... 78
4.6.6. Ausência de cultura de planejamento ... 79
4.6.7. Imediatismo no trato dos problemas ... 80
4.6.8. Apropriação patrimonialista dos recursos coletivos ... 81
4.6.9. Deficiências das técnicas de gestão ... 83
4.6.10. Planejamento estratégico governamental ... 84
4.7. Conclusão ... 85
5. REGIME DE COMPETÊNCIA NOS REGISTROS CONTÁBEIS ... 87
5.1. Princípio da realização da receita ... 89
5.2. Confrontação das despesas com as receitas ... 89
5.3. Custos suportados para a obtenção de receitas ... 90
5.4. Despesas operacionais ... 90
5.5. Doações e subvenções - Reconhecimento no resultado ... 91
6. FLUXO DE CAIXA ... 93
6.1. A relevância do fluxo de caixa ... 94
6.1.1. Termos importantes ... 95
6.2. Demonstração de Fluxo de Caixa e sua estrutura ... 96
6.2.1. Atividades operacionais ... 96
6.2.2. Atividades de investimento ... 98
6.2.3. Atividades de financiamento ... 99
6.2.4. Método direto e método indireto ... 100
6.2.4.1. Modelo da DFC pelo método indireto ... 101
6.2.4.2. Modelo da DFC pelo método direto ... 102
6.5. Fluxo de caixa da entidade de interesse social ... 103
6.5.1. Modelo do método direto ... 103
6.5.2. Modelo do método indireto ... 105
7. REGISTROS CONTÁBEIS ... 107
7.1. Aspectos conceituais ... 107
7.2. Normas do CFC ... 108
7.3. Atividades exercidas pelas entidades sem fins lucrativos ... 108
7.4. Conceitos de entidades e organizações ... 108
7.5. Forma de organização ... 109
7.6. Aplicação dos princípios contábeis às entidades sem finalidade de lucros ... 109 7.7. Escrituração ... 109 7.7.1. Depreciação ... 110 7.8. Lançamentos ... 111 7.9. Notas explicativas ... 113 7.10. Publicações ... 114 7.11. Pronunciamentos técnicos (CPC) ... 115
7.12. Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (Cebas) . 115 7.12.1. Reconhecimento das receitas e despesas ... 116
7.12.2. Constituição ... 118
7.12.3. Doações, subvenções e contribuições ... 119
7.12.4. Realização dos estoques ... 120
7.12.5. Forma alternativa de registro dos estoques ... 121
7.13. Fundos nas entidades sem fins lucrativos ... 122
8. LANÇAMENTOS CONTÁBEIS ... 123
8.2. Exemplos de lançamentos contábeis ... 123
8.2.1. Restrições das doações ... 124
8.2.2. Exemplos de lançamento contábil ... 125
8.3. Receitas com associados ... 125
8.3.1. Exemplos de lançamentos contábeis ... 125
8.4. Receitas e despesas com gratuidade ... 125
8.4.1. Exemplos de lançamento contábil ... 126
8.4.1.1. Despesas com parceiros prestadores de serviços 126 8.4.1.2. Despesas com gastos gerais ... 126
8.4.1.3. Despesas com material aplicado, distribuição de alimentos e roupas ... 127
8.4.1.4. Despesas com mão de obra especializada ... 127
8.5. Gratuidade com tributos ... 128
8.6. Custos ... 129
8.6.1. Sistema de custo ... 129
8.6.2. O confronto entre a Contabilidade Financeira e a de Custos ... 129
8.6.3. Implantação do sistema de custos ... 131
8.7. Fundos... 131
8.8. Depreciação ... 132
8.9. Contratos ... 133
9. DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ... 135
9.1. Balanço patrimonial dos exercícios findos em 31 de dezembro de 2012 e 31 de dezembro 2011 (em reais) ... 137
9.2. Demonstração do resultado dos exercícios findos em 31 de dezem-bro de 2012 e 31 de dezemdezem-bro 2011 (em reais) ... 138
9.3. Demonstração das mutações do patrimônio líquido dos exercícios findos em 31 de dezembro de 2012 e 31 de dezembro 2011 (em reais) ... 139
9.4. Demonstração da variação do capital circulante líquido ... 139
9.5. Notas explicativas às demonstrações contábeis em 31 de dezembro de 2011 ... 140
9.5.1. Contexto operacional ... 140
9.5.2. Apresentação das demonstrações ... 140
9.5.3. Resumo das práticas contábeis ... 140
9.5.3.1. Balanço patrimonial ... 140
9.5.3.1.1. Ativo ... 140
9.5.3.2. Demonstração do Resultado do Exercício ... 141
9.5.3.2.1. Receitas ... 141
9.5.3.2.2. Despesas ... 142
9.5.3.3. Demonstração das mutações do patrimônio lí-quido ... 143
10. AUDITORIA ... 145
10.1. A importância da auditoria e obrigatoriedade ... 145
10.2. Conceituação e objetivos da auditoria independente ... 147
10.3. Procedimentos de auditoria ... 148 10.4. Papéis de trabalho ... 148 10.5. Fraude e erro ... 149 10.6. Planejamento da auditoria ... 149 10.7. Relevância... 150 10.8. Risco de auditoria ... 150
10.9. Supervisão e controle de qualidade ... 151
10.10. Estudo e avaliação do sistema contábil e de controles internos ... 151
10.11. Aplicação dos procedimentos de auditoria ... 152
10.12. Documentação da auditoria ... 154
10.13. Continuidade normal dos negócios da entidade ... 154
10.14. Amostragem estatística ... 155
10.15. Processamento Eletrônico de Dados (PED) ... 155
10.16. Estimativas contábeis ... 155
10.17. Transações com partes relacionadas ... 156
10.18. Transações e eventos subsequentes ... 156
10.19. Carta de responsabilidade da administração ... 156
10.20. Contingências ... 157
10.21. Normas do parecer dos auditores independentes ... 157
11. ENTIDADES DE UTILIDADE PÚBLICA ... 163
11.1. Certificação ... 163
11.1.1. Existência mínima da entidade para certificação ... 163
11.1.2. Contabilidade e auditoria ... 164
11.1.3. Validade do certificado ... 164
11.1.4. Renovação ... 165
11.1.5. Entidade com atuação em mais de uma área ... 165 11.1.6. Recurso contra a decisão de indeferimento da certificação 166
11.1.7. Supervisão e do cancelamento da certificação ... 167
11.1.8. Representação ... 167
11.1.9. Transparência ... 168
11.1.10. Requisitos para isenção ... 169
11.1.11. Fiscalização ... 171
11.1.12. Utilidade pública estadual ... 171
11.1.13. Utilidade pública municipal ... 172
11.1.14. Cadastro Nacional de Entidades de Utilidade Pública ... 172
11.1.15. Principais diferenças entre a qualificação como UPF e Oscip Utilidade Pública Federal (UPF) ... 172
11.2. Prestação de contas ... 175
11.2.1. Elementos da prestação de contas ... 177
11.2.2. Prestação de contas não financeiras ... 185
11.2.3. Prestação de contas financeiras ... 185
11.2.4. Prestação de contas financeiras e não financeiras (accoun-tability) ... 186
12. IFRS - PRonuncIamentoS técnIcoSdo cPc ... 189
12.1. Contabilidade para pequenas e médias empresas (PMEs) ... 189
12.1.1. Aplicabilidade deste pronunciamento para PME ... 190
12.2. Subvenção e Assistência Governamentais ... 191
12.2.1. Reconhecimento e Contabilização ... 191 12.2.2. Exemplos de Contabilização ... 193 12.2.3. Apresentação da Subvenção ... 195 12.2.3.1. No Balanço ... 195 12.2.3.2. Na Demonstração do Resultado ... 195 12.2.3.3. Divulgação ... 196 12.2.4. Perda e Assistência ... 196 12.2.4.1. Perda ... 196 12.2.4.2. Assistência Governamental ... 197 12.2.4.3. Exemplo ... 197
12.3. Redução ao Valor Recuperável ... 198
12.3.1. Redução ao Valor Recuperável de Ativos ... 198
12.3.1.1. Identificação de um Ativo que pode estar com problema de recuperabilidade ... 199
12.3.1.2. Perda de representatividade econômica ... 199
12.3.2. Mensuração do valor recuperável ... 201
12.3.2.1. Definição ... 201
12.3.2.2. Ativo não negociado em mercado ativo ... 201
12.3.2.3. Ativo intangível com vida útil indefinida ... 202
12.3.2.4. Valor líquido de venda ... 202
12.3.2.5. Valor em uso ... 203
12.3.2.6. Base para estimativas de fluxos de caixa futuros 203 12.3.2.7. Composição de estimativas de fluxos de caixa futuros ... 204
12.3.2.8. Taxa de desconto ... 205
12.3.2.9. Metodologia para o cálculo do Impairment ... 205
12.3.3. Exemplo ... 205
12.4. Seções 3 e 27 da NBC TG 1000 (PME) ... 206
12.4.1. Seção 3 - Apresentação das Demonstrações Contábeis ... 206
12.4.2. Seção 27 ... 213
12.5. Notas Explicativas da Apresentação das Demonstrações Contábeis (CPC 26) ... 224
13. ASPECTOS TRIBUTÁRIOS ... 235
13.1. Imunidade ou não incidência ... 235
13.2. Espécies de imunidade ... 236
13.2.1. Imunidade para templos de qualquer culto ... 236
13.2.2. Imunidade dos partidos políticos, sindicatos dos empre-gados, instituições assistenciais e educacionais sem fins lucrativos ... 237
13.3. Isenção... 239
13.4. Obrigações tributárias das instituições de educação ... 240
13.5. Pessoas jurídicas isentas do Imposto de Renda ... 242
13.6. Contribuição Social sobre o Lucro ... 244
13.6.1. Entidades beneficentes de assistência social ... 244
13.6.2. Isenção em favor de outras entidades sem fins lucrativos . 245 13.7. Desenquadramento da imunidade ou da isenção ... 246
13.8. Cofins e PIS/Pasep ... 247
13.8.1. Isenção da Cofins ... 247
13.8.2. PIS/Pasep ... 249
13.8.2.1. Momento da ocorrência do fato gerador ... 249
13.10. Aplicação financeira ... 252
13.10.1. Imposto de Renda Retido na Fonte ... 252
13.11. DIPJ ... 253
13.12. Escrituração Contábil Fiscal (ecf) ... 253
13.12.1 Dados Técnicos para Geração do Arquivo da ECF ... 255
13.12.2. Blocos e Registros da ECF ... 255
13.12.3. Tabela de Registros ... 255
13.12.4. Apresentação do Bloco U: Imunes e Isentas ... 255
13.12.4.1. Registro U001: Abertura do Bloco U ... 256
13.12.4.2 Registro U030: Identificação dos Períodos e Formas de Apuração do IRPJ e da CSLL das Empresas Imunes e Isentas ... 256
13.12.4.3. Registro U100: Balanço Patrimonial ... 257
13.12.4.4. Registro U150: Demonstração do Resultado .... 257
13.12.4.5. Registro U180: Cálculo do IRPJ das Empresas Imunes e Isentas ... 257
13.12.4.6. Registro U182: Cálculo da CSLL das Empresas Imunes e Isentas ... 257
13.12.4.7. Penalidades ... 258
13.13. DCTF ... 258
13.14. EFD-Contribuições ... 258
13.15. Escrituração Contábil Digital (ECD) ... 258
13.15.1. Blocos e registros da ECD... 259
13.15.1.1. Bloco 0 - Abertura, Identificação e Referências 259 13.15.1.2. Bloco I - Lançamentos Contábeis ... 261
13.15.1.3. Bloco J - Demonstrações Contábeis ... 266
13.15.1.4. Bloco 9 - Controle e Encerramento do Arquivo Digital ... 266
14. LEGISLAÇÃO ... 269
RESOLUÇÃO CFC Nº 1.409/2012 ... 269
1.
i
ntrodução
O termo Terceiro Setor é relativamente novo no Brasil, tendo
surgi-do há aproximadamente três décadas e é utilizasurgi-do para definir um setor
que se situa entre o público e o privado.
Basicamente, toda sociedade se organiza em três setores:
Primeiro Setor: é o setor público (Estado), onde os mandatários
são escolhidos pela vontade popular, por meio do voto. Representa o uso
de bens públicos para fins públicos. Portanto, a aplicação desses recursos
deve ser direcionada integralmente na infraestrutura, no bem-estar da
so-ciedade e outras funções de responsabilidade do Estado.
Segundo Setor: refere-se ao mercado e é ocupado pelas empresas
privadas com fins lucrativos. Corresponde à livre-iniciativa, e tem como
característica principal visar ao lucro.
Terceiro Setor: é formado por organizações privadas, sem fins
lucra-tivos, que desempenham ações de caráter público. Correspondem às
insti-tuições sem fins lucrativos, que geram bens e serviços de caráter público,
como Organizações Não Governamentais (ONG), Organizações Sociais
(OS); instituições religiosas, entidades beneficentes, centros sociais,
orga-nizações de voluntariado, etc.
Cada setor possui uma característica própria e diferenciada em
rela-ção à utilizarela-ção dos recursos financeiros, ou seja:
Primeiro Setor: dinheiro público para fins públicos;
Segundo Setor: dinheiro privado para fins privados;
Terceiro Setor: dinheiro privado para fins públicos.
As entidades sem fins lucrativos assumem, a cada dia, um papel
mui-to relevante na sociedade atual. São as maiores responsáveis pela
realiza-ção de atividades de caráter beneficente, filantrópico, caritativo, religioso,
cultural, educacional, científico, artístico, literário, recreativo, de proteção
ao meio ambiente, esportivo, e muitos outros serviços de cunho social.
Contribuem significativamente para o desenvolvimento econômico, social
e político do país, pois realizam inúmeras atividades que deveriam ser de
responsabilidade do Estado, mas que deixam de ser por ele atendidas.
Para MELO NETO, Francisco Paulo de; FROES, César.
Responsa-bilidade social e cidadania empresarial: a administração do terceiro setor.
Rio de Janeiro: Qualitymark, Ed.: 1999, as principais causas que têm
le-vado o terceiro setor a tal crescimento são: aumento das necessidades
so-cioeconômicas; crise no setor público; fracasso das políticas sociais
tradi-cionais; crescimento dos serviços voluntários; degradação ambiental, que
ameaça a saúde humana; crescente onda de violência que põe em perigo a
segurança das populações; incremento das organizações religiosas; maior
adesão das classes alta e média a iniciativas sociais; maior apoio da mídia;
e maior participação das empresas que buscam a cidadania empresarial.
Diante desse cenário, verifica-se que a transparência nessas
institui-ções é fundamental, pois afeta de alguma maneira, direta ou
indiretamen-te, a sociedade, a qual exige uma prestação de contas justa e equitativa.
Desse modo, a contribuição da contabilidade para o Terceiro Setor é
indispensável, pois irá auxiliar na efetiva administração dos recursos
co-locados à disposição dos gestores dessas entidades, além do que
demons-tra de forma clara e segura se esses recursos foram e estão sendo aplicados
corretamente para os fins que se destinam.
Até algum tempo atrás, não havia qualquer ato normativo contábil
que regulasse os trabalhos desse setor, o que gerava distorções e
procedi-mentos contábeis distintos e não uniformes, ainda que atendidos os
Prin-cípios Fundamentais de Contabilidade.
Dessa maneira, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) editou,
então, as três seguintes Normas Brasileiras Contábeis Técnicas (NBC T),
com o fim de regulamentar os procedimentos contábeis dessas entidades:
• NBC T 10 - Dos Aspectos Contábeis Específicos em Entidades
Diversas:
NBC T 10.4 - Fundações (Resolução CFC nº 837, de 22 de
feve-reiro de 1999);
• NBC T 10.18 - Entidades Sindicais e Associações de Classe
(Re-solução CFC nº 838, de 22 de fevereiro de 1999);
• NBC T 10.19 - Entidades Sem Finalidade de Lucros (Resolução
CFC nº 877, de 18 de abril de 2000).
Ocorre, todavia, que as mencionadas resoluções foram
revoga-das pela Resolução CFC nº 1.409/2012, publicada no DOU 1 do dia
27.09.2012, que também aprovou a ITG 2002 - Entidade sem Finalidade
de Lucros, que estabelece critérios e procedimentos específicos de
avalia-ção, de reconhecimento das transações e variações patrimoniais, de
es-truturação das demonstrações contábeis, além das informações mínimas
a serem divulgadas em notas explicativas de entidade sem finalidade de
lucros, sendo aplicáveis aos exercícios iniciados desde 1º.01.2012.
Atente-se ainda que, posteriormente, por meio de Resolução
publi-cada no DOU de 02.09.2015, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC)
procedeu alterações nos itens 8 e 19 e na alínea “c” do item 27, além do que,
incluiu os itens 9A e 9B na ITG 2002, cuja sigla passou a ser ITG 2002 (R1).
Dentre as alterações procedidas, temos:
a) as receitas e as despesas devem ser reconhecidas respeitando-se
o princípio da competência;
b) o trabalho voluntário, inclusive de membros integrantes dos
órgãos da administração, no exercício de suas funções, deve ser
reconhecido pelo valor justo da prestação do serviço como se
tivesse ocorrido o desembolso financeiro;
c) as demonstrações contábeis devem ser complementadas por
notas explicativas que contenham relação dos tributos objeto
de renúncia fiscal;
d) somente as subvenções concedidas em caráter particular se
en-quadram na NBC TG 07; e
e) as imunidades tributárias não se enquadram no conceito de
subvenções previsto na NBC TG 07, portanto não devem ser
reconhecidas como receita no resultado.
Desse modo, a seguir estaremos analisando os pormenores e a
apli-cabilidade dessas normas, bem como outros assuntos e disposições
contá-beis que devem ser adotadas pelas entidades sem fins lucrativos.
2.
n
atureza
J
urídiCa
A natureza jurídica das organizações do Terceiro Setor é estabelecida
pelo o art. 44 e incisos, do Código Civil (Lei nº 10.406/2002).
Segundo dispõe esse artigo, são pessoas jurídicas de direito privado:
a) as associações;
b) as sociedades;
c) as fundações;
d) as organizações religiosas;
e) os partidos políticos; e
f) as empresas individuais de responsabilidade limitada.
2.1. ASSOCIAÇÕES
Consideram-se associações as organizações de pessoas físicas, que
se reúnem e se organizam para fins de desempenhar atividades com fins
não econômicos.
De acordo com o art. 53 do Código Civil, constituem-se as
associa-ções pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos,
sem que haja, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.
Para constituição de uma associação, é necessário o cumprimento
das seguintes etapas:
a) assembleia geral de criação da organização;
b) aprovação dos estatutos;
c) eleição dos membros da diretoria;
d) posse dos membros da diretoria;
e) lavratura das atas das reuniões; e
f) registro dos atos constitutivos.
O instrumento de constituição de uma associação é o estatuto, o
qual deve conter, sob pena de nulidade, os seguintes itens, conforme
esta-belece o art. 54 do Código Civil:
a) a denominação, os fins e a sede da associação;
b) os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos
asso-ciados;
c) os direitos e deveres dos associados;
d) as fontes de recursos para sua manutenção;
e) o modo de constituição e funcionamento dos órgãos
delibera-tivos;
f) as condições para a alteração das disposições estatutárias e para
a dissolução; e
g) a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas
contas.
A dissolução de uma associação deve estar expressamente prevista
no seu estatuto, e deve obedecer o disposto no art. 61 do Código Civil,
inclusive a possibilidade de restituição dos valores das contribuições
pres-tadas ao patrimônio da associação.
Assim dispõe o art. 61 do Código Civil:
“Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, de-pois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo
único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.
§ 1º Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem estes, antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem presta-do ao patrimônio da associação.
§ 2º Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União.”
2.2. FUNDAÇÕES
Consideram-se fundações as organizações sem fins lucrativos, as
quais podem ser públicas ou privadas.
As fundações são instituídas a partir da destinação de um
patrimô-nio com a finalidade de servir a um propósito, podendo esta ser de fins
morais, religiosos, culturais ou assistenciais. Fundações públicas são
en-tidades de personalidade jurídica de direito público, sem fins lucrativos,
criadas por autorização legislativa para o desenvolvimento de atividades
de interesse público (educação, cultura e pesquisa, entre outras).
Fundações privadas são aquelas criadas pela iniciativa dos
particula-res, enquanto as fundações governamentais de direito privado são aquelas
cuja criação é autorizada por ato legal, vinculadas aos Poderes Executivo,
Judiciário e Legislativo, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, mas só se concretiza com o registro do seu ato constitutivo
no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas.
A constituição de uma fundação está definida pelo art. 62 do Código
Civil, que assim dispõe:
“Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.”