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Mensagem pregada pelo Pr Luciano R. Peterlevitz na Igreja Batista Novo Coração, em 17 de abril de 2015.
Efésios 1.3-6:
3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; 4 como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; 5 e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, 6 para o louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado.
Iniciando
Os v.3-14 do cap. 1 de Efésios formam um único parágrafo. As sentenças estão tão interligadas, a ponto de não haver pausa entre entras elas; é como um texto sem vírgulas. Trata-se de um salmo de louvor, uma resposta à salvação oferecida por Deus em Cristo.
Os v.3-14 são um poema dividido em três estrofes:
1ª estrofe: V.3-6. As bênçãos do Pai: O Pai planejou a salvação no passado (eleição).
2ª estrofe: V.7-12. As bênçãos do Filho. Cristo executa o plano de salvação no presente (redenção).
3ª estrofe: V.13-14. As bênçãos do Espírito Santo. O Espírito consumará a salvação no futuro (herança).
Os v.3-6 focalizam o Pai; os v.7-12 focalizam o Filho e os v.13-14 focalizam o Espírito Santo.1
Cada uma dessas estrofes encerra-se com a expressão “para louvor da sua glória” (v.6, 12, 14). O propósito final da salvação é a glória de Deus.
1 John F. MacArthur, Ephesians MacArthur New Testament Commentary (Chicago: The Moody Bible
Institute, 1986), p. 5. No entanto, a rigor as duas estrofes descrevem as ações do Pai através Filho. O Pai é sujeito dos verbos não somente nos v.3-6, mas também nos verbos dos v.8, 9 e 11. Portanto, os v.3-12 nos apresentam as bênçãos que Pai derrama sobre seus filhos através do seu Filho. Veja John Muddiman,
2 Ef 1.3-6: AS BÊNÇAOS DO PAI
Na mensagem de hoje vamos refletir sobre a primeira estrofe (v.3-6). Vejamos as maravilhosas bênçãos que o Pai celestial tem derramado sobre os crentes. As bênçãos do Pai: v.3
V.3: “Bendito”, (gr. eulogetos), “louvado”, “abençoado”. Essa palavra sempre é aplicada para Deus. Só Deus é digno de ser louvado. Deus é “Bendito” (eulogetos) “porque nos abençoou (eulogeo) com todas as bênçãos (eulogia) espirituais”.
A fonte das bênçãos: “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. Antes de falar
das bênçãos, Paulo fala do Deus das bênçãos. Há pessoas que querem as bênçãos de Deus, mas não querem o Deus das bênçãos. Mas aqueles que querem o Deus das bênçãos sempre bradam em seus corações: “Bendito /louvado” seja Deus!
O caráter das bênçãos: “bênçãos espirituais”. O termo “espirituais” (pneumaticos)
descreve a origem das bênçãos, e não a extensão delas.2 Ou seja, a benção de Deus também se estende ao mundo material. Não somente nosso coração, alma e espírito são abençoados, mas toda nossa existência: nosso corpo, nossa saúde, nossa família, nosso trabalho, nosso cotidiano, etc. Não existe oposição entre bênçãos imateriais e bênçãos materiais. Mas é preciso lembrar que, para vivermos bem no mundo material, precisamos das bênçãos espirituais do Pai. Somente pelas bençaos espirituais nós podemos usufruir plenamente das bênçãos materiais.
Ef 1.3 é uma expressão de louvor a Deus pelas bênçãos espirituais. Será que temos agradecido a Deus pelas bênçãos espirituais? Agradecemos a Deus pelo trabalho, pela família, pela saúde, pelos bens materiais. E isso é legítimo. Mas será que agradecemos ao Senhor pelas bênçãos espirituais (justificação; paz em Cristo; vida eterna)?
A esfera das bênçãos: “nas regiões celestes em Cristo”. Paulo estava preso em
Roma, mas ele sabia que sua vida estava nas regiões celestes em Cristo. Ou seja, estamos num mundo que jaz no maligno, mas nossos pés já estão nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Estamos unidos a Jesus.
Portanto, somos as pessoas mais abençoadas do mundo.
Você se considera uma pessoa abençoada? Caso sua resposta seja negativa, então convido você a olhar para os v.4-14, onde lemos a respeito das bênçãos espirituais procedentes de Deus. Nesse momento, vamos focalizar os v.4-6, que descrevem as bênçãos procedentes do Pai.
1ª benção: Fomos eleitos pelo Pai (v.4)
antes da fundação do mundo” (v.4); “e nos predestinou” (v.5).
De acordo com a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, o capítulo VI, a
“Eleição é a escolha feita por Deus em Cristo, desde a eternidade, de pessoas para a vida eterna, não por qualquer mérito, mas segundo a riqueza da sua graça. Antes da criação do mundo, Deus, no exercício da sua soberania divina e à luz de sua presciência de todas as coisas, elegeu, chamou, predestinou, justificou e glorificou aqueles que, no decorrer dos tempos, aceitaram livremente o dom da salvação. Ainda que baseada na soberania de Deus, essa eleição está em perfeita consonância com o livre arbítrio de cada um e de todos os homens. (Ênfase acrescentada).
Não cremos que Deus predestinou alguns para céu e outros para o inferno. Pelo contrário, Deus, nosso Salvador, “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (2Timóteo 2.4), e “a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). Certamente o Senhor não quer “que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se” (2Pe 3.9).
Qual o significado da eleição, aqui em Ef 1.4?
Deus “nos elegeu nele”. O pronome “nele” é uma referência a Cristo. Isso significa que fomos escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo. A obra de Cristo na cruz estava na mente de Deus, antes que houvesse mundo. Cristo morreu no madeiro, na mente de Deus, muito antes de existir madeira, muito antes das árvores serem criadas. O Cordeiro de Deus foi morto antes da fundação do mundo (Ap 13.8). Isso nos dá grande segurança.
Deus “nos elegeu nele”. Isso significa que, ao nos escolher antes da fundação do mundo, Deus considerou os méritos de Cristo, e não nossos méritos. Até porque não temos mérito nenhum diante de Deus.
Deus “nos elegeu nele”. Isso significa que, ao nos escolher antes da fundação do mundo, Deus não considerava nossos pecados. Fomos escolhidos por Deus muito antes de Adão e Eva pecarem. Mesmo antes de nós pecarmos e nos rebelarmos contra Deus, ele já havia decidido nos amar e nos salvar.
Fomos eleitos “para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. Alguém pode dizer: “já que sou eleito antes mesmo de pecar, então posso pecar à vontade”. Só posso concluir uma coisa a respeito dessa pessoa: ela não está
4 Ef 1.3-6: AS BÊNÇAOS DO PAI
entre os escolhidos, pois, ao rejeitar a santidade, rejeita a obra de Cristo, e ao rejeitar a obra de Cristo, submete-se ao juízo divino.
Nós fomos eleitos para a santidade.
Precisamos nos lembrar que a santidade é o processo pelo qual estamos sendo progressivamente transformados à imagem de Jesus. De fato, fomos predestinados para sermos como Jesus: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho...” (Rm 8.29 – NVI).
Spurgeon dizia: Você quer ser santo? Então você é um eleito.3 Você deseja mais o pecado do que a Cristo? Então você não é eleito.
2ª benção: fomos predestinados pelo Pai (v.5)
V.5: “e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo”. Muito mais do que tentar relacionar a predestinação com o livre arbítrio humano, ou afirmar a soberania de Deus em detrimento da livre escolha humana, o que o texto diz é que fomos predestinados para sermos filhos por meio de Jesus. O foco é a adoção. Os salvos por Jesus foram predestinados para serem filhos por meio de Jesus.
Stott explica: “...na lei romana (que faz parte do contexto dos escritos de Paulo) os filhos adotivos desfrutavam dos mesmos direitos dos filhos legítimos.”4 Não somos filhos de Deus por direito, mas pela graça.5 Por natureza, somos filhos da ira (Ef 2.3), mas Deus, pela sua graça, nos transforma em filhos Dele. De filhos da ira, nos tornamos em filhos de Deus.
Quem é filho de Deus? Aquele que crê em Jesus, e o aceita como Senhor e Salvador. “Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.12).
Meus irmãos calvinistas alegam que só os eleitos é que creem em Jesus, pois, de acordo com eles, a fé é criada por Deus no coração dos eleitos. No entanto, em nenhum momento a Bíblia afirma que a fé é um “dom de Deus” (em Ef 2.8, o “dom de Deus” não é a fé, mas a salvação). Na verdade, por reiteradas vezes, a Escritura afirma que aquele que crê no Filho tem a vida eterna (veja Jo 3.16). “Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado” (Jo 3.18). A salvação está fundamentada não na fé humana, mas na graça de Deus, entretanto, a salvação está condicionada à fé: “Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre
3 Disponível em http://www.monergismo.com/textos/chspurgeon/Eleicao_Spurgeon.htm em . Acessado
em 14.04.2016.
4
John Stott, A mensagem de Efésios: a nova sociedade (São Paulo: ABU, 2007), p. 19.
e a fé é uma resposta humana à salvação divina.
Tendo sido feita essa consideração, podemos entender a afirmação de Paulo em Ef 1.5 acerca da predestinação. Deus “nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo”. Predestinar significa destinar para um propósito. Aqueles que creem em Jesus estão destinados para serem filhos de Deus. Quer dizer, o propósito de Deus (de tornar em filhos aqueles que creem em Jesus - Jo 1.12) certamente será cumprido.
Então, você, que tem fé em Jesus, considere-se a pessoa mais privilegiada do mundo. Você é a pessoa mais abençoada do mundo (v.3), e você é a pessoa mais privilegiada do mundo por ser filho do Rei.
3ª Benção: fomos favorecidos pelo Pai (v.6)
V.6: “para o louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado”. O termo “glória” alude à presença majestosa e luminosa de Deus. “A glória de Deus é a manifestação de Sua própria natureza e a graça é Sua suprema automanifestação.”6 Em Cristo, ele manifestou Seu caráter e Sua natureza, especialmente sua graça e amor.
Ex 34.5-6: “O Senhor desceu numa nuvem e, pondo-se ali junto a ele, proclamou o nome Jeová. 6 Tendo o Senhor passado perante Moisés, proclamou: Jeová, Jeová, Deus misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade.”
“para louvor da glória”. A preposição grega eis, “para”, neste caso, indica meta ou alvo.7 Quer dizer, o objetivo da eleição (v.4) e da adoção (v.5) é a exaltação da graça de Deus. Portanto, Deus formou um povo para si a fim de que o louvor da glória da sua graça fosse manifestada. Is 41.21: “ao povo que formei para mim mesmo a fim de que proclamasse o meu louvor”.
“sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado”. A forma verbal utilizada por Paulo (echaritosen, “deu gratuitamente”) só ocorre aqui e em Lc 1.28 (“favorecida”, em aplicação à Maria). “Graça” é o favor imerecido de Deus, concedido gratuitamente àqueles que creem em Jesus. Paulo diz que a graça, que é gratuita, é concedida gratuitamente. A afirmação parece uma redundância. No entanto, o apóstolo descreve enfaticamente a graça de Deus. É
6 Francis Foulkes, Efésios: introdução e comentário, p. 42. 7
Harold W. Hoehner, Ephesians: An Exegetical Commentary (Grand Rapids: Baker Academic, 2002), p. 199.
6 Ef 1.3-6: AS BÊNÇAOS DO PAI
como se ele dissesse: “aquilo que é de graça foi dado de graça” (ou “aquilo que é gratuito foi dado gratuitamente”).
Os crentes são aceitáveis para Deus não porque ele tem colocado /infundido graça neles, mas porque Deus tem concedido graça sobre eles.8 Ou seja, não é que Deus primeiro nos torna aceitáveis e só depois nos abraça, antes, primeiro ele nos abraça (Lc 15.20), e então ele nos torna aceitáveis. Ou seja, Deus, que é totalmente Santo, nos abraça, sendo nós totalmente pecadores.
Então, você não precisa primeiro se tornar santo, para só depois ser abraçado por Deus. Na verdade, primeiro o Deus Santo lhe abraça com sua graça e misericórdia, e depois coloca sobre você a santidade Dele. Primeiro ele recebe você, depois ele transforma você. Você se achega a ele como um maltrapilho, e ai então ele veste você com roupas de realeza. Por isso, você não pode se vestir com a roupa da religiosidade para se achegar a Deus. Não é necessário maquiar seu rosto manchado pelo pecado, para então se aproximar da santa presença de Deus. Basta se achegar a ele, assim como você está, mesmo lama do pecado, e o sangue de Jesus limpará toda essa lama pecaminosa.
É importante notar que a graça é concedida gratuitamente “no Amado”, Cristo. Jesus é “Filho amado” de Deus (Mt 3.17), o “Filho do seu amor” (Cl 1.13). A salvação nos é concedida pela graça de Deus, mas a salvação não foi de graça. Cristo pagou o preço devido. Quer dizer, o que é de graça para nós não foi de graça para Deus. Custou a vida do seu Filho amado. Por isso, não podemos baratear a graça. Que o amor de Cristo nos constranja! Não nos esqueçamos que fomos eleitos para vivermos uma vida de santidade “diante dele em amor” (v.4). Somos amados por Deus, e agora, amemos ao Senhor de todo nosso coração e alma, entendendo que a nossa obediência aos seus mandamentos é a prova de que o amamos.
Conclusão
Fomos escolhidos pelo Pai antes da fundação do mundo (v.4). Fomos eleitos para vivermos uma vida de santidade diante do Senhor, amando ao Senhor de todo coração. Amemos ao Senhor, e vivamos uma vida de santidade.
Fomos adotados pelo Pai através de Jesus (v.5). Você já é filho de Deus? Só aqueles que recebem Jesus como Senhor e Salvador é que se tornam filhos de Deus. Quem é Jesus para você? Ele é seu Senhor e Salvador?
Fomos agraciados pelo Pai (v.6). Talvez você esteja como o filho pródigo: desgarrado e maltrapilho, comendo as alfarrobas dos porcos, no lamaçal do pecado. O Pai celestial está com os braços abertos para graciosamente lhe abraçar. Talvez você, quando criança, não foi abraçado por seu pai biológico.
8
abraço do Pai celestial, e o Pai, pelo sangue do Seu Filho, vai purificar você dos seus pecados, lhe transformar numa nova criatura e colocá-lo nas regiões celestiais em Cristo Jesus.
