PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA
REGISTRADO(A) SOB N°
ACÓRDÃO
*03401820*Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n° 0402083-75.2010.8.26.0000, da Comarca de São Bernardo do Campo, em que é agravante AMIL SAÚDE S/A (MEDIAL SAÚDE S/A) (ATUAL DENOMINAÇÃO) sendo agravado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
ACORDAM, em 8a Câmara de Direito Privado do
Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. V. U.", de conformidade com o voto do(a) Relator(a), que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores CAETANO LAGRASTA (Presidente) e RIBEIRO DA SILVA.
São Paulo, 09 de fevereiro de 2011
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lua**"'*5THEODURETO CAMARGO
EMENTA: ANTECIPAÇÃO DE TUTELA -PLANO DE SAÚDE - CONTRATO COLETIVO CELEBRADO COM A ASSOCIAÇÃO DOS METALÚRGICOS APOSENTADOS DO ABC AMA
-RESILIÇÃO CONTRATUAL DESCABIMENTO - DESPREZO À SITUAÇÃO DOS BENEFICIÁRIOS, CONSTITUÍDOS, EM SUA MAIORIA, SEGURAMENTE DE IDOSOS E DE PORTADORES DE SEQÜELAS DE ACIDENTES DO TRABALHO E DE DOENÇAS PROFISSIONAIS VEROSSIMILHANÇA DE DESRESPEITO Ã FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
(CC, ART. 421) - RECURSO DESPROVIDO
Cuida-se de recurso de agravo de instrumento t i r a d o
contra a r . decisão reproduzida às f l s . 1.031/1.034, do
Juízo de D i r e i t o da 2
aVara Cível de São Bernardo do
Campo, que d e f e r i u antecipação de t u t e l a em ação c i v i l
p ú b l i c a promovida pelo M i n i s t é r i o Público do Estado de
São Paulo, no p r o p ó s i t o de "determinar o restabelecimento
do c o n t r a t o c o l e t i v o firmado e n t r e as r é s , nos moldes do
firmado em 06 de março de 1998, e o pleno atendimento
médico-hospitalar nele g a r a n t i d o , sob pena de multa
8* CÂMARA DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO AGR. INSTR. N° 990.10.402083-2
AGRTE.: - MEDIAL SAÚDE S.A.
AGRDOS.: - MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
- AMA - ASSOCIAÇÃO DOS METALÚRGICOS APOSENTADOS DO ABC (VOTO N° 2.713)
diária de R$ 1.000,00 (mil reais) para cada consumidor não atendido."
A ação civil pública foi ajuizada em face da Mediai Saúde S.A., ora agravante, e da Associação dos Metalúrgicos Aposentados do ABC - AMA visando à desconstituição de resilição unilateral de contrato de assistência médica celebrado em 06 de março de 1998 e que favorecia os associados da segunda ré, em decorrência, segundo a inicial, de simulação entre as demandadas, tomando de surpresa milhares de beneficiários, muitos portadores de doenças graves, outros em fase de tratamento e outros, ainda, com cirurgias marcadas.
A medida deferida pelo d. juízo singular — e hostilizada por este recurso — acarretou o restabelecimento do contrato originário.
É o relatório.
1.- Pelo instrumento particular reproduzido às fls. 362/389, a Associação dos Metalúrgicos Aposentados do ABC - AMA celebrou contrato com a AMESP Saúde em 06 de março de 1998, objetivando a prestação de serviços de medicina de grupo em favor de "todos os sócios, diretores e empregados (Beneficiários Titulares), bem como seus respectivos Dependentes (Beneficiários Dependentes), ai'
dos Agregados (Beneficiários Agregados) devidamente cadastrados pela CONTRATANTE junto à CONTRATADA" (fls. 362, com grifos constantes do original).
Posteriormente, em Io de novembro de 2 007, a ora
agravante assumiu a carteira da AMESP Saúde.
Tratando-se de contrato anterior à edição da Lei 9.656, de 3 de junho de 1998, estava vinculado ao regime de regulação da ANS, de um lado, e ao Código de Defesa do Consumidor, de outro.
No mesmo sentido dispôs a Lei 10.850, de 25 de março de 2004, que, além disso, assinalou o caráter facultativo dos planos especiais (art. 3o) .
Na prática, no entanto, não foi isso o que, de fato aconteceu.
As inúmeras divergências havidas entre as partes e descritas, sucintamente, nas razões deste recurso, demonstram que, no contrato em questão, a operadora procurou fazer de tudo para constranger a Associação a migrar para outra apólice ou adaptar o contrato.
Entretanto, ao assumir a carteira da AMESP Saúde, em Io de novembro de 2007 — e, portanto, já sob a égide da
8* CÂMARA DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO AGR. INSTR. N° 990.10.402083-2
AGRTE.: - MEDIAL SAÚDE S.A.
AGRDOS.: - MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
- AMA - ASSOCIAÇÃO DOS METALÚRGICOS APOSENTADOS DO ABC (VOTO N° 2.713)
do ABC, a maioria, seguramente, constituída de idosos e de portadores de seqüelas de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais, que, mais do que ninguém, necessitam de assistência médica, depois de dedicarem uma vida inteira a trabalho pesado.
Todo esse contingente de pessoas não pode, à evidência, ficar desamparado de um dia para o outro.
Na verdade, a liberdade de contratar e de as partes se conduzirem ao longo de toda a vida do contrato deve ser exercida em razão e nos limites da função social do contrato, nos termos do que dispõe o art. 421 do CC.
Tendo em vista o art. 5o da Lei de Introdução ao
Código Civil, isso significa, no dizer de NELSON ROSENVALD, que "a função social do contrato objetiva conjugar o bem comum dos contratantes e da sociedade" e que, do ponto de vista interno, "concerne a indispensável relação de cooperação entre os contratantes, por toda a vida da relação. Implica a necessidade de os parceiros se identificarem como sujeitos de direitos fundamentais e titulares de igual dignidade. Assim, deverão colaborar mutuamente nos deveres de proteção, informação e lealdade contratual, pois a finalidade de ambos é idêntica: o adimplemento, da forma mais satisfatória ao credor e menos onerosa ao devedor" (cf. Código civil comentado.
Coord. Min. Cezar Peluso. 4a Ed., São Paulo/Barueri: Ed.
Manole, 2010, p. 480).
Sob a perspectiva do disposto no art. 273 do CPC, tudo leva a crer, ao menos por ora, que a resilição contratual não levou em conta esses deveres acessórios ou laterais, também chamados de secundários. Ao se exigir que os contratantes, quer na conclusão, quer na própria execução do contrato, "guardem os princípios da probidade e da boa-fé, o CC [e também o CDC] , muito mais do que apenas exigir um dever geral de não prejudicar, autoriza a imposição de uma série de deveres de conduta mutuamente exigíveis entre os contratantes e que independem da vontade de um e de outro" (cf. GUSTAVO TEPEDIDO, HELOÍSA HELENA BARBOZA e MARIA CELINA BODIN DE MORAES. Código civil interpretado. Rio, São Paulo, Recife: Ed. Renovar, 2006, vol. II, p. 18).
De mais a mais, a Lei 9.656/98 veda, por norma cogente, a denúncia unilateral imotivada do contrato por parte do fornecedor.
Portanto, por uma razão, ou por outra, a r. decisão de primeira instância merece ser prestigiada.
2. - CONCLUSÃO - Daí por que se nega provimento ao
recurso.
C—^J^<—X^_jJ_..
THEODURETO CAMARGO / R e l a t o r